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Este terceiro capítulo surge após a necessidade de balizar o conceito de VAV. Assim sendo, começaremos por explicar o conteúdo do conceito Voo à Vela, para seguidamente podermos enquadrá-lo, enquanto modalidade desportiva.

1. Conceito de Voo à Vela

Teremos que iniciar por explorar o conceito de voo.

Voar por si só é uma acção que passou a estar ao alcance do homem, mas por via mecânica. O acto de voar pode ser mecânico, no caso da utilização de aeronaves com ou sem motor, ou poderá ser biológico, como no caso dos animais que podem voar, tais como muitas espécies de insectos, morcegos e pássaros. O homem utiliza a sustentação.

O VAV ou voo de planador refere-se a um voo mecânico, mas sem motor. Através da utilização de uma aeronave, com envergaduras significativas, de material leve e aerodinâmico, voar de planador torna-se uma forma fácil e eficiente de planar. O motor, para poder ganhar velocidade, e efectuar os seus movimentos graciosos está somente dependente da força da gravidade. A sua sustentação é conseguida não só pela sua envergadura, como também por térmicas (calor, em forma de bolhas ou cones, libertado pela terra), por orográficas (ventos de montanhas), ou ainda por convergência (quando duas massas de ar se encontram).

O VAV é uma modalidade desportiva, que requer muito treino e muita experiência por parte dos Ps/As. A sua exigência requer noções de aerodinâmica, meteorologia, mecânica, fisiologia e, claramente, alguma legislação aérea.

2. Surgimento do Voo à Vela

Ao longo dos tempos, o homem sentiu a necessidade da conquista dos céus. Desperta uma primeira fase: a do estudo consciencioso do voo das aves, que vem a ser adoptado pelos inventores.

Surge, então, um homem (inventor). Um capitão de marinha, de seu nome Jean Marrie Le Brix, que numa das suas viagens observou curiosamente o voo dos albatrozes. Com uma espingarda, decide abater um albatroz, conseguindo estudar de perto, e detalhadamente, as asas desta ave. A ideia surge-lhe – fazer umas asas semelhantes para, com elas, conseguir entrar/voar no espaço aéreo (Iturrios, 1944).

Iturrios (1994) desenvolve a história do surgimento do VAV, dizendo que foi no ano de 1857 que Jean Marrie Le Brix resolveu construir um albatroz artificial. Montou todo um dispositivo num carro de duas rodas utilizado na lavoura. Procedeu a um ensaio que foi desolador. O engenho fora projectado a uma distância curta tendo ficado todo estilhaçado. Curiosidade: o seu inventor fractura uma perna.

Com a ajuda monetária de alguns amigos, Jean Marrie Le Brix inicia a construção de um novo engenho, de seu nome planador. Foi aperfeiçoando o engenho, ao longo de mais de dez anos. Com o novo engenho, conseguira planar cerca de cem metros, poisando no terreno, sem qualquer incidente.

O nome de Jean Marrie Le Brix não deverá ser esquecido. A sua máquina (o planador) foi guardada e exposta no Museu de Carnavallet, como prova evidente de que a tentativa de voar por um meio mecânico foi real (Iturrios, 1994).

A partir deste feito, os primeiros voos realizados foram voos planados: em planadores, ou à vela (em analogia com os barcos veleiros da navegação marítima), sem a utilização de meios mecânicos.

Apareceu, em seguida, um outro inventor, com um nome famoso nos nossos dias – o alemão Otto Lilienthal. Este senhor guardou sigilosamente para si inúmeros voos de planador. Só após trinta anos, apenas em 1890, o seu

nome e as suas proezas, começaram a ser divulgadas e conhecidas (Cardoso, 1984).

O autor Cardoso (1984) descreve que Lilienthal era engenheiro e escreveu o livro “O voo das aves – base de aviação”. Quando conseguiu instalar-se num posto de ensaios7, numa região mineira de Lichefelde, situado numa colina de trinta metros, com uma vasta planície à sua frente. Durante seis anos, com obstinação, fabricou vários planadores; primeiro, um monoplano e, depois, um biplano, com a ajuda dos quais efectuou pessoalmente mais de dois mil voos.

Os primeiros engenhos eram feitos de tela, ramos de sabugueiro e hastes de bambu. As observações que Lilienthal fazia, no decurso dos seus voos, permitiram-lhe aperfeiçoar sucessivamente os modelos, até chegar ao biplano, com asas de vinte e cinco metros de envergadura.

O inventor lançava-se da colina em Lichefelde, descreve Cardoso (1984), com uma altura média e declive regular. Conjugando a força do vento que soprava ao longo da encosta e com o efeito da corrida que realizava, dirigia o engenho, com movimentos de pernas e impulso do corpo. Nesta altura era uma modalidade desportiva que recorria à preparação física de um indivíduo. Algo que já não conseguiremos verificar na prática da modalidade, nos tempos que correm.

Lilienthal conseguiu levar a cabo, com regularidade e uma frequência cada vez maior, os seus voos. Destes voos deslizantes, que atingiam os trezentos metros, com a ajuda da acção do vento e das correntes térmicas ascendentes, atingiu, também, alturas superiores à do ponto de partida.

Os espectadores, que aos poucos iam aumentando no decorrer das sessões experimentais, já não duvidavam que, muito em breve, o homem voaria verdadeiramente.

Poderemos dizer que foi o berço da aviação. Já nesta altura e até aos dias de hoje chama a atenção do público. O voo à vela, ou voo de planador, foi o início e deverá ser a continuação fiel do verdadeiro domínio dos céus.

“Quando evolucionava a 20 metros de altura, o público gelado de pavor, viu o plano superior separar-se do conjunto, enquanto que Lilienthal embatia ruidosa e catastroficamente no terreno endurecido pela estiagem. Era o fim! Lilienthal antes de morrer pôde dizer: os sacrifícios são indispensáveis” (Cardoso, 1984, p.61).

Este sistema seria o ponto de partida, para uma rápida evolução, com consequências inesperadas e sensacionais. Otto Lilienthal foi o pioneiro germânico do ar e deixou muitas notas e desenhos que foram estudados por outros apaixonados do voo sem motor.

Entre outros pioneiros, não podemos ignorar o inglês Piltcher, os americanos Herridge e Avery, e o francês Chanute. Este último, radicado nos Estados Unidos da América, entregou-se ao prosseguimento da tarefa iniciada por Lilienthal. Também ele tinha excepcionais qualidades de imaginação e saber. Piltcher, apenas concebera quatro planadores, mas sempre progressivamente melhores. Também realizou numerosos voos bem sucedidos.

3. Voo à Vela Enquanto Modalidade Desportiva

Uma modalidade é o “modo como uma coisa ou um facto existe, segundo é necessário ou simplesmente possível” (Grande Enciclopédia de Língua Portuguesa, Volume VII, p.320). Podemos ainda acrescentar que, uma modalidade que existe pode apresentar-se sob diferentes formas – “pode apresentar uma coisa, um acto, uma operação” (Grande Enciclopédia de Língua Portuguesa, Volume VII, p.320).

O Voo à Vela apenas existe sob a forma de actividade desportiva. Poderíamos colocá-lo sob a forma de uma arte, de uma engenharia, ou até mesmo uma ciência. Mas, o VAV agrupa todo um conjunto de disciplinas, cujo objectivo comum é voar: utilizando as forças da natureza e recorrendo à força, à arte e à perícia do próprio piloto (principalmente para descolar e aterrar).

Ao longo desta investigação, o VAV será sempre enquadrado sob a forma de uma modalidade desportiva. Será nossa intenção desenvolver uma actividade desportiva cujo carácter é dinâmico: expressa-se de forma pessoal, e/ou interpessoal (trabalho em equipa), recorrendo ao esforço físico (pilotagem) e intelectual (conceitos) dos indivíduos.

Segunda Parte:

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