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O papel da narrativa histórica no ensino de história

No documento LISTA DE GRÁFICOS (páginas 60-63)

1. MARCO TEÓRICO

1.3 A narrativa histórica

1.3.3 O papel da narrativa histórica no ensino de história

Quanto ao seu papel no ensino de história, observou-se que a narrativa histórica também esteve presente, apoiada nos paradigmas da história enquanto ciência. Em alguns momentos era reverenciada, em outros, excluída, e no contexto atual ressurge como possibilidade para o ensino explorando as suas peculiaridades, não apenas na intenção de atrair os discentes, mas, principalmente, diante da necessidade de descrever e explicar situações do passado que merecem aprofundamento.

A narrativa histórica esteve presente no ensino de história desde a sua organização como disciplina escolar, por volta de 1837 com a criação do Colégio Pedro II. Nadai (1993) indica que o ensino de história surgiu em contexto de constituição da nação brasileira, apresentando-se como instrumento na construção do sentimento de pertencimento nacional, garantindo assim a unidade do território. A autora ressalta a supremacia da história política, a qual era descrita em narrativas que contemplavam as origens das nações modernas, sobretudo a civilização europeia, tida como modelo para o recém independente país.

Até meados do século XX, o paradigma historicista esteve presente no ensino de história. Segundo Soares (2002), os feitos de grandes heróis nacionais relacionados à história política eram dispostos em uma narrativa cronológica, pouco crítica, onde ao aluno bastava memorizar datas e as ações desses personagens.

Esse tipo de ensino, baseado na narração de vida de personalidades políticas foi denominado “história biográfica” e passou a ser muito criticado a partir da década de 50 do século XX, quando as concepções de correntes estruturalistas passam a influenciar a história ensinada nas escolas.

Segundo Nadai (1993), o contexto de críticas que marcou o ensino de história entre os anos 50 e 60 foi impulsionado pela presença de historiadores franceses ligados à Escola dos Annales, que reivindicavam uma história-problema em substituição de uma história dos acontecimentos, bem como a influência do pensamento marxista com uma história de cunho social e econômico em substituição ao político. A narrativa histórica passa então a ser questionada, também no ensino de história por estar associada a um discurso expositivo, acrítico e totalizador, mas não abolida.

Bittencourt (2004) ressalta que este período foi frutífero para a história e para o seu o ensino nas escolas. No entanto, a partir da década de 70, todas as mudanças no ensino de história promovidas pela criação das Universidades e dos cursos de Licenciaturas a partir de 1934, de alguma forma retrocederam. Segundo a autora (2004) a história deixa de ser uma disciplina autônoma para as primeiras séries do então ensino de 1º grau, sendo substituída pela disciplina de estudos sociais. A criação das disciplinas de Moral e Cívica voltava-se para a formatação de uma sociedade que vivenciava os rigores de uma ditadura militar. E os métodos de memorização a partir da descrição de narrativas dos acontecimentos ainda persistiam.

Soares (2002) reitera que a ditadura militar no Brasil (1964-1985) promoveu uma desorganização no ensino de história e o cenário passa a ganhar novos contornos a partir das décadas de 80 e 90 com a reintrodução da História e Geografia em substituição à disciplina de Estudos Sociais, acompanhada de mudanças nas técnicas e métodos de ensino. As reformulações curriculares que marcaram o período reivindicavam novos métodos e técnicas e seguiam abordagens da história nova e história marxista.

Toda essa breve explanação histórica acerca do ensino de história aponta para suposições de que a narrativa histórica no ensino da disciplina foi marcada por mudanças nas concepções historiográficas. No século XIX, a narrativa era o meio pelo qual se apresentavam os conteúdos históricos aos discentes, que deveriam memorizar datas, acontecimentos e personagens. Ao longo do século XX, a narrativa histórica, associada ao historicismo foi criticada e a partir dos anos 80, substituída pela análise das estruturas tanto na perspectiva da história, tanto na perspectiva de uma história-problema, quanto no paradigma marxista.

Tal conclusão encontra respaldo na afirmação de Bittencourt (2004, p. 143) a qual indicou que “a utilização de uma história narrativa no ensino decorre de uma determinada concepção histórica” e assim como nos paradigmas estruturalistas da historiografia, a narrativa histórica, também no ensino foi criticada por estar associada ao historicismo, que segundo a autora (2004) teria sido a corrente predominante na história escolar.

A partir dessas concepções, vislumbra-se um novo cenário posto à narrativa histórica, no âmbito escolar. Os novos paradigmas da história no campo da ciência, a concebe como forma naturalmente mais apropriada de escrever a história, mesmo que aproximada com a narrativa literária, como propôs Rüsen (2007, p. 149) para quem “o pensamento histórico obedece, pois, igualmente por princípio, à lógica da narrativa”. O autor (2007, p. 155) reitera que o que torna específico na narrativa histórica no conjunto de elementos em comum entre uma narrativa histórica e não histórica, é que a primeira “está em que os acontecimentos articulados narrativamente são considerados como tendo ocorrido realmente no passado”.

No ensino, como apontou Bittencourt (2004) os traços da narrativa histórica distinguem-se de uma narrativa literária, pela intenção de aprofundar a realidade de um passado e pela busca documental, bem como rigor metodológico. Os personagens representam grupos sociais, cuja temporalidade é mais complexa do que na narrativa não histórica. Essas características específicas são no entender da autora (2004) uma responsabilidade da narrativa histórica tanto no campo científico como no escolar.

Assim, compreende-se que o papel da narrativa histórica para a história ensinada nas escolas entre meados do século XIX até aproximadamente os anos 70 do século XX, não pode mais ser concebido para o ensino de história na atualidade, visto que a narrativa histórica não tem mais o sentido de reconstituir o passado em grandes narrativas, descrevendo os feitos políticos das grandes personalidades.

Após um período de críticas e afastamento, a narrativa histórica vive um momento de desconfiança por parte de pesquisadores e docentes, mas também de novas possibilidades, pois entende o passado resignificado por meio da interpretação.

No documento LISTA DE GRÁFICOS (páginas 60-63)