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Empresas transnacionais e questões ambientais: a abordagem do realismo crítico.

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Academic year: 2017

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RESUMO

Ana Lúcia Guedes

Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas

Fundação Getúlio Vargas-RJ

1 Versão preliminar deste artigo foi apresentada na

conferência New Nature, New Cultures, New Technologies do Re-search Committee on Environment and Society da International Socio-logical Association, realizada em Cambridge, Inglaterra, de 5 a 7 de julho de 2001. A autora agradece os comentários dos pareceristas anônimos da Revista de Sociologia e Política.

2 Políticas ambientais corporativas são conceituadas aqui

como amplos princípios declarando as decisões estratégicas das empresas em relação ao gerenciamento dos seus impactos ambientais.

EMPRESAS TRANSNACIONAIS E

QUESTÕES AMBIENTAIS:

A ABORDAGEM DO REALISMO CRÍTICO

1

Este artigo relata resultados de uma pesquisa, baseada em premissas empiricistas e positivistas, que investigou os discursos e práticas ambientais de empresas transnacionais (ETNs) no Brasil. Na conclusão da pesquisa original tornou-se claro que o uso de teoria crítica teria possibilitado melhor entendimento das práticas ambientais de ETNs. Dessa forma, demonstra-se, com base nos dados obtidos na pesquisa de campo realizada no Brasil, que o realismo crítico é uma abordagem mais útil para explicar as práticas ambientais de ETNs em países em desenvolvimento. Ao final, a autora sugere que análises baseadas em abordagens realistas são necessárias, visto que as ETNs são os principais responsáveis pela geração e disseminação de conhecimento gerencial e tecnológico relacionado às questões ambientais em inúmeros setores industriais.

PALAVRAS-CHAVE: empresas transnacionais; questões ambientais; teorias de Relações Internacionais; realismo crítico.

I. INTRODUÇÃO

O objetivo da pesquisa original (GUEDES, 1998) era investigar, com o auxílio de uma abordagem interdisciplinar, por que e como as empresas trans-nacionais (ETNs) adotam e implementam políticas ambientais nas suas subsidiárias em um dado país em desenvolvimento. Seguindo premissas empi-ricistas e positivistas, a revisão da literatura sobre políticas e práticas ambientais2 corporativas foi

rea-lizada antes da pesquisa de campo no Brasil. Essa revisão resultou em referencial analítico baseado em um conjunto de variáveis, que foram organizadas em quatro níveis de análise: (a) internacional, (b) nacional, (c) industrial e (d) organizacional. A decisão de realizar uma investigação com múltiplos

níveis de análise resultou no desenvolvimento de uma abordagem interdisciplinar.

A pesquisa de campo foi iniciada em 1996 e to-talizou aproximadamente 40 horas de contato direto com gerentes, nos níveis da matriz e das subsidiá-rias, de oito empresas selecionadas3. O desenho

original da amostra baseava-se em estratificação entre contextos nacionais (incluindo EUA, Inglater-ra e Alemanha) e setores industriais (incluindo quí-mico, farmacêutico, produtos de limpeza e higiene, e fumo).

A coleta de dados primários e secundários guiu três fases: primeiro, nos países de origem; se-gundo, nas subsidiárias brasileiras, e, terceiro, em agências ambientais governamentais, associações industriais e organizações não-governamentais (ONGs) ambientais no Brasil. Nessas fases, a coleta de dados primários foi feita por meio de entrevistas diretas semi-estruturadas. Nas empresas, os entre-vistados eram os responsáveis, nos níveis corpora-tivo e operacional, pelo gerenciamento ambiental.

3 As empresas selecionadas foram: DuPont, Basf, Zeneca,

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O roteiro de entrevista foi enviado com antece-dência objetivando a familiarização pelos entrevistados. No entanto, um aspecto peculiar surgiu: os entrevistados somente liam os roteiros no início dos encontros, o que acabou sendo evi-dência de uma característica comum de gerentes brasileiros. Ao contrário do comportamento disci-plinado dos gerentes britânicos, a forma mais con-fiável de contatar gerentes brasileiros era pessoal-mente ou por telefone. Isso ampliou os proce-dimentos da pesquisa de campo ao mesmo tempo em que, inesperadamente, forçou o desenvolvimen-to de uma postura menos positivista em geral e o interesse pela epistemologia do realismo crítico (BHASKAR, 1975). A coleta e análise dos dados concentrou-se principalmente na triangulação de fontes de dados e método (MILES & HUBERMAN, 1994) e por essa razão durante esta fase várias fontes foram contatadas no Brasil e na Inglaterra.

A pesquisa de campo no Brasil, que havia sido considerada arriscada e demandante de tempo pelos orientadores, foi executada em quatro meses e foi também surpreendentemente interessante. As entrevistas com gerentes brasileiros foram mais longas e o acesso a outras fontes de evidência foi facilitado por acadêmicos, políticos, funcionários públicos e relatos não gravados dos gerentes. Ape-sar do volume e qualidade dos dados coletados durante a pesquisa de campo no Brasil a coleta de dados quantitativos adicionais foi solicitada pelo orientador. Nesse estágio questionou-se se ge-rentes de subsidiárias em países em desenvolvi-mento eram fontes confiáveis de evidência, apesar de todos os outros desafios para a condução de pesquisa internacional (USUNIER, 1996).

Quando se iniciou a pesquisa original, havia al-gumas evidências de que uma abordagem episte-mológica distinta do positivismo poderia desafiar alguns aspectos centrais da literatura focada em questões ambientais e ETNs. Existem algumas questões — como, por exemplo, a ausência de valores compartilhados e a filosofia gerencial para questões ambientais — que são relevantes para o entendimento da efetividade das políticas ambien-tais corporativas em países em desenvolvimento. O gerenciamento não é destituído de cultura e valo-res; por isso, é necessário levá-los em considera-ção. Adicionalmente, é relevante notar a existência de vasta quantidade de estudos normativos e pres-critivos na literatura sobre negócios e gestão (co-mo, por exemplo, SCHMIDHEINY, 1992; BENNETT, FREIERMAN & GEORGE, 1993;

DESIMONE & POPOFF, 1997), que fornecem várias abordagens para pesquisas sobre gerencia-mento ambiental, todas tendo em comum a definição “objetiva” de padrões de comportamento baseados em desempenho ambiental.

Mais especificamente, existe evidência de que as ETNs, nos níveis das matrizes e das subsidiá-rias, têm exagerado na prestação de contas das suas melhorias ambientais em países em desenvolvimen-to, com a exploração de dados agregados nos rela-tórios ambientais. Adicionalmente, a contradição entre comprometimento retórico, sem o efetivo com-prometimento do alto escalão gerencial, e pressões de curto prazo, particularmente por desempenho financeiro, permanece sem solução nas subsidiárias. A pesquisa original estava constrangida pelo princípio, positivista, de que a prática científica não deve validar julgamentos de valor. Conseqüente-mente, proposições teóricas foram desenvolvidas de acordo com a regra de lógica formal de cons-trução de hipóteses antes da fase empírica. Apesar desse rigor metodológico, em termos práticos a investigação baseava-se em premissas de valor quando os textos científicos foram selecionados (MILES & HUBERMAN, 1994, p. 04-08). Esse aspecto baseia-se na tradição weberiana que afirma que uma teoria social satisfatória deve levar em consideração tanto os significados quanto as causas do fenômeno social (SKINNER, 1985, p. 06). De fato, o cientista social “não vai para o campo como uma tabula rasa e retorna com um relato”

(Outhwaite apud SKINNER, 1985, p. 29) do que

provavelmente é o desempenho gerencial de uma “subsidiária brasileira”.

Em termos metodológicos, é relevante notar que a pesquisadora era duplamente insider - como

brasileira e como entrevistadora. Alguns autores (EISENHARDT, 1989; YIN, 1994) afirmam que o conhecimento do insider sobre como o contexto

opera tende a ser útil durante a coleta de dados. Essa proposição foi confirmada quando a coleta dos dados e o refinamento do projeto da pesquisa foram, simultaneamente, realizados. No entanto, ser um insider durante a análise dos dados pode ser

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dos dados que parecem somente visíveis aos in-siders4.

Segundo a literatura sobre estudo de caso (EISENHARDT, 1989; RAGIN & BECKER, 1992; YIN, 1994), os dados coletados deveriam levar em consideração aspectos peculiares da amostra, como a cultura local. Isso deveria ser tratado como um aspecto central, visto que o projeto de pesquisa previa pesquisa comparativa (OYEN, 1992). No entanto, houve dificuldade para convencer os orientadores de que os gerentes das subsidiárias seriam a principal fonte de dados primários na investigação da implementação de políticas ambientais corporativas. Isso não combinava com as altas expectativas de acadêmicos culturalmente enraizados na área de relações internacionais. Em outras palavras, os principais outsiders de

inter-esse para o projeto de pesquisa original, especifi-camente os orientadores no Reino Unido, desa-fiaram a tarefa analítica porque os padrões de comportamento identificados nas subsidiárias brasileiras não podiam ser generalizados analiti-camente.

Ao final da execução do projeto de pesquisa, os desafios, mencionados acima, resultaram no questionamento de vários pontos relacionados com a prática de pesquisa em relações internacionais, como segue: (a) a autoridade do pesquisador para analisar e tirar conclusões dos dados em estudos comparativos, visto que o relato final usualmente exclui a descrição dos estudos de caso (de acordo com Stake (1994), essa descrição poderia permitir ao leitor aprender diretamente dos casos); (b) a extensão pela qual a assimetria das relações de poder entre países desenvolvidos e em desenvolvi-mento (chamada por alguns teóricos de relações Norte-Sul) é ainda central para investigações que sigam um modelo de pesquisa similar, e (c) a tarefa de tradução do significado mobilizado pelos gerentes de subsidiárias no Brasil frente às teorias que abordam ETNs, de modo acrítico, como meras “firmas”.

Finalmente, cabe mencionar que os desafios da pesquisa original tornaram ainda mais claro que o uso de teoria crítica teria possibilitado melhor entendimento das práticas ambientais de ETNs no Brasil. Dessa forma, o objetivo do presente artigo é demonstrar, com base nos dados obtidos na pes-quisa de campo realizada no Brasil, que o realismo crítico é uma abordagem mais útil para explicar as práticas ambientais de ETNs em países em desenvolvimento.

II. REVISÃO DE LITERATURA

II.1. A abordagem do realismo crítico

O realismo crítico5 é uma versão do realismo,

largamente decorrente do trabalho de dois filósofos da ciência social contemporâneos: Roy Bhaskar (1975) e Rom Harré (HARRÉ & SECORD, 1972). A crescente influência desta abordagem resultou em um compendio organizado por Archer et alii

(1998)6.

O realismo crítico7, entendido como

epistemolo-gia alternativa, baseia-se em três argumentos bási-cos. Primeiro, a realidade a que as teorias científicas primariamente objetivam referir-se é constituída pelas estruturas e mecanismos do mundo, ao invés de eventos empíricos. As estruturas são definidas como conjunto de objetos internamente relacio-nados e os mecanismos, como formas de agir (ver SAYER, 1992). Os objetos estão internamente rela-cionados em uma estrutura no sentido de que sua identidade depende da relação deles com outros componentes da estrutura. Segundo, as estruturas e os mecanismos subjacentes são apenas contin-gentemente relacionados a eventos empíricos observáveis. Terceiro, o conhecimento científico

4 Esse aspecto pode ser ilustrado pela linguagem corporal e

pistas verbais, valores compartilhados, informação não-gravada contradizendo as evidências anteriores, acesso à burocracia pública e, finalmente e talvez mais importante, a narrativa impregnada pelo contexto (THOMPSON, 1981). Esse último aspecto significa um “realismo mágico” (ANGULO, 1995) no contexto latino-americano, isto é, a narrativa dos entrevistados é usualmente permeada por esse estilo literário.

5 Ver Hamlin (2000) sobre as implicações da adoção de tal

abordagem na prática da pesquisa social, especialmente na Sociologia.

6 A revisão de literatura feita nesta seção deriva dessa fonte.

A abordagem crítica sugerida no presente artigo não deve ser confundida com a teoria crítica de inspiração marxista (ver LINKLATER, 1996) nem com a teoria crítica pós-moderna (ver BROWN, 1994).

7 O realismo crítico tem sido adotado pela área de relações

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da realidade social nunca é desprovido de erros, embora ainda seja possível obter conhecimento por meio da construção criativa e teste crítico de teorias. Os realistas críticos argumentam que a desco-berta não é um conceito neutro ou “natural” (ver ARCHER, 1995, p. 16). Eles argumentam que a natureza do que existe, ou do que supostamente existe, não pode ser desvinculada de como ela é estudada. Uma questão central é que pesquisa-dores em geral não elaboram a respeito da impor-tância dos conceitos usados para descrever a realidade nos seus relatos. É provável, então, que os significados de ações e eventos observáveis sejam dados por pesquisadores ao invés de pelos próprios praticantes. Isso reproduz a chamada crise de representação em pesquisa social (DENZIN, 1994, p. 503).

Dessa forma, este artigo concorda com o argumento de que os conceitos não devem receber significados pelo papel que possuem em um dado referencial teórico porque isso significa que as teorias precedem a observação (CHALMERS, 1982, p. 27; STAKE, 1994). Além disso, concorda com o argumento de que “os resultados de pesquisa so-cial científica possuem potenso-cial para influenciar os próprios objetos de investigação” (LAWSON, 1998, p. 145). Embora reconheçamos que os experimentos em ambientes sociais não possuem as mesmas características de “controle” como nos ambientes naturais, o realismo crítico sustenta que a investigação deve começar pela perspectiva dos agentes. O principal argumento é que as “estruturas sociais, diferentemente das estruturas naturais, não existem independentemente da concepção dos agentes do que eles estão fazendo em suas atividades” (BHASKAR, 1989, p. 38).

Por essa razão o significado mobilizado pelos gerentes de subsidiárias no Brasil e a correspon-dente difícil tarefa de tradução foram considerados como problemas metodológicos a serem solu-cionados pelo pesquisador na prática da pesquisa. Essa posição reflete de fato um problema crucial em pesquisa social: de uma forma ou de outra a relação entre pesquisador, pesquisa e pesquisado é permeada por motivos políticos e ideológicos (BLAIKIE, 1993, p. 210-215).

II.2. Empresas transnacionais e questões ambien-tais

Nos anos 1980, a ocorrência de alguns acidentes gerou uma forte resposta em termos de preocupação

ambiental. Miller (1995, p. 37) afirma que as ETNs “lançaram uma campanha de relações pública que adotava a linguagem do movimento ambientalista”. Mais surpreendente, no entanto, eram as alegações das ETNs de estarem ajudando os países em desenvolvimento a alcançar o desenvolvimento sustentável. Miller (idem, p. 35-36) enfatiza que as

ETNs são um dos principais atores ambientais; por isso, elas podem influenciar a adoção e o cumprimento de regulação ambiental em países em desenvolvimento como resultados de negociações para atrair novos investimentos diretos estran-geiros.

Em 1992, o Brasil foi sede da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvol-vimento (chamada de ECO-92); todavia, persistiram neste evento distintas agendas entre os países industrializados (focada na destruição da camada de ozônio, no aquecimento global, na chuva ácida e no desflorestamento) e os países em desenvolvi-mento (enfatizando as ligações entre proteção ambiental e desenvolvimento econômico). A novi-dade dessa Conferência, se comparada com a Conferência das Nações Unidades sobre Ambiente Humano realizada em Estocolmo em 1972, foi o gran-de número gran-de representantes gran-de organizações não-governamentais, de representantes das ETNs8 e a

ampla cobertura da mídia (idem, p. 9).

É possível identificar o envolvimento de múlti-plos atores (como por exemplo, organizações inter-nacionais intergovernamentais, estados, ONGs e ETNs) na política ambiental internacional nos anos de 1990. Entretanto, Keohane e Nye (1989, p. 4) já haviam indicado, na década de 1970, a importân-cia da multidimensionalidade econômica, soimportân-cial e ambiental da interdependência. Os autores também argumentavam a respeito da necessidade de coordenação política internacional para questões ambientais, apesar de sugerirem que a cooperação nessas questões seria difícil. Uma das condições da interdependência complexa apresentada por eles são os múltiplos canais de contato entre as sociedades; nesse caso, as ETNs são relevantes tanto como atores independentes quanto como instrumentos influenciados pelos governos.

Hurrell e Kingsbury (1992, p. 10) ressaltam que os estados não são os únicos atores

impor-8 Ver Bruno (1992) para uma visão crítica do papel das

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tantes na política ambiental internacional. No entanto, indicam que o gerenciamento ambiental global demanda altos níveis de cooperação e coordenação política entre os estados. Por isso, implica um desafio politicamente sensível “porque envolve a criação de regras e instituições que incorporem noções de responsabilidades e deveres compartilhados” (idem, p. 6). Além disso, existem

implicações, em termos de reformas, para o nível doméstico, elevando a conscientização ambiental e mudando as atitudes e estilos de vida dos indiví-duos (idem, p. 9).

É também relevante mencionar que a difusão do “pensamento verde” disseminada pelos meios de comunicação globais resulta das ações de ONGs ambientais. Miller (1995) indica que a maioria das ONGs ambientais localiza-se em países industria-lizados, mas o número de tais ONGs nos países em desenvolvimento tem crescido. Apesar do fato de que essas ONGs ainda não alcançaram a influência internacional daquelas originárias dos países industrializados, elas têm sido capazes de influen-ciar as políticas domésticas e as decisões gover-namentais na política ambiental internacional.

De maneira similar, o estudo de Princen e Finger (1994) ilustra como as ONGs expandiram-se nos países em desenvolvimento desde o início da década de 1980, incluindo um amplo conjunto de interesses, tais como direitos ambientais, humanos e das mulheres. O combate ao desflorestamento da Amazônia é um bom exemplo do relevante papel desempenhado por grupos transnacionais de ecologistas e ativistas na pressão internacional exercida sobre o governo brasileiro.

Adicionalmente, Miller (1995, p. 11) afirma que devido à crescente interdependência econômica e ecológica, organizações internacionais e ONGs têm sido cruciais na integração de países em desenvol-vimento ao sistema mundial. No entanto, os interesses das organizações internacionais e ONGs são provavelmente mais consistentes com a agenda dos países industrializados do que com a agenda dos países em desenvolvimento. Considerando especificamente ONGs ambientais, Princen e Fin-ger (1994) afirmam que as suas atividades são freqüentemente focadas em problemas ambientais específicos (tais como o uso de pesticidas ou a degradação de ecossistemas, como, por exemplo, florestas tropicais ou áreas geográficas como a Antártida e o Mar do Norte) com o propósito de manter limites viáveis de atuação.

Mais especificamente, com relação às práticas ambientais de ETNs, um estudo da United Nations Transnational Corporation Management Division

(UNTCMD, 1993) confirmou a importância do contexto de origem das ETNs. O estudo indicou que “o contexto legal do país de origem da corporação explica as variações entre regiões [neste caso entre Europa, América do Norte e Ásia] em termos de práticas de gerenciamento ambiental, de saúde ocupacional e de segurança”. Cabe destacar que tais regulamentações aplicam-se aos contextos nacionais específicos. Isso significa que as políticas ambientais dos países de origem não devem ter nenhum tipo de efeito coercitivo no contexto do país de operação. Gladwin (1987, p. 23) afirmou que qualquer tentativa dos países de origem das ETNs de estender as regulamentações ambientais extra-territorialmente era baixa devido a problemas diplomáticos. Por outro lado, apesar das críticas quanto à imitação, países em desenvolvimento9

formularam políticas ambientais10 com base nas

experiências dos países industrializados.

De qualquer forma, as políticas regulatórias dos países de origem das ETNs estão indiretamente presentes nos países de operação. A pesquisa da UNTCMD (1993, p. 93) encontrou evidências de que as práticas ambientais, de saúde ocupacional e de segurança das ETNs em países em desenvolvi-mento refletem as do país de origem da empresa. Birdsall e Wheeler (1993, p. 137) indicam que a liberalização do comércio e o aumento de investi-mentos estrangeiros na América Latina não têm sido associados ao desenvolvimento de indústrias intensivas em poluição. No entanto, a extraterritoria-lidade de padrões ocorrerá porque a forma mais barata, para as ETNs, de evitar a ameaça de futuras

9 Por exemplo, Monosowski (1989) critica a política ambiental

brasileira adotada no final da década de 1970 pela ausência de estudos prévios para identificar as características dos ecossistemas locais e a importação de padrões americanos (para emissões de poluentes industriais).

10 O relatório da United Nations Centre of Transnational

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regulamentações é adotar os padrões que preva-lecem nos países de origem11.

Dryzek (1997, p. 138) reconhece que na década de 1970 “a maioria das inovações em políticas ambientais foram feitas nos países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos, e depois copiados nos demais países”. Uma diferença cru-cial, entre os Estados Unidos e o Reino Unido, é o acesso público a informação das autoridades ambientais. Na Inglaterra esse direito não é automático, visto que a execução da política é feita por meio de consultas seletivas com as partes interessadas. Ao contrário, nos EUA a informação tem estado disponível para o público desde 1966 (O’RIORDAN, 1981). Similarmente, Friends of the Earth (1992) reconhecem que o “princípio do direito de saber” do público não faz parte das políticas ambientais na Europa. Esse relatório sugere que empresas européias seguem tal prática nas subsidiárias nos EUA — onde a divulgação de informações é uma exigência legal —, mas não na Europa.

O relatório do United Nations Environmental

Program (UNEP AND SUSTAINABILITY, 1994, p.

24) afirma que a cobertura geográfica dos relatórios ambientais das ETNs tem-se limitado ao país de origem. A pesquisa do UNEP encontrou duas abordagens distintas de relatório corporativo ambiental, chamados simplificadamente de modelos “anglo-saxão” e “Reno”. O modelo anglo-saxão, seguido pela maioria das empresas norte-america-nas e britânicas, “possui no seu núcleo uma de-claração de política ambiental, descrição de práticas gerenciais e um inventário de emissões”. Ao con-trário, o modelo Reno, seguido por várias empresas escandinavas e alemãs, “é baseado no ecobalanço de entradas e saídas ambientais ao longo do ciclo de vida” dos processos produtivos (idem, p. 28).

A plausibilidade da futura convergência de abordagens entre os dois modelos é, no entanto, constrangida por estilos gerenciais que refletem aspectos sócio-políticos e culturais. O caso ame-ricano é muito ilustrativo porque a introdução de requerimentos legais de divulgação (como o Toxic Release Inventory e aqueles da Securities and

Exchange Commission) formam o contexto em

que as empresas têm desenvolvido os próprios pro-gramas voluntários de relatórios ambientais (idem, p. 62). Da mesma forma, a União Européia

adotou (em 1993) uma regulamentação sobre gerenciamento ambiental e sistemas de auditoria, elaborados para encorajar as empresas a avaliarem voluntariamente suas operações em cada unidade produtiva e divulgarem um relatório ao público.

Existe amplo reconhecimento de que as ETNs não incorporaram voluntariamente (na ausência de pressões externas) questões ambientais (ver UNTCMD, 1993). Entretanto, é possível sugerir que ações voluntárias podem legitimar os interesses das ETNs (ver BODDEWYN, 1988). Em outras palavras, as ETNs podem usar a preocupação ambiental tanto para melhorar sua imagem quanto para explorar oportunidades mercadológicas como os novos negócios em gerenciamento ambiental. Isso decorre do fato de que as preocupações das empresas são de natureza mais instrumental com forte viés de lucratividade no curto prazo.

Gladwin e Walter (1980, p. 428) reconheceram, em estudo pioneiro realizado há mais de vinte anos, que a tradução de problemas ambientais existentes ou previstos em políticas ambientais corretivas ou preventivas dependem fortemente de fatores sociais e políticos. Mais especificamente, preferên-cias sociais são cruciais na definição de como um problema ambiental é percebido, interpretado e visto como prioritário. As mesmas escolhas sociais apli-cam-se à qualidade ambiental, ainda que as socie-dades possam diferir nas suas visões do que é um nível aceitável de qualidade ambiental. Os autores indicam que, com relação às questões ambientais, os principais oponentes das práticas das ETNs são grupos de interesse e autoridades.

Isso porque as estruturas que constrangem as ações das ETNs são usualmente mecanismos legais (como reclamações e processos), instrumentos administrativos (como proibições, interdições e investigações) e comunicação (como manifesta-ções públicas, publicamanifesta-ções e campanhas). O estudo de Gladwin e Walter havia indicado que as ETNs não estavam preparadas para lidar com conflitos, particularmente aqueles associados a grandes cri-ses e acidentes, demonstrando falhas internas e externas de comunicação que intensificaram e perpetuaram conflitos.

No caso da poluição industrial as pressões surgem especificamente de grupos de interesse 11 Garcia-Johnson (2000) enfatiza que, dependendo da visão

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locais (tais como sindicatos, consumidores e ONGs). Esses grupos são as forças influenciando o governo, que possui o poder de intervir nas atividades das empresas, ao formular leis e regu-lamentos para preservar o ambiente.

Na década de 1980, Pearson (1985) reconheceu as fraquezas de agências ambientais em países em desenvolvimento, quando comparados às autoridades locais que lidam com investidores estrangeiros. A explicação dessa fraqueza baseia-se no fato de que as agências ambientais são inadequadas em termos de capacidade técnica e destituídas de poder político. Existem também dificuldades para regulamentar as leis e impor seu cumprimento. É nesse estágio que emergem os problemas com corrupção (idem, p. 78).

Quase uma década depois, Brown et alii (1993,

p. 206) afirmaram que as subsidiárias em países em desenvolvimento apresentam desempenho inferior, devido à menor rigidez legal, quando comparadas às subsidiárias situadas nos países de origem. Os resultados de Pimenta (1987, p. 220) ilustram a relação entre multinacionais e o governo no Brasil. O autor conclui que as multinacionais não são discriminadas por parte da legislação e do governo; respondem rapidamente quando solicitadas a re-solver problemas ambientais e possuem políticas, práticas e técnicos para questões ambientais.

Em resumo, o artigo assume que a legislação do país de operação para o controle da poluição in-dustrial constrange as práticas das subsidiárias por duas razões. Primeiro, as ETNs precisam manter suas operações em funcionamento e a agência ambiental tem o poder de fechar temporariamente as unidades que estejam fora dos padrões. Segundo, as ETNs objetivam manter sua imagem intacta para evitar a emergência de pressões de jornalistas, políticos, ONGs e consumidores.

No entanto, em decorrência da relação com a matriz as subsidiárias podem agir como introdutoras de mudanças (principalmente por meio de práticas gerenciais) no contexto do país de operação (ver ROSENZWEIG & SINGH, 1991). A influência da matriz é baseada na premissa de que as subsidiárias atuam em um ambiente que inclui outras subunidades dentro da organização, o que as torna dependentes de decisões estratégicas centraliza-das. Além disso, os contextos nacionais estão cada vez mais interdependentes, influenciando uns aos outros por meio de vários atores e mecanismos. Nesse caso, as ETNs podem tornar-se agentes de

mudança ou mecanismos pelos quais distintos contextos nacionais chegam a influenciar-se uns aos outros.

Os mecanismos regulatórios nacionais consti-tuem-se em importante força na definição do am-biente organizacional, ao mesmo tempo em que possuem importância variável para diferentes elementos da estrutura e do processo organiza-cionais. Por exemplo, tecnologia e competitividade podem ser afetadas por fatores globais, mas distintas características da nação afetam outros elementos. Ghoshal e Westney (1993, p. 12) afirmam que a multinacional consiste em um número de subsidiárias nacionais, que podem compartilhar algumas características de outros contextos nacio-nais em virtude de interdependências em diferentes aspectos das relações entre organização e ambiente externo.

Devido a tais interdependências, as questões ambientais tornaram-se um aspecto estratégico das atividades das ETNs (FISCHER & SCHOT, 1993; SMITH, 1993). O impacto da questão ambiental nas empresas é alto o bastante para colocar em risco os elementos centrais dos negócios ou para funda-mentalmente alterar a estrutura de custo da empre-sa. Adicionalmente, gerentes têm considerável liberdade de decisão sobre como responder aos desafios ambientais. O relatório da UNTCMD (1993, p. 168) identificou ao menos quatro abordagens distintas de gerenciamento que estão sendo usadas por ETNs (como por exemplo, orientada para cumprimento legal, preventiva, gerenciamento ambiental e gerenciamento do desenvolvimento sustentável).

De fato, Gleckman (1995) afirma que há algum reconhecimento recente dos impactos ambientais por parte das ETNs. No entanto, a preocupação ambiental das ETNs não corresponde às ações, no sentido da integração total de questões ambientais na estratégia de negócio. Em outras palavras, a elevada preocupação ambiental, por meio de declarações retóricas ou mesmo pelo estabeleci-mento de políticas ambientais corporativas, não é seguida de ações ou mudanças de comportamento mediante a implementação das políticas da corporação.

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pesquisa mostrou que havia, no início da década de 1990, grande concentração de formalização de práticas ambientais, de saúde e segurança nos países de origem. Segundo Gladwin (1993, p. 55-56) o foco da vasta maioria das pesquisas sobre “esverdeamento da indústria” é nos países ricos. Entretanto, o gerenciamento ambiental nesses países pode não ser suficiente para garantir um mundo ambiental e socialmente seguro. Existe a necessidade de direcionar oportunidades econô-micas, tecnologia, capital e suprimentos para ser-viços sociais básicos para os países pobres. Por essas razões, as subsidiárias de ETNs tornam-se “um potencial agente de mudança” devido ao escopo global de suas atividades.

No nível organizacional os determinantes mais relevantes de prática e desempenho ambiental, segundo Levy (1995), são comprometimento gerencial e motivação. Isso engloba a inclusão de questões ambientais no planejamento estratégico, nos incentivos pessoais e na alocação formal de responsabilidade para afiliadas. Finalmente, Rappaport e Flaherty (1992) indicaram os fatores que impedem a melhoria das questões ambientais, de saúde e segurança em empresas norte-ame-ricanas, como segue: (a) foco em lucratividade de curto prazo; (b) estrutura gerencial; (c) ausência de pessoal, e (d) ausência de incentivos. Surpreen-dentemente, os resultados sugerem que as barreiras institucionais e gerenciais são maiores que as tec-nológicas.

Em resumo, a literatura focada em ETNs, ambiente e países em desenvolvimento, produzida em sua maioria em países desenvolvidos a partir de 1980, subordina a incorporação de questões ambientais por parte das ETNs às pressões externas das autoridade e dos ambientalistas. Adicional-mente, no nível organizacional, questões insti-tucionais e gerenciais são apontadas como barrei-ras maiores do que aquelas de caráter tecnológico.

II.3. Empresas e questões ambientais no Brasil

A ECO-92 exerceu um importante papel ao elevar a preocupação da sociedade brasileira às questões ambientais. Apesar de pressões internacionais anteriores com relação a desmatamento e demar-cação de terras indígenas na região Amazônica, a Conferência materializou estas pressões para um maior segmento da sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que intensificou a pressão doméstica na comunidade empresarial e nas autoridades locais. Outra grande influência internacional nas políticas

ambientais brasileiras ocorreu por meio das ONGs locais, visto que elas tornaram-se financeiramente dependentes de ajuda externa12.

De fato, isso resultou em uma situação enga-nosa e politicamente perigosa. As ONGs interna-cionais objetivam participar de projetos definidos pelas instituições brasileiras, mas também estabe-lecer o espaço delas e influenciar a discussão da política pública no Brasil. Miller (1995) tem um argumento similar, isto é, afirma que as ONGs de países industrializados influenciam a política pública de países em desenvolvimento de acordo com os próprios interesses, mais próximos dos interesses dos governos e sociedades de origem e deixam de ter consideração pelos interesses, experiências e cultura locais. A ausência de ONGs ambientais (locais e internacionais)13 com

inte-resses em poluição industrial no Brasil pode ser uma evidência de tal fenômeno. A maioria das ONGs locais está focada nas mesmas questões das ONGs internacionais14.

De maneira mais pragmática, a comunidade empresarial estava particularmente interessada nas oportunidades de negócios que resultaram da crescente preocupação ambiental. Essas oportu-nidades eram, especificamente: gerenciamento de resíduos e tecnologia de controle de poluição; energia renovável; saneamento básico; produtos orgânicos, e reciclagem de materiais industriais. Além disso, alguns setores industriais exportadores para países industrializados enfrentam normas rígidas de qualidade de processo e produto. Adicio-nalmente, a inclusão de representantes das em-presas no movimento ambiental gerou doações para

12 Aproximadamente 80% do orçamento dos principais

gru-pos ambientais brasileiros resultam de doações (tais como associações em projetos, campanhas para questões globais e projetos locais) de ONGs internacionais (ver MILLER, 1995).

13 As exceções são a SOS Mata Atlântica (em São Paulo) e

a Associação Mineira de Defesa Ambiental, das quais somente a última é exclusivamente voltada à poluição industrial no estado. A primeira tem interfaces com poluição industrial (principalmente ar e água) devido aos projetos de recuperação da floresta costeira e do Rio Tietê e foi pioneira ao aceitar publicamente doações de empresas.

14 Os escritórios brasileiros da World Wide Fund for

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projetos ambientais de ONGs profissionais, e a criação em 1991 do Conselho Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável15 pelas empresas

que declararam seguir esse conceito.

Com relação às iniciativas da comunidade empresarial no Brasil, deve-se mencionar que elas foram altamente influenciadas pelos padrões ambientais de países industrializados, como conseqüência tanto da abertura da economia brasileira nos anos 1990 como da existência de barreiras ambientais nos mercados de exportação. No entanto, visto que melhorias ambientais representam custos, a maioria das empresas, ao longo dos anos 1990, estava no estágio de não-cumprimento da legislação brasileira. Por essa razão, era principalmente no nível retórico que a preo-cupação ambiental cresceu dentro da comunidade empresarial.

Em resumo, uma questão central para o ambientalismo brasileiro desde o início dos anos de 1990 é o tipo de desenvolvimento sustentável que deve ser seguido, devido às posições conflitantes (explícitas nas distintas noções de tempo e espaço) dos atores envolvidos. Entretanto, existe ainda uma lacuna entre discurso e prática na sociedade brasileira. Por exemplo, a ausência de preocupação ambiental dos consumidores nos mercados brasileiro e sul-americano posterga melhorias ambientais nas operações industriais16.

III. PRINCIPAIS RESULTADOS E DESCOBERTAS Neste tópico são descritas e analisadas as descobertas da pesquisa. Elas ilustram como e porque as teorias locais17 dos gerentes podem ter

mais impacto nas teorias acadêmicas (formais e universais) que vice-versa (BARTUNEK & LOUIS, 1996, p. 6). Elas também ressaltam que questões

lingüísticas e profissionais impedem os pesquisa-dores de ouvir e tornar relevante para os membros dos escalões mais altos da academia aquelas teorias locais.

Em várias situações as incoerências dos relatos levaram a novas entrevistas. Como resultado, ocorreram várias situações em que houve dificuldade para selecionar o que considerar como mais plausível dentre os relatos de distintas fontes. Com o propósito de gerenciar este problema da pesquisa, foi usada uma vasta quantidade de informações secundárias e outras fontes além das gerenciais. No entanto, devido ao tipo de desco-bertas feitas, havia o temor na maior parte do tem-po de que aquelas escolhas teriam que ser nego-ciadas com os superiores — e realmente não foi fácil lidar com tais questões. Após a coleta dos dados foi possível identificar que os maiores obstáculos para o exercício dos postulados da epistemologia do realismo crítico residiam na academia. Inicialmente, os obstáculos eram as teorias sendo testadas. Mais tarde, foram descobertas limitações práticas e profissionais decorrentes não somente do cronograma e orçamento da pesquisa mas principalmente da não tão facilmente compreendida “governança acadêmica”.

Nesse sentido, um resultado surpreendente foi que os informantes brasileiros tinham menos dificuldade para revelar o uso de poder do que os informantes britânicos. Além disso, os informantes brasileiros mencionavam mecanismos causais que transcendem o domínio espacial convencional das empresas e os mais óbvios níveis correspondentes de análise. Mais especificamente, eles enfatizavam estruturas e mecanismos no nível da superestrutura, o que trouxe uma representação particular encoberta pelas teorias disponíveis, como será relatado a seguir.

Tais descobertas, resultantes do modelo de pesquisa, demonstram que a rígida definição das unidades e níveis de análise em pesquisa gerencial em geral é um obstáculo central para a lembrança

15 Essa instituição desenvolve projetos e pesquisas sobre preservação ambiental e motiva empresas à incorporação de gerenciamento ambiental. Entre os fundadores estão grandes empresas domésticas e estrangeiras: Companhia Vale do Rio Doce, Caemi, Varig, Mannesmam, Papel Simão, Ripasa, Aracruz, Acesita, Suzano e Shell.

16 Apesar das raras iniciativas governamentais para motivar a consciência ambiental da indústria e dos consumidores, a realidade é que os consumidores brasileiros não estão preparados para exercer pressão com base no poder de compra (FELDMANN & SODRÉ, 1995, p. 03).

17 Bartunek e Louis (1996, p. 05) afirmam que teoria não é uma prerrogativa exclusiva de acadêmicos. Mais especifica-mente, indivíduos e grupos são guiados por suas próprias

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e representação fidedignas, pois as perguntas feitas pelo pesquisador inevitavelmente corrompem os relatos e códigos lingüísticos dos informantes.

Neste artigo, foram selecionadas somente certas descobertas da pesquisa original. Como, por exem-plo, alguns mecanismos entre o país de origem e o país de operação negligenciados pela literatura. Isso desafia as teorias utilizadas na revisão de literatura em dois aspectos: (a) essas teorias repro-duzem a retórica de democracia visto que não problematizam as permanentes forças históricas dentro de e entre os estados nacionais nem a estratificação internacional, e (b) nessas teorias as ETNs são abordadas de modo acrítico, como simples “firmas”18.

Em outras palavras, os resultados mostram que a retórica e a ausência de transparência por parte das ETNs apóiam seus interesses econômicos nas questões ambientais e preservam sua imagem como atores destituídos de poder para influenciar os conceitos e práticas de gerenciamento ambiental.

III.1. Avaliação crítica da dicotomia país de ori-gem-país de operação

Um aspecto relevante emergiu durante a análise dos dados: a diferença entre a retórica corporativa para questões ambientais e as práticas das ETNs em países em desenvolvimento. O caso Glaxo em particular é um exemplo de uma política ambiental corporativa ambiciosa e práticas incipientes no que era uma unidade de negócios marginal na América do Sul.

Dessa forma, é necessário estar atento para a natureza retórica (como sugerido por Dryzek (1997) e George (1994)) de afirmações das matrizes, porque as declarações feitas nos relatórios e políticas ambientais corporativos (referindo-se a “elevada preocupação ambiental”, “implementação uniforme entre as subsidiárias”, “comprometimento além dos requerimentos legais” etc.) não foram

integral-mente traduzidos em práticas (isto é, formalizados) nas subsidiárias brasileiras19.

Um outro aspecto relevante refere-se aos distin-tos níveis de análise, o que requer constante análise cruzada do contexto nacional para o internacional e vice-versa. As explicações obtidas no nível inter-nacional relacionam-se muito mais a questões eco-nômicas, isto é, ao mercado global e à competiti-vidade, enquanto os estilos de regulamentação e gerenciamento são específicos do nível nacional. Conseqüentemente, as estruturas e características das indústrias químicas e farmacêuticas mundiais foram úteis para explicar as únicas fontes de pres-sões do nível internacional para o nacional nas práticas das subsidiárias.

Mais especificamente, a produção das subsidiá-rias nesses setores é direcionada para o mercado doméstico brasileiro. Além disso, os principais mercados das ETNs selecionadas estão localizados na América do Norte e Europa, bem como os prin-cipais acionistas. Por estas razões, o compromisso ambiental das ETNs com relação às operações em países em desenvolvimento (como o Brasil) é re-sidual. Isso significa que não são prioritários. Então, é possível concluir que a preocupação ambiental para subsidiárias marginais nunca será relevante pelo seu próprio mérito ou devido a razões locais. Ao contrário, a preocupação ambiental é sempre conseqüência de interesses econômicos camufla-dos no nível corporativo da matriz20.

O conflito de prioridades entre a corporação e suas afiliadas não são realmente um problema relevante na literatura sobre ETNs e o ambiente (com raras exceções, como SKLAIR, 1995). As discrepâncias em termos de gerenciamento, devido a aspectos culturais, não são sugeridas ou inves-tigadas como questões relevantes. Uma outra exce-ção na literatura é Rappaport e Flaherty (1992, p. 34), quando elas sugerem que existe tensão entre matrizes e subsidiárias, em que problemas ambien-tais (visto que são específicos de cada fábrica)

18 Whittington (1989, p. 8) afirma que as grandes corporações constituem-se em principais atores dentro da nossa sociedade, cujas estratégias têm grandes repercussões. Mas teorias determinísticas absolvem-nas de qualquer responsabilidade social pelas suas ações. Protegidas de questionamento interno pela hierarquia e de desafio externo pelo segredo comercial, a pequena elite controlando essas empresas protestam que eles são meramente serviçais da abstrata racionalidade econômica dos mercados”. No entanto, “longe de serem dependentes do ambiente macro, essas firmas

são forças ativas, determinando-o”.

19 Ver Garcia-Johnson (2000) para um relato das motivações

na “exportação de ambientalismo corporativo” por parte das empresas norte-americanas.

20 As multinacionais “ainda empregam dois terços da sua

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podem ser particularmente desafiadores para esta relação.

As tentativas das ETNs de gerenciarem questões ambientais não reconciliam percepções e prioridades distintas. A ênfase das ETNs no gerenciamento ambiental global privilegia percepções e prioridades do topo (representado pelos negócios transnacionais) para a base (comunidades locais em países em desenvolvi-mento) sem tratar das idiossincrasias (THOMAS & WILKIN, 1997). Paradoxalmente, o padrão duplo das ETNs permanece inquestionável21, visto que

todas as tentativas de regular suas operações e investimentos pelo mundo falharam (UNCTC, 1990; THOMAS, 1993; EDEN, 1994; GLECKMAN, 1995; MILLER, 1995).

Adicionalmente, uma questão crucial permanece sem resposta: por que as declarações retóricas feitas pelas matrizes nos países industrializados são consideradas fontes confiáveis e informações obti-das nas subsidiárias não são levaobti-das em conta? Na realidade, nem os gerentes de subsidiárias nem os executivos das matrizes são fontes confiáveis de informação22, por isso a triangulação é

neces-sária. Em outras palavras, a retórica das matrizes não é traduzida em práticas nas subsidiárias e as matrizes sistematicamente negam, por meio de meca-nismos de relações públicas, a existência de ques-tões críticas nas subsidiárias.

Assim, a retórica do compromisso ambiental é útil tanto para matrizes quanto para subsidiárias. Mais especificamente, a política ambiental corporativa é disseminada para as subsidiárias, mas a sua implementação deixa de ser responsabilidade da matriz devido ao modelo de gerenciamento descentralizado (como argumentado pelos casos

Zeneca e Glaxo). Existem declarações corporativas formais para questões ambientais, de saúde ocupacional e de segurança em todos os casos selecionados alegando que todas as subsidiárias no mundo estão preocupadas com essas questões. No entanto, as respectivas matrizes estão cientes da impossibilidade de melhorar o desempenho am-biental sem recursos ou frente a rígidas metas de lucratividade.

III.2. Narrativas da pesquisa de campo

Com base nos resultados empíricos, identifi-caram-se negligência e conflito na implementação das políticas ambientais corporativas; os gerentes locais têm consciência de que a corporação mani-pula ambos os aspectos. Por exemplo, a longa entrevista na subsidiária da Zeneca tornou possível “escapar” do roteiro de entrevista para consultar documentos internos, mas o gerente não estava confortável com a situação. De fato, o desconforto relacionava-se à ação legal movida pelo Ministério Público contra a empresa, como resultado de contaminação ambiental por agrotóxicos. Após a entrevista o gerente relatou, sem que fosse gravado, como a acusação foi feita contra a empresa, isto é, antigos gerentes da fábrica foram demitidos depois do término da fusão da Zeneca com a Imperial Chemical Industries. Essa informação foi posterior-mente confirmada pela agência ambiental e pela associação industrial.

Essa situação enfatiza a vulnerabilidade do método de coleta de dados na definição de forças anteriores explicando o desempenho ambiental das subsidiárias, porque elas estão normalmente escon-didas ou perescon-didas entre uma equipe gerencial e outra. Um outro aspecto relevante refere-se ao caso Glaxo. Mais especificamente, o diretor industrial estava desconfortável com a recomendação da ma-triz de fornecer informações sobre a implementação da política ambiental corporativa na subsidiária brasileira. Em outras palavras, o contato prévio com a matriz era considerado como um aspecto negativo do ponto de vista do diretor da subsidiária porque eles sabiam que a política não havia sido imple-mentada.

No caso da DuPont, o roteiro de entrevista semi-estruturado foi evitado com base na explicação de que a perspectiva histórica da questão ambiental na corporação, seguindo postura de relações pú-blicas, era mais importante para entender o desem-penho ambiental da subsidiária. Conseqüente-mente, a coleta de dados no nível corporativo da 21 Apesar das recorrentes declarações da mídia de que

multinacionais ocidentais estão incorporando princípios éticos nos negócios, definindo códigos de conduta e assinando princípios internacionais como a Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável da Câmara de Comércio Internacional. Esse mesmo argumento foi feito textualmente duas vezes pela revista inglesa The Economist (June.24.1995 e July.20.1996).

22 Os estudos de caso piloto realizados na British American

(12)

subsidiária foi rica em detalhes sobre as práticas quando comparada a outros casos em que os dados foram coletados no nível da unidade produtiva.

Em outras palavras, os gerentes ambientais das unidades produtivas são mais específicos sobre práticas e procedimentos operacionais, ao mesmo tempo em que a pesquisadora teve a oportunidade (apesar da falta de experiência com processos ope-racionais) de visitar a fábrica (o que pode ser enten-dido como o uso de observação para levantamento de dados em estudo de caso, como sugerido por Eisenhardt — 1989). Em resumo, a coleta de da-dos no nível operacional das subsidiárias fornece evidências mais plausíveis de práticas ambientais. O grau mais elevado de transparência e pres-tação de contas (incluindo a análise de conteúdo dos web sites) foi encontrado nos casos de

empre-sas alemãs. No caso da Basf, é relevante notar que houve a tentativa de dirigir a entrevista para os tópicos, em que a revelação dos dados era possível. Além disso, a pesquisadora tinha familiaridade com esse caso de investigações prévias. No caso da Hoechst, não foi possível produzir evidência escrita das práticas da subsidiária em virtude da recente fusão. Entretanto, a análise das políticas ambientais do grupo Dow e do grupo Hoechst foi recomendada porque a política ambiental corporativa deveria ser um “híbrido” de ambas. Nesse caso, o gerente foi muito cuidadoso ao explicar as “áreas cinzas” en-tre a realidade e sua percepção.

Finalmente, os dados obtidos posteriormente, por meio de consultas dos web sites (realizadas em

maio de 2001), confirmam os resultados anteriores: a ausência de divulgação de informações23 e o

caráter retórico das declarações feitas pelas empre-sas selecionadas. Os web sites das subsidiárias

brasileiras raramente mencionam (com a exceção do da Basf) questões ambientais. Quando os comprometimentos ambientais são feitos, inexis-tem dados relacionados às metas, ao desempenho e a outros sistemas de avaliação. A informação é basicamente institucional (isto é, imagem) e relacio-nada a aspectos mercadológicos. Com relação a qualquer expectativa de divulgação ambiental via

internet, é relevante considerar que o uso da tecno-logia de informação24 não está disponível para

aqueles que são os mais afetados pela poluição industrial nos países em desenvolvimento. IV. CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES

Este artigo demonstra que procedimentos metodológicos adequados, de acordo com as premissas do realismo crítico, capacitaram a pesqui-sadora a transcender barreiras teóricas e metodoló-gicas. O reconhecimento de distintos graus de atuação e interesses particulares mantidos pelos gerentes, ETNs e governos constitui-se em ques-tão central do gerenciamento ambiental em países em desenvolvimento.

A análise demonstra que a liberdade de tomada de decisão das subsidiárias e como isso pode relacionar-se ao desempenho ambiental deve ser investigado e teorizado segundo uma perspectiva mais realística. Em outras palavras, subsidiárias fazem parte da estrutura corporativa ao mesmo tempo em que elas desafiam essa estrutura. O caso Zeneca é um interessante exemplo de conflito com a matriz na implementação da política ambiental corporativa: os gerentes locais usam a liberdade de manobra no processo de tomada de decisão, particularmente aquela permitida pela descentra-lização corporativa, para rejeitar e interpretar erro-neamente os requerimentos corporativos.

A maioria dos gerentes indicou que suas deci-sões eram baseadas em requerimentos locais (o que pode incluir uma dada obrigação legal e/ou ausência de obrigação). Paralelamente, observou-se uma ampla crença de que o estilo de gerenciamento centralizado norte-americano é mais eficiente do que o estilo descentralizado europeu. Isso parece ser causado pela incorporação forçada de padrões americanos em alguns setores industriais brasilei-ros. Como conseqüência, houve a dispensa “cul-tural” de outras abordagens e tecnologias muito importantes de sistemas de gerenciamento ambien-tal (como dos países escandinavos e da Alemanha). As autoridades governamentais alegam levar em consideração padrões de gerenciamento ambiental de distintos contextos culturais. Entretanto, isso não apareceu nesta investigação

23 É relevante notar que somente a partir de 2001 a Associação

Brasileira das Indústrias Químicas (ABIQUIM) passou a divulgar os resultados agregados das avaliações ambientais que seus associados realizam, como parte do processo de Atuação Responsável, adotado desde 1992 no Brasil.

24 Em 2000, havia a estimativa de que menos de 5% da

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como um aspecto central. Tais questões devem ser desenvolvidas mais profundamente para permitir o entendimento de porquê algumas práticas ou políticas são implementadas e legitimadas mais rapidamente que outras. Dessa forma, seria mais fácil prever as questões que gerentes locais não aceitarão. A evidência indica que a aceitação ou a rejeição parecem diretamente relacionadas a meca-nismos de interação desconhecidos entre cultura e preferências locais e cultura, preferências e princí-pios corporativos. O Brasil é um grande receptor de investimento direto estrangeiro de uma grande variedade de países e isso deveria ser gerenciado, pelas agências ambientais governamentais, como um ativo na busca de melhores abordagens de ge-renciamento ambiental a serem disseminadas no Brasil.

Uma outra questão crítica é a dificuldade para obter informações que deveriam ser públicas junto às autoridades ambientais no Brasil. Fica evidente a falta de transparência apesar da recente regulamentação de acesso público à informação. Essas instituições tiveram suas capacidades ope-racionais seriamente deterioradas como resultado das crises governamentais na década de 1980, e no subseqüente processo de reestruturação da admi-nistração pública no início dos anos 1990. Em geral, as agências ambientais estaduais não têm agilidade e criatividade necessárias para responder a novas demandas. De fato, novos requerimentos legais na área ambiental são facilmente impostos mas têm dificuldades para serem implementados.

Considerando que a falta de recursos é um aspecto endêmico das agências ambientais brasileiras, é necessário disseminar programas voluntários. Esses programas poderiam produzir um efeito-demonstração na comunidade empre-sarial, além de contribuir para elevar a transparência e a prestação de contas das agências ambientais. Outros atores, como os meios de comunicação e as ONGs, poderiam sistematicamente tornar públicas as empresas poluidoras bem como as melhores práticas ambientais25.

A estabilidade política e econômica desde mea-dos mea-dos anos 1990 e os compromissos ambientais (retóricos) das matrizes de ETNs e associações in-ternacionais de negócios (como a Câmara Interna-cional do Comércio) têm tornado redundantes as desculpas das subsidiárias para seus baixos de-sempenhos. No entanto, as ETNs continuam a impor seus padrões (que foram hipoteticamente impostos nelas por distintos públicos nos principais merca-dos) em países de operação. As tentativas para adoção e implementação de padrões globais objeti-va facilitar as operações mundiais, ao mesmo tempo em que elas impõem padrões similares aos seus competidores. Em resumo, este não é um caso de “ética nos negócios”, porém sim uma tentativa de controlar os ambientes institucionais onde elas operam.

Conseqüentemente, as ETNs permanecem fe-chadas e sem prestar contas em escala mundial, embora divulguem informações nos países onde acionistas e reguladores obrigam-nas. Até o presen-te momento, não há sinal de que elas mudaram a sua “lógica financeira”. Em termos mais amplos exis-te a arroganexis-te premissa de que o gerenciamento de questões globais deve ser feito de acordo com as normas e padrões das sociedades industriais oci-dentais (ver Thomas apud THOMAS & WILKIN,

1997).

Em paralelo, torna-se claro que a globalização tem enfraquecido a capacidade de regulamentação dos estados e fortalecido a influência de outros atores como as ETNs. No entanto, os resultados empíricos sugerem que importantes práticas regu-larmente executadas por ETNs nos países de origem não estão presentes em subsidiárias localizadas em países em desenvolvimento, como o Brasil. Os relatórios ambientais e o uso da internet para informar públicos externos são exemplos relevantes desse desequilíbrio. É então possível concluir que o esforço de pressionar subsidiárias na incorpora-ção de questões ambientais no Brasil não deve ser deixado somente para ONGs, consumidores e comunidade locais. Infelizmente, esses importantes atores locais (de modo distinto do de suas contra-partes nos países de origem) estão mal informados sobre o que realmente acontece em termos de discursos e práticas ambientais de ETNs.

Em conclusão, o artigo sugere que análises mais realistas são necessárias, visto que as ETNs são os principais responsáveis pela geração e dissemi-nação de conhecimento gerencial e tecnológico 25 Por exemplo, as autoridades ambientais locais

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relacionado às questões ambientais. Esse aspecto deve estar sujeito a uma abordagem crítica por parte das autoridades, ambientalistas e acadêmicos tanto em países desenvolvidos quanto em desenvol-vimento.

Baseado na epistemologia do realismo crítico, o presente artigo sustenta que os estudos sobre ETNs e questões ambientais produzidos no

Oci-dente são enganosos porque simplificam questões de poder e linguagem. De acordo com Bhaskar, a realidade é estratificada e a atividade científica deve estar comprometida em revelar esses níveis mais profundos, suas entidades, estruturas e mecanis-mos (visíveis ou invisíveis) que existem e operam no mundo, com o propósito de corrigir bem como de explicar o conhecimento mais superficial (BHASKAR, 1989, p. 12).

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Ana Lúcia Guedes (guedes@fgv.br) é Ph D em Relações Internacionais pela London School of Eco-nomics and Political Science (Inglaterra) e Professora na Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EBAPE-FGV) no Rio de Janeiro.

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Referências

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