C.A. Cuba Cuba*e L. R. Corrêa**
Em M a i o d e 1 9 7 3 , u m d o s a u t o r e s ( C . A . C . I c o l e t o u n a l o c a l i d a d e d e Im a c i t a , P r o v í n c i a d e B a g u a , D e p a r t a m e n t o d e A m a z o n a s, v á r i o s e sp é c i m e s d e Bi om phal ar i a
st r am inea ( D u n k e r , 1 8 4 8 ) , u m a e sp é c i e q u e , a t é e n t ã o , n ã o h a v i a si d o a ssi n a l a d a n o Pe r u .
D e sc e n d e n t e s d e st e s i n d i v í d u o s f o r a m su b m e t i d o s a p r o v a s d e su sc e t i b i l i d a d e à s c e p a s B H e S J d e Sch i st osom a m ansoni q u e , e m c o n d i ç õ e s n a t u r a i s, e v o l u e m e m
B. gl abrat a d e B e l o H o r i z o n t e e B. t enagophi l a d e Sã o J o sé d o s Ca m p o s, r e sp e ct i v a m e n t e .
O i t e n t a e sp é c i m e n s f o r a m e x p o st o s à c e p a B H d o s q u a i s e m 1 3 o u 1 6 , 2 % a i n f e c ç ã o e v o l u i u c a r a c t e r i st i c a m e n t e a t é a f o r m a ç ã o d e e sp o r o c i st o s se c u n d á r i o s se m h a v e r , c o n t u d o , e l i m i n a ç ã o d e c e r c á r i a s, m e sm o n o i n d i v í d u o q u e a p r e se n t o u u m a so b r e v i v ê n c i a d e 8 8 d i a s a p ó s a e x p o si ç ã o . N ã o se v e r i f i c o u c u r a e sp o n t â n e a n e st e l o t e .
En t r e a s 4 0 B. st r am inea e x p o st a s à c e p a S J 9 o u 2 2 , 5 % i n f e c t a r a m - se , se n d o q u e a p e n a s d u a s e l i m i n a r a m p o u c a s c e r c á r i a s a o s 5 7 e 7 7 d i a s a p ó s a e x p o si ç ã o , p o r d o i s d i a s c o n se c u t i v o s, t e n d o u m a m o r r i d o e u m a se c u r a d o e sp o n t a n e a m e n t e . A c u r a e sp o n t â n e a d o p a r a si t i sm o f o i n o t a d o e m m a i s d o i s i n d i v í d u o s, n o s q u a i s a i n f e c ç ã o f o i o b se r v a d a a t r a v é s d a c o n c h a .
C o r t e s h i st o l ó g i c o s se r i a d o s d e 9 c a r a m u j o s, e x p o st o s i n d i v i d u a l m e n t e a 5 0 m i r a c í d i o s d a c e p a B H e f i x a d o s e n t r e 6 e 1 2 0 h o r a s a p ó s a e x p o si ç ã o , m o st r a r a m e sp o r o c i st o s e m d e se n v o l v i m e n t o e e sp o r o c i st o s i n v a d i d o s p o r a m e b ó c i t o s, se m f o r m a ç ã o d e g r a n u l o m a s p o r p a r t e d o h o sp e d e i r o , f a t o a ssi n a l a d o e m c a r a m u j o s su sc e t í v e i s.
A p o p u l a ç ã o e st u d a d a c o m p o r t o u - se e x p e r i m e n t a l m e n t e d e m o d o se m e l h a n t e a o u t r a s p o p u l a ç õ e s d e B. st r am inea t e st a d a s e m l a b o r a t ó r i o , i st o é, c o m b a i x a su sc e t i b i l i d a d e , e m b o r a t a l c o m p o r t a m e n t o n ã o a f a st e a p o ssi b i l i d a d e d e l a v i r a m a n t e r o c i c l o d o p a r a si t a e m su a á r e a d e d i st r i b u i ç ã o .
I N T R O D U Ç Ã O
B i o m p h a l a r i a st r a m i n e a , im port ant e hos
pedeir o int er m edi ár io de Sc h i st o so m a m a n s o n i no Nor d est e d o Brasil , apresent a vast a
d i st r i b ui ção geográf ica send o encont r ada na Venezuel a, Guianas, Par aguay e Brasil , al can çan d o p er t o de 2 0 ° l at it ude su l 1 Ai n d a no Brasi l sua presença é assinal ada em várias áreas da Bacia Am azô n i c a co m o em Man au s1, t e n d o si d o incr im i nada c om o vet or
de esqui st ossom ose em For dl andi a, Est ado d o Pará10, u m f oco at ual m ent e ext int o.
Em rel ação a seu pot enci al de vet or de S.
m a n so n i e vi san d o car act erizar o que f oi
d en om i n ad o c om o "q u al i d ad e de vet or ", Barbosa & Co e l h o 2; Coel ho & Bar b osa5, pesquisar am as relações hospedeiro-parasit a de B. st r a m i n e a a um a cepa pernam bucana
de S. m a n so n i . Post eriorm ent e, Barbosa &
Fi guei r ed o3 real izaram est udos sobre a suscet ib il id ade de diversas cepas de B. st r
a-* Pr o f e sso r d a Fa c u l d a d e d e Ci ê n c i as d a Saú d e . Un i v e r si d a d e d e Br asíl i a. Br asf l i a O. F. , Br asil . * Pr o f e sso r a d o In st i t u t o d e Bi o l o gi a. Un i v e r si d a d e d e Br asf l i a. Br asíl i a, D. F. , Br asi l .
196
Rev. Soc. Bras. Med. Trop.
Vol. X IN ? 6
m i n e a , col et adas em 5 Est ad os d o Nor dest e
brasil eiro, à um a cepa de S. m a n so n i ver i f i
cando, geral ment e, bai xas t axas de inf ecção experim ent al .
No present e t rabal ho são apresent ados os resul t ados d o est ud o da suscet ib il id ade ao S.
m a n so n i de B. st r a m i n e a procedent e d o
Peru, paCs onde at é agora essa espécie não t i nha si d o assinal ada.
M A T E R I A L E M ÉT O D O S
Nas exper iências f or am usadas duas cepas de Sc h i st o so m a m a n so n i a cepa BH, isol ada
em 1959 de um pacient e cr ôn i co de esquis- t ossom ose cont r af da em Be l o Hor izont e, MG. , e a cepa SJ, isol ada em 1 9 6 2 de
B i o m p h a l a r i a t e n a g o p h i l a nat ur al m ent e
inf ect ada, col et ada em Sã o José d os Cam pos, Est ad o de Sã o Paulo, am bas m ant id as regu l arm ent e em cam und ongos al b i nos n o Lab o r at óri o de Par asi t ol ogi a d o In st i t u t o de Bi ol ogia, da Universid ade de Br asíl i a.
Car am uj os cri ados no l abor at ór i o ( 4, 5 - 9 m m de diâm et ro) descendent es de espé- cim ens col et ados na l ocal idade de Im acit a, Pr ovíncia de Bagua, Dep ar t am ent o de Am azonas, Peru, num a área d enom inada "sel va al t a", a 6 5 0 m. sobre o nível d o mar, f oram indi vid ual m ent e exp ost os a 10 mira- cíd i os de S. m a n so n i (Cepas BH e SJ). A
concent r ação dos m i r acíd i os era ef et uada pela t écnica de Chaia4 a part ir de f ezes de cam und ongos al b i nos inf ect ados c om as cepas est udadas. No est ereom icr oscópio, os m i r acídi os eram col et ados com a aj uda de pipet a Past eur de cal ibr e f i n o e cont ados, send o deposi t ados em pl aca de pet ri de 4 cm s de diâm et ro, c on t en d o água descl o- rada. Especi al cu i d ad o na escol ha d os m ira cíd i os f oi t om ada, p oi s som ent e os m ai s at ivos f or am empregados. Os car am uj os eram col ocados nas placas em cont act o com os m i r acídi os por um p er íod o de 6 hs. após o qual eram col ocad os em aq uár i os bal an ceados. Diar i am ent e observava-se os espéci- mens e no caso da m ort e de al gum del es procedia-se a dissecção e exam i nava-se a presença de f or m as l arvárias em desenvol vi m ent o d o S. m a n so n i . Ent r e o 2 6 ? e 3 0 ?
dias após a e xp osi ção e d epoi s cada 4 8 hs. os car am uj os eram isol ados indi vid ual m ent e em pequenos vi d r os con t en d o água descl or ada e exp ost os a l uz de l âm padas el ét ricas de acordo com a t écnica padr onizada nest e l a bor at ór io.
O m at erial dest in ad o a est udo hist ol ógi co era ob t i d o pel a m ort e d o s car am uj os inf ect a dos na água quent e ( 70° C) e ret irada do c o r p o p u x an d o e est icando as part es m ol es sobr e papel de f il t r o. Post eri orm ent e se f ixava em Bo u i n ( 12- 24 hs), send o ret i rado o excesso de áci do p ícr i co c om 3 passagens em ál cool h - b u t íl i c o e i n c l u íd os em paraf ina. Cort es seriados de 6 u da t ot al i dade do c or p o d o anim al f or am cor ados pel a Hema- t oxi l i na- eosina.
Desenhos em câm ara clara da genit ál ia de al guns exem pl ares f or am real izados. Com o cont r ol e para as diversas exper iências de inf ecção f or am ut i l i zad os B. g/ a b r a t a de Bel o
Hor izont e, MG.
R E SU L T A D O S
O est ud o das conchas e genit ália dos m ol uscos col et ados n o Peru m ost raram sími- l i t ude m or f ol ógi ca com B i o m p h a l a r i a st r a m i n e a ( Du n k e r , 1858) (Fig. 1).
A T A B E L A I apresent a os resul t ados da ex p osi ção de 80 car am uj os à cepa BH de S.
m a n so n i , dos quai s 13 S. st r a m i n e a , t orna
ram-se inf ect ados obt endo-se u m ín d i ce de inf ecção de 16, 2%. Tod avi a nenhum deles el im i nou cercárias, em bora houvesse invasão m aciça de esp or ocist os secundár ios nos ór gãos int er nos e a evol ução da inf ecção ter si d o acom p anhad a durant e 3 meses, apr oxi m adam ent e. Três espéci m ens com 46, 55 e 88 dias após e xp osi ção apresent aram espor o ci st os secundár ios f inos, sem c on t u d o haver evol ução para cercárias.
A obser vação d os cort es hist ol ógi cos re vel ou que a massa cef al opedal e o mant o f or am as áreas c om m ai or núm er o de espor o cist os. O exam e d o aspect o d os espor ocist os revel ou f or m as apar ent em ent e ínt egras (inal t eradas), c om num er osas cél ul as germinat ivas em m ul t i p l i cação e presença de massa neural, sem reação t i ssul ar d o hospedeir o, j unt o a f or m as em dest r uição (alt eradas), invadidas por am ebòci t os e c om discret a reação cel ul ar. Nos esp or ocist os que apresent aram al t erações degenerat ivas não f oi verif icada a presença de granul om as. De 86 espor oci st os obser vados nos cort es hi st ol ógi cos seriados de 9 car am uj os inf ect ados, 73 , 2 % se apre sent ar am apar ent em ent e ínt egros.
Um índ i ce de inf ecção de 22, 5% f oi obser vado ent re os 4 0 B. st r a m i n e a expost os
ov
Biompha la r ia st r a minea
de B a g u a , Pe r u
si st e m a ge n i t al
198
Rev. Soc. Bras. Med. Trop.
Vol. XIN? 6
T A B E L A 1 h t SU l T A L O S DA EX PO SIÇ Ã O DE 8 0 B I O M P H A L A R I A S T R A M I N E A DE B A G U A , A M A Z O N A S, P E R U , A CEPA BH Df S C H I S T O S O M A M A N S O N I ( 1 0 M I RA Cf D I O S PO R C A RA M U J O ) .
D I A S A P Ó S E X P O SI Ç Ã O
C A R A M U J O S
E X A M I N A D O S R E S U L T A D O S * * 3 2 0 i 2 M O RT O S N EG A T I V O S
2 t t E S NO O T , 6 0 , C R , P N , C P 2 2 - 2 8 5 M O RT O S N EG A T I V O S
*
2 9 1 E S NA G D, PP , M C. 0 REST O A U T O L I SA O O 3 0 - 3 3 2 M O RT O S N EG A T IV O S
*
3 4 1 E S NO O T , GO, GA, PP , CR 3 5 i M O RT O N EG A T IV O 3 6 1 E S O T , G D, CR, MC 3 7 - 4 1 2 M O RT O S N EG A T I V O S
4 2 - 4 3 2 1 CO M E S NA C R, PN , I N ; 1 CO M E S N O O T , G O , G N , C R , T R , P P , M C •
4 6 ! E S NO O T , G D , P P 4 7 E S W O T , G D , C R , P N 4 8 5 0 8 M O RT O S N EG A T I V O S
51 ' E S NO O T , G D , E T , IN , M C , P P , P N
5 2 5 4 4 M O RT O S N EG A T I V O S 1 E S A N T EN A . P É. CO L A R M A N T O . C « OV. « 0 M C . PA RED E ESTÕMAQC *
5 5 E S NO O T , P P , M C » r R , C P 5 6 8 4 2 i D I SSE C A D O S N EG A T I V O S
8 5 ' E S NO O T , G A , PP , G R, C M
8 8 1
A
E S NA GD ; 0 R E ST O A U T O L I SA D O 9 0 9 6 3 D I SSEC A D O S N EG A T I V O S
.
« K SP O R O C 'ST O S SE C U N D Á R I O S D EL G A D O S
* • Í N D I C E DE I N F E C Ç Ã O i 6 , 2 %
CM C O L A R 0 0 M A N T O , CP M A SSA C E F A F A L O P E O A L , CR C R I ST A R E T A L , E S E SP O R O C I ST O SEC U N D Á R I O , ET EST Ô M A G O , B A GLÂ N DU LA
SJ DE ( 10 MI RA CÍ DI O S POR CA RA M U J O )
DI A S A P O S
E X P O SI Ç Ã O
C A R A M U J O S
EXA M IN A D O S R E S U L T A D O S *
15 - 3 2 6 MORT OS A U T O U SA D O S N EG A T I V O S
3 5 - 4 4 7 D I SSECA D O S N EGAT I VOS
5 4 1 EL I M I N O U CERCA RI A ( N - 1 ) * *
5 7 2 PO SI T I V O S. E S O B SERV A D O S A T R A V É S DA CON CH A ( N Í ! 3 , 4 ) * *
7 0 6 D I SSECA D O S N EG A T I V O S
7 3 I PO SI T I V O ES O BSERV A DOS A T RA V ÉS DA CO N CH A ( N 2 5 ) * *
7 5 4 D I SSECA D O S N EG A T I V O S
7 7 1 EL I MI N O U C ER C Á R I A S ( N 2 2 ) * *
7 8 1 PO SI T I V O , E S O B SERV A D O S A T R A V ÉS DA CONCH A ( N 2 6 ) * *
81 1 ES NO OT, GD, ET . G A , PP, CR, M C, CP
8 4 2 1 C O M E S NO O T . G D, ET , CR, P P , M C , C P ; 1 C O M E S NO OT, GD, ET , GN, T R , PP, CP
8 6 8 DI SSECA DO S N EGAT I V OS
* ÍN D IC E OE IN FEC Ç Ã O 2 2 , 5 % I N D I C E E L I M I N A Ç Ã O C E R C Á R I A S 5 %
C M C O L A R 0 0 M A N T O , C P M A S S A C E F A L O P E D A L , C R C R I S T A R E T A E S E S P O R O C I S T O S E C U N D Á R I O , E T E S T Ô M A G O , G A G L Â N D U L A D O A L B Ú M E N , G D
G L Â N D U L A N I D A M E N T A L , M C M Ú SC U L O C O L U M E L A R , O T O V O T E S T E , P P P A R E D E P U L M O N A R , T R T U B O R E N A L
i
m
b
ro
-D
e
ze
m
b
ro
,
1
9
7
7
R
ev
.
S
o
c
.
Br
as
.
M
ed
.
T
ro
p
T A B E L A m - ELIMINAÇÃO DE CERCÁ RIA S E EVOUJÇÃO DA INFECÇÃO EM B I OM P H A L A R I A ST R A M I N E A ( PERU ) IN F ET A D A S COM A CEPA
SJ DE SC H I ST O SO M A M A N SO N I .
CA RA M U J O N - * *
PERÍODO DE EL IM IN A Ç Ã O * * *
N2 T OT AL DE C ERC Á RIA S
D I A S A P O S
EX P O SI Ç Ã O O B SER V A Ç Õ ES * * * * *
1 2 9 119 SACRIFICADO: CURA ESPO N T Â N EA
2 2 10 7 9 MORREU COM INFECÇÃO MACIÇA. E S NO OT, G D , 6 A , C R , PP
3 - — 65 MORREU E S NO OT , G D, E T , P P , C R , CP
4 — — 106 SACRIFICADO: CU RA ESP O N T Â N EA
5 — — 8 4 MORTO A CIDEN T A L MEN T E. E S NO OT, GD, E T , P P , P N , C R , C M , C P
6 — — 9 0 SACRIFICADO: CU RA ESPO N T Â N EA
* * VEJ A A T A BEL A C
« * » CONT ADOS EM OIAS A L T ERN A D O S
» « * » CM CO L A R DO MANT O, CP M A SSA CEFA L O PEDA L , CR CRIST A RET AL, E S ESPO RO CIST O SECU N D Á RIO , E T ESTÔMAGO, G A G L Â N D U L A DO A L B Ú M E N , GO G L Â N DU L A DIG EST IVA , OT O V O T EST E, PP PAREDE PU LMONAR, PN PN EU M Ó ST O M A
R
ev
.
S
o
c
.
B
m
.
M
ed
.
T
ro
p
.
V
o
l.
X
IN
?
Ap e n as d oi s dest es úl t i m os el i m i nar am cer cár ias ( 5 % d o t ot al d os car am uj os exp ost os). A l i beração de cer cár ias ( T A B E L A III) f oi acom p anhad a nos d ois car am uj os (1, 2) send o que am b os só el i m i nar am 9 e 10 cercárias respect ivam ent e dur ant e d oi s dias, após o que o n ? 1 d ei xou de el i m i nar e dissecado aos 119 dias, após exposição, não apresent ou sinal de inf ecção, d em onst r and o cur a da inf ecção. O n ? 2 m or r eu n o t erceir o dia m ost r an d o int ensa inf ecção p or espor o ci st os secundári os, d o ovot est e e gl ândul a digest iva. Os car am uj os n ? 4 e 6, cuj a i n f ecção f oi com pr cw ada aos 57 e 7 8 dias após a e xp osi ção pel a obser vação de espor ocist os at ravés da concha, não apresent aram m ai s sinal de f or m as l arvárias q u an d o dissecados aos 106 e 9 0 dias, respect ivam ent e. Dessa f or m a os espéci m ens f or am consi der ad os cur ad os espont aneam ent e da inf ecção.
D I SC U SSÃ O
Em b or a n o Peru não t enha si d o veri f icada a presença de Sc hi st o so m a m a n so n i e esquis-
t ossom ose, m ol uscos vet ores d o parasit a est ão d i st r i b u íd os em cert as áreas d o t erri t ó r i o per uano. Paraense & col s. 9 assinal aram a espécie B i o m p h a l a r i a t e n a g o p h i l a n o vale
in t er andi no de Condebam ba, Dep ar t am ent o de Caj amarca, a qual se m ost r ou al t am ent e sucet ível à inf ecção experi m ent al p or um a cepa brasil eira de S. m a n so n i .
Nest e t rabal ho, com un i cam os pel a pri m eira vez a presença de B. st r a m i n e a , no
Peru, o u t r o im port ant e vet or de esqui st os- som ose n o nor dest e brasil eiro, na l ocal idade de Im acit a, Pr ovínci a de Bagua, Depar t a m ent o de Am azonas, am pl i ando, dest a f orm a, o conheci m ent o da d i st r i b ui ção geo gráf ica dessa espéci e1 1.
Est u d os experi m ent ai s c om cepas de B. st r a m i n e a e S. m a n so n i de diversas pr oce
dênci as t êm evid enciado ín d i ces de inf ecção não super i or es a 5%, d em onst r and o a bai xa suscet ib il id ade dessa espécie ao t rema- t ó d e o2, 3, 7
A cepa de B. st r a m i n e a t est ada n o pre
sent e t r ab al ho apresent ou ín d i ce de inf ecção c o m el i m i nação de cercárias de 5%, q u an d o exp ost a à cepa SJ de S. m a n so n i ; est e d ad o é
com par ável aos rel at ados pel os aut ores ant e r i or m ent e cit ados. Qu an d o t est ados com a cepa BH não houve el i m i nação de cercárias. N o ent ant o, para se est udar a suscet ibil idade de u m m ol u sc o vet or, obser vações sobre a
inf ecção e evol ução das f orm as int ra- m ol u sco devem ser realizadas.
O com p or t am ent o da evol ução da in f ecção nos diversos órgãos int er nos dos car am uj os exp ost os ao parasit a m ost rou dif e renças i m port ant es ent re as cepas BH e SJ. A cepa BH evol ui u at é espor ocist os secun dários, in vad i nd o ovot est e e gl ândul a diges t iva, apr esent ando p er íod os de inf ecção t ão l ongos com o 51 e 8 8 dias, com índice de 16 , 2 % d os car am uj os expost os, porém sem el i m i nação de cercárias. A cepa SJ invadiu os órgãos int er nos de vár ios espécimens, com p l e t and o sua evol ução, c om el i m inação de cercárias em d oi s exem pl ares cuj os p er íodos pré-pat ent es de inf ecção f or am de 54 e 77 dias, respect ivament e.
Est a aparent e cont r ad i ção ent re índice de inf ecção ( 1 6 , 2 % e 22, 5%) e f ndice de el imi nação de cercárias ( 5 % e 0, 0%), se deve ao f at o de ser consi der ad o inf ect ados t odos os car am üj os que apresent aram f orm as evol u t ivas de S. m a n so n i , após sua exposição à
m i r acíd i os d o t rem at ódeo. O com por t a m ent o da inf ecção em B. st r a m i n e a , e out ras
espécies de p l anor b ídeos vet ores de esquis- t o sso m o se , 't ê m sid o m ui t o bem est udados p or Bar b osa & Co e l h o 2 ; Paraense & Corr êa8 ; Paraense & col s. 9 ; Corrêa & Paraense6 , em seus est udos c om out r os m odel os experi ment ais.
É verdade que d o p on t o de vist a epide- m i ol ógico, a t axa de inf ecção com el im i nação de cercárias é a caract eríst ica mais relevant e em inf ecções exper im ent ai s de pl anor bídeos. Ent r et ant o, em est udos sobre suscet ib il id ade devem ser est abel ecidas as car act eríst i cas de evol ução das f orm as lar várias int ra-m ol usco. A m or t al idade e a cura espont ânea observadas são, evident ement e, c o n se q ü ê n c i a s d a r e l ação parasit a- h osp ed e i r a
Em rel ação ao exam e de B. st r a m i n e a
sacr i f icados durant e as prim ei ras horas após inf ecção houve u m m ai or por cent ual de esp or ocist os ínt egr os ( 73, 2%) , não sendo evi denciado u m aum ent o de f or m as larvárias dest r uíd as à m edida que a inf ecção se t ornava m ai s ant iga. Est e f at o é discordant e das obser vações realizadas p or Coel ho & Bar b osa5 em suas experi ências com B. st r a m i n e a de Pernam buco. Esp or oci st os inva
202
Rev. Soc. Bras. Med. Trop.
Vol. X IN ? 6
f or m as l arvárias evol uem e m i gr am at é o ovot est e e gl ândul a digest iva, m as f al ham n o m om e n t o de dif erenciar-se em cercárias e as vezes regridem at é o desaparecim ent o t ot al sem deixar sinai s de rest os parasit ários. Esse f a t o f oi obser vado c o m a cepa SJ ( T A B E L A S II e III) e f oi r ep or t ado ant eri or ment e p or Coe l h o & Bar b osa5.
A av al i aç i o d o possível papel epide- m i ol ògi c o de B. st r a m i n e a na regi ão am azô
nica per uana, n So pode ser det erm inada nest e t rabal ho, p or ém as obser vações reali zadas con t r i b u e m para o con h e ci m en t o de seu com p or t am e n t o f ace à inf ecção p or S. m a n so n i .
S U M M A R Y
I n M a y 1 9 7 3 o n e o f t h e A u t h o r s ( C . A . C . ) c o l l e c t e d sp e c i m e n s o f Bi o m p h a
laria st r am inea ( D u n k e r 1 8 4 8 ) a t i m a c i t a , B a g u a Pr o v i n c e , A m a z o n a s, Pe m . T h i s sp e c i e s h a s n o t b e e n d e sc r i b e d b e f o r e i n Pe r u .
P r o g e n y f r o m t h e se sp e c i m e n s t e st e d f o r su sc e p t í b i l i t y t o t h e B H a n d S J st r a i n s o f Sc h i st osom a m ansoni w h i c h u n d e r n a t u r a l c o n d i t i o n s d e v e l o p i n B.
glabrat a o f B e l o H o r i z o n t e a n d B. t enagophi l a o f Sã o J o sé d o s C a m p o s, r e sp e c t i v e l y .
E i g h t y sp e c i m e n s w e r e e x p o se d t o t h e B H st r a i n o f w h i c h 1 3 o r 1 6 . 2 % d e v e t o p e d i n f e c t i o n w i t h se c o n d a r y sp o r o c y st s. H o w e v e r n o e l i m i n a t i o n o f c e r c a r i a e w a s o b se r v e d e v e n i n a sp e c i m e n w h i c h l i v e d 8 8 d a y s a f t e r e x p o su r e . N o sp o n t a n e o u s c u r e w a s f o u n d i n t h i s b a t c h .
O f 4 0 B. st r am i nea e x p o se d t o st r a i n SJ , 9 o r 2 2 . 5 % b e c a m e i n f e c t e d b u t o n l y t w o e l i m i n a t e d a f e w c e r c a r i a e o n t w o c o n se c u t i v e d a y s a t 5 7 a n d 7 7 d a y s a f t e r e x p o su r e . O n e d i e d a n d o n e u n d e r w e n t sp o n t a n e o u s c u r e . I n t w o o t h e r i n f e c t e d sn a i l s i n w h i c h i n f e c t i o n w a s v i si b l e t h r o u g h t h e sh e l l sp o n t a n e o u s c u r e w a s n o t e d . Se r i a l h i st o l o g i c a l se c t i o n s o f 9 sn a i l s w e r e m a d e a f t e r i n d i v i d u a l e x p o su r e t o 5 0 m i r a c i d i a o f t h e B H st r a i n a n d f i x e d 6 - 1 2 0 h o u r s a f t e r e x p o su r e . T h e se sh o w e d sp o r o c y st s i n d e v e l o p m e n t a n d i n v a d e d b y a m e b o c y t e s w i t h o u t f o r m i n g g r a n u t o m a s i n t h e h o st t i ssu e s, d e m o n st r a t i n g t h e sn a i l s w e r e su sc e p t i b l e .
T h e p o p u l a t i o n st u d i e d b e h a v e d e x p e r i m e n t a l / y i n a m a n n e r si m i l a r t o o t h e r p o p u l a t i o n s o f B. st r am inea t e st e d i n t h e l a b o r a t o r y i n t h a t a l o w su sc e p t í b i l i t y w a s d e m o n st r a t ed. H o w e v e r t h i s d o e s n o t e x c l u d e t h e p o ssi b i l i t y t h a t t h i s sp e c i e s c o u l d m a i n t a i n t h e p a r a si t i c c y c l e i n i t s a r e a o f d i st r i b u t i o n .
R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S
1. B A RB O SA , F. S. A not e on B i o m p h a l a r i a st r a m i n e a (Dunker , 1848) f r om Manaus
St at e of Am azonas, Brazil . Re v . So c . Br a s. M e d . T r o p . 2: 77-78, 1968.
2. B A RB O SA , F. S. & CO EL H O , M. C. - Qual i dades de vet or d os hospedeir os de
Sc h i st o so m a m a n so n i n o nor dest e d o
Brasil I. Suscet ib il id ad e de A . g l a b r a t u s e T. c e n t i m e t r a l i s à inf ecção p or S. m a n so n i . Pu b l . A v . In st . A g g e u M a g a l h ã e s.
3: 55-62, 1954.
3. B A RB O SA , F. S. & F I G U EI R ED O , T. - Su scep t íb i l i t y of t he snail int erm ediat e host s of Sch i st osom i asi s f r om nort heas- t ern Brazi l t o t he inf ect ion w it h Sc h i st o
so m a m a n so n i . Re v . In st . M e d . T r o p . Sã o P a u l o 1 2 (3) : 196- 206, 1970.
4. CH A I A, G. — Técni ca para concent r ação de m i racídi os. Re v . Br a si l . M a t ar . D o e n .
T r o p . 5: 355-357, 1956.
5. CO EL H O , M. V. & B A RB O SA , F. S. - Qual i dades de vet or d os hospedeir os de
Sc h i st o so m a m a n so n i n o nor dest e do
Brasil . III. Du r ação da inf est ação e el imi nação de cercári as em T r o p i c o r b i s ce n t i m e t r a l i s. Pu b . A v . In st . A g g e u M a ga l h ã e s. 5 :21-29, 1956.
Sc hi st o so m a m a n so n i . Re v . In st . M e d . T r o p . Sã o Pa u l o . 1 3 (6): 387-390, 1971.
7. G ER K EN , S. E. , A RA Ú J O , M. de P. & F R EI T A S, J. R. de — Suscet i b i l i d ad e da
B i o m p h a l a r i a st r a m i n e a da r egi ão de
Lagoa Sant a ( MG) ao Sc h i st o so m a m a n so n i . Re v . In st . M e d . T r o p . Sã o Pa u l o . 1 7 \388- 343, 1975.
8. P A RA EN SE, W. L. & C O RRÉA , L. R. - Su sc ep t i b i l i t y o f A u st r a l o r b i s t e n a go -p h i l u s t o inf ect i on w it h Sc h i st o so m a m a n so n i . Re v . In st . M e d . t r o p . Sã o Pa u l o . 5 :23-29, 1963.
9. P A RA EN SE, W. L. , IB A N EZ , N. H. & M I R A N D A , C. H. - A u st r a l o r b i s t e n
a-g o p h i l u s in Pe r u , a n d i t s suscept ibil i t y t o Sc h i st o so m a m a n so n i . A m . J. T r o p . M e d . & H y g . / 5: 534-540, 1964.
10. P A R D A L , P. O. , V I A N N A , C.M., SA N T O S, M. F. & SO U Z A , I. M. - Desa t i vação de f o c o de esqui st ossom ose no Val e d o Tapaj ós, no Est ado d o Pará.
Re su m o . X I I C o n g r e sso So c . Br a si l . M e d . T r o p . I C o n g r e sso So c . B r a si l Pa r asi t . .
Belém, Pará, 1976.
1 1 . W H O . PA N A M E R I C A N H EA L T H O RG A N I Z A T I O N . A Gu i d e f or t he 'I d e n
t i f i cat i on of t he snail int erm ediat e host s of schist osom iasis in t he Américas.