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CAPÍTULO 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: ESTUDOS SOBRE A LÍNGUA

3.8 WETZELS (2007)

Neste texto, Wetzels (2007) trata da representação da nasalidade e do processo de harmonia nasal em Maxakalí. Wetzels compara as distribuições de vogais e consoantes na língua estabelecidas por GPP (1970) e Rodrigues (1981) e propõe uma distribuição alternativa baseada na análise de Rodrigues (1981) e na análise de Araújo (2001) sobre os empréstimos do Maxakalí oriundos do português.

Segundo Wetzels, nos empréstimos da língua, o que determina a oralidade ou nasalidade dos núcleos silábicos do Maxakalí é a presença de uma vogal nasal ou de um ataque nasal na palavra em questão. Portanto, em discordância com a análise de Rodrigues (1981), Wetzels mostra que é a oralidade do núcleo silábico que determina a nativização dos empréstimos em Maxakalí e não o vozeamento da consoante na coda silábica. Considerando que as palavras emprestadas do português entram na língua sem a vogal átona final, Wetzels mostra exemplos de palavras terminadas em consoante vozeada nativizadas pelo Maxakalí:

TABELA 10

EMPRÉSTIMOS DO PORTUGUÊS

PB Maxakalí

Maxakalí [maʃakali] [mãtʃakadi] Gabriel [gabɾiɛɷ] [gabidiet] Relógio [helɔʒ(iɷ)] [hedoc] Retrato [hetɾatɷ] [hetadat] Compadre [kũpadɾ(i)] [kopat] Soldado [soɷdadɷ] [tʃodat]

Seguindo o raciocínio de Rodrigues (1981), as codas sonoras deveriam engatilhar a nasalidade nos empréstimos em Maxakalí, mas isso não ocorre. Por outro lado, Wetzels mostra que apenas a primeira sílaba é nasal em alguns empréstimos do Maxakalí:

TABELA 11

EMPRÉSTIMOS DO PORTUGUÊS

PB Maxakalí

Maxakalí [maʃakali] [mãtʃakadi] Moça [mosa] [mõtʃaɁ] Mesa [meza] [mẽndʒa] Mariza [maɾiza] [mãndiʒa]

A partir dos dados na tabela acima, Wetzels conclui que a nasalidade é contrastiva nas vogais em Maxakalí. O que evidencia sua afirmação é que a nasalidade nas sílabas iniciais dos empréstimos não se espraia para a direita como é esperado na língua. Além disso, se as sílabas correspondentes em português têm o núcleo oral, isso seria uma evidência de que os falantes de Maxakalí interpretam o ataque nasal de uma sílaba oral como um sinal da nasalidade do seu núcleo. A partir dessa análise, Wetzels conclui que as vogais orais e nasais em Maxakalí são contrastivas e, portanto, subjacentes. O

inventário fonêmico proposto por Wetzels14

TABELA 12

dispõe de seis consoantes orais e dez vogais, cinco orais e cinco nasais, como nas tabelas abaixo:

CONSOANTES SEGUNDO WETZELS (2007)

consoantes labial coronal palatal Dorsal laringal

oral p t c k  h

TABELA 13

VOGAIS SEGUNDO WETZELS (2007)

anterior central posterior

arred não-arred arred não-arred arred não-arred alta oral nasal i ĩ ɯ ɯ̃ média-alta oral nasal e o baixa oral nasal a ã

Segundo Wetzels, “dentro do domínio do morfema, pode haver apenas uma instância do traço nasal” (Wetzels, 2007, p. 238). Na próxima seção, faço as considerações finais sobre este capítulo.

3.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CAPÍTULO

Neste capítulo, fiz uma breve revisão das principais análises já empreendidas sobre a língua Maxakalí. Procurei mostrar o essencial das análises de Popovich, 1970, 1971; Pereira, 1992; Wetzels, 1985; Araújo 2000b, 2001; Popovich, 2005; Wetzels, 2007, dando ênfase aos assuntos que serão retomados nesta tese, como a redução de nomes e verbos e a questão da nasalidade em Maxakalí. No próximo capítulo, tratarei sobre a Metodologia empregada nesta tese.

14

WETZELS, 2007, não formaliza no texto o número de fonemas consonantais e orais. Essa informação é apenas implícita no texto.

CAPÍTULO 4:

METODOLOGIA

Neste capítulo, descrevo os procedimentos que adotei no desenvolvimento desta pesquisa, tais como o local em que foram coletados os dados, o número de informantes e o procedimento usado para o registro dos dados. Ainda neste capítulo, descreverei brevemente a ortografia empregada pelos Maxakalí, pois todos os dados desta tese foram transcritos ortograficamente.

4.1 DO GENTÍLICO MAXAKALÍ

A origem da designação Maxakalí é incerta. O povo Maxakalí se denomina

tikmũ’ũn [tɪjk˺mɯ̃Ɂˈɯ̃ɜ̯̃n˺]. O termo Maxakalí não tem, entre os Maxakalí, conotação

pejorativa, mas é usado pelos índios apenas quando se dirigem a falantes de português. Nesse caso, pronunciam como em português Maxakalí [maʃakaˈli] ou de acordo com as regras fonológicas da sua língua: Mãxakani [mãɁtʃakaˈdiɁ].

A língua Maxakalí é denominada tikmũ’ũn yĩyax [tɪjk˺mɯ̃Ɂˈɯ̃ɜ̯̃n˺ ɲɪ̃j̃ɲˈaj ] ‘língua Maxakalí’ ou Maxakalí, como no caso do gentílico mencionado no parágrafo anterior. Em português, tanto o povo quanto a língua Maxakalí são tradicionalmente designados Maxakalí e suas variantes: Machacali, Maxacali, Maxakarí, etc. em estudos linguísticos, antropológicos e de outras áreas de conhecimento.

4.1.1 DA GRAFIA DO NOME MAXAKALÍ

Com relação à grafia do nome Maxakalí, seguirei parcialmente a convenção da Associação Brasileira de Antropologia criada em (1953), que regula a grafia de nomes indígenas. Rodrigues (1986) ressalta os pontos principais da convenção. Reproduzo

(a) os nomes de povos (e de línguas) indígenas serão empregados como palavras invariáveis, sem flexão de gênero nem de número: a língua Boróro (e não Boróra), os índios Boróro (e não Boróros);

(b) para os sons oclusivos serão usadas as letras p b t d k g, isto é, não se usarão as letras c e q em lugar de k, ao passo que g será usado no lugar de gu: Karajá (e não Carajá), Kirirí (e não Quirirí), Gerén (e não Guerén); (c) para os sons fricativos serão usadas as letras f v s z x j, logo se escreverá Asuriní (e não Assuriní, nem Açuriní), Xavánte (e não Chavánte), Jê (e não Gê, nem Gês).

Seguindo a convenção da ABA e as observações de Rodrigues (1986), grafarei o nome do povo e da língua Maxakalí sem flexão de gênero e de número. As consoantes fricativa e oclusiva [ʃ] e [k] serão grafadas, respectivamente, como x e k. Apesar de Rodrigues (1986) não mencionar o uso de maiúsculas e de acentuação gráfica nas vogais tônicas i e u finais, seguirei a tradição nos estudos de línguas indígenas, ao usar as letras iniciais maiúsculas e as vogais i e u tônicas finais com acento gráfico, como Nheengatú e Karirí. Portanto, no caso do nome Maxakalí, acentuo graficamente a vogal final: í, apesar de, na ortografia vigente do português, as vogais i e u tônicas finais não serem acentuadas graficamente quando não são antecedidas de ditongo. O uso do acento gráfico nessas vogais justifica-se, além da questão ligada à tradição na grafia do nome Maxakalí, também por servir como guia para a sílaba tônica, pois a sílaba tônica na palavra Maxakalí não é óbvia para todos sem o acento gráfico.

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