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3 MOVIMENTOS SOCIAIS DE JUNHO DE 201: SURGIMENTO E

3.2 ZERO HORA NA COBERTURA DAS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO

Com objetivo de analisar a prática dos meios de comunicação na cobertura dos movimentos sociais de junho, foi escolhido o jornal Zero Hora como objeto de análise, tendo em vista sua expressividade no Estado e no País. Fundado em 4 de maio de 1964, por Maurício Sirotsky Sobrinho, o Zero Hora é o principal jornal do Estado do Rio Grande do Sul com circulação diária e tiragem média semanal de 180.492 jornais e aos domingos aumenta para 400 mil jornais distribuídos para todo Estado. O Zero Hora conta com 24 cadernos

segmentados e aproximadamente 75 colunistas com cobertura de fatos e eventos de todo Estado e País.

Mantido pelo Grupo RBS, o jornal Zero hora ocupa a 6ª posição nacional entre os jornais de maior circulação diária, o que enfatiza sua representatividade no Estado e também na região sul. De acordo com a apresentação do grupo RBS, o Zero Hora tem por objetivo incorporar as sugestões dos leitores na produção do conteúculo veiculado, apostando na comunicação, interatividade e credibilidade. O Grupo RBS e, consequentemente, o jornal Zero Hora, por ser uma sucursal da rede Globo, segue a mesma linga editorial.

Durante as manifestações de junho, a reportagem do Zero Hora esteve presente na cobertura dos eventos realizados no município de Porto Alegre, sede do jornal, repercutindo, em algumas ocasiões, o que acontecia no resto do País e também nas demais cidades do Estado. Com sua primeira publicação no dia 10 de junho com uma matéria sobre os protestos no País, a abordagem foi feita de forma tímida, sem entrar em muitos detalhes. Foi apenas no dia 15 de junho, que o jornal fez sua publicação mais embasada sobre os movimentos, contendo duas matérias explicando os protestos. Nos dias que seguiram até o final do mês o jornal contou com atualizações diárias de material em suas págians impressas, totalizando 16 edições, além de 7 informes especiais comentados (pequenas matérias dos comentaristas), 14 editoriais, 12 artigos de opinião e 92 reportagens especiais abordando as manifestações.

As matérias especiais trabalhadas pelo jornal evidenciam em sua maioria os atos de violência e vandalismo realizados por pequenos grupos de pessoas em meio aos protestantes. No dia 27 de junho, quando o prédio da Prefeitura de Porto Alegre foi o alvo dos manifestantes e houve uma suposta agressão ao secretário César Buzzato, o jornal, que antes já vinha trabalhando a violência, depredações e confronto entre polícia e manifestantes, deu ainda mais ênfase às matérias relacionadas a essa problemática. Nesse período, dois dias antes, o Zero Hora iniciou uma série de matérias especiais denominadas #Comofaz, segundo a tendência das redes sociais com o uso do hashtag, com objetivo de debater questões relativas aos movimentos, sem focar especificamente nas manifestações.

Para qualificar a análise, restringiu-se às reportagens especiais publicadas entre os dias 25 e 30 de junho, analisando as principais formas de tratamento e o espaço destinado para debater o assunto. Na análise foi possível observar que no dia 25 de junho o jornal deu espaço para 13 páginas de reportagem. As discussões do governo e o lançamento dos cinco pactos32 em prol do atendimento das demandas ganhou duas páginas do jornal. Já a análise das manifestações33 ganhou um especial em quatro atos (Anexo 1-4), sendo destinadas quatro páginas do jornal para abordar cada momento desde o início das manifestações realizadas no dia anterior. Entretanto, as palavras que mais apareceram para tratar os manifestantes foram: vândalos e desgarrados, acompanhados de comentários sobre saques, violência e divergência. Pouco se falou sobre gestos pacíficos.

32 Zero Hora, 25 de junho de 2013, p.4-5 33

Não obstante, o jornal dedicou mais uma página para os flagrantes das depredações34, tendo apresentando o principal codinome empregado aos manifestantes: vândalos. Outra página foi destinada para as mobilizações que bloquearam a BR-11635 que ficou parada por quatro horas. A reportagem retrata a indignação dos motoristas que sofriam o atraso e evidenciava novamente a violência falando sobre depredação, sendo que um dos principais entrevistados é um representante da polícia. Os caminhoneiros foram citados como depoentes, e tratados apenas como caminhoneiros, sem haver o nome de nenhum entrevistado na notícia. Outra reportagem, dessa vez sobre as manifestações anti-Copa36, estamparam mais uma página evidenciando os confrontos entre polícia e manifestantes, mas tendo como entrevistados apenas a Brigada Militar e a Fifa.

No dia 25 de junho, a série #Comofaz trouxe quatro assuntos diferentes sobre as manifestações estampando, cada um, uma página do jornal. A primeira fazia referêcia a redução das passagens37, trazendo uma análise sobre as tarifas cobradas à população. Na sequência, uma matéria sobre a necessidade de investimentos nas escolas para garantir a melhoria da educação38, uma das bandeiras levantadas nos protestos. Um economista foi a fonte utilizada. Os interesses opostos na PEC 3739 foi o terceiro assunto abordado pela série, porém a visão apresentada é apenas política, sem nenhuma entrevista de manifestante. O mesmo aconteceu com a reportagem que fechou o primeiro ciclo sobre o pebliscito40 e constituinte em foco, o qual destacou apenas as questões políticas.

No dia 26 de junho nove matérias foram veículadas no Zero Hora ocupando 11 páginas do jornal. Duas novas reportagens da série #Comofaz41 ganharam espaço. A primeira dizia respeito à contratação de novos médicos e melhorias na infraestrutura de atendimento à saúde, uma das bandeiras levantadas durante as manifestações. Na matéria foram abordadas as condições precárias, bem como os investimentos abusivos nos estádios, mas nenhum cidadão foi ouvido. A segunda reportagem da série abordou o debate sobre corrupção42, levantado nas manifestações como um pedido de reforma política43, porém pouco se fala especificamente sobre as manifestações.

34

Zero Hora, 25 de junho de 2013, p.12 35 Zero Hora, 25 de junho de 2013, p.14 36

Zero Hora, 25 de junho de 2013, p.16 37

Zero Hora, 25 de junho de 2013, p.17 38

Zero Hora, 25 de junho de 2013, p.18 39 Zero Hora, 25 de junho de 2013, p.20 40

Zero Hora, 25 de junho de 2013, p.19 41

Zero Hora, 26 de junho de 2013, p.21 42 Zero Hora, 26 de junho de 2013, p.20 43

Uma das principais marcas dos protestos de junho, a máscara do anonymus ganhou destaque de uma página na edição sob o título a máscara do protesto44. A reportagem explica como se configura o grupo e caracteriza os manifestantes como preocupados em atacar de forma não inofensiva. Na matéria há apenas uma entrevista com analista, mas ninguém do grupo foi ouvido. Em outra página, novamente a violência ganha destaque falando sobre os atos de vandalismo45, mas desta vez a população é ouvida e aparece como preocupada com a segurança. Outras duas páginas seguem falando sobre o confronto com a polícia46 (Anexo 5), tratando os manifestantes como vândalos e enfatizando a violência. Em uma das páginas há entrevistas com manifestantes pelo Facebook. Uma terceira página aborda ainda a estratégia dos “vândalos”47, como são chamados pelo jornal, para realização do quebra-quebra. A BM é ouvida e outros codinomes utilizados são baderneiros e gangues.

Ainda na mesma edição, uma página é destinada ao fim da PEC 37, outra à iniciativa de um empresário em criar uma modalidade de vaquinha online para produção de cartazes e uma terceira sobre a cobrança dos manifestantes em cima dos vereadores da Capital.

O dia 27 de junho tem apenas três reportagens especiais sobre o tema. A primeira, de uma página, falando sobre a possibilidade da queda da tarifa48 (Anexo 6) em Porto Alegre, uma segunda, também de uma página, falando novamente sobre a violência dos protestos e o vandalismo49. E a terceira, sendo parte da série #Comofaz50, sobre o desafio de ser representando, fazendo alusão a entrada dos partidos nas manifestações.

No dia 28 de junho foram publicadas nove reportagens espeicias, sendo uma delas a especial #Comofaz51 que, dessa vez, abordou a oportunidade de melhorar o interior do RS. A reportagem se constitui em um texto mais suscinto, curto, e preocupado apenas em relatar os fatos, sem estender-se ao debate, ocupando apenas uma página. Outra página foi ocupada com os atos de vandalismo em Fortaleza52 (Anexo 7) denominada como campo de batalha, seguida de mais uma página para trabalhar a avaliação da Brigada Militar53 durante as manifestações, evidenciando pela primeira vez as agressões físicas durante as prisões e as falsas acusações a

44

Zero Hora, 26 de junho de 2013, p.18 45 Zero Hora, 26 de junho de 2013, p.16 46

Zero Hora, 26 de junho de 2013, p.6-7 47

Zero Hora, 26 de junho de 2013, p.10 48

Zero Hora, 27 de junho de 2013, p.14 49 Zero Hora, 27 de junho de 2013, p.16 50

Zero Hora, 27 de junho de 2013, p.18 51

Zero Hora, 28 de junho de 2013, p.24 52 Zero Hora, 28 de junho de 2013, p.22 53

manifestantes. Outra página foi utilizada para ouvir os portoalegrenses sobre a legitimidade54 das manifestações.

Ainda na mesma edição foi destinada uma página para abordar os arrastões55 realizados na Capital. Palavras como: pesadelo, saqueadores e manifestantes estiveram presentes em todo texto. Houve fala de manifestantes, mas nenhuma declaração oficial, apenas o diz-que-me-diz-que. Outra página foi destinada para falar sobre a realização de protestos pacíficos contra a criminalizaçao56. Sobre o Passe Livre57, foi destinada uma página para o anúncio realizado pelo governador Tarso Genro e outra para falar sobre as iniciativas paralelas e partidárias58 para baixar ainda mais o preço da tarifa.

Já o dia 29 de junho apresenta sete publicações nas reportagens especiais, sendo que uma delas fazia parte da série #Comofaz59 (Anexo 8). Dessa vez a abordagem foi pela luz nos gastos de 2014, fazendo referência aos gastos astronômicos com a Copa do Mundo e a necessidade de fiscalização. Os manifestantes foram definidos como agentes da “Gritaria Popular”60 na reportagem que ocupou duas páginas do jornal. Na sequência uma página foi destinada aos sindicatos61 que começaram a se organizar após os resultados das manifestações populares, outra para debater a questão de uma greve anônima organizada pelas redes sociais. Outras duas páginas foram destinadas para falar sobre violência e vandalismo. A primeira chamava os manifestantes de anarquistas62, denominando-os como militantes que vestem negro e possuem uma forma radical de militancia ideológica, sem objetivo de reestruturação social, mas sim revolução. Uma entrevista com um ativista foi publicada. Outra página falou sobre uma noite de prejuízos63 para os portoalegrenses em função das manifestações. Uma terceira matéria sobre essa temática ocupou duas páginas do jornal abordando o efeito colateral da violência64 onde os moradores viravam-se contra os manifestantes denominados vândalos pela reportagem. Justiça, direitos, mobilização, comportamento, pânico, depredação, violência, insegurança e destruição foram as principais palavras utilizadas.

54 Zero Hora, 28 de junho de 2013, p.18 55

Zero Hora, 28 de junho de 2013, p.16 56 Zero Hora, 28 de junho de 2013, p.12 57

Zero Hora, 28 de junho de 2013, p.6 58

Zero Hora, 28 de junho de 2013, p.8 59

Zero Hora, 29 de junho de 2013, p.14-15 60 Zero Hora , 29 de junho de 2013, p.10 61

Zero Hora, 29 de junho de 2013, p.13 62

Zero Hora, 29 de junho de 2013, p.11 63 Zero Hora, 29 de junho de 2013, p.8 64

Por fim, o dia 30 de junho abordou seis reportagens especiais, sendo uma delas a da série #Comofaz65 (Anexo 9). O tema que fechou os questionamentos foram as bandeiras, os rumos e os avanços do movimento, ocupando uma página que abordou o tipo de reivindicação, o motivo, se era ou não viável, os próximos passos e o que já havia sido realizado. Além dessa, uma matéria especial, sobre a decadência do transporte público66 de Porto Alegre ocupou duas páginas onde abordou a parte das manifestações e a tarifa acima da inflação. Ainda nessa temática, outras duas páginas foram ocupadas demonstrando a rotina de quem precisa pegar ônibus nas horas do rush da Capital67.

O pronunciamento e o lançamento dos cinco pactos68 pela presidente também foi destaque de uma página na edição. A reportagem descreveu a presidente como cansada e com olheiras, além de constrangida com a atual situação do Brasil. Não houve nenhuma situação específica fazendo referência às manifestações de junho. Outra página foi ocupada pelas brigas eleitorais partidárias69 que sacudiram o Senado e deixam o cenário político em colapso. Outras duas páginas são ocupadas para explicar o que significa cada bandeira70 levantada e as principais reivindicações e desdobramentos políticos sobre o assunto.

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