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Vossa Caridade preste atenção Veja como o apóstolo Pedro reafirma a mesma coisa Quando

SALMO 18 I COMENTÁRIO

II. SERMÃO AO POVO

14 Vossa Caridade preste atenção Veja como o apóstolo Pedro reafirma a mesma coisa Quando

presença, foram os apóstolos a Samaria, onde o mago também acreditara e fora batizado. Os apóstolos impuseram as mãos aos já batizados; estes receberam o Espírito Santo e começaram a falar em línguas. O mago se admirou e estupefacto diante de tão grande milagre divino, a saber, que pela imposição das mãos descera o Espírito Santo, e enchera aqueles homens, desejou não esta graça, mas este poder; não o modo de se libertar, mas como se engrandecer. Logo que teve tal desejo, e seu coração se encheu de soberba, de diabólica impiedade e condenável exaltação, perguntou aos apóstolos: que quantia quereis para que os homens recebam o Espírito Santo, por imposição de minhas mãos? Ele buscava bens mundanos, e habitava só ao redor. Pensou que podia comprar o dom de Deus por dinheiro. Julgando poder adquirir o Espírito Santo por dinheiro, também pensou que os apóstolos eram avaros, como ele próprio era ímpio e orgulhoso. Imediatamente Pedro respondeu: “Pereça o teu dinheiro, e tu com ele, porque acreditaste ser possível com dinheiro comprar o dom de Deus. Nesta questão, não tens parte, nem herança” (At 8,13. 21); isto é, não tens parte nesta graça, que todos nós recebemos gratuitamente, porque pensas poder comprar com dinheiro o que é dado grátis. Por ser gratuito chama-se sorte: “Não tens parte, nem sorte, nesta questão”. Disse isto para não recearmos dizer também: “Em tuas mãos está a minha sorte”. Que sorte? A herança da Igreja. Até onde vai a herança da Igreja? Quais os seus limites? Até todos os confins: “Dar-te-ei as nações por herança e como propriedade os confins da terra” (Sl 2,8). Não se me prometa, portanto, uma partícula qualquer. Meu Deus, “em tuas mãos está a minha sorte”. V. Caridade se dê por satisfeita com estas palavras. Amanhã, em nome do Senhor, explicaremos o restante do salmo, com o seu auxílio.

SERMÃO III

1 O restante do salmo, sobre o qual já proferimos dois sermões, corresponde a pouco mais de um terço do mesmo, e cuidaremos hoje de saldar o nosso débito completamente. Por isso, peço a V. Caridade concordar de boa mente que não nos detenhamos nas expressões mais fáceis, para tratarmos com vagar das que precisam de explicação. Muitas questões se resolvem espontaneamente nas mentes dos fiéis, muitas outras necessitam de breve exposição; algumas, porém, mais raras, exigem esforço e suor para se tornarem inteligíveis. Por conseguinte, para aproveitar o tempo disponível, segundo as nossas e vossas forças, vede como são claras as expressões, conosco tomai conhecimento delas, e de acordo com elas, louvai ao Senhor; e se o salmo ora, orai; se geme, gemei; se rejubila; rejubilai; se espera, esperai; se teme, temei. Pois, serve-nos de espelho tudo o que foi aqui escrito.

2 16 “Livra-me das mãos de meus inimigos e perseguidores”. Assim rezemos, e cada um o repita a

respeito de seus inimigos. É bom. Supliquemos a Deus que nos livre das mãos de nossos inimigos. Mas entendamos quais inimigos em favor dos quais havemos de orar, e contra quais devemos rezar. Não odiemos a homens, inimigos nossos, quaisquer que sejam. Não aconteça, enquanto um malvado odeia a outro malfeitor que ele suporta, comece a haver dois maus. Ame o bom até mesmo o malvado que ele suporta, para que mau seja um só. Mas, existem inimigos contra os quais devemos rezar: o diabo e seus anjos. Eles nos invejam, por causa do reino dos céus, e não querem que subamos para o lugar de onde eles foram precipitados. Peçamos que nossa alma deles se livre. Pois, também quando os homens são instigados por eles contra nós, tornam-se instrumentos deles. Por esta razão, o apóstolo Paulo, admoestando-nos acerca da grande cautela a empregar contra os inimigos, declara aos servos de Deus que padeciam tribulações, a saber, sedições, maldades, inimizades da parte dos homens: “O nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne”, isto é, não é contra os homens, “mas contra os Principados e Postetades, contra os dominadores deste mundo de trevas” (Ef 6,12).

De que mundo? Do céu e da terra? De forma nenhuma. Dominador deste mundo é somente o Criador. Mas, o que é que ele denomina mundo? Os que amam o mundo. Enfim, acrescenta como explicação: Chamo de mundo a este “mundo de trevas”. De que trevas, a não ser os infiéis e ímpios? Pois, aos ímpios e infiéis, transformados em pios e fiéis, se dirige o mesmo Apóstolo, dizendo: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor (ib 5,8). Lutais contra os espíritos do mal, que povoam as regiões celestiais” (ib 6,12), contra o diabo e seus anjos. Não vedes nossos inimigos; contudo os venceis. “Livra-me das mãos de meus inimigos e perseguidores”.

3 17 “Irradia a luz de tua face sobre teu servo. Salva-me por tua misericórdia”. Dizíamos acima, na

explicação de ontem, conforme há de lembrar V. Caridade, aqueles de entre vós que estavam presentes, que os maiores perseguidores da Igreja são os cristãos que não querem viver bem. Deles a Igreja sofre os opróbrios e suporta oposição. Se repreendidos ou impedidos de viver mal, se com eles se tenta diálogo, planejam o mal no coração, e procuram ocasião de ataque. No meio desses geme o salmista, ou se o quisermos, nós próprios. São muitos, e nesta multidão mal aparecem os bons, como grãos na eira, que, no entanto, depois de limpos encherão os celeiros do Senhor (Mt 2,12; Lc 3,17). Por conseguinte, no meio deles geme o salmista: “Irradia a luz de tua face sobre teu servo”. Produz-se certa confusão porque todos se dizem cristãos, tanto os que vivem bem quanto os que levam vida incorreta. Todos foram marcados com o mesmo sinal, todos se aproximam de um só altar, todos foram purificados pelo mesmo batismo, todos proferem a mesma oração dominical, todos participam dos mesmos mistérios. Como distinguir os que gemem daqueles que levam vida deplorável, se o Senhor não irradiar a luz de sua face sobre seu servo? O que significa, portanto: “Irradia a luz de tua face sobre teu servo?” Evidencie-se que a ti pertenço. Não afirme igualmente o cristão ímpio que pertence a ti, para não ser inútil o meu pedido em outro salmo: “Julga-me, ó Deus, e distingue entre minha causa e a de uma gente não santa” (Sl 42,1). A frase: “Distingue entre minha causa”, é idêntica a deste salmo: “Irradia a luz de tua face sobre teu servo”. Todavia, acrescenta para não se ensoberbecer, nem parecer se justificar: “Salva-me por tua misericórdia”, isto é, não por minha justiça, não por meus méritos, mas “por tua misericórdia”; não sou digno, mas tu és miseridordioso. Não me ouças com severidade de juiz, mas com bondade cheia de misericórdia. “Salva-me por tua misericórdia”.

4 18 “Senhor, não seja confundido, porque te invoquei”. Declara um bom motivo: “Não seja

confundido, porque te invoquei”. Queres que se cubra de confusão quem te invocou? Queres que se diga: Onde está aquele de quem presumiu? Quem não invoca a Deus, mesmo entre os ímpios? A não ser que tenha dito: “Eu te invoquei”, de maneira peculiar, excluindo a muitos, de forma alguma ousaria exigir tão grande recompensa por esta invocação. Deus responderia, de certo modo, interiormente e diria: Por que me pedes que não sejas confundido? Por quê? Por que me invocaste? Não é diariamente que sou invocado por alguns, talvez para que possam cometer um cobiçado adultério? Não existem todos os dias homens que me invocam para que morram aqueles dos quais esperam uma herança? Não é de todos dos dias os que me invocam planejando fraude e querendo realizá-la com pleno êxito? Por que então exiges grande recompensa daquilo a que te referes: “Não seja confundido, porque te invoquei?” Os outros invocam certamente, mas, não a ti. Invocas a Deus, quando chamas a Deus para junto de ti. Invocá-lo é chamá-lo para junto de ti, convidá-lo, de certo modo, a entrar na casa de teu coração. Não ousarias convidar um pai de família tão importante, se não soubesses prepara-lhe uma morada. Se Deus te disser: Tu me chamaste. Vou. Por onde entro? Suportarei tamanhas manchas de tua consciência? Se convidasses meu servo para tua casa, primeiro não cuidarias de limpá-la? Chamas-me ao teu coração, que está cheio de rapina. Deus é invocado

para um lugar repleto de blasfêmias, de adultérios, de fraudes, de conscupicências más, e tu me invocas! De tais homens o que dizem outros salmos? “Não invocaram o Senhor” (Sl 13,5 e 52,6). De fato, invocaram, mas de outro lado, não invocaram. Em resumo, surge a questão de como alguém pode exigir tamanha recompensa, alegando como único mérito ter invocado o Senhor. Como vemos que tantos maus invocam a Deus, surgiu a questão. Não passemos por cima. Digo, portanto, brevemente, ao homem avaro: Invocas a Deus? Por que invocas a Deus? Para que mê dê um lucro qualquer. Portanto é o lucro que invocas, não a Deus. Ambicionas tal lucro e não podes obtê-lo por meio de teu servo, nem podes por meio de teu colono, nem por teu pupilo, por teu amigo, por teu satélite. Invocas a Deus, fazendo dele um servo de teu lucro; desvalorizas a Deus. Queres invocar a Deus, invoca-o gratuitamente. Avaro, é pouco para ti que Deus te encha? Se Deus vem a ti sem ouro nem prata, não o queres? Que criatura de Deus te bastará, se Deus não te basta? Com razão, portanto, reza o salmista: “Não seja confundido, porque te invoquei”. Invocai o Senhor, irmãos, se não quereis ser confundidos. O salmista receia certa confusão, da qual os salmos falaram acima: “Em ti esperei, Senhor, não seja confundido eternamente”. Pois, a fim de saberes que teme esta confusão, tendo dito: “Não seja confundido” eternamente, “porque te invoquei”, acrescentou: “Envergonhem-se os ímpios e sejam precipitados no inferno”, com aquela confusão verdadeiramente eterna.

5 19 “Emudeçam os lábios mentirosos, que proferem a iniquidade contra o justo, cheios de soberba e

de desdém”. Este justo é Cristo, muitos lábios proferem contra ele a iniquidade, com soberba e desprezo. Por que se diz: com soberba e desdém? Porque aos soberbos pareceu desprezível aquele que veio com tamanha humildade. Não queres, acaso, que seja menosprezado por aqueles que amam as honras, quem sofreu tantas injúrias? Não será menosprezado por aqueles que considerem desprezível o crucificado aqueles para os quais é torpe a condenação à morte de cruz? Não queres que os ricos depreciem quem teve no mundo uma vida na pobreza, sendo, no entanto, o Criador do mundo? Todos os que amam tais coisas desprezam-no, porque Cristo não as quis ter, a fim de mostrar, por não possuí-las, que são desprezíveis, embora pudesse possuí-las. E qualquer de seus servos que desejar seguir suas pegadas, andando também com humildade, conforme aprendeu com o seu Senhor, é desprezado em Cristo, como membro de Cristo. E se são desprezados Cabeça e corpo, é todo o Cristo que é desprezado, porque todo ele, Cabeça e corpo é justo. Forçoso é seja desprezado o Cristo total pelos soberbos e ímpios, para que se cumpra neles o que foi dito: “Emudeçam os lábios mentirosos, que proferem a iniquidade contra o justo, cheios de soberba e de desdém”. Quando emudecerão estes lábios? Neste século? Nunca. Diariamente gritam contra os cristãos, principalmente contra os humildes; cotidianamente blasfemam, cada dia ladram; aumentam os castigos para suas línguas, a sede que terão nos infernos, desejando em vão uma gota de água. Não é agora, portanto, que estes lábios emudecerão. Mas, quando? Quando sobre eles recaírem suas iniquidades, conforme se diz no livro da Sabedoria: “De pé, porém, estarão os justos em segurança, na presença dos que os oprimiram. Então, dirão eles: São aqueles de quem outrora nos ríamos, de quem fizemos alvo de ultraje, nós insensatos! Considerávamos a sua vida uma loucura. Como agora são contados entre os filhos de Deus e partilham a sorte dos santos” (Sb 5,1-5)? Então emudecerão os lábios dos que proferem a iniquidade contra os justos, com soberba e desdém. Agora, pois, eles nos dizem: Onde está vosso Deus? O que adorais? O que vedes? Credes e estais em trabalhos. É certo que pelejais, incerto o que esperais. Quando vier o que esperamos com toda certeza, emudecerão os lábios mentirosos.

6 20 Por este motivo, vede a sequência, uma vez que emudecerão os lábios mentirosos que proferem a

Deus em seu interior no espírito, vê estes bens apenas ocultamente visíveis, mas que os ímpios não percebem. Vê os ímpios proferirem a iniquidade contra o justo, com soberba e desprezo, porque eles sabem ver os bens deste século, mas nem cogitam dos bens do século futuro. O salmista, porém, querendo recomendar os bens do século futuro aos homens, aos quais não manda amar, mas suportar as coisas presentes, exclamou em seguida: “Como é grande, Senhor, a abundância de tua doçura!” Se um incrédulo me disser, então: Onde está esta multidão de doçuras? Respondo: Como mostrar a ti a multidão de doçuras, se embotaste o paladar por causa da febre da malícia? Se não soubesses o que é o mel, não exclamarias: É gostoso, a menos que o provasses. Teu coração não tem paladar para sabores. O que fazer por ti? Como te mostrar esses bens? Não és alguém a quem possa dizer: “Provai e vede como é suave o Senhor” (Sl 33,9). Como é grande, Senhor, a abundância de tua doçura, reservada para os que a ti temem”. O que significa: reservaste para eles? Não recusaste. Guardaste para eles, somente para eles, a fim de que a obtenham com temor. Trata-se de um bem que não é comum aos justos e aos ímpios. Mas, os justos, enquanto temem, ainda não o alcançaram; acreditam, contudo, que o obterão, e começam pelo temor. Nada há de mais suave do que a sabedoria imortal, mas o início da sabedoria é o temor de Deus (Pr 1,7; Sl 110,10). “Reservada para os que a ti temem”.

7 “É perfeita para os que em ti esperam, na presença dos filhos dos homens”. Não disse: Realizaste-a

na presença dos filhos dos homens. Mas afirmou: “Para os que em ti esperam, na presença dos filhos dos homens”, isto é, completaste tua doçura para os que em ti esperam, diante dos filhos dos homens. Identifica-se com a afirmação do Senhor: “Aquele que me renegar diante dos homens, também o renegarei diante de meu Pai que está nos céus” (Mt 10,33). Se esperas, por conseguinte, no Senhor, espera diante dos homens; não suceda esconderes tua esperança no coração e teres medo de confessar ao te incriminarem por seres cristão. Todavia, a quem se incrimina agora o fato de ser cristão? Restaram tão poucos não-cristãos que mais são incriminados por não serem cristãos do que ousam incriminar a outrem por sê-lo. No entanto, meus irmãos, tenho de dizê-lo. Qualquer um de vós que me ouve, comece a viver cristãmente, e verá se não é atacado por cristãos só de nome, não pela vida e costumes. Quem o experimentou, compreende o que digo. Por isso, atenção. Observa o que ouves. Queres viver como cristão? Queres seguir as pegadas de teu Senhor? És atacado, sentes vergonha, e envergonhado abandonas tudo. Perdeste o caminho. Parecia que havias acreditado de coração para obter a justiça, mas perdeste; com a boca se confessa para alcançar a salvação (cf Rm 10,10). Se, portanto, queres andar pelo caminho do Senhor, mesmo na presença dos homens, espera em Deus, quer dizer, não te envergonhes de tua esperança. Assim como ele vive em teu coração, habite em tua boca. Não é inutilmente que Cristo quis fosse gravado o seu sinal em nossa fronte, a sede do pudor, a fim de que o cristão não se core do opróbrio de Cristo. Se o fizeres diante dos homens, se não corares dele na presença dos homens, se perante os filhos dos homens não negares a Cristo, nem por palavras, nem por obras, espera que a doçura de Deus em ti chegue à perfeição.

8 21 Como continua? “Abriga-nos no esconderijo de tua face”. De que espécie é este lugar? O

salmista não disse: Esconde-os em teu céu. Não pediu: Esconde-os no paraíso. Não rogou: Esconde- os no seio de Abraão. Pois, nas Sagradas Escrituras aparecem, para muitos fiéis, os futuros lugares dos santos. Desvalorize-se para nós tudo o que há fora de Deus. Aquele que nos protege nesta vida, ele mesmo seja nosso lugar na outra, porque também este salmo disse-lhe, acima: “Sê para mim um Deus protetor e uma casa de refúgio”. Estaremos, pois, escondidos no esconderijo da face de Deus. Quereis ouvir de mim que esconderijo existe na face de Deus? Purificai o coração para que ele vos ilumine e entre aquele que invocais. Sê a sua casa e ele será a tua casa; habite em ti, e habitarás nele.

Se neste mundo o receberes em teu coração, ele no outro mundo te receberá no esconderijo de sua face. “Abrigá-los-ás”. Onde? “No esconderijo de tua face, da perturbação dos homens”. Ali, pois, não serão perturbados, porque estão escondidos; no esconderijo de tua face não se perturbarão. Existirá alguém tão feliz neste mundo que logo que comece a ouvir opróbrios da parte dos homens, por causa do serviço de Cristo, refugia-se em Deus pelo coração e deposita sua esperança em sua suavidade, longe das tribulações dos homens, que o injuriam e comparece diante da face de Deus, apoiado em sua própria consciência? Comparece realmente, mas se tiver com quem entrar, isto é, se sua consciência não está onerada, se não carrega um fardo grande demais para a porta estreita. “Abrigá-lo-ás no esconderijo de tua face, da perturbação dos homens. Protegê-lo-ás em tua tenda, das línguas maldizentes”. Chegará o dia em que os abrigarás no esconderijo de tua face, da perturbação dos homens, de sorte que não poderá mais haver para eles perturbação vinda dos homens. Mas, por enquanto, na peregrinação deste mundo, uma vez que teus servos suportam a língua de muitos contraditores, o que fazer por eles? “Protegê-los-ás em tua tenda”. O que quer dizer tenda? A Igreja no presente; chama-se tenda, porque ainda peregrina na terra. A tenda é a morada dos soldados expedicionários. Essas moradas denominam-se tendas. Uma casa não é uma tenda. Luta, como peregrino, na expedição, para que te salvando na tenda, sejas recebido gloriosamente em casa. O céu será tua casa eternamente, se viveres honestamente na tenda. Serás, portanto, protegido por ele nesta tenda da contradição das línguas. Contradizem muitas línguas. Ressoam várias heresias, vários cismas. Muitas línguas contradizem à verdadeira doutrina. Tu, porém, corre para o tabernáculo de Deus, abraça a Igreja católica, não te apartes da regra da verdade, e serás protegido na tenda, da contradição das línguas.

9 22 “Bendito o Senhor, que usou de admirável misericórdia na cidade circunvizinha”. Qual a cidade

circunvi-zinha? O povo de Deus estava estabelecido só na Judeia, como que no centro do mundo. Lá se cantavam os louvores de Deus, ofereciam-se-lhe sacrifícios, os profetas não cessavam de vaticinar as realidades futuras, que agora vemos realizadas. Este povo era como que o centro das gentes. O profeta observa o fato. Vê a futura Igreja de Deus no meio de todos os povos. E como os povos estavam ao redor, e no centro se achavam os judeus somente, o salmista denomina os povos vizinhos de cidade circunvizinha. Foi admirável, em verdade, Senhor, a tua misericórdia para com a cidade de Jerusalém. Ali Cristo sofreu, ali ressuscitou, dali subiu aos céus, ali fez muitos milagres. Mas louvor maior te é devido, porque tornaste admirável a tua misericórdia na cidade circunvizinha, isto é, difundiste a tua misericórdia entre todas as gentes. Naquela Jerusalém, não guardaste em vaso fechado teu unguento; mas de certo modo quebraste o vaso e o unguento se espalhou pelo mundo, para se cumprir o que foi dito nas Sagradas Escrituras: “Teu nome é como unguento derramado” (Ct 1,2). E assim tornaste admirável a tua misericórdia na cidade circunvizinha. Cristo, portanto, subiu ao céu, está sentado à direita do Pai. Depois de dez dias enviou o Espírito Santo. Os discípulos, repletos do