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RESULTADO E DISCUSSÃO

No documento direito penal contemporâneo em pauta (páginas 89-94)

LEI 13.104/15 E A PROTEÇÃO DAS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA

4.1 RESULTADO E DISCUSSÃO

Diante toda explanação realizada ao longo da presente pesquisa, pela lógica de Jakobs, o Direito Penal possui a missão de garantir a identidade normativa da constituição social, de forma que a forte repressão aplicada contra o transgressor das normas sirva de exemplo para a sociedade se sentir segura e evitar que as pessoas se tornem “inimigas potenciais”.

Para Jakobs, a definição de pessoa está intrinsecamente ligada à forma e postura desta diante o cenário social em que vive e o respeito de suas normas regentes.

Para Raul Zaffaroni (2002), deve-se admitir que a teoria do Direito Penal do Inimigo tem como sujeito o homem empírico, enquanto a pessoa é moldada através de uma construção normativa. No conceito de Gunther Jakobs, o inimigo é aquele que rompe permanentemente com o Direito, tornando-se um ser humano sem limites, vindo a ser considerado o inimigo da sociedade. Quando o Direito Penal do Cidadão for violado, o indivíduo deverá ser submetido a um processo penal diferente do aplicável aos cidadãos comuns.

A ideia de Jakobs foi firmada na antecipação da tutela punitiva por parte do Estado, supressão ou redução das garantias constitucionais e processuais e a criação de penas mais rígidas. A referida teoria transmite a sensação de estar mais preocupada

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em identificar um grupo de indivíduos e rotulá-los como inimigos do que definir realmente um fato criminoso.

Claus Roxin, em seus estudos, afirma que o Direito Penal tem apenas o condão de resguardar a ordem pacífica externa da sociedade, não possuindo poder para penalizar comportamentos que não lesionaram o direito de outros indivíduos da sociedade.

Nos entendimentos de Zaffaroni (2007), se for adotado o conceito de inimigo, a consequência seria a instalação de uma ditadura jurídica, devendo, dessa forma, ocorrer a suspensão dos preceitos constitucionais, no momento em que estiver ocorrendo a aplicação do Direito Penal do Inimigo. Não pode haver um outro Direito Penal, apenas o de garantias.

Dessa forma, conclui-se não ser possível a aplicação da Teoria do Direito Penal do Inimigo no Ordenamento Jurídico Brasileiro. A sua implementação se torna inviável, visto

que a sua proposta é incompatível com os princípios do Estado Democrático de Direito ratificados pela Carta Magna de 1988.

É impossível harmonizar o Estado de direito da sociedade brasileira e o Direito Penal do Inimigo, sendo aquele pautado pelo princípio da dignidade da pessoa humana, diferente deste que assegura o extermínio de garantias fundamentais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse viés, a ideologia trazida por Jakobs surgiu com o objetivo de achar uma solução para a impunidade do Estado no combate aos crimes mais repugnantes socialmente. O Direito Penal do Inimigo priorizou a separação dos membros da sociedade entre os cidadãos e os inimigos, estes últimos perdendo a posição de sujeitos de direitos, sofrendo uma aplicação mais rigorosa da lei, com tratamento diferenciado aos criminosos de alta periculosidade. Entretanto, tal teoria se mostra incompatível com o modelo estatal democrático adotado no Brasil, já que a prioridade constitucional é respeitar a dignidade da pessoa humana dos sujeitos de direito.

Baseado nas críticas, muitos doutrinadores são contra dispositivos ainda existentes na legislação brasileira com resíduos do Direito Penal do Inimigo, como por exemplo a lei de crimes hediondos, o crime de associação criminosa, entre outros já citados no decorrer do presente artigo. Por essa perspectiva, o direito transforma-se em mero simbolismo, dando margem a criação de rótulos e etiquetas aos indivíduos,

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fenômeno este conhecido por labelling approach, estudado pela criminologia.

Por fim, conclui-se que o Direito Penal do Inimigo, embora exista exemplos de sua aplicação no ordenamento jurídico brasileiro, se mostra incompatível com a democracia brasileira, visto que essa teoria tolhe os direitos humanos, reduz as garantias individuais e dar margem para a prática de tortura, da pena de morte, da incomunicabilidade do preso, bem como fere princípios constitucionais, como a presunção da inocência.

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SAÍDA TEMPORÁRIA E HEDIONDEZ: CONTRAESTÍMULO OU INCENTIVO À CRIMINALIDADE?

Grace Crispim de Lucena1 Patrícia Bezerra de Lima2 Suzana Vieira de Araújo Marinho3 Thaís Mori4 Tulio Augusto Andrade Oliveira5

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