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“Revista de História da Biblioteca Nacional”,
julho de 2009
Edição nº 46 | Julho de 2009
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Os trapos estão de volta
01/04/2008
Os trapos estão de volta
Projeto vai recuperar acervo da Biblioteca Real
trazido por D. João
Mariana Benjamin
Parece mágica. Quem vê o resultado da restauração de obras deterioradas pela ação do tempo fica boquiaberto. A encadernação elegante, o desaparecimento das manchas amareladas e o papel sem nenhum rasgo contrariam a idéia de que aquele livro pode ter alguns séculos de idade.
Parte do acervo da Biblioteca Nacional que hoje está em perigo chegou ao Rio de Janeiro com a família real portuguesa. Na mudança apressada para o Brasil, a Corte não teve a preocupação de transportar essas preciosidades com o devido cuidado. O manuseio e a acomodação inadequados, somados a mudanças climáticas e aos ataques de insetos, fizeram com que algumas dessas raridades chegassem até nós em péssimo estado de conservação.
No bicentenário da chegada de D. João, as atenções se voltam para esse tesouro que, devido ao seu estado físico, está fora do alcance do público. O projeto “Fênix: resgate da memória em papéis de trapos” pretende recuperar os livros impressos da Biblioteca Real e devolvê-los à consulta. Com uma novidade do século XXI: o leitor não precisará mais ir até as prateleiras para conhecer a Biblioteca Real. Bastará acessar o site da BN, e cerca de cinqüenta títulos, considerados os mais raros da coleção, estarão digitalizados e disponíveis para leitura.
Obras sobre diferentes assuntos e lugares compõem o acervo a ser recuperado. Nova escola para aprender a ler, aprender & contar (1722), por exemplo, trata de pedagogia prática e foi publicado em Lisboa por Manuel de Figueiredo, um dos principais cultores da escrita e da caligrafia do barroco português. Na lista dos mais valiosos encontra-se a primeira edição de um livro de Juan de Iciar (1548) sobre ortografia prática, do qual só existem exemplares em três bibliotecas do mundo: na BN, na de Madri e no Museu Britânico. E também Des ordres de coloñes en l’architecture (Paris, 1664), importante obra sobre arquitetura de Abraham Bosse, e sua raridade se deve ao fato de ser totalmente gravada em madeira, e não impressa.
O projeto, que visa acelerar a recuperação desse acervo, prevê não só a restauração e a digitalização dos livros, mas sua conservação adequada na Biblioteca. “A questão do ambiente é de vital importância para a sobrevivência da obra. Por isso, o projeto também tem outras preocupações, como prevenir o surgimento de insetos, evitar o acúmulo de poeira e manter a temperatura aclimatada”, explica Tatiana Ribeiro Christo, chefe do Departamento de Restauração da Biblioteca Nacional.
Em duzentos anos, aprendemos algumas coisas sobre como conservar preciosidades.