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ARTIGO
ORIGINAL
Colonic
transit
in
children
and
adolescents
with
chronic
constipation
夽
,
夽夽
Rafael
L.M.L.
Carmo
a,
Raquel
P.M.
Oliveira
a,
Antonio
E.A.
Ribeiro
a,
Mariana
C.L.
Lima
b,
Bárbara
J.
Amorim
b,
Antonio
Fernando
Ribeiro
c,
Celso
D.
Ramos
b,
Joaquim
M.
Bustorff-Silva
de
Elizete
A.
Lomazi
c,∗aFaculdadedeCiênciasMédicas,UniversidadeEstadualdeCampinas(Unicamp),Campinas,SP,Brasil
bDepartamentodeRadiologia,FaculdadedeCiênciasMédicas,UniversidadeEstadualdeCampinas(Unicamp),Campinas,SP,
Brasil
cDepartamentodePediatria,FaculdadedeCiênciasMédicas,UniversidadeEstadualdeCampinas(Unicamp),Campinas,SP,Brasil
dDepartamentodeCirurgia,FaculdadedeCiênciasMédicas,UniversidadeEstadualdeCampinas(Unicamp),Campinas,SP,Brasil
Recebidoem9dejulhode2014;aceitoem22deoutubrode2014
KEYWORDS Children; Adolescents; Constipation; Diagnosis
Abstract
Objective: Theaimofthisstudywastoassessclinicalfeaturesandcolonictransitpatternsin
Brazilianchildrenwithrefractoryconstipation.
Methods: From2010to 2013,79 constipatedpatients received follow-upcareina tertiary
hospital.Ofthesepatients,28(aged8-14years)wererefractorytoconventionaltherapyand underwentasimplifiedvisualmethodofnuclearcolonictransitstudy,byingestionofaliquid mealcontaining9.25MBq/kgof99mTc-phytate.Abdominalstaticimagesweretakenimmediately
andattwo,six,24,30,and48hoursafteringestionforqualitativeanalysisoftheradiomarker progressionthroughthecolon.
Results: Twopatternsofcolonictransit werefound:slowcolonictransit(SCT,n=14),when
imagesat48hoursshowedalargerpartofthetracerremainedinproximalandtransversecolon, anddistalretention(DR,n=14),whenafter30hours,theradioisotopepassedthetransverse colonandwasretainedintherectosigmoidupto48hours. TheSCTandDR groupincluded, respectively,nineandtenmales;medianagesinthenuclearstudyof11and10years,p=0.207; mediandurationofconstipationofsevenandsixyears,p=0.599.Constipationappearingduring
DOIserefereaoartigo:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2014.10.007
夽 Comocitaresteartigo:Carmo RL, OliveiraRP,RibeiroAE,LimaMC, AmorimBJ,Ribeiro AF,etal. Colonictransit inchildrenand
adolescentswithchronicconstipation.JPediatr(RioJ).2015;91:386---91.
夽夽EstudofeitonoHospitaldeClínicas,FaculdadedeCiênciasMédicas,UniversidadeEstadualdeCampinas(Unicamp),Campinas,SP,
Brasil.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:elizete.apl@gmail.com(E.A.Lomazi).
firstyearage(p=0.04)andreportofsoftstools(p=0.02)weremorecommoninSCTpatients. PalpableabdominalfecalimpactionwasfoundonlyinDRgroup.Appendicostomyforantegrade continenceenemawassuccessfulin4/12(30%)ofSCTpatients(medianfollow-up:2.4years).
Conclusion: Nucleartransitstudydistinguishedtwocolonicdysmotilitypatternsandwasuseful
forguidingrefractorypatientstospecifictherapies.
©2015SociedadeBrasileiradePediatria.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrightsreserved.
PALAVRAS-CHAVE Crianc¸as;
Adolescentes; Constipac¸ão; Diagnóstico
Trânsitointestinalemcrianc¸aseadolescentescomconstipac¸ãocrônica
Resumo
Objetivo: Avaliar ascaracterísticas clínicas e ospadrões detrânsito intestinal em crianc¸as
brasileirascomconstipac¸ãorefratária.
Métodos: De2010a2013,79pacientesconstipadosreceberamacompanhamentoemum
hospi-talterciário.Dessespacientes,28(entre8-14anos)foramidentificadoscomoterapiarefratária aconvencionalepassaramporummétodo visualsimplificadodeestudonucleardotrânsito intestinal,comingestãodeumarefeic¸ãolíquidacontendo9,25MBq/Kgdefitato-99mTc.
Ima-gensestáticasabdominaisforamtiradasimediatamenteeemduas,seis,24,30e48horasapós aingestãoparaumaanálisequalitativadaprogressãodomarcadorradioativopelocólon.
Resultados: Foramencontradosdoispadrõesde trânsitointestinal: trânsito intestinallento
(STC,n=14),quandoasimagensde48horasmostraramquegrandepartedomarcador perma-neceunocólonproximaletransversal;eretenc¸ãodistal(DR,n=14),quando,após30horas, oradioisótopohaviapassadoocólontransversoeestavaretidonoretossigmoideaté48horas. Ogrupo STCeogrupo DRincluíram,respectivamente,novee 10meninos;idade médiano momentodoNTS: 11e10 anos,p=0,207; durac¸ãomédiadeconstipac¸ão: seteeseisanos, p=0,599.Sintomasdeconstipac¸ãoduranteoprimeiroanodeidade(p=0,04)erelatosdefezes moles(p=0,02)forammaiscomunsempacientescomSTC.Observou-seimpactac¸ãofecal abdo-minalpalpávelapenasnogrupoDR.Aapendicostomiaparaenemaanterógradoparacontinência foibem-sucedidaem4/12(305)pacientescomSTC(acompanhamentomédio:2,4anos).
Conclusão: Oestudonucleardotrânsitodiferencioudoispadrõesdedismotilidadeintestinale
foiútilparaorientarpacientesrefratáriosaterapiasespecíficas.
©2015SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todososdireitos reservados.
Introduc
¸ão
A constipac¸ão é uma reclamac¸ão comum em crianc¸as e a melhoria é vista na maioria dos pacientes que aderem ao tratamento recomendadopelas diretrizes consensuais, incluindolaxantesosmóticoseingestãodeumadietaricaem fibras.1Contudo,emcercade1/3dascrianc¸as,ossintomas
são mais intensos e há refratariedade a enemas regula-resedosesmáximas delaxantes.2 Aconstipac¸ãopodeser
graveosuficientepararesultarnainterrupc¸ãocompletade movimentosperistálticosespontâneos.3 Paraexplicar esse
quadro clínico, a principal hipótese é a de disfunc¸ão do trânsitointestinal.Estudossobreafunc¸ãomotoraintestinal em pacientes pediátricos com constipac¸ão refratária têm registradopadrõesdisfuncionaisdetrânsitointestinal.4
Evi-dênciasrecentessugeremqueaconstipac¸ãocrônicagrave em crianc¸as pode ser devida ao trânsito intestinal desa-celerado, foram descritos diferentes padrões de trânsito atrasado4-6eterapiasespecíficastêmsidoapresentadascom
sucesso.7
Existe uma falta de dados com relac¸ão à func¸ão dos estudossobreotrânsitointestinalnapráticaclínica, princi-palmentecomrelac¸ãoàsuareprodutibilidadeemdiferentes
populac¸ões, padronizac¸ão de procedimentos técnicos e objetivopara investigara constipac¸ão refratária. O obje-tivo deste estudo era agrupar pacientes com constipac¸ão refratáriasegundoopadrãodetrânsitointestinalcomouso deummétodo simplificado deestudo nuclear dotrânsito (NTS).
Estudo
de
caso
e
métodos
Desetembro de 2010 a dezembro de 2013, 79 pacientes diagnosticadoscom constipac¸ãofuncional, deacordocom oscritériosdeRomaIII,8 receberamcuidadosde
masculino(n=19)eadurac¸ãomedianadesintomasdemais decincoanos(variac¸ãoentredoise12anos).
Aconstipac¸ãorefratáriafoiconsideradaquandoo paci-ente apresentou constipac¸ão crônica grave resistente à terapia por pelo menos dois anos, manteve a retenc¸ão fecaleprecisoudeenemasdelimpezaregulares,apesarda adesãoàdosagem máximadelaxantes (quandoosefeitos osmóticossãointoleráveis).Osindivíduosem estudo rece-beram prescric¸ão de doses de hidróxido de magnésio ou lactuloseiguais ousuperioresa 2mL/kg/diaoude Macro-gol 3350 com eletrólitos a 1,4g/kg/dia, no momento em queapresentavamsintomasdelaxantesemexcesso,como cólica abdominal, flatulência, vômito e cólica menstrual, expressavamsinaisdeintolerânciaosmóticaeconsumiam18 gramasdefibras/dia(meiaxícaradeFibraMais®,Nestlé,SP, Brasil).Aadesãoàterapiaeascaracterísticasclínicasde sin-tomasdeconstipac¸ãoforamsistematicamenteavaliadaspor seismesesantesdoestudo dotrânsitointestinalpormeio decontato semanalportelefoneeconsulta clínicaacada 15dias.Seogastroenterologistapediátricoestivesseincerto quantoàocorrênciadeincontinênciafecalretentiva, uma radiografiasimplesdoabdômenerafeitaparaconfirmarou excluiraimpactac¸ãofecaleumescoredeBarr9eradefinido.
Aadesãoaotratamentofoiumcritériodeinclusão. Após o histórico de saúde e exame físico, eram fei-tosumamanometriaanorretale umenemadebáriopara excluiradoenc¸adeHirschsprungeoutrascausasorgânicas deconstipac¸ão.A manometriaanorretalfoifeitacom um sistemadeperfusãocontínuaeumsistemahidráulico pneu-máticodebaixacomplacênciadeperfusãocapilarcontínua (Arndorfer,Inc.,WI,EUA)interligadocomumsistema com-putadorizado com o uso de um software comercialmente disponível(Gastrosoft,PolygramLowerGI,versão6.4, Win-dows,SyneticsMedicalInc.,TX,EUAeDynapackMPX816, Dynamed,SP,Brasil)eumasondamanométricaaxialdeoito canais(DynamedPro-lifeTechnology,produtoshospitalares, SãoPaulo,SP,Brasil).
Oestudonucleardotrânsito(NTS)foifeitoduranteum períododeinternac¸ão dequatrodiasagendado exclusiva-mente para esse fim. O uso de laxantes foi interrompido cincodiasantesdainternac¸ãohospitalar.Adesimpactac¸ão retal foi feita por infusão retal de 20mL/Kg de soluc¸ão deglicerina 12%,comumadosagem máximade500mL.A manometriaanorretalfoifeitaapósadesimpactac¸ãoretal. Foramconsideradososvaloresnormaisdemanometria rela-tados por Kumar et al.10 Depois, o paciente permaneceu
12 horas sem medicac¸ão e manteve uma dieta e ativida-desnormais. Na manhãdo primeiro dia, foiingerida uma refeic¸ãolíquidacom9,25MBq/Kg(nomáximo370MBq)de fitato-99mTcdiluídoem20mLdeleite.Foramfeitasimagens estáticasdavistaanteriordoabdômenimediatamenteapós a ingestão do medicamento radioativo e depois de duas, seis,24,30 e48 horas. Imagensobtidasimediatamentee emduaseseishorasapósaingestãodomedicamentoforam usadaspara avaliaro trânsito doesvaziamento gástricoe dointestinodelgado.Imagensobtidasentreseise48horas permitiramaavaliac¸ãodotrânsitointestinal.
A análise do trânsito intestinal teve como base a avaliac¸ão visual qualitativa das imagens obtidas a cada intervalodetempoeconsiderandoaprogressãodo radioi-sótopo pelo cólon. Dois profissionais demedicina nuclear analisaram as imagens do NTS sem conhecimento das
informac¸ões clínicas. As imagens foram agrupadas por análise visual; a classificac¸ão foi feita de acordo com a aparênciadopadrãodeatividadenocólonnasseis,24,30 e48horas.Doistiposdepadrõesmotoresintestinaisforam encontrados: o primeiro denominado ‘‘trânsito intestinal lento’’,emqueomarcadornomeioprincipalpermaneceu nocólonproximaletransversonosexamesde48horas.O segundopadrãofoiclassificadocomo‘‘trânsitoderetenc¸ão distal’’, em que o radioisótopo havia passado o cólon transverso em 30horas apóso estudo,porém persistiuna regiãoretossigmoideaté48horas.
Aidade, a durac¸ãodaconstipac¸ão, o tempode acom-panhamento antes do estudo nuclear e as características clínicasnosgruposforamcomparadospelotestede Mann--Whitneyeotestequi-quadradodePearsonfoiusadopara comparar o teste de características clínicas. O valor de p<0,05foiconsideradosignificativo.
Esteprojetodepesquisa foiapresentadoao Comitêde ÉticaemPesquisadaFaculdadedeMedicinadaUnicampem 16deabrilde2010efoiaprovadopeloprocesso322/2010, CAAEnúmero02450146000-10,em27deabrilde2010.Um termodeconsentimentoinformadoassinadopelospacientes eresponsáveislegaisfoinecessárioparaatenderacritérios deinclusãonoestudo.
Resultados
O NTS apresentou dois padrões de disfunc¸ão motora: retenc¸ãodeisótoposnocólonproximal(grupoSTC,n=14) ounaregiãoretossigmoide(grupoDR,n=14).Osdados clí-nicossãoapresentadosnatabela1.OgrupoSTCeogrupo DR apresentaram asseguintes características, respectiva-mente, nove e 10 meninos;idade média nomomento do NTS:11e10anos,p=0,207,Mann-Whitney;durac¸ãomédia de constipac¸ão de acordo com dados relatados no histó-rico de saúde:sete e seis anos,p=0,599, Mann-Whitney; edurac¸ãomédiadeacompanhamentoemservic¸o especiali-zadoatéafeituradoestudonuclear:3,5e2,2anos,p=0,02, Mann-Whitney.Sintomasdeconstipac¸ãoduranteoprimeiro anodeidade, p=0,04,e relatosdefezes moles, p=0,02, foram mais comuns em pacientes com STC. Observou-se impactac¸ãofecalabdominalpalpávelapenasnogrupoDR. Oestudonucleardetrânsitointestinalfoibemtoleradoe nenhumeventoadversofoiobservado.Doisespecialistasem medicina nuclear analisaram asimagens, separadamente. A confiabilidade entre observadores com coeficiente de Kappafoide0,727,p<0,001.Nafigura1sãoapresentadas fotografias dedoispadrões de trânsitointestinal(trânsito lentoeretenc¸ãodistal).
Antes do NTS,todos os indivíduos foram submetidos a manometriaanorretal.Oreflexoinibidorretoanalfoi iden-tificado em todos os pacientes; outros parâmetros foram incapazes de diferenciar grupos. Pacientes em ambos os gruposrelataramhipossensibilidadeduranteainsuflac¸ãodo balãocomvolumesde20a60mLnoretoe amaiorparte dascrianc¸asrelatouqueainsuflac¸ãodobalãofoi impercep-tível.Nãoexistemdiferenc¸asentregrupos considerandoo comprimentodoesfíncteranal,máximapressãoderepouso emáximapressãodecompressão.
Tabela 1 Comparac¸ão das características clínicas em 28 pacientes administrados em um ambulatório especi-alizado com constipac¸ão refratária e dois padrões de cintilografia de trânsito intestinal: trânsito lento (STC) e retenc¸ãodistal(DR)
Trânsito intestinallento (n=14)
Retenc¸ão fistal (n=14)
valor dep
Idade(anos) Média/Mediana
10,4/11 9,5/10 0,207a
Durac¸ão medianada constipac¸ão (anos)
3,2 6 0,599a
Atrasoda primeira passagem domecônio
9/14 5/14 0,24b
Constipac¸ão antesdeum anodeidade
12/14 6/14 0,04b
Frequênciade fezespor semana
2c 2d NR
Fezesmoles 9 2 0,02b
Incontinência resistente
11 14 0,186b
Impactac¸ão retal palpável
0 7 NR
Reclamac¸ões dotrato urinário
3 8 0,07b
Períodode acompanha-mento(anos) Mediana
3,5 2,1 0,02a
NR,nãorealizado.
a TestedeMann-Whitney. b Testequi-quadradodePearson. c n=6.
d n=2.
Durante o estudo, 64 radiografias simples do abdômen foramtiradasparainvestigaraimpactac¸ãofecal.Oescore deBarrfoicalculado paraavaliaragravidadedaretenc¸ão fecal.Asradiografiasforamanalisadasretrospectivamente por doisradiologistas pediátricose foram correlacionadas com relatórios nucleares de trânsito intestinal. O acordo entreparesdeanalistasfoiapuradopelocoeficienteKappae foibomparaoescoredeBar:0,59.Nãohouverelac¸ãoentre gravidadedaretenc¸ãofecaleimagensnucleares,p=0,08, testequi-quadrado.
Doze pacientes com STC foram submetidos a apendi-costomia. A incontinência foi impedida em todos eles e quatro desses pacientes recuperaram o movimento peris-tálticoespontâneosemousodelaxantesapósumperíodo deacompanhamentomediano de2,4anos(mín.: 1,9ano; máx.:2,6anos);osoutroscontinuaramprecisandode osto-miaparaenemasdelimpezaanterógrados,comperíodode
S
R
S
0h
A
B
R
0h
2h 6h
24h 30h 48h
24h 30h 48h
2h 6h
Figura1 Imagens dacintilografia do trânsitointestinal em umpacientecompadrãodemovimentodefinidocomotrânsito intestinallento(A)eretenc¸ãodistal(B).(A)Oprogressodo radi-oisótopofoiobservadoporumperíodode48horas;estômago (S,0h),intestinodelgado(2h),cecoecólonascendente(6h). Aimagemde24horasmostraquequasetodoomaterial radioa-tivoestádistribuídoportodoocólon.Opadrãodetrânsitolento éconfirmadonasimagensseguintes(30he48h),comprogresso mínimodomaterialparaoreto(R).(B)Trânsitonuclear intes-tinalcompadrãoderetenc¸ãonaregiãoretossigmoide.Apósa administrac¸ãodomaterial,oestômago(S),ointestinodelgadoe ocólonascendenteestãorepresentadossequencialmenteem0, 2e6horas,respectivamente.Oprogressodoradioisótopopelo cólonéclaramenteobservadonasimagensde24e30horas.Em 48horas,omaterialéretidonoreto(R),comquasenenhuma radioatividadenocólonrestante.
acompanhamentomediano:1,5 ano(mín.:1,3ano;máx.: 4,9anos).Durante omesmo períododeacompanhamento nenhumpacientedeDRrecuperouosmovimentos peristál-ticosespontâneossemlavagem.
Discussão
dos sintomas. Até agora, uma definic¸ão consensual de constipac¸ão refratária não foi estabelecida em diretri-zes internacionais;essa é uma dasapresentac¸ões clínicas deconstipac¸ão maisamplamente encontradasem centros pediátricosterciários.
Considerandoqueadisfunc¸ãodotrânsitointestinalestá presenteem60%dascrianc¸as comconstipac¸ãorefratária4
e que terapias específicas foram propostas para padrões dedisfunc¸õesintestinais,11seriaútildiferenciá-las
clinica-mente.Umestudoretrospectivocorrelacionouossintomas deconstipac¸ão com oshoráriosde trânsitopara determi-nar diferenc¸as clínicas entre STC e retenc¸ão distal e os autoresconcluíram queissonãoerapossívelcombaseem sintomas.12 Poroutrolado,apesardeafrequênciadecada
sintomanãosersuficienteparadefinirumpadrãode trân-sito,algumasqueixassãoencontradasmaiscomumenteem pacientesdeSTC:fezesmolesapesardotrânsitointestinal infrequente,eliminac¸ãotardiademecônio,constipac¸ãode iníciomuito precoce, geralmente durante o primeiro ano devida,e ausênciademassa fecalpalpável nocólon dis-talenoretosigmoide.11-13 Ocenárioclínicodesses grupos
examinadosnãopermitiudistinc¸ão depadrõesintestinais, apesarderelatosdefezesamolecidasedeinícioprecocede constipac¸ãoteremsidomaisfrequentesnoSTC.Osrelatos sobreafrequênciadasfezesnessesgruposforam conside-radosumsintomafracoparafinsdediferenciac¸ão,jáque amaioriadospacientestinhaenemasdelimpezaprescritos regularmente.
Também não conseguimos mostrar associac¸ão entre retenc¸ãofecalavaliadapeloescoredeBarrepadrão dife-rentedeestudosnucleares.Umestudo recenteinvestigou umarelac¸ão entre o escore de Barr e tempode trânsito intestinaltotalcom marcadoresradiopacosem crianc¸as e nenhumarelac¸ãofoiconstatada.14
A motilidade intestinal NTS feita em indivíduos saudáveis15 demonstrou que as partes proximais e
dis-tais do cólon apresentam func¸ões motoras diferentes. O radioisótopo mantém-se no cólon ascendente por até 12 horas. Após 24 horas, a radioatividade é igualmente distribuídaentreo cólonascendente,transverso eaparte distal do intestino. Após 48 horas, grande parte do mar-cador já tinha sido evacuada. O cólon transverso parece funcionar como um reservatório, ao passo que o cólon descendentefuncionacomoumcondutor.Camillerie Zins-meisterconcluíram que a avaliac¸ãodo tempodetrânsito dosegmentointestinalematé24horasapósoexametem umasensibilidade elevada paraa detecc¸ão de disfunc¸ões motorasintestinais,jáqueataxadeesvaziamentodocólon proximal é significativamente diferente entre indivíduos saudáveiseconstipados.16
Estudos sobre a func¸ão motora intestinal em pacien-tespediátricos com constipac¸ão refratária têmregistrado padrões normais ou disfuncionais de trânsito intestinal. Yik et al.4 identificaram pacientes com trânsito
intesti-nal normal (sem evidência de dismotilidade intestinal), retenc¸ão anorretal, trânsito intestinal proximal rápido (trânsito rápido pelo cólon proximal nas seis e 24 horas) e trânsito intestinal proximal lento. Um estudo obser-vouumapredominânciadepacientescomtrânsitolento.17
Outroestudomostraummaiorpercentualdecrianc¸ascom retenc¸ãodistal.18Essavariabilidadepodeestarrelacionada
com diferenc¸as nos critérios para enviar pacientes para
o exame (relatos iniciais enviaram apenas pacientes sem retenc¸ãofecal),19atécnicaparaafeituradoestudonuclear,
que envolve a preparac¸ãodo paciente, o tipoe modo de ingestão derefeic¸ãoe,finalmente,adiferenc¸asnas fases deobtenc¸ãodeimagens.Noestudoatual,prescrevemosum enemadelimpezaparaaimpactac¸ãofecalantesdoexame nuclear; essa decisão tevecomo base o entendimento de que umamassafecal rígida poderiainterferirnosestudos dotrânsito gastrointestinal,umavezque ascrianc¸as com massa fecal rígida normalmente evitam a defecac¸ão por sentirdoroudesconforto.20,21Outrospesquisadoresnão
fize-ramadesimpactac¸ãoretalantesdoexame.Osestudosem adultosconstipadosnãoconfirmaramumarelac¸ãoentrea evacuac¸ãoretaleotempodotrânsitointestinal.22
Oestudo nuclear dotrânsito intestinalnão é feitoem centrosdesaúdebrasileiros.Dessaforma,nossosresultados nãopodemrepresentar umpadrãogeral emcrianc¸as bra-sileiras, e, certamente,a escolha decrianc¸as paraserem enviadasàcintilografiapodeinterferirnospadrões encon-tradosnesteestudo.Foramestudadosapenasoscasosmais gravesnoacompanhamento.Énecessáriaumadiretriz clí-nicaconsensual.
Ospadrõesdetrânsitointestinalaquiencontradosforam visualmenteidentificados.Areprodutibilidadedaavaliac¸ão visual de padrões de trânsito intestinal foi previamente demonstrada,bemcomoaselevadastaxasdoacordoentre observadores. Aavaliac¸ãovisual deimagens nuclearesfoi comparadacomaanálisedocentrogeométrico.23Ainspec¸ão
visualfoiconsideradaadequadaparaavalorizac¸ãogeraldo padrãodotrânsito,aopassoqueaanálisedocentro geomé-trico indica o localdemaior intensidadedoradioisótopo, porémnãopermiteumavisãoclaradotrânsito,dasfalhase dosmovimentosretropulsivosquepodemserapuradospela técnicavisual.23Napráticaclínica,aavaliac¸ãovisualpode
seradequadanoagrupamentodepacientes.Comousuários dessa metodologia nuclear, tentamos propor uma técnica mais práticae de baixo custo para o uso diáriona maio-riadoscentroscomservic¸odemedicinanuclear.Camilleri eZinsmeister16descreveramqueotrânsitointestinallento
podeserdiagnosticado24horasapósaingestãodo radioi-sótopo.Naprática,asimagensapuradasentre24e48horas tambémforamconsideradasomelhoríndicedediagnóstico emensaiosclínicos.24
Diferentesterapiasforamrecomendadasapacientescom STC e DR. Embora pacientes com retenc¸ão distal sejam orientados amanter o uso de laxantes oraise aingestão complementar de fibra dietética, as propostas terapêuti-cas para pacientes de trânsito intestinal lento incluem, principalmente,o tratamentocirúrgico,masnormalmente por meio da apendicostomia para a feitura de enemas anterógrados e uma nova técnica com estimulac¸ão elé-tricatranscutânea.3,7,25,26Tratamosumpequenonúmerode
foramconsideradosantesdotratamentocirúrgicona maio-riadospacientes.27 King etal.,contudo,descobriramque
osenemasanterógradosparacontinênciativeramresultados positivosem 34(81%)de42crianc¸ascomSTC radiologica-mentecomprovado.28
Concluindo, este estudo apresentou resultados seme-lhantes àqueles feitos em outras populac¸ões pediátricas, informac¸ão relevante para sua eventual aplicac¸ão em crianc¸asbrasileiras.29 Essesresultadoscorroboramopapel
possivelmenterelevantedo NTScomo guiana prática clí-nicadegestãodepacientesconstipadosrefratáriosàterapia convencional.
Financiamento
FundodeApoioaoEnsino,àPesquisaeàExtensão(Faepex) daUnicamp;númerodesolicitac¸ão:149/09.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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