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Sobre os materiais didáticos e atividades

No documento ESTATÍSTICA E PROBABILIDADE (páginas 110-114)

CAPÍTULO 3.......................................................................................................... 76

3.2 Organização das aulas de Matemática durante o estágio

3.2.2 Sobre os materiais didáticos e atividades

Paralelo a tudo isso, temos, também, algumas preocupações em relação aos tipos de materiais e suporte de documentos oficiais que são utilizados durante os estágios, os alunos disseram que:

Ireza: A professora tem um armário com muitos jogos, ábaco. Bloco lógico, aquele material dourado (Seção do Grupo Focal 2). [...]. Ela nos apresentou como trabalhar com eles em sala de aula (Seção do Grupo Focal 2).

Mércia: Ela nos colocou até para a gente resolver alguns problemas baseado no bendito ábaco (Seção do Grupo Focal 2).

Neste momento eles percebem o quanto precisam dominar conceitos matemáticos para que o seu trabalho tenha fluência e qualidade, recorrendo a jogos e materiais diversificados. Mas, Mércia revelou não conhecer e não saber trabalhar com o ábaco quando o chama de ‘bendito’. Por outro lado, tinham a possibilidade de recorrer a outros materiais de apoio como disseram:

Ireza: Outra coisa também, é que fizemos análise do Livro Didático, do currículo para ver se contemplava os PCN, a gente estudou essa relação entre a Base e o PCN (Seção do Grupo Focal 2).

Mércia: A gente viu também, em determinadas séries o que o aluno já deveria ter consolidado, dentro dos Parâmetros (Seção do Grupo Focal 2).

[...] E até mesmo porque é preciso garantir o direito de aprendizagem dessas crianças. Você tem que garantir (Seção do Grupo Focal 2).

A fluência e a qualidade que tanto almejam se materializam em ações como essas que Mércia e Ireza trazem quando se preocupam com os documentos norteadores do ensino, utilizando-se da terminologia ‘direitos de aprendizagens’.

E a sua formação inicial não está garantindo esse acesso direcionado à linguagem matemática numa relação com outras disciplinas. No caso da Matemática, os PCN (BRASIL, 1997) já tinham organizado esse campo de conhecimentos em blocos de conteúdos, vislumbrando que os conhecimentos das crianças não estão estanques, mas, sim, interligados. Essa forma articulada deve ser preservada no trabalho do professor, possibilitando melhores condições de apreender o significado

dos diferentes conteúdos e percebendo as diferentes relações entre si (BRASIL, 1997). Dessa maneira, para o desenvolvimento da docência no estágio, a proposta interdisciplinar foi pensada para interligar os conteúdos.

O processo de ensino e aprendizagem na educação acompanha, historicamente, algumas mudanças como o surgimento das teorias cognitivistas e, assim, o mentalismo com suas variantes e ramificações, como o construtivismo, socioconstrutivismo, teoria do processamento de informações que parecem ser a concepção de conhecimento que está predominando na educação, tanto em relação ao ensino quanto em relação a aprendizagem (TARDIF, 2002). Assim, podemos constatar nas vozes dos alunos a presença dessa vertente cognitivista, quando abordam a interdisciplinaridade e outras formas de trabalhar durante o estágio, rompendo com as concepções tradicionais.

Percebemos, durante as seções do grupo focal, nas vozes dos alunos, que o uso de jogos para trabalhar conteúdos matemáticos esteve presente, sempre com o objetivo de garantir o aprendizado. Melissa e Mércia trouxeram de forma explícita a intenção do trabalho com jogos:

Melissa: [...] eu tive quatro aulas na semana, então na primeira eu trabalhei com atividades na folha, situações problemas e operações aritméticas, e nas duas últimas aulas, com jogos, mesma proposta das primeiras aulas, porém com jogos, eles demonstraram satisfação e compreenderam o conteúdo, medidas de tempo. Eles compreenderam os conteúdos e declararam que gostaram da forma e da apresentação dos jogos, mas com atividades nos primeiros momentos, mas foi bem reduzido pela questão do tempo. Eu fiquei só duas semanas com eles (Seção do Grupo Focal 3).

Mércia: Então, eu costumava trabalhar com eles a questão do grupo, porque tinham dificuldade e, assim, nas aulas de Matemática, eu procurei fazer a questão dos jogos também. Fiz um mercadinho e ali, em grupo, eles iam as compras, iriam comprar e somar, e como eles não eram alfabetizados também, eles eram do terceiro ano, a maioria não lia nem escrevia ainda.

Então, a gente usava as embalagens dos jogos pra dar aula de Português.

Era sempre assim, porque as duas primeiras aulas que era Matemática e as duas últimas aulas Português, eu sempre tentava usar as duas disciplinas nos mesmos dias (Seção do Grupo Focal 3).

Essas vozes refletem e fazem relação com a necessidade de integrar a formação de professores em processos de mudança, inovação e desenvolvimento curricular (MARCELO GARCIA, 1999), com a busca de novas metodologias para garantir o aprendizado dos alunos durante o estágio. Os conteúdos medida de tempo

e a operação de adição foram trabalhados com o uso de jogos30 como possibilidade para avançar no processo de aprendizagem.

No processo de construção do conceito de número, tem-se a finalidade de quantificar atributos de objetos, além de julgar e interpretar argumentos baseados em quantidades, desenvolvendo noções de aproximações, proporcionalidade, equivalência e ordem (BRASIL, 2017). E para medidas se espera que o aluno compare grandezas com uma unidade e possa expressá-la por meio de um número (BRASIL, 2017). Essas duas unidades de conteúdos foram explicitadas nas vozes de Mércia, Melissa e Sarah.

Sarah: Os conteúdos, com os meus alunos, tive que trabalhar com a Alfabetização Matemática, conhecer os números, qual a função dos números, alguns já estavam um pouco mais adiantados, já sabiam fazer soma, então os problemas foram evoluindo de acordo com aprendizagem de cada um.

Dentro da sala tinha uns 4 estágios diferentes, então eu tinha que fazer um trabalho que todos conseguissem realizar (Seção do Grupo Focal 3).

[..] a primeira coisa que fiz foi colocar um calendário enorme, com números bem visíveis. Eu levei de casa jogos de tabuleiro e emborrachado e outras coisas (Seção do Grupo Focal 3).

Em relação ao acompanhamento do estágio, na escola, durante a organização das aulas, entre elas as de Matemática, sentiram falta do apoio, ensino e colaboração do professor regente para melhorar o trabalho e as reflexões sobre a aprendizagem da docência. Nesse sentido, Melissa disse que:

Melissa: Eu senti falta da minha professora no planejamento e também na observação da sala de aula, comigo foi uma coisa bem solta, ela dizia que eu poderia fazer do jeito que eu quisesse, mas foi algo meio desorganizado (Seção do Grupo Focal 3).

Nesse momento, Melissa traz para a discussão a lacuna que ficou entre a formação inicial e o desenvolvimento profissional, quando não teve as orientações da

30 O jogo propicia constante auto avaliação na aprendizagem do aluno e o desenvolvimento de competências, habilidades etc., bem como o desenvolvimento de estratégias de resolução de problemas na medida em que possibilita a investigação do conceito (do jogo matemático) e, ainda, de forma desafiadora e motivante para o aluno. O jogo de estratégia é indicado, segundo Cerquetti- Aberkane (1997), para aprendizado de um conceito matemático, visto que contribui para que o aluno crie estratégias para resolver problemas. Ajuda a entender conceitos que parecem abstratos, como no caso da introdução a álgebra em que precisa de uma linguagem matemática. Mas não é apenas vantagens, os jogos possuem desvantagens, como por exemplo, quando os alunos são motivados apenas pelo jogo, sem saber o ‘que’ e ‘por que’ jogam. Assim, para que a atividade tenha mais chances de dar certo, deve haver um trabalho interdisciplinar em comum com todos os professores, e o papel do professor deve ser o de mediador da “relação que se estabelece na sala de aula entre o Jogar x

“Fazer Matemática” x Aprender Matemática" para desenvolver processos de análise, de possibilidades e tomada de decisão para o trabalho com resolução de problema, no âmbito escolar e no contexto social em que estão inseridos (CORDEIRO; SILVA, 2012, p. 5-6).

professora regente para a sua aprendizagem da docência. Quando foi ao campo de estágio, que é a escola, estava demarcado aí que a formação inicial é representada pelas aulas na universidade e o estágio é o momento do desenvolvimento profissional, na escola, entendendo que a escola e sua organização por meio de suas rotinas são importantes na formação inicial (MARCELO GARCIA, 1999), visto que estaria lhe dando um suporte para assegurar essa organização necessária nos aspectos teóricos, metodológicos, práticos e para aprender a conhecer os alunos e as relações estabelecidas nas escola. Vimos também essa lacuna em outras vozes como:

Celina: Eu não me dirigi à professora não, mas eu fui aos cadernos do PNAIC pra tirar as minhas dúvidas (Seção do Grupo Focal 3).

Maria: Ela tinha bem isso, que o momento do estágio era o momento de tentar voltar a ter aqueles conhecimentos que você tinha anteriormente. Ela me ajudou mais na questão das Ciências, mas fora isso, eu nunca fui lá pedir orientação (Seção do Grupo Focal 3).

Para planejar as aulas, buscavam outras fontes para orientar na organização das aulas durante o estágio. Percebemos que as unidades temáticas (BRASIL, 2016) e as metodologias trabalhadas durante o estágio, estão relacionadas com o ano escolar, segundo as vozes:

Ireza: Eu também vi vídeos no youtube, pra ver como fazer, e a dificuldade foi justamente despertar esse interesse dos meninos, por que eles também têm essa resistência com a Matemática, mas não tive dificuldade, minha relação com eles foi muito tranquila e com as atividades também (Seção do Grupo Focal 3).

João: Eu fazia pesquisa na internet para tentar buscar atividades e exemplos de plano de aula pra ver o que eu poderia fazer em sala (Seção do Grupo Focal 4).

Celina: Eu olhava os livros, buscava alguns planos de aula, usava também alguns que minha mãe fez, que ela é professora, então o que eu gostava eu usava. [...]. Eu acessei alguns sites que tinham plano de aula, usava o livro e assistia vídeo aula (Seção do Grupo Focal 4).

Para planejar as aulas, além de pensar nos conteúdos que seriam trabalhados em sala de aula, preocupavam-se com as atividades e os materiais didáticos para ajudar a ensinar os conteúdos e que os alunos aprendessem. Do livro didático adotado na escola, ao material do PNAIC que está disponível no site do MEC (www.mec.gov.br), aos jogos, planos de outras professoras e vídeos no Youtube foram buscando possibilidades para construir um conhecimento do conteúdo matemático e pedagógico (MARCELO GARCIA, 1999) para o desenvolvimento de

suas atividades docente. Uma busca que foi constante e que cada um foi encontrando de maneira diferente, para atender as suas necessidades formativas.

3.3 Saberes necessários ao professor para lecionar Matemática nos anos

No documento ESTATÍSTICA E PROBABILIDADE (páginas 110-114)