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Estruturas sociais no semiárido e o mercado de biodiesel.

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Academic year: 2017

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. 26, n. 68, p. 347-362, Maio/Ago. 2013

ESTRUTURAS SOCIAIS NO SEMIÁRIDO E O MERCADO DE

BIODIESEL

Yumi Kawamura Gonçalves

*

Arilson Favareto

**

Ricardo Abramovay

***

O trabalho traz uma análise dos processos favorecidos pelos incentivos e investimentos deriva-dos do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) no Semiárido nordestino. Em função da importância da produção de mamona na região e da aposta do PNPB nesta oleaginosa como meio de inserção da agricultura familiar no mercado de biodiesel, o principal objetivo do estudo consistiu em compreender a estrutura e a dinâmica do mercado da mamona, as mudan-ças que até agora resultaram dos incentivos do PNPB, e os possíveis entraves aos processos condizentes com os objetivos sociais do programa. A análise demonstrou que as ações em curso não têm sido suficientes para alterar as estruturas sociais associadas à pobreza e à dependência dos agricultores pobres e que a dinâmica empresarial sinaliza importantes incertezas sobre a continuidade dos processos em curso.

PALAVRAS-CHAVE: Biodiesel. Semiárido. Agricultura familiar. Mamona. Sociologia econômica

INTRODUÇÃO

Este texto tem por base um estudo realiza-do no Semiárirealiza-do Nordestino,1 no qual foram

investigadas as condições e os bloqueios à inser-ção dos agricultores familiares no recente mercado de biodiesel, ao mesmo tempo em que procura explicitar as contribuições que a sociologia econô-mica propicia para o entendimento das questões atuais sobre o Programa Brasileiro de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), evidenciando que o mer-cado de biodiesel brasileiro não pode ser

compre-endido com um olhar exclusivamente econômico, assim como a viabilidade dos agrocombustíveis não pode ser prevista a partir de um viés exclusiva-mente agronômico.

O mercado do biodiesel no Brasil, que nasce induzido por um programa governamental, mos-tra-se hoje, depois de oito anos desde o seu lança-mento, como uma realidade controversa e heterogê-nea. É indiscutível a pujança que o programa gerou em termos de investimentos privados no setor in-dustrial em praticamente todo o país. Entretanto, um conjunto de críticas e questionamentos marca o debate público sobre o PNPB.

Uma delas diz respeito ao contraste entre a expectativa de diversidade de matérias-primas que podem ser empregadas na produção deste com-bustível e a predominância absoluta da soja, im-portante em cadeias alimentares, e cuja dinâmica de produção e preço é dada pelo mercado

interna-* Doutora em Energia. Pesquisadora na área de Sociologia Econômica na Universidade Federal do ABC, Centro de Ciências Naturais e Humanas.

Rua da Catequese 242. Jardim. Cep: 09090400 - Santo André, SP - Brasil yumi.kawamura.go@gmail.com ** Doutor em Ciência Ambiental pela Universidade de

São Paulo. Professor do Centro de Engenharia, Modela-gem e Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Fede-ral do ABC (UFABC). arilson@uol.com.br

*** Doutor em Ciência Econômica. Professor titular do Departamento de Economia da FEA e do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo – USP. abramov@usp.br

1 Os autores registram especial agradecimento à GTZ

(Co-operação Técnica Alemã no Brasil) que financiou este estudo, aos técnicos daquela organização e da Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvi-mento Agrário pelas críticas e sugestões recebidas, e aos

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cional.2 A imagem de sustentabilidade vendida

pelo biodiesel também destoa dos problemas ambientais e trabalhistas presentes nas cadeias produtivas em que está baseado, estruturadas an-tes de seu advento, mas que lhe “contaminam” (como é o caso da produção de soja e sebo bovino, as duas principais matérias-primas).

Outra crítica corrente sobre o PNPB – uma das mais contundentes –, é que ele tem sido falho na inclusão de agricultores familiares mais pobres. Ao se apoiar na soja para garantir os níveis de produção estipulados pela mistura obrigatória (em percentuais crescentes desde 20083), as aquisições de

matéria-prima têm sido efetuadas junto aos setores mais di-nâmicos e capitalizados da agricultura familiar, parti-cularmente no Centro-Oeste e Sul do país. Este texto se volta para esta questão, examinando os processos de construção do mercado de biodiesel no nordeste do país, onde estavam depositadas grandes expecta-tivas em termos dos ganhos sociais do programa.

Duas visões polarizam o debate neste pon-to. A primeira delas vê com reticência e ceticismo as perspectivas deste mercado, uma vez que a mamona, eleita a estrela da inclusão social do PNPB, conta (e contava, à época de criação do pro-grama) com mercados consolidados, que envolvem cadeias de altíssima tecnologia e produtos de alto valor comercial, o que comprometeria a viabilida-de viabilida-de seu emprego no mercado viabilida-de biodiesel (No-gueira, 2008). Entretanto, o paralelo feito por críti-cos da estratégia do programa, de que produzir mamona para biodiesel seria equivalente a produ-zir jacarandá para ser queimado como lenha, ape-sar de forte apelo retórico, desconsidera que a pro-dução e o mercado da mamona são muito mais maleáveis do que o mercado de uma madeira no-bre como o jacarandá. Ademais, sendo verdadeira a afirmação de que a mamona tem finalidades mais nobres do que o biodiesel, caberia perguntar por que, então, a produção de mamona no Nordeste permaneceu, por décadas, tão rudimentar e tão fortemente associada à pobreza.

A outra visão, em contraste, tem como princi-pal argumento que a criação da demanda de mamona para biodiesel geraria uma concorrência antes inexistente, elevando os patamares de preço e favo-recendo ganhos na renda aos agricultores que já for-neciam mamona para a indústria ricinoquímica. Além disso, os produtores se beneficiariam de maior segurança na comercialização – propiciando a am-pliação da base de agricultores neste cultivo – e de serviços e incentivos, previstos nas normas do PNPB, que até então não estavam presentes nos sistemas produtivos tradicionais. Como decorrên-cia, haveria o aprimoramento dos sistemas produ-tivos da agricultura familiar, que sustentaria a es-tratégia de produção de biodiesel no Nordeste e estimularia a dinamização das economias locais (Carmélio & Campos, 2009).

A rigor, estas duas visões não são excludentes. A elevação dos patamares de preços pode estar ge-rando um aumento nas rendas dos agricultores e melhorando as expectativas de investimento na sua produção. Mas pode haver um teto para as aquisi-ções de mamona pela indústria de biodiesel, delimi-tado pela dinâmica dos usos concorrentes na indús-tria ricinoquímica que, por operar com produtos de maior valor agregado, teria maior margem de mano-bra para compor a estrutura de preços, repassando custos ao produto final, ou valendo-se da possibili-dade de, simplesmente, importar óleo, caso os cus-tos para tanto se mostrem compensadores.

Ocorre que venda do óleo de mamona para indústria ricinoquímica ou no mercado de biodiesel envolve muito mais do que a comparação entre os preços oferecidos neste ou naquele. Uma série de particularidades não mercantis marca a lógica de exploração que perpassa a cadeia da mamona. Ao examinar estas questões, este texto propõe-se a discutir perspectivas analíticas através das quais o biodiesel brasileiro é tratado.

Neste sentido, o principal objetivo deste estudo consistiu em compreender a estrutura e a dinâmica do mercado da mamona, as mudanças que até agora resultaram dos incentivos do PNPB, e os possíveis entraves aos processos condizentes com os objetivos do programa, especialmente no 2 Discutido, entre outros, em Kawamura (2012) e

Kawamura, Diniz e Favareto (no prelo).

3 Começando com 2% em janeiro de 2008; e chegando a

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que diz respeito ao envolvimento de agricultores familiares pobres. A hipótese orientadora deste estudo é que o biodiesel pode ser um elemento decisivo para alterar a organização daquilo que Frank Ellis (1988) chamou de mercados incompletos e imperfeitos, característicos dos produtos típicos dos segmentos mais empobrecidos da agricultura familiar. No caso do Semiárido, isso significa a for-mação de novos circuitos de comercialização, que estimulem a concorrência e que abram aos agricul-tores o acesso a um conjunto de serviços que lhes permita escapar da dependência em que se encon-tram em relação a comerciantes tradicionais. En-tretanto, esse intento depende das estruturas soci-ais dos mercados que a produção de biodiesel in-tegra e a partir dos quais se viabiliza, sendo que as ações promovidas pelos principais agentes do PNPB no Semiárido não têm se mostrado sufici-entes para transformar tais estruturas, ainda que sejam capazes de alterar o patamar de renda dos produtores de mamona por efeito das novas dinâ-micas de concorrência que elas inauguram.4

Nessa perspectiva, este trabalho funda-se em uma abordagem teórica pouco usual quando se trata de analisar os mercados. À luz da sociologia eco-nômica, os mercados são muito mais do que o re-sultado do confronto entre oferta e demanda, protagonizado por agentes livres, e do qual os pre-ços são a expressão última: mercados devem ser entendidos como estruturas sociais nas quais os agentes, portadores de interesses, adotam estraté-gias para garantir melhores posições na estrutura e estabilizar suas relações com os demais agentes.

As ideias formuladas por Neil Fligstein (2001) for-necem um quadro de análise interessante para destrinchar os mecanismos desta estabilização de relações a um só tempo econômicas e sociais. A sistematização feita por Abramovay (2008) é bas-tante útil para os propósitos deste artigo (Box 1).

Dando continuidade à apresentação do tema proposto, a seção seguinte traz as principais carac-terísticas do mercado internacional e nacional da mamona, descreve e analisa este mercado no Semiárido Nordestino, apresentando os principais agentes, características da produção e da comercialização, bem como analisa as mudanças recentes neste mercado, a partir dos incentivos do PNPB. As conclusões são apresentadas na terceira parte do texto.

O MERCADO DA MAMONA

Produtos de alto valor agregado, mercado externo e interno

Os óleos de mamona dão origem a deriva-dos que são empregaderiva-dos em diversas indústrias, de química fina, compondo produtos como têx-teis sintéticos de última geração, vidros especiais, cosméticos avançados, medicamentos, perfumaria, lentes de contato, plásticos de alta resistência, lu-brificantes, resinas plásticas, próteses ósseas, poliuretanos com diversas aplicações. No plano internacional, empresas e grandes grupos empre-sariais atuam na extração, processamento e comercialização dos derivados, com mercados em diversos continentes. É consensual que as pers-pectivas desse mercado guardam forte potencial de expansão e uma tendência à continuidade da diversificação dos usos, com a constante criação de novos produtos. Na outra ponta, a produção de matérias-primas no nordeste brasileiro apresenta um forte contraste com este vigor. A oferta de ma-téria-prima é pulverizada, organizada em bases tra-dicionais e marcada por uma severa precariedade. Desde 1978, o Brasil figura entre os três maiores produtores de mamona e de óleo de 4 Para testar esta hipótese, foi visitado um pequeno grupo

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mamona, juntamente com Índia e China, países que concentram, atualmente, nada menos do que 93% da produção mundial. Entre 1978 e 1982, o Brasil ocupou a primeira posição em produção de mamona. Já em 2005, o país contribuía com ape-nas 13% da produção mundial. Trajetórias seme-lhantes entre os países líderes podem ser observa-das no que diz respeito à produção de óleo de mamona (Santos e Kouri, 2006a).

Dentre as empresas que produzem o óleo a partir da mamona, há indústrias que processam a mamona somente para comercialização do óleo, há indústrias que processam mamona para produção e comercialização de derivados do óleo, e, ainda, aquelas que processam a mamona, produzem os derivados e já os empregam na produção de ou-tros produtos. Segundo Savy Filho (2005, apud Santos e Kouri, 2006b), havia no Brasil, no meio da década..??????, uma capacidade instalada para processamento de 440 mil toneladas/ano de mamona em baga, o que geraria,

aproximadamen-te, 198 mil toneladas de óleo. Considerando a média das safras desta década em 110 mil toneladas, se-gundo os dados da Companhia Nacional de Abas-tecimento – Conab (2009), o déficit seria de, apro-ximadamente, 330 mil toneladas.

Parte importante da indústria ricinoquímica está em São Paulo, mas na produção nacional da matéria-prima – a mamona em baga –, a principal referência é a região nordeste do país, que concen-tra mais de 90% da produção brasileira. O Estado da Bahia, sozinho, é responsável por 83% da produ-ção nacional, em média, desde o ano 2000, e é onde está localizada a principal indústria processadora de mamona instalada no país. (Conab, 2009).

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produtividade média é de 1.380 kg/hectare, en-quanto no Norte-Nordeste a média é de 670 kg/ hectare (Conab, 2009), ficando em torno de 100 kg/hectare em alguns municípios do Ceará.

Com base nesses dados, uma pergunta que não pode deixar de ser feita é: por que a demanda não atendida, o dinamismo do mercado internaci-onal e os usos nobres do óleo da mamona não se convertem em igual dinamização da produção de matéria-prima?

Quando se trata da precariedade e da insta-bilidade da produção nordestina de mamona, um dos principais argumentos é a instabilidade de preços do produto. As cotações internacionais na bolsa de Rotterdam mostraram oscilações da or-dem de até 50% entre a segunda metade da década de 80 e o final da década de 90. Desde 2001, há uma tendência de alta, acentuada nos últimos anos: em 2008, o preço mais que dobrou em relação ao preço de 2001. As cotações de Irecê, principal polo do mercado de mamona na Bahia e no Brasil, pra-ça onde é definido o valor no mercado interno, oscilaram ainda mais, com os preços variando em até 200% nesta década.

Os fatores mais comumente apontados como principais influências no preço no mercado inter-no são o clima e seus impactos na variação da sa-fra; o câmbio, que pode estimular ou frear a opção pela importação do óleo por parte das indústrias; e a variação dos preços internacionais – tudo isso concorre para a definição do preço que a indústria

demandante se dispõe a pagar pela mamona em cada período. O outro fator que concorre para a definição desse preço é a estrutura de organização da oferta, como se verá adiante.

O MERCADO DA MAMONA NA BAHIA E NO CEARÁ

O mercado da mamona é estruturado em uma oferta bastante pulverizada, com a produção apoiada, predominantemente, em agricultores po-bres, com sistemas de produção bastante tradicio-nais. Esta pulverização e os baixos índices de pro-dutividade favorecem a formação de uma cadeia na qual as estruturas intermediárias, que permi-tem concentrar a produção dispersa e acessar a igualmente concentrada indústria processadora, tornam-se fundamentais. Ademais, por suas ca-racterísticas físicas, a baga da mamona pode ser estocada, e os atores em condições de fazê-lo – em geral os maiores produtores e os comerciantes – utilizam este recurso para auferir maiores lucros. Assim, a oferta de mamona no mercado não de-pende apenas da colhei-ta. Esta estrutura vem sen-do ligeiramente alterada com a entrada das empre-sas de biodiesel e os in-centivos previstos no PNPB – e, no caso do Ce-ará, também nos progra-mas estaduais – vêm alte-rando as bases de funcio-namento deste mercado.

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A produção de mamona é feita, predomi-nantemente, por pequenos produtores, com mão-de-obra quase exclusivamente familiar, em áreas que variam de dois a quinze hectares e sem orien-tação técnica.5 As técnicas empregadas pela

esma-gadora maioria dos pequenos agricultores são, ba-sicamente, as mesmas aprendidas com as gerações anteriores. É também tradicional o consórcio da mamona com outros produtos, como estratégia de intensificação do uso das terras na época do ve-rão, quando ocorrem as chuvas.6 Depois da

co-lheita dos cultivos mais rápidos, a mamona per-manece no solo, em produção contínua, durante dois anos, com colheitas de maior volume entre setembro e novembro. Assim, por ser uma planta mais resistente ao stress hídrico dos meses de es-tiagem, a mamona representa, para grande maioria dos pequenos produtores, a única fonte de renda oriunda da agricultura ao longo do ano.

Nos municípios visitados no Ceará, grande parte das áreas em que se cultiva mamona é arren-dada de grandes proprietários pecuaristas. Dada a toxicidade da mamona, se consumida pelo gado, estes cultivos são conflitantes, o que restringe a expansão do cultivo da mamona, visto que a pe-cuária bovina tem prioridade – e, em áreas arren-dadas aos agricultores, os pés de mamona perma-necem no solo apenas no primeiro ano – enquan-to se forma o capim para o gado – perdendo-se, assim, os ganhos que ocorreriam no segundo ano. Assim, quatro são os bloqueios principais a uma expansão dos cultivos de mamona e a uma maior produtividade nos segmentos mais pobres da agricultura familiar na região: disponibilidade de trabalho para as lavouras (particularmente na Bahia); disponibilidade de terra (particularmente no Ceará); técnicas de cultivo inadequadas e au-sência ou ineficiência de assistência técnica para contornar estas inadequações, além de um merca-do volátil, instável e que pratica preços baixos na compra da mamona.

Dentre estes, um dos mais difíceis de solu-cionar é a escassez de mão-de-obra. A grande mai-oria dos agricultores afirma contar, apenas, com o trabalho da esposa ou do marido, e não mais com o trabalho dos filhos, que preferem buscar oportu-nidades nas cidades da região ou em centros mais distantes.7 A ajuda recíproca entre vizinhos é uma

prática comum, mas limitada, pois as principais atividades na lavoura, como a colheita, por exem-plo, coincidem no tempo. A contratação temporá-ria é ainda mais rara, tanto pela reduzida oferta, quanto pela falta de recursos financeiros para con-tratar. Tudo isso faz da escassez de força de traba-lho um dos principais limites à expansão da cul-tura da mamona.

Enquanto na Bahia raras são as menções à falta de área para plantio, no Ceará, esta foi uma constante. A mamona está, em geral, em posição secundária na priorização das atividades produti-vas locais (mesmo nos estabelecimentos familia-res), e em conflito com a principal atividade, que é a bovinocultura. Grande parte dos agricultores cultiva áreas arrendadas,8 e vê-se, regularmente,

na dependência de que o proprietário concorde com o cultivo de mamona. Esta preferência pelo gado reflete-se, também, na distribuição geográfica: as áreas de “sertão”, como são chamadas as áreas planas, são mais ocupadas pela pecuária, enquanto as áreas de “serra” são as mais utilizadas para culti-vo de mamona consorciada com feijão e milho. Mesmo aí, os cultivos vêm sofrendo a pressão da expansão dos pastos. Por todos estes motivos, no Ceará, a expectativa em relação ao aumento de áreas plantadas de mamona é muito mais contida.

A perda de nutrientes e a compactação dos solos (principalmente em função do uso de má-quinas na Bahia, e em função do pisoteio pelo gado

7 Segundo alguns relatos, os mais jovens conseguem

ga-nhar até doze mil reais numa temporada no corte da cana em São Paulo, enquanto a renda da família com a mamona varia, comumente, entre duzentos e três mil reais anuais.

8 Em Monsenhor Tabosa, a estimativa feita pelas

lideran-ças e técnicos é de que 60% dos agricultores familiares possuem uma propriedade, enquanto os outros 40% são moradores em grandes propriedades, e trabalham em áreas arrendadas. Mesmo os agricultores proprietári-os frequentemente arrendam outras áreas para comple-tar a renda familiar.

5 Na região de Morro do Chapéu e Irecê, há uma minoria de

médios produtores, com áreas de mais de 150 hectares, que alcançam produtividades superiores à média da região.

6 Predominam os consórcios com feijão e milho, sendo

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no Ceará), além da baixa disponibilidade hídrica, somam-se aos problemas agronômicos descritos em estudos anteriores (Machado et al, 2006; Santos e Queiroga, 2008; Negret, 2008; Conab, 2006), como o pouco uso de técnicas agrícolas básicas como análise de solo e adubação, pouca disponibilida-de disponibilida-de sementes disponibilida-de qualidadisponibilida-de e baixa produtivida-de e custo produtivida-de produção alto.

Um dos fatores que explica a precariedade técnica desta produção é a ausência de assistência especializada. Na avaliação dos técnicos contatados no estado da Bahia, a orientação técnica adequada poderia elevar a produtividade, sem aumentar os custos, e não demandar mais recursos do que dis-põe hoje um produtor familiar médio.

Outro fator importante é a descapitalização. A maioria dos agricultores não procura crédito bancá-rio para custeio das lavouras – é um recurso tradici-onalmente distante da realidade dos agricultores menos favorecidos e, além disso, o histórico de inadimplência e as regras do financiamento inviabilizam contratos para a cultura. Apesar disso, não houve redução de lavouras por falta de financia-mento: o custeio é feito com recursos próprios ou, mais comumente, com o adiantamento realizado pe-los compradores locais –

aqui reside um dos fortes componentes da estrutura de dependência em que es-tão enredados os agriculto-res familiaagriculto-res e que lhes im-pede de obter maiores gan-hos no mercado.

As estruturas tradicio-nais do mercado da mamona

A Figura 1 traz uma representação da

estrutu-ra testrutu-radicional do mercado de mamona. Nela se vê, na base da cadeia produtiva, um grande número de agricultores, pequenos e médios, cujos siste-mas de produção foram descritos acima. Esses

agricultores têm, em geral, uma compreensão mui-to parcial e restrita do mercado como um mui-todo: co-nhecem o sistema de comercialização regional, mas muitos não sabem qual o destino do produto fora da região, e a larga maioria desconhece as aplica-ções do óleo. Os elos do comércio são feitos pelos compradores (ou atravessadores) locais e regionais, que se organizam em diferentes níveis. Em geral, existem, nas comunidades rurais, um ou dois co-merciantes locais, também chamados “bodegueiros”: são proprietários de pequenos estabelecimentos co-merciais aos quais os agricultores recorrem para comprar a crédito produtos necessários ao consu-mo cotidiano, ou mesconsu-mo pequenos emprésticonsu-mos em dinheiro a serem pagos posteriormente, com a produção da mamona. Como a mamona é a única lavoura que produz ao longo de todo o ano, é ela, em geral, a moeda de troca que permite ao produ-tor “fazer a feira”.9 A estes atravessadores locais,

os produtores vendem pequenas quantidades, com-prometendo, aos poucos, sua produção antes da colheita, prática conhecida como “venda na folha” ou “venda na palha”.

Esta relação se dá pelo contato direto com o produtor, ou é intermediada ou monitorada por

9 Em geral, as outras produções, como o feijão e o milho,

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informantes, que levam e trazem informações so-bre os preços oferecidos e soso-bre o andamento da lavoura, informações que passam, também, pelas associações comunitárias. O bodegueiro, além dos adiantamentos, fornece, também, crédito para cus-teio da lavoura e realiza favores pessoais às famíli-as de agricultores, mantendo, famíli-assim, cativos os seus fornecedores. Trata-se, em suma, de relações de dominação profundamente pessoalizadas, sob o revestimento de relações de solidariedade e fide-lidade, alicerçadas no constante endividamento dos agricultores e na ausência de canais alternati-vos para acessar o mercado ou para encontrar ou-tras oportunidades de renda.

No nível seguinte da cadeia de comercializa-ção, encontra-se o atravessador ou comerciante com uma base na sede municipal, para os quais os atravessadores locais repassam as mercadorias. Em geral, dois ou três atravessadores na cidade divi-dem a clientela, sem grande mobilidade: há uma forte fidelização dos mercados. Os atravessadores de cada município, por sua vez, vendem a mamona para os grandes comerciantes ou atravessadores de Irecê. Atuando em escala regional, existem estes gran-des atravessadores, que compram de atravessadores médios e pequenos. Neste nível, a comercialização é centralizada em Irecê, e concentrada em três grandes compradores, que fornecem para indústrias na Bahia (Bom Brasil) e em São Paulo.

O elo seguinte da cadeia são as indústrias

processadoras, que compram a mamona em baga e extraem o óleo, sendo que uma delas, a Bom Brasil, subsidiária brasileira do grupo internacional Nidera, produz uma série de derivados a partir do óleo. O segmento de extração do óleo vem diminuindo nos anos recentes e, segundo informações de empresá-rios do setor, apenas seis ou sete empresas domi-nam a quase totalidade do mercado de óleo. No último elo do mercado, estão as indústrias que usam o óleo em sua produção. São indústrias do setor químico, farmacêutico e de cosméticos, e, mais re-centemente, de biocombustíveis. Como fica evidente neste desenho, há dois funis na formação dos pre-ços: a indústria de transformação, com destaque para a Bom Brasil, e os atravessadores, que contro-lam a comercialização da mamona, particularmen-te aqueles localizados na praça de Irecê.

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de fidelização destas relações. Em quarto lugar, por fim, há o fato de que a formação de preços dá-se, fundamentalmente, na relação entre os poucos atravessadores regionais e as indústrias. Tudo isso com base em uma produção pulverizada e em ba-ses bastante precárias, com fortes restrições à ex-pansão da área ou à melhoria de produtividade. Estes elementos respondem à pergunta sobre o contraste entre o dinamismo das indústrias finais dos derivados, e a situação de fragilidade dos pro-dutores de mamona.

A entrada de novos atores: o mercado da mamona depois do PNPB

A entrada de novos atores econômicos liga-dos ao mercado de biodiesel começou em 2003, quando a Brasil Ecodiesel iniciou os contatos com os produtores. Naquele ano, era instituído o PNPB e seus principais mecanismos de funcionamento: o percentual progressivo e garantido de mistura do biodiesel ao diesel de petróleo; o Selo Combus-tível Social (SCS) e seus incentivos como princi-pal mecanismo de favorecimento à compra de ma-téria-prima de agricultores familiares; e os leilões de compra como forma de organizar o suprimento de biodiesel.

A integração de agricultores nesta cadeia, conforme o previsto nas normas, prosseguiria com a venda da matéria-prima

pelos agricultores (a preços previamente acordados), vinculada ao fornecimen-to, pelas empresas, de ser-viços de assistência técni-ca. O desenrolar do proces-so, entretanto, não se deu como o esperado. De for-ma geral, as aquisições de mamona para biodiesel fi-caram muito abaixo do es-perado, como é conhecido. Os novos atores econômicos atuando no

mercado desde a instituição do PNPB são as em-presas de biodiesel – com destaque, num primei-ro momento, para a Brasil Ecodiesel (BED) e, mais recentemente, para a Petrobras Biocombustíveis (PBio) – e seus técnicos diretamente contratados, e as cooperativas, que fazem a intermediação das relações entre os agricultores e as empresas de biodiesel, realizando aquisições e prestando assis-tência técnica.

O desenho a seguir procura esquematizar as mudanças que estes agentes produziram nas estruturas de funcionamento do mercado da mamona. Parte dos agricultores, que antes comercializavam seu produto através dos mecanis-mos tradicionais, passou a fornecer para as coope-rativas ou para as empresas diretamente. A assis-tência técnica, que é a contrapartida prevista nos contratos de biodiesel, passou a ser realizada por cooperativas conveniadas com as empresas ou por técnicos diretamente contratados pelas empresas. A aquisição de mamona feita pelas empre-sas de biodiesel originou uma concorrência inédi-ta, fazendo o preço subir a partir de 2006. Em 2007, a BED fez o cadastramento de agricultores, mas de forma apressada e sem critérios bem estabelecidos, o que se revelou pouco efetivo em termos de fidelização e de produção.

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sem qualificação, também contratados às pressas. Naquele ano, a empresa não conseguiu comprar mamona, porque a concorrência local, em reação, ofereceu preço melhor e foi mais ágil no momento das transações. Como resultado, nenhum dos agri-cultores cadastrados manteve completamente o contrato com a BED.

No início de 2009, na Bahia, a PBio se fazia mais presente do que a Brasil Ecodiesel. Nas áreas visitadas no Ceará, ao contrário, a presença desta ainda se mostrava mais consolidada e estável, mas com grande expectativa com a recente entrada da Petrobras. Em 2010, a atuação destas empresas se valia, por um lado, de um aprendizado acumula-do nos três anos anteriores e, por outro, deparava-se com resistências e com o descrédito herdado dos equívocos ocorridos no período anterior, quan-do a BED era sinônimo de biodiesel na região.

Nas áreas visitadas, foi possível compreen-der como, concretamente, operava a concorrência entre os compradores do mercado tradicional e os agentes do mercado de biodiesel: além dos contra-tos e da assistência técnica – que seriam os princi-pais instrumentos para fidelizar o agricultor – no momento da venda, a cooperativa paga o preço de mercado sem descontar as impurezas ou a sacaria utilizada, descontos estes praticados nos canais tradicionais e, muitas vezes, traz a máquina para debulha do grão até a propriedade, poupando tra-balho ao agricultor.

Ainda assim, muitos agricultores, mesmo cadastrados pelas empresas de biodiesel, manti-veram as vendas para o atravessador, quando este ofereceu preço mais alto. Um dos trunfos destes comerciantes é a reciprocidade que se cria com as transações recorrentes ano após ano, com a prática dos pequenos favores e com os adiantamentos em dinheiro aos agricultores. Mas pesa, também, a agilidade na transação, pois dispõem das informa-ções sobre a produção – valendo-se de uma estru-tura ramificada e enraizada no território – e o fato de pagarem em dinheiro vivo no momento do re-colhimento, ao passo que os pagamentos feitos pelas empresas de biodiesel tinham um prazo para se efetivar. É importante ressaltar, ainda, que

sem-pre houve alguma ambiguidade nas relações entre o mercado tradicional (organizado pelos atravessadores) e o mercado de biodiesel, compor-tando uma dose de concorrência e outra de complementaridade. Desde os primeiros anos, ocor-reram compras das empresas de biodiesel junto aos comerciantes locais, em função das dificuldades de adquirir quantidades suficientes diretamente dos produtores. Nos anos mais recentes, diante do fo-mento às cooperativas da agricultura familiar por parte da PBio, os comerciantes locais, para mante-rem sua fatia de comercialização para o mercado de biodiesel, também formalizaram cooperativas.10

Desta forma, as duas estruturas operam concomitantemente no mercado da mamona. O mercado tradicional se mostra ainda vigoroso o suficiente para manter em funcionamento as ve-lhas estruturas, que envolvem, principalmente, os agricultores mais precarizados que, nessa condi-ção, não conseguem abrir mão dos adiantamentos e favores. O segmento organizado pelas empresas de biodiesel, com a Petrobras hoje à frente, conse-gue, por sua vez, envolver, sobretudo, os agricul-tores já organizados em sindicatos e cooperativas. Dados obtidos em campo, no primeiro se-mestre de 2010, mostram que a entrada da PBio no mercado vem corroborando as expectativas iniciais de ampliar as bases dos contratos de biodiesel no mercado da mamona. As cooperativas vêm se capi-talizando progressivamente e começam a esboçar alternativas para fazer frente aos mecanismos de fidelização utilizados pelos comerciantes tradicio-nais: maior agilidade na compra e adiantamento em dinheiro para necessidades imediatas, sob a forma de compras antecipadas. Gradativamente, o lastro oferecido pela PBio também confere maior confiabilidade em relação às cooperativas a ela vin-culadas. O número de agricultores mobilizados por essas cooperativas também aumenta significativa-mente, embora em números absolutos ainda se trate de um universo relativamente pequeno. Finalmen-te, o número e a qualidade da assistência técnica

10 Vide, por exemplo, o site http://www.copemai.com.br/,

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também passam por um incremento, importante em termos evolutivos, embora tímido em termos absolutos.

Por outro lado, vale ressaltar uma informação recente de que o principal atravessador de Irecê criou uma cooperativa para continuar comercializando com as empresas de biodiesel, o que revela a versatilida-de das estratégias dos atores tradicionais para man-terem sua força no mercado.

Mesmo não tendo atingido as metas em re-lação à integração de agricultores familiares no Nordeste, nem tendo atingido as expectativas rela-tivas à composição do rol de matérias- primas uti-lizadas no biodiesel, pode-se dizer que o PNPB desencadeou algumas mudanças importantes no mercado. Para os agricultores, destacam-se alguns elementos inéditos: (a) a criação de uma nova op-ção de comercializaop-ção, diversificando minimamen-te aquilo que, anminimamen-tes, se restringia aos comercianminimamen-tes locais; (b) o agricultor passou a receber assistência técnica, ainda que muito precária e incerta; (c) e os contratos monitorados pelas organizações dos agri-cultores foram introduzidos, o que pode permitir maior estabilidade e proteção contra variações de preços. Junto a isso, a entrada das empresas de biodiesel foi acompanhada de uma razoável recu-peração nos preços pagos aos produtores, um fe-nômeno que não pode ser atribuído, com seguran-ça, somente à maior concorrência, mas que foi, certamente, influenciado por isso.

Não se trata, a rigor, de um novo mercado, posto que existe uma convivência entre duas es-truturas paralelas – em 2010, a estrutura tradicio-nal era ainda muito maior do que a estrutura mon-tada para a produção do biodiesel. Mas é inegável que novas bases foram lançadas. Bases cuja longevidade e alcance esbarram em alguns cons-trangimentos: (a) a precariedade dos agricultores e sua dependência dos canais tradicionais de comercialização, restringindo uma mudança ain-da maior nas regras de troca; (b) a baixa produtivi-dade e o alto custo da matéria-prima para as in-dústrias de biodiesel; (c) e a fragilidade das estru-turas de governança criadas para melhorar essas condições de competitividade e viabilizar o

merca-do, com grandes dificuldades no campo da assis-tência técnica e da capitalização dos agricultores. Vê-se que as limitações quantitativas dos resulta-dos do PNPB no Nordeste, em termos resulta-dos contra-tos de biodiesel e de produção de mamona, estão diretamente relacionadas às estruturas que carac-terizam este mercado, e que os elementos que con-formam esta estrutura estão concatenados entre si.

CONCLUSÕES

O objetivo principal da análise era saber se, com a experiência recente do PNPB, estavam sen-do modificadas as bases de funcionamento sen-do tra-dicional mercado da mamona. O estudo realizado no Semiárido permitiu lançar um olhar aprofundado sobre os avanços e as permanências e, sobretudo, entender os fatores que barram as mudanças mais amplas.

Pode-se dizer que as mudanças institucionais promovidas pelo PNPB na produção de oleagino-sas no Semiárido geraram ganhos aos agricultores que participam do mercado de biodiesel, particu-larmente em função da concorrência (inédita) pela mamona, que fez elevar os patamares de preço desta matéria-prima.

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de suas estratégias de aquisição e preços.

O outro aspecto novo, relativo às regras de troca no mercado da mamona, diz respeito às for-mas pelas quais se define quem comercializa com quem. Os mecanismos de fidelização do fornece-dor no mercado convencional repousam, basica-mente, no constante endividamento econômico e moral dos agricultores em relação aos comercian-tes. O mercado de biodiesel introduz um novo mecanismo de fidelização, que consiste no contra-to, com previsão dos serviços e insumos que pre-cedem a colheita e com regras para definição do preço a ser pago na entrega do produto. Nesse caso, trata-se, também, de uma mudança parcial, que não atinge todos os produtores, mas que coloca no horizonte dos atores uma nova possibilidade ou uma nova referência em termos de organização produtiva e comercial. Assim, é possível afirmar que as regras de troca deixaram de ser ditadas, ex-clusivamente, pelo grupo de atravessadores locais e regionais, e passaram a incorporar novas deman-das e estratégias alavancademan-das a partir do PNPB.

Em relação às formas de governança pre-sentes no mercado da mamona no Semiárido, há uma ambivalência nos seguintes termos: inaugu-ra-se uma forma de governança radicalmente nova no contexto analisado, se comparada às práticas tradicionais. O mercado da mamona, que se orga-nizava com base em um único canal de comercialização do produto – afunilado, na oferta, pela concentração nos poucos grandes cerealistas regionais, e, na demanda, pelas poucas empresas do segmento da indústria ricinoquímica – passa a experimentar, com a formação do mercado de biodiesel, impulsionado pelo PNPB, uma mudan-ça significativa, ainda que quantitativamente res-trita. Além da diversificação das opções de venda da matéria-prima, a entrada em cena de empresas como a BED e a PBio trouxe novas bases contratuais para o mercado, com a possibilidade – inédita – de acessar serviços como a assistência técnica, com a garantia de preço e com o monitoramento dos contratos por organizações de representação. Por isso, a mudança não se restringe a uma simples transferência da mesma relação de dependência

para com outros agentes econômicos.

Por outro lado, as formas tradicionais de governança permanecem dominantes, o que é cla-ramente indicado pelo fato de a indústria ricinoquímica permanecer a principal comprado-ra de mamona. Mesmo que se vislumbre o poten-cial de multiplicação dos contratos para biodiesel, as formas de governança inauguradas no novo mercado não são, ainda, suficientes para transpor amarras tradicionais que envolvem: a necessidade de antecipação da venda no mercado local (“ven-da na folha”), como forma de obter adiantamentos em dinheiro; os fortes laços sociais nos quais es-tão imersas estas transações; e a agilidade das for-mas tradicionais de financiamento, que reforçam a fidelização e as relações de dependência.

Além da relação de compra e venda, e para além da esfera local, os esforços, no sentido de prover a agricultura familiar com serviços de as-sistência técnica, podem ser vistos como ensaios de novas formas de governança, que envolvem instituições públicas de apoio. Os resultados, en-tretanto, são ainda muito tímidos. O caráter parci-al da mudança experimentada nas formas de governança não diz respeito, portanto, somente ao número de agricultores afetados, mas, também, ao fato de que, até aqui, atingem, apenas, uma parte das estruturas sociais do mercado.

No que tange aos direitos de propriedade, há uma mudança qualitativamente significativa: a partir do PNPB, a condição de agricultor familiar passa a ser definidora de direitos de propriedade, já que se determinam condições de compra que possibilitam que este segmento capture ganhos que antes eram apropriados pelos atravessadores lo-cais. Por outro lado, em função do alcance restrito destes novos mecanismos de compra a uma pe-quena parcela da agricultura familiar, esta mudan-ça é mais um potencial cuja efetividade dependerá da consecução do conjunto de ações em curso. Isso significa que o contraste entre o caráter desconcentrado da produção e a apropriação alta-mente concentrada de lucros nas regiões produto-ras permanece como estrutura geral.

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ra, que marginaliza grande parte dos agricultores, e o conflito entre o uso da terra para pecuária ou para cultivo da mamona configuram, também, blo-queios não só à expansão da cultura, mas à possi-bilidade de auferir ganhos com o produto.

Finalmente, em relação às concepções de con-trole – que, conforme a abordagem político-cultural dos mercados, diz respeito à maneira como os ato-res usam os recursos de que dispõem e como orga-nizam, internamente, a produção e as relações de trabalho – não foram identificadas alterações impor-tantes porque, de modo geral, as estratégias de con-dução das unidades produtivas permanecem estruturadas segundo os mesmos moldes de antes do PNPB. Em função do caráter recente e pontual dos serviços técnicos de apoio à produção, pouca mudança houve até aqui em relação ao emprego de tecnologias e à forma como são manejados os recur-sos naturais envolvidos na produção. Da mesma forma, os ganhos propiciados pelas mudanças re-centes também não afetaram, ainda, as expectativas de alocação de trabalho nas famílias de agricultores. Há um potencial de expansão do número de agricultores com contratos de biodiesel, assim como há um grande potencial de aumento de pro-dutividade. Os investimentos que vêm sendo fei-tos pela PBio são um indicativo de que é razoável esperar um incremento futuro do número de agri-cultores contratados. Contudo, as estratégias de condução da maioria das unidades produtivas ain-da permanecem estruturaain-das segundo os moldes anteriores ao PNPB; a produção da mamona vem aumentando, mas, ainda, a patamares bastante baixos,11 pois os entraves estruturais à produção

não foram alterados; e a maior parte dos produto-res permanece enredada nos mecanismos de fidelização tradicionais.

Tais permanências podem ser compreendi-das, em primeiro lugar, como resultantes dos cons-trangimentos que vão além do que as empresas de biodiesel podem governar, pois têm caráter mais estrutural. Este é o caso, destacadamente, da baixa

disponibilidade de técnicos com boa formação para serem contratados para atuar junto aos agriculto-res. É o caso da escassez de terras no caso do Cea-rá. E é o caso da dificuldade em alocar mão de obra adicional em novas áreas de produção de mamona, tanto no Ceará como na Bahia. Portanto, é possível afirmar que ações implementadas até o momento não têm sido suficientes para alterar as estruturas produtivas no sentido de conferir competitividade e autonomia aos produtores de mamona, de forma que esta produção ganhe um dinamismo condizente com os mercados finais aos quais se destina. É improvável que fossem, consi-derando que elas ocorrem relativamente isoladas de outras iniciativas voltadas para este público específico e se voltam, exclusivamente, à cultura da mamona12 – o queê remete a uma necessidade de

revisão da estratégia mais geral do PNPB que, por-tanto, está além da governabilidade das empresas.

Ao mesmo tempo, é preciso refletir sobre outras duas questões que dizem respeito ao cará-ter da possível expansão dos contratos das empre-sas de biodiesel junto aos agricultores familiares.

A questão quantitativa da disponibilidade de mamona no mercado de biodiesel – que ainda é uma incógnita e depende da superação dos cons-trangimentos discutidos acima – já foi central para a viabilidade do PNPB no Nordeste ou, pelo me-nos, para sustentação do seu conteúdo social. Com as alterações na Instrução Normativa, que regula o SCS, a baixa disponibilidade de matéria-prima deixou de ser um entrave para manutenção do selo, porque passaram a ser contabilizados os diversos gastos com apoio à produção.13 Ao mesmo tempo,

o problema da incompatibilidade entre os preços elevados da mamona e os custos da indústria de biodiesel parece ter sido solucionado pela desvinculação entre aquilo que as empresas

gas-11 Conforme dados da CONAB – Série Histórica. Disponível

em http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1252&t=, consultada em novembro de 2012.

12 A atenção exclusiva à mamona era justificada, nos

pri-meiros anos, em função de ser esta a matéria-prima que seria convertida em biodiesel. Hoje, havendo a desvinculação entre os gastos que empresas efetuam para manutenção do SCS e a conversão da matéria-pri-ma em biodiesel, torna-se matéria-pri-mais difícil justificar esta aten-ção exclusiva a um único cultivo.

13 Ver Instrução Normativa 01 do Ministério do

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tam na “rubrica” SCS e o uso da matéria-prima originada na agricultura familiar na produção de biodiesel. A aceitação da prática de adquirir mamona e destiná-la a outros fins (com seu óleo sendo extraído em estruturas terceirizadas de es-magamento e destinado ao mercado de óleos), por um lado, permite que parte dos recursos do mer-cado de biodiesel seja direcionada para a agricul-tura familiar do Semiárido – como se queria inici-almente – mas gera uma nova incerteza. Por outro lado, altera o caráter dos investimentos e gastos realizados pelas empresas de biodiesel junto aos produtores de mamona: sem a necessidade de ob-ter resultados em ob-termos de produtividade e orga-nização produtiva, eles se tornam quase compen-satórios e, portanto, distantes da estratégia inicial, que era promover uma inserção produtiva da agri-cultura familiar no mercado de biodiesel. O risco é que possíveis reorientações das estratégias das empresas para cumprimento das exigências do SCS redundem em um retrocesso das mudanças obser-vadas no mercado da mamona.

Outro ponto sensível é a concentração da de-manda por mamona para biodiesel no Nordeste (an-tes com a BED, agora com a PBio), o que inibe a formação de processos competitivos, que caracteri-zam mercados em expansão. Mais particularmente, é relevante o fato de, nos últimos anos, a PBio ser, praticamente, a única empresa implementando as ações voltadas para a inclusão dos agricultores po-bres e o fato de sua presença decorrer de uma deci-são política do Governo Federal, com tudo o que isso implica em termos de riscos inerentes às mu-danças nas coalizões políticas em posse do Estado.

A participação da agricultura familiar pobre no dinâmico mercado de energia vislumbrada pelo PNPB, portanto, carece de uma profunda reformulação de seus princípios e suas estratégias.

Recebido para publicação em 04 de janeiro de 2013 Aceito em 26 de março de 2013

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Yumi Kawamura Gonçalves – Doutora em Energia. Pesquisadora na área de Sociologia Econômica na Uni-versidade Federal do ABC, Centro de Ciências Naturais e Humanas, em temas relativos ao planejamento e desenvolvimento territorial, conflitos ambientais, políticas públicas e incentivos para o desenvolvimento rural sustentável. Realiza pesquisa e consultoria para órgãos de governo nos temas mencionados. Publicações recentes: Mobilizing for democracy. 1. ed. London: Zed books, 2010; Redes e estruturas sociais no semi-árido nordestino: desafios do Programa Nacional de Produção e uso de Biodiesel. In: XXXIII Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais, 2009, Caxambu. XXXIII Encontro Anual da ANPOCS, 2009.

Arilson Favareto – Doutor em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo. Professor do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do ABC (UFABC), onde coordena o Bacharelado em Ciências e Humanidades, e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, onde coordena o Núcleo Territórios e Conflitos Socioambientais. Tem realizado pesquisas na área de sociologia econômica e do desenvolvimento. É autor do livro Paradigmas do desenvolvimento rural em questão e de vários artigos sobre agricultura, políticas públicas e desenvolvimento territorial.

Ricardo Abramovay – Doutor em Ciência Econômica. Professor titular do Departamento de Economia da FEA e do Instituto de Relações Internacionais da USP, pesquisador do CNPq e coordenador do Projeto Temático FAPESP sobre Impactos Socioeconômicos das Mudanças Climáticas no Brasil. Publicações recentes: Muito além da economia verde. Ed. Planeta Sustentável, São Paulo, 2012; Desigualdades e limites deveriam estar no centro da Rio + 20. Estudos Avançados, v. 26, p. 21-33, 2012; Urban evolution in Sao Paulo: employment growth and industrial location. Regional Science Policy and Practice, v. 4, p. 447-477, 2012.

SOCIAL STRUCTURES IN THE SEMI-ARID REGION AND THE BIODIESEL MARKET

Yumi Kawamura Gonçalves Arilson Favareto Ricardo Abramovay

This article provides an analysis of the pro-cesses favored by the incentives and investments derived from the National Program for the Production and Use of Biodiesel (PNPB) in the semi-arid region of northeastern Brazil. Due to the importance of castor bean crops in the region and to PNPB’s wager on castor bean oil as an opportunity for family farmers to take part in the biodiesel market, the main goal of this study is to understand the structure and dynamics of the cas-tor bean market, the changes that PNPB’s incenti-ves have brought about, and the possible obstacles to the processes consistent with the program’s social goals. The analysis has shown that current actions have not been enough to alter the social structures linked to poverty and to poor farmers’ dependence, and also that business dynamics mean significant uncertainties regarding the continuity of current processes.

KEY WORDS: Biodiesel. Semi-arid. Family farming.

Castor beans. Economic sociology.

STRUCTURES SOCIALES DANS LA RÉGION SEMI ARIDE ET LE MARCHÉ DU BIODIESEL

Yumi Kawamura Gonçalves Arilson Favareto Ricardo Abramovay

Le travail que nous présentons ici consiste en l’analyse des processus favorisés par les encouragements et les investissements dérivés du Programme National de Production et d’Utilisation de Biodiesel (PNPB) dans la région semi-aride du Nord-est du pays. En raison de l’importance de la production de ricin dans la région et du pari du PNPB que cet oléagineux peut permettre l’inclusion de l’agriculture familiale dans le marché du biodiesel, l’objectif principal de cette étude est de comprendre la structure et la dynamique du marché du ricin, les changements apportés jusqu’à présent en fonction des encouragements du PNPB et les obstacles possibles aux processus liés aux objectifs sociaux du programme. L’analyse a démontré que les actions en cours n’ont pas suffi à modifier les structures sociales associées à la pauvreté et à la dépendance des agriculteurs pauvres et que la dynamique des entreprises fait preuve d’importantes incertitudes quant à la continuité des processus en cours.

MOTS-CLÉS: Biodiesel. Région semi-aride. Agriculture

Referências

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