• Nenhum resultado encontrado

8 CASOS DE ESTUDO

8.2 Canal de Ovar Carregal

8.2.1 Zona da Torreira

Na Torreira, a análise da configuração do canal conjuntamente com os dados recolhidos, apontam para que exista um conjunto de processos físicos, químicos e biológicos associados à confluência de uma contribuição maioritária dos sedimentos marítimos e uma contribuição esporádica dos sedimentos fluviais aquando da existência de cheias e temporais. As concentrações de sedimentos em suspensão apontam nesse sentido (Abrantes et al., 2006 e Lopes et al., 2006). Estes últimos autores, numa simulação de rede de deposição para a Ria obtiveram, nesta zona (Torreira), valores na ordem de 1-5 kgm-2, correspondendo a uma taxa de acumulação de 2-10 mmano-1, resultando numa densidade de deposição de 500 kgm-3.

Acredita-se que o rápido assoreamento verificado após a 1ª fase de desassoreamento deveu-se ao facto das margens para onde foram colocados os lodos e algumas areias não terem um sistema eficaz de retenção dos materiais dragados.

Pensa-se que esta zona da Ria estará, a sofrer dos seguintes processos de sedimentação:

- Arrastamento das partículas dos campos de cultivo como realça o Estudo de Impacto Ambiental do Projecto de Desenvolvimento Agrícola do Vouga – Bloco do Baixo Vouga Lagunar.

- Destruição de zonas argilosas e da sua vegetação devido ao aumento do nível da maré bem como ao aumento das velocidades de corrente. Outrora estas zonas não contactavam com a água salgada e agora são zonas inter-mareais. Estes terrenos, argilosos e lodosos, possuem a capacidade tixotrópica de se ressuspenderem com a agitação da água, ocorrendo a sua dispersão na corrente aquosa. Fenómenos reológicos poderão estar associados aos sedimentos finos, ocorrendo ressuspensão e floculação com deposição destes.

- A interacção iónica entre sedimentos e materiais em suspensão, particularmente os metálicos, poderá ocorrer. A Ria como sistema de recepção de águas residuais urbanas e industriais (particularmente com o complexo industrial de Estarreja) que perdurou durante décadas atingiu um grau de contaminação com metais que favorecem essa sedimentação.

- A existência de uma grande área de baixios e a proximidade do Largo do Laranjo, local onde existe um conjunto largo de estudos, pode traduzir-se numa semelhança da dinâmica sedimentar. A Professora Doutora Eduarda Perreira (do Departamento de Química da Universidade de Aveiro) em entrevista diz ter realizado estudos ao longo de 20 anos nesta zona que apontam para uma taxa de sedimentação de 2 cm/ano. No largo do Laranjo, os metais pesados estudados nos anos 80 encontravam-se à superfície do leito. Análises recentes revelam estarem a cerca de 40 a 50 cm de profundidade o que traduz uma taxa de sedimentação relativamente alta. Mesmo que se considere alguma percolação dos metais pesados e esta taxa baixe para metade, resulta ainda assim uma taxa de sedimentação alta.

- A contribuição das águas residuais urbanas e industriais lançadas à Ria a partir do momento do declínio da limpeza das margens e da apanha do moliço poderá ter contribuído para a fixação de grande parte da carga sólida lançada na laguna.

- A destruição das motas das marinhas da zona central da Ria combinada com o emaranhado de canais característicos dessas zonas propicia a retenção de elevada quantidade de sedimentos suspensos na água. Estes sedimentos que poderão mais tarde e em situações de enchente de marés vivas ou de condições climatéricas favoráveis a ressuspensão, serem canalizados para a zona da Torreira (Figura 8.8a).

- A decomposição da vegetação da zonas inter-mareais que se vai sobrepondo uma sobre a outra e que outrora era limpa e fertilizava os campos de cultivo é agora apodrecida naturalmente e arrastada para as margens.

- Fenómenos de indução do vento e ressuspensão dos sedimentos do leito poderão estar presentes nesta grande área de baixios. Alta turbidez é registada nesta zona da Ria (Lopes et al., 2006).

- A erosão da bacia hidrográfica poderá ter uma contribuição importante, particularmente no Inverno, período no qual ocorrem tempestades e escorrências elevadas originadas quer pelo carácter das partículas sedimentares de origem fluvial do Baixo Vouga quer pela imensa área envolvente de Este onde ainda se pratica alguma agricultura.

Figura 8.9 – Vista aérea do largo da Torreira, hipótese de fluxo de sedimentos (Google Earth, 2007).

- A análise da configuração do canal na zona da Torreira através da imagem aérea da Figura 8.9, Figura 8.10 e Figura 8.11, permite identificar o estado de assoreamento e ainda perceber o fluxo de água nesta zona. A imagem revela uma maior influência da maré de enchente, provocando um jacto de água dos canais anteriores para o extradorso do canal. Desta forma é notório a existência de um canal mais profundo e

Ponte da Varela Portos de Recreio Estrangulamento nos fluxos de enchentes Fluxo sedimentar das partículas Largo da Torreira

preferencial nessa zona, provocado pela grande pressão de água oriunda da enchente. O estrangulamento do canal na zona da Ponte da Varela, pode provocar vórtices de correntes em sentido contrário induzindo grande parte da matéria suspensa em zonas de menor velocidade e de menor influência da enchente, isto é, na zona próxima à margem da Torreira.

Figura 8.10 – Vista aérea da Torreira, portos de recreio assoreados (Google Earth, 2008).

Por outro lado, nas vazantes, a quantidade de água na bacia a Norte da Varela parece não atingir as condições suficientes para que se criem velocidades de forma a haver auto-limpeza na parte central do canal (largo da Torreira) e junto da margem Poente. Para além disso, e ainda atendendo ao fluxo de água nas vazantes, a configuração do canal, a disposição da ponte da Varela e o alargamento do canal na Varela promove por um lado a diminuição de velocidades e, por outro uma deposição dispersa das partículas finas em suspensão da parte Norte do canal. Este processo surge em toda a área que não sofre influência das enchentes (margem da Torreira e parte central do largo da Torreira), Figura 8.9.

Portos de recreio

Figura 8.11 – Vista aérea do largo da Torreira, zona assoreada (Google Earth, 2008).

Na zona da Torreira é extremamente difícil estimar a contribuição relativa das causas de assoreamento por ser uma zona onde as condições climatéricas poderão contrariar uma tendência de sedimentação devido às ressuspensões nos baixios provocadas pela indução do vento conjugadas com as correntes. Na Figura 8.12 hierarquiza-se as causas de assoreamento para a zona da Torreira, referindo-se a generalidade dos factores identificados no capítulo 8.

Administraç ão do Porto de Aveiro (APA) Alteraç ão das Característic as Hidrodinâmic as da Ria

Carac terístic as dos c anais Poluiç ão

Alteraç ões Climátic as

Erosão hídric a superfic ial da bac ia Marinhas de sal

Moliço

Alteraç ão no Transporte Sedimentar Marítimo Erosão hidrográfic a das linhas de água

Figura 8.12 – Hierarquização das causas de assoreamento no canal de Ovar – largo da Torreira. Ponte da Varela - Mancha de assoreamento - Zona de alargamento nas vazantes, de dispersão e sedimentação das partículas.

Escoamento das partículas no extradorso do canal,