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OProblemaMente-CérebroemFreud
GilbertoGomes1UniversidadeEstadualdoNorteFluminense
RESUMO– Em suas obras posteriores, Freud abandona a pretensão doProjeto de uma psicologia(1895) de formular hipóteses específicas sobre o fundamento neural do psíquico, mas continua a conceber esse fundamento como real. Não adotouumaposiçãodualistasobreoproblemamente-cérebro,comopodesercomprovadoporinúmerascitações.Issonãoo leva,entretanto,abuscarsubstituirconceitospsicológicosporconceitosfisiológicos,maspermiteatribuiraopsíquicouma causalidadenatural,umadimensãoquantitativaeumaestruturaespacial(tópica).Aconcepçãofreudianadarelaçãomente-cérebropodeserconsideradacomoumateoriadoduploaspectooudaidentidadepsiconeural.
Palavras-chave:psicanálise;problemamente-cérebro;dualismo;monismo;Freud.
TheMind-BrainProbleminFreud
ABSTRACT–Inhislaterworks,FreudabandonstheaimoftheProjectofascientificpsychology(1895)offormulating specifichypothesesabouttheneuralbasisofpsychicalphenomena,butcontinuestoconceivethisbasisasreal.Hedidnotadopt adualistpositionconcerningthemind-brainproblem,ascanbeconfirmedbyinnumerousquotations.Thisdoesnotleadhim, however,totrytosubstitutephysiologicalconceptsforpsychologicalones,butenableshimtoattributetopsychicalprocesses naturalcausality,aquantitativedimensionandaspatial(topographic)structure.TheFreudianconceptionofthemind-brain relationmaybeconsideredasadouble-aspecttheoryorapsychoneuralidentitytheory.
Keywords:psychoanalysis;mind-brainproblem;dualism;monism;Freud.
Oproblemamente-cérebroemFreud,antesde1900
Freudcomeçouseustrabalhossobreosfenômenospsí-quicosadmitindoaconcepçãodequeestessãoproduzidos por–ouseidentificama–processosneurais.Issoficabem claronoProjetodeumapsicologia,ondeanunciaqueseu objetivoéformular“umapsicologiaciêncianatural,istoé, apresentarosprocessospsíquicoscomoestadosquantita-tivamentedefinidosdepartesmateriaisespecificáveis(...) [quesão]osneurônios”(Freud,1950/1987,p.387)2Mesmo
antesde1895,elejáhaviaexpressadoessepontodevista. Em1888,noprefáciodatraduçãodolivrodeBernheim,De lasuggestion,escreve:
Pode-se colocar a questão de saber se todos os fenômenos dahipnosedevempassaremalgumlugaratravésdaesfera psíquica;emoutraspalavras–poisaquestãonãopodeter outrosentido–seasmudançasdeexcitabilidadequeocorrem nahipnoseafetaminvariavelmenteapenasaregiãodocórtex cerebral.(Freud,1888/1966,p.84)
Em1891,emseulivrosobreasafasias,escreve:“Opro-cessopsíquicoé,assim,paraleloaoprocessofisiológico(‘a dependentconcomitant’)”(Freud,1891/1957a,p.207)3
Oproblemamente-cérebroemFreud,após1900
ÉhabitualadmitirqueFreudmudou,maistarde,sua concepçãosobreanaturezadopsíquico(Strachey,1957). Ateoriafreudianaémuitasvezesapresentadacomose
representasseumarupturaemrelaçãoàconcepçãodeque osfenômenospsíquicosderivamdaatividadedesistemas neurais.Elaseriaumateoria“mentalista”,emoposiçãoa umateoria“organicista”.Apublicaçãodacorrespondência comFliesse,sobretudo,do Projetodeumapsicologia,ocor-reusóem1950,quandojáestavamdefinidasasprincipais linhas de interpretação da obra freudiana.Tais trabalhos seapresentaramcomoumdesafioàatribuiçãoaFreudde uma posição dualista. Houve tentativas de desqualificar o Projetocomoobrapré-psicanalítica,cujoprincipalin-teresseseriaodetersidorejeitadoporseupróprioautor (porexemplo,Erikson,1955).Serviriaparamostraraquilo dequeoautorteriatidoquesedesembaraçarparacriara teoriapsicanalítica.Forçosoeraadmitir,noentanto,queo Projetocomportavanotáveisantecipaçõesdeformulações teóricasfuturas.Suaimportânciateóricafoicadavezmais reconhecida,masfoimuitasvezesvistocomotestemunho deumrestodeconcepçõesreducionistasdasquaisoautor teriaaindaquededesvencilhar.NãohádúvidadequeFreud rejeitouoProjeto.Nemhádúvidadequeeleabandonou qualquer pretensão de dar explicações neurofisiológicas paraosprocessospsíquicos.Issonãosignifica,entretanto, quetenhaadotadoumaposiçãodualistaemrelaçãoaopro-blemamente-cérebro(Kanzer,1973).Nopresentetrabalho, pretendemosmostrarqualaposiçãoadotadaporFreudem relaçãoaesseproblema,emdiferentesetapasdesuaobra. Discutirei, ainda, algumas conseqüências dessa posição paraaelaboraçãodesuateoria.
2 AscitaçõesdeFreudforamtraduzidasapartirdasfontescitadas. 3 Aexpressãoadependentconcomitantestáeminglêsnooriginal,eé
Naverdade,éfácilmostrarqueissonãoocorreu.Emsua obraAinterpretaçãodossonhos,afirma:“Sefosseapenas possível confirmar que a memória e a qualidade para a consciênciaseexcluemmutuamentenossistemasψ,uma perspectivamuitopromissoraseabririasobreascondições daexcitaçãodosneurônios”(Freud,1900/1982a,p.516). Vemosaidentificaçãodoquesepassanossistemasψ(e, especificamente,damemóriaedaconsciência)comofun-cionamentoneuronal.Maisadiante,aofalardadiferença entreprocessoprimárioeprocessosecundário,afirma:“A mecânica desses processos me é completamente desco-nhecida;aquele que quisesse tomaressasidéiasa sério deveriaprocurarasanalogiasfísicaseabrirparasimesmo umcaminhoparaafiguraçãodoprocessodemovimento daexcitaçãoneuronal”(Freud,1900/1982a,p.569).Fica claro que os processos psíquicos primário e secundário são vistos como dependendo da excitação neuronal. Ele abandonouapretensão,quetinhaàépocadoProjeto,de formularhipótesesespecíficassobreabaseneurofisiológica dosprocessospsíquicos,possivelmentepornãotercomo fundamentá-losouconfirmá-los,mascontinuaaconceber essefundamentoneurofisiológicocomoreal.
Em 1905, escreve: “devo acrescentar que não faço qualquertentativaparaproclamarqueascélulasefibras nervosas,ouossistemasdeneurôniosqueassubstituemhoje, sejamessasviaspsíquicas(...)”(Freud,1905/1960,p.148). Seriapossívelcitaressafrasecomoprovadoabandonoda concepçãoqueopsíquicoresultadaatividadeneural.Mas éprecisoleracontinuaçãodapassagem:“(...)sebemque deveriaserpossível,deumaformaqueaindanãopodeser indicada,representaressasviasporelementosorgânicosdo sistemanervoso”(Freud,1905/1960,p.148).
Aindanãoépossívelteressarepresentaçãoneuraldos processospsíquicos,mas,segundooautor,isso“deveriaser possível”.NosTrêsensaiossobreateoriasexual,lemos:
É,portanto,provávelquesubstânciasquímicasespeciaissejam produzidasnaporçãointersticialdasglândulassexuais;essas sãoentãolevadaspelacorrentesanguíneaefazemcomque partes particulares do sistema nervoso central sejam carre-gadasdetensãosexual.(...)Aquestãodecomoaexcitação sexualemergedaestimulaçãodaszonaserógenas,quandoo aparelhocentralfoipreviamentecarregado,(...)[nãopodeser respondida],mesmoatítulodehipótese,noestadopresentede nossoconhecimento.”(Freud,1905/1953a,p.215)
Vemos que a concepção de base é psicofisiológica, mesmoseeleconsideraimpossível,nomomento,formular hipótesesespecíficassobreessefundamentofisiológicodo psíquico.
Na obra de 1914,Para a introdução do narcisismo, encontramos:
deve-selembrarquetodasasnossasconcepçõespsicológicas provisóriasdeverãoumdiaseapoiarsobreosolodesuportes orgânicos.Torna-seentãoprovávelquesejamsubstânciase processosquímicosparticularesquerealizemasoperaçõesda sexualidade(...).Levamosemcontaessaverossimilhançaao substituirmosassubstânciasquímicasparticularesporforças psíquicasparticulares.(Freud,1914/1946,p.144)
EmPulsões e destinos das pulsões, o autor atribui ao sistemanervoso,maisumavez,asfunçõespsíquicas:
Osestímulospulsionais(...)têm,portanto,exigênciasmuito mais fortes em relação ao sistema nervoso, que o levam a atividadescomplexaseinterconectadas,modificandoomundo exterioratalpontoqueestevenhaaoferecerasatisfaçãoàs fontesdapulsão(...)sãoaspulsões(...)quelevaramosistema nervoso(...)àsuapresentealturadedesenvolvimento.(Freud, 1915/1982b,p.84)
Quandoumarepresentaçãoétranspostadosistemain-conscienteaosistemapré-consciente,forma-seumsegundo registro da representação? Freud coloca a questão emO inconsciente,edizqueela“édifícilpoisultrapassaopsi-cológicopuroetocanasrelaçõesdoaparelhopsíquicocom aanatomia”(Freud,1915/1982c,p.133).
Emborarepudie,emseguida,astentativasdelocalização dasfunçõespsíquicas,concluidizendooseguinte:“Nossa tópicapsíquicanãotem,provisoriamente,nadaavercom aanatomia;elasereferearegiõesdoaparelhopsíquico, onde quer que possam estar situadas no corpo” (Freud, 1915/1982c, p. 133). Isto quer dizer que, a seu ver, elas estãosituadasnocorpo–eéopróprioautorquesublinhaa palavra“provisoriamente”,aodizerquesuatópicanadater avercomaanatomia.
EmLuto e melancolia, após observar que a freqüente melhora vespertina indica um provável fator somático, o autorseperguntasecertasformasdadoençanãopoderiam ser produzidas por um empobrecimento da libido do eu causado diretamente por toxinas (Freud, 1917/1957b, p. 253).Produtoscorporais(toxinas)sãoconsideradoscomo diretamenteresponsáveisporumestadodoaparelhopsíquico (adiminuiçãodalibidodoeu).
Éconhecidaaoposiçãofeitapeloautorentreaenergia psíquica “ligada” e a “livre”, mas, emAlém do princípio do prazer, em lugar de “energia psíquica ligada”, Freud (1920/1955a, p. 234) escreve “processo nervoso ligado”, oquemostraque,paraele,aenergiapsíquicadependede umprocessonervoso.Namesmaobra,lemos:“Atendência dominantedavidapsíquica,talvezdavidanervosaemgeral (...)”(Freud,1920/1955a,p.255)
Vemos assim a vida psíquica colocada como um caso particulardavidanervosa.
Doanode1930,temosaseguinteafirmação:“Ahipótese daconservaçãodetudooqueépassadosóvale,também paraavidaanímica,sobacondiçãodequeoórgãodapsi-quetenhaseconservadointacto,queseutecidonãotenha sofrido nem trauma nem inflamação” (Freud, 1930/1994, pp.256-257).
Oórgãocujotecidopodesofrertraumaouinflamaçãoé, evidentemente,océrebro.Emseusúltimostrabalhos,encon-tramosexpressõesdasmaisexplícitassobreaquestão.”Do quechamamosnossapsique(ouvidapsíquica),duascoisas nos são conhecidas; primeiramente, seu órgão corporal ecenadeação,océrebro(sistemanervoso)(...)”(Freud, 1938/1941,p.67).
opsíquico(...)Entretanto,osprocessosconscientesnãofor-mam,segundoacordogeral,sériesininterruptasecompletas emsimesmas,demaneiraquenadamaisrestaafazerdoque supor processos físicos ou somáticos concomitantes ao psí-quico,aosquaisdeve-seatribuirumacompletudemaiorque àssériespsíquicas,poisalgunsdelestêmprocessosparalelos conscientes,masoutrosnão.Issosugere,então,naturalmente, queacentuemos,napsicologia,essesprocessossomáticos,que reconheçamos neles o verdadeiro psíquico [“das eigentlich Psychische”](...)(Freud,1938/1941,pp.79-80)
Maisàfrente,eleescreve:“energianervosaoupsíquica” (Freud,1938/1941,p.86),e,aindanomesmotexto,anteci-pando-seàdescobertadosantipsicóticoseantidepressivos, propõe:“Ofuturopoderánosensinaraexercerumainflu- ênciadireta,pormeiodesubstânciasquímicasparticula-res,sobreasquantidadesdeenergiaesuadistribuiçãono aparelho psíquico” (Freud, 1938/1941, p. 108). Torna-se claroque,aolongodetodasuaobra,Freudconsideroua atividade psíquica como tendo fundamento nos processos neurofisiológicosdocérebro.
Implicaçõesdeumavisãomonistadarelaçãomente-cérebro
Quais as conseqüências desta concepção do psíquico comofundamentadonumsubstratoneurofisiológico?Para alguns,umatalconcepçãosignificaquedeveríamossubsti-tuirosconceitoseexplicaçõesdenaturezapsicológicapor conceitoseexplicaçõesneurofisiológicos.Conceitoscomo representação,desejo,pensamento,intenção eatenção, entreoutros,deveriamsersubstituídosporconceitoscomo excitação,inibiçãooureflexo.Nessaperspectiva,tudoque noséoferecidopelo“sentidointerno”,ounossaconsciência de nós mesmos, deveria ser considerado como não perti-nenteouenganoso.Ométododepesquisadeveriaignorara introspecçãoeprivilegiarosprocedimentosdolaboratório defisiologiaouosprocedimentosexperimentaisbaseados naobservaçãoobjetivadocomportamento.Todofenômeno deveriaserexplicadoemfunçãodefatoresantecedentese objetivos.Sobretudo,todaexplicaçãoteleológicadeveriaser evitada,istoé,todaexplicaçãodeumfatoemfunçãodesua “finalidade”ou“alvo”supostos.Taljáé,emlinhasgerais,e sujeitaavariaçõesdeautoraautor,aabordagemdeLaycock, Carpenter,Griesinger,Maudsley,Setchênov,LuyseRibot, noséculoXIX(Gauchet,1992),e,noiníciodoséculoXX, deformamuitorigorosa,adePavlov(1961).
Evidentemente,aabordagemdeFreudétotalmenteou-tra.Mesmonaépocaemqueacreditavaquedevia–epodia –formularhipótesesespecíficassobreabasefisiológicado psíquico–istoé,naépocadoProjetodeumapsicologia –pode-seconstatarquenãoétantosuapsicologiaquese torna fisiológica, mas antes sua fisiologia que se torna psicológica. Os conceitos de natureza psicológica como desejo,pensamento,prazer,etc.,nãosãosubstituídospor conceitosneurofisiológicos,massãopreservadoseésua representaçãoneurofisiológicaquesedobraàsexigências dateoriadosprocessospsíquicos.VemosFreudinventar,ao longodetodoseutexto,aneurofisiologiaquelheconvém (confrontarcomadiscussãodeGabbiJr.,2003).Maistarde, aconcepçãodabaseneuraldopsíquiconãolheimporámais
atarefadetentarumaformulaçãohipotéticadosprocessos neurofisiológicosemquestãoeelesecontentará,então,a recorrerainstânciaseprocessospsíquicosparasuateoria. Essaconcepção,apesardisso,permanecerápresente,como vimos,enãoserásemconseqüências.
ParaFreud,então,queconseqüênciasteráaconcepção dabasecerebraldopsíquico?Porquenãopodemosconsi-deraressasafirmaçõessobreosubstratofisiológicocomo anódinas,comoumahomenagempóstumaaumaconcepção já ultrapassada? Essas conseqüências serão efetivamente reveladasporumaanálisedametapsicologiafreudiana,não comoteoriapuramenteespeculativa,comoalgunsaquerem ver(Meltzer,1967),masenquantoelementoindispensável dapráxis teóricade Freud. Examinaremos aqui algumas conseqüênciasgeraisparaateoriapsicanalítica.
OdeterminismopsíquicoemFreud
Inicialmente, temos a firme adesão de Freud ao pen-samentocausalista.Amesmacausalidadedosfenômenos estudados pelas ciências naturais se aplica, segundo ele, aos fenômenos psíquicos.Aliás, emAlgumas lições ele-mentares de psicanálise, após ter definido a psicanálise como“umaparte(...)dapsicologia”,escreve:“Apsico-logiaétambémumaciêncianatural.Quemaispodeela ser?”(Freud,1938/1964,p.282).UmBinswanger(1970) poderácriticaronaturalismodeFreudcomumaimponente argumentaçãofilosófica,masoquenosconcerneaquiéque essenaturalismoparecetersidoumingredienteessencial desuateoria.
Acausalidadedosfenômenospsíquicosécoerentecoma idéiadequeestestêmumsubstratonatural,neural,mesmose nãosepodeexplicá-losemtermosneurais.ParaFreud,trata-sesempredeexplicarosfenômenospsíquicosemtermosde causasenãosomentedecompreendê-los.Aelucidaçãodo sentido,sejadossonhosoudossintomas,tem,semdúvida, um lugar central no seu sistema, mas essa elucidação de sentidonãodevesefazercomoumasimpleshermenêutica (Ricoeur,1965),istoé,comoumaexploraçãodaspossibili-dadesdesignificaçãooudesimbolização.Aocontrário,ela recorreaexplicaçõescausaisrelativasaosprocessospsíqui-cosinconscientes,emtermosdeconflitosentreinstâncias comdiferentesmodosdefuncionamento.Apropósitodisso, pode-selembrarapreferênciadeFreudpelainterpretação dos sonhos em função das idéias incidentes (Einfälle)do sonhador,emrelaçãoàinterpretaçãosimbólica:“Gostariade fazerumaadvertênciaexpressacontraasuperestimaçãoda importânciadossímbolosnainterpretaçãodossonhos(...) econtraoabandonodatécnicaqueutilizaasassociações dosonhador”(Freud,1900/1953b,p.360)
Acrençadoautornacausalidadepsíquicaémuitasvezes afirmadacomumtermoforte,odedeterminismopsíquico. Porexemplo,naPsicopatologiadavidacotidiana,citauma carta escrita por ele mesmo, onde diz: “nada na mente é arbitrárioouindeterminado”(Freud,1901/1960,p.242). Eem1910:
− “(...)apeguei-meaumpreconceito(...)estavaaltamente persuadido do rigor do determinismo dos processos anímicos(...)”(Freud,1910/1993,p.26).
− “(...)opsicanalistasedistingueporumacrençaparti-cularmenterigorosanodeterminismodavidaanímica” (Freud,1910/1993,p.36).
− “(...)doisobstáculosaoreconhecimentodoscaminhos depensamentopsicanalíticos:primeiramente,nãotero hábitodecontarcomodeterminismo,rigorosoeválido semexceção,davidaanímica(...)”(Freud,1910/1993, p.52).
Nãoeraaindachegadaahoraparaaafirmaçãocientífica deumprincípiodeindeterminaçãocomoodeHeisenberg, ouparaaformulaçãodeprocessosestocásticosoudeauto-organização (Atlan, 1979/1992; Glansdorff & Prigogine, 1971).Aciênciadaépocadoautoreraantesestritamente determinista. Em Freud, o único meio de relativizar esse determinismoestritofoianoçãodesobredeterminação.Cada fenômenopsíquicoédeterminado,maspodesê-loaomesmo tempoporváriosfatores(Laplanche&Pontalis,1967/1970, pp.641-643).Apossibilidadedesempreencontraroutros determinantesedeimaginaraindaoutrosquenãopodemos precisar impõe, na realidade, uma limitação, pelo menos prática, ao determinismo psíquico freudiano. Sua posição causalistapermanece,noentanto,inalterada,emcoerência com sua concepção naturalista dos processos subjacentes aosfenômenospsíquicos.Odeterminismopsíquicoadotado porFreudpoderiaservistocomoentrandoemchoquecom seusconceitosdeescolhadeobjetoeescolhadaneurose.A propósito,escrevemLaplancheePontalis(1967/1970):
nãoéindiferenteque,numaconcepçãoqueinvocaumdetermi-nismoabsoluto,apareçaestetermoquesugerequeumactodo indivíduoénecessárioparaqueosdiferentesfactoreshistóricos econstitucionaisevidenciadospelapsicanáliseassumamoseu sentidoeoseuvalormotivante.(p.213)
A nosso ver, esse conflito é aparente, pois no sistema freudiano os próprios atos de escolha do indivíduo estão sujeitosaodeterminismopsíquico.
Ocaráterquantitativodateoriafreudiana
Umasegundaconseqüênciageraléocaráterquantitativo da teoria freudiana.Ao contrário de um Bergson (1961), porexemplo,queconsagratodoumcapítulodeseuEnsaio sobreosdadosimediatosdaconsciênciaàcontestaçãode queosfenômenospsíquicospossamestarsujeitosavaria-çõesquantitativasoudeintensidade,equebuscasubstituir asexpressõesquantitativasdessesfenômenosporanálises qualitativas,aabordagemdeFreudédecididamentequanti-tativa.Nãopodemos,certamente,medirasquantidadesem questão,masateorianemporissodeixaderecorreranoções
fundamentaisdenaturezaquantitativa.Tomemos,porexem-plo,oconceitodeinvestimento(Besetzung).Elerefere-sea umaquantidadedeexcitaçãooudeenergiapsíquicaligada a uma representação. Noprocesso primário, Freud supõe umdeslocamentomaisfácilemaiordessaquantidade,que corresponderiaàbuscadeumasatisfaçãoimediata.Nopro-cessosecundário,poroutrolado,sóumafraçãomenorda energiadeinvestimentosedeslocaria.Alémdoadiamento dadescarga,issopossibilitariaaindaevitarumaliberação excessivadeangústiaqueseriaprejudicialaoprocessode pensamento(Freud,1915/1982c).
Freudbuscatambémconceberoprazercomoumpro-cesso de natureza quantitativa. Sua primeira hipótese o associaaumadescarga,ouseja,aumareduçãodetensão, a uma redução do nível de investimento no aparelho psí-quico.Reconhecendoaslimitaçõesdessahipótese(Freud, 1915/1982a), o autor relacionará mais tarde o prazer e o desprazeràdiminuiçãoouaumentodaexcitaçãonão-ligada (Freud,1920/1955,pp.7-8).Tambémsãodenaturezaessen-cialmentequantitativaosconceitosdepulsão(Gomes,2001), angústia,afeto,libido,etc.
Aconcepçãoquantitativafoiumelementoindispensável desdeoiníciodateorizaçãofreudiana.Em1894,explicita assimsuahipótesedetrabalho:
nasfunçõesanímicasalgodeveserdistinguido–umaquotade afetoousomadeexcitação–quepossuitodasascaracterísticas deumaquantidade(emboranãotenhamosmeiodemedi-la), queécapazdeaumento,diminuição,deslocamentoedescarga, equeestáespalhadasobreostraçosdelembrançadasrepresen-taçõesatécertopontocomoumacargaelétricaestáespalhada sobreasuperfíciedeumcorpo.(Freud,1894/1962,p.60)
NosEstudossobreahisteria,estáemquestãoumexcesso de estimulação, do qualuma parte pode ser submetida à conversão,enquantooutraparteficanaesferapsíquicasob aformadesintomaspsíquicos(Freud,1895/1955b).
Oaspectoquantitativodateoriafreudianafoitambém importante para uma de suas concepções fundamentais, a dacontinuidadeentreonormaleopatológico–adiferen-ça entre os dois dependendo unicamente de uma relação quantitativa.“Dependederelaçõesquantitativas,dasrela-çõesentreasforçasemlutaumascontraasoutras,queo combateleveounãoàsaúde,àneuroseouadesempenhos superiores por compensação” (Freud, 1910/1993, p. 50). Umarelaçãoquantitativaestátambémestánabasedesua teoriadorecalcamento.Acondiçãoparaesseéqueaforça do desprazer que seria despertado pela satisfação de uma pulsãosejamaiorqueadoprazerqueseriaobtido(Freud, 1915c,p.108).
isso,elanãoseaplicaunicamenteaosubstratodosfenôme-nosconscientes,mastambémaoutrosprocessosinferidos apartirdesses.
Opontodevistatópico
Outraconseqüênciadopontodevistafreudianosobre a relação mente cérebro, um pouco mais específica, diz respeito àestrutura espacialde seu “aparelho psíquico”. Opróprioconceitodeaparelho(Apparat)éevidentemente deinspiraçãonaturalista.Esseaparelhoéconcebidocomo tendoumaextensãoespacial.ParaDescartes,osfenômenos psíquicossãoumarescogitans,cujaprimeiracaracterística éaausênciadeextensãoespacial.Descartesseocupoudas relaçõesentreamenteeocérebro,masparaeleessasrelações sãofundamentalmentedeexterioridade,nãorepresentandoo cérebromaisqueopapeldeumintermediárioentreoresto docorpoeamente.ParaoneurologistaFreud,osfenômenos psíquicossãoaatividadedesistemasneurais,tendoocérebro nãosomente,comotodocorpofísico,umaextensãonoespa-ço,mastambémumadiferenciaçãoestruturaljáconhecida pelaanatomiadeseutempo.
Mesmose,maistarde,elerenunciaaabordarasrelações entreoaparelhopsíquicoeaanatomia,adimensãotópica doaparelhopsíquicoéaherdeiradesuasprimeirasidéias eaconseqüênciadapersistênciadesuaconcepçãodebase sobre a natureza do psíquico. Seria, na verdade, difícil imaginaraformulaçãodateoriadeumaparelhopsíquico espacialmenteestruturadoporalguémqueadotasseatese dopsíquicocomoessencialmenteimaterialedesprovidode extensãonoespaço.
Aconcepçãofreudianadarelaçãomente-cérebro
Como poderíamos definir, mais precisamente, a con-cepção freudiana da relação mente-cérebro? Trata-se de uma posiçãoparalelistaou de uma teoria daidentidade psiconeural?4
Atítulocomparativo,vejamoscomoHughlingsJackson colocaoproblemaesuaposiçãosobreomesmo:
Nãosoucompetenteparadiscutiraquestãometafísicadana-turezadarelaçãodamentecomasatividadesnervosas.Hátrês doutrinas:1)queamenteagesobreosistemanervoso(...)supõe-sequeumainstânciaimaterialproduzaefeitosfísicos;2)queas atividadesdoscentrossuperioreseosestadosmentaissãouma únicaemesmacoisa,ouaspectosdiferentesdeumacoisa.Uma terceiradoutrina;3)aqueeuadotei,dizquea)osestadosde
consciência(ou,sinonimamente,osestadosdamente)sãototal-mentediferentesdosestadosnervososdoscentrossuperiores;b) asduascoisasocorremjuntas,eparacadaestadomentalháum estadonervosocorrelativo;c)mesmoseasduascoisasocorrem emparalelo,nãoháinterferênciadeumasobreaoutra.(...)Um crítico(...)dizqueadoutrinadaconcomitânciaéa“teoriados doisrelógios”deLeibniz(...)(Jackson,1877,p.84).
Oleitorselembraráquea“teoriadosdoisrelógios”é umateoriadualista,segundoaqualamenteeosprocessos neurais são duas realidades nitidamente diferentes, mas umafuncionaemcorrespondênciacomaoutra,mesmosem haverrelaçõescausaisentreelas–comodoisrelógiosque funcionamemsincroniamesmosenãoéumquecausao movimentodooutro.
Emseulivrosobreasafasias,Freudpareceadotarestapo-siçãoparalelistadeJackson:“Oprocessopsíquicoé,assim, paraleloaoprocessofisiológico(adependentconcomitant)” (Freud,1891/1957a,p.105)5.Muitomaistarde,elefalarádas
“dificuldadesinsolúveisdoparalelismopsicofísico”(Freud, 1915/1982c,pp.126-127).
NoProjeto, sua posição parece poder ser classificada comoumateoriadoduploaspecto,restritaaumapartedos processospsíquicos:
Segundoumateoriamecanicistaavançada,aconsciênciaéum simplesacessóriodosprocessosfisiológico-psíquicos,cujanão ocorrência nada alteraria ao transcorrer psíquico. Segundo outradoutrina,consciênciaéoladosubjetivodetodoacon-tecerpsíquicoeé,portanto,inseparáveldoprocessoanímico fisiológico.Entreasduassesituaateoriadesenvolvidaaqui. Aconsciênciaéaquioladosubjetivodeumapartedospro-cessosfísicosdosistemanervoso,asaber,osprocessosω,ea não-ocorrênciadaconsciêncianãodeixaoacontecerpsíquico inalterado,masincluiemsianãoocorrênciadacontribuição deω.”(Freud,1950/1987,pp.403-404)
O“ladosubjetivo”éumdosaspectos,dentrodateoriados doisaspectos(umobjetivo,outrosubjetivo)sobrearelação mente-cérebro. Se a ausência da consciência implica na ausênciadeumacertapartedosprocessosanímicosfisioló-gicos,équeessesprocessoseaconsciênciacorrespondem adoisaspectosdeumaúnicaemesmacoisa(Gomes,2003). Essacitação,assimcomoasdaprimeirapartedestetraba-lho,permiteaproximaraposiçãodeFreuddeumateoriada identidadepsiconeural.Entretanto,elesempreconsideroua consciênciacomoumfenômenosingularou,comodiráem 1938,“umfatoincomparávelequeseopõeatodaexplicação edescrição”(Freud,1938/1941,p.79).
Éinteressanteque,comoobservaBarros(1971),odualis-moparalelistadeJacksonsuscitaum“monismomaterialista” noplanometodológico:
Oleitornãodeveesquecerqueumadistinçãoabsolutaéfeita (...)entreosestadosmentaiseseusestadosfísicoscorrespon-dentes,equenenhumatentativaéfeitadeexplicarosprimeiros pelosúltimos(...)nãonosocupamosdiretamentedapsicologia, 4 ÉsurpreendentequeumgrandeconhecedordaobradeFreudcomo
JamesStracheytenhapodidoseenganarsobresuaconcepçãodarelação mente-cérebro,comoprovaaseguinteafirmação,ondefazreferência aoProjetodeumapsicologia:“Anecessidadedepostularquaisquer processosmentais inconscientesfoi,dessaforma,completamenteevi-tada:acadeiadeeventosfísicoseraininterruptaecompleta”(Strachey, 1957,p.163,ênfaseacrescentada).Ora,éclaroque,noProjeto,Freud tratadeprocessosmentaisinconscientes,emborasupondoparaeles mecanismosfísicos(neurais).E,comovimosacima,suaposiçãogeral sobrearelaçãomente-cérebronãomudou,aolongodesuaobra.Não há,paraele,incompatibilidadeentreomentaleofísico.
masdecertasquestõesdaanatomiaedafisiologiadosistema nervoso.(Jackson,1877,p.41)
Freud,aocontrário,emseuProjeto,seocuparádapsi- cologiaetentaráexplicarosestadospsíquicoscomhipóte-sesfisiológicas.Numadesuasúltimasobras,oEsboçoda psicanálise,de1938,oautorretomaaquestãodarelação mente-cérebro.Iniciandoessadiscussão,qualificaacons-ciênciacomoumfatoincomparável,queresisteaqualquer explicaçãooudescrição.Comovimosnacitaçãoreproduzida naseçãointitulada“Oproblemamente-cérebroemFreud, após 1900”, comenta que para muitos basta supor que só a consciência seja o psíquico, caso em que sobraria para a psicologia apenas uma classificação dos estados cons-cientes.Observaqueosprocessosconscientesnãoformam seqüênciasininterruptasecompletas,demodoquenãohá alternativasenãosuporqueháprocessosfísicosousomáticos concomitantesaopsíquico(consciente),aosquaissedeve atribuirumacompletudemaior,jáquealgunsdelesnãotêm processosparalelosconscientes.Énessesprocessossomá-ticos,propõe,quesedeveveropsíquicopropriamentedito. Ecompleta:“[Apsicanálise]explicaosalegadosprocessos concomitantessomáticoscomooverdadeiropsíquico[“das eigentlichPsychische”]ecomissodesconsideraaprincípio aqualidadedaconsciência”(Freud,1938/1941,p.80).
Combasenessadiscussão,podemosveraposiçãofreu-dianacomoumateoriadaidentidadepsiconeural:opsíquico éopróprioneural.Seconsiderarmosqueoproblemamente- cérebroéfundamentalmenteoproblemamenteconsciente-cérebro (Gomes, 1995), podemos ver também sua posição comoumateoriadosdoisaspectos:aconsciênciaéalgoinex-plicável,mascorrespondeaumapartedosprocessoscerebrais psíquicos.Aquiloquesemostraàconsciênciaseria,então,um outroaspectodessesprocessoscerebrais(Gomes,2003).
Conclusão
Verificamos que, ao longo de toda sua obra, Freud mantémumaposiçãomonistamaterialistaarespeitoda relaçãomente-cérebro.Apesardeterabandonadoapre- tensãodeoferecerhipótesesespecíficassobreosmecanis-mosfisiológicosdosprocessospsíquicos,passandoanão considerá-lascomorealmentenecessárias,oautornunca abandonou a concepção de que os processos psíquicos têm um substrato neurofisiológico. Essa concepção de basesemanifestaemtrêsaspectosfundamentaisdateoria psicanalítica.Elatornoupossívelaoautordesenvolveruma teoriadosprocessospsíquicoscausalista,manifestadana forte aderência do autor ao determinismo psíquico, só abrandadaemsuaconstruçãoteóricapelanoçãodeso-bredeterminação,queimpõeumlimitepráticoàtentação debuscarumaelucidaçãocompletadessedeterminismo. Em segundo lugar, possibilitou basear sua teoria em concepçõesquantitativas,aindaquemetodologicamente nãohouvesserecursoaqualquerformademensuração. Em terceiro lugar, a teoria atribui ao aparelho psíquico umadimensãoespacial,naformadapostulaçãodeuma tópica psíquica. Essa concepção, que um autor dualista dificilmenteabraçaria,derivanaturalmentedavisãodos processospsíquicoscomoderivadosdaatividadeneural.
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Recebidoem16.12.2004 Primeiradecisãoeditorialem22.06.2005 Versãofinalem25.07.2005