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A Ciência moderna concebe o universo como vasto sistema dotado de regras básicas que se aplicam, por padrão, a todos as coisas que o compõem. Tais regras fundamentais não se aplicariam somente na área das ciências química, física, matemática, dentre outras que chamaríamos de Ciências Exatas e da Natureza, mas a todas as áreas do conhecimento porque dizem respeito ao ser das coisas. Assim, uma vez verificado um fenômeno fundamental desse sistema, ele se reproduziria de maneira semelhante em outras coisas e eventos no universo. A pressuposição de tal reprodução universal de uma lei da natureza é um ato de fé feito pelo cientista. Nessa esteira, o ato de fé, inerente a qualquer formulação intelectiva, poderia integrar essa reflexão de maneira a formar um daqueles postulados dos mais básicos que compõem o universo. A importante American Association for the Advancement of Science (AAAS) fala assim desses pressupostos que, em Ciência, compõem crenças:

Cientistas compartilham crenças básicas e atitudes acerca do que fazem e de como veem o trabalho deles. Elas têm a ver com a natureza do mundo e com o que deste pode ser aprendido. [...] A Ciência presume que as coisas e os eventos no universo ocorrem em padrões consistentes que são compreensíveis por meio de estudo cuidadoso e sistemático. Os cientistas acreditam que, por meio do uso do intelecto e com o auxílio de instrumentos que ampliam os sentidos, as pessoas podem descobrir padrões em todas as coisas da natureza. A Ciência também pressupõe que o universo é, como o nome mesmo indica, um sistema peculiar e vasto com o qual as regras básicas são as mesmas seja em que lugar estiverem. O conhecimento obtido em estudos sobre uma parte do universo se aplica a outras partes. Por exemplo, o mesmo princípio do movimento e da gravitação explica o movimento dos objetos em queda na superfície terrestre e também explicam o movimento da lua e dos planetas. Com algumas adaptações, ao longo dos anos, os mesmos princípios de movimento se aplicam para outras forças – e o movimento de tudo, desde a menor partícula nuclear até a mais massiva estrela, desde barcos até veículos espaciais, desde projéteis até raios de luz.69

reflexões no Espírito e as direções da Igreja são capazes de demonstrar aquilo que é verdade e deve permanecer e aquilo que não é e deve ser deixado de lado. Todos os passos – certos ou equivocados – devem ser lembrados como uma etapa vivida, recordando ao homem as características que o acompanham no caminho do conhecimento e da busca por mais.

No último subtópico foram apresentadas as correntes de compreensão do nexo entre fé e razão – fideísmo; racionalismo; razão limitada, mas a única confiável; razão natural e adjacente conjugada com fé sobrenatural e superior; fé como elemento indispensável à razão.

Todas tiveram relevância na reflexão teológica. Cada uma compôs uma perspectiva particular, em um determinado período da história, para se compreender o homem em sua dimensão intelectiva e espiritual. Cada corrente foi reflexo de uma fase que o homem viveu em busca de se conhecer e conhecer o Divino. Não significa dizer que a verdade dessa relação entre razão e fé é sujeita a mudanças no tempo. Não é isto o que estamos sugerindo. O homem caminha em direção ao conhecimento dessa verdade, o que ela é e sempre foi. Nessa busca, pega caminhos que lhe parecem corretos e, caminhando neles, com o tempo, vai percebendo os ajustes que precisam ser realizados, os passos que foram bem dados e aqueles que precisam ser refeitos. Quanto a isso vale à pena acrescentar as palavras de Groth sobre a relação entre razão e fé.

O conhecimento da razão e o da fé, em última análise, não podem contradizer-se, ainda que os dois aspectos muitas vezes se encontrem numa relação reciprocamente conflitante. O conhecimento racional refere-se ao conhecimento geral da realidade, que pode ser conseguido independentemente da fé. O conhecimento da fé refere-se a um conhecimento para o qual é preciso invocar a autocomunicação de Deus.

Fundamentalmente, o conhecimento racional encontra-se numa relação negativa em relação ao conhecimento da fé. Ele não pode nem demonstrar, nem contradizer e nem tampouco tomar plausível a fé. É por este motivo que a razão não tem nenhuma função de suporte em relação à fé; deve, antes, operar como filtro. Com isto, pode-se afirmar que (exprimindo-nos de forma negativa) não se pode crer nada que contradiga à razão, na salvaguarda da legítima autonomia desta última. Tal razão crítica preserva a fé da superstição. E é a fé que, por si mesma, tem interesse numa razão de tal natureza. Pode-se afirmar sem hesitação que a fé promove a autonomia da razão e se opõe a esta (em bases racionais) quando contraria as leis que lhe são próprias (o que, por outro lado, não constitui uma prova para a verdade da fé)70.

Demonstradas as perspectivas existentes na relação entre fé e razão, passamos ao estudo do método teológico em paralelo ao método científico. Neste tópico se justificará, em especial, a última corrente – fé como elemento indispensável à razão –, explicitando os elementos metodológicos e os conectando a sua aplicação.

70 GROTH, 2017, p. 604.

3 MÉTODO TEOLÓGICO E MÉTODO CIENTÍFICO.

No capítulo anterior, foram elencadas as formas como a relação entre fé e razão foram percebidas pelo homem ao longo da história, com suas precisões e imprecisões, avanços e retrocessos. Destacamos a última perspectiva que identificou que, no exercício da razão, o pesquisador realiza antes um passo metodológico de fé nas premissas do método científico.

Essa perspectiva será justificada a partir desse capítulo. De início é necessário esclarecer que a Teologia pode ser analisada com vários enfoques, com base na sua finalidade, objeto e método. Neste trabalho daremos realce ao aspecto do método e as demais dimensões serão tratadas de forma secundária.

No documento Juliana Quirino Silva Alcantara (páginas 51-54)

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