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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.6. Efeito da experiência na percepção de perigo

De acordo com Lee (2007), motoristas inexperientes são mais vulneráveis a desempenharem mal as atividades de condução de veículo automotor em relação às situações de reação à condições adversas na via, reação a perigos, freando ou mudando a direção do sentido do carro em relação a um veículo a frente; o mesmo acontece no controle tático, já que novatos apresentam maior dificuldade para realizar manobras com o veículo como responder as condições da via, reação às variações de tráfego de veículos e obter informação visual relevante para realizar interseções, como: reduzindo a velocidade, realizando uma ultrapassagem e aumentando a distância em relação a um veículo a frente.

Isso ocorre devido a este perfil de motorista ser mais inexperiente no controle das habilidades necessárias para conduzir um veículo, não conseguir identificar e antecipar corretamente perigos na via e realizar um julgamento exagerado de suas habilidades na direção, acreditando que são melhores motoristas do que suas habilidades indicam (LEE, 2007).

Underwood et al. (2002) argumenta que as diferenças na condução de automóvel entre motoristas experientes e novatos não são apenas relacionadas à demanda cognitiva para controlar o carro, mas também refletem a falta de modelos mentais apropriados para realizar uma busca por dicas importantes no ambiente durante a direção de automóvel.

Analisar os efeitos da experiência entre motoristas novatos e experientes é uma estratégia que permite compreender o comportamento e os mecanismos utilizados pelos experientes, a fim de permitir que os novatos consigam, através de instruções e prática, ter controle sobre o carro ao mesmo tempo que buscam informação certa, e no momento correto, para antecipar e responder de forma adequada aos perigos de uma via de trânsito.

Os motoristas experientes possuem um conjunto maior de habilidades e melhor estratégia na seleção de informação relevante do ambiente, assim, controlando melhor o veículo automotor e evitando acidentes. Isto ocorre devido aos experientes possuírem mais tempo de prática na tarefa de conduzir um veículo automotor e, além disso, ter tido maior probabilidade de experimentação de condições de trânsito variadas. Ao observar estrategicamente o ambiente, os motoristas experientes focam sua atenção em informações relevantes, provavelmente já vivenciadas, e que, possivelmente, permitem a antecipação de eventos com maior potencial de risco de acidentes (CRUNDALL et al., 2012).

Para Pradhan et al. (2009), a medida em que um motorista aumenta o seu repertório de habilidades a partir da prática, com diferentes parâmetros diferenciando as condições de trânsito, este motorista tende a prever melhor quando e onde um perigo em potencial pode ocorrer.

A carga de trabalho mental está relacionada com o processo de aprendizagem e de aquisição de experiência na tarefa de conduzir um veículo automotor (ENGSTRÖME et al., 2003). O grau de experiência de um motorista pode modular a influência das habilidades dele na tarefa de dirigir e no modo como a informação é processada, isto posto, tem-se uma relação entre a

experiência e o grau de automação da tarefa à qual pode ocorrer de forma controlada ou automática (PAXION; GALY; BERTHELON, 2014).

De acordo com Pattern et al. (2006), os motoristas novatos possuem menor grau de automação na tarefa de dirigir e, segundo os autores, isto ocorre pois o processo de automação da tarefa acontece de forma progressiva com a prática. Por conseguinte, a tarefa de dirigir um veículo automotor induz uma alta carga de trabalho mental em motoristas novatos (SWELLER,1993; SWELLER e al.,1998; PATTEN et al., 2006; WICKENS; HOLLANDS, 2021). Ao mesmo tempo, devido ao maior tempo de prática, motoristas experientes necessitam de menor grau de carga de trabalho mental (SCHNEIDER; SHIFFRIN, 1977).

Pradhan et al. (2005), identificaram em seu estudo que motoristas experientes conseguem antecipar ameaças na via em até seis vezes mais situações do que motoristas novatos. Mourant e Rockwell (1972) observaram que motoristas novatos fazem uma busca visual mais abrangente no ambiente e com menor alcance longitudinal e fazem menos checagem de escolhas em comparação com motoristas experientes. Crundall e Underwood (1998) identificaram que motoristas experientes escaneiam o ambiente mais variavelmente, em rodovias de alta velocidade, em comparação com motoristas novatos. Ainda segundo os pesquisadores, motoristas experientes possuem um comportamento do olhar diferente ao se encontrar em uma situação de perigo.

Para Fisher et al. (2011), os motoristas novatos já estão com sobrecarga cognitiva para realizar as atividades da tarefa primária de dirigir um automóvel, não possuindo capacidade suficiente para fazer predições os quais orientariam o seu movimento do olhar em busca de informações necessárias.

Motoristas novatos são mais propensos à adotar um estilo de direção de automóveis mais arriscado do que motoristas experientes, ao mesmo tempo, são mais ineficientes em lidar com situações de risco no trânsito devido a sua menor habilidade de conduzir um veículo, falhar em moderar a sua velocidade frente a percepção de perigos ou como manobrar o veículo na via para evitar uma colisão, não escanear mais amplamente o ambiente em busca de informação e apresentar menos fixações do olhar horizontais através da visão periférica (IMTIAZ; MUELLER; STANLEY, 2014). Desse modo, o desempenho de motoristas novatos deve ser divergente daquele apresentado por motoristas experientes, especialmente, em situações em que perigos podem aparecer na

via, já que essa e diversas outras habilidades se desenvolvem ao longo dos anos com variadas experiências na tarefa de dirigir (DEERY, 1999).

A partir deste contexto, nenhum estudo comparou e avaliou o comportamento da pupila entre motoristas novatos e experientes, em uma situação de perigo e não há, até a presente tese, estudos comparativos da sensibilidade de métodos pupilométricos diferenciando grupos de motoristas com experiências distintas. Ao se estudar os efeitos de grupo de usuários com experiências diferentes na tarefa de dirigir, busca-se, portanto, compreender as estratégias, mecanismos, comportamento e recursos utilizados pelos experientes que os permitem identificar e antecipar perigos em potencial, assim, identificando-os para que possam ser utilizados para aumentar o conjunto de habilidades dos novatos, encurtando o tempo de aprendizagem através de instrução e prática.