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CAPÍTULO II SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO

2.2 SERVIÇO SOCIAL E EDUCAÇÃO INFANTIL

Por conseguinte, o profissional do serviço social deve atuar de forma que diminua as questões referentes ao universo escolar, principalmente no embate das manifestações da questão social, promovendo a cidadania por meio da viabilização de direitos e a emancipação humana. Mas é importante ressaltar que todo o trabalho deve ser feito com uma equipe interdisciplinar que trabalhe com os mesmos objetivos no sentido de fazer com que os resultados da atuação sejam satisfatórios e a escola seja referência no que diz respeito à sua função social (SILVA; CARDOSO, 2013).

Em vista disso, o assistente social deve ser um agente articulador da educação em função de uma sociedade transformadora, e desse modo, tais articulações devem estar em conformidade com o objetivo de transformar o meio através da educação. Mészáros (2005, p.

117) vai mais adiante e afirma que:

Não é necessário dizer que a teoria não pode alcançar o povo em questão somente por livros, nem tampouco se voltando simplesmente, mesmo com a melhor das intenções, a uma multidão aleatória de indivíduos. O pensamento radical não pode ser bem-sucedido em seu preceito de mudar a consciência social sem uma articulação organizacional adequada. Uma organização coerente – para proporcionar a estrutura historicamente em desenvolvimento de intercâmbio entre as necessidades das pessoas e as ideias estratégicas de sua realização – é essencial para o sucesso do empreendimento transformador.

Como observamos, que a/o profissional do serviço social que atua na educação, destaca- se uma multiplicidade de ações que podem e devem ser colocadas em prática. Por fim, o CFESS afirma que o serviço social na política de educação é um desafio, mas é também um escopo para amenizar os problemas relacionados à educação, direitos, família e comunidade (CFESS, 2001).

“manjedoura”. Inicialmente o objetivo era abrigar crianças, evitando que elas ficassem nas ruas passando por necessidades. Anterior a isso, houve as chamadas Casa dos Expostos, também chamada de Roda6, local onde as crianças indesejadas eram deixadas e normalmente ninguém tinha conhecimento de suas identidades (AGUIAR, 2001).

Observa-se então, um caráter moralista e assistencialista no surgimento dessas instituições e no Brasil não foi muito diferente. De acordo com Aguiar (2001), as primeiras instituições tinham o intuito de esconder os filhos da vergonha de ser “mãe solteira” e os bastardos, órfãos, abandonados, filhos originados da violência sexual, principalmente por parte dos senhores brancos que abusavam das índias e mulheres escravizadas.

Ainda no século XVIII, normalmente ligadas a instituições religiosas, a creche

“preparava” as crianças para exploração da sua força de trabalho, com o decorrer do tempo, assumirem uma postura de trabalhadores, ou seja, as instituições formavam mão-de-obra barata para sua inserção no mercado de trabalho através da venda da sua força de trabalho. Mas o objetivo da educação de modo geral, assim como das creches era atender às necessidades do mercado, seja pela preparação das crianças para o trabalho, ou seja pela exploração do trabalho exaustivo das mulheres que vendiam sua força de trabalho enquanto os filhos passavam o dia na creche (AGUIAR, 2001).

Ainda de acordo com Aguiar (2001), até o início do século XX não existia no país uma política relacionada às creches e outras instituições foram criadas a partir da movimentação da classe trabalhadora que protestava contra a precariedade das condições de trabalho. Entre protestos e reivindicações, na década de 1920 os proprietários dos meios de produção se viam na condição de fazer com que se acalmassem os ânimos da classe trabalhadora, e, atendendo às pressões, foram aos poucos rendendo às solicitações de seus empregados. Dentre as reivindicações dos trabalhadores, estavam as creches para seus filhos, pois “(...) as escassas creches fora das indústrias, nas décadas de 1920 a 1950, eram de responsabilidade de entidades filantrópicas, laicas e, principalmente religiosas (...)” (AGUIAR, 2001, p. 31).

Além disso, os empregadores perceberam que, com a concessão de creche para os filhos dos empregados, estes trabalhavam mais tranquilos e despreocupados e, consequentemente produziam mais. Portanto, as creches passaram a ser mais lucrativas para os capitalistas. No

6 Tratava-se de um lugar onde eram deixadas as crianças não-desejadas. Deve-se a criação da Roda a Romão de Mattos Duarte. A sociedade da época achava que o grande número de mortes de crianças era devido aos nascimentos ilegítimos (frutos da união entre escravos ou entre escravos e senhores) e à falta de educação moral, física, e intelectual das mães. Podemos observar que as duas causas culpam a família, além de dizerem que os negros escravos eram portadores de doenças. GONÇALVES, Renata. A história das creches. Disponível em:

<http://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/a-historia-das-creches.htm>. Acesso: 27/01/18.

entanto, as creches não eram suficientes para atender a classe trabalhadora e os capitalistas prosseguiam com a criação de mais unidades (AGUIAR, 2001).

No pós-64, a criação de políticas sociais na esfera estadual e federal fizeram com que fortalecesse a ideia de creche como instituição assistencialista que atendia a classe mais pobre.

Porém, criou-se a concepção de que a creche poderia ser um mecanismo de introdução da educação que daria oportunidade de uma possível melhora na condição social das famílias, mas sem sequer tocar na raiz do problema social que sempre foi de ordem estrutural (AGUIAR, 2001).

Com toda a problemática envolvida nessa relação família, creche, condição social, educação, o Serviço Social participa dessa relação numa perspectiva de atuação na sua dimensão socioeducativa.

Desde a década de trinta, no início do serviço social como profissão, existe a atuação do profissional nesse setor, pois as escolas e creches são espaços que apresentam inúmeras ações que demandam a atuação do assistente social (ARAUJO, 2012).

Segundo Soares e Giaqueto (2010), o trabalho educacional é abordado nas creches. As autoras destacam que a história da educação/cuidados nesses locais era de cunho assistencialista onde o objetivo do trabalho era cuidar da saúde, da higiene, da alimentação e preparar para que as crianças não fossem para as ruas e se tornassem indesejáveis diante de uma sociedade conservadora, de modo que elas fossem preparadas para o trabalho, aceitando sua condição de pobreza. Com as mudanças políticas a partir da Constituição de 1988, LDB (1996) e o ECA (1990), a função das creches passou a ter caráter educacional e não meramente assistencialista.(SOARES; GIAQUETO, 2010).

Segundo Kuhlmann (2000), a concepção educacional assistencialista atribuída às creches, não foi de fato eliminada ao incorporá-las ao sistema educacional, pois sempre se pensou a educação infantil de 4 a 6 anos e as creches de 0 a 3, como uma antecipação ao processo de educação e não como a escola propriamente dita. Por isso, dá mais ênfase ao cuidado, ligado ao assistencialismo, que à educação.

O autor destaca que no século XX o atendimento às crianças partia das propostas idealizadas em congressos, nos quais se previa que a educação de cunho assistencialista não receberia grandes investimentos por parte do Estado, pois, a pretensão era que as crianças fossem doutrinadas para aceitar sua condição de pobreza e de submissão à exploração. Até que em 1922 as propostas vinculadas às políticas sociais para a infância foram denunciadas como propostas não efetivas, que não concediam aos pobres os seus direitos (KUHLMANN, 2000).

Desse período até meados de 1970, a expansão no segmento da educação infantil desenvolveu-

se lentamente. De acordo com Kuhlmann (2000), algumas instituições associavam seu atendimento à educação, enquanto outras eram ligadas à saúde e à assistência, com vínculo indireto com a educação, atendendo crianças de 4 a 6 anos.

Nesse raciocínio, Kramer (1988 apud ANDRADE, 2010, p. 131) explica que no século XIX e início do século XX, as políticas públicas voltadas para a infância eram “marcadas por ações e programas de cunho médico-sanitário, alimentar e assistencial (...)”.

A orientação de vinculação das instituições de educação infantil com a saúde permanecia e se tornou evidente nas diversas alterações na esfera federal.

No nível federal, a Inspetoria de Higiene Infantil, criada em dezembro de 1923, é substituída em 1934 pela Diretoria de Proteção à Maternidade e à Infância, criada na Conferência Nacional de Proteção à Infância, em 1933. Em 1937, o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública passa a se chamar Ministério da Educação e Saúde, e aquela Diretoria muda também o nome para Divisão de Amparo à Maternidade e à Infância. Em 1940, cria-se o Departamento Nacional da Criança (DNCr), em todas essas fases dirigido por Olinto de Oliveira, médico que havia participado do congresso de 1922. Entre outras atividades o DNCr encarregou-se de estabelecer normas para o funcionamento das creches, promovendo a publicação de livros e artigos. [...] Os médicos do DNCr não se ocuparam apenas da creche, mas de todo o sistema escolar, fazendo valer a presença da educação e da saúde no mesmo ministério, só desmembradas em 1953, quando o DNCr passa a integrar o Ministério da Saúde até o ano de 1970, quando é substituído pela Coordenação de Proteção Materno-Infantil (KUHLMANN, 2000, p. 8-9)

Kuhlmann (2000) afirma que os profissionais das creches defendiam o caráter educacional das instituições, criando uma resistência em admitir a existência da proximidade entre a assistência e a educação. A assistência era vista de forma negativa em se tratando de sua vinculação com o pedagógico e o educacional. Argumentos como a diminuição de verbas da educação, reforçavam a defesa do caráter não-pedagógico da assistência. Atitudes relacionadas ao cuidado, como, alimentação, higiene, por exemplo, eram vistas sob a ótica de dissociação do caráter educacional. Esse, talvez, seja um dos motivos pelos quais pedagogos e professores têm uma resistência em aceitar que a troca de fraldas, por exemplo, faça parte de suas atribuições no contexto da educação nas creches.

Aos poucos, na década de 1990, a negação da assistência ligada à educação foi desconstruída, a partir do aumento das formulações que tratavam da indissociabilidade entre o cuidar e o educar (KUHLMANN, 2000).

Há que se destacar que o cuidar, na perspectiva do serviço social, vai muito mais além do segmento da higiene e da alimentação, pois o assistente social na educação desponta como atuante no objeto de intervenção profissional, que é a questão social. A partir desse princípio, o trabalho desenvolve o cuidado no sentido de proteção integral à criança, garantido que as

políticas sociais sejam efetivadas e contribuindo para a formação de uma sociedade crítica, que tenha conhecimento da necessidade do enfrentamento da ordem capitalista na busca por seus direitos.

Ribeiro (2015) explica que educação infantil, como primeira etapa da educação básica, não tem como objetivo alfabetizar as crianças de 0 a 6 anos, mas tem como função contribuir para o desenvolvimento integral da criança em seu aspecto físico, intelectual, social, psicológico, completando a ação da família e da comunidade, de acordo com a Lei 9.394 de 1996, LDB.

A autora menciona também, que, uma vez desenvolvidos os aspectos supracitados, eles propiciam que a criança manifeste em comportamentos e ações, todo o contexto no qual está envolvida a sua vivência social e comunitária. Tais manifestações abre um leque de atuação de uma equipe interdisciplinar, envolvendo o trabalho do assistente social. A partir de um trabalho bem elaborado, a questão social, muitas vezes oculta, pode se manifestar no meio infantil por meio de músicas, brincadeiras, contação de histórias, filmes e muitas outras atividades que fazem parte do universo da educação infantil. Assim, a/o assistente social deve estar atento às exteriorizações e, com base nelas, criar estratégias e ações de enfrentamento da violação de direitos (RIBEIRO, 2015).

É importante também que a/o assistente social na educação infantil, participe da elaboração de planos que dizem respeito ao conteúdo a ser trabalhado na instituição, a fim de contribuir com temáticas que abrangem cultura, diversidade, respeito, direito social, bem como socializar, informações acerca das funções e dos equipamentos da rede socioassistencial. Este é um trabalho que possivelmente será importante não só para as crianças, mas também para os demais profissionais que atuam na educação infantil, de maneira a reproduzir as ações de proteção social à criança (RIBEIRO, 2015).

Os processos vivenciados e as intervenções da/o assistente social na educação possibilitam a melhoria das condições de vida da criança e de seus responsáveis, através de ações pautadas na LDB, nas orientações curriculares para a educação infantil e no código de ética do assistente social. Ainda de acordo com Ribeiro (2015, p. 39-40), citando Almeida (2005):

A inserção do Serviço Social na escola constitui, portanto, decisão política de fortalecimento das políticas sociais. Hoje, professores e diretores se desdobram na tarefa de ouvir, compreender e mediar sozinhos, quantas vezes sem condições para isso, as influências da dura realidade social sobre a vida escolar. Para interferir nesta realidade, temos que fortalecer as interfaces entre os setores: os Centros de Referência

da Assistência Social (CRAS), as escolas, os Programas de Saúde da Família (PSF) e tantos outros para a cidadania.

Assim, o assistente social na educação infantil é um agente que promove mudanças, que viabiliza a democracia no espaço escolar, que cria estratégias de aproximação entre escola, família e comunidade, criando um ambiente onde haja participação social e promoção da cidadania.

Em documento elaborado pelo Ministério da Educação/Secretaria de Educação Básica - Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil é destacada a seguinte finalidade:

A Educação Infantil “tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (art. 29 da LDB). A Política Nacional de Educação Infantil parte dessa finalidade para estabelecer como uma de suas diretrizes a indissociabilidade entre o cuidado e a educação no atendimento às crianças da Educação Infantil (BRASIL, 1996, s/p).

Desse modo, que as creches são espaços onde há necessidade e de um trabalho entre profissionais, como psicólogos, pedagogos e assistentes sociais, que somarão para o atendimento de qualidade no que diz respeito ao cuidado e a educação (SOARES; GIAQUETO, 2010).

Entre o trabalho interdisciplinar, Sant’ana (2016) destaca que muito se perde com a ausência do profissional do serviço social na educação, uma vez que este tem a capacidade de atuar na busca da transformação da realidade, através de articulações e intervenções de modo a garantir que os direitos das crianças, das famílias e responsáveis não sejam violados. Assim, surgem as demandas para atuação da/os assistentes sociais no campo educacional, como revela Almeida (2003, p. 23):

Estamos nos referindo às discussões sobre o trabalho, a cidadania, a família, a sexualidade, as drogas, a violência, a cultura, o lazer e a adolescência, que ao mesmo tempo vêm fazendo parte da agenda profissional dos assistentes sociais que atuam nos mais diversos programas institucionais, hoje sinalizam os limites das escolas e dos profissionais do ensino a lidarem com esses temas no seu cotidiano. Apesar dos esforços institucionais em curso, como os novos parâmetros curriculares para o ensino fundamental, médio e para a educação infantil, a rede de ensino - pública ou privada – não conseguiu incorporar o enfrentamento desses temas à sua rotina, pelo simples fato de que os profissionais não vêm sendo preparados nesta direção.

No que se refere ao cenário que contextualiza a dimensão socioeducativa do serviço social, Barreto (2001, p. 56) identifica ser “ainda precária a articulação entre os setores da assistência social e da educação”. A autora aponta que, poucos são os programas que abarcam

as crianças de 0 a 3 anos, embora a creche tenha sido incluída na educação infantil, assim como a pré-escola. Foram identificados, entre os 365 programas que compõe o Plano Plurianual (PPA) 2000-2003, apenas dois programas que contemplam especificamente crianças de 0 a 6 anos. São eles: Atenção à Criança e Saúde da Criança e Aleitamento Materno; outros dois programas demandam ações que dizem respeito a essa faixa etária: Assistência ao Trabalhador e Alimentação Saudável (BARRETO, 2001).

Nesse estudo destaca-se que as crianças de 0 a 7 anos são as mais afetadas pela desigualdade e pela pobreza, além disso, as políticas públicas são ínfimas para essa faixa de idade, tendo em vista que esse público não está inserido em sua totalidade na política educacional do governo federal, conforme observado no PPA 2000-2003 (BARRETO, 2001).

Já no Plano Plurianual 2016-2019, observa-se um avanço no que tange às suas dimensões, visto que a proposta é que o enfrentamento da pobreza e da desigualdade esteja alinhada entre escola, família, Estado e Sociedade.

Baseado no Plano Nacional de Educação (PNE), o PPA 2016-2019 definiu suas metas e iniciativas pautadas na:

[...] Erradicação do analfabetismo; a universalização do atendimento escolar; a superação das desigualdades educacionais; a melhoria da qualidade da educação; a formação para o trabalho e a cidadania; a gestão democrática na educação pública; a promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do país; a valorização dos profissionais da educação e a promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade, e à sustentabilidade socioambiental; e o estabelecimento de meta para aplicação de recursos públicos em educação como a proporção do PIB. [...]

(BRASIL, 2014, s/p).

Nesse sentido, há uma contradição com a atual realidade política do país, haja vista o retrocesso estabelecido pela Emenda Constitucional nº 95, aprovada pela Câmara dos Deputados do governo do presidente atual, Michel Temer, na qual foi aprovado o congelamento dos investimentos na saúde e na educação por duas décadas, a partir do ano de 2018 (CARTA CAPITAL, 2016). Fato este, que dificulta a efetivação das propostas previstas no PPA 2016- 2019, que inclui a educação infantil em ações que se orientam (...)

(...) pela busca da universalização do acesso e pela melhoria da qualidade, em parceria com os estados e municípios, por meio: da construção e adequação de creches e pré- escolas; da ampliação dos tempos de permanência na escola e da oferta de conteúdos e atividades complementares, com vistas à educação integral (BRASIL, 2015, p. 28).

Diante desse cenário de planejamento para o crescimento e ampliação no setor da educação e ao mesmo tempo o surgimento de empecilhos impostos pelo governo, compreende-

se que as/os assistentes sociais devem atuar sob a ótica de orientar a população para que se conscientize da necessidade do enfrentamento dos retrocessos para que seus direitos não lhes sejam negados.

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