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PORQUE AS CRIANÇAS NÃO GOSTAM DA ESCOLA ?Luisa Castiglioni Lara
-4.
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POR QUE AS CRIANÇAS NÃO GOSTAM DA ESCOLA ?
O'Pientadora:
Luisa Castiglioni Lara
Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em Educação.
. Zi:Zah Xavie'P de A Zmei'da
Rio de Janeiro
Fundação Getúlio Vargas
Instituto de Estudos Avançados em Educação
Departamento de Administração de Sistemas EducacioHais
1987
,
•
111
Aos meus filhos
e aos meus alunos,
de ontem e de hoje.
•
•
SUMARIO
APRESENTAÇAo ...•.•... VI
INTRODuçAe ... セ@ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
CAPíTULO I: DE QUE AS CRIANÇAS NAo GOSTAM NA ESCOLA? 6
CAPíTULO 11: POR QUE AS CRIANÇAS vAo PARA A ESCOLA? 15
CAPíTULO 111: A ESCOLA E O SABER· 22
111.1. O Saber tem sua História, Cada Crian ça Também tem ... 22
111.2. Aprender e Preciso, "Viver e que nao
e Preciso" 25
111.3. Os Números sao Fáceis, mas a Matemá
tica . . . 29
111.4. Os Últimos anos do lº Grau •... 31
111.5. Conteúdos e Livros Didáticos ..•.... 36
CAPíTULO IV: A ESCOLA E O TRABALHO 42
IV.l. Diploma, Vida e Trabalho 42
IV.2. Inserção no Mundo do Trabalho ... 44
IV.3. Trabalho Intelectual x Trabalho Manu
aI . . . 49
CAPíTULO V: A ESCOLA E A CIDADANIA 58
V.l. Somos Todos Iguais Perante a Lei mas cada um tem que "conhecer" o seu lugar 59
V.2. A Organização Hierarquica da Escola.. 64
V.3. A Participação dos Alunos na Organiza
• ção da Escola ... . 67
•
CAPíTULO VI: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA ESCOLAR 79VI.I. Raciocínio/Pensamento ... 83
VI.2. Pensando/Fazendo: A Praxis da Autono
m1 a • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 9 O
J
BIBLIOGRAFIA. 95
•
•APRESENTAÇAo
Desde quando entrei no Magistério Público, no
início da década de setenta, vinda de várias experiências
de trabalho em Educação Popular, me vi lançada numa situa
ção de grande isolamento. A época era aquela em que os
porta-vozes do governo propagandeavam - e diziam estar im
plantando - urna Reforma do Ensino destinada a adequar a
Escola ãs "novas exigências de modernização do pais". Pou
cas eram as vozes criticas que conseguiam se manifestar,
denunciando as intenções - as claras e as ocultas - 、。アオセ@
la propalada "Reforma". No dia-a-dia da Escola, vivia-se
no meio da desorganização, do descaso e da incúria adrni
nistrativa mais completa.
No entanto para mim, desde aquela época, ficou
claro que, quaisquer que fossem as intenções do sistema,
o trabalho em sala de aula gozava de urna autonomia muito
grande. Ali dentro, o trabalho educativo era conduzido pe
las relações que o professor e seus alunos estabeleciam
entre si e pela relação que esses, em conjunto, passassem
a estabelecer em direção ã busca do saber. A partir dessa
primeira constatação, muito havia para ser pensado e dis
cutido sobre esse fazer na Escola. Mas, pensar e discutir
com quem ? Em que lugar ?
Naquela epoca - de repressao real e, também, ima
ginária - nao havia lugar dentro das Escolas para se en
contrar, para se discutir e pensar juntos. Vários eram
os impedimentos para reuniões na instituição, e a maior
parte das pessoas acabavam, pelos motivos os mais diver
sos, acatando essa impossibilidade e se conformando com
ela.
Fora das Escolas também nao era fácil encontrar
se pessoas que estivessem interessadas na discussão so
bre a Educação Escolar. Cheguei a participar, naqueles
tempos, de seminários e encontros organizados para a 、ゥセ@
cussao da Educação. Mas o centro dos debates, invariavel
mente, se voltava para a Educação "informal" ou "popu
lar". A Educação Escolar não se constituía num assunto
que pudesse concentrar interesse sobre o qual se exerce
o debate crítico. Ao contrário, a impressão que se tinha
era de que sobre ela nada mais precisaria ser dito e na
da além poderia ser feito: os grandes (e os pequenos) ci
entistas da teoria crítico-reproducionista já haviam dis
secado, destrinchado e esgotado toda a realidade do sis
tema escolar ... Assim, nem mesmo o ensino oficial reali
zado em bairros populares conseguia penetrar no quadro
das discussões, desqualificado que era, em princípio, de
qualquer conteúdo libertário e de implicação social.
Ao final daquela década, o que me veio dar um
novo ãnimo no trabalho de ensinar foi quando, em meio ao
movimento dos professores, encontrei algumas poucas cole
gas que também estavam procurando com quem pensar em con
junto o seu trabalho na Escola. Durante alguns anos, nos
encontramos quase que quinzenalmente. Trocamos experiê!!.
cias; discutimos posturas e atitudes com relação aos alu
nos e ã instituição escolar; analisamos os conteúdos e os
..
livros escolares; chegamos a produzir algum material didá
tico e realizamos, juntando alunos de várias escolas, aI
gumas atividades que são chamadas normalmente de extra
classe: cineclube, grupo de teatro, produção de artesana
to, passeios, etc .. Várias colocações que constam dessa
dissertação foram fruto desta troca e do trabalho que,
nestes tempos, realizamos em conjunto.
Mesmo se hoje essa experiência de trabalho, por
vários motivos, encontra-se esgotada, ficou-nos a certeza
de que e possível de se realizar algo novo na instituição
escolar, em qualquer situação em que ela se encontre.
Quando chegamos ao início da década de 80, com
os novos ares - ou leves sopros - democráticos, muita coi
sa parecia querer mudar. O interesse sobre a Escola havia
se reacendido em âmbito nacional; a nova década se inaugu
rava com a lª Conferência Brasileira de Educação; na im
prensa, vários artigos denunciavam as mazelas e a inefici
ência do ensino público; as livrarias apresentavam em
suas vitrines - com bastante destaque - livros de leitura
simplificada de análise crítica da instituição escolar.
Entre outros, destacou-se, na época, um texto com título
de bastante apelo: "CUIDADO ESCOLA!", baseado quase total
mente em bibliografia estrangeira.
I
•
A reabertura da discussão sobre a Escola coinci
dia com o novo interesse de alguns governantes em colocar
como prioridade de Governo a Educação Infantil. Começaram,
assim, a aparecer, em vários estados do país, propostas e
planos de reformulação do ensino. Grupos de trabalho fo
ram formados, equipes pensantes e equipes executivas.
Temos hoje, em nosso estado, novos prédios esco
lares, uma carga horária mais extensa, esboços de novos
conteúdos de ensino ... Mas no dia-a-dia escolar da rede
pública do Município do Rio de Janeiro quase nada mudou.
Muito já foi discutido, escrito e falado sobre o Ensino
e sobre a Escola mas, ao que me parece, muito pouco, ou
quase nada, conseguiu chegar até às salas de aula.
A maioria dos profissionais que estão nas esco
las, engajados diretamente com a Educação Escolar, nunca
participaram nem estão participando desses debates. Se al
gum texto sobre Educação lhes chega até às mãos, é lido
com muito pouco interesse - até mesmo com desconfiança e
incredulidade - não chegando a motivar nenhuma discussão
e, muito menos, portanto, alguma renovação da prática do
ensino.
Não seria uma preocupaçao fundamental a supera
çao desse impasse ? Como romper essa inércia, essa incre
dulidade, essa distância ? Como se ampliar os debates exa
tamente ali, onde eles poderiam ser levados à sua conse
cuçao prática ?
Será que os entraves nao vem da distância entre
os que pensam e os que fazem ? Será apenas urna questão de
linguagem ? Ou será a impressão de que aqueles que sabem,
que escrevem livros e que discutem, afinal, não são
que estão ai, no dia-a-dia, "pegando no batente"
os
ョセ。@
confirmação do antigo adágio: "a teoria na prática セ@ dife
rente" ...
O propósito deste trabalho セ@ a discussão da Esco
la a partir da vivência 」ッュセ@ a todos os que nela se en
contram. A de levantar aqueles aspectos mais simples e
concretos que constituem o cotidiano da vida escolar: os
uniformes, os livros, os aparelhos estragados, os repre
sentantes de turma, etc ... Anotando frases de alunos, ob
servaçoes de professores, trechos de discursos de direto
ras, foram-se-me revelando aspectos pelos quais passam
questões importantes a serem repensadas.
Este ュセエッ、ッL@ de debruçar-se sobre o corriqueiro
(as expressões de cada dia; os fatos mais habituais; as
frases ditas ao acaso, com inocência 。エセ@ ... ) revela-nos
as contradições - nao atuantes corno leis determinadas de
instâncias superiores de cima para baixo, mas - reais e
presentes, a falsidade das várias "verdades sociais" vei
culadas, as dificuldades concretas e, por que nao, o vis
lurnbre de caminhos alternativos.
eウエセ@ via metodológica, evidentemente, nao ーイ・セ@
cinde do estudo, critico, das várias interpretações sobre
a história, o fazer ィセ。ョッ@ e, mais especificamente, o fa
zer educativo. As referências teóricas agudizam a atenção
t.
i
rJ
que se dá aos fatos, assim corno encaminham a escolha e a
leitura que deles é feita. Essas referências se encontram
incorporadas na própria experiência recuperada neste tra
balho.
o
que procuro, entáo, é evidenciar uma forma derelação entre teoria e a prática - uma praxis - para a
qual o fundamental nao e a tentativa de apreensão exausti
va do real e nem a reafirmação de um saber consagrado [1J.
Trata-se de, a partir da leitura da experiência viva, e
com a lucidez que me foi possível (ou de que fui capaz),
levantar algumas pistas para um novo fazer na Escola que
venha a oferecer respostas ao desejo e à vontade de sa
ber, de criar e de comunicar-se que as crianças possuem,
manifestam e, por isso mesmo, nos apontam.
A referência básica deste meu trabalho e a rede
de ensino público do Município do Rio de Janeiro. E, a me
dida que estas linhas foram sendo escritas, desfilavam
sob os meus olhos as inúmeras colegas de anos de magisté
rio neste município. Gostaria que essa dissertação fosse
uma continuação de tantas conversas interrompidas, ou ape
nas esboçadas ...
Na Introdução a esta dissertação, partindo do de
poimento de ex-alunos, levanto a constatação, bastante sim
pIes aliás, de que as crianças, em geral, não gostam des
ta escola que aí está. Esse não gostar, que normalmente
[1] Ver Castoriadis, C., em "A Instituição Imaginária da Sociedade", à página 45.
os adultos nao levam em muita conta, é "superado" por boa
parte dos alunos, que acabam se enquadrando nas discipli
nas e métodos escolares. Mas há também um grande numero
de crianças e adolescentes que, não encontrando nenhum a
trativo no ensino escolar, acabam abandonando desde cedo
as salas de aula.
Nos capítulos seguintes, apos analisar a atitude
dos adultos frente às instituições e às várias mistifica
çoes que a sociedade forja para incentivar as novas gera
çoes às atividades escolares, me encaminho para a análise
e o questionamento de como a escola desenvolve o processo
de aquisição do saber; como ela se relaciona com o traba
lho, essa atividade individual e socialmente imprescindí
vel na reprodução da vida humana; e como nela, escola, são
"preparados" os futuros cidadãos.
Finalmente, concluindo minhas reflexões, ressal
to a preponderância assumida pela Razão (império dos co
nhecimentos "claros e distintos") e, em decorrência, a va
lorização unilateral dos conteúdos já estabelecidos em de
trimento das possibilidades múltiplas do pensamento. Con
sidero este como um dos elementos fundamentais, responsa
veis pela ausência de criatividade e pela esterilidade da
instituição escolar na busca da sabedoria.
Quem sabe, não seja justamente essa busca da sa
bedoria o que é necessário restaurar? De tal modo que,
de lugar da instituição (lugar instituído), a Escola pos
sa se tornar lugar de instituição (lugar instituinte), on
•
I
de as crianças possam aprender a se auto-regular
fazendo-pensando-criando.
•
AGRADECIMENTOS
Aos Alunos, com quem continuo aprendendo os encantos
da vida.
As Companheiras e Companheiros de aventuras e desven
turas do ensino público que, de um jeito ou de outro, con
tribuiram para essas reflexões.
A Zilah, com sua orientação sempre atenta, consisten
te e encorajadora.
A Bia, com sua paciência, suas observações, seu apoio
e sua solidariedade.
Ao Ivandro que veio de longe trazendo o seu carinho
e sua sabedoria.
RESUMO
A experiência da vida escolar no magistério público da
rede oficial de ensino em bairros populares do Rio de Janei
ro conduz a uma reflexão sobre os limites e possibilidades
desta instituição. As normas que nela prevalecem, pratica
das como se pensadas desde sempre, inibem desde o início os
espaços de escolha, criatividade e pensamento das crianças.
O próprio "saber escolar", apresentado como eterno, a-histó
rico e único possível, segue caminhos que nada têm a ver
com os questionamentos e as experiências dos alunos. A ma
neira pela qual a Escola se encontra estruturada em nossa
sociedade conduz à desvalorização do pensamento concreto
- do pensar fazer - e impõe formas abstratas para a aquisi
ção de conhecimentos acabados. A Escola tem-se mostrado in
capaz, também, de repensar uma forma de organização que nao
seja a repetição mecãnica ou reprodução das formas de orga
nização social já estabelecidas nessa sociedade. A cultura
oficial impõe à Escola a predominãncia da razao lógica como
a única forma possível para o pensamento. Mas o pensar en
cerra possibilidades mais amplas que apenas a sua forma de
raciocínio lógico. Experiências concretas, realizadas em sa
la de aula no município do Rio de Janeiro, apontam para uma
resumセ@
L'expérience de la vie scolaire dans l'enseignement
publique vécue au milieu populaire dans la banlieue de Rio
de Janeiro amene a une réflexion sur les limites et possi
bilités de l'insitution école. Les regles y établies sont
mises en pratique comme se elles étaient déjã prêtes depuis
toujours. Etant donné ceci, les spheres de choix, 」イ←。エゥカセ@
té et pensée des enfants subissent, des le départ, une tres
forte inibition. Le "savoir-scolaire", lui rnême, presenté en
tant qu'eternel, a-historique et unique, suive des chemins
que n'ont pas de rapport avec les indagations et les ・クー←イセ@
ences des éleves. La façon dont l'école est structurée, chez
notre société, conduit directement ã ャセ@ dévalorisation de la
pensée concrete - du penser/faire - et impose des methodes
abstraites vers l'acquisition de connaissances déjã achevées.
L'école ainsi structurée devient aussi incapable de repenser
un fonctionnement autre que la reproduction mécanique des
modeles d'organisation sociale legitimées par la sociéte. C'
est la raison logique, imposée ã l'école par la culture
officielle, la seule forme de pensée adrnise. Cependant, c'
est claire que la pensée engendre d'autres possibilités que
le raisonnement logique tout simplement. Des expériences con
cretes vécues avec les éleves d'écoles de la banlieue de
Rio de Janeiro en sont bien la preuve. Ces expériences nous
mettent sur le chemin d'une nouvelle forme de faire/penser
INTRODUçAo
"Quando eu entrei na Escola, na prl:.
meira série, eu chorava ... Eu que
ria ir para a Escola mas, quando en trava, me dava um nó na garganta
Eu chorava baixinho. Ninguém perce
bia. Eu tinha medo. Havia tanta gen te que eu não conhecia! ... Tudo era tão grande! .•. Eu me sentia tão ーセ@
queno! ... Depois, fui me do".
acostuman
(Guilherme)
"Agora que terminei o Ginãsio e Ja
faço o que quero, eu nao vou mais
continuar estudando. Acho que a Esco
la jã me deu tudo o que tinha que
dar. Penso que fiquei até demais na Escola e perdi tempo. Agora vou con tinuar aprendendo com a vida".
(Gilberto)
Esses e muitos outros depoimentos têm marcado a
minha reflexão sobre o dia-a-dia da vida escolar. As anãli
ses, estudos ou críticas lidas até hoje têm me ajudado a
entender, em parte, as causas de tantas contradições ou
verdadeiros absurdos - que marcam a instituição escolar.
Mas sinto que muito ainda tem que vir à tona: hã muita ne
2.
- o buraco está mais embaixo .•.
O Guilherme e o filho mais velho de uma família
numerosa criada sem pai. Hoje, ele é sargento do Exército,
apesar de não gostar da carreira militar. Nasceu e mora,
até hoje, "numa favela em Ramos, no Rio de Janeiro. Depois
do ginásio, cursou o segundo grau, à noite, na Escola pú
blica, é claro. Escreveu e apresentou na Escola, com alguns
colegas, várias peças para as crianças. Chegou o Serviço
Militar e, ao final, engoliu seco, chorou por dentro, mas
acabou ficando no Exército. Era o único emprego seguro que
se lhe apresentava (já havia aprendido desde pequeno que e
possivel "se vencer", ou se alienar e se integrar à Insti
tuição). Muitos dos seus professores ficaram satisfeitos
em saber que a Escola o "ajudou" a entrar para a carreira
militar. Mas ele gostava mesmo era de teatro ...
Poderia essa Escola ter ajudado ao Guilherme a en
contrar outro caminho ?
O Gilberto é vizinho do Guilherme. Estudaram os
dois na mesma Escola, em turmas diferentes. Gilberto foi
sempre um dos melhores alunos. Destacava-se nao somente
nas matérias do núcleo comum, mas inclusive também em músi
ca e desenho (mesmo se na Escola não houvesse aulas de de
senho ... ). Alguns professores chegaram até a classificá-lo
como "superdotado" mas, não apresentando nenhum sintoma de
desajuste na turma, foi simplesmente reconhecido como um
aluno muito dotado.
3.
logo um emprego numa gráfica; além disso, aprendeu a tocar
alguns instrumentos e organizou um grupo de jovens que se
reunia semanalmente. Neste grupo, cada um falava sobre um
assunto que fosse de seu interesse; música, astronomia, bio
logia, etc. Cada um contava o que sabia ou o que lia. Na
época de servir o Exército, saiu do emprego e, enquanto ser
via, dedicava-se, nas horas vagas, ao artesanato. Atualmen
te, é um profissional qualificado na indústria gráfica.
Mas, por que o Gilberto não quis continuar a estu
dar? Teria conseguido isso sem grandes dificuldades. "De
posse de um diploma do segundo grau, ou até mesmo de um
curso superior, poderia, quem sabe, melhorar de vida, sair
da favela ••. " Foi o que mui tos professores comentaram. Mas
ninguém quis se aprofundar mais na questão. "Que motivos
teriam levado esse garoto 'tão inteligente' a se desinte
ressar pelos estudos escolares ?"
A maioria das crianças, sempre que perguntadas,
afirmam que querem ir para a Escola; querem aprender a ler
e a escrever. Por uma simples razão de ter um lápis, um ca
derno .•• Não importa se esse querer e um desejo de emula
ção das outras. A criança quer aprender a fazer o que as
outras fazem. Mas, por que muitas vezes ela perde essa von
tade quando entra na Escola ?
Nem todas chegam a chorar como o Guilherme, mas o
que se constata é que muitas crianças têm na Escola um com
portamento muito diferente do que têm na rua ou em casa.
esse um inevitável trauma pelo qual a criança tem que ー。セ@
sar para ser iniciada na vida social ? Mas não será que ・セ@
se trauma perdura por anos, pelo que revela o grito de ale
gria ou a expressa0 de alívio que sempre ocorre ao sinal
da saída ?
Mais objetivamente, por que muitas crianças e ado
lescentes se decepcionam e não conseguem se interessar pe
lo estudo e acabam se "evadindo" e abandonando a Escola?
Por estarem cansados dela ? Por não gostarem dela ?
As estatísticas das Secretarias de Educação reve
Iam, e na Escola constatamos isso diariamente, que os índi
ces de desistência escolar continuam muito altos. Não so
mente nas primeiras séries, mas também no "Ginásio", quan
do já estariam vencidas as maiores dificuldades de alfabe
tização. Em geral, na Escola, ninguém se preocupa muito em
tentar analisar o porque de tanta evasão. Este fato como
que foi incorporado como algo inevitável: e o desinteresse
da família, é o ambiente que nao ajuda, e a necessidade de
trabalhar ... Nota-se até mesmo, muitas vezes, uma certa
satisfação por parte de alguns professores ao se verem li
vres de alunos tão "difíceis" e se comenta: - "este não ti
nha jeito mesmo ... " E assim nos acostumamós a encontrar
as crianças que deixam a Escola vagando por suas imedia
çoes, quase sempre em locais onde se pode pegar algum bis
cate. Muitos saem e preferem estudar ã noite, no Supleti
vo, porque e mais rápido.
•
5.mecei a me perguntar observando sobretudo as crianças e
adolescentes das classes economicamente mais carentes, on
de o problema
é
mais patente e desvelado; onde não há ーッセ@sibilidade de os pais prepararem e condicionarem a entrada
aos filhos na Escola; e onde os adolescentes se emancipam
muito mais cedo da autoridade e do aconselhamento familiar.
Mas acho que o nao gostar da Escola, o se sentir intimida
do por ela e o ter vontade de abandoná-la e comum a
ria das crianças e adolescentes de todas as classes.
maio
De que as crianças nao gostam na Escola ? O que
revela esse nao gostar ? Qual é a relação que a nossa Esco
la vem mantendo com a vida, com o trabalho, com a partici
pação social ? Como a Escola desempenha o papel de passar
ãs novas gerações "o patrim6nio cultural, cientifico e ar
tistico ... que foi produzido ãs custas do trabalho de mui
•
t
CAPíTULO I
DE QUE AS CRIANÇAS NÂO GOSTAM NA ESCOLA ?
Há anos eu ouço comentários, reivindicações e pro
testas dos alunos de várias escolas públicas e acompanho a
resistência que eles oferecem a elas; mais feroz por parte
de alguns, mais tímida por parte de outros, ou mesmo a ati
tude de resignação oferecida pelos restantes. Variam as es
colas, as turmas, mudam os cantores da moda mas, tirando
as especificidades de cada situação, há algumas colocações
comuns a todos.
A grande maioria dos alunos sao contra a
cia diária, sem caber exceção, dos uniformes, dos
exigên
uni for
mes completos dos quais nem os sapatos escapam. Eles acham
absurda a rigidez dos horários, detestam "formar", ficar
sentados por muito tempo e, como se isso tudo não bastas
se, até mesmo estando em casa, ter ainda que fazer os deve
res. são essas as questões que sao sempre apontadas pelos
alunos como sendo as responsáveis por eles não gostarem da
Escola.
Não sao as crianças dos primeiros anos que nos di
zem isso, mas os que estão na Escola há algum tempo e, so
bretudo, os representantes das turmas ou aqueles que for
mam os grêmios estudantis. Para os menores, em parte, as
7.
a vontade da emulação funcionam no sentido de ainda nao
questionarem o que parece estabelecido e consagrado desde
sempre. Se perguntamos aos pequenos alunos se eles gostam
da Escola eles nos dizem, em geral, que sim, mas, se ・ウーセ@
cificamos a pergunta, - "do que você gosta na Escola ?",
eles respondem, - "do recreio". Desde os primeiros anos no
tamos também a vontade que têm de vir à Escola com um sapa
to diferente, abrir as blusas do uniforme e mostrar uma ca
miseta colorida, colar uma figurinha nos cadernos que as
professoras insistem em encapar todos da mesma cor, ou se
não, dar uma escapada da fila.
O que nos querem dizer os alunos quando rejeitam
algumas normas que, a princípio, parecem secundárias ou mar
ginais na vida escolar e que se resolveriam de maneira tão
obviamente simples ?
As respostas nos parecem, também, bastante sim
pIes: eles não querem aceitar a "uniformidade" das roupas,
dos horários, das filas, da rotina, etc. Recusam-se a ter
que entrar, todos os dias, no mesmo horário, todos ao mes
mo tempo, com a mesma roupa, formando as mesmas filas, sen
tar nos mesmos lugares ...
Sobre a tendência uniformizante da Escola como
produto da sociedade industrial já se falou muito, mas pou
co, ou nada se mudou na prática; mas as crianças continuam
resistindo. No entanto, poderia uma Escola, ou qualquer ou
tra instituição que reune diariamente, durante anos a fio,
8.
te ?
Qualquer instituição tem as suas normas que devem
ser seguidas por todos. Muitos professores atribuem a es
sas normas uniformizantes um "valor educativo". - "As nor
mas que a Escola adota são boas porque educam as crianças
à pontualidade, a reprimir as suas vontades (instintos) em
benefício da vida em comum, aprendem, afinal, a obedecer".
Tais professores absolutizam o valor das normas uma vez que
são elas, as normas, que educam; através delas as crianças
aprendem a "se tornarem civilizadas".
Outros professores, mais pragmáticos, preferem de
fender as normas escolares como medidas voltadas para a ma
nutenção do funcionamento da Escola, sem entrar no mérito
deste funcionamento. Estes se esquivam da discussão ares
peito dos resultados desse funcionamento no desenvolvimen
to das novas gerações, ou de sua contribuição na manuten
ção da ordem opressiva, estabelecida pela sociedade indus
trial capitalista.
Uns, absolutizam o valor do "obedecer", outros não
querem se perguntar sobre os conteúdos veiculados pelas
normas, sejam elas quais forem; ambos não se interessam por
se perguntar nem de onde nem como e que surgem as normas
de uma instituição [1].
[1] "Referimo-nos ao fato, mais importante, de que a insti tuição uma vez estabelecida parece automatizar-se, que ela possui uma inércia e sua lógica própria, オャエイ。ー。セ@
sa, em sua sobrevivência e nos seus efeitos, sua fun
9.
t
verdade que sem regras nao há vida social e ascrianças em idade escolar já vivenciam esse fato. Aliás,
possuem dele uma experiência bem variada; há as regras de
convivência que eles vivem em suas casas e com os seus vi
zinhos, há as que eles estabelecem em seus jogos e brinca
deiras coletivas e há as que a sociedade estabelece nas
ruas, nas lojas ou nos lugares públicos de modo geral.
Na convivência familiar e com a vizinhança, que
entre as classes populares
é
uma convivência bem próxima,há em geral normas estabelecidas em estrito contato com o
ritmo da sobrevivência: comer, dormir, tomar banho, limpar
a casa, lavar a roupa, tomar conta dos pequenos, etc. d・セ@
de o momento em que se passa da categoria dos pequenos pa
ra o "status" de gente "grande", para que se possa sobre
viver é preciso que se entre no ritmo. Um ritmo cujas nor
mas sao tão essenciais que, em geral, facilmente são com
preendidas e revividas pelas crianças. Aqueles que querem
experimentar um outro ritmo, uma aventura, se afastam ca
da vez mais da casa e ganham as ruas.
Nas brincadeiras, as crianças estabelecem e obe
decem as regras, repetindo, mui tas vezes, o que outras cri
anças já inventaram, há muito tempo, mas re-escolhendo, a
daptando, introduzindo novos "lances", recriando enfim.
Nas ruas, nos ônibus, nos supermercados, essas
mesmas crianças vivem o mundo dos outros, o mundo no qual
impera a lei dos outros, mesmo se e um mundo que foi cons
10.
pais e de seus vizinhos. Neste mundo, ela poderá nao pagar
os transportes coletivos até alcançar um certo
contanto que se arraste por debaixo das roletas.
tamanho,
Poderá
usar as ruas, contanto que tome muito cuidado com o espaço
descomunal que os carros ocupam. Poderá ter acesso a uma
quantidade mui to pequena dos produtos expostos no comércio,
mas so com o dinheiro na mao. Se ela não incorporar tudo
isso a punição é imediata.
Em casa, é a necessidade da sobrevivência que di
ta as "leis"; nos jogos se vive uma experiência muito mais
próxima da autonomia; nos outros lugares da sociedade impe
ram as leis do sistema. E na Escola ?
A Escola, dizem, é feita em função das crianças;
é o prolongamento da família. Hoje até ficou na moda se di
zer aos alunos: - "A Escola é sua". Mas, na verdade, ela
se apresenta para as crianças como o lugar inverso ao dos
seus jogos, onde elas próprias ditam suas leis; a Escola
se constitui num lugar de "heteronomia" tanto quanto um su
permercado, uma delegacia, ou uma fábrica, mudando-se ape
nas as "funções".
Se acompanharmos mais de perto o comportamento
das crianças no dia-a-dia escolar poderemos notar que nao
sao as normas o que elas rejeitam. De fato, a sua recusa
se dirige muito mais para a atitude acrítica e para a repe
tição não criativa que delas é exigida perante essas nor
mas. Não há jogo sem regras, nem civilização sem leis; is
11.
nos dizem quando "desrespeitam" ou "ultrapassam" as normas
institucionalizadas em nossas escolas ?
- "Existe a nossa vontade, existe também o desejo
e a criação ... " [2].
o
que eu estou levantando nao se reporta tanto aatitude repressiva nem ao jogo de poder na instituição es
colar, apesar desta questão se encontrar presente nitida
mente na postura de professores e direções que absolutizam
o valor do "obedecer" e, correlatamente, do papel da auto
ridade. Quero mais é levantar a questão e apontar para o
comportamento dos adultos frente às instituições.
Para os partidãrios da Bッ「・、ゥセョ」ゥ。B@ não hã porque
se dar ao trabalho de pensar, uma vez que, para eles, o
pensar é coisa jã feita; seu querer e absoluto, porque nao
e seu, porque e o único que, supõem, pode haver.
Para os partidãrios do pragmatismo funcional, a
necessidade 'do pensar não vai além da produção dos pensa
mentos que sejam suficientes para justificar as normas. A
comodada a 」ッョウ」ゥセョ」ゥ。L@ seu querer não ultrapassa ao de que
[2] Elas reivindicam seu direito à singularidade no senti
do abordado por Guattari, conforme, por exemplo: "o tra ço comum entre os diferentes processos de singulariza
ção é um dever diferencial que recusa a subjetivação
capi talística. Isso se sente por um calor nas relações, por determinada maneira de desejar, por uma afirmação positiva da criatividade, por uma vontade de amar, por uma vontade de simplesmente viver ou sobreviver, pela
multiplicidade dessas vontades. t preciso abrir espaço
para que isso aconteça. O desejo só pode ser vivido em
vetores de singularidade". F. Rolnik, S., Micropolíti
ca - Cartografia do Desejo, Vozes, Petrópolis, 1986,
•
12.a instituição cumpra com suas funções, encontrando sua a
comodação em suas próprias regras.
Para se viver o dia-a-dia, parece mais fácil nao
se pensar o que já está pensado ou querer, sem limites, as
possibilidades que parecem ser as únicas para se querer.
Ou então, parece mais cômodo não se questionar sobre os
funcionamentos dados, a que "necessidades" respondem eles,
e não querer mais além do que nos permite uma ordem pre
estabelecida.
Parece uma conquista impossível, a muitos, perce
ber que sao os próprios homens que criam as instituições
e que e por isso que eles podem repetí-las, empobrecendo
as, enriquecendo-as, ou modificando-as, até mesmo radical
mente, a partir de um projeto que seja fruto do pensamen
to e da vontade de cada um, colocados sob o critério da
reflexão e do desejo de todos.
O "respeito" às normas valorizadas por si mesmas
e que se desvincularam das razões pelas quais foram cria
das evidencia-se pela falta absoluta de iniciativas que
marca a rotina da vida escolar. Apesar da insistência de
pais e alunos que, enfrentando problemas muito concretos
de tempo dinheiro, etc., solicitavam uma certa elasticida
de na questão do uso do uniforme, foi necessária uma por
taria da Secretaria Municipal de Educação para que as di
reções admitissem excepcionalmente alunos não completamen
te uniformizados nas escolas. (As crianças nos perguntam:
lo ?").
Nas instituições privadas o patrão é quem
nas instituições pGblicas quem manda é o "governo".
instituições privadas, o patrão é visível, se nao
mente, através de seus prepostos; mas, nas escolas
13.
manda,
Nas
pessoa!
pGbll:
cas, onde esti o "patrão" ? Onde esti o "governo", nas oi
tocentas ou mais escolas municipais espalhadas pelo Rio de
Janeiro ? Que burocracia tão eficiente e "capilar" é esta
que pode se fazer presente em cada uma das unidades, em ca
da uma das normas, em cada situação, ou até mesmo em cada
gesto ?
O fetiche da instituição, mascarado sob a suposta
presença de um "dominador", é vivido em grau maior ou me
nor pela maioria dos que nela trabalham, não importa tanto
o lugar que ocupem. Muitas propostas inovadoras, até as
vindas "de cima", esbarram na resistência de muitos que,
mais realistas do que o rei, agarram-se ao ji instituído.
Por que o Guilherme chorou tanto ao entrar na Es
cola ? Por que tantos continuam sofrendo, resistindo, ou
desistindo ?
Eles vivem na Escola a impossibilidade de esco
lher, de decidir, de inventar. Outros j i decidiram por eles
o que devem vestir, a sala onde ficarão, a professora e os
colegas com os quais terão de conviver, corno ou com o que
j
14.
Qual
é
o espaço onde a criança poderá exercitar oCAPITULO 11
POR QUE AS CRIANÇAS
vAo
PARA A ESCOLA ?A fim de se vencer a resistência que as crianças
sempre ofereceram à vida escolar, há muito tempo os adul
tos vêm inventando muitas histórias e forjando exortações
para motivar as novas gerações ao estudo.
"SE
vocE
NÃO ESTUDAR VAI VIRAR BURRO!"Quantos de nos, quando crianças, já nao ouvimos J
exortações desse tipo e, quem sabe, não estremecemos ao
olhar certas gravuras apresentando as crianças, as que ha
viam jogado os livros fora, de rabos crescidos e orelhas
de burro. Entre todas as aventuras do boneco Pinóquio, cer
tamente o relato de sua passagem pelo "Paese de Bengodi",
onde todas as crianças faziam o que queriam mas, aos pou
cos, iam virando burros, foi a que mais marcou várias e va
rias geraçoes.
Sem dfivida, nessa frase "vai virar burro" se en
contra embutido o conceito de razao e de cultura peculiar
à concepção liberal do homem: este animal racional que de
ve distanciar-se cada vez mais da animalidade, reprimir e
dominar os instintos e desenvolver a razão. Este é o desti
no do homem traçado pelos iluministas e a Escola, incutin
do o saber e a cultura - frutos da razão - desempenha um
16.
セ@ a partir desta epoca que, aos poucos, vai se
formando uma classe média que, sobretudo pela escolariza
ção, vai ter sua chance de afirmação na sociedade.
Houve tempo em que essa exortação parecia estar
correta: aqueles que haviam estudado, ou melhor, aqueles
que tinham tido a chance de estudar, conseguiam exercer uma
profissão liberal. Os trabalhos braçais e os serviços pesa
dos eram próprios das classes desescolarizadas, porque in
capacitadas para a cultura, menos homens. Assim, a escola
se tornou o bode espiatório da divisão social e nada melhor
do que o burro, este paciente animal de carga usado para
os trabalhos pesados durante o dia inteiro - sem nem tempo
para pensar - para representar as classes trabalhadoras.
Mas a história não parou aí. As contradições do
sistema vão aos poucos se evidenciando e as massas proletá
rias, cada vez mais presentes e ativas nas lutas sociais,
desmascaram a falácia dos lemas liberais. Exigem igualdade
real de direitos e lutam por um futuro melhor para seus fi
lhos. Por outro lado, as guerras e as crises econômicas ter
minam por estremecer a confiança absoluta depositada no
progresso, seja no progresso econômico seja no progresso da
razao.
Surge assim uma nova exortação, menos fabulística
e mais realista, tentando mostrar às crianças a importân
cia de se ir para a Escola.
17.
A mesma antiga conotação é clara nesta exortação,
ou em outras desse tipo. Só que agora o mundo do trabalho
não é apenas figurado, ele é expresso sem metáforas. Ao mo
vimento operário e suas reivindicações, as classes patro
nais respondem com o progresso tecnológico e, dentro dele,
introduzem a divisão hierarquizada dos postos de trabalho.
Concretizam, assim, a teia de especializações com as quais
procuram dividir o movimento operário, justificar as dife
renças .salariais e o desprezo às profissões consideradas
nao especializadas.
Desta vez a Escola é apontada como o caminho para
se entrar no mundo do trabalho, para se ocupar postos mais
"nobres" e mais bem remunerados dentro dele.
As mudanças na sociedade atual, no entanto, sao
muito rápidas. Em nosso país, no final da década passada,
após o fictício milagre econômico, acabamos por cair em
uma longa recessão. Neste período, as indústrias investi
. ram na automatização, diminuiram os postos de trabalho e
imprimiram uma aceleração no ritmo de produção impensável
até então [3]. Os desempregados das fábricas e escritórios
se somaram aos subempregados e ao contingente das novas ge
rações em idade de trabalho, todos em busca de qualquer for
ma de ganho.
[3] Veja Beatriz Costa, O Trabalhador e a Produção um Ponto de Vista, Cadernos de Educação Popular Vozes coedição NOVA, 1985.
18.
Essas modificações de modelos de produção nao dei
xaram impunes nem mesmo os membros da classe média, aloca
dos nos postos intermediários do sistema. Nessa situação,
nenhum canudo serve mais corno garantia de アオ。ャアオセイ@ emprego
"nobre". Para que então estudar? Parece que,. atualmente,
a Escola está sendo vista corno o caminho para se evitar a
malandragem. Hoje, a exortação mais ouvida é do seguinte
tipo:
"ESTUDA, SENÃO
vocE
VAI FICAR QUE NEM ESSES PIVETES"Essa e a mais nova exortação de muitos pais e o
programa de vários políticos.
Apesar de terem surgido em momentos diferentes, to
das essas exortações permanecem, desde a mais antiga àmais
recente, como que flutuando nas cabeças das crianças. Elas
se perguntam: - "afinal, para que serve mesmo a Escola ?"
A nítida impressão que elas têm é de que estão enganadas,
ou de que, pelo menos, quem sabe, nem toda a verdade lhes
está sendo dita.
Que as orelhas nem o rabo irão crescer, isso as
crianças já sabem, mas o estigma da "burrice" existe e nao
é nada agradável. Mas afinal, quem é o "burro" nesta socie
dade, elas se perguntam: o pai de família que trabalha du
ro e nunca consegue colocar dentro de casa o necessário, ou
o trambiqueiro (cambalacheiro) que, sem muito esforço, con
segue estar sempre "cheio da grana" ? Parece que, cada vez
19. :.:,
lidade) e cultura, mas entre burrice (honestidade) e esper
teza. Quem sabe "levar vantagem" (como ensina o ex-jogador
de futebol Gerson, na Televisão) セ@ quem "vence na vida" e
não, simplesmente, quem "sabe". E a Escola, qual セ@ o saber
•
que ela ensina ?
Por outro lado, a sociedade do progresso e das lu
zes fosforescentes não pode revelar que, para continuar fun
cionando, precisa de muitas pessoas que recolham diariamen
te enormes quantidades de lixo; que mantenham desentupidos
seus esgotos; que limpem diariamente toda a sujeira que e
produzida. Esse sistema não pode tornar manifesto o valor
daqueles dos quais ele depende, do contrário não subsisti
ria. Por isso, セ@ preciso que, desde a mais tenra idade, as
pessoas incoporem uma visão camuflada da realidade, onde
os trabalhos "sujos" são considerados inferiores e devem
ser assumidos como castigo. E as crianças, então, vão para
a Escola porque não querem recolher lixo, mas olham em vol
ta e vêem muitos que já estudaram vários anos e, mesmo as
sim, ainda estão batalhando um emprego; vêem muitos outros
que estão pegando "qualquer" trabalho, porque esperar Ja
nao dá mais.
Será que é porque estudaram pouco ? - "Quanto de
estudo セ@ preciso para se arranjar um bom trabalho?" as
crianças se perguntam.
Quanto à questão da malandragem, há de fato os
bandos que vivem às voltas com a polícia. Deles fazem par
to'
20.aliciada na "escola" do crime. Mas esti cada vez mais cla
ro, até para as crianças, que os maiores roubos e as maio
res ladroagens são cometidas por senhores muito bem 。ー。イ・セ@
tados, que ocupam altos cargos e ... que devem ter estuda
do muito. (O que não acontece só no Brasil mas até mes
mo no "sacrossanto" Vaticano ... ) Se até reis, governantes
e ministros de Estado estão metidos em fantisticas falca
truas e em escandalosas negociatas, quem seri hoje o cida
dão acima de qualquer suspeita ?
E então ? As crianças percebem que tudo o que os
adultos dizem com respeito à Escola não é bem a verdade;
que a instituição escolar se apresenta investida de ーイッュ・セ@
sas que ela própria não pode cumprir. Mas haveri outro ca
minha reconhecido pela sociedade para se chegar ao "saber",
para arranjar um trabalho ou para se tornar um "cidadão" ?
A única competência que a sociedade de hoje reco
nhece é aquela conferida pelos diplomas e títulos recebi
dos nas Escolas e Universidades. A criança que não vai pa
ra a Escola é "moleque de rua". Por isso pode até ser apa
nhado e apanhar da polícia. O jovem que procura trabalho
vai ter que apresentar um atestado de escolaridade, até
mesmo para lixeiro. O adulto analfabeto é um cidadão de se
gunda categoria, apesar de hoje poder "até" votar.
Se, apesar de confuso, o único caminho que nesta
sociedade se apresenta às crianças é o da Escola, vamos
ver como nela se aprende
ó
saber, como ela encaminha para21.
CAPíTULO III
A ESCOLA E O SABER
Em fila, apos o toque do sinal, todas vestidas de
branco e azul, as crianças se encaminham para a "sua" sala
de aula. Carregam em suas pastas lápis, borracha e cader
no. Será com essas ferramentas, entre essas quatro paredes
- ou em outras salas muito parecidas com essa - que as cri
anças serao introduzidas, ao longo dos anos, no saber que
a sociedade reconhecei o saber que está escrito nos livros.
III.I. O SABER TEM SUA HISTORIA, CADA CRIANÇA tambセm@ TEM
Na verdade, as crianças já vem aprendendo muitas
coisas desde os primeiros anos de suas vidas; aprenderam a
se relacionar com o mundo, a se comunicar com os outros, a
reconhecer os vários símbolos que homens e mulheres em seu
universo social e histórico criaram. Desde os primeiros anos
de suas vidas, as crianças têm uma grande curiosidade em
entender os fenômenos com os quais se deparam na natureza
e os acontecimentos da vida social. Observam, perguntam,
guardam as respostas, elaboram para si próprias uma inter
pretação dos fatos e, daí a algum tempo, querem saber mais.
Esta
é
uma longa aventura que durará por todo o tempo queI
Porém, há um fato cultural que, assim como
diu a sociedade entre "histõrica" e "não-histõrica"
23.
divi
(ou
primitiva), intromete-se também no caminho da aprendizagem
que as crianças vêm seguindo: é a Escrita. Entra-se na Es
cola porque chegou o momento considerado pela sociedade co
mo "culminante" da primeira infância: chegou a hora de a
prender a ler e escrever.
Mas, além da escrita que separa a histõria da pre
história, e separa também muitas das culturas existentes
até hoje, há um outro divisor de águas que deverá ditar, en
tre todas as formas de conhecimento, aquela que é proposta
como a mais - ou a única - correta: a ciência. Esta se des
taca entre todos os saberes produzidos dentro de uma mesma
sociedade como sendo o saber oficial, reconhecido e - o ー。セ@
so e pequeno para isso - o único saber "verdadeiro".
A Escola está encarregada também de introduzir as
nossas crianças no mundo maravilhoso da Ciência. Neste mun
do a linguagem estabelecida é a linguagem da matemática;
ela é o conhecimento básico para todas as ciências. Assim,
além da palavra escrita e lida simplesmente, a criança de
ve receber também da Escola os algarismos e conceitos que
constituirão a linguagem numérica.
Toda criança, desde que aprendeu a falar, a se ex
pressar, a comunicar-se, aprendeu junto a contar, a nume
rar e a ordenar dentro de limites determinados e sem maior
explicitação. Ela já percebe, com poucos anos de idade,
f i
-!
24.
somada; chega até a intuir que os números nao acabam ( .•.
quero mais um, mais, mais .•• ).
Desde cedo, a criança da cidade adquire um certo
costume com os símbolos escritos: cartazes, "out-doors" e
televisão se encarregam de bombardear os seus olhos. E,
muito antes de conhecerem as letras do alfabeto, elas aca
bam reconhecendo o logotipo da Coca-Cola, da Sadia, da
Mesbla e tantos outros, sobretudo quando há alguém mais
velho por perto que lha possa oferecer uma atenção maior.
Solicitada pelo misterioso poder da escrita, to
da criança diz, em geral, que tem vontade de aprender a
ler e a escrever.
t
com uma grande expectativa que ela coloca em sua pasta, nos primeiros dias da Escola, os seus
lápis, borracha e caderno. Há, porém, diferenças profun
das entre as crianças: a história de cada uma, as solici
tações que cada uma delas carrega consigo.
Para as crianças das classes "cultas", o se apo
derar do código da escrita e dos conhecimentos científi
cos significa, mais que um ritual de passagem, um ritual
de incorporação: significa que, através da escolarização,
a criança passa a pertencer integralmente ao seu mundo fa
miliar.
Já para as crianças das classes menos escolariza
das, essa mesma aprendizagem nao tem o mesmo significado.
E, muito mais que uma forma de incorporação de um univer
so simbólico de seu próprio mundo familiar, ingressa-se
I
25.
Se todas as crianças, nao importando a que classe
pertençam, sempre aprenderam várias coisas ao mesmo tempo:
andar e falar, reconhecer os lugares e as pessoas, brincar
e vestir-sei se todas aprenderam com o corpo, com a memo
ria, com a fantasia, com a imaginação e, também, com a ra
zaOi a aprendizagem escolar nao tem o mesmo peso para umas
e para outras. Para aquelas primeiras, haverá uma ーイゥッイゥ、セ@
de absoluta, uma exigência familiar indiscutível. Por isso,
sua iniciação à vida escolar se dará bem cedo, e as insti
tuições que a elas se dedicam estão sempre à procura de mé
todos e formas que tornem a aprendizagem agradável e efici
ente. Para aquelas últimas, as exigências familiares nao
serao tão imperiosas quanto aos tempos, prazos e expectati
vaso Tanto mais que, enquanto estão estudando terão que
continuar a aprender e a desempenhar várias tarefas e fun
çoes, dentro de suas famílias e mesmo com os seus
nhos. As crianças das classes populares não vivem
- e nem sobretudo - em função da escola.
vizi
apenas
111.2. APRENDER セ@ PRECISO, "VIVER セ@ QUE NÃO セ@ PRECISO"
Sobre as crianças das classes desescolarizadas,
ou então, menos escolarizadas, incumbe a questão da escri
ta. Elas não sabem, talvez nunca saberão, mas as suas pro
fessoras, a Escola e todo o sistema de ensino estarão sen
do avaliados, positiva ou negativamente, tomando como ー。イセ@
26.
quais prazos. A expectativa da "sociedade" e que as crian
ças incorporem os conhecimentos, conceitos e o trato das
letras e dos números dentro de determinado período de tem
po. Mas as crianças têm o seu ritmo, os seus interesses,
curiosidades e expectativas.
- "Tia, lá na rua morreu um gato. Eu vi as tri
pas dele todas para fora!" Assim o menino interrompe o
exercício de escrita da palavra "gato" e a turma toda se
"distrai". Outros querem dar detalhes. Só a muito custo o
exercício recomeça.
- "Parou de chover, depois vai dar para brin
car!", aí todos olham para a janela. Os mais afoitos até
se levantam para ver melhor. - "Por que para de chover ?"
••• Não há respostas. セ@ preciso voltar aos cadernos. As
crianças começam a ter a impressão de que, ao contrário
do que esperavam, o caminho da aprendizagem na Escola se
estreitou. O mundo ficou lá fora. Dentro da sala de aula
só há gravuras de gatos, de chuvas e muitas letras.
Todas as perguntas que as crianças guardam den
tro de si, toda a sua vontade de entender a vida e a
morte - e de saber como "funcionam" a natureza e as máqui
nas ••. Quando é que elas terão resposta? Por enquanto é
preciso aprender a ler e a escrever. Isso, aqui, é o mais
importante.
Não e só a cobrança da sociedade que estreita a
experiência da aprendizagem na Escola, é também a consci
)
27.escrito nos livros. Até que as crianças nao tenham sufici
ente destreza para a leitura, não poderão verdadeiramente
ser iniciadas no mundo dos conhecimentos. As perguntas e
a sede de saber deverão aguardar outro momento, quando
elas mesmas forem capazes de. entender ou de se exercita
rem por escrito, nos livros.
o
mundo está lá fora. As perguntas devem ser deixadas para depois. O que é então que vai realimentar o in
teresse e a vontade das crianças durante os primeiros anos
escolares ? As palavras, frases ou pequenos textos que
elas irão ler e escrever, compor e recompor? Essas crian
ças nao possuem, em suas casas, os jogos pedagógicos que
ensinam brincando, nem, muito menos, alguma Enciclopédia
ou Atlas que, além de atrair com suas figuras, alimentam
a curiosidade e a vontade de entender sempre um pouco mais
o que vem escrito nos livros.
O interesse se reacende sempre que a professora
interrompe os exercícios da escrita ou de leitura e come
ça a contar, ou mesmo ler, uma história. Todas as crian
ças se amarram nisto, mas esta atividade dificilmente e
vista como parte fundamental do processo de aprendizagem.
Por que, por exemplo, não contar para as crianças que es
tão se alfabetizando a história da natureza ? ou a histó
ria dos homens de ontem e de hoje ? Contar sem o medo de
não conseguir responder a tudo, sem cobranças. Nem mesmo
a história das primeiras formas de comunicação, gráficas
28.
contadas para aqueles que estão aprendendo a ler e a escre
ver ••. Provavelmente, se as crianças ouvissem a professo
ra falar mais amiúde sobre estes assuntos que acendem a
sua curiosidade e a respeito dos quais elas pudessem apre
sentar· as suas perguntas, dizer o que entendem a respeito,
o que sentem, não aprenderiam mais facilmente a escrever ?
Afinal, não e também ouvindo e falando que se aprende a co
municar-se, a exprimir-se e a escrever? [4].
29.
III.3. OS NÚMEROS
sAo
FAcEIS, MAS A MATEMÂTICA •••Há uma parte do estudo dos primeiros anos escola
res no qual as crianças se sentem
à
vontade. セ@ muito rarode se ouvir uma professora dizer que seja difícil traba
lhar com os alunos as primeiras noções de aritmética. Os
símbolos nela utilizados se relacionam diretamente com ex
periências concretas. Os alunos entendem muito bem o que
e somar e diminuir, multiplicar e dividir. Não apresentam
problemas nem mesmo no aprendizado das frações se, parale
lamente ao mecanismo de armar as operaçoes, as crianças
podem verificá-las através do manuseio de toquinhos, de
papéis recortados ou mesmo dos próprios dedos conferindo
os resultados. Até mesmo o sentido do sistema da numera
ção decimal é possível ser facilmente entendido, destrin
chando-se assim o cabeludo "vai um", desde que os ーイッヲ・セ@
sores se lembrem de trabalhar com o velho ábaco que, mis
teriosamente, sumiu das escolas.
Os problemas se iniciam quando as crianças come
çam a resolver os ."problemas": ganhos, lucros, perdas
Há uma sequência de enunciados e as crianças vão ter que
resolvê-los. Por que nunca se pede aos alunos que formu
lem eles próprios os problemas nos quais irão usar as ope
raçoes que aprenderam ? Será que as crianças não têm con
dições para isso ? Será que elas nunca se defrontaram em
suas vidas com ーイッ「ャ・ュセウ@ de ordem matemática ?
30.
la que a do Gilberto e a do Guilherme, que preparava água
sanitária em sua casa para vender nas vizinhanças. Assim
arranjava uns trocados para ajudar o orçamento familiar.
Ele tinha que medir as porções de cloro por medidas de
agYa; tinha que comprar os vasilhames, o cloro e preparar
tudo. Ele mesmo fazia o preço e nunca havia saído no pre
juízo mas não havia meios de se conseguir que ele re
solvesse os problemas de matemática tal como eram ーイッーッセ@
tos pelos professores da escola.
A matemática está presente na divisão e organiza
çao do tempo do homem (anos, meses, semanas .•. ) e na pro
pria contagem do tempo da vida da criança e de seus pais
e irmãos. Está presente em muitos gestos do dia-a-dia: nos
jogos, na divisão e organização. dos recursos familiares,
assim como na divisão dos espaços na casa.
As crianças começaram a assimilar a lógica mate
mática quando aprenderam a falar, juntamente com a lingua
gem, quase como que intuitivamente; e muitos podem ir lon
ge nessa intuição. A Escola, nos primeiros anos nao pode
ria ser muito mais o lugar da explicitação e organização
dessas intuições do que o treinamento constante dos meca
nismos das contas (por vezes até, beirando o sadismo pelo
tamanho dos algarismos).
A matemática começa realmente a se tornar o gran
de tabu quando, ainda no primário ou nas primeiras séries
do ginásio, tem início o estudo da Algebra. As letras se
31.
se ter um domínio concreto dos pesos e medidas.
Por que as crianças, na Escola, não medem, nao pe
sam, nao comparam pesos e volumes diferentes, tirando daí
as suas próprias conclusões ? Quem sabe se os números deci
mais, que tanto confundem os alunos atã no segundti grau,
nao seriam assim muito mais facirmente compreendidos ?
Por que, ao invãs de se entrar logo na lógica abs
trata, não se trabalha durante um bom tempo a Geometria,
tão mais concreta e tão mais próxima à experiência huma
na ? Afinal, há mais de 3.000 anos atrás, os Egípcios e os
Babilônicos, partindo destes estudos, não conseguiram de
senvolver atã mesmo a Astronomia, chegando a dividir com e
xatidão o ano solar ?
Trabalhando as formas, calculando suas áreas e
seus volumes a partir da medição dos lados, diagonais e
diâmetros, nao haveria necessidade, anos mais adiante, de
se decorar tantas fórmulas que, por outro lado, só podem
se apresentar corno mágicas.
III.4. OS ÚLTIMOS ANOS DO lQ GRAU
Após terem passado alguns anos treinando a escri
ta, a leitura e desenvolvendo o raciocínio matemático, as
crianças - já quase adolescentes - vão enfrentar o Segundo
Segmento do Primeiro Grau (em geral, elas não sabem que se
32.
Mui tos dos que começaram juntos ficaram para trás,
estão repetindo algumas séries. vários outros desistiram.
Mas a Escola não parou para pensar seriamente no porque
de tantas repetências e desistências. - "Quem nao tem con
dições não pode ir para frente", muitos professores já de
cretararn e continuam decretando sempre, a cada Conselho
de Classe.
Todas essas crianças, durante quatro ou mais
anos, cresceram, trocaram os dentes de leite, descobriram
o sexo, aprenderam a andar pela cidade, apaixonaram-se pe
la música e sentem no corpo uma vontade louca de dançar.
Isso tudo aconteceu, e a Escola sempre passou ao largoi
da mesma maneira corno nunca soube estar atenta, duranteos
primeiros anos, aos grandes porques que as crianças
dararn desde pequenos e que, agora, já começaram a
se esquecer.
guar
deles
Neste Segundo Segmento, já alfabetizados, esses
alunos poderão, finalmente, ser introduzidos ao estudo das
ciências. Continuarão sentados, todos os dias, numa sala
perfeitamente igual às que já tiveram, mas assistirão a
várias aulas, de vários professores. Terão nas pastas tex
tos de várias matérias. Para eles, há uma nova expectati
va no ar.
- "Professora, eu estou me sentindo que nem uma
cômoda! Cada hora vem um professor manda abrir uma
ta". Foi o que me disse um aluno da quinta série,
dos primeiros dias de aula. Numa mesma manhã, ele
gave
depois