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Racionalidade e controle nos processos sociais notas para um plano de trabalho.

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Academic year: 2017

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Trans/Forml A , ã o , São P a u l o 7 : 2 1 -24, 1 98 4 .

RAC IO NAL IDADE E CONTRO LE NOS PROCESSOS SOCIAIS

NOTAS PARA UM P LA NO DE TRA BA L HO

Reginaldo Carmello Corrêa de M O R A E S '"

R ESUMO: O autor expõe etapas que julga //ecessárias para i exall/e de //l Od"n/(/s teorias a respeito das transfonna("ões econôm icas, sociais e culf l;rais da h istória hrasileira. Por outro lado, esse II/o vi///e//­ to visaria in vestigar os fundall/en l Os epistell/o/r;gicos de tais ' 'explica("(}es do Brasil ' ' . U leX{ () corres­

ponde. insiste-se. a um p l a n o de trahalho.

UNI TER MOS: Racionalidade h istórica; processo social; fll//dall/e// { ()s da explical'ÜO cie// t ífica; fi­ losofia da h istória; filosofia política; pensall/cn to políli,.o hrasileiro; planejall/el/ l o .

A moderna reflexão sobre o sentido ou a racionalidade dos processos h i stóricos foi freq üentemente habi tada pela i mplícita ou declarada i nten:ão de determinar os ca­ nais e limites da in terven:ão da " vontade" e da consciência sobre o mundo, este ú l t i m o tomado c o m o objeto resistente e auto-legislado . O b i n ô m i o const ituído p e l a natureza (e suas leis) e pelo espírito dotado de vontade traduz-se muitas vezes pela idéia de que, do confronto entre o mundo da med ida e das regras e o m u ndo da perturba:ão e da mudan:a, nasce o universo aberto, elástico, da perturba:ão "co-medida " , isto é, da a:ão política da " consciência histórica " ,

Não é preciso dizer o quanto esta polaridade valoriza o papel do " legislador" , que por vezes nos é apresentado, pelo pensamento ocidental , como o educador, que deriva da natureza das coisas a constitui:ão do estado, como o condolliero que, para além do bem e do mal aparentes, supera a ética do imediato para cultuar o objetivo supremo de garantir a permanência da h u manidade organizada, Tal valoriza:ão aparece não ape­ nas na reflexão platônica, ou na " técnica" maquiavélica do poder, mas tam bém n u m pensamento c o m o o hegeliano, o n d e a " fi losofia chega necessariamen te tarde se pre­ tende dizer o que o mundo deve ser " (6, p. 4 1 ) . É que, mesmo neste caso , o " grande homem " e os " funcionários do universal " aparecem como guardiães e cam i n h o da realiza:ão de regras e destinos (6, p. 3 04 e 3 1 8 ) .

A o q u e t udo indica, é inevitável q u e um recorte d o m u ndo vivido, classi ficando aq uilo que se deve chamar de real e " d igno de considera:ão " , tenha como contrapart i­ da a defin i:ão de um semi-espa:o habitado pela fantasia, pelo irrea l , pelo desimportan­ te. Conseqüência ética dessa divisão ontológica é o aparecimento da condena:ão das heresias, dos desviacionismos e das utopias, como elementos que i nstabil izam e põem

em risco o universo possível e real . Desse modo, a nova ciência do século X V 1 1 deveria

* Depa r t a m e n t o l e A n t ro p o l o g i a . F i l o � o r i a e Po l i t iea - 1 1l t i l U I O d e I L' l r a ... ( · i : I l : i a � S O : i a i .. ' l · d ll L· a , . : �l11 - lJNI·S I '

I ' , XOO -A r a r a q l l a r a -S > .

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M O R A E S , R . C . C . de - Racionalidade e con t role nos p rocessos sociais - notas para um plano de t rabal h o .

Trans/Forml A�ã() , São P a u l o , 7 : 2 1 -24, 1 9 R 4 .

declarar a irreal idade das categorias aristotélico-tomistas ao mesmo tempo que afirma a realidade dos corpos abstratos q u e i n formam as " experiências pensadas" de Galileu, como repetidamente apontaram os estudos de Alexandre K oyré (8, 9). Por outro lad o , na nascente ciência polí tica dos séculos X V I I - X V I I I , confere-se a o fictício ( o u ao m e ­ n o s hipotético) contrato e n t r e os i n d i víduos a realidade de fundamento do E stado, a o mesmo tempo q u e se classi fica n o r o l d a s fantasias as construções utópicas . Abstrações aceitáveis opõem-se às i n aceitáveis . E stados acei táveis opõem-se a sonhos perigoso s . A t é q u e ponto R o usseau n ã o se torna maldito q uando u l t rapassa a fronteira do ra­ ciocínio hipotético dedutivo do contrato e chega ao l i m ite ( não cientí fico? ) da l i teratura fantástica sobre o " novo m u n do " ?

A necessidade d e estudar com maior profund idade tais questões nos foi sugerida, basicamente, a partir dos problemas q u e e n frentamos na nossa tese de mestrado ( 6) ,

quando n o s deparamos c o m a filosofia d a história embutida e m autores como os de­ senvolvimentistas d o IS E B e Celso Furtad o . Em s í n tese, o papel atri b u í d o , nesse ideá­ rio, aos i n t electuais como constru tores da " nova razão " , a razão compatível com a " m odernidade" .

Hipóteses a verificar e questões a responder

P arece-nos fundamental analisar mais detalhadamente o proj eto de ciência q u e i n­ forma essa postura . E temos fortes motivos para acred itar que esse exame passa pela constituição histórica d a " m oderna ciência " , e m particular pela natureza do pensa­ mento Galileu-newtoniano e pela sua trans formação em guia e paradigma para as cha­ madas ciências h u m anas e m constituição. Paradigma não apenas em termos d e consis­ tência, coerência e completude, mas sobretudo de eficiência, de v i tória sobre a insegu­ rança. A sentença de M e n d eleiev - " q uando u m a propriedade pode ser medida ela perde seu caráter de i ncerteza e se torna u m signo quantitati v o " 0 4 , p. 1 95) - revela o sentido profundo da expectativa matemática, como notou H eidegge r : não se trata ape­ nas de operações sobre números, mas a ansiedade de "contar, antecipadamente, com uma equação fundamental para toda ordem possível " (5, p. 65) .

Desse modo, caberia inicialmente i nvestigar os pressupostos desse pensamento, delineando em Galileu, Newton, Descartes, trabalho a q u e se dedicaram os estudos d e Koyré, por exemplo .

Em seguida, pensar como se v i s l u m b ra a generalização da análise, tal como

apare-ce nos sonhos de um D' Allem bert ( 3 ) ( a ciência como teoria ded utiva, constituída de termos primitivos, definições, axiomas, teoremas, constituindo, no limite, o u niverso presente a uma s u bj etividade ideal como a d o Divino Calculador de Laplace 0 0, p. 3 ) d e u m Lavoisier O 3 » , o u Condil lac ( o método analítico q u e constitui a s - e s e nos constitui nas -l í nguas como guia para o encontro da " língua dos cálculos" e das evi­ dências sem erro possível ) , O ) , u m Condorcet ( e seu projeto de matemática social) ( 2 ) . E porque afinal a idéia do tegumento u n i versal de G i l bert ( o magnetismo) ou de N ew­ ton ( a sua fórmula da gravitação) e a descoberta da " fórmula geral " na álgebra de Vié­ te não entusiasmariam os proponentes d o algoritmo u n i versal para toda ciência possível o u do " a l fabeto d o pensamen to " , o sonho setecentista de Leibniz O 2) que desperta n o Boole de 1 84 7 ?

O passo seguin te ( o u q uase s i m ultâneo) seria pensar a transfigu ração dessa análise nas nascentes teorias da sociedade (do contratualismo aos fundadores d a economia política). Por que afinal H o b bes pretende u m a filosofia dos " corpos sociais" análoga à " filosofia natural " ( 7 , Cap o I Xn E como L ocke se inspira no " i ncom parável New­ ton" 0 3 , p. 1 3 7 ) ? O u M o n tesquieu e tantos o utros v i s l u m b ram o interesse e o

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IVI U K A ::> , K . L . L . oe - K a c l o n a l l O a O e e c o n t r o l e nos p rocessos soc i a i s - notas para um p l a no de I raba l h o . Trans/Forml Ação, S ã o P a u l o , 7 : 2 1 -24, 1 9R 4 .

cio como elementos que, ordenando e regrando o m u n d o h u mano, o tornam previsí vel e permitem deste modo u m a ciência d a sociedade e da política ( 1 5 , livros V , X X , X X I ) ? N a d a poderia c o n t u d o ser mais explícito que e s s a expectativa transformada e m doutri­ na, nos trabalhos de Quesnay- M i rabeau , M ercier de la R iviere, S m i t h , que se poderiam citar fartamente .

Por fim, mas fundamentalmente, nos i n teressa exam inar o estado dessas questões

nos autores e correntes que pensaram o papel da " i n telligen tsia" nos c h amados "países em desenvolv imento " . E ntre estes , enfaticamente, Celso F u rtad o .

Fu rtado parece- nos c a m i n h ar n u m r u m o bastante sintomático . N a eco n o m i a , alinha-se com a revisão dos pensadores clássicos, questionando a su ficiência d o merca­ do como alocador ótimo d o s recursos . Na política ( e na " pedagogia de m assas" que es­ ta envolve) , procura, através de revi são análoga à anterio r , especi ficar a natureza e as fontes de legit i m i d ade d a i ntervenção dos i n telectuais, supostamente ac i m a das classes e assi m ilando o que poderíamos chamar de "o ponto de vista d a totali dade " : " ú nico elemento dentro de u m a sociedade que não só pode mas deve sobrepor-se aos condicio­ namentos sociais m a i s imed iatos d o comportamento individ ual " - c o m o afirma na sua Dialética do Desen volvimen to ( 4 , p. 9). Isto sign i ficaria, como notamos em nossa tese de mestrad o , afirmar a i n v i s i b ilidade d o ab soluto como fundamento d o visível po­ der dos sujeitos e m p í ricos envolvid o s . E m eco n o m i a , tais concepções segu ramente de­ viam m u i to à escola cepal i n a , à idéia das eco n o m ias latino-americanas c o m o " econo­ mias reflexas " , o u , nas palavras de Furtad o , como " proj eção " d o capital i s m o ociden­ tal em expansão . Essa " versão tercei ro-m u n d o " d a revolução keynesiana t i n h a como im portante corolário político a necess idade de formar as elites d i r igentes dos estados subdesenvolvid o s . Na sociologia acadêm ica, devem muito às chamadas teorias d a mo­ dernização, que concebiam as sociedades latino-americanas como ' ' desintegradas" , em oposição às " i ntegrad a s " sociedades eu ropéias . Mas a proxim idade maior está c o m o pensamento autoritário brasilei r o , que, d e s d e Varnhagen , A . Torres e Oliveira Via­ na, acentuava o papel d e m i ú rgico d o Estado, diante da nação , em algo que se aparenta a uma leitura " bismarckiana" de H egel : a opaca sociedade civil , c o n formada pelo Es­ tad o , lugar da h istória, d o m o v i m ento e da von tade . E m particular, é de se destacar, em Oliveira Viana, ( 1 8 ) , a caracterização da nação b rasileira como u m ser em idade i n ­ fantil , necessitando de u m tutor : o estado autoritário . A formação socioeconômica brasileira - alicerçada no lat i f ú n d i o , geratriz da d ispersão social , da não existência de laços de solidariedade de classe - dependeria então, para sua maturidade, d u m pode­ roso agente de vontade, o Estad o .

N o plano das reflexões sobre a educação , i mpõe-se a análise dessa tradição e m confronto c o m as particularidades d o l i beral i s m o brasileiro na pedagogia . E m particu­ lar, com o movimento da c hamada escola-nova ( d e Fernando Azevedo, Anísio Teixeira ( 1 7 ) e outros) e sua p reocupação e m m odernizar e democratizar a sociedade através de um instru mento dec i s i v o : u m a escola que se atualiza frente à ciência e à técnica, au­ menta a produtividade e , questão fundamental , no l i m i te m olda a estrati ficação social .

Evidentemente, trata-se d e u m plano d e investigação a m b icioso e que demandaria bom tem p o . Contudo, parece- nos necessário i niciá-l o , por ser ele inevi tável , se se qui­ ser pensar essa questão d o s intelectuais e d o seu papel na c o n form ação da c ultura (em sentido amplo), sem cair n o i m ediatismo apressado que, pensando apontar para o "progresso" , arrisca reconstru i r , sem o saber, os tropeços do "atraso" .

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M O R A E S , R . C . C . de - R a c i o n a l idade e c o n t role nos processm sod a i s - nota, para um p l a n o de t ra b a l h o .

T rans/ F o r m / A ç ã o , São P a u l o , 7 : 2 1 -24, 1 9 H 4 .

M O R A E S , R . C . C . d e - R a L i o n a l i t y a n d c o n t rol i n s o c i a l processes - n o t e s o n a w o r k p l a n . Trans/ F o r m / A c ã o , São P a u l o , 7 : 2 1 -24, 1 9 8 4 .

A BS TR A CT: The a u l h o r exposes s o m e Sla,es jud,ed necessarv for lhe exa/llilalion of lhe /II oderll

Iheories aboul lhe eeonom ic, social and cullural chan,es of braúlian hislory. On lhe Olha halld, Ih i.,

mo vemen l would have in view la search lhe episle/ll olo,ical ,rounds of such "Brazil 's explanalions ".

This lexl, il m USI be remembered, presenls ilself only as a work pIe m .

KE Y- WOR DS: Hislorieal reasonableness; social process; ,rounds of sciell lific explallalion; !Jhilo­

sophy of h islory; polilic ph ilosophy; brazilian polilie Ihou'hl; plannin,.

R E F E R Ê N C I A S B I B L I OG R Á F I C A S

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Referências

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