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Zona de desenvolvimento proximal

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CAPÍTULO II CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

2.4 Zona de desenvolvimento proximal

Considerando que se a aprendizagem e desenvolvimento estão relacionados desde o primeiro dia de vida da criança, como afirma Vygotsky (1991), e, se de acordo com Zanella (2001), o aprender, na perspectiva histórico-cultural consiste na apropriação da cultura, os sujeitos apreendem os significados da cultura na zona de desenvolvimento proximal, nas interações que estabelecem.

Vygotsky (1991, p. 97) considera que o desenvolvimento humano tem dois níveis: o primeiro nível pode ser chamado de nível de desenvolvimento real, que diz respeito aos ciclos de desenvolvimento já completados, ou seja, às funções psicológicas que a criança já construiu; o segundo nível denomina-se nível de desenvolvimento potencial, ou seja, aquele que corresponde às funções que estão em processo de maturação.

A distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial, o psicólogo russo denominou de Zona de Desenvolvimento Proximal - ZDP, que a caracteriza assim: A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário.

O nível de desenvolvimento real caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento mental prospectivamente.

Para Vygotsky (1991) formular esse conceito de ZDP, realizou experimentos com crianças com a mesma idade mental, verificando assim diferenças no modo de resolver os problemas, com ajuda e/ou orientação, percebendo, então, que as crianças diferiam bastante quanto às possibilidades de aprendizagem e de desenvolvimento, ou seja, que existiam diferentes níveis de desenvolvimento.

Ao analisar a zona de desenvolvimento proximal, Zanella (2001) entendeu que ela se constitui num campo interpsicológico, onde significações sociais são produzidas e particularmente apropriadas, a partir das relações sociais em que os sujeitos estão envolvidos, como o embate, a troca de ideias, o compartilhar e o confrontar ideias, e, que favorecem o avanço ou o retrocesso no desenvolvimento. Na tentativa de conceituar a zona de desenvolvimento proximal, a autora a caracteriza assim: [...] “um espaço social de trocas múltiplas e de diferentes naturezas: afetivas, cognitivas, sociais, etc. onde os sujeitos ampliam suas possibilidades de atuação no contexto social”.

Por isso, e de acordo com Pimentel (2007), a zona de desenvolvimento proximal transformou-se num conceito fundamental para o professor planejar sua ação pedagógica, uma vez que a aprendizagem formal interfere nas funções psicológicas em processo de amadurecimento, atuando nas zonas em desenvolvimento, mediante o auxílio de pessoas mais experientes, que colaboram no processo de constituição das formas superiores de pensamento.

Desta forma, não é possível dar à zona de desenvolvimento proximal uma interpretação linear e mecânica, como se o processo educativo fosse capaz de causar um efeito automático no indivíduo, fazendo com que ele aprendesse imediatamente.

Em consequência disso, importa considerar três fatores atuantes na aprendizagem: a singularidade das pessoas que possuem interesse e conhecimentos diferentes; a efetividade da interação, o que significa que o professor deve replanejar, rever o caminho traçado, diversificando os modos de ajuda às crianças e, finalmente, a existência de múltiplas zonas de desenvolvimento proximal, tal como observa Pimentel (2007, p. 225).

Pode-se falar em múltiplas zonas de desenvolvimento em relação a um mesmo indivíduo. As pessoas não têm um único nível geral de desenvolvimento potencial, mas diferentes níveis (e diferentes ZDPs), dependendo do âmbito de ação e saberes envolvidos. Uma criança pode mostrar-se, em determinado momento de seu desenvolvimento, altamente comunicativa e não apresentar a mesma facilidade na montagem de um jogo de construção.

A ZDP é um espaço dinâmico de desenvolvimento, não é uma propriedade inerente do indivíduo ou de sua atuação específica, nem preexiste à interação com outras pessoas. O potencial de desenvolvimento depende tanto de conhecimentos e competências próprios quanto da maneira como são estabelecidas as interações com o meio social e do nível de complexidade das atividades com as quais a pessoa envolve- se.

Dessa forma, uma instituição de educação infantil que trabalha com crianças pequenas deve organizar os tempos e os espaços para que elas possam interagir com outras crianças de todas as idades e com objetos diversos, representativos da cultura. Esta é uma fase de grande aprendizagem e de desenvolvimento das crianças, desde que tenham oportunidades de interagir com a cultura, com a natureza, com outras crianças e com os adultos.

Lima (2001, p. 12), com base em pesquisas recentes, descreve as conquistas da criança nos primeiros anos de vida, assim:

Muitas coisas acontecem nos primeiros anos de vida. Sabemos hoje que este é um período decisivo para a formação humana, pois parte importante da realização da herança da espécie vai acontecer neste período. Sabemos, também, que o desenvolvimento deste período dá base para determinados comportamentos e aquisições futuras. Através da construção da identidade, da noção do eu, a criança vai se tornando simultaneamente um sujeito da cultura e uma personalidade única. Nos primeiros anos ela vai desenvolver as formas de relação social no grupo, estabelecer laços afetivos e as formas de expressar suas emoções.

Nesse sentido, compreender a importância da zona de desenvolvimento proximal no contexto da educação infantil significa entender o que a instituição deve possibilitar às crianças em termos de experiências de atuação delas nos diferentes processos em desenvolvimento, e de instigá-las a buscarem soluções e respostas frente aos desafios que lhes são postos.

Neste contexto, Vygotsky (1998) destaca que o brinquedo tem um papel de extrema importância, uma vez que constitui zonas de desenvolvimento proximal, ao instigar a criança a controlar seu comportamento, experimentar novas habilidades e criar modos de operar mentalmente e de agir no mundo.

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