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4 PLANOS DIRETORES PARTICIPATIVOS EM MUNICÍPIOS CEARENSES:

4.2 Zoneamento do Solo Urbano

4.2.1 Zoneamento no Plano Diretor Participativo de São Benedito

É estabelecido pela lei um Macrozoneamento(art. 20) para o município, cujo objetivo é unicamente “fixar as regras fundamentais de ordenamento do território, tendo como referência as características dos ambientes natural e construído”. Regulamentando tanto a Zona Urbana quanto a Zona Rural, o Macrozoneamento constitui-se de três macrozonas: a Macrozona Urbana, a Macrozona Rural, e a Macrozona de Proteção Ambiental.

A Macrozona Urbana, dividida em Zona Urbana Consolidada e Zona Urbana de Expansão, caracteriza-se como área urbana consolidada pelos investimentos públicos e privados realizados em diversas edificações, equipamentos comunitários, sistema viário, infra-estrutura de saneamento básico, distribuição de energia elétrica e iluminação pública. Seu objetivo é regular o crescimento da cidade, o uso e ocupação do solo para fins urbanos segundo as normas para o Zoneamento Urbano e Zona de Expansão Urbana definidas no Plano.

A Zona Urbana Consolidada é composta pelas áreas urbanizadas ou em processo de urbanização, servidas de infra-estrutura e equipamentos comunitários, com média e baixa densidade populacional. Ela tem por objetivo desenvolver as potencialidades dos núcleos urbanos, incrementando a dinâmica interna e melhorando sua integração com áreas vizinhas.

Já a Zona Urbana de Expansão é formada por áreas propensas à ocupação urbana e que possuem relação direta com áreas já implantadas, sendo também integrada por assentamentos informais que necessitam de qualificação. Essa Zona objetiva definir as áreas para o crescimento urbano futuro da sede municipal. Interessante notar que, o parágrafo 3°. do art. 27, que trata das diretrizes e objetivos desta Zona, traz textualmente que “Os parâmetros de uso e ocupação do solo na zona de expansão urbana são os mesmos da macrozona urbana definidos neste Plano Diretor”, não existindo, no entanto, tais parâmetros mencionados.

Relativamente à Macrozona Rural, o plano define como objetivo dessa a promoção do desenvolvimento rural com base nas características sócio ambientais da realidade local. Vale ressaltar que, no tocante ao parcelamento do solo, foi proibida nesta Macrozona a implantação de loteamentos para fins urbanos e condomínios residenciais e foi definido que o lote mínimo resultante de qualquer parcelamento deve ser de 02 hectares.

Ressalte-se que este é o único momento no plano que se quantifica um parâmetro, pois todos os demais parâmetros e índices são remetidos (art. 34) à Lei de Uso e Ocupação do Solo e à Lei de Parcelamento do Solo, que, segundo ele, deverão ser revisadas. Dessa maneira, embora o plano traga definições acerca de quais as áreas em que se estimula o adensamento e em que outras isso não é permitido, ele deixa de definir os parâmetros concretos que regulariam esse adensamento.

A Macrozona de Proteção Ambiental compreende áreas do território que exigem tratamento diferenciado na definição de parâmetros de uso e ocupação do solo. É composta por serras, serrotes, mananciais e vegetação nativa, restringindo-se nestas áreas qualquer tipo de intervenção ou uso à consulta aos órgãos responsáveis pela proteção ambiental do Município, estabelecendo também a lei que nela “ficam permitidos os usos sustentáveis”. A

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lei trata também da criação de Unidades de Conservação. No parágrafo único do art. 18, determina a criação de Áreas de Proteção Ambiental do Município nas seguintes localidades: nas matas do Sítio Laranjeiras e nos remanescentes florestais de mata nativa em especial na área do topo de Serra situada a Leste do Município. A finalidade, segundo a lei, é a preservação de amostras representativas de ecossistemas locais, manutenção dos recursos genéticos e processos ecológicos, necessários ao equilíbrio do território.

Há, ainda na Lei, a Zona de Preservação Permanente, que, embora não conste na seção do Macrozoneamento, é mencionada no inciso XII, do art. 18 da seção referente às diretrizes para o Meio-Ambiente. Neste inciso, único que trata desta Zona, limita-se o Plano a proibir qualquer urbanização nesta Zona (delimitada no mapa do macrozoneamento), não havendo qualquer definição para ela.

Referindo-se, também, aos usos e sua repercussão nos ecossistemas locais, como recomendou Sousa (2002, p. 272), o Plano delimita, somente em mapa, uma área específica para utilização pelas indústrias, a Zona Industrial.

Ao comparar o texto legal com os mapas, constatam-se incoerências, posto que nestes é possível encontrar outras zonas referentes ao meio-ambiente que não são sequer mencionadas naquele texto, como a Zona Especial de Interesse Ambiental(delimitada de duas formas diferentes no mesmo mapa – Mapa do Zoneamento Urbano da Sede) e a Zona de Uso Sustentável(Mapa do Macrozoneamento do Município). Além dessas, existem diversas outras incoerências entre o disposto textualmente na lei e a demarcação nos mapas. Isso acontece com o próprio mapa do Macrozoneamento, que não guarda correspondência com o Macrozoneamento definido pela Lei. Há nesse mapa macrozonas não estabelecidas e nem regulamentadas anteriormente nos artigos do Plano.

Não existe previsão textual alguma relativa à ZEIS no Plano, havendo unicamente a menção, quando da regulação da Zona Urbana de Expansão, a “Áreas de Interesse Social”, as quais, no entanto, não são especificadas em parte alguma da Lei. Apesar de não haver expressamente essa previsão, existem, mais uma vez incoerentemente, algumas Zonas Especiais de Interesse Social delimitadas através de manchas no Mapa do Zoneamento Urbano da Sede, as quais não contam com qualquer regulamentação.

Verifica-se, portanto, que o plano quase não trabalha a perspectiva inovadora e includente do zoneamento. Uma das causas disso que se pode apontar é a ausência de um diagnóstico eficiente sobre a realidade municipal. O processo de planejamento do município baseou-se, unicamente, na Caracterização do Município realizada para elaboração do PDDU de 1997 e no Censo que o próprio Município realizou em 2005. Ambos documentos não estão

aptos a fornecer uma leitura atual e completa do contexto vivenciado pela cidade, seja porque o primeiro foi realizado há mais de 10 anos, seja porque os objetivos e metodologia para a elaboração de um Censo são diferentes daqueles que deve possuir um diagnóstico para elaboração de um plano diretor participativo.