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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA - UFRB

SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA - SEAD ESPECIALIZAÇÃO EM INCLUSÃO E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO

CELSO SANTANA FERREIRA

A POTENCIALIDADE DAS COTAS PARA O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR:

UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Ipiaú 2020

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA - UFRB

SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA - SEAD ESPECIALIZAÇÃO EM INCLUSÃO E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO

CELSO SANTANA FERREIRA

A POTENCIALIDADE DAS COTAS PARA O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR:

UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Trabalho apresentado à Disciplina de Trabalho de Conclusão de Especialização em Inclusão e Diversidade na Educação. UFRB, 2020.

Orientador: Professor Doutor Everson Cristiano de Abreu Meireles

Ipiaú 2020

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SUMÁRIO

Introdução...05

1. Fundamentação Teórica...09

2. Método...13

3. Resultados...15

4. Considerações Finais...17

5. Referências...19

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A POTENCIALIDADE DAS COTAS PARA O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Celso Santana Ferreira1

RESUMO. Este relato visa debater a importância da democratização do acesso ao Ensino Superior por meio das cotas, realizando um recorte espacial no contexto da Comunidade de Córrego de Pedras, Ipiaú-BA. Isto por que, a nossa Lei de Cotas não é apenas de aporte racial, na verdade, essa questão está subsumida a outras duas categorias: ser de escola pública e baixa renda, portanto, variáveis sociais. Aqui debate-se como essa lei contribuiu para a democratização do acesso, ao eleger critérios sociais e raciais para a reserva de vagas em universidades públicas no país. Acredita-se que seja por meio da cultura, que as pessoas e os grupos se definem, se conformam aos valores compartilhados e contribuem para a sociedade.

Para tanto, a Lei de Cotas, sua relavância e os meios de acesso são discutidos um instrumento para enfrentar, num ensejo relevante, os produtos históricos do Colonialismo que agem em favor da negação dos direitos das minorias no Brasil. Na situação discutida existem desafios relacionados principalmente ao silenciamento do poder decisório da comunidade, o que certamente contribui para o fraco acesso ao Ensino Superior.

PALAVRAS-CHAVE: Cotas universitárias, Diversidade, Inclusão, Políticas afirmativas, Ensino Superior.

ABSTRACT. This report aims to discuss the importance of democratizing access to Higher Education through quotas, making a spatial cut in the context of the Córrego de Pedras Community, Ipiaú-BA. This is because, our Quota Law is not just of racial contribution, in fact, this issue is subsumed to two other categories: being from public schools and low income, therefore, social variables. Here, it is debated how this law contributed to the democratization of access, by electing social and racial criteria for the reservation of places in public universities in the country. It is believed that it is through culture that people and groups define themselves, conform to shared values and contribute to society. Therefore, the Quota Law, its relevance and the means of access are discussed as an instrument to face, in a relevant opportunity, the historical products of Colonialism that act in favor of the denial of the rights of minorities in Brazil. In the situation discussed, there are challenges related mainly to the silencing of the community's decision-making power, which certainly contributes to the poor access to Higher Education.

KEYWORDS: University quotas, Diversity, Inclusion, Affirmative Policies, Higher Education.

1 Pós-graduando em Inclusão e Diversidade na Educação. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, 2020. celsosantferr@bol.com.br.

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5 INTRODUÇÃO

Uma educação escolar voltada para a cidadania transcende a contextualização dos saberes em prol da convivência e do diálogo entre pessoas que pensam de modo diferente e querem coisas diferentes. Busca a valorização da participação política, a diversidade sociocultural e a superação das desigualdades sociais e econômicas.

Essa concepção de educação transformadora e inclusiva preconiza uma habilidade em discutir, arbitrar e aceitar princípios coletivamente, assim como a superação de entraves e divergências ideológicas, por meio do debate, para a sistematização de objetivos comuns. Dessa forma, o trabalho educacional passa a ser socialmente referenciado, o que significa buscar caminhos que visem atender não só aos interesses administrativos e instrucionais do ensino, mas, antes de tudo, a considerar o ato educativo como um dispositivo para garantir os direitos humanos.

A cultura política “um conjunto de procedimentos, princípios e valores que se traduzem numa prática necessariamente ideológica, no sentido de refletir uma visão de mundo” (PENNA 2000, p. 65), inclui muitos aspectos sociais: linguagem, valores, normas, costumes, regras, ferramentas, tecnologias, produtos, organizações e instituições. Por diversas vezes as abordagens sobre os conceitos de diversidade, identidade e diferença podem estar equivocadas, quando não orientadas por um discurso capaz de aprofundar ainda mais as diferenças e as desigualdades em prol de uma ordem universalista perversa, vocacionada com a exploração do homem pelo homem. Esta relação está intrinsecamente imbricada a uma homogeneização disfarçada. A realidade é que precisamos:

Recusar a homogeneização sutil, mas despótica em que incorremos às vezes, sem querer, nos dispositivos que montamos quando subordinamos os estudantes a um modelo único, ou a uma dimensão predominante. Na realidade precisamos de uma pedagogia do intolerável. Temos assistido passivamente um processo de aniquilamento sutil e despótico das diferenças: seja sexual, racial, étnico, estético, entre outras, ao mesmo tempo em que há uma resistência cotidiana a esta processualidade de submetimento realizada por pessoas ou coletivos sociais excluídos, a pedagogia do intolerável não é a monumentalização da tragédia, do miserabilismo ou da vitimização (ABRAMOWICZ, RODRIGUES E CRUZ, 2011, p.

96).

É sim, essa pedagogia/concepção um movimento em prol da promoção de uma sociedade mais justa e igualitária. A superação das desigualdades só se dará por uma profunda, mas gradativa mudança na ordem social vigente. Será uma rebeldia pacífica. Um movimento de negação da opressão, do qual os caminhos precisam ser discutidos comunitariamente e o passo inicial será a contestação da realidade, o levantamento de onde se quer e como chegar,

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6 utilizando-se de instrumentos democráticos e humanistas, estes por terem uma vocação de respeito à diversidade só funcionam num projeto de médio a longo prazo, pois as estruturas do biopoder2 são muito bem amadurecidas e perversas.

Esta reflexão se aplica à observação dos estudantes da 3ª série do Ensino Médio do CEMIT da Escola Presidente Médici, Ipiaú-Bahia, como pano de fundo para problematizar o acesso às universidades públicas por meio do sistema de cotas. Na comunidade de Córrego de Pedras, constituída fundamentalmente por negros e pardos, apresenta nível socioeconômico predominante de baixa renda – agricultores familiares, subempregados e lavradores. Além de serem desse estrato, os estudantes que atingem o Ensino Superior têm que arcar com mensalidades nas faculdades particulares, quando muitos acabam por desistir, por não poderem manter os pagamentos em dia.

Assim, a prioridade educacional seria preparar os indivíduos para superar os desafios socioeconômicos e sensibilizá-los da importância de uma boa formação educativa, incentivando-os a se qualificarem de forma inclusiva na sociedade contemporânea, o que só se dará efetivamente com a conscientização. As cotas universitárias são uma oportunidade interessante, pois é no âmbito acadêmico que são fomentadas as maiores mudanças sociais na atualidade.

Indiscutivelmente é urgente esclarecer e incentivar que as cotas universitárias das universidades públicas são uma ótima opção de acesso no Ensino Superior. Isso tem suas bases no fundamento de que a educação deva ser o ponto de partida ao enfrentamento das desigualdades sociais, ao superar uma condição de silenciadora e padronizadora de identidades e ações. As cotas fazem parte daquilo que chamamos de ações afirmativas3, ou seja, mecanismos e dispositivos legais que visam oferecer, reparar ou garantir direitos que, se não por uma forma mais efetivamente exigidos e mantidos, seriam negados à determinada parcela dos indivíduos de uma sociedade. Isso abrange pessoas de todo ambiente social, político, religioso, étnico e territorial.

A Lei nº 12.711/2012, lei de Cotas, reserva 50% das vagas por curso e turno para estudantes de universidades e institutos federais. O restante das vagas permanece para a ampla concorrência. Com o Decreto nº 7.824/2012, definiram-se condições para a reserva de vagas,

2 Biopoder é um termo criado originalmente pelo filósofo francês Michel Foucault para referir-se à prática dos estados modernos e sua regulação dos que a ele estão sujeitos por meio de uma "explosão de técnicas numerosas e diversas para obter a subjugação dos corpos e o controle de populações". Fonte: https:// pt.wikipedia.org/wiki/Biopoder. Acesso: 10/05/2020.

3 São “atos ou medidas especiais e temporárias, tomadas ou determinadas pelo estado, espontânea ou compulsoriamente, com os objetivos de eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantir a igualdade de oportunidades e tratamento, compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros”. Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%A7%C3%A3o_afirmativa. Acesso:11/05/2020.

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7 estabelecendo os meios de acompanhamento das reservas de vagas para as instituições federais de Educação Superior. Existe ainda a Portaria Normativa nº 18/2012, do MEC (Ministério da Educação) que estabelece os parâmetros para aplicação da lei, onde estabelece as modalidades das reservas de vagas e as regras para serem calculadas, fixando condições de concorrência às vagas, estabelecendo e regulando o preenchimento das vagas.

Para Santana e Meireles (2019, p.128-129), com dados do INEP (Instituto Anízio Teixeira) houve um grande aumento no número de matrículas no Ensino Superior entre os anos de 2004 e 2014. Isso se deu, dentre outras questões, pela ampliação do número de vagas em instituições federais. Aqui foi notável o aumento na participação dos autodeclarados afrodescendentes. O cenário mostra a importância da ampliação das políticas afirmativas.

Assim, a Lei nº 12.711/2012, lei de Cotas, impulsionou a inclusão de pessoas não só afrodescendentes, mas também os de vulnerabilidade socioeconômica.

As cotas combatem a discriminação, mesmo assim, têm enfrentado forte oposição daqueles que desejam manter uma ordem social tradicionalmente perversa e excludente denunciada por Freire (2001, p. 99): de “amarras reais, concretas, de ordem econômica, política, social, ideológica etc.”.

Desde o período da escravidão as pessoas negras ou afrodescendentes vêm lutando para legitimar seus direitos. Dentre os desafios está o desmascarar a suposta democracia racial, que para o Movimento Negro é um mito. São vários os instrumentos a desfavorecem as pessoas negras desde a escravidão. Foram formas de justificar o escravismo apoiadas até mesmo pela a Igreja.

Foram diversos os tipos de mobilizações e revoltas até a abolição da escravatura, que não trouxe efeitos imediatos, mas lançou oportunidades. Durante o Regime Militar o Movimento Negro foi reprimido, alcançando perspectivas positivas só a partir da promulgação da constituição de 1988. Atualmente, o Movimento Negro se articula de forma a dialogar sobre direitos e a denunciar situações de racismo e de violência contra a população afrodescendente.

Vale aqui ressaltar também, o papel do Programa Universidade Para Todos (ProUni), que foi criado pela Lei n° 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Ele oferece bolsas de estudos em instituições privadas de ensino superior por meio da nota obtida no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As pessoas comprovadamente de baixa ou com alguma deficiência podem conseguir uma bolsa de estudos integral desde que egressas do ensino médio em instituições públicas. Bolsistas integrais de instituições privadas também têm direito.

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8 As ações afirmativas reconstroem as relações sociais, mesmo que pela força de leis e lutas, elas constituem um instrumento capaz de intervir num sistema cristalizado de relações desiguais entre os seres humanos.A Lei 12.711/2012, Lei das cotas, trouxe significante acesso aos estudantes que, talvez, de outra maneira não conseguiriam se matricular no Ensino Superior em universidades públicas. Ela reserva no mínimo 50% das vagas das instituições federais de ensino superior e técnico para os concluintes do Ensino Médio em escolas públicas, “que são preenchidas por candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas, em proporção no mínimo igual à presença desses grupos na população total da unidade da Federação onde fica a instituição” (BRASIL, 2015).

A Lei de Cotas favoreceu o acesso dos afrodescendentes às universidades, mas ainda é preciso ampliar o acesso e garantir a permanência dos estudantes. É preciso participação política, mobilização social, pois em muitos lugares como em Córrego de Pedras, as políticas afirmativas são ainda desconhecidas ou ignoradas.

Será que a educação escolar está falhando em promover a autonomia dos estudantes?

Precisamos vencer a cultura do silêncio por meio de uma abordagem que fomente o valor e continuidade do aprendizado desde cedo na vida dos jovens. Outras políticas de amparo social, como o bolsa família, salário educação, talvez não estejam cumprindo sua vocação em promover a igualdade social por não se aliarem a uma reflexão crítica sobre a vida.

A luta do movimento negro no combate a estas formas de discriminação é parte da própria história e da construção da sociedade brasileira. A luta contra o racismo e a busca pelo conhecimento em relação às histórias dos diferentes grupos que formam a sociedade brasileira têm se tornado uma questão política fundamental ao se pensar na construção de uma sociedade de fato democrática (SILVA, 2016, p.65).

Essa construção crítica da existência do sujeito e a relação com seus pares pressupõe um indivíduo ativo, que participa de maneira intensa e reflexiva não só das aulas, mas de toda a dinâmica sociopolítica na qual está inserido. Um ator que constrói sua inteligência e sua personalidade por meio do diálogo estabelecido com os outros homens e com a própria realidade cotidiana do seu contexto existencial.

Este relato visa debater a importância da democratização do acesso ao Ensino Superior, realizando um recorte especial no contexto da Comunidade de Córrego de Pedras. Por meio da cultura, as pessoas e os grupos se definem, se conformam aos valores compartilhados e contribuem para a sociedade. A metodologia é um relato de experiência baseado em referenciais bibliográficos, reflexões, produções textuais e as discussões empreendidas durante o Curso de

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9 Especialização em Inclusão e Diversidade na Educação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB.

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Ao intervir e ou observar um sistema sociopolítico, se busca uma compreensão intercrítica daquilo que emergirá da investigação, ou seja, o pesquisador faz parte do contexto socioeducativo, precisando refletir que seu trabalho “se constitui na complexidade de seres humanos pensando com e sobre seres humanos” (MACEDO, 2009. p. 95) e que os atores sociais

“são sujeitos, existências que, para todos osfins práticos, produzem etnométodos, maneiras de compreender a vida e solucionar suas problemáticas” (idem).

Aqui é acolhido, para discutirmos as cotas universitárias, que estas fazem parte das políticas afirmativas, ou seja, da relação entre seres humanos, onde “a identidade e a diferença são o resultado de um processo de produção simbólica e discursiva. O processo de adiamento e diferenciação linguísticos por meio do qual elas são produzidas está longe, entretanto, de ser simétrico” (SILVA, 2000, p.81). Para Marinho e Carvalho (2018, p. 34), falar a respeito das ações afirmativas, no Brasil, é abordar, principalmente, sobre o sistema de cotas, em especial as cotas raciais.

Há de se conceber que a identidade sociocultural e a participação política de determinado grupo social trazem as marcas de suas raízes históricas. Diacronicamente, na história humana tem-se promovido melhores condições de vida para determinados grupos em detrimento de outros. Os estigmas da escravidão no Brasil dão contorno e profundidade às injustiças sociais, pois aqui os mecanismos de dominação encontraram condições especialmente propícias ao silenciamento político e cultural das minorias majoritárias4.

O conceito de minoria majoritária surge da elucidação que, mesmo onde determinada população seja numericamente superior, dentro de uma mesma sociedade, seus direitos sociopolíticos e econômicos são suprimidos ou negados em prol de uma hierarquia em que há clara situação de desvantagem para esta. Não é o fator numérico o princípio para que a dada população possa ser considerada uma minoria, mas sim, as relações de poder injustas.

4“Minorias são grupos marginalizados dentro de uma sociedade devido aos aspectos econômicos, sociais, culturais, físicos ou religiosos. Porém, o termo não deve ser associado a grupos em menor número em uma sociedade, mas, sim, ao controle de um grupo majoritário pelos demais, independente da quantidade numérica”. Fonte:

https://jus.com.br/artigos/75456/direito-das-minorias.

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10 Esse conceito de minoria majoritária se ilustra bem numa situação em que se pode observar a concentração de renda e terra como fatores fundamentais à exclusão e à vulnerabilidade social. A Educação Básica se torna um luxo. Daí o que dizer do Ensino Superior? É por isso que intervir nesse sistema deve ser um processo gradativo e esclarecedor.

Precisamos entender aqui o conceito de poder.

Para Porfírio5, podemos entender o poder em Bourdieu (1989, apud PORFÍRIO, 2020, s/p.), como uma força produtiva que torna possível entender e se relacionar conosco, com os outros e com o mundo ao nosso redor, abrindo-se um vocabulário para entender o poder como coisas contingentes a uma série de circunstâncias sociais. A dualidade do poder da norma e a liberdade necessariamente pressuposta tornam possível uma explicação da internalização de dogmas sociais.

Para Foucault (2006) o poder se mantém pelo controle disciplinar exercido por relações sociais microfísicas. No caso do ensino superior isso se torna mais evidente. Mesmo quando chega à universidade, o sujeito proletário geralmente ocupa cursos ditos menos privilegiados.

Os cursos de maior prestígio quase sempre, mesmo em universidades públicas, são ocupados por pessoas que têm uma melhor condição socioeconômica. Ironicamente, os egressos do ensino privado ocupam a maior parte das cadeiras na universidade pública. No caso dos alunos do Ensino Médio com Intermediação Tecnológica (EMITEC) isso se torna mais grave e evidente, vez que sua própria formação já se mostra precária e desesperançosa. Podemos observar claramente, num sistema crítico como esse a importância da intervenção pelas cotas.

Está na educação o eixo motor de qualquer nação, por isso se legitima democratizar o acesso ao Ensino Superior, articulando-se uma estratégia capaz de diminuir as desigualdades que afetam, principalmente, grupos socialmente vulneráveis, dentre eles os negros. Em Silva (2016), “a universidade pública é constituída dentro desse sistema eurocêntrico e elitista, o foco estaria então na ascensão do indivíduo e não na transformação da sociedade e ou desses grupos sociais como um todo”. Guarnieri e Melo-Silva argumentam sobre as cotas universitárias que estas, [...] já fazem parte da realidade brasileira e também se identificam como alternativa de socialização. Como medida de “ação afirmativa” com finalidade reparatória, configura-se em uma alternativa possível para promover a inserção do jovem em situação de desvantagem social[...]” (2017, p. 190).

5 PORFÍRIO, Francisco. "Poder"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/poder.

htm. Acesso em 11 de maio de 2020.

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11 Complementando, Assunção (2018) diz que a concretização do direito ao ensino superior, “no entanto, não tem sido fácil, em que pese as lutas constantes dos movimentos sociais e demais atores envolvidos na busca pela garantia da educação. Em um país marcado por profundas desigualdades sociais e econômicas, lutar por direitos para a maioria não tem sido tarefa fácil”. Segundo Cruz,

A Lei das Cotas, Lei nº 12.711/2012, que instituiu as cotas raciais nas universidades públicas, gerou muita discussão e resistência por parte de alguns setores da sociedade, inclusive entre reitores das universidades. As opiniões polarizaram-se entre as que defendiam política públicas específicas para os negros ingressarem no ensino superior, especialmente por meio de cotas, e as que eram contra este tipo de política pública, sustentando que a aplicação de políticas públicas universais e/ou sociais atingiriam grande parte dos negros. Alguns críticos afirmavam que a Lei das Cotas feria o princípio da igualdade previsto na Constituição. O caso desaguou no Supremo Tribunal Federal que considerou a iniciativa constitucional (2015, p. 21).

O sistema de cotas tenta enfrentar, numa grande urgência, os produtos históricos de “um conjunto de técnicas de promoção da vida e da morte a partir de atributos que qualificam e distribuem os corpos em uma hierarquia que retira deles a possibilidade de reconhecimento como humano e que, portanto, devem ser eliminados e outros devem viver” (BENTO, 2018).

Certeiras palavras, pois ser excluído é um caminho para ser eliminado, morto pelo sistema que protege alguns em detrimento de outros, justificando-se por meio de um aparato tecnológico muito bem amadurecido, que se legitima filosoficamente, encontrando alienado apoio até entre os próprios excluídos.

Igualdade no Brasil é algo alegórico e oportunista. Queremos dizer, amparado no texto de Gonzales (1984), que o discurso oficial só valoriza a diversidade étnica nos momentos determinados, ou seja, nas festividades e datas comemorativas, estas estancadas rapidamente no fechar das cortinas. Para Gonzales (1984, p.228), todo mito traz uma dada ideologia implícita. Com o mito da democracia racial não seria diferente.

Atualmente, discutir sobre diversidade, inclusão e o papel da educação nesse âmbito implica articular princípios epistemológicos e ações concretas. Essa dinâmica se inicia com a própria abordagem metodológica, que se revela em escolhas que devem ser legitimadas por sua relevância social e científica. O próprio pesquisador é um ser ético, estético e cultural que no âmago de sua historicidade dialoga com os eventos da realidade, abstraindo conceitos e formulando intenções. Ousa-se, assim, apreender ativamente um sistema ideológico em busca de respostas às indagações, tanto as que prescindem da questão, como as que dela afloram.

Pela discussão empreendida até aqui, se aceita, a partir de agora, o desafio de “[...] tratar com sentidos na sua complexidade [...] ampliando a compreensão” (MACEDO, 2009. p. 87).

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12 Por essa concepção dinâmica, desenvolve-se uma etnopesquisa que considera também a relevância social do método e do resultado como um fazer “epistemológico outro de construção do rigor do saber acadêmico e científico [...] e seus valores” (MACEDO, 2009. p. 79).

O relato de experiência é mais uma abordagem qualitativa em educação que tem se mostrado relevante no âmbito da pesquisa acadêmica. Nesse âmbito, pesquisar sugere uma abordagem discursiva de investigação. Tal modalidade de pesquisa busca a compreensão de uma problemática relacionada ao sistema sócio-histórico e político de realidade existencial. No caso em questão o pesquisador é um dos membros do contexto educacional.

As cotas universitárias são uma oportunidade interessante. Para Freire (1998, p. 14)

“ensinar exige rigorosidade metódica”. Isso implica também que uma pesquisa em educação, mesmo numa perspectiva de pesquisa-ação, necessite de organização tanto na apreensão do sistema de ensino aprendizagem, compreendido nos fatores socioculturais, políticos e científicos, como de sua relevância e de seus métodos investigativos.

Pesquisar o ato educativo exige uma constante reflexão sobre como se faz o ensino e para quem se ensina, consequentemente uma crítica sobre as próprias concepções de pesquisa.

O quê e como se entende o fazer em sala de aula estão permeados por práticas sociais e históricas, onde a compreensão é influenciada por fatores políticos, históricos, econômicos, sociais e culturais. Não se pode aceitar os problemas educacionais passivamente como fatalidades.

As ideias de Paulo Freire cabem neste trabalho justamente pelo fato deste autor entender a educação como um instrumento de emancipação humana, portanto, um direito que assegura outros direitos e que, para ser legitimado, precisa ser empreendido num diálogo que não prescinde da visão de mundo das pessoas, mas que, a partir desta, o conhecimento se eleve de um saber popular (ingênuo) para uma concepção crítica de conhecimento.

Tudo isso precisa ser concebido e organizado criticamente, pois a educação escolar traz em si um legado histórico de exclusão e silenciamento do saber culturalmente constituído em prol de modelos centralizadores de ideias, que muitas vezes trazem uma abordagem determinista e acrítica de ensino-aprendizagem principalmente para as classes menos favorecidas da sociedade. “A superação e não a ruptura se dá na medida em que a curiosidade ingênua, sem deixar de ser curiosidade, pelo contrário, continuando a ser curiosidade, se criticiza”. (FREIRE, 1998, p. 17). Silva traz a questão racial para o debate:

Os estudos sobre as teorias raciais, na atualidade, são mais que meros temas de pesquisa, mas se apresenta também como uma questão social e política que requer, por parte da universidade, a produção de novos conhecimentos e por parte do Estado

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13 novas formas de intervenção na luta contra o racismo. Essa produção tem como objetivo a emancipação social e a contestação de análises científicas pautadas no mito da democracia racial. É uma tentativa de romper com estruturas de opressão, construindo assim novas categorias analíticas (2016, p. 70).

Ao concebermos como base teórica um embate colaborativo de ideias e contra- argumentos, podemos perceber a exclusão como algo sistemático, historicamente construído e que possui um sofisticado mecanismo de autopreservação. A ordem vigente é perversa. Suas amarras são muito fortes, atingindo corações e mentes, por isso qualquer intervenção nesse sistema tem que ser cuidadosa.

Para Santos (2008), é preciso consciência e participação política. Ela define cultura como valores de vida. Esta autora complementa essas ideias por entender que precisamos

“acionar os mecanismos institucionais de que dispomos” com a Lei nº 12.288, de 2010.

Também que é urgente mobilizar as “[...] políticas públicas e práticas sociais responsáveis no enfrentamento de situações de injustificada diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada [...]”.

No âmbito dos desafios inerentes à construção de uma nação socialmente equilibrada, não há teoria geral que dê conta das demandas sociopolíticas, científicas e culturais, mas sim, pode ser cultivada uma reelaboração constante do entendimento sobre direitos humanos e educação que, numa perspectiva emancipadora, não exclui a diversidade, mas, a partir desta, propicia agir politicamente. Quer dizer, uma redefinição crítica de como se entende a relação da práxis escolar com suas implicações no diversificado contexto sócio-histórico e ideológico.

Por meio da cultura, as pessoas e os grupos se definem, se conformam aos valores compartilhados e contribuem para a sociedade. Neste cenário, Santana e Meireles (2019) afirmam o avanço da política de cotas nos últimos anos, mas também advertem que ser preciso uma retomada do foco das ações afirmativas para que a Lei de Cotas cumpra seu papel.

2. MÉTODO

O trabalho se relaciona dialeticamente com a observação dos estudantes da 3ª série do Ensino Médio do CEMIT (Centro Regional de Ensino Médio com Intermediação Tecnológica) /EMITEC (Ensino Médio com Intermediação Tecnológica) da Escola Presidente Médici, Ipiaú- BA. Acreditamos ser este um relevante pano de fundo para problematizar uma situação especial no acesso às universidades públicas por meio do sistema de cotas. Esse recorte está legitimado nas discussões pertinentes ao desenvolvimento sociocultural e está também apoiado nos

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14 referenciais legais da Educação e se consolida por meio de atitudes e modelos que atendam aos interesses educacionais da comunidade.

O ponto de partida para embasar o relato de experiência foi a pesquisa bibliográfica sobre o tema, onde podemos perceber descrito e desvelado um sistema perverso que se justifica e mantém de forma sócio-histórica e ideológica e que promove disfarçadamente a dominação ideológica de um grupo social sobre as minorias majoritárias.

A Escola Presidente Médici teve sua origem na década de 1980 para atender à escolarização primária na comunidade de Córrego de Pedras. Atualmente oferece da Educação Infantil ao 9º ano do Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA). É entidade pública mais importante da comunidade, exercendo um inegável papel sociopolítico. Nesse contexto existem desafios relacionados à evasão escolar, rotatividade de professores, distorção idade-série e silenciamento do poder decisório da comunidade, que écaracterizada pelo alto índice de analfabetismo.

O nível socioeconômico predominante é a baixa renda: agricultores familiares, subempregados, desempregados e lavradores. Observa-se o baixo rendimento dos alunos, o alto nível de reprovação e indisciplina devido ao processo de comunicação interna e externa da escola sem uma proposta definida de participação da comunidade.

A partir do ano de 2012 a escola recebeu uma unidade do CEMIT/EMITEC – O Ensino Médio com Intermediação Tecnológica, uma oferta estruturante da Secretaria da Educação da Bahia que faz uso de uma rede de serviços de comunicação multimídia que integra dados, voz e imagem, se constituindo em uma alternativa pedagógica para atender a jovens e adultos que, prioritariamente, moram em localidades de difícil acesso em relação a centros de ensino e aprendizagem onde não há oferta do Ensino Médio, além de atender a localidades que tenham deficiência em profissionais com formação especifica em determinadas áreas de ensino.

O CEMIT/EMITEC prevê atendimento a todas as localidades dos municípios da circunscrição dos vinte e sete Núcleos Territoriais de Educação (NTE). Este curso tem carga horária total de três mil horas/aula, distribuídas em três anos, nos turnos matutino, vespertino e noturno. Essa foi uma forma de promover acesso e formação no ensino médio para localidades de difícil acesso como a de Córrego de Pedras.

Além de serem oriundos de um estrato social de baixa renda, os concluintes do CEMIT/EMITEC em Córrego de Pedras se quiserem cursar o Ensino Superior têm que arcar com mensalidades nas faculdades particulares, quando muitos acabam por desistir por não poderem manter os pagamentos em dia. Podemos perceber que a comunidade estudantil em

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15 questão nunca aproveitou e não vem se beneficiando do avanço das matriculas no Ensino Superior que, de acordo com Santana e Meireles (2019), teve grande avanço desde o ano de 2004.

As observações do cenário aproveitaram o ano de 2019 como principal dado estatístico, muito embora, esse relato de experiencia explore a vivencia com o 3º ano do Ensino Médio com Intermediação Tecnológica desde o ano de 2014. A vivência mostra um fato recorrente e agravante da pouca adesão ao ingresso no ensino superior pelos concluintes. Pensar na mudança do perfil dos ingressantes no Ensino Superior no Brasil se relaciona diretamente com a mudança do perfil acadêmico e socioeconômico dos jovens de Córrego de Pedras, Ipiaú-Ba.

3. RESULTADOS

No contexto dos estudantes concluintes do Ensino Médio em Córrego de Pedras afloram as questões sociopolíticas e socioculturais historicamente erigidas em nosso país pelas relações de poder e dominação. É possível observar o paradoxo do Brasil mestiço que cria situações em que os brasileiros reconhecem sua origem histórica, mas de alguma forma veem as injustiças como sistema natural e historicamente legitimado. Uma visão dualista e não relacional, de acordo com a vontade e ideias da classe dominante.

Verificamos a necessidade de comprometimento com o futuro próximo e com a transformação social, contribuindo na construção da identidade da escola como interface científica, filosófica e cultural do progresso social. A educação segundo Freire está entre a autoridade, aqui interpretada como organização, legislação, compromisso e planejamento; e a liberdade, tida neste momento como cidadania e direitos humanos.

A rotina do EMITEC revela a baixa participação em concursos vestibulares (0% entre 2018-2019), na Olimpíada Brasileira de Matemática (0% na Segunda Fase entre 2017-2019), no Exame Nacional do Ensino Médio (0%), no Sistema de Cotas (nenhum aluno participante entre 2018-2019) etc. O que traz à luz os porquês de tais ausências são as reflexões empreendidas pelos textos sobre racismo, promoção do sucesso educativo, colonialidade e exclusão social. A exemplo de Santana e Meireles (2019), que citam a ampliação da participação dos afrodescendentes por meio das cotas, mas que também alertam para a necessidade de se ampliar e democratizar tal acesso.

Podemos observar no cotidiano dos alunos do EMITEC o desânimo e a falta de esperança para com o prosseguimento dos estudos. Muitos partem logo para subempregos antes

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16 de concluírem os estudos. Estudar aqui é coisa de segundo, terceiro plano. Algo que pode ficar para depois. No ano de 2019, dos 21 concluintes do Ensino Médio nenhum logrou fazer a prova do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio, nem os vestibulares regionais. Nenhum deu continuidade aos estudos. Em 2018, dos 15 concluintes, da mesma forma, nenhum está cursando a Educação superior. Portanto, podemos aferir 0% de matrículas no Ensino Superior.

Surge das reflexões empreendidas pela pesquisa bibliográfica a percepção de que em comunidades afastadas dos centros urbanos importantes, a exclusão social tende a se agravar de maneira profunda. Aqui imperam outras convenções sociais, outros planos de aceitação das injustiças. Existe certa cultura existencial que permeia todos os setores da sociedade. Para Freire:

A ação política junto aos oprimidos tem de ser, no fundo, “ação cultural” para a liberdade, por isto mesmo, ação com eles. A sua dependência emocional, fruto da situação concreta de dominação em que se acham e que gera também a sua visão inautêntica do mundo, não pode ser aproveitada a não ser pelo opressor. Este é que se serve desta dependência para criar mais dependência (1998).

A educação é um direito humano subjetivo e inalienável, que deve favorecer a tomada de decisões autoconscientes e em favor da dignidade humana. Os direitos humanos são os direitos naturais de qualquer pessoa humana. Foram estabelecidos historicamente para garantir um lugar digno na vida pública. “A participação não só define a qualidade da democracia como a forma de viver a democracia”. (GADOTTI, 2014, p.8).

Dessa forma, surge uma necessidade urgente de relacionar educação, cidadania e os direitos humanos. Uma vez que a cidadania é um direito de participação na sociedade e que para seu pleno exercício o cidadão deve ter assegurados outros direitos básicos, por exemplo, à escolarização, ao trabalho, ao conhecimento cultural e científico etc.

Assim como as sociedades e comunidades continuam a lidar com a compreensão e a luta pelo fim das desigualdades sociais, os lugares e espaços, que promovem os direitos humanos devem fazer o mesmo. Se é verdade que todas as pessoas são iguais em dignidade e direitos, não devemos fugir do trabalho duro e muitas vezes desconfortável de abordar os males advindos do Colonialismo por sua conceituação crítica.

Na luta pela construção de uma comunidade política e socialmente equilibrada em Córrego de Pedras, Ipiaú-BA, não há teoria geral que dê conta das demandas sociopolíticas, científicas e culturais, mas sim, falta uma reelaboração do entendimento sobre direitos humanos e educação que, numa perspectiva emancipadora, não exclui a diversidade, mas, a partir desta,

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17 propicia agir politicamente. Quer dizer, uma redefinição crítica de como se entende a relação da práxis escolar com suas implicações no diversificado contexto sócio-histórico e ideológico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade brasileira é marcada por dilemas diversos e complexos. A constituição de uma pátria que atenda a todos os seus cidadãos de forma igualitária e verdadeiramente democrática é ainda um horizonte distante. Insurgem problemas relacionados à pobreza extrema imbricada com o baixo nível de escolaridade da população. Tudo isso colabora para que estruturas injustas de poder se perpetuem e se justifiquem.

Reafirmamos que uma educação escolar voltada para a cidadania transcende a contextualização dos saberes em prol da convivência e do diálogo entre pessoas que pensam de modo diferente e querem coisas diferentes. Portanto, busca a valorização da participação política, a diversidade sociocultural e a superação das desigualdades sociais e econômicas.

Na promoção do sucesso educativo6 as relações de poder e a participação política se articulam numa condição respeitosa de convivência e “ambas se comprometem na prática educativa com o sonho democrático de uma autoridade ciosa de seus limites em relação com uma liberdade zelosa igualmente de seus limites e de suas possibilidades”. (FREIRE, 2000, p.18). A educação é um processo aberto, dinâmico, onde as variáveis nunca podem ser totalmente percebidas. Por isso acreditamos que as propostas de promoção do sucesso educativo devem acompanhar esse processo de ser/fazer. O que só se dá com a inclusão progressiva da diversidade de oportunidades.

Este relato ousou debater a importância da democratização do acesso ao Ensino Superior, utilizando um recorte especial no contexto da Comunidade de Córrego de Pedras, Ipiaú - BA. A situação aqui é problemática, pois mais ainda em um contexto de vulnerabilidade social é que o acesso aos meios educacionais ganha relevância.

Os afrodescendentes são historicamente a população menos valorizada socialmente.

Carregam o estigma histórico da dominação, do analfabetismo, do subemprego e da pobreza extrema institucionalizada. Estes constituem a minoria majoritária em Córrego de Pedras.

6 Para Charlot (2000) Uma percepção que transcende a formalização quantitativa da educação, uma perspectiva integradora na qual o sujeito só é bem sucedido quando adquire as competências e habilidades em agir na sociedade, criando, refletindo intercriticamente.

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18 Preservam uma herança sociocultural imbricada com uma cultura de silêncio e resignação.

Assim, falta conscientização política.

Para intervir neste sistema, o sistema de cotas pode ser mais um instrumento para enfrentar, numa grande urgência, os produtos históricos de "um conjunto de técnicas de promoção da vida e da morte a partir de atributos que qualificam e distribuem os corpos em uma hierarquia que retira deles a possibilidade de reconhecimento como humano e que, portanto, devem ser eliminados e outros devem viver" (BENTO, 2018).

Assim, a prioridade educacional é preparar os indivíduos para superar os desafios socioeconômicos e sensibilizá-los da importância de uma boa formação educativa, incentivando-os a se qualificarem de forma inclusiva na sociedade contemporânea, o que só se dará efetivamente com mudanças na cultura e na participação social.

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19 REFERÊNCIAS

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Referências

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