• Nenhum resultado encontrado

COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA INTESTINAL E SUA IMPORTÂNCIA

No documento DIÁLOGOS CIENTÍFICOS EM NUTRIÇÃO: (páginas 104-107)

Fluxograma 1 Etapas do estudo

1.2 COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA INTESTINAL E SUA IMPORTÂNCIA

O organismo humano é colonizado por uma grande quantidade de microrganismos, sendo que a sua maioria se localiza no trato gastrointestinal (TGI).

Alguns desses são benéficos e essenciais para o funcionamento adequado do organismo. Ao longo do trato digestório, encontram-se microrganismos

104

colonizadores, sendo o conjunto desses seres denominado como microbiota intestinal (PAIXÃO; CASTRO, 2016).

Encontram-se disseminados por toda região gastrointestinal uma ampla quantidade e variedade de espécies existentes. Porém, devido ao contato e ação bactericida do suco gástrico, da bile e o forte peristaltismo no estômago e no intestino delgado encontram-se em menores quantidades. No íleo, há uma área de transição e no colón contrariamente às outras regiões do TGI está concentrada a maior parte da microbiota, por apresentar condições favoráveis para o crescimento bacteriano devido à escassez de secreções intestinais enzimáticas pela abrangente fonte de nutrição e baixo peristaltismo (FONSECA; PINHEIRO, 2019).

Apesar do extenso número de espécies de bactérias distintas presentes no intestino, o TGI é dominado sobretudo por bactérias de 2 filos: Bacteroidetes e Firmicutes. O primeiro contempla bactérias Gram-negativas que inclui os gêneros Bacteroides e Prevotella. As bactérias Firmicutes predominantes no TGI são divididas em duas classes principais de bactérias Gram-positivas: Bacilli e Clostridia, incluindo géneros como Clostridium, Enterococcus, Lactobacillus e Ruminococcus. Estas bactérias representam mais de 90% da população microbiana nos humanos, sendo que Proteobacteria, Tenericutes, Verrucomicrobia, Actinobacteria, Fusobacteria e Cyanobacteria são os filos mais representados nas restantes bactérias (MAIA; FIORIO; SILVA, 2018).

Segundo Gomes (2017), a composição microbiana intestinal é única para cada indivíduo, o seu desenvolvimento e colonização é um mecanismo complexo que recebe influência de múltiplos fatores (internos e externos) relacionados ao hospedeiro, como o tipo de parto, aleitamento materno, idade, fatores ambientais, condições de vida, hábitos alimentares, uso de antibióticos, características genéticas e sistema imune.

Visto que ela tem papel fundamental na promoção da saúde, a composição e a função das bactérias que são parte da microbiota do TGI se tornou alvo de interesse nos últimos anos, essa relevância é devida a sua influência na fisiologia e metabolismo do hospedeiro (HOLSCHER, 2017). De acordo com Landman e Quévrain (2016) a microbiota intestinal está envolvida em funções cruciais para a homeostase do hospedeiro, entre elas a manutenção das funções do trato

105

gastrointestinal e do sistema imunológico, como também, atua na fermentação de carboidratos não digeríveis, síntese de vitaminas e outros micronutrientes essenciais, metaboliza toxinas e carcinógenos da alimentação, converte colesterol e ácidos biliares, atua no crescimento e diferenciação das células intestinais, além de atuar como barreira contra patógenos.

Um importante papel desempenhado pela microbiota é o seu efeito de barreira, promovido pelos sítios de ligação celulares da mucosa que causa aderência e estimulação do sistema imune. As bactérias que exercem essa proteção intestinal são conhecidas como bactérias autóctones, são elas que formam uma barreira mecânica com intuito de oferecer proteção, impedindo a adesão de microrganismos não benéficos e o estabelecimento das bactérias patogênicas (WAGNER et al., 2018).

Para conferir proteção, às mucosas apresentam um complexo sistema de defesa, que além da resistência aos agentes infecciosos proporcionam tolerância aos antígenos provenientes do processo de digestão. A resposta imune auxilia o controle dos microorganismos intestinais, impede a translocação dos mesmos (migração de microorganismos para a corrente sanguínea) e reduz a predisposição a infecções, ao mesmo tempo em que se auto-estimula para agir como barreira imunitária. As células epiteliais intestinais agem estimulando os linfócitos B na síntese de IgA e a circulação dos linfócitos T. A microbiota normal atua levando a imunoestimulação contra bactérias não benéficas e a imunoaceitação da própria microbiota (SHI et al., 2017; SANTOS, 2018).

A atividade de algumas bactérias diante de uma categoria de nutrientes, permite melhor desempenho intestinal. Isso acontece geralmente com substratos que não foram digeridos e chegam ao lúmen do cólon. Alguns polissacarídeos encontrados nas fibras da dieta são estruturalmente complexos, e pela inexistência no organismo das enzimas necessárias para metabolizar esses carboidratos, no intestino distal, sofrem um processo de fermentação e formam ácidos graxos de cadeia curta absorvidos pela mucosa. Tais como, acetato, butirato e propionato, sendo os dois últimos a principal fonte nutritiva dos colonócitos (MARQUES et al., 2020).

106 1.2.1 Disbiose Intestinal

O desequilíbrio das populações microbianas intestinais é chamado de disbiose e tem consequências funcionais importantes, além de estar relacionado a determinadas doenças, tais como: diarreia associada a antibioticoterapia, doença inflamatória intestinal, síndrome do intestino irritável, câncer colorretal, também é característica de muitos distúrbios incluindo obesidade, diabetes tipo 2, asma e doenças hepáticas crônicas. Esse desequilíbrio reduz a capacidade de absorção dos nutrientes, causando carência de vitaminas e quadros inflamatórios (SOMMER et al., 2017).

A disbiose é de ordem multifatorial e está relacionada com a ingestão elevada de alimentos industrializados, ultraprocessados e embutidos, assim como também o consumo exagerado de carboidratos simples, sal, açúcar e gorduras saturadas, que modificam de forma qualitativa e quantitativa a composição da microbiota intestinal. Além disso, o uso excessivo de antibióticos, fumo, estresse, depressão podem alterar de forma significativa as bactérias benéficas no intestino.

Isso causa o aumento das bactérias patogênicas, que estão associadas com o aparecimento de várias condições patológicas (MENDRICK, 2018).

Conforme Conrado et al. (2018), se houver alterações no equilíbrio da microbiota e essa disbiose não for tratada, o indivíduo se torna vulnerável e propício a infecções, podendo causar grandes complicações na fisiologia do trato gastrointestinal.

Diante disso, a dieta apresenta forte influência na composição microbiana intestinal. Assim, é necessário mais atenção para os mecanismos terapêuticos que modulam esse ambiente. Intervenções dietéticas com prebióticos e probióticos aliados a hábitos de vida saudáveis apoiam seu papel fundamental nos processos de prevenção do desenvolvimento de doenças. Características como dieta diversificada, consumo adequado de fibra dietética, exercícios físicos e controle de peso corporal convergem positivamente em uma composição equilibrada da microbiota intestinal e consequente saúde do hospedeiro (TILG et al., 2018).

No documento DIÁLOGOS CIENTÍFICOS EM NUTRIÇÃO: (páginas 104-107)