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5.1 – Aspectos Gerais

O problema da erosão costeira vem sendo observado em diferentes locais do mundo, sendo considerado atualmente um fenômeno global (Bird, 1993). Com a intensa urbanização das orlas, principalmente a partir da década de 1970, esse fenômeno passou a ser tratado não apenas pelos estudos voltados para a compreensão dos processos físicos, mas também sob um enfoque socioeconômico devido aos seus impactos sobre as construções urbanas (Lins-Barros, 2005).

As regiões costeiras possuem intensa dinâmica natural, com interações complexas de processos oceânicos, costeiros e continentais, responsáveis por erosão e acresção que podem ocorrer naturalmente em períodos de poucos anos ou até em eventos de poucos dias.

O termo vulnerabilidade é frequentemente empregado nas Geociências associado a desastres e incidência de fenômenos naturais. Ainda que dentro desse contexto refira-se a uma aplicação geral, percebe-se que esse termo possui significado amplo, e sob uma ótica fundamental, não existe um consenso em torno de sua conceituação, existindo pontos convergentes e divergentes acerca de seu significado. (Mazzer, 2007)

Entende-se por vulnerabilidade erosiva de um litoral, o quão frágil uma região é à ação dos processos da dinâmica costeira.

A análise sobre a vulnerabilidade de uma dada zona costeira é fundamental para uma adequada identificação de zonas potencialmente expostas ao “perigo”, uma vez que serve de base para a adoção de uma estratégia de ordenamento do território.

O grau de vulnerabilidade à erosão costeira está diretamente correlacionado ao deslocamento da linha de costa, a estabilidade da praia, aos processos hidrodinâmicos, morfodinâmicos e sedimentares, as intervenções antrópicas e ao grau de urbanização (Coutinho et al, 1997).

Para Esteves e Finkl (1998), a vulnerabilidade do ambiente costeiro pode ser definida conforme alguns parâmetros e classes fundamentais (Quadro 01).

Quadro 01 – Parâmetros para categorizar os segmentos de costa Parâmetros Classe Definição

Grau de desenvolvimento urbano

Alto

> 60% da área costeira a 500m da linha de costa com construções de casa,

prédios, estradas, infraestrutura

Intermediário < 60% e > 30% da área

costeira está ocupada

Baixo/nenhum < 30% da área costeira a 500m da linha de costa com ocupação Variação da linha de costa Acresção > 0.5m a a-1 Estável - 0.5m a 0.5m a-1 Erodida -0.5m a-1.0m a-1 Intensamente erodida > -1.0m a-1 Medidas de proteção da costa Sem (não) Ausência de obras de proteção Com (sim) Presença de medidas de proteção da costa - muro - engordamento de praia - groins

Fonte: Esteves & Finkl (1998)

5.2 - Vulnerabilidade do litoral leste da Ilha de Itamaracá

A Ilha de Itamaracá encontra-se submetida a um forte processo de uso e ocupação do solo devido a atividades urbana e rural que exercem um importante papel no desenvolvimento socioeconômico do município. Na zona costeira, as atividades urbanas predominam sobre as rurais, e o turismo estimulou a ocupação de extensas áreas voltadas ao lazer, tornando-se o principal indutor da urbanização da Ilha. A indústria imobiliária tem

funcionado desde a década de 1970, como uma forte incentivadora, ou investidora da ocupação das áreas litorâneas, tanto em nível nacional quanto regional ou local. (Morais, 2000).

Para determinar o grau de desenvolvimento urbano da faixa costeira do município de Itamaracá, consideraram-se os parâmetros definidos por Esteves e Finkl Jr. (op. cit), adaptando-se tais critérios à área de estudo. Estabeleceu-se como área de estudo a faixa costeira definida da linha de preamar até a linha de 500 metros de distância. Assim, o grau de desenvolvimento urbano foi classificado conforme os critérios a seguir:

Grau de Desenvolvimento Urbano (GDU)

Alto > 60% da área costeira ocupada

Intermediário 30% > 60% da área costeira ocupada

Baixo < 30% da área costeira ocupada

A situação da linha de costa foi definida com base nos termos sugeridos por Esteves e Finkl Jr. (1998), adotando-se o critério do grau de avanço ou recuo da linha de costa observado em campo, porém adaptando-o à uma nomenclatura própria. Assim, a linha de costa em Itamaracá foi classificada em: acresção (aporte sedimentar), erosão alta (perda

sedimentar > 50 m3/m), erosão moderada (perda sedimentar entre 20 e 50 m3/m), erosão baixa

(perda sedimentar < 20 m3/m) e sem informação.

Outro critério utilizado foi à verificação de ausência ou presença de medidas de proteção da costa (enrocamentos, troncos, muros, rampas). Essas informações foram coletadas por meio de levantamento feito no campo. Também se utilizaram informações através de resultados de análise granulométrica associada aos dados de declividade do estirâncio indicando que as praias da Ilha são dissipativas em sua maioria.

Correlacionando todas essas informações, dividiu-se o litoral em 10 setores,

constituídos por células que englobam dados semelhantes muitas vezes de praias distintas. Considerando-se os parâmetros de vulnerabilidade adotados por Esteves e Finkl (op. cit), obteveram-se os graus de vulnerabilidade à erosão do litoral leste da Ilha de Itamaracá (Figuras 47 e 48 no final do capitulo).

5.2.1 - Setor 1

Este setor compõe-se das células 1, 2 e 3, correspondentes à Praia do Forte Orange e trecho sul da Praia de São Paulo. O valor negativo do balanço sedimentar, que quantifica a

perda de sedimento sofrida no intervalo estudado é a característica predominante no setor que, assim, apresenta alta vulnerabilidade. Esse quadro de erosão deve-se à forte dinâmica sedimentar exercida pela desembocadura sul do canal de Santa Cruz, juntamente com os efeitos da deriva litorânea e energia de onda que ocasionam rápidos ciclos de deposição e erosão dos sedimentos no perfil praial.

A célula 1 está localizada nas proximidades da desembocadura sul do Canal de Santa Cruz, daí o nível de turbidez ser elevado. A orla, nesta célula, apresenta pequenas dunas e estuário. O estirâncio tem uma largura em torno de 20m na baixa-mar, e sua inclinação é da ordem dos 3º. Os sedimentos são classificados como da fração areia fina. A faixa de pós- praia tem uma largura de 25 a 30m com presença de berma e pequenas dunas recém coberta por vegetação, porém encontra-se totalmente ocupada por barracas que, durante a maré alta, anula a possibilidade de recreação. A urbanização dessa célula é baixa, na ordem de 30%, em que a edificação marcante é o Hotel Orange, além de várias barracas comerciais voltadas primordialmente a atender a população flutuante ou turística da Ilha. A primeira faixa de construção está sobre as pequenas dunas. Ali não existe nenhuma estrutura de proteção costeira (Foto 39).