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CAPÍTULO II SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO

2.1 O CONTEXTO HISTÓRICO DO SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO

Como sabemos, o avanço do capitalismo trouxe consigo uma multiplicidade de respostas negativas para a sociedade, sobretudo para a classe trabalhadora, no sentido de ter feito com que avançasse também a fome, a miséria, a exploração, a criminalidade, dentre outras mazelas.

Com efeito, se não era inédita a desigualdade entre as várias camadas sociais, se vinha de muito longe a polarização entre ricos e pobres, se era antiquíssima a diferente apropriação e fruição dos bens sociais, era radicalmente nova a dinâmica da pobreza que então generalizava. Pela primeira vez na história registrada, a pobreza crescia na razão direta em que aumentava a capacidade social de produzir riquezas. Tanto mais a sociedade se revelava capaz de progressivamente produzir mais bens e serviços, tanto mais aumentava o contingente de seus membros que, além de não ter acesso efetivo a tais bens e serviços, viam-se despossuídos das condições materiais de vida de que dispunham anteriormente (NETTO, 2000, p. 42-43).

Todas as consequências da má distribuição da riqueza afetam de forma devastadora a classe subalterna em todos os níveis, entre os quais está incluída a educação. Essas implicações inserem no âmbito educacional, principalmente do ensino fundamental e médio, uma quantidade significativa de jovens e crianças que percebem a necessidade de ter um trabalho para se sustentarem e contribuir com o sustento de sua família.

Essa condição da vida escolar com a necessidade do trabalho faz com que os estudantes apresentem baixo rendimento e contribuam com os índices de evasão escolar. Isso sem contar com a precariedade da infraestrutura associada à má remuneração dos professores e à baixa qualidade do ensino (SILVA; CARDOSO, 2013).

Observa-se a Constituição Federal de 1988, no Art. 205, que:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da

pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988a, s/p).

Contudo, a responsabilidade do Estado sobre a educação não se firma como direito assegurado de maneira abrangente para a população, sendo a educação um campo lucrativo para o capital.

Desse modo, intervenção do Serviço Social na educação vem como um aporte para a construção de ações que realizam uma integração entre escola/creche, comunidade e famílias, com o objetivo de atuar nas múltiplas expressões da questão social que se manifestam no cotidiano da sociedade e refletem no processo de educação das crianças. Além disso, a atuação se faz necessária para a construção de planejamentos e gestão que devem ter como uma de suas finalidades a efetivação da Política de Educação (SANTOS, 2015)

Portanto, é necessário que os profissionais estejam tecnicamente qualificados e preparados para assumirem uma postura ética e profissional pautada no Projeto Ético Político do Serviço Social, para atender às demandas do campo da educação que cada vez mais se expandem, perpassam os limites pedagógicos e abarcam entre outros, escola, família e comunidade (SILVA; CARDOSO, 2013).

Apesar da inserção do Serviço Social na educação datar dos anos de 1930, atualmente se tem aberto maior espaço para essa atuação profissional. Isso se deve às expressões da questão social virem refletindo nas escolas e fazendo com que esse seja o principal objeto de intervenção do assistente social no âmbito educacional. Dentre outras atribuições do Serviço Social, faz-se necessária a atuação no sentido de buscar por escola pública de qualidade, contribuir para a efetivação da política de educação, desenvolver e implementar projetos que objetivam a garantia de direitos, o fortalecimento dos espaços de discussões e o trabalho das redes sócio assistenciais. Muito mais que isso, são primícias da atuação do Serviço Social na educação, o comprometimento com a formação da consciência dos indivíduos no sentido de contribuir para a emancipação humana por meio de intervenções pautadas no Código de Ética do Serviço Social e no Projeto Ético Político da profissão (SANTOS, 2015).

O documento elaborado pelo Conselho Federal de Serviço Social – CFESS e Conselhos Regionais de Serviço Social - CRESS, “Subsídios para a Atuação de Assistentes Sociais na Política de Educação”, o conjunto CFESS-CRESS busca a valorização da atuação profissional do assistente social na educação, de modo que tal atuação seja consolidada apoiada na educação como direito, sempre com o compromisso com o projeto ético político da profissão.

Desde 2000, várias discussões a respeito da temática da atuação da/o assistente social na educação vêm trazendo à tona a relevância do trabalho do assistente social na educação. O

trabalho desenvolvido pelo Conselho Federal de Serviço Social - CFESS aborda a temática de maneira abrangente, apoiada nos artigos 4º e 5º da Lei 8.662/1993, no que tange as atribuições do assistente social, passando pela constituição de um grupo de estudos sobre o Serviço Social na Educação, culminando na elaboração de documentos, mobilizações para participações em debates e Seminário com o intuito de orientar a atuação profissional no que diz respeito às suas atribuições tendo sempre em vista a articulação com o projeto ético-político da profissão (CFESS, 2012).

O assistente social no campo da educação, bem como em todos os campos de atuação, deve colocar em prática o que preconiza o Projeto Ético Político da profissão, em que as dimensões devem ser trabalhadas no intuito de contribuir com uma nova ordem societária, onde sejam garantidos os direitos sociais por meio da efetivação das políticas sociais.

O trabalho do assistente social na atualidade tem uma perspectiva de garantia de direitos e de construção de uma ordem social diferente, sem exploração/dominação de classe, independente de seu campo de atuação. Dentro da educação o Serviço Social pode estar diretamente ligado ao atendimento aos alunos e suas famílias nas escolas, ao planejamento e a gerência da política educacional, aos movimentos sociais. O seu projeto interventivo relaciona-se às múltiplas expressões da questão social que atravessam o cotidiano escolar e que demandam do profissional a construção de estratégias de trabalho articuladas com outros profissionais da educação infantil

(ARAUJO, 2012, p. 11).

Em consonância com a discussão exposta, o CFESS, elaborou no ano de 2001 um documento no qual se destaca o Serviço Social na educação como um trabalho desafiador, pois os cortes de recursos direcionados à educação e o retrocesso que vai na contramão dos direitos conquistados, diminuem constantemente a possibilidade de efetivação dos direitos dos cidadãos.

A legislação está posta, haja vista a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB de 1996 que são leis que têm como objetivo constituir os direitos dos cidadãos. Porém, sabemos que há uma distância entre a legislação e a sua efetivação. Portanto é imprescindível que os profissionais do serviço social que atuam na educação estejam dispostos a aceitar o desafio do embate entre a violação de direitos e o fortalecimento das políticas que garantem a formação da cidadania (CFESS, 2001).

Posto isso, é essencial que a/o assistente social tenha uma percepção da dinâmica social e da complexidade das relações sociais no âmbito escolar a fim de facilitar a aproximação com os sujeitos, ação que é necessária para a busca de entendimento da realidade social e possíveis

soluções de problemas. Sobre as relações sociais no serviço social, Iamamoto (2013, p. 87) ressalta que uma das características da profissão é:

(...) a existência de uma relação singular no contato direto com os usuários – os

“clientes” – o que reforça um certo espaço para a atuação técnica, abrindo a possibilidade de se reorientar a forma de intervenção, conforme a maneira de se interpretar o papel profissional. A isso se acresce outro traço peculiar ao Serviço Social: a indefinição ou fluidez do “que é” ou do “que faz” o Serviço Social, abrindo ao Assistente Social a possibilidade de apresentar propostas de trabalho que ultrapassem meramente a demanda institucional. Tal característica, apreendida muitas vezes como um estigma profissional, pode ser reorientada no sentido de uma ampliação de seu campo de autonomia, de acordo com a concepção social do agente sobre sua prática.

É na perspectiva dessa prática profissional que o serviço social se insere no ambiente educacional, onde as expressões da questão social se manifestam de diversas formas, seja por meio de comportamento agressivo por parte dos estudantes, pelo uso de drogas, pela gravidez precoce, pela evasão escolar e demais condutas que são inerentes à precariedade das condições de vida de grande parte dos estudantes das escolas públicas (CFESS, 2001).

Nesse contexto de intervenção para transformação, Mészáros (2005) sugere que os profissionais da educação atuem com a perspectiva de contribuir com uma transformação social de cunho emancipador e que tais profissionais assumam o compromisso com a elaboração de

“(...) planos estratégicos para uma educação que vá além do capital (...)” (MÉSZÁROS, 2005, p. 76). Juntamente com esse trabalho, faz-se também necessária uma atuação crucial do Estado no sentido de oferecer infraestrutura que garanta a inserção e a permanência do aluno na escola, já que, de acordo com a Constituição Federal de 1988, este é dever e responsabilidade do Estado (CFESS, 2001). Entretanto, sabemos que o Estado sempre atendeu as demandas do capital e, por isso, nem sempre essa entidade fez valer a sua legislação, principalmente diante de organizações que supostamente não atraem o lucro para o sistema capitalista.

Nesse sentido, as reformas neoliberais engendradas diante da reestruturação da produtividade que tinha como objetivo garantir a ordem do capital. Uma articulação foi traçada no início dos anos de 1990, por meio da Conferência da Educação Mundial para todos, organizada pela Unesco, pelo Banco Mundial (BM), pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) intencionou dar novos rumos à educação e, consequentemente à economia mundial. Com foco na educação superior, os organismos internacionais visavam o financiamento da educação por parte dos setores privados com o objetivo de inserir os indivíduos no mercado de trabalho. Os

investimentos na educação, principalmente na Educação Básica5, eram de baixo nível e a reforma educacional proposta, nesse período, era apresentada como um processo no desenvolvimento da democratização e da expansão do acesso à educação (LIMA, 2007).

Ainda de acordo com Lima (2007), os organismos internacionais supracitados, por sua vez, impuseram a capacitação como premissa para a ampliação do mercado, de forma a estabelecer a educação como formadora de mão-de-obra qualificada que atende ao capital e gera cada vez mais lucros. Esse direcionamento está na contramão dos estudos de Mészáros (2005), que defende uma educação libertadora que forme sujeitos capazes de pensar e agir com o propósito de alcançar transformações. O que é totalmente ao contrário da educação imposta pela classe dominante do sistema capitalista. Para Mészáros (2005), a educação que prepara para o trabalho e tem como objetivo a alienação do sujeito, deve ser rompida por meio de práticas educacionais que propiciem transformações que libertem da exploração engendrada pela ordem do capital.

O projeto neoliberal de sociabilidade é pautado em privatizações, em críticas às excessivas intervenções do Estado na economia, principalmente no que diz respeito aos gastos com diretos sociais e trabalhistas e no apoio ao individualismo na livre-concorrência. Assim, a educação dentro do projeto neoliberal, está atrelada à “privatização, desregulamentação e desnacionalização” (LIMA, 2007, p. 56).

Tais ações, porém, não foram suficientes para alcançar o objetivo camuflado dos organismos internacionais que, dentre outros, era atingir a estabilidade econômica dos países periféricos para o pagamento da dívida externa. Além disso, as ações neoliberais nem sequer reduziram as desigualdades dos países e nem elevaram as taxas de crescimento.

No que tange à educação, a estratégia do Banco Mundial era alavancar o ensino superior através do desenvolvimento das universidades públicas e privadas, dar enfoque aos cursos técnicos os quais atenderiam, em menor tempo de formação, às demandas do capital. Da mesma forma seria com a implementação da Educação a Distância – EAD que, de acordo com o Banco Mundial, seria uma boa estratégia para viabilizar o acesso da classe menos favorecida às universidades. Dentro dessa perspectiva, a proposta do Banco Mundial era que fossem cobradas matrículas e mensalidades dos estudantes e que as verbas públicas destinadas ao alojamento, a alimentação e demais necessidades dos alunos, fossem cortadas. Além de tudo, o BM também defendia a parceria com empresas no sentido de viabilizar verbas advindas de setores privados (LIMA, 2007).

5 A Educação Básica é composta pela Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br>. Acesso: 28/01/18

Essas são proposições que vêm certificar que a política de educação, bem como as outras políticas sociais, necessita de uma atuação resistente e propensa do serviço social no embate com as diversas manifestações ofensivas da hegemonia capitalista para com a classe trabalhadora. É nesse contexto de correlação de forças que o Conselho Federal de Serviço Social atua constantemente em favor de um projeto societário democrático, na lógica de orientar seus profissionais quanto ao exercício profissional, promovendo ações que vão além das atribuições regidas pela Lei 8.662/1993.

Sendo assim, o CFESS, por meio do documento intitulado “Serviço Social na Educação” (2001), manifesta que o serviço social tende a contribuir de maneira significativa com a educação, pois dentre as atribuições da profissão está a possibilidade de diagnosticar problemas, propor soluções a partir de ações pautadas no direito e que estejam em consonância com o Código de Ética e com o Projeto Ético Político do Serviço Social. É importante ressaltar também que o assistente social, atento às demandas, deverá dar os devidos encaminhamentos à outros serviços sócio assistenciais de acordo com as necessidades dos estudantes. Além disso, no documento explica que ao assistente social caberá as atividades de:

Pesquisa de natureza sócio-econômica e familiar para caracterização da população escolar; Elaboração e execução de programas de orientação sócio-familiar, visando prevenir a evasão escolar e melhorar o desempenho e rendimento do aluno e sua formação para o exercício da cidadania; Participação, em equipe multidisciplinar, da elaboração de programas que visem prevenir a violência; o uso de drogas e alcoolismo, bem como que visem prestar esclarecimento e informações sobre doenças infecto-contagiosas e demais questões da saúde pública; Articulação com instituições públicas, privadas, assistenciais e organizações comunitárias locais, com vista ao encaminhamento de pais e alunos para o atendimento de suas necessidades; realização de visitas sociais com o objetivo de ampliar o conhecimento acerca da realidade sócio- familiar do aluno, de forma a possibilitar assisti-lo e encaminhá-lo adequadamente;

elaboração e desenvolvimento de programas específicos nas escolas onde existam classes especais; empreender e executar as demais atividades pertinentes ao Serviço Social previstas pelos artigos 4º e 5º da Lei 8662/93, não especificadas acima

(CFESS, 2001, p. 13)

Outra possibilidade de atuação do assistente social na educação é por meio do conhecimento do território, no qual está inserida a escola em que profissional trabalha, pois, essa familiaridade permite que o agente desenvolva projetos juntamente com associações e outros grupos já existentes na comunidade, que já conhecem sua realidade e, por isso, sabem qual o cerne da problemática dessa sociedade. Através de projetos, podem ser trabalhadas ações que se relacionam com temas como gravidez precoce, violência sexual, preconceitos, dentre outros assuntos pertinentes que integram o dia a dia do corpo social daquele espaço (CFESS, 2001).

Por conseguinte, o profissional do serviço social deve atuar de forma que diminua as questões referentes ao universo escolar, principalmente no embate das manifestações da questão social, promovendo a cidadania por meio da viabilização de direitos e a emancipação humana. Mas é importante ressaltar que todo o trabalho deve ser feito com uma equipe interdisciplinar que trabalhe com os mesmos objetivos no sentido de fazer com que os resultados da atuação sejam satisfatórios e a escola seja referência no que diz respeito à sua função social (SILVA; CARDOSO, 2013).

Em vista disso, o assistente social deve ser um agente articulador da educação em função de uma sociedade transformadora, e desse modo, tais articulações devem estar em conformidade com o objetivo de transformar o meio através da educação. Mészáros (2005, p.

117) vai mais adiante e afirma que:

Não é necessário dizer que a teoria não pode alcançar o povo em questão somente por livros, nem tampouco se voltando simplesmente, mesmo com a melhor das intenções, a uma multidão aleatória de indivíduos. O pensamento radical não pode ser bem-sucedido em seu preceito de mudar a consciência social sem uma articulação organizacional adequada. Uma organização coerente – para proporcionar a estrutura historicamente em desenvolvimento de intercâmbio entre as necessidades das pessoas e as ideias estratégicas de sua realização – é essencial para o sucesso do empreendimento transformador.

Como observamos, que a/o profissional do serviço social que atua na educação, destaca- se uma multiplicidade de ações que podem e devem ser colocadas em prática. Por fim, o CFESS afirma que o serviço social na política de educação é um desafio, mas é também um escopo para amenizar os problemas relacionados à educação, direitos, família e comunidade (CFESS, 2001).

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