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Informação e liberdade de expressão: uma análise sobre a cobertura do Jornal Zero Hora nas manifestações de junho de 2013

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE FEDERAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RS DACEC – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS,

ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO TALITA CINDROWSKI MAZZOLA

INFORMAÇÃO E LIBERDADE DE EXPRESSÃO:

UMA ANÁLISE SOBRE A COBERTURA DO JORNAL ZERO HORA NAS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO DE 2013

Ijuí/RS 2014

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TALITA CINDROWSKI MAZZOLA

INFORMAÇÃO E LIBERDADE DE EXPRESSÃO:

UMA ANÁLISE SOBRE A COBERTURA DO JORNAL ZERO HORA NAS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO DE 2013

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito essencial para conclusão do curso de graduação em Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Orientadora: Profª Dra. Vera Lúcia Spacil Raddatz

Ijuí/RS 2014

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Aos meus pais, por fazer do meu sonho o deles. E in memorian dos meus avós Mariano e Carlos, por mesmo na ausência estarem presentes.

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Gostaria de agradecer a minha família pela paciência em aguentar todo o nervosismo e as noites sem dormir. Por se preocuparem com o meu bem-estar, mesmo quando nem eu mesma conseguia pensar em outra coisa. Ao meu pai Carlos Henrique Mazzola por ter me

incentivado a fazer jornalismo. A minha mãe Denise Mazzola por estar sempre presente quando eu precisei e acreditar em mim mais do que qualquer outra pessoa. A minha irmã Anna Carolina por aguentar o meu mau humor durante o último semestre. Aos meus avôs Mariano e Carlos que infelizmente não poderão ver meu último passo na graduação. As minhas avós Eva e Lídia por se manterem fortes e me darem força nesse momento. Aos meus amigos por entenderem minha ausência e acreditarem na minha capacidade.

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RESUMO

Buscando entender o papel dos meios de comunicação frente as suas responsabilidades para o desenvolvimento de uma sociedade democrática, esse estudo pretende analisar se a mídia age de fato como um mediador da informação para a população. Para isso, a cobertura dos movimentos sociais de junho de 2013 realizada pelo jornal Zero Hora foi o objeto de análise onde se procurou entender de que forma o meio de comunicação estruturou sua proposta editorial e como realizou as reportagens sobre as manifestações, fazendo um comparativo com o papel do jornalista e da mídia previsto no Código de Ética da profissão.

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ABSTRACT

Seeking to understand the role of the media ahead of their responsibilities for the development of a democratic society, this study analyzes whether the media actually acts as a mediator of information to the population. For this, the coverage of social movements June 2013 conducted by the newspaper Zero Hora was the object of analysis in which we sought to understand how the medium has structured its editorial proposal and held as the reports on the demonstrations, making a comparison with the role of the journalist and the media referred to in the profession's Code of Ethics.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Classificação das publicações sobre os movimentos sociais nas 16 edições do jornal Zero Hora ... 39 Gráfico 2 – Número total de reportagens especiais que abordas as manifestações de junho ... 40 Gráfico 3 – Número de reportagens que abordaram a violência nas edições analisadas ... 45

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 08

1 A IMPORTÂNCIA DAS MANIFESTAÇÕES SOCIAIS NO BRASIL ... 11

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA: A ORIGEM DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ... 12

1.1.1 Movimentos Sociais no Brasil ... 13

1.2 LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO BRASIL ... 19

1.3 O DIREITO DE INFORMAR E SER INFORMADO ... 20

2 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O EXERCÍCIO DO JORNALISMO ... 24

2.1 LEI DA LIBERDADE DE IMPRENSA ... 26

2.2 O PAPEL DO JORNALISTA E O DEVER DO JORNALISMO COM A LIBERDADE ... 29

3 MOVIMENTOS SOCIAIS DE JUNHO DE 2013: SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO PELA MÍDIA ... 35

3.1 PROCESSO METODOLÓGICO E CRITÉRIO DE ANÁLISE ... 37

3.2 ZERO HORA NA COBERTURA DAS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO ... 38

3.3 RELEITURA DAS PÁGINAS DE ZERO HORA ... 44

CONCLUSÃO ... 47

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INTRODUÇÃO

A força para lutar pelos direitos nasce da necessidade de garantir uma vida digna à população. Uma sociedade constituída com bases capitalistas onde os poderes políticos e econômicos denominam o bem-estar das comunidades fez surgir um clamor popular pela garantia aos direitos básicos como saúde, educação, saneamento, moradia e, não menos importante, pela liberdade de expressão.

Na história do desenvolvimento das sociedades, a liberdade de expressão norteia o levante popular das massas por meio de organizações sociais denominadas movimentos sociais, nos quais grupos de pessoas que defendem uma mesma ideologia reúnem-se com o objetivo de garantir uma vida digna para si e toda população.

Os movimentos sociais iniciam nos países Europeus, com ideais diferentes dos vivenciados no Brasil. No entanto, a inspiração chegou até a colônia de Portugal que, mesmo de forma tímida, tem um grande currículo em manifestações sociais, os quais serão abordados no primeiro capítulo desse trabalho. A busca por uma vida digna e melhor sempre foi a principal pauta dos protestos que ocorreram no Brasil nos mais diferentes Estados. No entanto, é só na década de 60 que a luta contra a política vigente realmente ganha força. Naquela época, as organizações se davam através de comitês organizacionais de oposição ao governo e as lutas ainda era muito relacionadas aos partidos.

Atualmente o que se vê é uma organização diferenciada. Focando no global, o avanço das tecnologias e o surgimento da internet e com ela as redes sociais, criou uma nova sociedade, voltada às tecnologias e aos benefícios que essa pode oferecer. Se utilizando dessa ferramenta, os movimentos ganharam uma nova voz e pessoas que nunca antes pensaram engajar-se nas lutas sociais sentiram-se impulsionadas pelas manifestações que iniciaram nas redes sociais e logo chegaram às ruas de todo o país. Com gritos de ordem, incialmente a reivindicação era sobre a redução nas tarifas das passagens de ônibus, logo após iniciarem os primeiros protestos nas ruas, outras causas se juntaram a essa e os simpatizantes resolveram

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sair da comodidade de suas casas fazendo das manifestações de junho de 2013 um marco na democracia brasileira.

A liberdade de expressão foi a grande norteadora desse processo. Foi embasada na necessidade de manifestar sua indignação com o atual cenário em que vive a sociedade brasileira em seus mais diversos setores que a população deixou de calar-se e se fez ouvida por todos. Para entender como os movimentos sociais e a liberdade de expressão estão ligados, o estudo pretende correlacionar a importância da liberdade de expressão, enfatizando o conceito e as relações com a sociedade no decorrer das décadas.

O termo liberdade de expressão é comum de ser utilizado dentro das manifestações sociais, entretanto, há ainda o direito à informação primordial para garantia desse primeiro direito de expressar-se. É a informação que dá o embasamento necessário para argumentar contra ou a favor de determinados idealismos ou regras da sociedade. A defesa dos direitos também prevê a defesa pelo direito à informação. Encarado como um direito meio. É ele que vai condicionar os grupos sociais determinados a defender seus ideais. Há, porém, de se levar em consideração que o direito à informação, apesar de previsto em Constituição, ainda é pouco conhecido pela maioria dos cidadãos, bem como grande parte do que lhes é de direito. Nesse contexto, os meios de comunicação operam como mediadores dessa informação.

Os meios de comunicação, mais precisamente por intermédio do jornalismo, atuam como porta-vozes do povo. É neles que é depositada a confiança de que o que é de interesse da sociedade não ficará obscuro aos olhos de todos. O jornalismo e o profissional jornalista se apresentam como ferramentas de garantia da verdade e também se utilizam da liberdade de expressão para poder manifestar-se e levar a informação à população. Para que a mídia não ficasse a mercê de interesses de terceiros na liberação dessas informações surgiu a Lei de Imprensa que tinha por objetivo garantir a liberdade de publicação à imprensa.

A utopia de um jornalismo sem barreiras econômicas ou políticas, no entanto, vem se mostrando cada vez mais distante. Hoje os grandes grupos de comunicação são norteados por interesses voltados a esses setores e o que é publicado nos jornais já não pode mais ser visto como um simples relato do fato, sem opinião ou imparcial. Os interesses dos donos desses grupos acabam vindo em primeira instância e a informação já não é mais encarada de forma efetiva como a verdade de todos os fatos como esclarece. Guareschi e Biz (2005) são extremamente críticos ao afirmarem que os meios de comunicação não atendem de forma efetiva o direito à comunicação. Para eles, a solução é democratização da mídia para tornar o conhecimento de fácil acesso a todos. “É importante esconder essa arma do povo. Com ela se

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liberta e, como vemos na presente situação, com ela é mais fácil reprimir e manter a situação inalterada”, (Guareschi e Biz, 2005, p.113).

Entende-se a mídia como uma importante ferramenta de disseminação do conhecimento e mesmo com os problemas de estruturação referente ao processo de monopólio dos meios, percebe-se a necessidade fundamental dos meios de comunicação se apresentarem como um dos principais formadores de opinião, devido ao acesso precário a internet e aos equipamentos tecnológicos que encontramos no país. Porém o debate sobre o cumprimento da ética da profissão e do compromisso dos meios de comunicação com sua função preocupa. Especialmente quando passos importantes são dados para a manutenção da democracia brasileira como os movimentos sociais ocorridos em junho de 2013.

Nesse contexto, esse estudo se propõe a fazer uma análise sobre o direito à informação, liberdade de expressão e função do jornalismo nesse processo de cobertura das jornadas de junho. Para isso, foi realizada uma pesquisa qualitativa no jornal de maior expressão do interior do Estado do Rio Grande do Sul, o Zero Hora, nas edições do mês de junho. Foram selecionadas as reportagens especiais sobre as manifestações realizadas em junho e destas feita uma triagem dos principais dias em que a discussão se evidenciou.

A partir da triagem foi realizada uma análise do discurso utilizado pelo meio, selecionando o teor da matéria e as palavras utilizadas para descrever os manifestantes. O estudo aponta para um número de publicações sobre vandalismo superior ao número de reportagens explicando o teor dos movimentos ou mesmo dando ouvidos aos manifestantes.

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1 A IMPORTÂNCIA DAS MANIFESTAÇÕES SOCIAIS NO BRASIL

A negligência do Estado com a situação da população tem sido, ao longo da história do Brasil, o fator determinante para o crescimento da desigualdade social. O surgimento do capitalismo evidenciou essa questão, porém, o debate existe desde bem antes desse período. O descaso com o povo pode ser notado ao ligar a televisão, ouvir o rádio, ler as notícias nos jornais ou ao acessar conteúdos na internet. No entanto, esse cenário fez surgir meios de organização social que lutam por leis que garantam o bem-estar comum da população, indiferente de raça, cor, condição econômica e social. A consciência da busca pelos direitos foi o fator determinante para que isso acontecesse e para que continuasse até os dias de hoje. Os movimentos sociais e sua organização com base na conscientização coletiva ressaltam uma sociedade democrática, preocupada em garantir a cidadania de forma homogênea. O filósofo alemão Jürgen Habermas acredita que a participação social de todos os cidadãos assegurada pela liberdade de expressão e participação política é fundamental para a estruturação de um país.

Na medida em que os direitos de comunicação e de participação política são constitutivos para um processo de legislação eficiente do ponto de vista da legitimação, esses direitos subjetivos não podem ser tidos como os de sujeitos jurídicos privados e isolados: eles têm que ser apreendidos no enfoque de participantes orientados pelo entendimento, que se encontram numa prática intersubjetiva de entendimento (Habermas, 2003, p. 53).

Fica claro que os movimentos sociais contribuem para o fortalecimento da política, ao passo que levam essas discussões ao conhecimento coletivo, oferecendo um espaço de debate de ideias. Esses movimentos se configuram, portanto, para cada pessoa como espaço onde todos, de forma individual e/ou coletiva, têm o direito de falar, propor ideias e participar das decisões, sendo assim, um espaço de igualdade e trabalho conjunto. Cecília Peruzzo (1998, p.62) destaca que esse é “um processo educativo de uma cidadania que vai além do direito de votar e ser votado nos moldes da democracia representativa, que não permite controlar a ação do eleito”.

A autora defende ainda que a democracia requer o envolvimento das pessoas, condicionando o espaço de debate como um espaço de participação. “Essa é umas das bases. Outra está na noção de que suas formas se condicionam ao tipo de sociedade política em que se vive” (Peruzzo, 1998, p.284). O que a autora quer dizer é que perante a lei todos são iguais, porém, sabemos que essa não é uma realidade no Brasil. Ter o acesso à educação ou a saúde,

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por exemplo, garantido em Constituição não significa que a aplicabilidade disso funcione. Por isso, a organização dos movimentos sociais torna-se fundamental para que os direitos sociais sejam efetivamente conquistados fazendo com que a cidadania seja ampliada e isso, segundo Peruzzo (1998, p.287) “levará o homem e a mulher a serem, cada vez mais, sujeitos e não objetos da história”.

Com base no ditado popular “Informação é Poder”, a participação da população nos movimentos sociais tem sido cada vez mais importante para a estruturação não apenas política, mas econômica e, principalmente, social da sociedade brasileira. A socialização dessa informação é, portanto, o primeiro passo para uma organização efetiva de uma sociedade consciente de seus direitos para que então possa lutar por eles. Os movimentos sociais fazem um papel extraordinário no debate dessas questões, porém, sozinhos não conseguem atuar de maneira abrangente para contribuir de forma efetiva nas discussões. Nesse contexto, as ONGs, as instituições de ensino e a mídia entram em cena para não apenas fomentarem essas discussões com informações, mas também para evidenciar a discussão dos movimentos sociais e levá-la para um público ainda mais abrangente, garantindo que os movimentos se descentralizem e alcancem os simpatizantes de suas causas fora da abrangência local ou regional.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA: A ORIGEM DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

A compreensão dos movimentos sociais passa pela tomada de consciência de sua origem e pelas razões que impulsionaram seu desenvolvimento. Para isso, é necessário reportar-se ao surgimento do capitalismo, quando o desenvolvimento das grandes cidades resultou na migração do homem do campo para estes locais. Esse processo gerou um crescimento urbano desordenado que não acompanhou o desenvolvimento das cidades no que diz respeito ao atendimento das necessidades básicas dos cidadãos como moradia, saneamento, alimentação, dentre outros. A revolução industrial impulsionou o crescimento das indústrias e os cidadãos que antes já se aglomeravam de forma desordenada foram empurrados para as periferias aumentando ainda mais a precariedade da situação em que se encontravam. A omissão do Estado na resolução das problemáticas foi o que impulsionou o surgimento dos movimentos sociais com o objetivo de reivindicar políticas públicas que solucionassem essas carências.

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Os movimentos sociais têm seu conceito intimamente ligado à ação coletiva de um grupo organizado com o objetivo de alcançar mudanças por meio do embate político. Gianfranco Pasquino, Norberto Bobbio e Nicolau Mateucci (2007), explicam que os movimentos sociais são constituídos de tentativas, pautadas em valores comuns àqueles que compõem o grupo, de definir formas de ação social para se alcançar determinados resultados. Por isso, para compreender um movimento social é importante considerar algumas premissas, como: as estruturas sociais nas quais surgiu, contexto histórico no qual ele está embasado, os conflitos entre classes, relações sociais, culturais e políticas. Desse modo, pode-se entender movimentos sociais como uma representação dos ideais de uma parcela da sociedade insatisfeita com a atual condição em que vive e que organiza ações a fim de mudá-la.

Com base em uma contextualização histórica, a qual será explicada de forma mais abrangente em seguida, cabe salientar que os movimentos sociais não se limitavam a manifestações públicas esporádicas, normalmente eles eram ligados a organizações que atuavam fortemente junto à sociedade para alcançar seus objetivos, o que significa uma luta constante e, em alguns casos, de longo prazo.

1.1.1 Movimentos sociais no Brasil

No Brasil, os movimentos sociais começaram a surgir de forma efetiva no século XIX, sendo impulsionados principalmente pelos conflitos que abrangiam as zonas rurais e urbanas. No entanto, a herança das lutas do século XVIII e os movimentos pela independência foram os que inspiraram as futuras lutas do país. De acordo com Gohn (2001, p.19), os líderes dos movimentos “tomavam como bandeira pontos em comum das lutas contra o colonialismo, a saber: a liberdade de comércio, a liberdade, a igualdade a representação popular soberana e, em alguns casos, o anticlericalismo exacerbado”.

Os movimentos sociais do século XVIII inspiraram o surgimento de muitos outros nos séculos seguintes, como a Inconfidência Mineira (1789), que foi o primeiro movimento a definir com clareza o objetivo da separação da metrópole tendo como principal líder Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. As causas do movimento se caracterizam pela luta econômica fundamentada pela cobrança pesada de impostos, pela luta política dada pelo desenvolvimento de uma administração despótica, cometendo inúmeras arbitrariedades e, por fim, a luta ideológica causada pela influência do liberalismo inglês.

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Os movimentos dos séculos XIX foram caracterizados por motins caóticos e a falta de planejamento, tendo como principais motivações a construção de espaços nacionais no mercado de trabalho, nas legislações, no poder político, etc. Segundo Gohn (2001, p.23) “os movimentos tinham dificuldades de se estabelecer ou de permanecer no poder, sendo em maior ou menor tempo massacrados, nas várias regiões do país, pelas forças da legalidade colonial ou imperial”. Dentre os inúmeros movimentos sociais ocorridos na primeira metade do século XIX destacam-se a Luta dos Sete Povos (1801)1; Proclamação da Independência do Brasil (1822)2; Balaiada (1830-1841)3; Caramurus (1832)4; e a Guerra dos Farrapos (1835-1845)5. Há de se destacar ainda a Revolução Praieira (1984)6 que tinha como objetivo a luta pelo voto livre e democrático, trabalho para todos e a liberdade de imprensa. A revolução, no entanto, durou apenas um ano e acabou derrotada pelas forças oficiais o que resultou na morte de muitos manifestantes e a prisão de vários de seus líderes. O fim da Praieira deu início a outra parte do segundo reinado.

Os movimentos sociais da segunda metade do século XIX tiveram como principais pautas a questão dos escravos, a luta pela cidadania, identidade e liberdade humana. Dentre os principais movimentos sociais ocorridos nessa época destacam-se a Luta pela Eleição Direta (1855)7; Lei do Ventre Livre (1871)8; Movimento Abolucionista (1878-1888)9; e o Movimento Estudantil (1896)10.

O século XX é caracterizado por um novo perfil de lutas sociais no Brasil. Os movimentos sociais passam a ser caracterizados por lutas sociais da classe operária e populares urbanas, de categoria militar, lutas sociais no campo, de segmentos das classes

1 A Luta dos Sete Povos ocorreuentre os portugueses e espanhóis com o objetivo de conquistar o território das missões, onde os portugueses saíram vitoriosos.

2 Resultado da crise nas relações com a corte, onde o príncipe Dom Pedro I chefiou um processo político do qual era um figurante de oposição, ocasião em que, conforme historiadores, o povo discutiu os acontecimentos sem ter participado diretamente do ato.

3 Caracterizada como revolta dos escravos e sertanejos pobres que eram homens livres que trabalhavam no regime de quarta, esse movimento foi resultado das crises políticas do período regencial.

4 Ocorrido no Rio de Janeiro e liderado por José Bonifácio, esse movimento tinha o objetivo da volta de Dom Pedro I e a restauração do absolutismo disfarçado que existia antes.

5 Ocorrida no Rio Grande do Sul onde o governo da Província do sul foi derrubado por um exército de cerca de 5 mil homens, esse foi o mais longo movimento de revolta armada da história brasileira no século XIX.

6 Nasceu da rivalidade dos dois grandes partidos da época: O Conservador e o Liberal. Foi influenciada pelos movimentos populares de 48 na Europa. Em sua duração mais de 500 revolucionários morreram em decorrência da ação das tropas imperiais.

7 Que tem como premissa o voto dos analfabetos, a retirada das restrições ao colégio de eleitores e outras normas restritivas ao direito do voto.

8 Que torna livres os filhos dos escravos nascidos no Brasil.

9 Um dos mais controversos da história brasileira tendo em vista a questão da pressão dos ingleses e o papel dos fazendeiros paulistas que patrocinaram a política de imigração. Esse movimento destaca-se ainda pelas lutas anteriores que resultou no projeto legislativo assinado pela princesa regente D. Isabel.

10 Ocorrido em São Paulo com atos de protestos contra artigo ofensivo à mulher brasileira, desgravo a professores, apoio à guerra contra a Alemanha, protesto contra o governo, etc.

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sociais pela educação, lutas embasadas nas ideologias, movimentos nacionalistas, pela mudança do regime político, questões ambientais, movimentos de raça, etnia, cor e gênero sexual, categorias de idades, preservação do patrimônio histórico, movimentos regionais e lutas cívicas e solidárias, por melhorias no salário e consumo coletivo. Para Gohn (2001, p.61), as lutas desse período, de forma geral, têm caráter histórico, “ocorreram ao longo do século e tiveram maior ou menor importância segundo a conjuntura sociopolítica do país”.

A mesma autora destaca ainda que esse período divide-se em seis diferentes fases de manifestações no país. Dentro dessas fases há um incontável número de manifestações importantes para a estruturação dos movimentos sociais como conhecemos hoje, entretanto, não é possível detalhar todas elas, mas serão apresentadas as principais manifestações de cada categoria.

A primeira fase desse século é marcada por lutas pelo rebaixamento dos gêneros alimentícios, reivindicações por salários, jornada de trabalho, assim como pelo congelamento dos aluguéis, a forma predominante de moradia no período. Dentre os movimentos sociais ocorridos na época destacam-se a Revolta da Vacina (1904)11; a Revolta dos Índios (1910)12; a Criação da Associação Brasileira de Educação (1924)13; a Coluna Prestes (1925-1927)14; e o Primeiro Código de Menores do Brasil (1927)15.

A segunda fase caracteriza-se pela atenção das políticas públicas para o urbano, visando criar condições para o adensamento da mão de obra. É nela que as lutas dos trabalhadores são coroadas com conquistas das classes subordinadas em geral. Nessa fase

11 Ocorrida no Rio de Janeiro cujo pretexto inicial foi a campanha da vacinação em massa contra a varíola desencadeada por decisão da Presidência. A forma como ela foi implementada de forma obrigatória aliada a lembrança negativa com relação a vacinação da febre amarela gerou aversão popular o que resultou em um motim popular que obrigou o governo a suspender a lei de vacinação obrigatória.

12 Também é de caráter importante para a preservação da cultura indígena, sendo uma medida tomada pelo governo devido aos constantes conflitos com os nativos e adotando o lema “Nunca Matar um índio”. 13

Essa entidade tornou-se a patrocinadora de inúmeros movimentos na área da educação na década de 30 e de 50.

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Oriunda do movimento tenentista foi liderada por Luís Carlos Prestes teve como objetivo deslocar a atenção das forças militares do Rio de Janeiro com o envio de tropas para combatê-los, deixando o campo aberto para a tomada do campo aberto para a tomada do poder federal e o afastamento do Presidente Bernardes com um golpe. 15 Surgindo da problemática da infância e da adolescência nas ruas das cidades semi industrializadas desde o final do século XIX.

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ocorre a Revolução Política (1930)16; Nova Constituição (1934)17; Novas Leis Trabalhistas (1940)18.

A terceira fase é de grandes participações sociais com a população irrompendo na cena política brasileira com um poder de pressão. O rádio torna-se o grande meio de comunicação nesse período. Entre as principais manifestações são citados os Movimentos Político-Partidários (1945)19; a Nova Constituição (1946)20; os Movimentos dos Agricultores Sem-Terra – Master (1960)21.

A quarta fase é caracterizada pela pressão na sociedade brasileira imposta pelo regime militar. Nesse período ocorrem várias lutas de resistência e movimentos de protesto do país com uma intensa articulação de forças políticas no Brasil, operando na clandestinidade em ações violentas respaldadas na ilusão da necessidade da luta armada como única forma de instalar uma nova sociedade no país. São exemplos: o Movimento Estudantil – ME (1964-1968)22; e a Promulgação da Emenda Constitucional (1968-1971)23.

A quinta fase corresponde a um período de resistência e de enfrentamento ao regime militar. O povo acredita que, se organizados, os grupos sociais conseguem realizar mudanças históricas que outros grupos não conseguiram no passado. Os movimentos mais importantes nessa época são os Movimentos pela Redemocratização do País (1975)24; e a Criação do Movimento dos Sem-Terra (1979)25, em Santa Catarina.

Por fim, a sexta fase abrange o período mais curto, porém o mais repleto de movimentos e de lutas na história do país. Os anos 80 são fundamentais para a compreensão da construção da cidadania dos pobres no Brasil em novos parâmetros. Os anos 90 por sua vez se caracterizam pelo surgimento de novos movimentos sociais centrados mais em questões

16 Abrangendo vários Estados do país com o objetivo de garantia do voto secreto e da designação de magistrados para a presidência das mesas eleitorais tendo como principal programa as reformas políticas e não as reformas econômicas.

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Elaborada de forma nacionalista, adotou medidas de proteção ao trabalho e teve escassa participação popular em sua elaboração.

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Teve por objetivo complementar a modernização das relações entre o capital e o trabalho promulgando uma série de leis que passaram a ser direitos dos trabalhadores.

19 Que ocorreram em todo país, com o objetivo de rearticular a vida democrática, e as mudanças que se faziam necessárias no regime político.

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Ficou conhecida como a Carta de 46 que foi uma das mais liberais que o país já teve, pois reestabeleceu a independência dos poderes e instaurou a autonomia dos Estados e os direitos individuais.

21 Que surgiu devido aos conflitos entre 300 famílias de posseiros que habitavam uma área de 1.600 hectares de terra há 50 anos.

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Que passou a ser um espaço físico e político-social privilegiado de lutas; a Constituição do Golpe de 64 (1967), aprovada por um congresso mutilado, de onde se originou a Carta de 67 que formalizou a ordem estabelecida pelos militares em 64.

23

Essa emenda retirou a inviolabilidade dos mandamentos parlamentares, passando a imperar a Lei de Segurança Nacional, estabeleceu-se a censura e suspenderam-se as eleições diretas para governadores.

24 Que trata-se da reestruturação de grupos desarticulados pelo golpe de 64. 25

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éticas ou de revalorização da vida humana, onde se retoma a questão dos direitos sociais tradicionais. Situa-se nesse período o Movimento Diretas-Já (1984), um dos maiores ocorridos no Brasil no século XX.

Após um começo tímido em São Paulo rapidamente assume dimensões grandiosas em todo país, registrando paralisações com público similares ao final de Copa do Mundo. Há na população uma esperança grandiosa, ninguém se sente manipulado por tendências político-partidárias, ainda que houvesse um grande jogo entre as lideranças políticas para faturar prestígios e simpatias. O Diretas-Já constrói, como nenhum outro, um projeto de unidade nacional, porém sem base de sustentação em propostas de ação. Há ainda o Movimento dos Sem-Casas (1986)26; e, por fim, o Movimento dos Caras Pintadas (1992), composto por estudantes secundaristas e universitários com o objetivo de manifestar-se contra o então presidente Fernando Collor de Melo. Esse movimento é um dos mais importantes quanto à participação efetiva dos jovens nas movimentações sociais e tem como premissa a retomada do movimento estudantil no Brasil.

De modo geral, os movimentos citados anteriormente auxiliaram na construção dos movimentos sociais que são construídos hoje, mas também na estrutura social da população brasileira. Ainda são notáveis os danos causados pela grande migração do campo para a cidade e o acúmulo da população em periferias, aumentando de forma efetiva a carência em moradia e saneamento, tornando clara a importância das lutas que vinham sendo debatidas desde os séculos anteriores para a garantia de políticas públicas eficazes para a solução dos problemas. Entretanto, a discussão ainda está focada em um Brasil do ontem, enfatizando as lutas do passado. Esse debate foi e é importante para entender o Brasil do hoje caracterizado por manifestações constantes de liberdade de expressão, de forma mais individual, que quando organizadas em grupos, assumem proporções surpreendentes.

Com o desenvolvimento da tecnologia, a sociedade tem caminhado cada vez mais para o coletivo. A Revolução Industrial empurra a sociedade a um desenvolvimento contínuo e desenfreado que acarreta sérias consequências para a manutenção da vida das pessoas dentro das grandes – e depois também pequenas – cidades. Não obstante, a sociedade passa a ser considerada uma sociedade de massa, que não apenas produz, mas também consome em ritmo igualmente acelerado. Atualmente a sociedade quer mais e duas novas revoluções têm ditado às regras: a Tecnológica e a da Informação. É claro que a tecnologia não determina a sociedade, porém, segundo Castells (1999, p. 25) se vive um momento em que “a tecnologia é

26 Que era composto basicamente por trabalhadores das camadas médias, tendo por objetivo a luta por políticas públicas que atendessem às necessidades básicas da população e dos sem-casa.

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a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas”.

É nesse contexto que nascem os novos movimentos sociais que tem como premissa uma nova constituição e forma de organização, tendo suas origens na internet, por meio das redes sociais. Atualmente, a movimentação de lutas mais conhecida são os movimentos sociais de junho de 2013 que, por levantar várias bandeiras, não recebe nenhum nome específico.

A mobilização inicia ainda no começo de 2013 com manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus em Natal, Salvador, Manaus, Fortaleza, Recife, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Entretanto, ainda é descentralizado, e só ganha realmente força quando passa a ser organizado pelas redes sociais. Em junho, toma o país, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro, onde centenas de milhares vão às ruas reivindicar seus direitos. Sem uma pauta específica, vê-se nas ruas pessoas se manifestando pelo aumento dos R$0,20 na tarifa de ônibus, a bandeira contra a cura gay e a aceitação do homossexualismo também é levantada, bem como a reforma política, a derrubada da PEC 37, o ato médico, dentre outros.

Peruzzo (1998) chama atenção para a participação social efetiva nessas lutas, enfatizando a importância de não perder os valores humanos como o respeito ao semelhante, a solidariedade e a gratuidade. Para a autora, ainda há muito o que se fazer quanto às mobilizações sociais, pois enquanto a sociedade ajudar valorizar a ganância e o individualismo, vai continuar a perder seus valores.

E assim o homem vai se tornando objeto, mercadoria, coisa manipulável, em detrimento de sua essência e do caráter de sua espécie. (...) O homem tem como essência a potencialidade de ser sujeito da história. Alienando-se, ele perverte os valores próprios, transformando-os em objeto. Nessas condições, ele se deforma, se embrutece, se desumaniza (Peruzzo, 1998, p.26).

Independente das bandeiras levantadas no passado ou no presente, o que elas têm em comum é a busca pela sobrevivência dentro de uma sociedade individualista baseada em desigualdades. É nesse sentido que as manifestações em defesa da vida assumem proporções gigantescas, pois despertam nas mais diferentes camadas sociais a consciência da necessidade de lutar por uma vida mais digna.

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1.2 LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO BRASIL

A liberdade de expressão é um direito humano fundamental previsto em lei com o objetivo de garantir à população que sua voz seja ouvida. A Declaração de Princípios sobre a Liberdade de Expressão, aprovada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em outubro de 2000, prevê a liberdade de expressão em todas as suas formas e manifestações como um direito fundamental e inalienável, inerente a todas as pessoas. Nesse contexto, podemos entender liberdade de expressão como um direito de todos de informar e estar bem informados, mas, sobretudo, é um direito de cidadania. A luta para assegurar o direito existe há décadas e tudo indica que permanecerá constante.

No Brasil, esse direito está previsto na Constituição Federal de 1988, a qual assegura aos cidadãos o acesso à informação de diferentes fontes dentro de um ambiente democrático, que garanta a liberdade de expressão e de imprensa. É por meio artigo 5º, inciso IV que a Constituição destaca que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. No mesmo artigo, mas no inciso IX, prevê a “livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Essa busca pela liberdade no país tem bases internas nascidas principalmente no período pós-ditadura, que se caracteriza como o período de maior repressão da sociedade brasileira, mas também referências internacionais, como a participação em tratados e fóruns que garantem a liberdade de expressão, como a Declaração Universal dos Direitos dos Homens27, Tratado Internacional de Chapultepec28, a Declaração Americana Sobre Direitos Humanos29, a Carta Democrática Interamericana30 e a Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão31.

27 Criada em 10 de dezembro de 1948, a Declaração teve o auxílio de pessoas de todas as partes do mundo para sua produção. Nela os governos se comprometem, juntamente com seus povos, a tomarem medidas contínuas para garantir o reconhecimento e efetivo cumprimento dos direitos humanos.

28 Adotada em 11 de março de 1994, a declaração é uma carta de princípios e coloca uma imprensa livre como uma condição fundamental para que as sociedades resolvam os seus conflitos, promovam o bem-estar e protejam a sua liberdade. Não deve existir nenhuma lei ou ato de poder que restrinja a liberdade de expressão ou de imprensa, seja qual for o meio de comunicação.

29 Aprovada em 1948 foi o primeiro acordo internacional sobre direitos humanos, antecipando a Declaracão Universal dos Direitos Humanos, fundada seis meses depois. A declaração está antecedida por vários

documentos e consta de um preâmbulo e dois capítulos; o primeiro dedicado aos direitos humanos e o segundo aos deveres e obrigações. No total, ela é integrada de 38 artigos.

30 Aprovada em 11 de setembro de 2011, é um instrumento que proclama como objetivo principal o fortalecimento e preservação da institucionalidade democrática, ao estabelecer que a ruptura da ordem

democrática ou sua alteração, que afete gravemente a ordem democrática em um Estado membro, constitui um "obstáculo insuperável" para a participação de seu governo nas diversas instâncias da OEA.

31 Aprovada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em 2000, tem por objetivo assegurar a plena vigência, além de estabelecer princípios para a liberdade de expressão em todas as suas formas de manifestação.

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É importante distinguir, no entanto, os conceitos de liberdade de expressão e direito à informação que desde a origem são confundidos e tomados um pelo outro. No entanto, a liberdade de expressão parte do princípio da emissão do pensamento, é encarada como uma faculdade de emitir opiniões, ideias e pensamentos sem impor regras ou tarefas a serem cumpridas. Conforme Gradinetti e Carvalho (1999, p. 28) pode-se afirmar que a liberdade de expressão

envolve um dever de abstenção do Estado e dos demais quanto a uma faculdade de pensar, de emitir pensamento, de criar artisticamente, de professorar determinado culto religioso ou doutrina política, sem qualquer embaraço, respeitados os direitos das demais pessoas.

É importante salientar, como já bem fizeram os autores, que apesar de não existir um regramento rígido no que diz respeito à liberdade de expressão, comparado aos outros direitos, há de levar em consideração que ela se limita à proteção da constitucionalidade dos direitos de personalidade, como honra, imagem, intimidade, dentre outros.

O direito à informação, por outro lado, é fundamentado em uma estrutura política, assegurado como direito de cidadania que permite ao homem realizar-se na perspectiva social e política, participando da sociedade na qual vive. Ele está diretamente ligado ao direito de ser informado. É nesse contexto que entra o direito à comunicação, também previsto em Constituição, e que tem como principal objetivo, além de ser informado, informar a sociedade. A diferença entre o direito à informação e o direito à comunicação é exatamente de que no primeiro não há a preocupação ou necessidade de informar existente no segundo. Nesse estudo a discussão desses conceitos, é abordada na perspectiva brasileira de liberdade de expressão.

1.3 O DIREITO DE INFORMAR E SER INFORMADO

O direito à informação deve ser entendido como, segundo Gentilli (2005, p.128) “um direito que fomenta o exercício da cidadania e permite ao cidadão o acesso e a crítica aos instrumentos necessários ao exercício pleno do conjunto dos direitos de cidadania”. É, portanto, o ponto chave da ligação entre a sociedade, os direitos e a liberdade de expressão. Esse é, também, um direito fundamental que garante ao cidadão o livre acesso às informações de seu país. Informação é conhecimento. A informação sempre foi artigo de barganha na

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história mundial, é por meio dela que grandes transações são feitas e é quem a obtém que consegue os melhores resultados. A informação, segundo Gentilli (2005, p.134),

é a forma como se manifesta presentemente a liberdade de manifestação e de expressão no contexto do Estado de direito. Na verdade, o direito civil à informação é apenas um aspecto específico do conjunto dos direitos civis que são muito mais amplos. Ela se baseia, sobretudo, no direito de dizer, no combate a qualquer tipo de censura, na liberdade de criar jornais, difundir informações, etc.

Exatamente por isso a informação precisa ser encarada como um direito coletivo, com o objetivo de garantir uma vida justa a todos. O direito à informação é, portanto, fundamental para construir uma sociedade democrática e com bases sólidas, cujos cidadãos são conscientes de seus direitos e deveres, bem como os responsáveis pela efetividade dos mesmos.

O direito à informação é, conforme as reflexões de Gentilli, um direito meio, que tem como principal função mediar o acesso e o conhecimento dos cidadãos aos demais direitos fundamentais garantidos em lei. “Trata-se, é verdade, de um direito secundário, no sentido de que é um direito necessário para realização de outros direitos, um direito meio, não um direito fim” (Gentilli, 2005 p.126). Esse é, portanto, um direito que promove o exercício da cidadania e o contato com o conhecimento e pensamento crítico dos demais direitos e também de como estes vem sendo aplicados em seu cotidiano pelos órgãos responsáveis primando pela garantia iminente a todos dos direitos humanos.

É importante refletir ainda que o direito à informação se constitui na perspectiva de direito humano fundamental ao cidadão e pode ser associado a outros direitos como educação e saúde, os quais são necessários para a manutenção e dignidade. É nisso que se apoia Gentilli ao pensar a informação como um direito social indispensável à sociedade. “Toda aquela informação concebida à semelhança da educação, como o repasse de informação indispensável para um uso coletivo das conquistas humanas no campo social” (Gentilli, 2005, p.131).

Uma sociedade que não tem pleno acesso à informação não pode se dizer livre e cumpridora do que prevê a Constituição. É importante que o conhecimento sobre os valores democráticos, pluralistas, de liberdade e igualdade sejam claros para a população. E para isso acontecer é indubitável que exista o direito pleno do acesso à informação, pois só assim será possível construir uma democracia com bases firmadas na proteção dos direitos fundamentais previstos em Constituição.

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Os responsáveis pela garantia desse acesso são órgãos públicos, como o Estado, que devem promover formas de acesso às carências de informações apresentadas pela população. Isso deve ocorrer por intermédio de regulamentação que garanta à população o livre acesso às informações que julgarem necessárias para o bem comum, convivência em sociedade assegurando seus direitos. Porém, o Estado não é o único a quem compete essa função de levar a informação à população.

Os meios de comunicação se inserem nesse processo como mediadores, assumindo um papel fundamental para o exercício pleno da cidadania e livre acesso às informações que sejam do interesse da comunidade. São eles que assumem o papel de buscar, investigar e informar a população sobre a garantia de seus direitos fundamentais, o cumprimento disso pelo Estado e também defender os demais interesses e necessidades da população.

Para que isso aconteça há um terceiro direito a ser debatido. O direito à comunicação. Assim como a liberdade de expressão precisa do direito à informação para ocorrer de forma coerente e conscientizada, este último necessita da liberdade para comunicar. Os demais setores da sociedade preocupados em atender a necessidade de informação da população como escolas, ONGs e os meios de comunicação vão buscar auxílio nesse direito para a efetivação da chegada do conhecimento a todos. A mídia, por sua vez, terá a liberdade de imprensa, para lhes amparar, a qual será debatida de forma mais aprofundada no segundo capítulo.

O direito à comunicação enfrenta ainda um dilema na sociedade brasileira. Assegurada em Constituição, as alegações do não cumprimento efetivo da legislação se dá pelo fato de a mídia ser regida pelos interesses econômicos, o que leva a discussões referentes à veracidade do conteúdo transmitido à população. Essa preocupação levou o debate mais a fundo, o que resultou na discussão sobre o Marco Regulatório da Mídia, medida já adotada por outros países latino-americanos.

Salvo essas questões, é importante frisar que o acesso à informação de maneira efetiva é um dos principais meios de concretização dos direitos humanos. Isso porque a construção de uma sociedade consciente de seus direitos se dá por meio de uma sociedade que obtém o conhecimento e tal conhecimento só se tem a partir do acesso às informações.

O papel do Estado e dos meios de comunicação é fundamental para que isso ocorra, porém, há ainda um terceiro fator que tem se destacado na defesa do direito à informação: a organização dos movimentos sociais em prol dos direitos fundamentais do homem. Acredita-se que isso Acredita-seja uma conAcredita-sequência do conhecimento levado por meio do direito à informação e comprove a importância do mesmo, bem como a necessidade de um trabalho contínuo e

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efetivo do Estado e meios de comunicação para garantia do direito meio. As manifestações populares são o reflexo de que a informação, quando chega de forma séria à população, gera resultados. Portanto, o conhecimento dos direitos faz da população uma unidade preparada para lutar em prol do bem comum.

Nessa perspectiva é preciso que esses movimentos estejam informados de maneira adequada para amparar suas bandeiras de luta. Os meios de comunicação têm o papel de atuar nesse processo, bem como realizar o acompanhamento e cobertura de tais manifestações. Para isso, é necessário entender a importância do direito de informar e de ser informado, bem como a liberdade de expressão para o exercício do jornalismo, com base na ética da profissão, o que se discute a seguir neste texto.

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2 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O EXERCÍCIO DO JORNALISMO

Com o objetivo de assegurar uma sociedade democrática onde todos os indivíduos falam e são ouvidos de forma igualitária, a liberdade de expressão foi assegurada em Constituição no ano de 1988. No artigo 5º, inciso IV, afirma-se que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Os incisos VIII e IX também abordam a liberdade de expressão. No artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) a liberdade de expressão é defendida para transmissão de informações e ideias, independente de fronteiras.

No Brasil, a liberdade de expressão tem referências nacionais e internacionais. O país também faz parte de tratados que abordam a questão como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Tratado Internacional de Chapultepec, a Declaração Americana sobre Direitos Humanos, a Carta Democrática Interamericana e a Declaração de Princípios sobre a Liberdade de Expressão.

Os debates sobre a liberdade de expressão foram fundamentais, especialmente com o surgimento da sociedade de massas, quando as indigências da população ficaram mais evidenciadas e a necessidade da luta e busca dos direitos tomou forma. Essa nova sociedade regida por um regime democrático é contra a distinção entre os homens, classes sociais, cor, gênero, dentre outras. No entanto, inicialmente esse regime ainda excluía o espaço para o debate de ideias defendidas tanto pelos que eram a favor da democracia como os que eram contra, iniciando assim a busca pela garantia da liberdade de expressão.

Os protestos que nascem por meio de manifestações, embasadas na liberdade de expressão, são a forma mais conhecida do poder da mesma. Por meio delas, já foi possível a derrubada de inúmeros governos arbitrários a esse modelo democrático de expressão. No entanto, ao mesmo passo que as manifestações justificadas pela liberdade de expressão são benéficas para o modelo democrático de sociedade, há os que se apropriam de sua constitucionalidade para promover a violência e o vandalismo. Por isso que, com o objetivo de garantir não só a proteção desse direito, mas também das consequências dessa garantia, foram criadas, no Código Penal Brasileiro, leis que punem os crimes contra a honra, nos quais se incluem questões como calúnia, injúria e difamação.

É a partir de uma sociedade pluralista e participativa em seu modelo democrático que se constrói a cidadania que, conforme Gentilli (2005, p.96) “tem como base o reconhecimento a todos os membros plenos da sociedade de um status de igualdade em relação a direitos e obrigações”. Esse novo modelo cidadão democrático também dá um novo viés ao

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entendimento de liberdade. Para Gentilli (2005, p.117), esse modelo é entendido “principalmente como o exercício pleno dos direitos civis”. O autor explica que atualmente a liberdade entende o direito de ir e vir, bem como o direito de escolher, da privacidade e de não ser preso ou torturado, diferentemente do entendimento antigo quando a liberdade estava ligada à esfera pública, sendo hoje voltada mais à privada.

Na lógica moderna de liberdade são, portanto, os direitos civis que consagram a liberdade e a autonomia do indivíduo na esfera privada enquanto os direitos políticos referem-se explícita e exclusivamente à esfera pública. Isso quer dizer que para os modernos os cidadãos são livres para se ocuparem com seus afazeres privados e com sua vida pessoal e profissional posto que o poder político é exercido em seu nome – ao menos teoricamente -, por representantes por eles eleitos para esta finalidade.

Os debates em torno desse assunto são fundamentais, e tais legislações adaptadas para garantir a liberdade de expressão são vitais para a construção de uma sociedade democrática. A democracia, por sua vez, depende de uma sociedade educada, consciente de seus direitos e, portanto, bem informada. Para que isso aconteça, o acesso à informação é fundamental.

Os meios de comunicação se inserem nesse contexto como os principais mediadores dessa informação. Entretanto, para que possam cumprir seu papel como mediadores, também necessitam não apenas do acesso à informação, mas também da liberdade em poder publicá-las sem censura. Com esse objetivo é que foi criada a Lei de Liberdade de Imprensa.

Antes de entrarmos nos detalhes sobre essa lei, é importante esclarecer que a confusão entre a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão costuma ser comum. A liberdade de imprensa é uma vertente da liberdade de expressão, a expressão é livre à população e pode ser exercida por qualquer cidadão de forma desordenada e desassociada, vê-se na liberdade de imprensa um importante instrumento para o exercício pleno da democracia. De forma organizada e bem estruturada é nela que os meios de comunicação se amparam para fazer denúncias que, de alguma forma, poderiam ser impedidas de serem publicadas pelos poderes, por exemplo, na tentativa de esconder da população abusos políticos.

Lima (2012) discorre sobre as diferenças entre liberdade de expressão e de imprensa. Com indagações sobre inúmeros autores, ele apresenta também as diferenças entre ambos os conceitos nos documentos, legais ou não, onde tais liberdades são apresentadas como: liberdade de imprensa, liberdade de expressão ou liberdade de expressão e de imprensa, sinalizando que historicamente elas vêm sendo entendidas como liberdades distintas.

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A liberdade de expressão está sempre referida à pessoa (indivíduo). Já a liberdade de imprensa aparece como condição para a liberdade individual ou como uma liberdade da sociedade equacionada com a imprensa e/ou os meios de comunicação (Lima, 2012, p.29).

O autor cita importantes declarações em que essas liberdades são asseguradas de forma independente como a Declaração de Virgínia (1776), cujo artigo XII fala sobre a liberdade de imprensa. Há ainda a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão francesa (1789) que aborda o direito à livre comunicação das ideias e das opiniões, bem como que todo cidadão pode falar, escrever e imprimir livremente. No Brasil, a Constituição Brasileira de 1988, em seu inciso IV artigo 5º, refere-se à liberdade individual de manifestação, porém, em seu artigo 220, também defende a plena liberdade de informação jornalística.

Os meios de comunicação se apresentam, dessa forma, como os representantes da massa da população, com o objetivo de garantir o direito de acesso às informações e repassá-las a toda população. A lei de liberdade de imprensa se insere nesse contexto como a principal forma de garantir legalmente o exercício pleno do direito de informar os cidadãos com a verdade, independente de interesses públicos ou privados.

2.1 LEI DA LIBERDADE DE IMPRENSA

Criada durante a ditadura militar em 1967, a Lei de Imprensa (Lei. 5.250) vigorou até 30 de abril de 2009 quando foi revogada pelo Supremo Tribunal Federal. Tinha como objetivo regular a liberdade de manifestação do pensamento e da informação com o objetivo de restringir as atividades da imprensa e punir jornalistas e veículos de comunicação que se opusessem ao regime militar.

A questão da liberdade de imprensa está incluída dentro dos direitos fundamentais, mas no Brasil esse processo de reconhecimento aconteceu de forma tardia. Desde seus primórdios, o Brasil era encarado como uma colônia de Portugal e não convinha ao império que a população que aqui se desenvolvia fosse provida de conhecimento e senso crítico, ficando restrito apenas aos filhos dos grandes magnatas o privilégio de estudar, porém, somente se fossem a Portugal para o fazer.

A vinda da corte de D.João ao país mudou o cenário da imprensa no Brasil. Ela surgiu de forma não oficial e ainda estava sob censura da coroa portuguesa, sendo examinados todos os papéis e livros com o objetivo de zelar pela religião, pelo governo e pelos bons

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costumes. Foi daí que surgiu o primeiro jornal impresso no Brasil, em 1808, denominado Gazeta do Rio de Janeiro, que era constituído apenas de notícias sobre a Europa. A liberdade de imprensa só começou a ser debatida no Brasil com o início da Revolução Francesa que exerceu certa pressão à imprensa de Portugal e que acabou refletindo na colônia em 1821 quando D.João VI aboliu a censura. Porém, isso só aconteceu no papel, pois na prática ela continuava ocorrendo.

A primeira Lei de Imprensa surgiu em um decreto no ano de 1823, que se apresentava contrário à censura e declarava livres a expressão, publicação, venda e compra de livros e escritos, salvo algumas exceções. Em 1824, a Constituição Imperial manteve livre a comunicação do pensamento por palavras escritas e veiculadas por meio da imprensa através de seu artigo 179, parágrafo 5º. Com o surgimento da República, uma nova constituição entrou em vigor, mas manteve a livre manifestação do pensamento pela imprensa ou tribuna, sem dependência de censura respondendo cada um pelos abusos cometidos.

Foi com a ditadura que surgiu de forma implacável a censura à imprensa brasileira. O regime levou a proibição da abertura de novos jornais no país e ao fechamento de muitos já existentes. Foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda com o objetivo de controlar a imprensa e o rádio, distribuindo listas de assuntos proibidos de serem abordados pelos meios de comunicação. Cada Estado recebeu um departamento específico de regulação da imprensa com o objetivo de efetuar o mesmo trabalho, forçando a mídia a servir à ditadura. A censura perdurou até o ano de 1945, quando foi registrada pela Constituição Federal, no ano seguinte, em seu artigo 141, § 5º:

É livre a manifestação do pensamento, sem dependência de censura, salvo quanto a espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um, nos casos e na forma que a lei preceituar, pelos abusos que cometer. E assegurado o direito de resposta. A publicação de livros e periódicos não dependerá de licença do Poder Público. Não será, porém, tolerada propaganda de guerra, de processos violentos para subverter a ordem política e social, ou de preconceitos de raça ou de classe (Senado Federal, p.286).

Em 1967 foi publicada a Lei de Imprensa conhecida até hoje, a qual também consagrava, em seu artigo 150, a liberdade de imprensa. No entanto, em seu artigo 166, § 2 a Constituição prescreveu que,

sem prejuízo da liberdade de pensamento e de informação, a lei poderá estabelecer outras condições para a organização e o funcionamento das empresas jornalísticas ou de televisão e de radiodifusão, no interesse do regime democrático e do combate à subversão e à corrupção. (Senado Federal, Op. Cit., p398).

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Em vigor até 2009, quando passou por reformulação, a Lei de Imprensa disciplinou a censura prévia para espetáculos e diversões públicas, a criminalização da propaganda de guerra, de subversão da ordem política e social ou dos preconceitos de raça ou classe, dentre outras. Mesmo assim, ela foi julgada incapaz de evitar abusos por parte da imprensa livre, sendo considerada severa contra o jornalismo e ineficiente para proteger a honra e intimidade da população.

Imprensa e democracia sempre estiveram acompanhadas uma da outra. Havendo liberdade de imprensa, há espaço para o exercício e consolidação da democracia. Essa união traz benefícios para o povo que pode contar com uma representação que garanta o direito à informação. Há um velho ditado que diz que a imprensa é o termômetro da Democracia, Marx (2000) acreditava nisso e escreveu que:

A imprensa livre é o olhar onipotente do povo, a confiança personalizada do povo nele mesmo, o vínculo articulado que une o indivíduo ao Estado e ao mundo, a cultura incorporada que transforma lutas materiais em lutas intelectuais, e idealiza suas formas brutas. É a franca confissão do povo a si mesmo, e sabemos que o poder da confissão é o de redimir. A imprensa livre é o espelho intelectual no qual o povo se vê, e a visão de si mesmo é a primeira condição da sabedoria (Marx, 2000, p.49).

No entanto, as discussões sobre uma mídia livre da ditadura assumiram outro papel quando levados em consideração o controle dos proprietários dos meios de comunicação. Teóricos como Lima (2012) ressaltam que hoje a sociedade brasileira enfrenta problemas de interdição quanto ao debate público das questões relativas à democratização da mídia.

Essa censura disfarçada é praticada exatamente por parte daqueles atores e interesses que, como no tempo de Thomas Paine, ‘fazem uma permanente cobrança da liberdade de imprensa, como se pelo fato de serem impressores eles devessem ter mais privilégios do que outras pessoas’ (Lima, 2012, p.43).

O autor salienta ainda que os grupos de mídia têm conseguido interditar o debate público amplo e integral. “Na verdade, restringem a liberdade de expressão de pessoas e grupos, impedidos de trazer ao debate público sua opinião e a diversidade de sua cultura”, (Lima, 2012, p.43). Nesse sentido, podemos entender que há uma inversão de valores no que tange ao sentido original de liberdade de imprensa, ressaltando aos olhos a necessidade da reflexão do exercício de uma liberdade participativa com a presença de toda sociedade.

Atualmente os debates sobre a pluralidade na mídia por meio do Marco Regulatório dos Meios de Comunicação estão bem presentes. A defesa de que a mídia vive uma censura diferente, sendo moldados aos interesses econômicos e políticos dos donos dos veículos de

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comunicação, cada vez mais presente no cotidiano do debate de ideias e transmissão de informação. Nesse contexto, a ética e o papel dos meios de comunicação e dos jornalistas fica cada vez mais evidenciado, deixando clara a importância do dever da imprensa para com a liberdade e transparência, buscando melhor atender sua função básica e fundamental que é a de informar a sociedade, agindo como mediadora de seu direito básico, o direito à informação.

2.2 O PAPEL DO JORNALISTA E O DEVER DO JORNALISMO COM A LIBERDADE

Para o exercício de um jornalismo de qualidade é importante a consciência da ética, da transparência e imparcialidade, seja do veículo de comunicação ou do jornalista responsável pela notícia. Os meios de comunicação, segundo Bahia (1990), “devem ser julgados responsáveis por violações da lei, sem quaisquer privilégios, nem mesmo o de uma corte especial para examinar os crimes que lhes são imputados”. Para o autor, da mesma foram que os meios de comunicação estão sujeitos a tais julgamentos, lhes devem ser assegurados os direitos de livre publicação, sem restrições ou ameaças.

A responsabilidade moral do jornalismo se ampara no uso pleno da sua liberdade de informar no respeito completo aos direitos do cidadão num Estado pluralista, cuja essência está na dupla natureza de falar e de ser ouvido. A liberdade de expressão se define moralmente pelo princípio comum de que é tão útil a quem a veicula como a quem a consome, um e outro detentores dos mesmos privilégios de emitir e receber (Bahia, 1990, p.220).

Cabe ressaltar ainda que em suas reflexões, o autor enfatiza que nenhum meio de comunicação é livre “para publicar falsidades, para injuriar, caluniar ou difamar pessoas, grupos, instituições, seja intencionalmente, seja por negligência ou mesmo involuntariamente” (Bahia, 1990, p.221). Ao mesmo tempo, ele enaltece o dever dos meios de comunicação e dos jornalistas na prática de sua profissão de não fechar os olhos para a má administração dos negócios privados ou públicos que de alguma forma afetem a população, bem como da importância do diálogo e expressão honesta da “crítica objetiva sobre a qualidade das funções individuais ou coletivas quer em cargos públicos, quer em atividades privadas” (Bahia, 1990, p.221).

Entende-se que a liberdade de imprensa, criada para defesa do exercício do jornalismo, oferece apoio à profissão para que os jornalistas por intermédio dos meios de comunicação cumpram com seu papel. Porém, como bem frisa Bahia (1990), ao usá-la para

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justificar sua profissão, os jornalistas e a mídia enquanto instituição, devem fazer por merecê-la. Cabe então aos veículos de comunicação assumir a responsabilidade por justificar o uso das leis que os protegem. Bahia destaca que o papel dos veículos de comunicação é fundamental e que essa responsabilidade precisa lhes caber.

Com o duplo papel que desempenha na sociedade moderna – como veículo de notícias e de opinião – o jornalismo, de modo geral, não pode prescindir das responsabilidades éticas, dos deveres morais básicos que estão implícitos na natureza da comunicação social e que se exprimem pelas suas funções informativa e formativa (Bahia, 1990, p.222).

O fato de ser desde seu surgimento a maior formadora de opiniões do país, a mídia assume um papel de compromisso com a liberdade e a verdade, fazendo-se primordial para o exercício pleno da cidadania e democracia. Os meios de comunicação, para cumprir de forma efetiva seu papel de levar à informação para população, devem estar atentos a todos os assuntos que dizem respeito à vida em sociedade e que, de alguma forma, afetam – de forma positiva ou negativa – a população. Tendo em vista que a garantia dos direitos fundamentais é dada pelo Estado, cabe aos meios de comunicação, como representantes dessa sociedade, fiscalizar se a mídia de fato tem cumprido com seu papel. Porém, não somente o poder político, mas também o econômico e as novas formas de pressão que surgem na sociedade com o objetivo de transmitir da melhor forma possível essas informações a fim de que a população entenda como elas afetam sua vida cotidiana precisam participar de forma efetiva dessa fiscalização.

Cabe à imprensa voltar sua atenção fiscalizadora não apenas aos governos e aos partidos políticos, mas também a essas novas formas de poder que se armam no âmbito do mercado, formalmente fora do Estado – às vezes apenas formalmente já que materialmente elas se infiltram, por fora das vias oficias, dentro das instâncias decisórias do Estado. Não raro, elas conspiram, veladamente, contra liberdades, direitos individuais e contra a formação livre da vontade dos indivíduos e grupos. É crucial vigiá-las (Bucci, 2009, p.116).

Bucci (2009) enfatiza ainda que o regime de liberdade precisa ser fortalecido para que o dever do jornalismo com a verdade seja mantido de forma efetiva. Ele destaca que “a busca pela verdade factual começa com a busca da verdade essencial do jornalismo, cujo nome é liberdade” (Bucci, 2009, p.121). O autor ressalta ainda que nem o jornalista nem a sociedade devem admitir a hipótese de que o exercício do jornalismo não seja livre.

A liberdade não é apenas letra. Ela só existe se for exercida de fato, por meio da visão crítica, do rigor, da objetividade, da obstinação por tornar públicas as

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informações que o poder preferiria ocultar. A liberdade floresce mais no conflito que no congraçamento, tanto que alguns a confundem com a mera falta de educação – o que também é uma forma de rebaixá-la. De um modo ou de outro, por um caminho ou por outro, ela precisa ser explícita, ostensiva mesmo, pois disso depende a confiabilidade, a credibilidade e a autoridade da imprensa. Se não reluzir na liberdade quente, a imprensa morre (Bucci, 2009, p.123).

Entende-se que a liberdade é a primeira das responsabilidades do jornalismo, conforme bem enfatiza o autor. Entretanto, como manter esse compromisso, sem deixar de cumprir com os outros? De que forma efetivar-se na verdade de forma responsável garantido uma informação de qualidade e confiança para população? Os jornalistas, como profissionais comprometidos com sua função, são regidos por um Código de Ética, criado para condicionar um trabalho justo e baseado na verdade, sem cometer injúrias ou excessos.

Dentre as atribuições previstas para conduta profissional do jornalista destaca-se, em seu artigo 7º que “o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação” (André, 2000, p.18). Dentre outras condutas destacam-se o direito de resguardar a fonte quando achar necessário e considera-se dever absoluto divulgar todos os fatos de interesse público, lutar pela liberdade e defender o livre exercício da profissão. Em seu artigo 10, o Código de Ética prevê cinco pressupostos que o jornalista não pode cometer, como “submeter-se a diretrizes contrárias à divulgação correta da informação e frustrar a manifestação de opiniões divergentes ou impedir o livre debate” (André, 2000, p.19).

Ainda enquanto responsabilidades profissionais do jornalista, o Código de Ética prevê, em seu artigo 13, que o jornalista deve evitar divulgação de fatos com interesse de favorecimento pessoal ou vantagens econômicas, bem como notícias contrárias aos valores humanos. Dentre as premissas de dever, o Código prevê que o profissional de jornalismo ouça sempre antes da divulgação dos fatos todas as pessoas envolvidas, trate com respeito às pessoas mencionadas nas informações, permita o direito de resposta, batalhe pelo exercício da soberania nacional em seus aspectos político, econômico e social, bem como pela prevalência da vontade da maioria da sociedade, além de preservar a língua e a cultura nacional de seus entrevistados. O descumprimento do Código de Ética por parte dos profissionais de jornalismo prevê penalidades como advertência, suspenção e exclusão do quadro social aos que pertencem ao Sindicato dos Jornalistas e observação, advertência pública e impedimento temporário e definitivo de ingresso no quadro social aos que não pertencem.

O jornalista é um mediador e exerce um papel decisivo na opinião pública à medida que seu trabalho ganha visibilidade. O trabalho do jornalista, por intermédio de suas matérias,

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