• Nenhum resultado encontrado

2. Enquadramento teórico

2.1. Teorias do desenvolvimento e da aprendizagem

2.1.2. Vygotsky

Vygotsky, de acordo com a sua perspetiva, considera o ser humano como um ser social, desta forma debruça-se bastante na interação entre este e as condições sociais, dizendo que são estas interações a chave para a construção consciente do conhecimento. Então, compreende-se que, na sua perspetiva, as interações sociais são cruciais para o desenvolvimento do ser humano, contribuindo bastante para a sua aprendizagem. Este autor refere também que as funções cognitivas do sujeito se dividem em duas, primeiramente entre as pessoas, que se denominam de funções interpsíquicas, e depois dentro da própria pessoa que correspondem às funções intrapsíquicas (Lucci, 2006; Ferreira & Fernandes, 2012; Melo & Veiga, 2013; Martins, s.d.).

Ao inverso de Jean Piaget, Vygotsky não se debruçou sobre diversos estágios para analisar o desenvolvimento cognitivo, tentou sim compreender a forma como o ser humano se relaciona, tendo por base um fator muito importante e ao qual deu bastante enfâse na sua teoria, a linguagem. (Fialho 2008).

Assim, Lucci (2006) complementa dizendo que de acordo com esta perspetiva a linguagem “materializa e constitui as significações construídas no processo social e

23 histórico.” (p.9). Ou seja, a linguagem é considerada para Vygotsky como fundamental pois este diz que é através da mesma que o ser humano adquire a capacidade para atribuir significados às coisas, para memorizar e para comunicar e claro, também interfere bastante na sua forma de sentir, pensar e agir (Lucci, 2006; Martins, s.d.).

A aprendizagem é igualmente considerada como fundamental para Vygotsky, sendo que tanto este como Piaget assinalam que existe de facto uma relação entre a aprendizagem e o desenvolvimento. Todavia estes autores assumem ideias um pouco distintas em relação a esta questão, ou seja, Vygotsky profere que o processo de aprendizagem é antecipatório ao desenvolvimento, sendo a aprendizagem que irá desencadear o desenvolvimento, e Piaget assume uma ideia oposta, isto é, para ele sem desenvolvimento não irá existir aprendizagem (Lucci, 2006; Fialho, 2008).

Vygotsky considera que existem dois níveis de desenvolvimento, sendo que um é referente àquilo que a criança tem capacidade para fazer sozinha e o outro é relativo ao que a criança faz com o auxílio de outra pessoa (Lucci, 2006). Segundo o mesmo autor existe uma zona transitória que possibilita à criança novas aprendizagens que irão promover o seu desenvolvimento, tendo em conta as interações estabelecidas, sendo que esta zona denomina-se de zona de desenvolvimento proximal (ZDP) e estabelece uma relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem.

Então, o conceito de ZDP é definido como “A distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado pela resolução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial determinado pela resolução de problemas com orientação do adulto ou em colaboração com pares mais capazes.” (Vygotsky, 1978 citado por Folque, 2012, p.72). Ou seja, o autor diz-nos que a ZDP é o espaço que a criança possui entre aquilo que faz sozinha e aquilo que faz em conjunto, quer seja com um adulto ou com crianças mais “capacitadas”. Assim, o nível de desenvolvimento potencial remete para a existência de interações, importantes para a aprendizagem e desenvolvimento da criança.

O autor em questão introduziu esta zona tendo por base duas finalidades, primeiramente compreender qual o nível de desenvolvimento que a criança possui individualmente e qual o que consegue atingir através da relação com os outros. O outro objetivo passa pelo facto de comprovar se realmente a boa construção da aprendizagem é aquela que antecipa o desenvolvimento (Fino, 2001).

24 Deste modo, pode-se concluir que a ZDP é caraterizada pelo facto de proporcionar às crianças a possibilidade de realizarem algo que não conseguiam sozinhas e isso, é de extrema importância pois, como tenho vindo já a referir, a partilha de conhecimentos e significados é um grande alicerce para a evolução das crianças. Esta situação referente à possibilidade da criança realizar algo que sozinha não conseguiria é denominada por “colocação de andaimes”, pois revela que a criança é ajudada por alguém mais experiente, o que para além de possibilitar a criança na realização de uma determinada tarefa, vai também contribuir para a sua melhoria na realização de tarefas. Estes “andaimes” vão sendo retirados à medida que a criança consegue desenvolver as suas atividades de forma autónoma (Wood, Bruner & Ross, 1976, citado por Folque, 2012; Melo & Veiga, 2013).

Outra das ideias em que Piaget e Vygotsky diferem está relacionada com a imitação. Então, como foi analisado anteriormente, verifica-se que Piaget defende que a aprendizagem não ocorre por meio da imitação. No entanto para Vigotsky a imitação é crucial para a aprendizagem, considerando que a ZDP está associada ao papel da imitação, pois na sua opinião, as crianças ao imitarem pessoas mais capazes vão conseguir ir mais além, isto é, vão conseguir realizar diversas atividades, compreendendo-se que a imitação é um dos processos de aprendizagem das crianças (Fino, 2001; Martins, s.d.).

De forma conclusiva, percebe-se que são vários os processos de aprendizagem que ocorrem na ZDP, tendo sempre por base as interações sociais, que proporcionam momentos dinâmicos de aprendizagem.

As interações sociais levam a que se possa pensar no ser humano num processo em construção e em transformação, sendo que é através destas interações que as crianças conseguem atribuir diversos significados. Assim sendo, no que concerne às interações em sala de aula nota-se que as mesmas são uma mais-valia para a aprendizagem dos alunos, pois estes podem questionar, dar a sua opinião, auxiliar os colegas, ou seja, podem ser ativos na sala, e claro na sua aprendizagem. Neste sentido, o professor desempenha um papel preponderante, uma vez que deve agir como coordenador do grupo (Martins, s.d.).

Assim, de acordo com a presente perspetiva, “É fundamental destacarmos que importante no processo interativo não é a figura do aluno ou do professor, mas é o

25 campo interativo criado.” (Martins, s.d., p.121). Ou seja, tanto os alunos como os professores devem agir de forma dinâmica e não de forma isolada, pois só assim é possível a existência de interações.

Vygotsky defende ainda que, a interação não se resume ao professor e ao aluno, mas que existem outros fatores de elevada importância, nomeadamente a comunicação entre ambos e o ambiente onde se dão as interações. Isto é, tanto a comunicação como o ambiente vão influenciar bastante a aprendizagem uma vez que os fatores que a rodeiam possuem informações e valores que são preponderantes. É deste modo, que ocorre a aprendizagem, através de condições propícias para tal. (Fino 2001; Tezani, 2006).

Posto isto, é de elevada importância que seja realizada uma pequena abordagem a Piaget e Vygotsky, tendo em conta a sua importância para o presente trabalho. Assim, ambos os autores assumem como importante o papel das interações, embora que os seus enfoques relativamente às interações sejam apresentados de formas distintas.

Em suma, refiro que estes autores são, sem dúvida, importantíssimos para o estudo das interações, pois as suas perspetivas apresentam importante fundamentação para a sua compreensão, contribuindo para uma melhor intervenção prática neste sentido.