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Capítulo 3. Educação Ambiental e Conservação

3.3. Zoos e educação ambiental

Segundo os dados mais recentes que encontrei, em 2011, setecentos milhões de pessoas em todo o mundo visitaram zoos e/ou aquários e estes números têm tendência a aumentar, o que leva a que os zoos sejam uma plataforma com um potencial muito grande e interessante para a educação ambiental e consequentemente com impacto positivo na conservação. Para além dos números, há uma evolução qualitativa na postura dos visitantes dos zoos que procuram informação/educação sobre este tema, o que tem um efeito positivo na preocupação com a conservação e potencial impacto em comportamentos futuros (Clayton et al., 2017; Gusset e Dick, 2011; Moss, Jensen e Gusset, 2017; Ogden e Heimlich, 2009; Patrick et al., 2007; WAZA, 2005).

O que torna os zoos tão apelativos e, por isso, relevantes é a possibilidade de estes proporcionarem uma experiência única ao criarem a oportunidade de observar, cheirar e ouvir animais tão

população, uma experiência significativa que pode ser responsável por uma ligação emocional com a Natureza (Ogden e Heimlich, 2009; Pinho et al., 2014; Rabb e Saunders, 2005; WAZA, 2005). Dada a importância que o contacto com os animais tem para a educação do público, a apresentação de animais saudáveis transcende o bem-estar dos mesmos, sendo assim a atividade veterinária uma ferramenta essencial para a educação (Deem, 2007).

A esta grande vantagem, e além da informação básica sobre as espécies existentes na própria coleção, a maioria destas instituições oferece oportunidades educativas de variadas temáticas recorrendo a diferentes formatos (exposições interativas, apresentações, vídeos, etc.) que têm como objetivo sensibilizar o público para questões relacionadas com a biodiversidade e conservação, relacionando os animais com o seu meio físico e outros seres vivos, plantas e animais, onde está incluído o Homem e as consequências das suas ações sobre os anteriores (Patrick et al., 2007; Rabb e Saunders, 2005). Mais do que fornecer informação, os zoos devem inspirar os visitantes a interessarem-se por estas questões após a visita (WAZA, 2005).

Nos zoos modernos, ou requalificação de antigos, a educação ambiental é incluída em todos os aspetos do seu funcionamento, devendo ser tido em consideração durante o planeamento da coleção, o design das exposições e, obviamente, o serviço a visitantes e o desenvolvimento de um programa de conservação (WAZA, 2005; Young, 2003). Quanto ao planeamento da coleção e ao design das exposições, a tendência tem vindo a ser recriar os habitats reais das espécies, clima, sons, plantas e exposições interespecíficas (Ogden, Lindburg e Maple, 1993; WAZA, 2005). Os princípios da conservação deverão estar presentes também em todo o funcionamento quotidiano destas organizações servindo como exemplo para o público, assim, deverão ser seguidas políticas como a reciclagem, conservação de energia e água, uso de energias renováveis, etc. (Rabb e Saunders, 2005; WAZA, 2005). No que diz respeito aos programas de educação ambiental, podem ser identificadas duas abordagens que se complementam: a educação formal e a informal (Rabb e Saunders, 2005; WAZA, 2005).

O formato formal de educação ambiental em zoos tem por base aulas, workshops, ou outras atividades estruturadas direcionadas a grupos, que devem ser adaptadas ao nível de conhecimento e

etário de cada um deles, uma vez que o público pode variar de alunos de jardins-de-infância até habitantes de lares de terceira idade (Patrick et al., 2007; WAZA, 2005). Esta apresentação de educação ambiental está intimamente ligada ao subtema desenvolvido anteriormente, educação ambiental nas escolas, sendo pertinente a criação de parcerias entre estas instituições. Quando pensamos na relação entre as duas, a primeira ideia que surge é a dos grupos escolares a visitarem zoos, no entanto, tanto a WAZA (2005) como Patrick et al. (2007), defendem que esta interação deve ser realizada de forma recíproca, ou seja, que as equipas de educação dos zoos deverão também deslocar-se às escolas, podendo participar na preparação da visita às instalações.

Por outro lado, a educação informal é aquela que está disponível para todos os visitantes de um zoo, dando a oportunidade a pessoas de todas as faixas etárias e com todos os níveis de educação de contactar com esta, tendo um carácter opcional (Rabb e Saunders, 2005; WAZA, 2005). Simples placas ou cartazes informativos, exposições permanentes ou temporárias e apresentações educativas ao vivo são, talvez, os formatos mais comuns, mas há uma crescente variedade nas suas apresentações recorrendo-se cada vez mais à tecnologia (Yocco et al., 2011).

Hoje em dia, não é difícil encontrar um zoo que proporcione ao público experiências próximas com algumas espécies, como acompanhar um tratador durante a alimentação dos animais ou mesmo durante um dia inteiro. Estas atividades apenas costumam estar disponíveis para visitantes a partir de uma certa idade, mas, para os mais novos, podem ser criadas simulações em que estes têm de encarar o papel de tratadores, veterinários ou outras profissões, aprendendo enquanto brincam. A utilização de gravadores de vídeo e exposição das imagens captadas é também uma forma de aproximar emocionalmente as pessoas das espécies uma vez que lhes permite observar momentos, como partos, que, de outra forma, estariam fora do seu alcance. O aumento do uso da tecnologia pela sociedade atual criou novas oportunidades para a educação ambiental em zoos, sendo cada vez mais comum observar dispositivos interativos, aplicações móveis e outros conteúdos pedagógicos que podem ser desbloqueados e acedidos pelos telemóveis pessoais dos visitantes (Moss, Jensen e Gusset, 2017; Olney, Mace e Feistner, 1994; Quick, 1984; WAZA, 2005; Young, 2003).

Além do papel dos jardins zoológicos na educação ambiental da população em geral, estes também podem ser vitais para a instrução e treino, tanto dos trabalhadores de zoos, como de outros profissionais e estudantes de várias áreas, como medicina veterinária, comportamento animal, nutrição animal, educação etc., que deverão trabalhar em conjunto (Deem, Karesh e Weisman, 2001; Rabb e Saunders, 2005; WAZA, 2005). Para o melhor aproveitamento desta vertente, a criação de parcerias com escolas, universidades e outras instituições torna-se essencial, sendo significativamente vantajoso para ambas as partes pois promove a troca de informação e treino nos dois sentidos (WAZA, 2005). Por exemplo, no subcapítulo anterior é referida a falta de formação dos professores em educação ambiental, tal pode ser colmatado através de uma colaboração formal entre estes e os zoos ou centros de recuperação, em que os segundos tenham programas de formação específicos para os primeiros. Assim como a educação ambiental em geral, o desenvolvimento deste tipo de colaborações ainda não atingiu todo o seu potencial, sendo uma área de elevado interesse do ponto de vista da conservação.

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