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Avaliação e Projeto Pedagógico: uma relação amorosa na prática da educação de jovens e adultos

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Academic year: 2017

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Avaliação e Projeto Pedagógico: uma relação amorosa na

prática da educação de jovens e adultos

Maria Peregrina de Fátima Rotta Furlanetti

Educação: teoria e prática, Rio Claro, SP, Brasil - eISSN: 1981-8106 Está licenciada sob Licença Creative Commons

Resumo

Este artigo instiga uma reflexão sobre a avaliação no sentido de conhecer o educando para qualificar suas atitudes, habilidades e conhecimentos tendo como objetivos a tomada de decisões sobre o que, como e quando re-planejar e planejar as ações pedagógicas. Avaliar com a disposição de acolher o outro no seu ser e no seu modo de ser, como o outro está para a partir daí, decidir o que fazer. Refletir sobre as possibilidades de atividades que emergem das atividades do dia a dia buscando através do diálogo os profundos sentidos da linguagem-pensamento e realidade, cuja transformação trará novas necessidades de expressão. O Projeto Pedagógico se inicia quando nos permitimos dialogar com a comunidade para conhecê-la, o nosso plano de aula terá a proposta dialogada e refletida com os educandos fazendo emergir o tema gerador e a sua problematização. Os conteúdos curriculares serão os conhecimentos sócio/culturais desenvolvidos pela humanidade por necessidades históricas.

Palavras-chave: Avaliação. Projeto pedagógico. Educação de jovens e adultos.

Amorosidade.

Pedagogic Project and Evaluation: considering affection on

youth and adult education

Abstract

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knowledge about communitarian characteristics and aims, therefore the class schedule and theme and matters of the class survey may emerge from the dialogs held among educators and students. The curricular contents will be based on the sociocultural knowledge developed by humanity according to it´s historical needs.

Key words: Evaluation. Pedagogic project. Youth and adult education. Affection.

Avaliação amorosa

Para compreender a avaliação na EJA buscamos refletir a partir da obra de Paulo Freire: Pedagogia da Indignação, Por uma Pedagogia da Pergunta e a Pedagogia da Tolerância.

Acreditamos assim como Paulo Freire que existe amorosidade nas rela-ções entre homens e mulheres a partir do momento em que nos tornamos capa-zes de amar o mundo, onde não cabe a ganância da posse e do lucro e sim uma política, não perdendo o rigor da ciência, da humanização, das relações afetuo-sas que nos levam a conhecer o outro e saber de suas dúvidas e acolhendo-o como está, como pensa.

Ao propor as primeiras atividades para os educandos estamos iniciando a avaliação, uma avaliação diagnóstica. Aquela que acompanha todo o processo e o avaliador que está disponível a olhar seu educando tal qual ele está, seus saberes, sua vida e suas experiências, conhecer suas hipóteses de ser leitor e escritor.

Um avaliador atento aos detalhes da fala, das atitudes de seu educando. Avaliar com disposição de acolher o outro no seu ser e no seu modo de ser, como o outro está, para a partir daí decidir o que fazer. Olhar o educando não com um pré-julgamento, um ataque ou uma defesa, porque este sim é um ato de exclu-são. Um avaliador que é construído a partir do momento em que decide acolher: ouvir e ver como um ato de inclusão, como um ato de amor.

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lado a lado, constantemente aberto às críticas e ao mesmo tempo mantendo sempre viva a curiosidade e principalmente disposto retificar-se, em função dos próprios conceitos e das futuras práticas.

Para Freire (1982), o analfabetismo é uma condição à qual foi negado o direito de ler, onde se vive numa cultura cuja comunicação e memória são auditi-vas, dessa forma a palavra escrita não tem significação, ou então quando o anal-fabeto participa de uma cultura letrada, não teve a oportunidade de alfabetizar-se. È necessário que o alfabetizando problematize a sua própria condição de não saber ler para que supere a visão focalista da realidade na composição do todo. Problematizar o seu mundo, insiste o autor, é fazer uma análise de sua prática que os farão capazes de atuar cada vez mais seguramente no mundo.

Freire nos dá os preceitos necessários para que compreendamos as relações dos alfabetizandos com o mundo e com os outros:

A – que os freios a seus direitos de “dizer sua palavra” estão em relação direta com a não-apropriação por eles dos produtos de seu trabalho.

B – que o fato de trabalhar lhe proporciona um certo conhecimento, não importa se são analfabetos.

C – que, finalmente, entre os seres humanos não há absolutização da ignorância nem do saber. Ninguém sabe tudo; ninguém ignora tudo.

A questão da avaliação para o educador que compreende o educando porque sabe que quando se toma distanciamento da ação realizada ou a ação que está realizando-se, todos os envolvidos a examinam, deixando de terem uma ação de fiscalização para a de problematização. Daí, ser necessário que se con-vençam, ambos, educador e educando, humildemente, que têm muito que apren-der.

O objetivo é assegurar o domínio da linguagem oral e escrita, assim, o aprendizado da leitura e da escrita só terá significado real quando não for através da repetição mecânica das sílabas, mas quando o educando perceber o profundo sentido da linguagem-pensamento e realidade cuja transformação trará novas necessidades de expressão.

Queremos enfatizar que para problematizar situações é necessário que os textos a serem trabalhados sejam em si um desafio e como tal sejam toma-dos tanto pelo educador como pelos educantoma-dos para que dialogicamente, pene-trem em sua compreensão. (Freire,1982,p.25)

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Quando existe o silêncio, não existe a compreensão da realidade, por isso a importância de fazermos desafios que nos levem às perguntas. Perguntas são dúvidas e elas existem a partir do momento em que percebemos que não sabemos, mas que temos o espaço do diálogo, o espaço da voz.

Freire (1985) declara que não há perguntas bobas e nem respostas defi-nitivas. Um educador que não castra a curiosidade do educando, que se insere no movimento interno do ato de conhecer, jamais desrespeita pergunta alguma. Por-que, mesmo quando a pergunta para ele possa parecer ingênua, mal formulada, nem sempre o é para quem a fez. O papel do educador é ajudar a refazer a pergunta, com o que o educando aprende, fazendo a melhor pergunta. A função do educador é monitorar a fala, indagando sobre a questão e conduzindo a fala para uma reflexão da pergunta.

Faundez (1985) confirma e declara que é fundamental que o educador valorize em toda a dimensão o que constitui a linguagem, ou as linguagens, que são linguagens de perguntas antes de serem linguagem de respostas. Porque a linguagem é gestual, corporal, de movimentos de olhos, de movimento de cora-ção e não podemos negar, não ouvindo ou valorizando todas as linguagens, pois estaríamos eliminando grande parte da linguagem humana.

Para ambos os autores citados, são fundamentais que o ato de perguntar não seja um jogo intelectualista, mas que ao perguntar sobre um fato, o educador não dê explicações descritivas do fato, mas a relação dinâmica e forte entre palavra e ação, ou melhor, palavra-ação-reflexão, assim falar, agir e conhecer restabeleceria a praxis, e também a curiosidade que leva a preocupação com um determinado tema se concretize em perguntas essenciais que são os fios condu-tores de todo trabalho.

Quanto mais o educando escuta seus educadores menos pensa, pois o falar, fazer perguntas, é um direito democrático, e sem a voz dos educandos se reproduz a sociedade autoritária e elitista, e isto constitui a negação da própria educação, do processo educativo.

Freire (1982), completa a nossa reflexão quando afirma que é fundamen-tal que o educador-político e o político educador se tornem capazes de ir apren-dendo a juntar, na análise do processo em que se acham, a sua competência científica e técnica, forjada ao longo de sua experiência intelectual, à sensibilida-de do concreto.

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efetivar a apropriação através das atividades planejadas e replanejadas, basea-das nas teorias criticamente pensabasea-das, sabendo-se que o ato de qualificar não é neutro, é um ato político, porque depende de nossas teorias e convicções que avaliamos.

O educador apropriando-se do conhecimento do senso comum, desse conhecimento do não-poder que é o do não-saber, enriquece seu conhecimento para dar sentido a uma transformação da vida e da sociedade, dando união entre a teoria e a prática numa compreensão coerente e unitária do mundo, compreen-dendo o conhecimento do outro o educador estará reconhecendo no outro, aquele que é o não-Eu, o senso comum que vai transformar no conhecimento científico. Nesta postura o conhecimento popular (senso comum) é valorizado como conhecimento do outro, que deverá levantar questionamentos-pergunta para o aprofundamento, na rigorosidade científica. Partindo da realidade utilizando os conceitos que compreenderá a realidade para então transformá-la. Esta realidade do não-saber do não-poder, do não-EU, sendo transformada em saber, poder e Eu.

A avaliação então se dará em todo o processo, porque o educador conhe-cendo o outro e sabendo ouvir suas questões-pergunta estará buscando junto os caminhos do conhecimento científico.

Avalio em função de quê?

Utilizo os instrumentos de avaliação para coerção, submissão ou para coletar dados sobre os níveis de desenvolvimento de meus educandos?

Função de transformar a visão de mundo ou de minha realidade para compreendê-la em sua concretude.

Estamos pensando no ato de avaliar – como instrumentos de coleta de dados - como uma ação que implica uma tomada de posição - transformar a realidade das hipóteses dos educandos - através de decisões em o que fazer - o próximo passo para que os educandos superem o não saber. A avaliação é uma ação que, ao mesmo tempo em que não se completou, se completará na próxima ação pedagógica (atividade).

Assim, a decisão do que fazer indica caminhos mais adequados e satisfatórios para uma ação que está em processo, uma ação que foi planejada dentro de uma teoria que dará o norte ou sul – como comentava Paulo Freire, para a prática educativa. O planejamento de ensino é o que faz a mediação entre a teoria e a prática e sem ele não há avaliação escolar.

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acolhedor e construtivo. Desse modo a avaliação é uma ação auxiliar para que os objetivos educacionais se humanizem e se humanizando conquistamos uma vida melhor, mais rica e mais plena para que tenham caminhos mais acertados e que possamos tornar as atividades escolares mais democráticas e os educandos e educadores mais construtores de sua própria cidadania, que atinjam o nível de emancipação.

O ato de avaliar não é um diagnóstico onde se procura o mal, a doença, o que está errado, mas uma ação de acolhimento de re-conhecer o que não sabemos para enfim buscar o conhecimento necessário que nos dará uma condi-ção de vida melhor.

Projeto pedagógico dialógico : o planejamento

Realizar o planejamento das atividades é o momento de reflexão e diálo-go entre todos os participantes do ato pedagógico: equipe escolar – coordenado-res, diretor, educadocoordenado-res, funcionários pais e educandos.

Encontrar subsídios para o planejamento é pesquisar a comunidade a qual está inserida a sala de aula ou a escola. Portanto, não é só conhecer seus futuros educandos, mas, compreender sua forma de vida e suas atitudes diante da realidade a qual estão inseridos.

Para tanto, temos que compreender a cultura dessas pessoas e isto é um desafio. Compreendemos cultura como,

...natureza transformada e significada pelo homem, deve ser produzida de modo a “garantir a um nível cada vez mais integral a realização do ser no mundo” Portanto, pensar a cultura importa conceber a sua ética. (Brandão, 2002, p.37)

Se mencionamos comunidade precisamos refletir sobre ela e CHAUÍ (2006, p.131) enfatiza que comunidade é muito diferente de sociedade. Porque comuni-dade é percebida por seus membros como algo natural, porque possui o senti-mento de uma unidade de destino. Enquanto sociedade significa isolasenti-mento, fragmentação onde indivíduos estão separados uns dos outro por seus próprios interesses e desejos.

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música, etc. como:

..trabalho da inteligência, da sensibilidade, da imaginação, da reflexão, da experiência e do debate, e como o trabalho no interior do tempo, é pensa-la como ‘ instituição social’, portanto determinada pelas condições materiais de sua realização.

Nesta perspectiva a pedagogia para a EJA tem como pressuposto as próprias pessoas que moram e trabalham numa determinada comunidade, levan-do em conta a sua cultura, o seu molevan-do de viver: sua ética para que não se reproduza um modelo escolar com erros e as suas desigualdades sociais.

É imprescindível que o poder municipal e as populações locais se mobi-lizem para a construção de escolas ou salas de aulas para a população jovem e adulta, tanto no campo como na cidade. A escola é de extrema importância para permitir o acesso das populações ao ensino fundamental e ao ensino médio. O que não se pode permitir é que se instalem mais escolas que contribuem para o falecimento da cultura camponesa, indígena, ribeirinha, quilombolas e ainda agra-vando o processo de exclusão de mulheres e homens.

Garantir o acesso à escola é criar a base para um outro padrão de desen-volvimento, mais sustentável em todos os sentidos, e podemos garantir esse acesso, compreendendo as relações da cultura para realizar um planejamento para uma determinada comunidade.

A pedagogia tem que ter como ponto de partida a própria prática das pessoas da comunidade, seus objetivos, métodos, conteúdos; acreditamos, na necessidade de ter como princípio a vida das pessoas, promovendo a autonomia para uma atividade solidária e sustentável. A educação deve fazer parte da exis-tência desta população, portanto, deve ser criada e condicionada pela forma como elas vivem.

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Se o planejamento não se basear e vivenciar uma pedagogia autônoma ele se tornará desnecessário, e, isto, os jovens e adultos reconhecem e negando com a sua não presença na sala de aula percebem o não compromisso com a construção de seu próprio saber.

Buscamos através do dialogo compreender quem são nossos educandos para transformar a sala de aula em um ambiente adequado e estimulador a re-elaboração e produção de conhecimentos contrapondo os ensinos autoritários, tradicionais, onde o conhecimento pronto e acabado não permite diálogo. Preci-samos tomar cuidado para que a educação não se torne um ato de depositar (educação bancária), mas que o educador numa relação horizontal se torne si-multaneamente, educador e educando.

O Projeto Pedagógico se inicia quando nos permitimos dialogar com a comunidade para conhecê-la, o nosso plano de aula terá a proposta que os estu-dantes estão necessitando. Os conteúdos curriculares serão os conhecimentos sócio/culturais desenvolvidos pela humanidade por necessidades históricas.

FURTER (1984, p.19) reconhece que o planejamento é uma forma de organizar, de prever o tempo, e pelo diálogo e através da reflexão torná-lo coeren-te humano e sensato.

FURTER (1984, p.14) nos alerta de que

...planificar implica, forçosamente, uma reflexão sistemática sobre as dimensões temporais: a partir dum passado que deve ser superado, dum presente a conformar à idéia que temos do futuro, dum futuro que nos parece mais ou menos previsível.

Assim, propomos um Projeto Pedagógico que leve em conta : 1- o diálogo;

2- a interdisciplinaridade; 3- a problematização; 4- o tema gerador

O Diálogo, enquanto momentos de com - partilhar experiências e de re – construção do cotidiano das histórias que se entrelaçam na constituição de um grupo que tem sua cultura criada em suas histórias. Concordamos com Freire (2005,p.95) quando explicita ,

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Quando FURTER (1984) destaca que a liberdade se manifesta por um diálogo firme e amplo entre os indivíduos e os grupos, e, o planejamento suscita e promove as condições indispensáveis à pratica dessa liberdade, nos esclarece que não pode haver planejamento de ações pedagógicas sem a compreensão do outro, sem a sua inteligência que facilitará a realização das práticas e das refle-xões pedagógicas.

Refletir é olhar a própria ação de uma maneira particular e à distância. Refletir é distinguir-me para melhor tornar-me sujeito do que faço.( p.28 e 29)

Lembramos de Paulo Freire quando nos alerta de que sem o diálogo não há comunicação, sem comunicação não há verdadeira educação. A que, operan-do a superação da contradição entre educaoperan-dores-educanoperan-dos, se instaura a situa-ção de busca do conhecimento, a qual educadores-educandos refletem o seu ato de compreensão sobre o objeto, pois é o conhecimento que os mediatiza.

Os educadores-educandos valorizam e respeitam as suas vivências, seus conhecimentos concretos relacionando-os ao assunto a ser estudado partindo de suas hipóteses discutindo e refletindo para compreender a realidade de forma rigorosa. Quando o educador ouve o seu educando, suas experiências de vida, poderá caminhar com eles, monitorando a fala, monitorando o discurso para que se chegue a uma compreensão crítica e científica da realidade, ao mesmo tempo em que os alunos aprendem uma linguagem mais formal e mais científica. Enfim, para Freire ( 2006, 43),

E ser dialógico, para o humanismo verdadeiro, não é dizer-se descompromissadamente dialógico; é vivenciar o diálogo. Ser dialógico é empenhar-se na transformação constante da realidade. Esta é a razão pela qual alguns homens sejam transformados em ‘seres para outro’ por homens que são falsos ‘seres para si’. É que o diálogo não pode travar-se numa relação antagônica.

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parte integral da humanização sem gavetas para armazenar separadamente cada componente disciplinar.

A problematização como prática social que incentiva os educandos a levantar problemas, e a não aceitar a análise da realidade com um só ponto de vista, questionando determinados fatos, situações, fenômenos e idéias partindo de determinadas alternativas que levem à compreensão do problema em si, de suas implicações e de caminhos para a solução. (LOPES, 1996).

Problematizar é estar caminhando junto com os alunos na busca de re-solver problemas e rere-solver problemas é identificar, classificar, analisar, sintetizar e buscar soluções alternativas, é o educando e educador desenvolvendo habilida-des de escritor, leitor e pesquisador, re-elaborando e produzindo conhecimentos. Em Pedagogia do Oprimido, FREIRE (p.80) destaca o educador problematizador que re-faz constantemente, seu ato cognoscente, na cognosticidade dos educandos. Assim, explica que em lugar dos educandos se-rem meros receptáculos serão investigadores críticos, em diálogo constante com o educador, que também é, um investigador critico.

A educação problematizadora desvela a diversidade das visões de mun-do, portanto o que não era percebido se destaca assumindo o caráter de proble-mas e de desafios e passa a ser “admirado” numa relação dinâmica e simultânea de pensar e atuar no mundo, não dicotomizando a teoria e a prática, a ação e a reflexão, o pensar da ação. Desvela e revela um ser humano que se humaniza, pois se entende como um ser “inconcluso, consciente de sua inconclusão, e seu permanente movimento de busca do SER MAIS” (FREIRE, P. 2006)

Para Freire (2005, p.108), o diálogo começa na busca do conteúdo programático, esta busca precisa ser no coletivo (educadores – educandos) quando os conteúdos programáticos deixam de ser uma doação e passa a ser uma “de-volução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada” (p.97).

Acrescenta ainda que :

Estes temas se chamam geradores porque, qualquer que seja a natureza de sua compreensão, como a ação por eles provocada, contêm sem si a possibilidade de desdobrar-se em outros tantos temas que, por sua vez, provocam novas tarefas que devem ser cumpridas.

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Gerador de novas discussões, diálogos, estudos e sintetiza com textos elabora-dos e re-elaboraelabora-dos.

FREIRE (2006) destaca que é importante enfatizar que o tema gerador se encontra nas relações homem-mundo e que investigar o tema gerador é investigar o pensar dos homens referido à realidade, o seu atuar sobre a realidade e isto é a sua práxis (ação/reflexão – teoria/prática), somente desta forma as pessoas po-derão se apropriar de sua realidade para então transformá-la através do aprofundamento de sua tomada de consciência assumindo uma postura ativa na investigação de seu tema.

O Tema Gerador é que desencadeará toda a metodologia e os conteúdos que serão desenvolvidos, para isso, propomos um diagrama que facilitará a exe-cução do Projeto Pedagógico. Não nos esquecendo que os temas existem nos homens/educandos, mulheres/educandas e nas suas relações com o mundo, com sua cultura, portanto são fatos concretos.

1 - A aula expositiva é uma técnica tradicional que pode ser transformada num momento emancipatório com o diálogo; quando ouvimos os nossos educandos nos propomos a uma condição de “escuta”, e, para ouvi-los, os educandos falam e para falar eles se expoem e se expondo conhecemos suas experiências sua sabedoria e principalmente suas dúvidas.

Prestemos atenção nas dúvidas, é pelas dúvidas que sabemos o que nosso educando não sabe. Um diálogo através da aula expositiva estimulando o

 

Problematização Estudo

de Texto 

Aula expositiva

dialógica

Texto Coletivo

Instrumentalização

Estudo

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pensamento crítico do aluno, ouvindo-o para reconhecer suas hipóteses, suas dúvidas e suas expectativas. A aula expositiva dialógica (Lopes 1996), estabelece o intercâmbio entre os conhecimentos e experiências do educador e educando considerando esse diálogo como uma busca recíproca do saber.

Finalmente, não há diálogo verdadeiro senão há nos seus sujeitos um pensar verdadeiro. Pensar crítico. Pensar que, não aceitando a dicotomia mundo-homens, reconhece entre eles uma inquebrável solidariedade. (Freire, 2005:95)

Na aula dialógica o professor valoriza e respeita a vivência de seus educandos, de seus conhecimentos concretos relacionando-os ao assunto a ser estudado partindo das hipóteses discutindo e refletindo para compreender a rea-lidade de forma rigorosa.

2- Problematizando a fala do educando estaremos permitindo que sua curiosida-de o leve a percepção crítica da realidacuriosida-de. Portanto, estaremos eliminando a passividade do aluno, a memorização e o verbalismo do professor e adotando uma prática pedagógica que busca os conhecimentos e conteúdos necessários para solucionar os problemas colocados pelo educador e pelo educando. 3- O estudo do texto é outra técnica de ensino que nos dá vantagens, pois envolve o aluno à medida que o educador sugere pontos de reflexão tornando a leitura do texto um ato dinâmico e produtivo onde o aluno aprende a ser um leitor que questiona, confronta, levanta hipóteses na busca de significados e compreende que o texto é um diálogo com o autor e que tem um ponto de vista, e que o próprio texto pode oferecer múltiplos sentidos.

ZAMBUJA e SOUZA (1996) explicitam a necessidade de um estudo ana-lítico do texto, pois o texto é a materialização da mensagem, portanto se faz necessário oportunizar atividades de leitura individual ou coletiva, oral ou silenci-osa. Para as autoras estudar um texto não é só perceber o que está explicito, mas descobrir o que se apresenta de modo mais sutil.

E, este não pode ser apresentado apenas como uma técnica com roteiros rígidos, mas cada texto poderá ter um tipo de abordagem; cada turma de aluno poderá determinar a abordagem do texto; finalmente, cada professor, de acordo com seu grau de sensibilidade e de criatividade criará condições diferentes para a abordagem do texto. (1996, p.57)

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vivenciadas como parte integrante do processo de ensino aprendizagem, portanto é organizada e elaborada, e essa organização é planejada coletivamente, dentro da sala de aula com os educandos.

O Estudo do meio é uma abordagem interdisciplinar e isto significa en-contrar conteúdos para melhor compreender o homem interagindo com o mundo, que não é senão a relação do homem com e na sociedade e, isso se faz partindo de um pressuposto teórico. Com essa técnica estaremos superando a justaposi-ção de conteúdos em detrimento do enfrentamento de problemas reais gerados a partir da problematização, organizando a visão conjunta desde o início da coloca-ção do problema e durante o processo de construcoloca-ção de conhecimento.

Além disso, o estudo do meio é uma técnica pedagógica que se realiza por meio da pesquisa, isto é, utilizam-se instrumentos metodológicos diversos, registra e interpreta a realidade propondo alternativas, assim o ensino estará sen-do planejasen-do e avaliasen-do em múltiplos aspectos pelos educansen-dos e educasen-dores envolvidos e comprometidos com a transformação social.

5- Instrumentalização é a escolha do conteúdo que não é colocado como uma forma rígida, tradicional, mas um conteúdo escolhido por todos e o educador é aquele que sabe coordenar esse momento para a escolha acertada. Não estamos falando dos conteúdos pré-elaborados, mas de conhecimentos universais no con-texto histórico-social.

Contudo, chamamos a atenção para alertar que o educador é a autorida-de da sala autorida-de aula, porque ele é o mestre, aquele que conhece os conhecimentos científicos, senão cairíamos na permissividade, no espontaneísmo, estamos fa-lando na relação educador - educando, onde democraticamente a forma de apre-sentar o conteúdo se mostra dentro do contexto da aula dialógica compartilhada com os alunos sabendo-se que o professor domina a pesquisa, a busca por conteúdos que estão disponíveis no universo histórico social, não esquecendo que muitas vezes não são os saberes de bibliotecas que necessitamos, mas saberes acumulados na vida das pessoas.

Essa investigação do saber é um processo que é feito com o pensar de seus educandos, seja ele um pensamento ingênuo ou mágico, mas como relata FREIRE (2005,p.116),

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O fechamento de um tema problematizado é o nosso próximo elemento, pois apesar do educador utilizar em sua prática tradicional o resumo de sua aula, na aula dialógica o educador coordena a síntese do aprendido compartilhado e pode ser através de um texto coletivo.

6- O texto coletivo construído no diálogo: temos várias técnicas para a elaboração coletiva do texto. Os educandos serão estimulados a compartilhar com o educa-dor a re-elaboração dos conhecimentos e incentivados a produzir novos textos e novos conhecimentos a partir dos conteúdos apreendidos. Entretanto, podemos começar as nossas aulas, de acordo com o tema, com um texto coletivo partindo do conhecimento já existente de nossa turma, ou então, fechar o tema gerador com um texto coletivo, ou seja, não importa em que momentos irão utilizar a elaboração do texto coletivamente, o importante é compreender que compartilhar conhecimentos é uma das formas que temos para diagnosticar, avaliar e construir novos saberes.

É necessário discutir a realidade concreta do educando associado ao conhecimento científico estabelecendo, como anuncia Paulo Freire, “uma intimi-dade entre os saberes curriculares fundamentais e a experiência social” que cada pessoa possui e construiu em sua própria história de vida.

Referências

BRANDÃO, C. R. A educação como cultura,SP, Mercado das Letras. 2002.

CHAUÍ, M. Cidadania cultural: o direito à cultura, Editora Perseu Abramo. 2006.

AZAMBUJA, J.Q. e SOUZA, M.L.R. O Estudo do Texto como Técnica de Ensino. In: ___Técnicas de Ensino: Por que Não? VEIGA, Ilma P.A (org.) 4ª.Edição. Campinas,SP:

Papirus,1996.

FREIRE, P. Pedagogia da Indignação – cartas pedagógicas e outros escritos. Editora

UNESP. 2000.

FREIRE, P. Por uma Pedagogia da Pergunta. São Paulo:Paz e Terra, 5a. Edição, 1985.

FREIRE, P. Org. e notas: Ana Maria Freire . Pedagogia da Tolerância. Editora UNESP.

2005.

FREIRE, P. Comunicação ou Extensão? Paz e Terra. 13ª.Edição. 2006.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra. 44ª.Edição. 2006

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LOPES, A.O. Aula Expositiva: Superando o Tradicional. IN____ Técnicas de Ensino: Porque Não?. VEIGA, Ilma P.A. (org.) 4ª. Edição, Campinas, SP. Papirus, 1996.

Maria Peregrina de Fátima Rotta Furlanetti

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