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Poder de Mercado do café brasileiro nos EUA: abordagem via demanda residual

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Academic year: 2017

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Dissertação de Mestrado

Poder de Mercado do Café Brasileiro nos EUA

Abordagem via Demanda Residual

Gabriel Godofredo Fiuza de Bragança

1

EPGE - Fundação Getulio Vargas

Orientador: Afonso Arinos de Melo Franco (EPGE / FGV-RJ)

(2)

Resumo

O objetivo deste trabalho é avaliar a competitividade do grão de café brasileiro no mercado americano. Diante das características particulares do mercado de grão de café verde, da var-iedade de possíveis interações estratégicas entre os competidores e da escassez de observações de qualidade, procura-se demonstrar neste estudo que a abordagem da demanda residual é a técnica mais adequada para atingir este fim.

(3)

Conteúdo

1 Introdução 1

2 Modelo Teórico 3

2.1 Métodos Tradicionais de Mensuração de Poder de Mercado . . . 3

2.2 Novos Métodos e a Demanda Residual . . . 4

2.2.1 Nova Organização Industrial Empírica (NOIE) . . . 4

2.2.2 Demanda Residual . . . 5

2.3 Formulação do modelo Genérico . . . 6

2.3.1 Relação entre a demanda residual e o mark-up . . . 10

3 Estudo de Caso: Poder de Mercado do Café Verde Brasileiro nos EUA 12 3.1 Breve Histórico da Cultura Cafeeira . . . 12

3.1.1 Descoberta, Difusão e Desenvolvimento . . . 12

3.1.2 Regulamentação e Desregulamentação . . . 13

3.2 Descrição do Produto . . . 14

3.2.1 Cadeia Produtiva e Barreira Tarifária . . . 14

3.3 Mercado Importador . . . 16

3.4 Exportadores . . . 18

3.4.1 México . . . 18

3.4.2 Colômbia . . . 19

3.4.3 Brasil . . . 20

4 Estimação e Resultados 23 4.1 Estimação da Elasticidade da Demanda Residual . . . 23

4.2 Descrição dos Dados . . . 25

4.3 Resultados . . . 27

4.3.1 Arabica . . . 28

4.3.2 NESOI . . . 32

4.3.3 Elasticidades de Longo Prazo . . . 35

(4)

Agradecimentos

Agradeço aos meus familiares, pelo incondicional apoio e orientação.

Ao professor Afonso Arinos de Melo Franco, pela orientação e suporte ao longo de todo o trabalho.

Ao professor João Victor Issler pelos comentários e elucidações.

À minha namorada Roberta Santos Carvalho de Castro pela tolerância e compreensão. Aos meus amigos, em especial à Aldo Henrique Treu Ramos, André Soares, Bernardo de Sá Mota, Fernando Tavares Camacho, Frederico Estrella Carneiro Valladares e Marcelo de Sales Pessoa, tanto pelas conversas como pelas sugestões.

À Lourenço Senne Paz pelo interesse no tema.

Aos professores da EPGE, pela preocupação em desenvolver um centro de excelência acadêmica.

Aos meus colegas de turma da EPGE de 2000. À CAPES pelo apoiofinanceiro ao longo do curso.

(5)

1

Introdução

O objetivo desta dissertação é contribuir para o estudo da competitividade do café brasileiro através de uma abordagem quantitativa. Este trabalho focaliza, em particular, o mercado importador americano de grãos de café verde na década de 90.

Ao longo desta década, vários trabalhos analisaram a competitividade do café brasileiro no mercado internacional. Dentre eles, podemos citar Coutinho(93), IBRE(98), Ormond(99) e Coutinho(2002). Em adição aos autores anteriormente citados, Fitter&Kaplinsky(2001) e Calfat&Flores(2002) forneceram uma importante contribuição para o entendimento da estrutura de mercado do setor. De todos estes trabalhos, emana o consenso de que se trata de uma indústria com estrutura organizacional complexa.

Observou-se ainda, nas últimas décadas, uma grande mudança na participação de mercado dos exportadores de café. Desde a criação do AIC (Acordo Internacional do Café) em 1962, houve drástica diminuição da participação brasileira em contrapartida ao aumento da participação dos rivais e ao surgimento de inúmeros novos concorrentes. Atualmente, o equilíbrio de forças muda de mercado importador para mercado importador.

A análise econométrica da inserção brasileira em um mercado com ambiente organizacional complexo e muitos participantes possui um complicador em especial. A estimativa direta das curvas de oferta e demanda exige a correta especificação e estimação de

sistemas com inúmeras equações e particularidades1. Neste contexto, Goldberg&Knetter(99)

desenvolveu a metodologia proposta por Baker&Bresnahan(88) e sugeriu um enfoque mais simples através da abordagem da demanda residual defrontada pelos países exportadores no comércio internacional. Conforme será exposto no primeiro capítulo, a elasticidade da demanda residual oferece uma proxy precisa do poder de mercado defrontado por um determinado país exportador em um determinado mercado importador.

O segundo capítulo descreve o âmbito do estudo de caso. Neste capítulo justifica-se a

adequação do mercado americano de grãos de café verde nos anos 90 para os objetivos do estudo através de três aspectos básicos. Primeiro, os dados deste mercado são detalhados e amplamente disponíveis. Segundo, os EUA são o maior mercado mundial importador e consumidor de grãos de café, com um número pequeno de importantes fornecedores (Brasil, Colômbia e México). Terceiro, a política comercial americana para o setor foi francamente aberta ao longo dos anos noventa. Além de não haver sistemas de cotas, a política tarifária

(6)

foi branda e igualitária no período de interesse.

O terceiro capítulo constitui o cerne deste trabalho, incluindo a estimação da curva de demanda residual para as exportações brasileiras. Discute-se, primeiramente, a especificação

econométrica do modelo e a metodologia de estimação utilizada com especial ênfase na escolha dos instrumentos. Na etapa seguinte, descreve-se a base de dados e são abordadas questões relacionadas à procedência e qualidade das variáveis. A última etapa do capítulo corresponde à discussão, interpretação e testes dos resultados obtidos. Com base nestes resultados, serão indicadas direções de política para o setor cafeeiro de grãos. A dissertação

(7)

2

Modelo Teórico

Segundo Landes&Posner(81), do ponto de vista econômico, uma firma (ou grupo de firmas agindo coletivamente) possui poder de mercado se a entidade é capaz de aumentar

lucrativamente o preço via redução do produto.

O ramo da economia que estuda a organização industrial sempre esteve preocupado com a determinação do grau de competição existente em um dado mercado. Como bem salienta Kenneth S. Corts (1999): “The competitiveness of a market — where it falls in the mysterious realm between perfect competition and monopoly — determines the extent to wich prices and costs diverge...”2. Neste contexto, uma medida natural do poder de mercado

que uma firma exerce é a relação entre preço e custo marginal. Mais especificamente, há

poucas discordâncias de que o índice de Lerner3 nos forneça uma medida conável de poder

de mercado.

Para obter estimativas deste índice, a Organização Industrial empírica desenvolveu, ao longo do tempo, um grande número de ferramentas. O objetivo deste primeiro capítulo é analisar os prós e contras dos principais métodos, ressaltar as vantagens da técnica da demanda residual e formular o modelo genérico de demanda residual aplicado ao comércio internacional apresentado em Goldberg e Knetter(99).

2.1

Métodos Tradicionais de Mensuração de Poder de Mercado

A análise de índices de concentração é, talvez, a forma mais imediata e mais utilizada de mensuração do grau de competitividade vigente em um mercado. Vale notar que esta é apenas uma maneira indireta de se extrairem indicações acerca do índice de Lerner dos concorrentes.

Normalmente, assocíasse à participação no mercado ao poder de mercado. Ou seja, mercados onde umafirma apenas tenha uma grande participação no mercado, ou onde haja

uma indústria concentrada, são considerados suscetíveis ao exercício do poder de mercado. Entretanto, conforme salientado em Baker&Bresnahan (92), esta asserção pode não ser correta por várias razões. Convém destacar três delas. Em primeiro lugar, se a entrada no

2Corts (99), página 227.

3Lerner (34) deniu um índice L = (PCM G)

P , onde P é o preço do produto e CMG corresponde ao seu

(8)

mercado é fácil, nenhumafirma pode exercer poder de mercado, não importando o tamanho

da sua participação. Em segundo lugar, um produtor pode ter uma grande participação no mercado porque vende um produto homogêneo com custos menores.

Por último, há a questão da definição de mercado relevante. A definição do conjunto de

ofertantes do mercado leva em consideração produtos com diferentes graus de substituição. A análise de índices de concentração envolve necessariamente uma escolha arbitrária do âmbito do mercado (ou do grau de substitubilidade limite definido). Desta forma, este tipo

de análise parece não reconhecer o impacto na dos produtos considerados fora do mercado na demanda dos produtos considerados dentro do mercado.

Outro conjunto de técnicas de uso bastante tradicional é a utilização de dados contábeis para inferir o poder de mercado 4. Entretanto, este tipo de abordagem também tem

deficiências. Altos lucros ou margens podem tanto indicar eficiência quanto falta de

competitividade no mercado. Além disso, os dados contábeis têm aplicação bastante questionável no que se refere à mensuração do índice de Lerner. A possibilidade de diferimento dos custos no tempo e os ajustes nos valores dos ativos por depreciação dificultam

o cálculo economicamente consistente deste índice.

Como resposta ao desafio de mensurar o índice de Lerner sem recorrer aos dados contábeis,

desenvolveu-se um conjunto de métodos econométricos que a literatura convencionou chamar de Nova Organização Industrial Empírica (NOIE), sintetizada em Bresnahan(89).

2.2

Novos Métodos e a Demanda Residual

2.2.1 Nova Organização Industrial Empírica (NOIE)

Um típico modelo da NOIE é, antes de tudo, um modelo econométrico de uma única indústria5. A primeira característica da NOIE é que a relação preço-custo marginal das

firmas é admitida como sendo não observável. Mais especificamente, parte-se do pressuposto

de que o custo econômico não pode ser diretamente observado.

Em geral, os autores desta literatura adotam algum dos seguintes procedimentos: Inferem o custo marginal a partir do comportamento dinâmico da firma, usam as diferenças entre

mercados bastante relacionados para traçar os efeitos de mudanças no custo marginal ou,

4Para uma descrição do uso histórico de dados contábeis na inferência de poder de mercado ver Elzinga

(89).

(9)

alternativamente, estabelecem alguma outra forma de quantificação de poder de mercado

sem a necessidade de medir o custo marginal.

Outra característica importante da NOIE é o fato de que os aspectos particulares de indústrias individuais e os detalhes institucionais ao nível da indústria afetam a conduta da firma. Como consequência disto, os autores são céticos com relação ao uso de estática

comparativa entre indústrias e/ou mercados, que revelaria apenas o quanto um determinado mercado é vinculado ao outro.

Uma última característica metodológica é que a conduta da firma e da indústria

dependem de um conjunto de parâmetros desconhecidos a serem estimados. Dito de outra forma, busca-se estimar os parâmetros de equações comportamentais, pelas quais as firmas

determinam seus preços e quantidades.

Na Nova Organização Industrial Empírica os procedimentos de inferência do poder de mercado geralmente explicitam o conjunto de hipóteses alternativas considerado em cada caso analisado. Na maioria das vezes, a hipótese alternativa de não interação estratégica, ou seja, a hipótese de competição perfeita, pode ser claramente articulada6.

2.2.2 Demanda Residual

A grande vantagem do enfoque da demanda residual confrontada por uma simples firma,

apresentado por Baker&Bresnahan(88), sobre os demais é a economia dos requisitos de dados e hipóteses.

A metodologia conceitual da NOIE envolve, genericamente, a estimação de sistemas de equações de oferta e demanda para cada uma dasfirmas do mercado. A formulação direta de

tais modelos exige a especificação de muitas formas funcionais e, ainda, a estimação de um

grande número de parâmetros. O custo deste empreendimento, em termos de detalhamento, quantidade e qualidade dos dados, é extremamente elevado. Em contraste, conforme veremos adiante na formulação do modelo, a derivação da demanda residual envolve uma simplificação

do sistema de ofertas e demandas que reduz em muito o número de parâmetros e a necessidade de dados. A contrapartida é que, ao derivarmos o modelo, ocorre perda informacional sobre vários parâmetros das curvas originais7. Entretanto, como também veremos, a elasticidade

6Fiuza (2001) tece uma resenha sobre os estudos econométricos em organização industrial no Brasil. 7A estimativa de um modelo oligopolístico totalmente especicado nos fornece uma quantidade enorme

de informações. Além das informações acerca da firma de interesse, desvenda-se a elasticidade demanda do

(10)

da demanda residual nos fornece umaproxy bastante eficiente para o poder de mercado desta firma.

A estimativa da elasticidade-preço da demanda residual mede conjuntamente a sensibilidade da demanda do comprador e a sensibilidade da oferta dos rivais, resumindo a capacidade de uma firma (ou grupo de firmas) de aumentar preços via redução da oferta.

O aspecto central da técnica consiste em se identificar variáveis que deslocam o custo de

um determinado agente sem influenciar os custos dos demais. Em um certo sentido, isto

corresponde a isolar eventos em que uma determinada firma tenha incentivo a aumentar

seus preços sem que as demais sofram deste mesmo incentivo.

Goldberg-Knetter(99) transportaram este método, tipicamente de organização industrial e política anti-truste, para o universo do comércio internacional. Sob as hipóteses adotadas, as vantagens da técnica da demanda residual tornam-se ainda mais marcantes neste caso. Goldberg e Knetter propõem uma analogia pela qual cada país é um fornecedor de um produto diferenciado em concorrência com outros países, para um determinado mercado importador.

Existem duas conveniências claras. A primeira refere-se à disponibilidade maior de dados relacionados às exportações e importações de países do que relacionados às transações de uma determinada firma em particular. A segunda é que, em indústrias com diferenciação

de produtos, as técnicas genéricas da NOIE requerem uma quantidade ainda maior de informações. São necessários dados relativos aos preços e quantidades, assim como variáveis que deslocam o custo e a demanda, de todas as firmas atuantes no mercado analisado. Se

informações com este nível de detalhamento são encontradas em raras indústrias, transações e preços de exportações são dados amplamente disponíveis para muitos países e mercados.

Convém, antes de aplicarmos esta técnica ao mercado de interesse, analisarmos cuidadosmante as premissas e a formulação do modelo em questão.

2.3

Formulação do modelo Genérico

A hipótese fundamental do modelo é que os produtos exportados provenientes de cada país de origem são substitutos prefeitos entre si. No entanto, os bens produzidos por países diferentes podem ser substitutos perfeitos ou imperfeitos8.

firmas do mercado.

(11)

Seja Pex o preço do produto exportado em unidade monetária do país de destino e Qex a

quantidade total exportada do país de origem para o país de destino. Consideremos ainda P1,...,Pn como sendo os preços dos produtos dos países competidores. Seja Z um vetor de

variáveis que deslocam a demanda do país importador. As funções de demanda do país importador pelo conjunto de produtos importados podem ser expressas da seguinte forma9:

(1) Pex =Dex(Qex, P1, ..., Pn, Z)

(2) Pk =Dk(Qk, Pj, Pex, Z) onde j = 1, ..., ne j 6=k.

Cadafirma exportadoraido país de origem resolve o seguinte problema de maximização

dos lucros:

maxqex i

Qex i =P

exqex

i −eCiex

Ondeeé a taxa de câmbio (unidade monetária do país de destino em relação à moeda do

país exportador) e Ciex é o custo em unidades monetárias do país exportador. A condição de

primeira ordem para o exportador i implica que o custo marginal iguala a receita marginal,

isto é:

Pex=e·M Cex

i −qiex·D1ex Ã

1 +P

j6=i

∂qex j

∂qex i

! µ

1 +P

k

∂Dex

∂Pk ·

∂Dk

∂Pex ¶

Onde M Cex

i é o custo marginal na moeda do país de origem e D1exdenota a derivada

parcial da função demanda com respeito ao seu primeiro argumento. O primeiro termo em parênteses, denotado por θex

i , captura o comportamento estratégico existente entre

as firmas pertencentes ao país exportador. O segundo termo entre parênteses que será

denotado por φex, captura a interação estratégica entre as firmas do país de origem e os

demais competidores estrangeiros. A partir desta notação, podemos reescrever a condição de primeira ordem da seguinte forma:

Pex=e·M Ciexqiex·D1ex θ

ex i ·φ

ex

(12)

Esta condição revela como a receita marginal do exportador depende tanto da interação estratégica dasfirmas de dentro do próprio país exportador como da interação existente entre

o país exportador e os seu competidores estrangeiros. Estimar esta equação requer dados específicos de cada uma das firmas. Dados, portanto, difíceis de se obter.

Para lidar com este problema, ao invés de se usar hipóteses agregadoras (tais como simetria das firmas), convém interpretar os parâmetros como médias da indústria. Estas

médias corresponderiam a médias ponderadas pela participação no mercado de cada uma dasfirmas do país de origem. Em particular, multiplicando-se a condição de primeira ordem

pela participação no mercado si, de cada uma dasfirmas exportadoras do país de origem, e

somando-as, obtemos a seguinte condição: Pisi·Pex = Pisi·e·M Ciex−

P

isi ·qexi ·D1ex

θexi ·φex. Manipulando esta equação, levando-se em consideração quePisi = 1eqiex =si·Qex,

obtemos uma versão transformada da condição de primeira ordem.

Esta nova versão, ao contrário da anterior, pode ser estimada utilizando-se dados menos detalhados,ao nível do mercado. Esta nova equação é dada por:

(3) Pex =e·M CexQex·Dex

1 θ

ex·φex

Onde M Cex = P

isi·M C ex i e θ

ex = P is

2

i ·θ ex i

Similarmente, os países competidores têm a seguinte condição de primeira ordem: (4) Pk =ek·M CkQk·Dk

1 ·ϑ

k onde ϑk=θk·φk e k = 1, ..., n

Convém observar a generalidade obtida até este ponto. As curvas de demanda são arbitrárias, portanto, os produtos de países competidores podem ser substitutos perfeitos ou não. Da mesma forma, as curvas de oferta são gerais. Os parâmetros de conduta θk e φk, que capturam as interações estratégicas entre as rmas, podem variar de zero

(competição perfeita com preço igual ao custo marginal) até valores que representem um cartel perfeito. Além disso, nenhuma hipóteses é feita acerca do formato da curva de custos. Custos marginais podem ser constantes ou funções das quantidades produzidas.

A metodologia genérica da NOIE avalia o poder de mercado através da estimação do sistema de equações (1)-(4). Bresnahan(89) fornece uma discussão detalhada dos métodos utilizados na literatura de organização industrial para estes fins10.

10Isto geralmente envolve especicar forma funcionais particulares para estas equações. A partir daí,

(13)

A técnica da demanda residual se destaca em um aspecto central. Nesta abordagem, estima-se apenas uma equação: uma forma reduzida da curva de demanda agregada do grupo de exportadores do país de interesse. Conforme foi dito, este enfoque não é capaz de estimar cada uma dos parâmetros de interesse.

Para derivarmos a curva de demanda residual defrontada pelasfirmas do país exportador,

devemos manipular (1)-(4) de forma a obter apenas uma equação. Para isto, resolve-se o sistema de equações definido por (2) e (4) para os preços e quantidades dos n países

competidores. Em geral, o custo marginal para o competidor k, M Ck, será função da

quantidade produzida Qk, e um vetor de variáveis que deslocam a curva de custos Wk.

Portanto, a condição de primeira ordem será escrita da seguinte forma:

Pk=e·M Ck(Qk, Wk) Qk·Dk

1(Qk, Pj, Pex, Z) ·ϑ

k

; j 6=k

Depois de resolver o sistema de 2n equações definidas por (2) e (4), é possível obter

os preços dos produtos competidores como funções de variáveis que deslocam o custo e a demanda de cada um dos n produtos e da quantidade (ou preço) do bem exportado Qex.

SejaWN a união de todos as variáveis que deslocam a curva de custos especícas de cada

firma, excluindo o grupo de exportadores de interesse e ϑN a união de todos os parâmetros

de conduta para k = 1, ..., n. Desta forma obtemos:

(5) Pk =Pk∗(Qex, WN, Z,ϑN

), k = 1, ..., n

Cada Pk∗ representa uma forma parcial-reduzida. A única variável endógena que aparece

do lado direto da equação é Qex.

Para obter a demanda residual do grupo exportador, substituimos as n expressões definidas por (5) em (1). Desta forma eliminamos o preço dos produtos competidores de

(1) e obtemos:

(6) Pex =Dex(Qex, P1(.)...Pn∗(.), Z) = DR.ex(Qex, WN, Z,ϑN).

(14)

pelo grupo exportador levando-se em conta a interação estratégica de todas as outras firmas

do mercado.

Para estimarmos econométricamente um modelo, é preciso saber se este é identificado.

Verificamos que este requisito é atendido ao compararmos (6) com a equação de equilíbrio

da oferta do país exportador (3). A equação (3) contém o custo marginal do país exportador

M Cexque será uma função das variáveis que deslocam a oferta especíca do grupo exportador

(Wex). Estas variáveis, entretanto, são excluídas de (6). Apenas as variáveis que deslocam

o custo das firmas competidoras WN entram na curva de demanda residual. Esta é

precisamente a restrição de exclusão que nos permite identificar a demanda residual.

Goldberg-Knetter (99) ressaltam ainda que a taxa de câmbio é um candidato natural a ser utilizado como instrumento. Conforme os autores, a taxa de câmbio entre o país de origem e o país de destino é exatamente o tipo de variável que deve ser incluída emWex. As

oscilações no câmbio movem o custo relativo das exportações de um dado país exportador sem o aumento do custo dos demais competidores.

Conforme foi adiantado, torna-se claro que muita informação foi perdida ao substituirmos (5) em (1). No entanto, vale frisar novamente que podemos, a partir de (6), derivar uma medida confiável do poder de mercado do grupo exportador de interesse. O entendimento

desta última afirmação, envolve a compreensão de como podemos inferir o índice de Lerner

a partir da demanda residual.

2.3.1 Relação entre a demanda residual e o mark-up

Para entender a relação entre a elasticidade da demanda residual e omark-up, diferenciamos

a versão logarítimica de (6) com respeito a Qex. Fazendo isto, obtemos a seguinte fórmula

para a elasticidade da demanda residual ηex:

ηex = ∂

lnDRex

∂lnQex = ∂ lnDex

∂lnQex + P

k

∂lnDex

∂lnPk∗ · ∂

lnPk∗

∂lnQex

As derivadas ∂lnPk∗

∂lnQex correspondem à sensibilidade dos preços dos competidores à

mudanças na quantidade exportada pelo grupo exportador. Portanto,ηexmede a elasticidade da curva de demanda residual que o país exportador se defronta. Pela condição de primeira ordem (3), a elasticidade ηex é igual ao mark-up ¡Pex−PM Cex ex

¢

se e somente se a curva de demanda residual coincide com a conjectural11.

(15)

Existem vários casos onde esta condição é satisfeita trivialmente12. No entanto,

mencionarei dois casos que são bastante relevantes para esta dissertação: competição perfeita e diferenciação de produtos extensiva.

Se o mercado é perfeitamente competitivo, o preço de uma determinada firma é

determinado pelo preço dos competidores e a elasticidade da demanda residual é zero. Da mesma forma. omark-uprelativo é zero pois asfirmas estabelem os preços como sendo iguais

aos custos marginais. Portanto, neste caso,as duas medidas de poder de mercado coincidem. No caso de diferenciação de produtos, a distinção entre variações conjecturais e funções de reação tornam-se menos relevantes na medida que a substitutibilidade entre os produtos das

firmas competidoras diminuem. Intuitivamente, se uma firma tem poder de mercado devido

ao fato de que seus produtos são diferentes das demais o aspecto de interação estratégica é menos importante.

Nem todos os modelos formais de oligopólio proporcionam uma correspondência exata entre o índice de Lerner e a elasticidade da demanda residual estimada. Entretanto, é razoável supor que curvas de demanda residual mais inclinadas indiquem maior poder sobre o preço13. Intuitivamente, a elasticidade da demanda residual incorpora dois elementos: a

elasticidade da demanda e a elasticidade da oferta dos competidores. Portanto, em casos onde o índice de Lerner é difícil de ser computado diretamente, a estimação da elasticidade da demanda residual é a segunda melhor opção.

se ela estivesse se defrontando com a mesma.

12Ver Bresnahan(88).

13Lerner (1934) e Landes&Posner (1981) fornecem uma discussão extensa da aplicabilidade do conceito de

(16)

3

Estudo de Caso: Poder de Mercado do Café Verde

Brasileiro nos EUA

3.1

Breve Histórico da Cultura Cafeeira

3.1.1 Descoberta, Difusão e Desenvolvimento

A palavra café tem origem no termo turcokahue, que significa força. Possivelmente os

árabes já tomavam café no século XV. A península arábica constituiu-se importante ponto de difusão do cafezal e o comércio de café espalhou-se rapidamente pelo Egito, Síria, Turquia e todo o Oriente.

A divulgação do café na Europa ocorreu em 1592 através do alemão Leonardo Rauwoff. No início do século XVII, os navios da Companhia das Indias Orientais já faziam o transporte de grande quantidade de café entre os países muçulmanos do oriente, e em 1637 já era hábito o seu consumo na Alemanha e nos países baixos. Os holandeses foram cruciais na propagação do consumo do café como bebida por toda a Europa. No início do século XVIII, o café já era um importante produto nos mercados internacionais dos países do Ocidente, estimulando, desta forma, a sua cultura nas colônias européias da América e da Ásia.

O café foi introduzido no Brasil em 1727 por Francisco Mello Palheta. As primeiras sementes e mudas foram plantadas em Belém em seguida no Maranhão. Em 1760 vieram do Maranhão para o Rio de Janeiro, expandindo-se pela encosta da Serra do Mar e atingindo em 1780 o vale do Paraíba.

Até 1860, o sul do Rio de Janeiro manteve a hegemonia da economia cafeeira. A partir desta data, São Paulo se torna o principal centro produtor de café do país. Até 1820, o Brasil ainda não se tornara um grande exportador de café. Durante o século XVIII, a economia do país se baseava na mineração e a cana-de-açúcar e o algodão ainda eram os principais produtos agrícolas.

Devido à perda de competitividade internacional dos produtos anteriormente citados, às condições naturais favoráveis para o plantio de café e ao desenvolvimento do mercado americano após a sua independência, o Brasil se tornou um grande exportador de café. Com a independência , iniciou-se, de fato, a era do café no Brasil. No início do século XIX, o café já era o maior artigo de exportação brasileiro.

(17)

durante mais de 70 anos. A importância desta cultura para o Brasil é inquestionável. Sua influência foi não apenas econômica, mas também social e política. Os mais importantes

fatos políticos do país originaram-se a partir desta lavoura. Os fazendeiros de café foram, por muitos anos, a elite social brasileira.

3.1.2 Regulamentação e Desregulamentação

O mercado de café tem uma longa história de regulamentação, que se iniciou no começo do século XIX. Na época, o Brasil, que detinha três quartos da produção mundial e dependia basicamente do produto para suas receitas cambiais, deu início a uma política sistemática de sustentação de preços do café. Antes da constituição do primeiro Acordo Internacional do Café (AIC) em 1962, o governo brasileiro atuava diretamente no processo de formação dos preços externos com o intuito de maximizar as receitas provenientes deste produto. Para isto, o Brasil fazia uso do seu poder de monopólio e administrava a oferta ao mercado externo. Esta iniciativa gerava, consequentemente, escassez artificial do produto.

O AIC representou uma grande virada na cenário internacional do setor cafeeiro. Nas palavras de Bertone14, “As cláusulas econômicas do Acordo Internacional do Café (AIC)

formam um mecanismo de estabilização de seus preços internacionais mediante o controle da oferta de cada país produtor através de cotas de importação.” Este acordo vigorou até grande parte dos anos 80. As exceções foram os anos de 1986 e 1987. Nestes anos, a quebra de safra brasileira tornou desnecessária a regulação de mercado através de cotas.

A estratégia adotada pelo Brasil durante o período de vigência do AIC é, sem dúvida, um dos elementos que explicam o declínio da participação brasileira no mercado mundial de café. Mantendo preços artificialmente elevados, muitos países produtores expandiram suas

áreas cultivadas, pressionando a cota brasileira.

No início de 1989, a pressão sobre os preços internacionais e a hesitação brasileira em abastecer o mercado através da utilização de seus estoques, cumprindo sua cota, levaram os países consumidores a fazer exigências para renovar as cláusulas econômicas do Acordo Internacional. Estes países exigiam a redução da cota brasileira e a criação de um mercado universal, em contrapartida ao mercado dividido entre membros e não membros15. Além

14Bertone,1992:6

15Um aspecto central do AIC foi a formação de um mercado paralelo de países que não pertenciam ao

(18)

disso, os países consumidores ainda propunham a criação de critérios de seletividade entre as várias qualidades de café (cota por qualidade). Desta forma, não se chegou a um acordo e as cláusulas econômicas foram imediatamente suspensas.

O que se vê, a partir de então, é uma contínua liberalização do mercado associada à profundas transformações institucionais. O arcabouço institucional existente na década de 90, no plano dos principais países exportadores de café para os EUA, será objeto de estudo de seções posteriores.

3.2

Descrição do Produto

A planta do café é membro da família dos Rubiceae, que inclui mais de seis mil espécies,

a maioria delas arbustos tropicais. Existem pelo menos 25 espécies importantes, todas originárias da África e de algumas ilhas do Oceano Índico.

Do ponto de vista econômico, as duas espécies mais importantes cultivadas no mundo são a arábica e a robusta ou Conillon. A diferença entre ambas está no número de genes. A

variedade arábica é mais complexa, possui 44 cromossomos e a robusta 22, como as demais plantas.

O café Arabica cresce normalmente em altitudes superiores a 1000 metros, produz grãos de qualidade superior e responde por cerca de 80% da produção mundial total de café verde. o café Robusta, por outro lado, pode crescer em menores altitudes, possui lavouras mais produtivas, é mais resistente a doenças mas, no entanto, produz grãos de qualidade inferior. O Robusta não possui sabores variados nem refinados como o Arábica. Por apresentar mais

sólidos solúveis, é de grande utilização nas indústrias de cafés solúveis.

3.2.1 Cadeia Produtiva e Barreira Tarifária

Basicamente, o café pode ser comercializado de duas formas: industrializado ou não industrializado. O café não industrializado é normalmente chamado de café verde, seja ele do tipo arabica ou robusta. Já o café industrializado pode ser torrado ou solúvel, isto é, provém de empresas torrefadoras ou solubilizadoras.

(19)

terreiros, sem a retirada da casca, podendo passar ou não por lavadores para separação dos grãos. A via úmida é um sistema também utilizado no Brasil mas predominantemente utilizado na Colômbia, no México e em alguns países da América Central. O café colhido é colocado em tanques de água onde permanecem por períodos de 18 a 24 horas. Este processo produz um café mais ácido.

Devido à natureza predominatemente nacional das distinções tecnológicas da produção de café verde, é razoável supor que, para cada tipo particular de café verde (por exemplo arábica), valha a hipótese fundamental do modelo formulado. Isto não significa que

não existam diferenças entre os grãos de café verde exportados por diferentes firmas

de um determinado país de origem. Entretanto, a diferenciação por país de origem é reconhecidamente mais importante neste mercado. Dito de outra forma, é bastante plausível a hipótese de que haja perfeita substitutibilidade entre produtos oriundos de um mesmo país e que haja, ou não, imperfeita substitutibilidade ao compararmos os produtos de um determinado exportador com os seus concorrentes.

O segundo processamento sofrido pela cereja de café (etapa industrial), pode ser realizado por duas indústrias distintas. De um lado temos a indústria torrefadora que é caracterizada por uma baixa barreira à entrada de novasfirmas. Isto ocorre pois trata-se de uma indústria

com poucas restrições tecnológicas e com pequeno capital mínimo exigido. Por outro lado, temos a indústria de café solúvel que emprega uma planta sofisticada. Isto faz com que a

estrutura desta indústria seja bem mais concentrada do que a da anterior.

Frisa-se que a mesma tecnologia utilizada neste segundo processamento pode ser utilizada para processar grãos oriundos de qualquer um dos países de origem. Há até mesmo em alguns casos, possibilidade de substituição de arábica por robusta com pequenas alterações da tecnologia empregada. Descarta-se, desta forma, a existência de mercados industrializados completamente distintos para produtos de origem diferentes.

A opção deste estudo por focalizar exclusivamente o café verde explica-se também por dois aspectos adicionais. Em primeiro lugar, não há barreiras à entrada deste produto tanto no mercado americano quanto no mercado europeu. Isto não ocorre com o café torrado ou solúvel. No caso do café torrado, a entrada no mercado internacional exige uma série de pré-requisitos que dificultam a exportação. No caso do café solúvel existem barreiras

tarifária desiguais entre os países concorrentes. Diante disto, a análise de poder de mercado

ficaria obscurecida por questões de políticas tarifárias preferenciais.

(20)

de café. Levando-se em conta a classificação da FAO (Foreign Agriculture Organization)16,

a composição do total das exportações brasileiras de café, ao longo da década de 90, está ilustrada no gráfico abaixo:

Fonte: FAO 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 3.000.000 3.500.000 4.000.000

US$ mil

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Exportação Brasileira

Coffee, Green Coffee Extracts Coffee Roasted

Gráfico 1

O resultado é que o mercado de café verde, além de mais relevante, se presta melhor para a utilização da técnica da demanda residual.

3.3

Mercado Importador

Conforme vimos no capítulo anterior, a técnica de demanda residual restringe-se ao estudo isolado de um determinado mercado. A escolha do mercado americano como objeto de estudo se deu por três motivos principais.

O primeiro é que os Estados Unidos são o maior importador e consumidor global. A participação americana no total de importações de grãos de café verde tem correspondido a cerca de 18% do total mundial após 1995. Em 2000, cerca de 26% do consumo mundial de café estava concentrado nos EUA17.

O segundo motivo refere-se à distribuição das importações americanas por país de origem. É interessante notar que, ao considerarmos o participação média no valor total das

16Coee, Green corresponde ao café verde de todos os tipos: arabica, robusta ou liberica. Coee, Roasted

corresponde ao café tostado com ou sem cafeína, moído ou não. Coffee, Extracts corresponde a essências

e concentrados, incluindo café instantâneo, chicórias torradas e outros substitutos de café e outros tipos de extratos e essências.

(21)

importações americanas no período de 1990 a 2000, os três maiores exportadores respondem por quase 50% do mercado. Os demais consumidores, com a exceção da Guatemala, têm participação residual. Estas informações estão ilustradas na tabela 1:

Participação no Mercado Americano na Década de 90

Países Market Share Médio (1990-2000) MEXICO 17,03%

BRASIL 16,10% COLOMBIA 15,90% GUATEMALA 10,95% COSTA RICA 3,70%

INDONESIA 2,83%

PERU 2,81%

VIETNAM 2,71% EL SALVADOR 2,59% HONDURAS 2,50% RESTO DO MUNDO 22,90%

TOTAL 100%

Fonte: United States Department of Agriculture (USDA)

Tabela 1

Além disso, conforme podemos observar no Grafico 2, esta relação de concentração

tem se mantido razoavelmente constante ao longo do tempo.

Fonte: United States Department of Agriculture (USDA)

Evolução da Concentração de Mercado

0,1 10,1 20,1 30,1 40,1 50,1 60,1 70,1 80,1 90,1 100,1

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

TOP MARKET TOP 4 MARKETS TOP 8 MARKETS

Gráfico 2

(22)

motivos. Em primeiro lugar, não há informações a priori de que este país desempenhe um

papel estratégico relevante neste mercado. Em segundo lugar, economiza-se em número de parâmetros a serem estimados. Um número maior de parâmetros, levando-se em conta a quantidade de observações disponíveis, reduziria demasiadamente os graus de liberdade da estimação via equações simultâneas.

Ou seja, se por um lado perde-se informação ao não estimar os parâmetros de um competidor menor, ganha-se precisão dos parâmetros estimados. O passo seguinte é analisar o perfil de cada um destes agentes.

3.4

Exportadores

3.4.1 México

A pressão do México e de outros países centro-americanos pela revisão das cotas, foi, talvez, o principal estopim do rompimento do último AIC. Gerou-se no país um clima de otimismo ditado pela agressividade na desmobilização de estoques e o incremento nas receitas cambiais. Segundo Coutinho(93), este país apresentou, no início da década de 90, uma postura nitidamente favorável às reivindicações dos países consumidores, sobretudo dos EUA, por evidentes interesses comerciais.

Em 1993, o governo mexicano liberalizou o setor cafeeiro e substituiu o INMECAFE(Instituto Mexicano de Cafe) pelo CMC (Consejo Mexicano de Café) que

se tornou responsável pela execução da política cafeeira nacional. O CMC é composto pelos secretários do Ministério da Agricultura, de Finanças e Créditos públicos (SHCP), de Economia (SE) e de Desenvolvimento Social, além dos governadores dos principais estados produtores de café, dos presidentes do BANRURAL, FIRA e de várias organismos setoriais. O objetivo principal do CMC é formular e propor políticas de modernização do setor cafeeiro e representar o café mexicano nos mercados nacionais e internacionais. Estes objetivos são atingidos através do financiamento à pesquisa e da coordenação das cerca de 16 associações

de produtores existentes.18

18Um exemplo destas associações é a CNOC (Coordinadora Nacional de Organizaciones Cafetaleras). A

CNOC é uma rede nacional autônoma de 126 organizações camponesas regionais que representam 75.000 pequenos cafeicultores.

(23)

O café representou, em 1996 e 1997, cerca de 0,7% da balança comercial. Este produto gerou, neste mesmo período, o maior volume de exportações entre todos os produtos agrícolas exportados. A participação no total de exportações agrícolas foi em torno de 20%.

Observa-se na economia cafeeira mexicana uma estrutura bastante concentrada no setor exportador. Em 1997 haviam 230 firmas envolvidas com exportação de café, sendo que 15

delas respondiam por quase 70% das exportações totais de café no período. Cabe salientar que mais de 75% do café exportado vai para o mercado americano. Segundo dados da FAO, o México é o quarto exportador mundial de café respondendo, em 2000, por quase 6% do total das exportações mundiais.

Para se ter uma idéia da importância econômica e social do setor cafeeiro, basta dizer que o café é cultivado em aproximadamente 760.000 hectares, distribuídos por cerca de 282.000 produtores. No total, mais de 3 milhões de pessoas são dependentes da economia cafeeira. O café é a principal atividade econômica para mais de 4500 comunidades em 12 estados mexicanos19.

3.4.2 Colômbia

O gerenciamento do café colombiano é feito, desde 1927, pela Federacafé (Federacion Nacional de Cafeteros de Colombia). A Federacafé comanda o FNC (Fondo del Café),

que, além de financiar pesquisas e projetos de desenvolvimento regional, é utilizado como

instrumento de estabilização dos preços. Através dos recursos do FNC, a Federacafé garante aos produtores um preço mínimo, agindo como comprador de último recurso20. O preço pago

aos produtores é determinado pelo governo em conjunto com representantes da federação. Leva-se em consideração aspectos de custos de produção, preços no mercado futuro e estratégia comercial.

do café: cultivo, processamento, comercialização e financiamento. O café produzido é exportado através de um escritório próprio chamado: Promotora Comercial de Cafés Suaves Mexicanos.

19Os dados desta seção constam em ICO(99).

20O fundo é nanciado através de ganhos com exportações e através de alíquotas conhecidas com

contribuição do café. Durante o período de declínio do preço do café, entre o colapso de 89 até 94, o fundofinanciou-se através do pagamento ao produtor na forma de títulos. Para se ter uma idéia da margem,

(24)

A participação média do café no total de exportações colombianas no período compreendido entre 1995 e 1999 foi de, aproximadamente, 17%21. A Colômbia é o segundo

maior exportador mundial de café. Segundo dados da FAO, a Colômbia respondeu, em 2000, por cerca de 12,7% do total mundial de exportações de café verde.

A Federacafé desempenha um papel crucial na coordenação destas exportações. Em conjunto com o setor privado, gerencia um estoque considerável que é frequentemente utilizado para regular o nível anual de exportações. Em 1996, somente a Federação foi responsável por 40% do café exportado. Além disso, todas a exportações de café são submetidas a um estrito controle de qualidade aplicado pela Federacafé.

Cerca de aproximadamente 940.000 hectares são dedicados ao cultivo de café na Colômbia. A indústria cafeeira colombiana responde por cerca de 800.000 empregos diretos, que representam aproximadamente 36% do emprego rural no país. Cerca de 3 milhões de pessoas são dependentes, em algum grau, do café22.

3.4.3 Brasil

O IBC (Instituto Brasileiro de Café), criado em 1952, regulou durante muitos anos a política cafeeira do país. Entre outras coisas, o IBC gerenciava estoques acumulados a partir de um sistema de garantia de preços e estabelecia o preço mínimo de exportação. Devido à importância do café décadas atrás, em vários momentos, as diretrizes deste poderoso instituto confundiram-se com diretrizes macroeconômicas de cunho nacional.

Em linha com a tendência internacional de liberalização do setor, iniciada com o rompimento do AIC em 89, o Instituto Brasileiro de Café foi extinto em 1990. A sua extinção levou a uma desestabilização temporária da indústria.Após este fato, a intervenção estatal na economia cafeeira na década de 90 restringiu-se ao gerenciamento e venda de estoques públicos e a concessão de crédito para o cultivo, colheita e processamento final do café.

A partir da extinção do IBC, o arcabouço institucional do setor cafeeiro sofreu profundas mutações. Em 1991, entidades representativas dos diversos setores da economia cafeeira formaram o Comitê Brasileiro do Café (CBC). Este órgão, no qual os principais representantes do setor passaram a debater os assuntos da cafeicultura de maneira conjunta, passou a ser o interlocutor com o governo.

(25)

Em 1993, visando negociar um acordo de cotas na Organização internacional do Café (OIC), os países centro-americanos e a Colômbia passaram a ser mais agressivos nas vendas, pois a performance de cada um seria vital nessas negociações. Como resultado, os preços cairam novamente. Na OIC as negociações resultaram em total fracasso e os países produtores, com a liderança do Brasil começaram a articular para um programa unilateral de sustentação dos preços . A partir de então, o governo brasileiro recriou o Ministério da Índústria e do Comércio e montou o Departamento Nacional de Café (DENAC), que passou a coordenar as ações governamentais, antes atribuídas a vários órgãos. Paralelamente, os países produtores de café criaram no âmbito internacional a Associação de Países Produtores de Café (APPC). Estes fatos coincidiram com um aumento no preço internacional do café. No ano seguinte, em 1994, acusado de não cumprir o programa da Associação de Países Produtores de Café (APPC), o governo brasileiro lançou o financiamento de retenção

utilizando-se dos estoques das cooperativas brasileiras.

Em 1996 instalou-se oficialmente a ”Comissão Especial da Auto Gestão do Funcafé”,

formada na Câmara dos Deputados, com a incumbência de institucionalizar um novo modelo de gestão da cafeicultura brasileira. Neste mesmo ano, foi criado o Conselho Deliberativo da Economia Cafeeira (CDPC). Este Conselho é composto paritariamente por seis representantes do governo e da iniciativa privada, sendo presidido pelo titular da pasta da Indústria, Comércio e Turismo. Dentro de suas atribuições, destacam-se basicamente quatro. Cabe a este conselho a aprovação de planos de safra, a aprovação de políticas de estocagem, a administração dos armazéns de café e a aprovação da proposta orçamentária referente aos recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (FUNCAFÉ).

Em 1999, criou-se o Conselho dos Exportadores de Café Verde do Brasil (CECAFÉ). Esta entidade tem por objetivo aumentar a margem do setor através da congregação e da representação das empresas que exportam café verde.

O Brasil ocupa, historicamente, a posição de maior produtor e exportador mundial de café. As exportações brasileiras representaram cerca de 18,5% do total mundial em 200023.

Apesar do declínio de sua participação na composição da balança comercial brasileira, o café ainda é um importante produto agrícola de exportação e respondeu por, aproximadamente, 5% do total de exportações em 1998. Ao longo da década de 90, o número de empresas exportadoras variou em torno de 200 empresas. Em 2001, as cinco maiores empresas

(26)

responderam por cerca de 36% do total de café verde exportado24.

A importância social da economia cafeeira também é grande no Brasil. Estima-se que existam cerca de 221.000 fazendas de café. O emprego gerado a partir desta cultura corresponde a cerca de 5% da mão de obra do país, isto é, 3,5 milhões de pessoas25.

24Haviam 150 rmas em 1996, 218 rmas em 1998, 166 rmas em 2000 e 158 em 2001. Com alguma

variação no decorrer da década, a participação das 5 maiores empresas corresponderam a 29% do mercado tanto em 1991 quanto em 2000. Fonte: Cecafé e Coutinho(2002).

(27)

4

Estimação e Resultados

4.1

Estimação da Elasticidade da Demanda Residual

O objetivo desta seção é fornecer o arcabouço necessário para estimar a elasticidade da demanda residual defrontada por um grupo de exportadores. A eq. (6) derivada no capítulo inicial indica as variáveis que serão incluídas na demanda residual. Isto é, a quantidade exportada por um dos grupos exportadores analisados (por exemplo Brasil)

Qex, as variáveis do mercado de destino (EUA) que deslocam a demanda Z e variáveis

que deslocam o custo dos principais competidores WN(por exemplo México e Colômbia).

Entretanto, enquanto a teoria nos guia através da escolha das variáveis a serem utilizadas na estimação, ela não nos dá nenhuma pista acerca da forma funcional que deve ser escolhida para a demanda residual. Seguindo a alternativa adotada por Goldberg-Knetter (99) e Carter-MacLaren-Yilmaz (1999), estimarei a eq.(6) na forma funcional Log-Log. Esta opção

se deve ao fato de que, desta forma, os coeficientes podem ser diretamente interpretados

como elasticidades. A equação que será estimada tem a seguinte forma genérica:

lnPex

t =λ+ηlnQext +α0lnZt+β0lnWtN +²t

Onde ²t é um termo de erro independente e identicamente distribuído (i.i.d), α0e β0

denotam os vetores de parâmetros a serem estimados. O vetor Zt denota as variáveis

que deslocam a demanda americana (nosso mercado de destino). Enquanto que o vetor

WN

t consiste nas variáveis que deslocam o custo dos n competidores com os quais o grupo

exportador se defronta no mercado importador de destino. Vale notar que WN

t não inclui

nenhuma variável que desloca os custos do próprio grupo exportador. O preço recebido pelo grupo exportador Ptex e as variáveis que deslocam a demanda americana são expressos em

dólares (moeda do país de destino).

O parâmetro de interesse é η que, conforme posto, pode ser diretamente interpretado como a elasticidade da demanda residual. A existência de competição perfeita significaria

(28)

o poder que este determinado grupo exportador exerce sobre os preços.

As variáveis que deslocam a demandaZt podem ser constituídas por variáveis tais como

tendência no tempo, renda nominal e estoques mantidos pelo país de destino. As variáveis que deslocam o custo dos n competidores devem incluir variáveis que desloquem os preços dos insumos. Estas variáveis podem ser decompostas em duas partes. A primeira, expressa na moeda do país exportador, não varia de acordo com o mercado de destino. A segunda, que varia de acordo com o mercado de destino, é a taxa de câmbio do país exportador vis-à-vis

o mercado de destino (EUA). Para ilustrar a utilidade da taxa de câmbio como variável que desloca os custos é interessante formular um exemplo mais detalhado.

Suponha que estejamos analisando o caso das exportações brasileiras. Os competidores, México e Colômbia, serão denotados pelos sobreescritos 1 e 2, respectivamente. Suponhamos que, além disso, cada um destes competidores possui duas variáveis que deslocam os custos: salário (L) e preço de matéria prima (M). Neste caso, a equação a ser estimada toma a seguinte forma:

lnPex

t = λ + ηlnQext + α0lnZt + β1ln (e1t ·L

1

t) + γ

1ln (e1

t ·M

1

t) + β

2

ln (e2

t ·L

2

t) + γ2ln (e2

t ·M

2

t) +²t

Onde e1

t e e

2

t são as taxas de câmbio dos países competidores 1 e 2, respectivamente,

vis-à-vis o mercado de destino. Dado que os termos envolvendo as taxas de câmbio são

logarítimos de produtos, podemos reescrever a equação acima isolando os termos referentes aos câmbio. Isto é feito da seguinte forma:

lnPtex = λ+ηlnQext +α0lnZ

t+ω1lne1t +β

1

lnL1t +γ1

lnMt1 +ω2

lne2t +β2lnL2t + γ2

lnMt2+²t

Uma vantagem adicional da utilização de taxas de câmbio como variáveis que deslocam os custos é a sua volatilidade. Estas taxas apresentaram variação substancial, em todos os países analisados, ao longo da década 90. Esta volatilidade move os custos relativos dos exportadores de grãos de café para os EUA, mesmo quando os fatores de custo domésticos de um determinado país não tenham se movido de maneira independente dos demais.

Vale observar que a quantidadeQex é endógena e, portanto, deve ser instrumentalizada.

(29)

excluídas da equação a ser estimada, elas são, em virtude da condição de primeira ordem, correlacionadas com a quantidade. Desta forma, a taxa de câmbio entre o país exportador e o mercado de destino é, em adição às demais variáveis que deslocam os custos do país exportador, um importante candidato a instrumento.

4.2

Descrição dos Dados

Utilizou-se nesta dissertação séries trimestrais com um período amostral compreendido entre janeiro de 1991 e dezembro de 2000. Este período foi escolhido por dois motivos. Em primeiro lugar, existe uma certa dificuldade para obtenção de dados mais antigos, sobretudo referentes

ao México e à Colômbia. Em segundo lugar, a utilização de dados anteriores a 1989, por exemplo, estaria certamente contaminada pelo sistema de cotas vigente, prejudicando, sem dúvida, a interpretação dos resultados. Vale agora descrever as variáveis consideradas na estimação.

Em primeiro lugar serão analisadas as variáveis endógenas, ou seja, o logaritmo dos preços e quantidades exportadas de grãos de café verde para o mercado americano. Seguindo a metodologia do HTS26 (Harmonized Tari Schedule) , optou-se por levantar as séries de

preços de grãos de café não tostado e não descafeinado dos tipos Arabica e NESOI (Not Elsewhere Specified or Indicated). Vale salientar que tratam-se de séries de 10 dígitos, ou

seja, séries com um grau de detalhamento bastante satisfatório.

Especificamente, coletou-se as quantidade e os valores importados27 pelos EUA de cada

um dos principais países exportadores de café através do site do FAS (Foreign Agricultural

26O Harmonized TariSchedule é um sistema de classi

ficação. O seu maior objetivo é fornecer um método

de padronização dos bens transacionados. Como qualquer outro sistema de classificação, o HTS tem vários

níveis de detalhamento. Os códigos com menos dígitos representam grupos de produtos. Códigos com mais dígitos cujos números iniciais correspondam aos mesmos números de um determinado grupo de produtos significa que eles pertencem ao mesmo.

Exemplo: O número 09 (2 dígitos) representa café, mate, chá e outras especiarias. 0901 (4 dígitos) representa café. 0901.11.00 (oito dígitos) representa café não tostado e não descafeinado. Detalhando ainda mais, os códigos 0901.11.0010 e 0901.11.0090 (10 dígitos) representam, respectivamente, os tipos Arabica e NESOI (todos os demais).

27O os valores importados utilizados seguem o critério de CIV (Customs Import Value). Este é geralmente

definido como o valor realmente pago pela mercadoria quando vendida como exportação para os EUA. Este

(30)

Service). Através da divisão do valor importado pela quantidade obteve-se o preço médio.

Vale frisar que esta alternativa indireta para obtenção das séries de preços de exportação foi a única disponível diante da insuficiência de dados dos países exportadores. Usando o

processo descrito acima, foram construídas as seguintes séries: Variáveis Endógenas

Séries Descrição

PABRA Logaritmo do preço do café não tostado e não descafeinado do tipo Arabica exportado pelo Brasil PACOL Logaritmo do preço do café não tostado e não descafeinado do tipo Arabica exportado pela Colômbia PAMEX Logaritmo do preço do café não tostado e não descafeinado do tipo Arabica exportado pelo México QABRA Logaritmo da quantidade de café não tostado e não descafeinado do tipo Arabica exportado pelo Brasil QACOL Logaritmo da quantidade de café não tostado e não descafeinado do tipo Arabica exportado pela Colômbia QAMEX Logaritmo da quantidade de café não tostado e não descafeinado do tipo Arabica exportado pelo México PNBRA Logaritmo do preço do café não tostado e não descafeinado do tipo NESOI exportado pelo Brasil PNCOL Logaritmo do preço do café não tostado e não descafeinado do tipo NESOI exportado pela Colômbia PNMEX Logaritmo do preço do café não tostado e não descafeinado do tipo NESOI exportado pelo México QNBRA Logaritmo da quantidade de café não tostado e não descafeinado do tipo NESOI exportado pelo Brasil QNCOL Logaritmo da quantidade de café não tostado e não descafeinado do tipo NESOI exportado pela Colômbia QNMEX Logaritmo da quantidade de café não tostado e não descafeinado do tipo NESOI exportado pelo México

Tabela 2

A série trimestral do logaritmo do câmbio nominal médio brasileiro, colombiano e mexicano foi também construída a partir de dados extraídos do site do departamento de agricultura norte-americano (USDA). As demais variáveis que deslocam os custos dos países exportadores foram obtidas de fontes relacionadas a cada um dos países separadamente. Os dados relacionados aos fatores de custos brasileiros foram obtidos a partir da base de dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A partir deste, foi levantado o índice de preços de fertilizantes. As séries de variáveis que deslocam o custo das exportações colombianas de café foram retiradas da abertura do índice de preços ao produtor divulgado pelo banco central colombiano (Banco de La Republica). Dele foram extraídos os índices de preços de

transportes e de maquinaria. Por último, os dados Mexicanos foram extraídos da Secretaria de Economia, onde foi obtido o índice de preços de fertilizantes.

Utilizou-se duas variáveis que deslocam a demanda. A série do PIB nominal americano e a série dos Estoques de café verde em poder dos EUA. A primeira foi conseguida a partir do departamento de comércio americano (U.S. Department of Commerce). A

segunda é disponibilizada no site da Organização Internacional do Café (International Coffee Organization — ICO).

(31)

Variáveis Exógenas

Séries Descrição

EBRA Logaritmo do câmbio nominal R$/US$

ECOL Logaritmo do câmbio nominal peso colombiano/US$

EMEX Logaritmo do câmbio nominal peso mexicano/US$

WFERBRA Logaritmo do índice de preços de fertilizantes agrícola no Brasil em R$

WTRACOL Logaritmo do índice de preços de equipamentos e materiais de transportes na Colômbia em pesos colombianos WMAQCOL Logaritmo do índice de preços de maquinaria e equipamentos não elétricos na Colômbia em pesos colombianos WFERMEX Logaritmo do índice de preços de fertilizantes no México em pesos mexicanos

ZGDPUSA Logaritmo do PIB nominal americano em US$

ZESTUSA Logaritmo da quantidade de sacas de grãos de café verde estocadas pelos EUA

Tabela 3

4.3

Resultados

Com o intuito de garantir uma maior robustez dos resultados, estimou-se o sistema de demandas residuais através de três métodos de estimação diferentes. Em primeiro lugar, estimou-se as regressões através do método de mínimos quadrados em dois estágios (2SLS). Este método trata cada uma das equações isoladamente, corrigindo o problema de endogeneidade dos regressores através de instrumentos. O modelo SUR pode ser visto como uma extensão dos mínimos quadrados ordinários padrão (OLS). Através de um estimador de mínimos quadrados generalizados (GLS), o SUR leva em consideração as possíveis correlações existentes entre os erros das diversas equações de um sistema. O 3SLS é um método que incorpora os aspectos positivos dos dois métodos anteriores. Ele estima cada uma das equações por 2SLS e posteriormente estima o sistema como um todo da mesma forma que o SUR.

Comparando os diversos métodos, observamos que o SUR é mais eficiente que o OLS

assim como o 3SLS é mais eficiente que o 2SLS. Entretanto, vale ressaltar que, em métodos

de estimação do sistema como um todo, a má especificação de uma equação é propagada

para todo o restante do sistema. Isto não ocorre, no entanto, em métodos como o 2SLS, que estima as equações isoladamente28. Para examinar a validade dos instrumentos e fazer

testes de exogeneidade, utilizou-se, da mesma forma que em Goldberg-Knetter (99), o teste de Wu-Hausman. Serão analisados agora, os resultados obtidos para cada um dos tipos de café verde analisados nesta dissertação.

(32)

4.3.1 Arabica

Analisando o café do tipo arabica, observou-se a não significância dos componentes de

custos locais (WFERBRA,WMAQCOL,WTRACOL e WFERMEX). Pelo princípio da parcimônia optou-se por não levá-los em consideração nas regressões a seguir. Conforme dito, instrumentalizou-se a quantidade exportada por cada um dos países, através do câmbio do país tratado. Vale dizer que o teste de exogeneidade de Wu-Hausman, mencionado anteriormente, foi aplicado, através de regressões artificiais, exclusivamente à quantidade

exportada29.

Definido o arcabouço, voltemos nossas atenções, primeiramente, para os resultados

mexicanos.

Método de Estimação SUR 2SLS 3SLS

R2 0.891056 0.866367 0.881813

Estatística h de Durbin 1.335773 0.721417 0.739712

Estatística Hausman-WU - 1.900924

-(P-value=0,07)

C -21.010730 -30.518450 -30.014100

(5.620981)

(10.620000) (9.766248)

PAMEX(-1) 0.637675 0.628409 0.575448

(0.074131)

(0.101633) (0.090265)

QAMEX -0.031157 -0.123820 -0.096596

(0.017066)

(0.058327) (0.052233)

EBRA -0.000841 0.003110 0.004543

(0.010975)

(0.020038) (0.018422)

ECOL -1.397397 -1.887406 -1.910900

(0.304475)

(0.514156) (0.472709)

ZGDPUSA 3.504277 5.047603 4.986344

(0.865404)

(1.618085) (1.488115)

Desvios padrões em parênteses.

A variável C corresponde a constante.

Instrumentos: Todas as variáveis independentes mais ENOMMEX.

SUR e 3SLS foram obtidos estimando conjuntamente as equações do Brasil e Colômbia

Exportações mexicanas de grãos de café arábica para o mercado americano. Variável dependente: PAMEX. Período da amostra: 1991:01-2000:04.

Tabela 4

Conforme podemos observar, em adição a quantidade exportada para o mercado americano, utilizou-se como regressores uma constante, o preço do café arabica mexicano defasado um período, a taxa de câmbio Real/US$ e a taxa de câmbio peso colombiano/US$. Utilizou-se como instrumentos o câmbio peso mexicano/dólar além das demais variáveis independentes. O R2 alto da tabela 4 indica que a especi

ficação escolhida explica uma

fração bastante considerável das variações nos dados. O coeficiente de maior interesse

nesta tabela está relacionado ao QAMEX: a elasticidade da demanda residual. O valor

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absoluto deste coeficiente corresponde a um valor aproximado do mark-up sobre o custo

marginal. Aplicando o teste de Wu-Hausman, observamos que, ao nível de significância de

90%, podemos rejeitar a hipótese de que a quantidade exportada é exógena.

Com relação aos parâmetros estimados, observamos que todos os três métodos de estimação fornecem elasticidades da demanda residual com o sinal esperado, isto é, com sinal negativo. O valor desta elasticidade, em todos os métodos de estimação utilizados, é, no entanto, relativamente baixo. O resultado obtido analisando as equações isoladamente via 2SLS é de -0.124. Ao estimarmos o sistema como um todo, através dos métodos SUR e 3SLS, observamos um viés de simultaneidade razoável. Este é traduzido na diferença entre os valores estimados para a elasticidade da demanda residual entre nos dois métodos. O valor encontrado passou de -0.031 através do SUR para -0.097 através do 3SLS. Este último aponta para um parâmetro diferente de zero com um nível de significância de 90%.

Com relação as demais variáveis estimadas, vale observar a não significância do câmbio

brasileiro e a grande significância do câmbio colombiano e do PIB americano. O sinal

encontrado nestas duas últimas variáveis é esperado e bastante intuitivo. O sinal negativo do câmbio colombiano equivale a dizer que quando a taxa peso/US$ cai, isto é, o peso colombiano se valoriza, aumenta o custo do país concorrente e o preço mexicano pode aumentar. Dito de outra forma, a estrutura de custos colombiana tem um efeito considerável na determinação do preço mexicano.

O caso colombiano é interessante e reflete um aspecto crucial deste mercado, qual seja: o

(34)

Método de Estimação SUR 2SLS 3SLS

R2 0.923786 0.830855 0.867803

Estatística h de Durbin 0.688281 * *

Estatística Hausman-WU 2.278449

-(P-value=0,03)

C -101.470400 -190.555300 -184.476100

(26.798100)

(76.676410) (65.323300)

T -0.165505 -0.310495 -0.302388

(0.045479)

(0.128786) (0.108969) PACOL(-1) 0.764257 0.637773 0.605274

(0.082266)

(0.212339) (0.186250)

QACOL -0.223970 -0.863305 -0.736501

(0.053926)

(0.456051) (0.373429)

EBRA 0.039812 0.051417 0.055210

(0.009863)

(0.021750) (0.018625)

EMEX -0.263568 -0.373689 -0.325616

(0.151351)

(0.345322) (0.284584)

ZGDPUSA 12.065970 23.119410 22.273010

(3.109661)

(9.164897) (7.829292)

ZESTUSA -0.175064 -0.350642 -0.337529

(0.044275)

(0.159329) (0.136248)

Desvios padrões em parênteses.

As variáveis C e T correspondem a constante e tendência.

Instrumentos: Todas as variáveis independentes mais ENOMCOL e QACOL(-1).

SUR e 3SLS foram obtidos estimando conjuntamente as equações do Brasil e México.

* A grande variância do parâmetro estimado para PACOL(-1) não permite a aplicação do teste h de Durbin Exportações colombianas de grãos de café arábica para o mercado americano. Variável dependente: PACOL. Período da amostra: 1991:01-2000:04.

Tabela 5

A estrutura desta regressão é a mesma da regressão anterior, exceto pela inclusão da linha de tendência30 e do estoque de café verde em poder dos EUA. Vericamos novamente

um bom ajuste do modelo (R2 alto e h de Durbin não signi

ficante). Notamos ainda, pelo

teste de Wu-Hausman, que rejeita-se fortemente a hipótese de exogeneidade da quantidade exportada. Observa-se que o p-value encontrado é próximo de zero. A magnitude do viés de simultaneidade também é grande. A elasticidade da demanda residual muda de -0.27 estimando via OLS para -0.86 por 2SLS. Ao considerarmos o sistema como um todo, a elasticidade muda de -0.22 via SUR para -0.74 por 3SLS. O alto valor desta elasticidade é um grande indicativo do poder de mercado colombiano. Dito de outra forma, a Colômbia tem uma grande capacidade de influenciar os preços praticados neste mercado.

Tanto o câmbio Real/Dólar quanto o câmbio peso mexicano/dólar são não significantes,

embora este último apresente o sinal esperado. Isto pode ser um sinal de pouco importância do deslocamento de custos dos oponentes na determinação do preço colombiano.

Com relação às variáveis que deslocam a demanda americana, também chega-se

30A linha de tendência foi incluída pois observamos, ao plotarmos o gráco do preço contra o tempo, que

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