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Trabalho remoto emergencial no serviço público brasileiro em função da pandemia 29

No final de 2019, a China anunciou uma série de casos de uma misteriosa pneumonia viral. Ao primeiro momento, a enfermidade parecia estar ligada diretamente a um mercado de mariscos localizado na província chinesa de Hubei, mais precisamente na cidade de Wuhan. As autoridades chinesas confirmaram que essa doença estava associada a um novo coronavírus (SARS-CoV-2) (RÍOS-GONZÁLEZ, 2019) e o termo COVID-19 passou a ser noticiado em jornais do mundo todo sobre o perigo desta nova enfermidade, que tinha como uma das principais características, seu caráter de alta transmissibilidade.

Devido a sua rápida propagação e o alto índice de transmissibilidade, o coronavírus forçou governos do mundo todo a buscarem várias alternativas para conter sua proliferação (GRAÇA, 2021). Na busca por soluções rápidas e eficazes para a preservação de vidas, e até então, sem a disponibilização de vacinas ou remédios para o tratamento da doença, políticas públicas de distanciamento social passaram a ser amplamente discutidas e recomendadas pelo governo federal e estaduais, afim de evitar aglomerações e por conseguinte, contaminações (IPEA, 2021; PRATA- LINHARES et al., 2020).

O distanciamento social cruzou os limites do âmbito privado e passou a afetar concomitantemente as relações de trabalho, à medida em que houve a necessidade de flexibilizar horários, implementar escalas e até mesmo manter os colaboradores laborando a partir de suas residências. “No dia 16 de março, o Comitê de Operações de Emergência (COE) do Ministério da Educação se reuniu pela primeira vez para iniciar ações de prevenção à disseminação do novo coronavírus no sistema escolar” (PRATA- LINHARES et al., 2020, p.

555, tradução nossa). Ainda em março de 2020, o Governo Federal brasileiro ampliou e modificou as relações de trabalho também no ambiente público, em caráter emergencial, afim de preservar não somente os beneficiários do serviço público como também seus agentes. Todo esse movimento implicou numa aceleração da implementação do trabalho remoto nas organizações públicas, considerando a exigência da manutenção da prestação dos serviços públicos (ROCHA et al., 2021; LOSEKANN; MOURÃO, 2020; SÁ; MIRANDA;

MAGALHÃES, 2020).

Ainda no início do período pandêmico, o Ministério da Economia estabeleceu orientações acerca do trabalho remoto excepcional em março de 2020, através das Instruções Normativas nº 19, de 12 de março de 2020, ME e nº 21, de 16 de março de 2020. Esses documentos traziam em seu texto, entre outras orientações, medidas de afastamento de servidores públicos, integrantes do Sistema de Pessoal Civil da Administração Pública Federal

(SIPEC), de seu ambiente laboral para: “servidores e empregados públicos que realizarem viagens internacionais, a serviço ou privadas, e apresentarem sintomas associados ao coronavírus (COVID-19)[...]” (BRASIL, 2020, p. 1) e “servidores e empregados públicos: a) com sessenta anos ou mais; b) imunodeficientes ou com doenças preexistentes crônicas ou graves; e c) responsáveis pelo cuidado de uma ou mais pessoas com suspeita ou confirmação de diagnóstico de infecção por COVID-19, desde que haja coabitação;” além de “servidoras e empregadas públicas gestantes ou lactantes” (BRASIL, 2020, p. 1).

Os servidores integrantes do Ministério da Educação ainda tiveram como documento normatizador, a Portaria nº 491, de 19 de março de 2020, que ampliou as medidas estabelecidas nas Instruções anteriores, acrescentando em seu Art. 3º que os atendimentos deveriam ser realizados preferencialmente por meio eletrônico. Evidencia-se desta maneira, que em primeiro momento, as atividades remotas somente eram exercidas para servidores ou empregados públicos considerados como “grupo de risco” (BRASIL, 2020).

2.4 A Pandemia e o Trabalho Remoto nas IFES Brasileiras

Diante da celeridade das informações, e as mudanças advindas com a pandemia na tentativa de conter os avanços da proliferação do vírus, vários países interromperam seus compromissos presenciais como estratégia para prevenção do coronavírus, inclusive no âmbito educacional (SAHA et al., 2022; WU, 2021). E no Brasil, dentro das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) isso não foi diferente (BRASIL, 2020).

Grande parte dessas IFES fomentaram a importância de reformulação das atividades de ensino para uma modalidade remota. A utilização dessa medida fora acalorada com a publicação do Ministério da Educação de sua portaria nº 343, de 17 de março de 2020, que dispunha sobre “a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - COVID-19” (BRASIL, 2020). O referido ato normativo aplicava-se às instituições educacionais integrantes do sistema federal de ensino, e licenciava às organizações a utilização de ensino remoto por 30 dias, passíveis de prorrogação em caso de orientação do Ministério da saúde. Ressalta-se, porém, o caráter autorizativo dessa portaria, que em seu parágrafo segundo atribuía às instituições a definição das disciplinas, a disponibilização das ferramentas e as avaliações realizadas (BRASIL, 2020). Simultaneamente, ao estabelecer uma portaria com um caráter somente autorizativo, o Ministério da Economia, de um lado respeitava as autonomias institucionais, mas do outro, acabou fixando mais responsabilidade às referidas organizações, em função de não estabelecer qualquer outro

auxílio, tão necessário para o enfrentamento de situação peculiar. Diante do avanço e proliferação do vírus, o prazo estabelecido previamente, acabou sendo estendido por mais 30 dias pela portaria 473, de 12 de maio de 2020 (BRASIL, 2020), e posteriormente, até o dia 31 de dezembro de 2020, através da portaria nº 544, de 16 de junho de 2020 (BRASIL, 2020).

Frente aos atos normativos do Ministério da Educação, tão logo foram sendo publicadas resoluções internas das instituições de ensino, discentes e docentes passaram a realizar suas atividades remotamente, principalmente a partir de suas casas, estivessem elas dentro da localidade de ensino ou não. Prata-Linhares et al. (2020, p. 3, tradução nossa) afirmam que “os efeitos da pandemia desencadearam uma reação imediata, suspendendo os cursos de licenciatura no ensino superior federal”.

Destaca-se aqui, a Universidade Federal do Maranhão, que sob orientação de seu Comitê Operativo de Emergência de Crise (COE/UFMA), emitiu a Resolução Nº 1.978- CONSEPE, no dia 18 de março de 2020, quase que concomitantemente às instruções Normativas do Ministério da Economia, e até mesmo de forma prévia à Portaria nº 491, de 19 de março de 2020, que dispunha sobre a preferência por atendimentos realizados por meio eletrônico, emitida pelo Ministério da Educação citada no parágrafo anterior. Respeitando as legislações supracitadas, bem como outras normas e entendimentos emitidos à época, a Portaria da Universidade Federal do Maranhão estabeleceu em seu Art. 2º que “o funcionamento das unidades administrativas, independente da área de execução, será realizado por meio remoto, estando suspensos os atendimentos presenciais” (UFMA, 2020).

Segundo Losekann e Mourão (2020), a pandemia do novo coronavírus revolucionou as relações de trabalho em modos nunca antes visualizados. Questões relacionadas à segurança modificaram amplamente o trabalho e suas variáveis. A dinâmica trabalhista mudou, bem como fez com que o sujeito tenha que se adaptar muito mais aos novos aspectos laborais. O teletrabalho que antes era exceção, do dia para a noite tornou-se regra com o objetivo de reduzir o contágio e, consequentemente, o alastramento do vírus.

Não obstante, a implementação urgente desse novo método de trabalho sem prévio planejamento para as empresas implicou em mudanças internas, novas políticas e investimento em recursos tecnológicos. De outro lado, impactos como mudanças nas formas de interação e comunicação, além da necessidade instantânea sobre o manuseio de novas tecnologias (LOSEKANN; MOURÃO, 2020) foram amplamente percebidos pelos colaboradores. A necessidade da implementação urgente evidenciou que o regime de teletrabalho precisa ainda ser debatido e estudado, tendo em vista globalmente ainda se está em processo de aprendizado e compreensão das mudanças ocasionadas pela pandemia (LOSEKANN; MOURÃO, 2020),

principalmente sobre aspectos e impactos que trouxe a diferentes esferas e diferentes categorias de trabalhadores.

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