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Passos do método científico

No documento Juliana Quirino Silva Alcantara (páginas 57-61)

O itinerário deste tópico será desenvolvido com destaque à obra de Alves.

Inicialmente relembremos o surgimento do método científico na Idade Moderna e o que ele representou a partir de então.

11 CONCÍLIO VATICANO II. Decreto Optatam Totius, 1965, n. 16. Disponível em https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19651028_optatam- totius_po.html. Acesso em dezembro de 2021.

12 DA COSTA, Newton C.A., O conhecimento científico, 1999, p. 23 apud ALVES, 2019, p. 50.

13 DA COSTA, Newton C.A., O conhecimento científico, 1999, p. 23 apud ALVES, 2019, p. 50.

14 ALVES, 2019, p. 50.

Entre os séculos XVI e XIX a Ciência moderna veio aperfeiçoando "uma nova via de produção de conhecimentos confiáveis sobre a realidade que nos envolve. Tais conhecimentos confiáveis se caracterizam por serem distintos do senso comum acrítico e frequentemente enganável". Tal via que gera conhecimentos, nos quais se pode confiar com elevada segurança, compõe um estudo metódico de elementos da realidade circunstante feito em base a fatos de algum modo observáveis e mensuráveis. Ao percorrer tal via, a Ciência moderna permite um notável grau de conhecimento confiável acerca das realidades do mundo, e também um notável domínio prático dessas mesmas realidades. Trata-se de um estudo metódico "sob a forma de explicações testáveis e que podem gerar previsões também confiáveis a respeito de fatos ainda desconhecidos. O conhecimento confiável obtido por esse processo deve [...] também ser capaz de ser verificado e testado na sua validade por outros pesquisadores em tempos e espaços diferentes‖, independentemente de suas convicções e crenças pessoais.15

O tema método científico está disposto em diversas obras que, sob o aspecto mais básico e estrutural, define as etapas-raiz que estão presentes em todo método científico. É claro que haverá distinções em relação aos autores que agrupam e segregam aspectos secundários conforme melhor lhes parece. Mas na essência, as etapas são – e devem ser – coincidentes, é o que traz identidade ao método.

O início do processo ocorre quando se seleciona o objeto de pesquisa. É preciso ter uma definição clara de que objeto é esse e, a partir daí, analisar previamente aquilo que de pronto se sabe sobre ele: suas características, aquilo que o constitui e suas particularidades.

Cada pequena percepção deve ser anotada, pois que pode constituir o fio condutor do raciocínio que leva ao conhecimento que o método persegue. O caminho do método é processual, se dá aos poucos. Depois é preciso reunir o patrimônio intelectual que já foi construído sobre ele, não sendo possível dispensar ou ignorar o conhecimento anterior, mesmo que inicial, parcial e inconclusivo.

―No exercício do método científico é imprescindível um domínio satisfatório do patrimônio anterior de conhecimento naquela Ciência específica a que pertence o assunto ou problema. Embora certamente incompleto, tal conjunto anterior de conhecimentos não pode ser simplesmente conhecido de modo superficial ou, pior ainda, ignorado. Mas só conhecimento não basta.‖16

O segundo passo do método refere-se à capacidade do pesquisador para pensar e descobrir novos caminhos que conduzam ao seu objetivo final, um conhecimento confiável. O pesquisador formulará hipóteses e suposições que se apliquem a sua experiência [científica]

significativa em direção ao objeto. Aqui entra em cena a inteligência, a imaginação, a criatividade, a genialidade, características que distinguem o ser humano das máquinas e dos

15 ALVES, 2019, p. 49-50.

16 ALVES, 2019, p. 51.

animais. Essas características entram em ação nesta etapa para, considerando o arcabouço existente sobre o assunto (primeiro passo), fazer enxergar possibilidades dentro da área em que está inserida. É como montar um mosaico. Existem algumas peças já prontas e outras que poderão ser criadas para, combinadas, formar a arte final. Nesse sentido, nada que o cientista

―descobre‖ é plenamente invenção dele. O que ele ―descobre‖, na verdade, é uma experiência disponível no mundo, mas inédita ao homem e que precisa ser enxergada, discernida, testada, contemplada individualmente e principalmente no todo. E, para ter a credibilidade de se tornar científico, deve conduzir, a uma comprovação que poderá ser repetida, executada por outras pessoas, em outros lugares, tudo isso para mostrar que essa experiência direciona a um resultado comum que se aplica àquelas condições de pesquisa (quinto passo).

Acrescentar ao conhecimento prévio do movimento 1 a hipótese ou suposição desse movimento 2 não é coisa de pouca monta. Tendo-se dominado os elementos de sentido do conhecimento prévio sobre o assunto, o advento de ver uma hipótese inédita sobre aquele sentido é sinal de desenvoltura e familiaridade com a substância por detrás do conhecimento. À imaginação e criatividade, que geram hipóteses, suposições ou conjecturas, estão na linha de frente da grandeza da Ciência e do que há de mais essencial na atividade científica, a ponto [... de um dos mais importantes cientistas do século XX e prêmio Nobel de Física em 1965, Richard Feynman]

afirmar que "a única utilidade da Ciência é insistir e tentar formular conjecturas"17. É assim que a Ciência começa a descobrir conhecimentos confiáveis absolutamente novos, ou a criar, no sentido de descortinar realidades inéditas. "Não existe um método lógico capaz de conceber ideias novas [...], toda descoberta encerra um ‗ elemento irracional‘ ou ‗uma intuição criadora‘ [...] elas só podem ser alcançadas por intuição, alicerçada em algo assim com um amor intelectual [...] aos objetos de experiência‖18

O terceiro passo continua exigindo a atuação da imaginação e da criatividade, pois, se antes foram pensadas hipóteses (segundo passo), agora a tarefa a ser realizada é deduzir consequências lógicas que poderiam advir delas. Normalmente essas conjecturas trazem uma novidade, algo que ainda não foi proclamado por nenhuma outra pessoa. Este momento é crucial ao processo do método científico, pois se o quarto passo demonstrar que as conseqüências não foram realizadas, isso significa que a hipótese é falsa e não corresponde à realidade. Esse passo é válido e aplicável para todas as Ciências, mesmo aquelas que se realizam por meio de pesquisa bibliográfica, conforme Feynman observa.

Mesmo uma Ciência que trabalhe com pesquisa bibliográfica pode realizar previsões. Por exemplo, um historiador pode formular previsões sobre documentos que ainda terão que ser encontrados, prevendo que o que neles se encontrará

17 ―Feynman foi um dos mais importantes cientistas do século XX e prêmio Nobel de Física em 1965‖. (ALVES, 2019, p. 51) FEYNMAN, Richard, The character of physical law, 1992, p. 171 apud ALVES, 2019, p. 51.

18 POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica, 1975, p. 32 apud ALVES, 2019, p. 52.

afirmado sobre determinados fatos históricos coincidirá com o que está escrito nos documentos já conhecidos19.

Registramos que tal procedimento já era realizado pela Igreja católica antes mesmo da origem da ciência moderna. O quarto passo, como já referido, é o momento de validar ou invalidar as etapas anteriores, aquela que trata das hipóteses e das respectivas previsões. É o momento decisivo para verificação se os raciocínios lógicos e deduções realizadas anteriormente procedem ou não. Daí duas alternativas se levantam: caso as previsões se confirmem, a pesquisa poderá seguir para a próxima etapa; caso as previsões não se confirmem, será necessário retroceder para refazer o segundo e terceiro passos novamente, dessa vez com novas hipóteses e prognoses. Esse enunciado se aplica às Ciências em geral, pois se refere a um aspecto metodológico basilar, mas Da Costa indica as ―particularidades lógico-metodológicas secundárias‖20 de cada área:

Algumas Ciências demandam experimentos com a natureza. Outras estudam o ser humano, individual ou coletivamente, que por razões éticas nunca deverá ser manuseado como um objeto, uma planta ou um bicho. Há aquelas que têm como objeto documentos ou artefatos produzidos pelo ser humano, ou o raciocínio humano, ou outros fenômenos humanos. Outras são formais, abstratas.21

Será diante dos resultados concretos que se verificará se as hipóteses foram exitosas ou se terão de ser refeitas. Na primeira situação, passamos ao quinto passo, que implicará na verificação do experimento não somente pelo pesquisador originário, mas por outros estudiosos que repitam os passos nas mesmas condições anteriores e obtenham o mesmo resultado ou resultado semelhante. É preciso divulgar a pesquisa e abrir assim a possibilidade de verificação externa sobre o estudo, o método em seu aspecto geral e particular e os resultados obtidos. Tudo isso para que se confirme a objetividade dos meios e dos fins da pesquisa e se alcance resultado comum/semelhante, seja quem repetir a pesquisa e seja em que tempo e lugar se realizar. Alves lembra que este passo não é menos importante que os demais, muito menos é facultativo, sendo que sua não realização pode levar a anulação dos passos anteriores22. Esse juízo de averiguação garante à pesquisa o grau de confiabilidade e legitimidade que a Ciência busca. ―É esse o requisito fundamental do conhecimento científico: é necessário que seja aceito pelos demais cientistas‖23.

19 Cf. FEYNMAN, Richard, The character of physical law, p. 156.

20 DA COSTA, Newton C. A., O conhecimento científico, p. 23 apud ALVES, 2019, p. 53.

21 DA COSTA, 1999, p. 23 apud ALVES, 2019, p. 53.

22 ALVES, 2019, p. 54.

23 VOLPATO, Gilson, Bases teóricas para redação científica, 2007, p. 29 apud ALVES, 2019, p. 54.

No documento Juliana Quirino Silva Alcantara (páginas 57-61)

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