Esdras de Campos França
EFEITO DE UM SISTEMA DE LIBERAÇÃO
CONTROLADA DE CLOREXIDINA PARA O CONTROLE
DE PLACA E GENGIVITE
Faculdade De Odontologia - UFMG
Belo Horizonte
Esdras de Campos França
EFEITO DE UM SISTEMA DE LIBERAÇÃO
CONTROLADA DE CLOREXIDINA PARA O CONTROLE
DE PLACA E GENGIVITE
Dissertação apresentada ao Colegiado do
Programa de Pós-Graduação da Faculdade
de Odontologia da Universidade Federal de
Minas Gerais, como requisito parcial à
obtenção do grau de Mestre em Odontologia -
área de concentração Clínica Odontológica.
Orientadora: Prof
a. Dr
a. Maria Esperanza Cortés
Co-orientador:Prof. Dr. Alexandre Fortes Drummond
Faculdade De Odontologia - UFMG
Belo Horizonte
FICHA CATALOGRÁFICA
F814e 2012 T
França, Esdras de Campos.
Efeito de um sistema de liberação controlada de clorexidina para o controle de placa e gengivite / Esdras de Campos França. – 2012.
57 f. : il.
Orientador: Maria Esperanza Cortés Co-Orientador: Alexandre Fortes Drumond
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Odontologia.
1. Aparelhos ortodônticos. 2. Preparações farmacêuticas. 3. Clorexidina. I. Cortés, Maria Esperanza. II. Drumond,
Alexandre Fortes. III. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Odontologia. IV. Título.
A G R A D EC IM EN TO S
- Aos pacientes pela contribuição indispensável na execução deste trabalho;
- Aos funcionários Alfa, Elaine, Heloísa e
Sandra que tanto colaboraram para
meu sucesso;
-
Ao técnico
de laboratório
Bruno Lourenço pela amizade e presteza a mim
oferecida;
- Aos colegas do Laboratório da Faculdade de Química pela disponibilidade e
pelos momentos de descontração;
- Aos novos colegas do Laboratório do ICB pela receptividade;
- Ao Prof.
Ruben Sinisterra pela dedicação a mim prestada ao ensino e
pesquisa;
- Ao Prof. Henrique Pretti pela disponibilidade;
- Ao Prof. Saul Martins pelo incentivo demonstrado no final do curso;
- Ao Prof. Vagner Santo pela amizade e ensinamentos que foram transmitidos
para minha formação como pesquisador;
- Ao Prof. Luís Otávio pela contribuição imensurável;
- A todos os meus amigos (não citarei nomes, posso ser injusto...) pela eterna
boa vontade;
- Aos meus colegas de Ortodontia e além de tudo amigos:
Bruno, Carol,
Davidson, Gisele, Guilherme, Gustavo, João, Julia, Juliana, Lucas,
Marcelo, Pedro, Priscila e Tainah (a ordem não é por afinidade, mas sim
alfabética) pela convivência prazerosa dia a dia.
- Aos meus amigos de mestrado e do doutorado, pela colaboração e convívio
harmonioso, especialmente, A Carol, a Virginia, a Vivi, a Laís, o Davidson, o
Lucas, o
Rodrigo Keigo,
o Marcelo Dauany,
o
Warley e
Ricardo pela
amizade, apoio, incentivo e pelos momentos de descontração. Valeu!
- As
funcionárias
do Colegiado de Pós
-
Graduação, pela
competência.
- As agencias de fomento CNPq, FAPEMIG e
INCT/NanoBIOFAR, pelo apoio
financeiro.
A G R A D EC IM EN TO S ESPEC IA IS
- A Deus, por me dar forças para chegar até aqui.
- Aos meus pais, por sempre me proporcionarem o acesso a uma boa
educação e me darem todas as condições para meu crescimento profissional e
pessoal.
- A Karina Imaculada
Rosa Teixeira
pela atenção e apoio prestados na
execução deste trabalho;
- Ao professor
Alexandre Fortes Drummond
por sempre ter acreditado em
min e por ter sido o “maestro” da minha formação profissional como
Ortodontista;
- A Professora Maria Esperanza Cortés não apenas pela maneira atenciosa e
dedicada de passar seus ensinamentos mas também pelos bons momentos
juntos.
“A vida é dura pra quem é mole”
S U M Á R IO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
RESUMO
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO... 1
2 REVISÃO DE LITERATURA... 5
2.1 Aparelho ortodôntico fixo e comportamento periodontal... 5
2.2 Sistemas de liberação controlada... 6
2.3 Ciclodextrinas... 8
2.4 Beta-ciclodextrina... 9
2.5 Clorexidina... 10
2.6 O uso da clorexidina em Ortodontia... 12
2.7 Sistemas de Liberação controlada de Clorexidina... 14
3 JUSTIFICATIVA... 17
4 OBJETIVOS... 18
4.1 Objetivos gerais... 18
4.2 Objetivos específicos... 18
5 METODOLOGIA... 19
5.1 População experimental e desenho do estudo... 19
5.2 Preparação dos compostos... 20
5.3 Procedimento de Randomização e mascaramento... 21
5.5 Avaliação gengival... 22
5.6 Análise estatística dos dados... 23
6 RESULTADOS... 24
7 DISCUSSÃO... 32
8 CONCLUSÃO... 38
10 ANEXOS... 50
ANEXO 1 Parecer do Cômite de ética ... 50
ANEXO 2 Termo de consentimento... 52
L IS T A D E F IG U R A S
FIGURA - 1 Gengivite associada a tratamento ortodôntico e higiene oral
deficiente... 1
FIGURA - 2 Formação de complexos supramoleculares com ciclodextrinas mostrando diferentes organizações... 7
FIGURA - 3 Perfis de liberação de fármacos em função do tempo: controlada versus Convencional... 3
FIGURA - 4 Representação esquemática da estrutura das Ciclodextrinas naturais α, β e γ... 9
FIGURA - 5 Representação esquemática da estrutura da Beta-ciclodextrina... 10
FIGURA - 6 Fórmula estrutural do cloridrato de clorexidina... 11
FIGURA - 7 Seringas e moldeiras utilizadas para aplicação dos géis ... 21
FIGURA - 8 Aplicação dos géis ... 22
L IS T A D E T A B E L A S
TABELA - 1 Índice de Placa Visível (Valores Médios ± Desvios-padrão) do exame
inicial (T0) ao exame final (T60) – comparação inter-grupo clorexidina 0,6
% x clorexidina: β-ciclodextrina 0,6 %... 25
TABELA - 2 Índice de Sangramento (Valores Médios ± Desvios-padrão) do exame
inicial (T0) ao exame final (T60) – comparação inter-grupo Clorexidina 0,6
% x Clorexidina: β-ciclodextrina 0,6 %... 26
TABELA - 3 Escores do Índice de placa visível do grupo clorexidina 0,6 %, comparados
entre os períodos - comparação intra-grupo (Inicial, 15, 30 e 60 dias)... 27
TABELA - 4 Escores do Índice de placa visível do grupo clorexidina: β-ciclodextrina 0,6
%, comparados entre os períodos - comparação intra-grupo (Inicial, 15, 30
e 60 dias)... 28
TABELA - 5 Escores do Índice de placa visível do grupo Profilaxia, comparados entre os períodos - comparação intra-grupo (Inicial, 15, 30 e 60 dias)... 29
TABELA - 6 Escores do Índice Sangramento do grupo clorexidina 0,6 %, comparados entre os períodos - comparação intra-grupo (Inicial, 15, 30 e 60 dias)... 29
TABELA - 7 Escores do Índice Sangramento do grupo clorexidina: β-ciclodextrina 0,6 %
comparados entre os períodos - comparação intra-grupo (Inicial, 15, 30 e
60 dias)... 30
TABELA - 8 Escores do Índice Sangramento do grupo Profilaxia comparados entre os
L IS T A D E A B R E V IA T U R A S E S IG L A S
R E S U M O
Pacientes submetidos a tratamento com aparelhos fixos estão sujeitos a
apresentar alterações periodontais significativas. Os acessórios ortodônticos adaptados
às coroas dentárias dificultam a manutenção da higiene bucal ao criando um aumento
significativo de superfícies retentivas, favorecendo o acúmulo do biofilme bacteriano.
caracterizando um desequilíbrio na microflora local contribuindo para o
desenvolvimento de alterações periodontais. O objetivo deste estudo foi comparar a
efetividade de um novo sistema de liberação controlada de clorexidina na formulação
0,6 % em gel de clorexidina:
β
-ciclodextrina com um gel convencional de clorexidina a
0,6% e tratamento profilático no controle da placa e gengivite em pacientes
ortodônticos. Este estudo foi constituído de 29 índividuos provenientes da Clínica do
Curso de Especialização em Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade
Federal de Minas Gerais com diagnóstico de gengivite. O gel controle (gel de
clorexidina a 0,6%) e o gel com composto de inclusão (Gel de clorexidina:
β
-ciclodextrina 0,6 %) foram armazenados em seringas e aplicados através de duas
moldeiras superior e inferior no início da pesquisa, um grupo de pacientes recebeu
somente o tratamento profilático. A atividade de doença periodontal foi determinada
através da coleta do índice de sangramento gengival (IS) Ainamo & Bay e o do índice
de placa visível (IPV) Silness e Löe e realizados nos seguintes intervalos de tempo:
inicio da pesquisa (T0), com 15 (T15), 30 (T30) e 60 dias (T60). Para análise estatística
utilizou-se o teste de Friedman (ANOVA), os resultados mostraram que o gel de
clorexidina:
β-ciclodextrina foi mais eficiente que o controle mecânico na redução do
IPV e IS no período de 15 dias e 30 dias. Sendo que a melhora na redução do IPV para
o grupo onde se aplicou o gel de clorexidina ocorreu no período de 30 dias quando
comparado ao gel de clorexidina. Análises imunológicas devem ser realizados para
confirmar os resultados encontrados.
A B S T R A C T
Patients undergoing treatment with fixed appliances are at risk for significant
periodontal changes. The orthodontic accessories tailored to dental crowns hinder the
maintenance of oral hygiene to create a significant increase retentive surface, favoring
the accumulation of bacterial biofilm. This creates an imbalance in the microflora site
contributing to the development of periodontal changes. The objective of this study was
to compare the effectiveness of a new system for the controlled release formulation of
0.6% chlorhexidine, chlorhexidine:β-cyclodextrin gel with a conventional 0.6%
chlorhexidine gel and prophylactic treatment in controlling plaque and gingivitis in
patients undergoing orthodontic treatment. This study consisted of 29 patients from of
Clinical Specialization Course in Orthodontics of School of Dentistry, UFMG with a
diagnosis of gingivitis. The control (gel chlorhexidine 0.6%) and inclusion compound
(chlorhexidine:0.6%
β-cyclodextrin) gels were stored in syringes spread in trays
through the posterior teeth at baseline, a group patients received only the prophylactic
treatment of periodontal disease. A activity was determined by collecting the gingival
bleeding index (IS)
Ainamo & Bay
and the visible plaque index (VPI
)
Silness e Löe and
performed at the following time intervals: start of the study (T0), with 15 (T15), 30
(T30) and 60 days (T60). Statistical analysis Friedman's test (ANOVA), results showed
that the chlorhexidine: β-cyclodextrin gel was more efficient than mechanical control in
reducing the IPV and IS within 15 days and 30 days, whereas the improvement
concerning in reducing the IPV occurred within 30 days in comparison with
chlorhexidine gel. Immunological analysis should be conducted to confirm the results.
Introdução |
1
1 INTRODUÇÃO
A Ortodontia é área da odontologia voltada para supervisão, orientação e
correção das alterações que envolvem as estruturas dentofaciais (PROFFIT
et al.,
2000). Para a correção das más oclusões, os ortodontistas necessitam utilizar
diferentes tipos de aparelhos fixos e/ou removíveis que podem favorecer o acúmulo
de placa bacteriana.
Nas últimas décadas, os avanços tecnológicos propiciaram uma grande
variedade e disponibilidade de materiais dentários. Seguindo essa tendência, os
aparelhos ortodônticos evoluíram e passaram a transmitir forças leves aos dentes e às
estruturas vizinhas, minimizando eventuais danos. Contudo, ainda existe a
possibilidade da ocorrência de efeitos colaterais fora do controle biomecânico, como
lesões cariosas e principalmente gengivites (Figura 1).
Figura 1. Gengivite associada a tratamento ortodôntico e higiene oral
deficiente.
Fonte: Dados da pesquisa.
Introdução |
2
Após a inserção de aparelhos ortodônticos fixos, efeitos negativos são
observados a curto e longo prazo como resultado das mudanças ecológicas no meio
bucal. Como exemplo desses efeitos, pode-se citar: aumento na quantidade,
composição, e patogenicidade da microbiota oral e o agravamento das condições
periodontais (DIAMANTI-KIPIOTI
et al.,
1987; HAGG
et al
., 2004).
Estudos clínicos têm demonstrado que um aumento de placa bacteriana
associada ao sangramento à sondagem, podem ser observados durante o tratamento
ortodôntico com aparelho fixo. Além disso, ocorre um desequilíbrio na microflora
bucal devido a uma maior prevalência de patógenos periodontais, dentre estes:
Aggregatibacter
actinomycetemcomitans
e
Porphyromonas
gingivalis
(PAOLANTONIO
et al
., 1997). A resposta inflamatória, que aí se desenvolve,
recrutará células imunocompetentes para conter e impedir a disseminação dessa
infecção e à concomitante reabsorção dos tecidos de suporte periodontal adjacentes
(BRITO
et al
., 2007). Nas últimas décadas, evidenciou-se que muitos dos efeitos
patogênicos microbianos sobre os tecidos periodontais operam-se de forma indireta,
através de mediadores derivados do hospedeiro, como as citocinas e quimiocinas. Daí
o grande interesse em se conhecer esses mediadores e seus efeitos sobre as células
imunocompetentes aí presentes (BRITO
et al
., 2007).
É importante ressaltar que, a responsabilidade na prática da ortodontia
compreende não somente a correção das más oclusões, mas também a manutenção da
saúde bucal. Isso evita que a placa dental cause lesões de mancha branca e, sobretudo
alterações gengivais, que poderão se agravar. Com o objetivo de minimizar tais danos,
novos estudos devem ser elaborados com o intuito de encontrar métodos preventivos,
químicos ou mecânicos, capazes de diminuir os efeitos indesejáveis decorrentes da
utilização dos aparelhos ortodônticos.
Introdução |
3
A clorexidina (Cx) é um agente químico de alta efetividade no controle da
biomassa dental. A forma mais comum comercialmente utilizada dessa droga é a
solução de digluconato a 0,12%. A principal característica dela é a substantividade ou
a capacidade de se adsorver nas superfícies bucais. O veículo de administração da
clorexidina, mais comum, é a solução.
Contudo, para a cavidade bucal, o uso de soluções oferece efeitos passageiros,
especialmente provocados pela renovação constante da saliva e do muco. Somado a
isso, seu uso prolongado e constante provoca alguns efeitos colaterais como manchas
escuras nos dentes e perda de paladar (NETUSCHIL
et al
., 2003). Esse fato remete à
busca de alternativas para a utilização da clorexidina, a fim de que se obtenham
melhores resultados sem efeitos colaterais.
Este antimicrobiano é considerado o agente de padrão-ouro entre os
antimicrobianos porque possui largo espectro de ação contra microrganismos gram
positivos, gram negativos, fungos alguns tipos de vírus e protozoários. O mecanismo
de ação da clorexidina foi bem descrito sendo o alvo principal a membrana bacteriana
(NUNEZ
et al
., 2007., TEIXEIRA
et al
., 2012b).
Visando melhorar as propriedades físico-químicas e/ou biológicas da
clorexidina estão sendo desenvolvidos os complexos de inclusão com ciclodextrinas
(Cd). Os complexos supramoleculares formados pela interação entre a clorexidina e a
β
-ciclodextrina (
β
-cd) apresentam grande potencial para o controle químico do
biofilme bacteriano em concentrações menores que aquelas já usadas em soluções,
bochechos e géis de clorexidina pura (CORTÉS
et al
., 2001).
Introdução |
4
inclusão (LOFTSSON & MASSON., 2001). Como resultado destas associações,
obtém-se um aumento na atividade, solubilidade e seletividade das drogas, ao passo
que se reduzem os efeitos adversos (UEKAMA
et al
., 1998).
Pedroso em 2004 demonstrou que géis usados como veículo de aplicação,
permitem que se diminua a quantidade de fármaco utilizado em comparação à
aplicação em solução. Também prolonga a ação do princípio ativo e existe menor
necessidade da cooperação por parte do paciente (PEDROSO 2004).
Revisão de literatura |
52 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Aparelho ortodôntico fixo e comportamento periodontal
Vários estudos relatam a ocorrência de alterações periodontais durante o
tratamento ortodôntico, conforme será demonstrado adiante.
Huser
et al
.; (1990) observaram a ocorrência de aumento da inflamação
gengival em molares com anéis ortodônticos quando comparados com molares sem
anéis. O estudo constou da avaliação de 10 pacientes em tratamento ortodôntico que
receberam profilaxia profissional antes e após os estudos. A partir de seus achados, os
autores concluíram não ser possível prever se a gengivite irá progredir para uma
doença periodontal destrutiva.
Kouraki
et al
.; (2005) avaliaram o aumento de volume gengival em 30
adolescentes que se submeteram a tratamento ortodôntico por um período médio de
27,5 meses. A porcentagem de papilas afetadas foi de 46% após a remoção dos
bráquetes contra 26% antes do início do tratamento. Com o fim do tratamento houve
uma redução significativa do número de papilas afetadas.
Turkkahraman
et al
.; (2005) conduziram um estudo para avaliar a flora
bacteriana e periodontal. Ao avaliarem dois métodos de ligação de arcos ortodônticos,
foi observado que: embora os dentes ligados com materiais elastoméricos exibisse um
aumento significativo no número de microorganismos quando comparados com
dentes ligados com aço, essa diferença não foi estatisticamente significante. No
entanto, o autor sugere a utilização de ligaduras de aço em pacientes que apresentem a
higiene oral deficiente.
Contudo a clorexidina apresenta a maioria das propriedades desejáveis para
um bom antiséptico: alta efetividade no controle do biofilme dental, a atividade
antibacteriana ocorre em pH fisiológico em tecidos sadios, segurança de utilização,
poucos efeitos adversos sobre organismos não patogênicos, baixa agressão e largo
espectro de atividade (HIDALGO E DOMINGUEZ
et al
., 2001, KADIR
et al
., 2007;
Revisão de literatura |
62.2 Sistemas de liberação controlada
Sistema de liberação controlada é um sistema onde o fármaco libera-se com um
tempo pré-fixado. Quando um fármaco é aplicado neste tipo de sistema, seu nível
sanguíneo se mantém dentro da faixa terapêutica durante um intervalo de tempo
maior, sendo mais eficaz do que as formas convencionais. O nível terapêutico
descreve um platô ao longo do tempo na dose terapêutica que diminui lentamente
(Figura 3). Um exemplo dessa liberação acontece nos sistemas que empregam
fármacos inclusos em ciclodextrinas (CORTÉS 2001).
O emprego da liberação controlada para antibioticoterapia adquire uma
conotação maior em função dos grandes problemas causados pela resistência
bacteriana. Assim poderia diminuir a concentração do medicamento, e o número de
aplicações de um determinado arsenal terapêutico (RAJEWSKI e STELLA, 1996). Os
principais carreadores utilizados para liberação controlada de antimicrobianos são as
ciclodextrinas e lipossomas (Figura 2).
Figura 2: Formação de complexos supramoleculares com ciclodextrinas
mostrando diferentes organizações.
Revisão de literatura |
7A liberação apropriada de um fármaco em função da dosagem é de
importância crítica para sua eficácia. Para planejar a forma e dosagem mais
apropriada vários tipos de materiais carreadores estão sendo desenvolvidos para
liberação da quantidade necessária do fármaco ao sítio por um período, obtendo
eficiência e eficácia. Quando um fármaco é aplicado neste tipo de sistema, os
níveis sanguíneos se mantêm dentro da faixa terapêutica durante um intervalo
de tempo maior, assim é mais eficaz do que as formas convencionais
(HIRAYAMA
et al
., 2002) (Figura 3).
Figura 3. Perfis de liberação de fármacos em função do tempo: controlada versus
Convencional. Consultado em 07.02.2012.
Fonte: http//:www.gerbras.com.br.
2.3 Ciclodextrinas
As ciclodextrinas são oligossacarídeos cíclicos, compostos de unidades de
dextroses (glicoses) proveniente da hidrólise enzimática do amido. Estas formam
complexos de inclusão com diferentes fármacos, podendo apresentar características
Revisão de literatura |
8As ciclodextrinas naturais
tem vinte e um grupos hidroxila, todos esses grupos
podem ser considerados pontos iniciais para modificações estruturais, e vários grupos
funcionais tem sido introduzidos neste anel macrocíclico (HIRAYAMA
et al
., 2002),
além de uma superfície externa hidrofílica e um núcleo hidrofóbico interno, assim elas
podem formar complexos de inclusão através da ligação com pequenas moléculas
anfifílicas em seu núcleo (HIRAYAMA
et al
., 2002). As
β-ciclodextrinas são
conhecidas por serem eficientes moléculas aceptoras de esterol (MESMIN
et al
.,
2009).
Seus grupos:
α, β
e
γ
(Figura 4), estão sendo estudadas por sua capacidade de
formar compostos de inclusão com moléculas alojadas em sua estrutura.
Figura 4. Representação esquemática da estrutura das ciclodextrinas naturais
α, β
e
γ
.
Fonte: http//:www.gerbras.com.br.
As ciclodextrinas apresentam muitas aplicações práticas na indústria
farmacêutica, sendo usadas principalmente para alterar a solubilidade e a
disponibilidade de fármacos, reduzindo certos efeitos colaterais. (LOFTSSON
et al
.;
2007).
Suas principais vantagens são: disponibilidade em diferentes tamanhos, baixa
toxicidade, certa solubilidade em água e facilitar a formação de compostos de
Revisão de literatura |
92.4 Beta-ciclodextrina
As
β
-ciclodextrinas (
β
-cd) contém sete grupos de dextrose, possuem 21
grupos oxidrilas, sendo 14 na parte hidrofílica e 7 na base menor (Figura 5). Essas
ciclodextrinas são de baixo custo, são encontradas em grande quantidade e
apresentam características de interagir com várias substâncias.
Figura 5. Representação esquemática da estrutura da
β
-ciclodextrina.
Fonte: http://es.wikipedia.org
A
β
-cd tem baixa solubilidade em água e essa propriedade pode ser aumentada
adicionando-se solventes e sais orgânicos, formando complexos de inclusão estáveis,
em relação à luz, calor e liberação de oxigênio (LOFTSSON
et al
.; 2007; SZEJTLI
et
al.
; 1998).
2.5 Clorexidina
Ao final dos anos 40, cientistas desenvolvendo agentes antimalária,
formularam um grupo de compostos denominados polibiguanidas, o qual demonstrou
um amplo espectro antimicrobiano. Uma das drogas criadas nesta época foi a
clorexidina que passou a ser usada como um antisséptico geral para o tratamento de
diferentes infecções (LOE e SCHIOTT, 1970).
Essa substância pode ser definida como uma bisguanidina catiônica,
Revisão de literatura |
10clorexidina é a forma mais indicada, pois tem maior solubilidade em água e, em pH
fisiológico, dissocia-se, liberando o componente catiônico. A clorexidina é o
componente ativo mais efetivo contido nos enxaguatórios bucais, usados para
prevenir a placa dentária e a gengivite (GJERMO, 1989).
A clorexidina é usada como adjunto ao agente mecânico, em casos de ausência
de coordenação motora, presença de alterações sistêmicas que modificam o curso da
doença periodontal, doenças periodontais agudas, casos de alto risco a cárie, para
pacientes com fatores retentivos de placa, após cirurgias da cavidade bucal,
incapacidade física ou mental, fluxo salivar reduzido (medicamentos, radioterapia e
síndromes), cárie rampante e radicular, reconstrução protética extensa, paciente com
implantes e antes do atendimento odontológico para diminuir a dispersão de
microorganismo durante os procedimentos que formam aerossóis (CARRANZA
et
al
., 2011).
Atualmente as formas mais utilizadas para administrar a clorexidina são na
forma de soluções
para bochechos em concentrac
̧ões de 0,12% e 0,2%, aerossóis em
concentrações de 0,12% e 0,2%, géis a 0,12% e 1% e vernizes (PUIG SILLA
et al
.,
2008).
As propriedades antibacterianas da clorexidina fazem com que esse agente
seja considerado o “padrão ouro” em comparação às demais substâncias
desenvolvidas para agir sobre a formação de placa e desenvolvimento de gengivite
(PUIG SILLA
et al
., 2008).
A clorexidina é um agente químico de alta efetividade no controle do biofilme
dental, possuindo atividade antibacteriana em pH fisiológico (HUGO E
LONGWORTH, 1964). Esse anti-séptico é formado por duas guaninas ligadas a uma
ponte de metileno com seis carbonos (Figura 6).
Revisão de literatura |
11Fonte: http//: www.upload.wikipedia.org.
A substantividade é a quantidade de clorexidina retida durante sua aplicação
na cavidade bucal. Essa pode ser detectada em concentração bactericida 8 horas após
um simples bochecho com 10 ml de 2 mmol/l em solução aquosa por 1 minuto
(GJERMO, 1989).
2.6 O uso da clorexidina em ortodontia
Os pacientes que fazem uso de aparelhos ortodônticos fixos, pode-se observar,
algumas vezes, que o controle efetivo da placa dentária, através de métodos
mecânicos sofre limitações, desta forma o agente químico antibacteriano da saúde
bucal deve ser considerado e observado em cada caso (GARIB
et al
., 1997).
Garib
et al
., (1997) testaram a eficiência de bochechos com solução de
clorexidina (0,12%) e cloreto de cetilpiridínio (0,05%) na redução da placa dentária e
hiperplasia gengival. Participaram da pesquisa 60 voluntários que utilizavam aparelho
fixo, os quais foram divididos em 3 grupos. O Grupo I realizava bochechos diários
após a escovação noturna, com 10 mL da solução de cloreto de cetilpiridínio (Wash®
– Abbott). O Grupo II, além de realizar o bochecho como o grupo I, bochechava 10
mL de solução de clorexidina (Periogard® – Colgate), a cada 8 dias. Já o Grupo III
era o controle, cujos indivíduos bochechavam solução placebo. Considerando que a
fase experimental durou 90 dias, foi feito uma avaliação inicial e outra no final do
tratamento, tendo como parâmetro, o índice de sangramento gengival de cada
paciente, enquanto que o índice de placa foi avaliado quinzenalmente, em todos os
grupos. Concluiu-se que os bochechos empregados levaram a uma redução
estatisticamente significante do índice de placa e de sangramento gengival dentro de
cada grupo, porém, não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos.
O cloreto de cetilpiridínio levou a uma redução de 23,6% do índice de placa e de
55,9% do índice de sangramento gengival, entretanto, essa substância associada à
clorexidina levou a uma redução de 52,2% do índice de placa e de 62,9% do índice de
sangramento gengival. Pela análise global dos resultados deste estudo, houve maior
redução do índice de placa dos pacientes colaboradores, quando comparados aos não
Revisão de literatura |
12Ousehal
et al
., (2011) compararam a eficácia de escovas de dentes manuais e
elétricas com bochechos de clorexidina 0,12% em 84 pacientes que receberam
tratamento ortodôntico. A higiene oral foi avaliada usando o índice de placa de
Silness e Loe sendo realizadas antes e 4 semanas após o período de observação. Os
resultados foram submetidos a comparação estatística, revelando que escovas de
dentes elétricas e o enxaguatório bucal com clorexidina são mais eficazes no controle
da placa dental do que as escovas manuais.
Nelson filho
et al
., (2012) avaliaram a eficácia de bochechos 0,12% gluconato
de clorexidina na redução da contaminação bacteriana em 33 pacientes portadores de
aparelho ortodôntico fixo por meio de checkerboard DNA-DNA hibridização. Os
autores concluíram que os pacientes que fizeram uso de clorexidina apresentaram
diminuição nos níveis de microorganismos.
2.7 Sistemas de Liberação controloda de Clorexidina
Visando melhorar as propriedades físico-químicas e/ou biológicas da Cx estão
sendo desenvolvidos os complexos de inclusão com ciclodextrinas. Os complexos
supramoleculares formados pela interação entre a clorexidina e a beta-ciclodextrina
apresentam grande potencial para o controle químico do biofilme bacteriano em
concentrações menores que aquelas já usadas em soluções, bochechos e géis de
clorexidina pura (CORTÉS
et al
., 2001).
Estudos prévios de nosso grupo incluindo testes microbiológicos envolvendo
complexos supramoleculares de clorexidina-beta-ciclodextrina, assim como de outros
antibióticos incluídos tais como a tetraciclina, mostraram que esses sistemas podem se
apresentar até quatro vezes mais efetivos que o fármaco livre (CORTÉS
et al
., 2001;
PATARO
et al
., 2003; TEIXEIRA
et al
., 2012a).
Considerando os aspectos físico-químicos, os autores encontraram uma forte
correlação da atividade antimicrobiana com a estrutura supramolecular fornecida pelas
diferentes razões molares dos compostos sintetizados (DENADAI
et al
., 2007;
TEIXEIRA
et al
., 2012a). Nestes estudos observou-se que o aumento da razão molar
dos complexos supramoleculares em ciclodextrina independente do antimicrobiano
Revisão de literatura |
13bacterianas e fúngicas (DENADAI
et al
., 2007; TEIXEIRA
et al
., 2012 a, TEIXEIRA
et al
., 2012 b).
Teixeira
et al
. (2012a) estudaram a interação de complexos supramoleculares de
Cx e Cx:
β
-cd através de um estudo incluindo testes de atividade antimicrobiana
contra
Aggregatibacter actinomycetemcomitans
e caracterização morfológica da
interação deste microrganismo e os compostos por microscopia eletrônica de
varredura. Os resultados dos testes antimicrobianos mostraram que complexos
supramoleculares de Cx:
β
-cd são capazes de inibir o crescimento de Aggregatibacter
actinomycetemcomitans em concentrações mais baixas que a clorexidina pura. Além
disso, as razões molares mais elevadas 1:3 e 1:4 foram capazes de inibir o crescimento
destes microorganismos
em concentrações mais baixas que os complexos de menor
razão molar 1:1. Por microscopia eletrônica de varredura pudemos observar que com
o aumento da concentração de ciclodextrina nestes sistemas, além do aumento da
atividade antimicrobiana ocorreu a formação de uma matriz capaz de reter tanto
células vivas quanto mortas e o nível de agregação dessas estruturas se tornava maior à
medida que se aumentava a concentração de ciclodextrina. Sendo que o composto de
inclusão Cx:
β
-Cd 1:3 apresentou melhores propriedades antimicrobianas (TEIXEIRA
et al
., 2012 a) e também foi um dos grupos que apresentou a formação da matriz de
agregação retendo os microrganismos .
Em outro trabalho foram realizados testes antifúngicos com complexos
supramoleculares de Cx:
β
-Cd em diferentes razões molares tendo utilizado como
modelo o microrganismo leveduriforme
Candida albicans
. Este trabalho teve como
objetivo estudar os efeitos destes compostos em fungos, utilizando a
Candida albicans
que é uma levedura extensivamente estudada e de grande importância em patologias
da cavidade oral. Teixeira
et al
. (2012b) observaram que além do aumento da
atividade antimicrobiana da clorexidina quando incluída em ciclodextrina, voltou-se a
observar que as razões molares 1:3 e 1:4 foram capazes de inibir o crescimento desta
levedura em concentrações mais baixas que os complexos de menor razão molar 1:1.
Também se tentou relacionar a citotoxicidade destes fármacos para fungos à
capacidade de solubilização de esteróis, já descrita para ciclodextrinas. Observou-se
então que as razões molares 1:3 e 1:4 apresentavam maior capacidade de solubilização
de esteróis em
Candida albicans
, correspondendo aos grupos de melhor atividade
Revisão de literatura |
14também foi observada de forma mais intensa nos grupos 1:3 e 1:4. Estes dados
reforçam a hipótese de que a formação de uma matriz de agregação bem como a maior
capacidade de solubilização de esteróis são fatores importantes para a boa atividade
antimicrobiana de complexos supramoleculares de clorexidina e ciclodextrina. A
solubilização aumentada de ergosterol poderia levar a desorganização da membrana do
microrganismo bem como torná-la mais permeável à entrada de substâncias
(TEIXEIRA
et al.,
2012b).
Justificativa |
173 JUSTIFICATIVA
O sistema de liberação controlada de clorexidina:
β
-ciclodextrina pode
apresentar-se como uma alternativa eficaz para tratar as superfícies periodontais de
pacientes sob tratamento ortodôntico e pela possibilidade de diminuir os efeitos
colaterais da clorexidina em solução. Justifica-se este trabalho pelo grande número de
pacientes sob terapia com aparelho ortodôntico fixo que apresentam dificuldade de
higienização durante o tratamento, podendo assim apresentar alto acúmulo de placa
bacteriana e gengivite.
Objetivos |
184 OBJETIVOS
4.1 Objetivos Gerais
- Avaliar a efetividade de um sistema de liberação controlada de clorexidina:
β
-ciclodextrina em gel no controle da gengivite em pacientes portadores de aparelho
ortodôntico fixo
.
4.2 Objetivos específicos
- Correlacionar o efeito do gel de clorexidina:
β
-ciclodextrina com o índice de placa
visível comparativamente ao gel de clorexidina pura e ao controle mecânico de placa;
- Correlacionar o efeito do gel de clorexidina:
β
-ciclodextrina com o índice de
sangramento gengival comparativamente ao gel de clorexidina pura e ao controle
Metodologia |
195 METODOLOGIA
5.1 População Experimental e Desenho do Estudo
Este estudo clínico controlado, randomizado e cego foi delineado para
comparar os efeitos de um gel de clorexidina a 0,6 % aos efeitos de um gel de
clorexidina: β-ciclodextrina a 0,6 % como agentes químicos no controle da gengivite
frente a um grupo de pacientes que submeteram-se somente a tratamento profilático.
Todos os indivíduos se submeteram a terapia com aparatologia ortodôntica fixa. O
estudo foi conduzido, de acordo com os principios descritos na Declaração de
Helsinki para experimentos envolvendo seres humanos, após sua aprovação no
Comitê de Ética para pesquisas em humanos da Universidade Federal de Minas
Gerais – UFMG (Anexo 1). Vinte e nove pacientes com idade entre 12 e 17 anos
apresentando
diagnóstico de gengivite
e sob tratamento com aparelho ortodôntico
fixo corretivo constituído por bráquetes metálicos Straight-Wire fixados em ambas as
arcadas dentárias por um período mínimo de seis meses foram selecionados no curso
de especialização em Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade
Federal de Minas Gerais. Os critérios de inclusão foram:
1) Pacientes sob tratamento ortodôntico apresentando diagnóstico de
gengivite;
2) Tratamento com aparatologia fixa sem extrações dentárias por um período
mínimo de seis meses;
3) Idade entre 12 e 17 anos;
4) nenhum tratamento periodontal cirúrgico prévio;
5) não fumantes;
6) não gestantes;
7) nenhum tratamento com bochecho de clorexidina 0,12% ou outro agente
químico;
8) ausência de Candidose;
Metodologia |
2010) nenhuma terapia antibiótica nos últimos seis meses e utilização de
medicamentos de uso prolongado nos seis meses anteriores ao início do estudo
(anti-histamínicos, cortisona, hormônios, nifedipina) e outros que possam interferir com o
processo inflamatório ou que possam ter efeitos adversos direto no periodonto.
Todos os pacientes juntamente com seus responsáveis concordaram em
participar do estudo e após esclarecimento de todos os riscos e benefícios envolvendo
os procedimentos foi fornecido um termo de consentimento livre e esclarecido.
(Anexo 2).
Inicialmente, os pacientes participaram de um programa de controle de placa,
realizado com polimento coronário com pasta de pedra pomes e água com uso de
escova de Robson obtendo-se um índice de placa menor que 20%, os pacientes
receberam orientações verbais e por escrito para não alterarem o seu padrão de
higienização.
5.2 Preparação dos Compostos
A preparação dos compostos de inclusão clorexidina:
β
-ciclodextrina foi feita
pelo método de liofilização (Labconco
®
) na proporção 1:1 com 0,6% de cloridrato de
clorexidina. Esse método de liofilização tem o propósito de preservar a integridade,
estrutura e atividades biológicas ou químicas de medicamentos.
Para a confecção do gel são necessários os seguintes reagentes:
propilenoglicol (15%); hidroximetil propil celulose (3%); água destilada (79,48);
metil parabeno (0,15%), composto de inclusão (1,77%), clorexidina (0,6%). Em
seguida, calcula-se e pesa-se a quantidade exigida de cada componente de acordo com
a quantidade total a ser preparada. Os conservantes, antioxidantes e o composto de
inclusão são adicionados à água. Mistura-se a água ao metil parabeno deixando em
agitação mecânica. Isso feito em outro recipiente mistura-se a clorexidina ao
propilenoglicol podendo-se acrescentar glicerina para melhorar a solubilidade do
fármaco. Quando se utiliza o propilenoglicol como veículo para a clorexidina, esta
apresenta maior penetrabilidade dentinária do que quando o veículo é a água
(PEDROSO, 2004). Então se acrescenta a segunda solução à primeira. Adiciona-se
finalmente o polímero deixando em agitação por alguns minutos para a
Metodologia |
21em repouso por 24 horas para estabilização, não exposto à luz. Os géis foram
acondicionados em seringas para a deposição dos mesmos nos sítios periodontais
(PEDROSO, 2004). A manipulação dos géis empregados neste estudo foi realizada
por um farmacêutico devidamente treinado.
5.3 Procedimento de Randomização e mascaramento
A alocação aleatória simples realizada por sorteio que estabelecia qual gel
seria utilizado por determinado individuo e qual individuo não receberia o tratamento.
Tanto o avaliador, como os pacientes e o estatístico desconheciam o medicamento
aplicado nos grupos de indivíduos alocados, determinando um ensaio triplo cego. O
processo de randomização resultou em valores médios comparáveis para todos os
parâmetros clínicos analisados em ambos grupos no exame inicial.
5.4 Aplicação dos géis
O gel controle (gel de clorexidina a 0,6%) e o gel com composto de inclusão -
(Gel de clorexidina:
β
-ciclodextrina 0,6 %) foram incluídos em seringas separadas por
duas cores distintas reveladas após o término da pesquisa (Figura 7). A aplicação dos
compostos foi realizada através de moldeiras nos dentes superiores por 4 minutos no
início da pesquisa (Figura 8). Um grupo de pacientes não recebeu a aplicação de gel.
Figura 7. Seringas e moldeiras utilizadas para aplicação dos géis.
Metodologia |
22Figura 8. Aplicação dos géis.
Fonte: Dados da pesquisa
5.5 Avaliação gengival
As medidas clínicas foram realizadas em 4 sítios (vestibular, lingual, mesial e
distal) por dente em cada paciente exceto incisivos, caninos e terceiros molares
segundo os seguintes parâmetros clínicos: Índice de sangramento a sondagem (IS)
(Ainamo & Bay,1975) e índice de placa visível (IPV) (Löe, 1967).
Para a tomada dos índices utilizou-se uma pinça clinica e rolos de algodão
efetuando-se o isolamento da área e secando a jatos suaves de ar.
Para todas as avaliações, utilizou-se a sonda periodontal Goldman
Fox/Williams (Trinity®, São Paulo, Brasil).
Este exame foi realizado por um único profissional e as anotações foram
registradas em fichas clínicas separadas (Anexo 3).
Índice de placa Silness e Löe (1964):
0 = Superfície limpa;
1 = Presença de placa a sondagem;
2 = Placa Visível a olho nu;
Metodologia |
23Índice de sangramento a sondagem Ainamo & Bay (1975):
1 = Ausência de sangramento
2 = Presença de sangramento
Os exames eram realizadas nos seguintes intervalos de tempo:
•
T0 – início da pesquisa;
•
T15 – 15 dias após a primeira aplicação;
•
T30 – 30 dias após a primeira aplicação;
•
T60 – 60 dias após a primeira aplicação
A quantificação dos índices antes da aplicação dos géis e em três momentos
subsequentes permitiu uma comparação entre a situação de saúde bucal que se
encontram os pacientes e os efeitos dos géis propostos sobre a saúde periodontal.
A avaliação periodontal através de medidas de nível clínico de inserção e
profundidade de sondagem não foi realizada, uma vez que a variável dependente do
estudo está relacionada a alterações gengivais.
A calibração do examinador foi realizada no início do estudo e repetida um
mês após para determinar a concordância intra-examinador, através do indice de
Kappa
. Todos os dados foram avaliados por um único examinador.
5.6 Análise estatística dos dados
Todos os dados dos indivíduos foram coletados e analisados através de um
programa estatístico
†. Dados clínicos foram obtidos de 4 sítios por dente em cada
indivíduo em quarto tempos. A média desses dados foi calculada para cada indivíduo
e para cada grupo separadamente. A significância das mudanças nos dados clínicos ao
longo do tempo foi determinada usando o teste “friedman” (ANOVA) em cada grupo
clínico separadamente.
Todas as variáveis correspondentes para cada modelo foram selecionadas
para a entrada na regressão logística e foram retidas nos modelos se valores de p
significativos (p < 0,05) eram obtidos. Para todos os testes foi adotado o nível de
significância de 5%.
Resultados |
24
6 RESULTADOS
Todos os pacientes incluídos neste estudo, participaram e atenderam aos
compromissos de acordo com o protocolo estabelecido. Durante o período para o
desenvolvimento da pesquisa procedeu-se a uma seleção aleatória dentre os pacientes
em tratamento no curso de especialização em ortodontia da FO/UFMG.
Em razão dos critérios de inclusão e de exclusão e disponibilidade para
participar do estudo, foi selecionada uma amostra composta de 29 indivíduos, estando
de acordo com o proposto pelo ClinicalTrials.gov (2010) e HAYNES et al. (2008)
para ensaios de fase II. O principal critério de exclusão foi a falta dos pacientes a
consulta durante a pesquisa e a idade. Dos vinte e nove (29) indivíduos selecionados
doze (12) eram homens e dezessete (17) mulheres, com idade variando entre 12 e 17
anos. Através do exame clínico diagnosticou-se a gengivite que foi o principal critério
de inclusão no estudo. Treze (13) indivíduos iniciaram, mas não concluíram o estudo
por motivo de falta às sessões de atendimento, dois (2) indivíduos removeram o
aparelho fixo durante a pesquisa e foram excluídos dos resultados mas continuaram o
tratamento com os fármacos, quatorze (14) indivíduos não preenchiam os critérios de
inclusão. Nenhum indivíduo abandonou o tratamento seja por efeitos colaterais ou
qualquer manifestação alérgica causada pelo fármaco testado.
FIGURA 9 – Diagrama de fluxo do estudo
Fonte: Dados da pesquisa
Avaliados para elegibilidade n = 60 (29)
Excluídos n = 31
Não adequados ao critério de inclusão n = 14 Recusaram participação n = 2
Abandonaram o estudo n = 13 (falta as sessões)
Excluídos dos resultados n = 2 (remoção do aparelho)
Resultados |
25
Comparação Inter-grupo
Os géis de Clorexidina e Clorexidina: β-ciclodextrina 0,6% foram capazes de
reduzir os índices de placa visível
(IPV)
e sangramento gengival
(IS)
por até 30 dias
quando comparados a pacientes submetidos apenas a remoção mecânica da placa
dental como observado nas
Tabelas 1 e 2
.
Tabela 1.
Índice de Placa Visível (Valores Médios ± Desvios-padrão) do exame
inicial (T0) ao exame final (T60) – comparação inter-grupo clorexidina 0,6 % x
clorexidina: β-ciclodextrina 0,6 %.
Fonte: Dados da pesquisa
Na
Tabela 1
observamos os valores médios dos índices de placa visível
de
indivíduos após tratamento com clorexidina 0,6%, clorexidina:
β
-ciclodextrina 0,6% e
profilaxia após 0, 15, 30 e 60 dias. Os dados da observação inicial T = 0 mostram que
todos os pacientes apresentam índices de placa que variam de 0,7 a 0,9 sem diferença
estatística entre os grupos.
Na avaliação após 15 dias
(Tabela 1)
observamos que os tratamentos com
clorexidina 0,6% e clorexidina:
β
-
ciclodextrina 0,6% apresentaram resultados de
IPV
mais favoráveis quando comparadas à remoção mecânica de placa. Entretanto quando
comparamos clorexidina e clorexidina:
β
-ciclodextrina não existe diferença estatística
entre os mesmos sendo os índices encontrados de 0,17 (+ 0,10) e 0,17 (+0,08)
respectivamente.
Os resultados de
IPV
após 30 dias de aplicação do tratamento (
Tabela 1
)
evidenciam que ainda prevalecem os resultados favoráveis dos grupos clorexidina
Parâmetros Cx Cx:β-cd Profilaxia
T0 0,71 ± 0,26 0,75 ± 0,16 0,95 ± 0,07
T15 0,17± 0,10 0,17 ± 0,08 0,73 ± 0,13
T30 0,35 ± 0,02 0,36 ± 0,08 0,09 ± 0,06
Resultados |
26
0,6% e clorexidina:
β
-
ciclodextrina 0,6% em relação à remoção mecânica de placa,
também não se observa diferença estatística entre os mesmos sendo os índices
encontrados de 0,35 (+ 0,02) e 0,36 (+0,08) respectivamente. Entretanto, observa-se
um aumento de aproximadamente 100% nos índices de placa dos grupos clorexidina
0,6% e clorexidina:
β
-ciclodextrina 0,6% enquanto no grupo da remoção mecânica
houve uma diminuição voltando a valores próximos aos iniciais 0,09 (+ 0,06).
Após 60 dias de aplicação dos sistemas testados foram feitas medidas para
exame final deste estudo (
Tabela 1
). Observou-se que de uma forma geral os índices
de placa visível encontrados se aproximaram dos índices iniciais. Sendo que o grupo
clorexidina:
β
-ciclodextrina 0,6%, neste caso apresentou resultados mais satisfatórios
0,60 (+ 0,14) quando comparados a clorexidina 0,6% 0,75 (+ 0,25) e a profilaxia 1,09
(+ 0,09) que apresentou os índices mais elevados.
Tabela 2.
Índice de Sangramento (Valores Médios ± Desvios-padrão) do exame
inicial (T0) ao exame final (T60) – comparação inter-grupo Clorexidina 0,6 % x
Clorexidina: β-ciclodextrina 0,6 %.
Fonte: Dados da pesquisa
Na
tabela 2
estão apresentados os resultados de índice de sangramento
(IS)
após tratamento de indivíduos com géis de clorexidina 0,6%, Clorexidina:
β
-ciclodextrina 0,6 % e profilaxia durante os períodos de 0, 15, 30 e 60 dias.
Inicialmente, todos os pacientes selecionados apresentavam sangramento gengival
clinicamente considerável, estes índices variaram entre 0,55 e 0,83.
Após 15 dias de exposição ao tratamento indicado observamos grande redução
no
IS
nos grupos clorexidina 0,6% 0,22 (+ 0,06) e clorexidina:
β
-ciclodextrina 0,6 %
0,37 (+ 0,05) quando comparados à remoção mecânica de placa 0,67 (+ 0,03).
Parâmetros Cx Cx:β-cd Profilaxia
T0 0,55 ± 0,08 0,55 ± 0,04 0,83 ± 0,08
T15 0,22 ± 0,06 0,37 ± 0,05 0,67 ± 0,03
T30 0,37 ± 0,05 0,37 ± 0,05 0,67 ± 0,03
Resultados |
27
Quando comparados individualmente clorexidina 0,6% e clorexidina:
β
-ciclodextrina
0,6 % não houve diferença estatística significativa ( p < 0,05).
Após 30 dias dias de exposição aos fármacos não se notou diferença no
IS
quando comparados aos resultados após 15 dias. Os grupos clorexidina 0,6% 0,37 (+
0,05) e clorexidina:
β
-ciclodextrina 0,6 % 0,37 (+ 0,05) apresentaram resultados
muito semelhantes e sem diferença estatística entre eles porém houve diferença
quando comparados ao grupo onde se empregou a remoção mecânica da placa dental
0,67 (+ 0,03).
Na avaliação final do
IS
após 60 dias observou-se a mesma tendência já
observada no
IPV
, os índices retornam a apresentar valores semelhantes aos iniciais,
sem diferença estatística entre os mesmos. Sendo que os índices observados foram:
clorexidina 0,6% 0,60 (+ 0,09), clorexidina:
β
-ciclodextrina 0,6 % 0,59 (+ 0,08) e
profilaxia 1,14 (+ 0,06).
Comparações Intra-grupo
Tabela 3.
Escores do Índice de placa visível do grupo clorexidina 0,6 %, comparados
entre os períodos - comparação intra-grupo (Inicial, 15, 30 e 60 dias).
Tempos
P
value
Redução - %Cx T0 vs. T15
<0.001*
77%
T0 vs. T30
NS
50%
T0 vs. T60
NS
-
Teste Friedman (ANOVA) p
≤
0.05
*Diferença estatisticamente significante com p
≤
0.05.
NS, não significante.
Fonte: Dados da pesquisa
Na
Tabela 3
estão apresentados os dados da comparação intra-grupo do
IPV
do gel de clorexidina 0,6% nos tempos 0, 15, 30, 60 dias. De acordo com análise
estatística pelo teste de Friedman (ANOVA) observamos que houve diferença
Resultados |
28
77%, quando comparamos os tempos 30 e 60 dias com o tempo 0 não se observa
diferença significativa entre os resultados (p < 0,05).
Tabela 4.
Escores do Índice de placa visível do grupo clorexidina:
β
-ciclodextrina 0,6
%, comparados entre os períodos - comparação intra-grupo (Inicial, 15, 30 e 60 dias).
Teste Friedman (ANOVA) p
≤
0.05
*Diferença estatisticamente significante com p
≤
0.05.
NS, não significante.
Fonte: Dados da pesquisa
Na
Tabela 4
estão apresentados os dados da comparação intra-grupo do
IPV
do gel de clorexidina: β
-
ciclodextrina 0,6% nos tempos 0, 15, 30, 60 dias. De acordo
com análise estatística pelo teste de Friedman (ANOVA) observamos que houve
diferença estatística neste grupo entre os tempos 0 e 15 dias, onde houve redução do
IPV considerável de 77% e também entre 0 e 30 dias (52%). Quando comparados os
tempos 0 e 60 dias não se observa diferença significativa entre os resultados (p <
0,05).
Tempos
P
value
Redução - %Cx:
β
-cd
T0 vs. T15<0.001*
77%
T0 vs. T30
<0.05*
52%
Resultados |
29
Tabela 5.
Escores do Índice de placa visível do grupo Profilaxia, comparados entre os
períodos - comparação intra-grupo (Inicial, 15, 30 e 60 dias).
Teste Friedman (ANOVA) p
≤
0.05
NS, não significante.
*Diferença estatisticamente significante com p
≤
0.05.
Fonte: Dados da pesquisa
Na
Tabela 5
estão apresentados os dados da comparação intra-grupo do
IPV
do grupo onde se aplicou o tratamento com profilaxia nos tempos 0, 15, 30, 60 dias.
De acordo com análise estatística pelo teste de Friedman (ANOVA) observamos que
houve diferença estatística neste grupo entre os tempos 0 e 15 dias, onde houve
redução do IPV considerável de 23%. Quando comparamos os tempos 30 e 60 dias
com o tempo 0 não se observa diferença significativa entre os resultados (p < 0,05).
Tabela 6.
Escores do Índice Sangramento do grupo clorexidina 0,6 %, comparados
entre os períodos - comparação intra-grupo (Inicial, 15, 30 e 60 dias).
Tempos
P
value
Redução - %Cx T0 vs. T15
<0.01*
60%
T0 vs. T30
NS
32%
T0 vs. T60
NS
-
Teste Friedman (ANOVA) p
≤
0.05.
NS, não significante.
*Diferença estatisticamente significante com p
≤
0.05.
Fonte: Dados da pesquisa
Tempos
P
value
Redução - %Profilaxia
T0 vs. T15<0.01*
23%
T0 vs. T30
NS
-
Resultados |
30
Na
Tabela 6
estão apresentados os dados da comparação intra-grupo do
IS
do
gel de clorexidina 0,6% nos tempos 0, 15, 30, 60 dias. De acordo com análise
estatística pelo teste de Friedman (ANOVA) observamos que houve diferença
estatística neste grupo entre os tempos 0 e 15 dias, onde houve redução do
IS
considerável de 60% quando comparamos os tempos 30 e 60 dias com o tempo 0 não
se observa diferença significativa entre os resultados (p < 0,01).
Tabela 7.
Escores do Índice Sangramento do grupo clorexidina:
β
-ciclodextrina 0,6 %
comparados entre os períodos - comparação intra-grupo (Inicial, 15, 30 e 60 dias).
Teste Friedman (ANOVA) p
≤
0.05.
NS, não significante.
*Diferença estatisticamente significante com p
≤
0.05.
Fonte: Dados da pesquisa
Na
Tabela 7
estão apresentados os dados da comparação intra-grupo do
IS
do
gel de clorexidina:
β
-ciclodextrina 0,6% nos tempos 0, 15, 30, 60 dias. De acordo
com análise estatística pelo teste de Friedman (ANOVA) observamos que houve
diferença estatística neste grupo entre os tempos 0 e 15 dias, onde houve redução do
IPV
considerável de 76% quando comparamos os tempos 30 e 60 dias com o tempo 0
não se observa diferença significativa entre os resultados (p < 0,001).
Tempos
P
value
Redução - %Cx:
β
-cd
T0 vs. T15<0.001*
76%
T0 vs. T30
NS
32%
Resultados |
31
Tabela 8. Escores do Índice Sangramento do grupo Profilaxia comparados entre os
períodos - comparação intra-grupo (Inicial, 15, 30 e 60 dias).
Teste Friedman (ANOVA) p
≤
0.05.
NS, não significante.
*Diferença estatisticamente significante com p
≤
0.05.
Fonte: Dados da pesquisa
Na
Tabela 8
estão apresentados os dados da comparação intra-grupo do
IS
do
grupo onde se aplicou a profilaxia mecânica nos tempos 0, 15, 30, 60 dias. De acordo
com análise estatística pelo teste de Friedman (ANOVA) observamos que houve
diferença estatística neste grupo entre os tempo 0 e 15 dias, onde houve redução do
IPV considerável de 40% quando comparamos os tempos 30 e 60 dias com o tempo 0
não se observa diferença significativa entre os resultados (p < 0,01).