PLANTA DANINHA IV (2): 97-109, 1981
EFEITOS DE HERBICIDAS E
POPULAÇÕES DE PLANTAS NA NODULAÇÃO E
PRODUÇÃO DA SOJA
(Glycine max (L.)
Merril 'Santa Rosa')
RESUMO
Três experimentos de campo e um em vasos foram conduzidos com a cultura da soja `Santa Ro sa ', pa ra est ud ar os efe it os da ap li caç ão de diferentes herbicidas, combinados com diferentes populações de plantas, sobre a nodulação, produ -ção de grãos e teo r de N em grãos. Utilizaram -se solos argiloso e muito argiloso no campo e argiloso e barrento em vasos.
Os herbic idas apl icados foram o triflura lin a 0,96 kg/ha e o vernolate a 3,60 kg/ha, incorporados ao solo; alachlor a 2,40 kg; pendimethalin a 1,50 kg em dois experimentos e a 1,25 kg em um e o metribuzin a 0,63 kg em dois e a 0,53 kg em um em pré-emergência no campo. Em vasos, as doses foram as mesma s, exceto do trifluralin, que foi de 0,8 6 kg. Hav ia um trata men to sem herbic ida em cada experimento.
As de ns id ad es de se me ad ura co rr esp on de -ram, no Experimento I, a 200 e 300 mil plantas/ha, no Experimento II a 200, 300 e 400 mil plantas/ha e, no III, a 150 e 250 mil plantas/ha. Em cada vaso, foram semeadas três plantas e nestes, fez-se o estudo do crescimento até 30 dias, quando se coletaram os nódulos.
No campo, em pleno florescimento, foram amostrados os nódulos de cinco plantas por parce la , que fo ra m co nt ad os e pe sa do s ap ós se ca -ge m. Na co lhei ta , fo ram ob tid os a pr od uç ão de grãos e o seu teor de N.
As diferente s densida des não causaram alte -ração no número e no peso de nódulos. Em vasos a modulação foi afetada, na fase inicial, por trifluralin, pendimethalin e vernolate, que reduziram o número e o peso de nódulos. O trifluralin reduziu es se s va lo res no ca mpo, na fa se de máxi ma no dulação, em um experimento.
O aume nto da população causou elevação do teor de N, e de grãos na colheita, em dois
experi-R. DEUBER* , P.N. CAMARGO ** & L.H. SIGNORI*** * Pesquisador Científico, Seção de Fisiologia,
Instituto Agronômico. Caixa Postal 28, 13.100, Campinas, SP.
** Professor assistente Doutor, Depart. Química, ESALQ, Piracicaba.
** * Bio lo gi sta , Ce nt ro Ex pe ri me nt al de Ca mp i -nas, Instituto Agronômico.
Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor.
mentos. Nenhum herbicida afetou o teor desse nutriente nas folhas ou nos grãos.
A produção de grãos por área foi elevada com o aume nto da po pulação de plantas. O me tribuzi n ca usou redu ção da pr od uç ão em um ex pe rimento.
PALAVRAS-CHAVE:
Gly cin e max (L.)Me rri l, herbi cid as, nod ula -ção, população de plantas, produção.
SUMMARY
EFFECTS OF HERBICIDES AND PLANT P O P U L A T I O N S O N N O D U L A T I O N A N D Y I E L D I N S O Y B E A N S G l y c i n e m a x ( L . ) MERRIL 'SANTA ROSA'
Th e eff ect s of he rb ic id es an d pl ant po pu la -tions on nod ulation and yield in soybe an `Santa Rosa' were studied in three Experiments in field conditions and one in greenhouse. Clay and very clay soils were used in the field and very clay and loamy soils in pots.
Trifluralin at 0,96 kg/ha and vernolate at 3,60 kg/ha, prep lant incorporat ed ; pendimethalin at 1,50 kg/ha, in two experiments, and at 1,25 in a third; alachlor at 2,40 kg; and metribu zin at 0,63 kg in two experiments and at 0,53 kg in a third, pre-emergence were applied in field conditions. In pots, the same rates were used, except for tri flu ralin which was applied at 0,86 kg/ha. A chec k was included in all experiments.
All tr eatm ents in the fi eld we re comb in ed with different pla nt densities: 200 and 300 thou -sand in Experiment I, 200, 300 and 400 thou-sand in Experiment II and 150 and 250 thousand in Experiment III. Three plants per pot were studied in the greenhouse expe riment during the firs t 30 days.
98 R. DEUBER E OUTROS
populations was observed for any of the studied parameters.
The plant density increase caused increase of yield and in the N concentration in grains in two experiments.
The diffe rent densitie s caused no change on the number or weight of nodules. Nodulation was affected, in pots, at its beginning, by trifluralin, pendimethalin and vernolate, with reduction of number and weight of nodules. Trifluralin depres se d these values also in the fiel d, in one ex peri -ment, at flower stage set.
Grain yield was enhanced with population increase. Metribuzin reduced yield in one experi-ment.
KEYWORDS:
Glycine max (L.)Merril, herbicides, nodula -tion, plant popula-tion, grain yield.
INTRODUÇÃO
A cultura
da soja no Brasil vem
apresentando um crescimento contí nuo e
extraordinário,
nos
últimos
dez
anos,
tornando-se, este país, o segundo maior
produtor dessa leguminosa.
O estímulo de preços que a soja tem
r ec e bi d o n o m er c a d o i n t er n ac i on al
levou os agricultores a investir cada vez
mais na te cnif ic aç ão de ss a cu lt ur a. O
uso de herbicidas tem, assim,
acompa-nh ad o o cr es ci me nt o da so ja , se nd o
es ta cu lt ur a a qu e ap re se nt a o ma io r
índice e o maiór consumo desses
defen-sivos no Brasil atualmente.
O uso dos herbicidas tem crescido
mais rapidamente do que as pesquisas
básicas de seu comportamento no
am-bi en te e so br e se us po ss ív ei s ef ei to s
sobre as plantas e a microflora do solo.
Foram
realizados
alguns
trabalhos
sobre o efeito de herbicidas sobre bactérias
Rhizobium
sp verificando-se, às vez es,
a l g um
e f e i t o
i n i bi t ór i o
s o br e
a
nodulação (16, 22, 29). Trabalho realizado
por Giar dini
et al.
(13) mostro u que em
doi s anos con se cut ivos, os herbicidas
trifluralin,
vernolate
ou
alachlor,
ap li ca do s no me sm o lo ca l, nã o ca us
a-ram qualquer
efeito inibitório sobre
a
nodulação de soja.
Pa ra ve ri fi ca r os po ss ív ei s ef ei to s
dos principais herbicidas utilizados no
Bras il, em so ja , so br e a no dula çã o no
início do ciclo ou na fase de pleno
flo-rescimento, foram instalados três
expe-r i m e n t o s
d e
c a m p o
e
u m
e m
casa- de-vege taçã o, com diferent es tipos
de solos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Tr ês ex pe ri me nt os de ca mp o fo ra m in st al a -dos em áre as do Ce ntro Expe rimental de Campi-nas, do Instituto Agronômico, e um em casa de vegetação, em difere ntes solos, com a cultura da soja (Glycine max L. Merril). Utilizou-se o cultivar San ta Rosa que ê tardio , com cic lo vegetativo ao redor de 135 dias e crescimento determinado.
Os he rb ic id as ut il iz ad os no s experi me nt os foram:
a l a c h lo r : 2 c lo r o 2 ' ,6 ' d ie t i l me to x i me t i l -acetanilida, formulado como con-centrado emulsionável, contendo 480g de i.a. por litro(1);
metribuzin: 4-amino-6- t-butil - 3 - metiltio - 1, 2,4,-triazina-5-(4H)-ona, formulado como pó molhável, contendo 70% de i.a. p/p(2);
pendimethalin: N(1etilpropil) 3,4dimetil 2,6 -dinitrobenzenamina, formulado como concentrado emulsionável contendo 500 g de i.a. por litro(3);
trifluralin: «,«,«trifluoro 2,6dinitro N,Ndipro pil p -toluidina , formu lado co mo concentrado emulsionável contendo 480 g de i.a. por litro(4);
ve rno late : S - pro pil - dipro pil - tio lc arb am ato , formulado como concentrado emulsionável contendo 720 g de i. a. por litro (5).
Nos três experimentos de campo, utilizou- se o delineamento de blocos ao acaso, com quatro re-petições e, parcelas medindo 7,0 metros de compr imento po r 2,4 me tros de largur a em es pa ça -mento de 0,6 metros entre linhas, obtendo-se três linhas úteis e duas de bordadura.
As aplicações dos herbicidas no campo foram sempre realizadas com um pulverizador costal de pressão constante de 2,81 kg/cm2 impulsionado a
gás carbô nic o, com gas to de águ a equivalen te a 400 litros por hectare.
As sementes de soja, utilizadas em todos os experime ntos, foram sempre tratadas com fungi -c ida thiabe nda zole e m pó e ino-cu lad as -com Rhiz ob iu m ja po n ic um ma nt id as em me io tu rf o-so.
No s pri me ir os exp eri me nt os de ca mp o, fo i feita adubação a lanço, em área total, com 80 kg/ /ha de P2O3, e incorpo raç ão com gra de, 20 dias
antes da semeadura. No terceiro experimento, a adubaçã o foi nos sulco s, colocando -se, 3,5 g de P2O3,por metro linear. No exp erimento em vasos não se fez adubação.
Experimento I — 1977/78
EFEITOS DE HERBICIDAS DE PLANTAS NA NODULAÇÂO E PRODUÇÃO DE SOJA 99
A a p l i c aç ão d o s he r b i c i d a s t r i f l u r a l i n e vernolate foi rea lizada no dia 17 de novembro de 1977, entre 14:30 e 15:30 horas, com incorporação ime diata ao solo à uma pro fundidad e de 0,0 8 m com grade dupla de discos. O solo apresentava-se úmido a 0,02 m da,superfície, o cêu claro e havia vento fraco.
No dia 20, fez-se a sulcação das parcelas com sulcador a tração animal e no dia 21, a semeadu -ra, manualme nte , com 20 sementes por metro li-near para a densidade 1 e 25 sementes para a densidade 2.
O s he rb icid as alachlo r, p e nd ime thalin e metribuzin foram aplicados no dia 24, entre 14:00 e 15:30 horas, estando o céu nublado, o solo seco na superfície, sem vento.
A emergência da cultura ocorreu no dia 28 do mesmo mês e o experimento todo foi capinado 43 dias após.
Aos 98 dias após a emergência, foram arran-cadas, cuidadosamente, cinco plantas por parcela para separação dos nódulos das raízes que foram contados e, após secagem a 65°C, pesados.
A colheita foi realizada com ciclo de 148 dias, obtendo- se a produção e o teor de N nos grãos. Os da do s fo ra m su bm eti do s à an ál is e est at ís ti ca , sendo os valores de número e peso de nódulos
transformados para Experimento II —1977/78
Foi instalado em um Latossolo Roxo, série Chapadão (25), apresentando as características fí-sicas e químicas constantes no Quadro 1, para os primeiros 0,20 m de profundidade.
Os tratamentos foram os mesmos do experi -mento anterior, sendo cada um combinado com densidades de semeadura de 200.000, 300.000 e 400.000 plantas por hectare.
A a p l i c a ç ã o d o s h e r b i c i d a s t r i f l u r a l i n e vernolate foi rea lizada no dia 18 de novembro de 1977, das 9:00 às 9:30 horas, com céu aberto, vento sul fraco, solo seco na superfície, incorporando imediatamente após, com grade dupla de discos.
A semeadura foi realizada, manualmente, no di a 22 , co loca nd o-se 20 , 25 e 35 se me ntes po r metro linear, para as densidades 1, 2 e 3, respecti-vamente.
Os tratamentos pendimethalin, alachlor e metribuzin foram aplicados no dia 25 das 8:00 às 9:00 horas, com céu totalmente nublado, solo bem úmi do e sem ve nt o. A eme rg ênc ia da cultu ra ocorreu no dia 28. Aos 31 dias após fezse aplica -ção de inseticida fos forado e aos 43 dias, capina geral do experimento.
Ao s 94 di as , fo ra m arr anc ad as, cu id ad os a -mente , cinco pl an tas pa rpar cela para obtençã o do número e peso de nódulos secos.
A colh eit a fo i fe it a co m cic lo de 14 8 dia s, obtendo- se a produção de grãos e o teor de N nos mesmos.
Experimento III — 1978/79
Foi instalado no mesmo solo do Expe rime nto I. As características constam no Quadro 1.
Os tratamentos aplicados foram os mesmos, sendo a dose de metribuzin reduzida para 0,53 kg/ /ha e a do pendime thalin reduzida para 1,25 kg/ /ha. Cada tra tamento foi com binad o com densi-dades de semeadura de 150.000 e 250.000 plantas por hectare.
O trifluralin e o vernolate foram aplicados dia
8 de novembro de 1978, das 15:30 às 16:00 horas, es tando o solo se co na supe rfí cie, o cé u claro e sem vento, com incorporação imediata.
A semeadura foi feita no dia seguinte, com semeadeira Planet Junior. Os herbicidas de pré--emergência foram aplicados dia 10, das 14:00 às 15:00 horas, com céu encoberto e tempo chuvoso. A emergência ocorreu dia 15. 0 tratamento teste-munha foi capinado 27 dias após.
A amostrage m para coleta de nódu los foi feita aos 71 dias da mes ma maneira e a colhe ita com um ciclo de 167 dias, obtendo-se os mesmos parâ-metros.
Experimento em casa-de-vegetação
Foi instalado em 23 de novembro de 1978, utilizando se o horizonte A. de dois latossolos , bar -re nto e ar gilo so , cu ja s ca racteríst ic as es tão no Quadro 1.
O experimento foi conduzido em vasos, sendo uma part e cons tit uíd a de vasos de alu mí ni o, medindo 13 cm de diâmetro da boca e 16,5 cm de alt ura , com cap ac id ade de dois li tr os e, ou tr a parte de sacos plásticos medindo 13 cm de diâme -tro da boca e 27 cm de altura com capacidade de 3,5 litros.
Os tra tame ntos aplicados foram os mesmos do Ex peri me nt o I, send o a dose de tr if lu ra li n reduzida para 0,86 kg/ha.
Os herbicidas foram aplicados com pulveriza -dor manual de pressão variável, de dois litros, gastando- se 125 ml de água por metro quadrado. Os vasos de cada tra tamen to for am distribuídos ao acaso, sob re uma áre a de dois metros quadra-dos, fazendo- se a aplicação dos herbicidas sobre a me sma. O tri flural in e o ve rno late foram aplicados antes de se fazer a semeadura. A seguir, retirou -se a terra até a profund idade de dez centímetros, a partir da boca, incorporando- se uniformeme n te o s he rb i cid as e m u m le nço l p lá s ti co . Recolocou-se, então, terra até cinco centímetros e colocar am- se cinco semente s, completan do com te rr a até a bo ca . Os de ma is he rb ic id as fo ra m aplic ado s na superfície dos vasos com as semen-tes já colocadas a cinco centímetros.
O delineamento foi o totalme nte casualizado, com três repetições para cada tratamento e cada época de amo stragem , que for am reali zad as aos 9, 19 e 30 dia s ap ós a eme rg ênc ia . As pl an ta s foram raleadas para três após a emergência. Para a amostragem aos 9 dias, foram utilizados os va-sos de alumínio e, para as outras duas, os sacos plásticos.
Em ca da am os tr age m, fo ra m se pa ra do s os caules, folhas e as raízes das três plantas e, após secagem a 65°C, obtidos os pesos de matéria seca de cada parte.
Na terceira amostragem, foram separados, também, os nódulos das raízes, contados e, após secagem a 65°C, pesados.
Todos os dados obtidos foram analisados, pro cu ra nd o ve ri fi car a exi st ênc ia de in te ra çã o solo x herbicidas. Os valores de número e peso de
nódulos foram transformados rara
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nodulação
EFEITOS DE HERBICIDAS DE PLANTAS NA NODULAÇÃO E PRODUÇÃO DE SOJA 101
experimentos de campo estão nos
Qua-dros 2, 3 e 4. As amostragens foram
rea-lizadas em époc as de plen o flor
escimen-to,
qu an do
se
co ns id er a
qu e
a
no dula ção esteja no
seu climax.
Os
dados de no du la çã o in ic ia l, em va so s,
co ns ta m no Quadro 5.
Os únicos efeitos de herbicidas
veri-fic ado s no cam po for am par a pes o
uni-tár io no Experim ent o II e, par a núme ro
e peso total de matéria seca de nódulos,
no
Exper iment o
III .
Naq uel e,
o
ver nol ate
apr esentou
os
menore s
pes os unit ários, diferindo do tratamento
com pendimethalin e da testemunha, com
os valores mais elevados.
No Ex perime nt o II I ocorre u intera
-ção entre popula-ção e herbicidas. Com
trifl urali n, verificou-se o menor númer o
e o pe so ma is ba ix o de nó du lo s, na s
duas populações, mas somente houve
dif ere nça s sig nif ica tiv as par a a pop
ula-ção mais baixa de plantas. Quanto ao
número de nódulos, o trifluralin só não
diferiu do tratamento com pendimetha
lin e, para o peso de matéria seca, dife
-riu de todos os demai s.
Quant o à população de plantas, só
ocorr eu difer ença significat iva para o
peso de matéria seca de nódul os no
primeiro exper iment o, com valores
me-nores
por
planta
com
a
popul ação
menor .
Em
nenhum
caso,
as
populações afet aram o númer o ou o
peso unitário. Isso mostra que dentr o
dos limites
de popul ação
estudados,
não houve influência consi deráv el sobre
o desen volvi mento das bacté rias.
Nos vasos já se verif icava a
ocorrência de nódul os pequenos em algu
-mas plantas, em todos os tratament os
e, aos 19 dias, já havia muitas plant as
com nódul os.
Para o númer o de nódulos, não foi
encon trada inter ação solos x herbicidas,
ocorr endo, entre tanto, diferença s entre
solos e entre herbi cidas, a nível de 1%.
Os
trat ament os
com
triflural in,
vernolate e pendi meth alin apresenta ram
os
númer os
mais
baixos
de
nódu
104 R. DEUBER E OUTROS
los, diferindo signi ficat ivamente da
tes-temunha.
Para o peso total de matéria seca de
nódulos, foram verif icadas diferen ças
significativas
entre
herbicida s,
com
inter ação entre solos e herbicida s. No
solo argil oso, os tratament os com trifl
u-ralin , vernolate e metrib uzin, com valo
res
mais
baixos,
foram
diferentes
daque les
com
pendi meth alin
e
da
test emunh a. No solo barrento, os
trata-ment os com vernolate e pendi meth alin
apresentaram os valor es mais baixos e
foram difer entes, a nível de 1%, daque le
com alachlor e da testemunha.
A diferença ocorr ida no Exper imento
I parece ser devido ao gran de número
de
nódul os
presentes ,
muito
mais
elev ado
do
que
nos
outros
dois.
Consi derando
que
a inoculaçã o, nos
três
exper iment os,
foi
realizada
da
mesma forma e com o mesmo
inoculan-te, o desenvolviment o e ação das
bacté-rias,
nesse
caso,
parecem
ter
sido
favorecidos pelas condições do solo. O
pH mais elev ado nesse exper imento
po-deria ser um dos fator es. No solo do
Exper iment o II, o pH era apena s 4,8, o
que segur amente contri buiu para a
re-dução do número de nódul os, uma vez
que, segun do Gibson (14), a multi
plica-ção das bactérias
Rhizo bium é
afet ada
em pH abaix o de 5,3. Os valores baixos
de númer o de nódulos encon trados no
Ex pe ri me nt o II I sã o ma is di fí ce is de
expli car já que o pH naque le solo era de
6,6.
Não
foi
encontrado
na
literatura
nen hum tra bal ho rel aci ona ndo dif ere
n-tes populações de plantas de soja com a
nodulação, o que deve ser considerado
importante tendo em vista a nutrição
nitrogenada desta cultura.
O vernolate parece ter tido alguma
influência sobre o desenvolvimento dos
nódulos no Experimento II, mas não
re-duziu o seu número significativamente.
A r edu çã o d o n úm er o e pe so de
mat éri a
sec a
de
nód ulo s
no
Experi men to III pelo trifluralin parece
estar relacio nad a com a tex tur a do sol o
e
mel hores
condiçõ es
de
umidade,
favo recendo,
de
algu ma
form a,
o
con ta to do herbicida com as bactérias.
Nos vasos, a nodulação foi avaliada
pelo número e peso de matéria seca de
nó du lo s ao s 30 di as , po rt an to , ai nd a,
em processo inicial de formação. Isso
po ss ib il it ou ve ri fica r, em co mp ar aç ão
co m as co nd iç õe s de ca mp o, se al gu m
dos her bic ida s est uda dos ter ia ape nas
ação inicial sobre a nodulação ou efeito
mais longo.
Os números de nódulos obtidos, por
pla nta,
mos tram
que
a
nodul açã o
est ava realmente em seu início, quando
c o m p a r a d o a o s v a l o r e s o b t i d o s n o
campo, entre 71 e 84 dias.
EFEITOS DE HERBICIDAS DE PLANTAS NA NODULAÇÂO E PRODUÇÂO DE SOJA 105
O que cha ma a ate nção é o fat o de
que no solo muito argiloso, o mesmo do
Experimento II, o número e o peso de
nódulos foram bem maiores, em média,
mas não o peso unitário, do que no solo
bar re nt o. Is so con tr ari a o que oc orre u
no campo, considerando-se que o solo
barrento, dos vasos, é semelhante ao
ar-gilos o dos Exper imentos I e II I. Par ece
ter havido uma compensação para
cres-cimento
dos
nódulos,
pois
onde
estes
o c o r r i a m e m m a i o r n ú m e r o , h o u v e
menor crescimento e vice-versa.
Não houve interação
entre solos e
her bic ida s, em vasos , mos trand o, est e
fa to, que a ação des te s foi semelh ante
no s do is so lo s qu an to ao nú me ro de
nódulos. A redução do núme ro de
nódu-los
pelos
herbicidas
trifluralin,
pendi-methalin
e
vernolate
é
facilmente
co mp re en sí ve l, po is sã o in ib id or es de
mit ose e pode m bem inibir a mult ipl ica
çã o da s ba ct ér ia s. A aç ão do me tr ib u
-zin, que é um potente inibidor da
fotos-síntese sobre as bactérias, não deve ter
si do ig ua l à do s he rb ic i da s ci ta do s,
ma s, se gu ra me nt e, so bre qu al qu er ou
-tro processo metabólico.
Os pesos unitários dos nódulos, em
vasos, indicam um efeito inibitório por
parte do vernolate, reduzindo o seu
ta-manho. Outros autores não observaram
qualquer
efeito inibitório
pelo vernolate
sobre a nodulação (Parker e Dowler, 31;
Giardini
et al.,
13).
Efeitos
depressivos
causados
pelo
trifluralin
já foram verificados
anterior-mente
por
Hamdi
e
Tewfik
(16),
que,
aplicando o herbicida no dia da semeadura
de
Vigna sinensis,
verificaram red u ç ã o d o
n ú m e r o
d e
n ó d u l o s ,
m a s
quando
aplicaram 27 dias antes da semeadura,
chegaram a observar efeito es ti mu la nt e.
Ta mb ém
Ku st
e
St ru ckm e y e r
( 2 2 )
v e r i f i c a r a m
r e d u ç ã o
d o
número
de
nódul os pel o tr if lura lin em soj a e Par ker
e
Dowler
(31),
com
apl icação
des te
her bic ida ,
con sta tar am
redu çã o
si gn if ic at iv a do pe so de ma té ri a seca
de nódulos.
Po r ou tr o la do , Lo re nz i e Ar au jo
(23) só observaram efeito depressivo do
tr if lu ra li n em
Rh iz ob iu m
au tó ct on e e
não em soj a ino cul ada e Gia rdi ni
et al.
(13) não verificaram qualquer efeito
ini-bitório por parte do trifluralin em
nodu-lação de soja inoculada, em dois anos
con secut iv os , em sol o ba rr ent o. Da
m e s m a f o r m a , n ã o f o i e n c o n t r a d o
qualquer efeito depressivo por parte do
alachlor pelos mesmos autores (13, 23).
Nã o fo i en co ntra da na li te ra tu ra qu al
-qu er re fe rê nc ia à aç ão de me tr ib uz in
so br e ba ct ér ia s
Rh iz ob iu m
ou no du
la-çã o, ta lv ez po r se r com po st o de us o
mais recente.
Os re sultad os, às ve ze s di sc or dan
-tes, levam a concluir que, além das
con-di çõ es pe cu li ar es do s so lo s, a es ti rp e
das
bactérias
poderia
também
reagir
diferentemente à ação dos herbicidas.
Crescimento inicial da soja
Os valores de pesos de matéria seca
de r aíz es e de pa rt e aér ea, n as tr ês
épocas de amostragem, estão
represen-tados na Figura 1.
Figura 1. Pesos de matéria seca de raízes (A) e de pa r t e a é r ea ( B ) no ex peri m e n to d e he rb ic id as em so ja cu lt iv ar Sa nt a Rosa, em casa-de-vegetação.
ar-106 R. DEUBER E OUTROS
giloso, não ocorr eu diferença significat
i-va, mas, em ambos os solos , os valores
nas teste munhas foram mais eleva dos
para esse parâm etro. Na primeira e
ter-ceira amostragens, não foram
encontra-das quais quer diferenças.
Para o peso da parte aérea nao foi
verif icada qualq uer difer ença entre
tra-tam entos na primeira amost ragem. Nas
duas segui ntes, houve diferença entre
solos e herbicida s, com inter ação entre
ambos , na segun da. Nesta, à semel
han-ça do peso de raíz es, só ocorr eram
dife-renças entre trata mentos no solo
bar-rento.
O
tratament o
com
vern olate
apresentou o valor mais baixo, difer indo
daqueles com alach lor, pendi meth alin e
da
test emunh a.
Na
terc eira
amos-tragem, verif icou- se que os trat ament os
com triflural in, vernolate e metri buzin
foram significat ivamente menor es que
aquel es com pendi methalin e da test
e-munha.
Compa randose os dois solos , obser
-vou-se que o crescimento das plantas
de soja foi mais vigoroso no solo
bar-rento, que apresentava condi ções físicas
e quími cas mais
favor áveis
ao cres
-cimento inici al (Quad ro 1).
Os sint omas dos herbicidas verifica
-dos nos vasos eram semel hantes aos
que
ocorr eram
nos
experimentos
de
campo , mas em grau bem menor . O
trifl urali n e o pendi metha lin inibiram a
formação de raíz es later ais na camad a
super fici al.
Essa
inibi ção
era
bem
evidente
no
solo
muito
argil oso
e,
menos
pronunciada,
por
part e
do
trifl urali n, no solo barrento. O vernolate
causou
reduç ão
de
compr imento
também
das
raíz es
secun dárias.
A
inibição
de
crescimen to
de
raíze s
later ais em soja já é conh ecida para o
trifl urali n (28), mas, para o vernolat e,
não foi encon trado regis tro desse efeit o
em soja; nem para o pendi methali n,
talvez, por ser de uso mais recente. A
ação deste era esper ada, por perte ncer
ao mesmo grupo quími co do trifl urali n.
Quant o à parte aérea, a reduç ão de
peso pelos herbicid as trifl urali n, verno
-late e metribuzi n no solo muito argi loso
foi bem pronunciada e um pouco menos
inten sa pelo alach lor. A diferença de
pe-sos, consi deran do os dois solos , contr
a-ria a expectativ a inici al de que no solo
argiloso haveria menor injúria às plantas.
O maior"vigor delas no solo barrento,
parece
ter
conferido
também
mais
resistência à ação dos herbicidas.
Pelo experimento em vasos,
verificou-se que o sistema radicular da soja é
bastante tolerante à ação de herbicidas,
visto que foi pouco afetado por trifluralin,
pendimethalin e vernolate e, praticamente,
nada por alachlor ou metribuzin.
A ocorrência de efeitos fitotóxicos, por
parte desses herbicidas, já é conhecida e
registrada na literatura (5, 8, 10, 20, 22,
30,
34,
35)
e
concordam
com
os
resultados observados em vasos e nos
experimentos de campo.
Teor de nitrogênio em folhas e grãos
A análise do teor de N foi realizada
entre 71 e 84 dias, quando a maior parte
desse nutriente já fora absorvida pela soja
(2, 24).
Os teores encontrados nos três
ex-perimentos podem ser considerados
ele-vados, quando comparados aos obtidos
por Bataglia
et
al.
(2) com o mesmo
cultivar e em solo semelhante aos aqui
relatados.
Em função da população de plantas, a
única diferença ocorrida para o teor de N
foi verificada no Experimento II, em que a
maior população resultou em menores
teores do nutriente por planta. Partindo do
fato de que todo o N fornecido às plantas
provinha das bactérias que nodulavam as
raízes, uma vez que não houve qualquer
outro
fornecimento
desse
nutriente,
parece
ter
havido
uma
redução
de
eficiência das bactérias com maior número
de plantas, já que não ocorreu qualquer
diferença, no número ou no peso dos
nó-dulos, entre
populações neste
experi-mento. Outra hipótese seria a existência
de N no solo, tendo em vista o elevado teor
de matéria orgânica que suplementaria o
N fornecido pelas bactérias. Neste caso, o
maior número de plantas da densidade
maior determinaria menor quantidade de
N disponível por planta.
Os resultados de decréscimo do teor de
N, com o aumento da população de
plantas,
no
Experimento II,
concorda
com o verificado por Buttery (6) que,
EFEITOS DE HERBICIDAS DE PLANTAS NA NODULAÇÃO E PRODUÇÃO DE SOJA 107
bem grande de populações e analisou a
planta toda. Quanto aos outros
experi-mentos, a variação de população não
parece ter sido suficiente para causar
qualquer alteração no teor de N.
Os te or es de N, en co nt ra do s no s
grãos, nos experimentos I e II, são
bas-ta nt e el ev ad os , qu an do co mp ar ad os
ao s de te rm in ad os po r Ba ta gl ia
et al.
(2,3),
concordando aqueles do
Experi-mento III, com estes autores.
Não houve qualquer efeito de
herbi-cidas sob re o te or des se nutr iente nos
três experimentos.
Quanto aos efeitos de população de
plantas, o N ocorreu em teores mais
ele-vados
com
populações
maiores
nos
experimentos I e II e tendência igua l no
III, ocorrendo o inverso em relação ao
encontrado em folhas, no flore scimento.
A exp lic ação des se fat o par ece ser que
as diferenças de produção, por planta
fo ra m ma io re s do qu e a di fe re nç a do
teor de N encontrado nas folhas,
deter-m i n a n d o , c o deter-m a t r a n s l o c a ç ã o d o
nutriente para os grãos, uma
concentra-ção maior nestes, por planta.
A nã o in te rf er ên ci a de he rb ic id as
no teor de N em grãos, concorda com os
r es u l t a d o s d e t r a b a l h o s e xi st en t es
so br e o as su nt o. Nã o fo i en co nt ra do
efe ito de tri flu ral in sobr e o te or de N e
de proteína (7, 21), de trifluralin ou de
vernolate (21) ou de vernolate (17).
De modo geral, pode-se dizer que as
populações de plantas ou os herbicidas
utiliz ad os na so ja , mu it o pouc o infl
uí-ram no teor de N em grãos, estando este
mui to mais dep enden te das con diç ões
de solo e de clima.
Produção de grãos
As pr od uç õe s mé di as da s po pu la
-ções de plantas foram iguais no
Experi-men to I, ao passo que no Exp eri Experi-men to
II, elas se elevaram com o aumento do
número de plantas. Levando em
consi-de ra ç ão qu e as consi-de ns id ad es 1 e 2 consi-de
am bo s os ex pe ri me nt os er am pr at ic
a-mente iguais e as culturas se
desenvol-veram exatamente na mesma época, as
diferenças de produção foram
determi-nadas pel as dif er entes car act erí sti cas
dos solos. Deve ser lembrado que, no
Ex per im en to I, em sol o ar gi l os o, as
pl an t as apr es en t ar am cr esci m en t o
m a i or e m t er m o s d e al t ur a e p e s o.
Quanto à fertilidade, o solo do
Expement o II apr es en ta va li ge ir a su per io
ri-da de no te or de Ca e de K e te or be m
ma is el ev ad o de ma té ri a or gâ ni ca . A
razão mais plau sív el para as diferen ças
de pro duç ão de grã os é a mel hor ret
en-çã o de ág ua no so lo mu it o ar gi lo so e
com mais matéria orgânica, em ano de
distribuição irregular de chuvas.
A ma io r pr od ut iv id ad e al ca nç ad a
no E xp er im ent o III fo i cau sa da pe l a
mai or e mai s bem dis tri buí da pre cip
ita-ção pluviométrica ocorrida nesse ano,
quando se registraram também,
tempe-ra tu tempe-ra s mé di as ma is ba ix as du tempe-ra nt e
todo o ciclo da cultura.
Os resultados de produção
encon-trados em função das diferentes
popula-ções de plantas, são normais, quando
com par ado s à lit era tur a uni ver sal . Ora
há respostas positivas de incremento de
produção com o aumento da população
nas linhas (6, 15, 26), ora não há resposta
(1, 4, 9, 18, 27, 30, 33). Além de certos
limites de população, a produção pode
mesmo decrescer (12, 26, 29). As
diferen-tes car act erí sti cas dos cul tiv are s e dos
sol os e as dif er ente s con diç ões climát
i-cas são as responsáveis pelas respostas
diferenciais que ocorrem em cada caso.
No s do is pr im ei ro s ex pe ri me nt os ,
não se verificou nenhuma redução de
pr od uç ão to ta l ca us ad a po r qu al qu er
dos herbicidas aplicados, mesmo tendo
sid o con sta tad os alg uns efe ito s fit otó
xi-co s
ca us ad os
pe l os
he rb ic id as
tr if lu ralin, pendimethalin ou vernolate.
Ch am a a at en çã o a me no r pr od
u-ção nos trata men tos tes te mun has com
a s t r ê s d e n s i d a d e s d e p l a n t a s n o
Experimento II. Essa redução foi mais
ac en tu ad a co m a po pu la çã o ma io r e
re fo rç a a hi póte se da co mp et iç ão co m
as plantas daninhas, presentes até os 43
dias e, controladas pelos herbicidas nas
outras parcelas. Mesmo em número não
elevado, as plantas daninhas devem ter
afe ta do o des env olv ime nto da soj a com
a população mais alta.
108 R. DEUBER E OUTROS