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A articulação da instrumentalidade no exercício profissional do assistente social em Natal/RN

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL – MESTRADO

SARAH TAVARES CORTÊS

A ARTICULAÇÃO DA INSTRUMENTALIDADE NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL EM NATAL/RN

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Sarah Tavares Cortês

A ARTICULAÇÃO DA INSTRUMENTALIDADE NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL EM NATAL/RN

Dissertação apresentada à Pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Drª. Maria Regina de Avila Moreira

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AGRADECIMENTOS

Esse trabalho é fruto de um empenho coletivo; no decorrer da sua construção importantes atores me inspiraram e/ou estiveram ao meu lado, sempre apoiando. Assim, de maneira solene e carinhosa, expresso gratidão sincera a todos, e dedico este momento de agradecimentos nas próximas linhas à algumas pessoas marcantes:

À Denise, Augusto, Iara e Erackson (mãe, pai, irmã e companheiro), minha preciosa família, pessoas que estão comigo em todas as circunstâncias, construindo vivências e valores de incentivo, amor, atenção, respeito, cooperação; que sempre levarei comigo como pessoa e como profissional.

À querida orientadora Profª. Drª. Maria Regina de Avila Moreira, mestra que admiro como profissional e como pessoa, por todos os ensinamentos e ricos debates; por estar junto nesse processo, entendendo as situações particulares de fragilidade e sempre passando ânimo e confiança no meu trabalho; também, sou grata pela amizade que construímos, que certamente ultrapassará esse momento.

Às amigas, pessoas fundamentais na minha vida, que igualmente torceram para a concretização desse trabalho; em especial à Mariana Libânio, com quem compartilhei cada angústia, aflição e vitória, agradeço a paciência em ouvir e as calorosas palavras de motivação.

Às Profas. Dras. Yolanda Guerra, Célia Nicolau e Íris Oliveira, pelas contribuições já construídas na qualificação, e pela atenção em aceitarem o novo convite para participar da defesa desta dissertação.

Aos/Às assistentes sociais entrevistados/as, por gentilmente me receberem nos seus espaços sócio-ocupacionais, compartilhando um pouco das suas vivências e entendimentos, o que possibilitou a efetivação deste trabalho.

À CAPES que viabilizou recursos financeiros, por meio da bolsa de demanda social, necessários à manutenção material da pesquisadora no mestrado.

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RESUMO

Apresenta o debate das dimensões prático-sociais que compõem a instrumentalidade (formativa, teórico-intelectual, investigativa, técnico-instrumental e ético-política) do Serviço Social, a partir da pesquisa com os/as assistentes sociais que se inserem nos espaços sócio-ocupacionais na cidade de Natal no Rio Grande do Norte. Os capítulos expõem as posições, as vivências e a realidade dos/as entrevistados/as e as construções teórico-analíticas, visando compreender: a avaliação do processo de formação, relacionando o ensino da prática, o papel do conhecimento e a importância da investigação no exercício profissional do assistente social; a apreensão da dimensão técnico-instrumental, articulando demandas, atribuições, competências e instrumentos, como elementos que a integram; e por fim a dimensão ético-política, debatendo os desafios da ética e da materialização do projeto ético-político no cotidiano profissional. Nesse sentido, a dissertação de mestrado busca alimentar a produção acadêmica e o debate acerca do trabalho do assistente social, bem como contribuir para o próprio exercício profissional, revelando como os profissionais articulam as dimensões prático-sociais que compõem a instrumentalidade no seu cotidiano de trabalho.

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ABSTRACT

Presents the discussion of practical and social dimensions that comprise the instrumentality (formative; theoretical and intellectual; investigative; technical-instrumental; and ethical-political) Social Work from research in social and occupational areas in which they operate social workers in Natal in Rio Grande do Norte. Chapters expose positions, experiences and reality of the respondents and the theoretical constructs and analytical, to understand: the evaluation of the training process, relating the teaching practice, the role of knowledge and the importance of research in professional practice of social workers, the seizure of technical-instrumental dimension, articulating demands, duties, powers and instruments, as elements that comprise it, and finally the ethical-political dimension, discussing the challenges of ethics and materialization of the ethical-political in daily work. In this sense, the dissertation sought add to production and academic debate about the work of the social worker, as well as contribute to their own professional practice, revealing how professionals articulate the practical and social dimensions that comprise the instrumentality in their daily work.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Pontos fortes da formação em Serviço Social... 33

Tabela 2: Pontos frágeis da formação em Serviço Social... 33

Tabela 3: Realização de pesquisa ou levantamento com os usuários... 51

Tabela 4: Demandas apresentadas na área da assistência social... 66

Tabela 5: Demandas apresentadas na área da saúde... 67

Tabela 6: Demandas apresentadas na área sócio-jurídica... 68

Tabela 7: Demandas apresentadas na área da previdência social... 68

Tabela 8: Atribuições apresentadas na área da assistência social... 76

Tabela 9: Atribuições apresentadas na área da saúde... 77

Tabela 10: Atribuições apresentadas na área sócio-jurídica... 78

Tabela 11: Atribuições apresentadas na área da previdência social... 78

Tabela 12: Entendimento acerca do PEP: entrevistados/as que não conhece ou apresentaram uma resposta ambígua... 115

Tabela 13: Entendimento acerca do PEP: entrevistados/as que apresentaram uma resposta aproximada limitada ou vaga... 116

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Faixa etária e tempo como assistente social... 26

Gráfico 2: Renda individual... 27

Gráfico 3: Avaliação geral da graduação em Serviço Social... 32

Gráfico 4: Relação entre a avaliação geral e a natureza da instituição onde cursou graduação... 32

Gráfico 5: Participação em atividades complementares... 39

Gráfico 6: Inserção em pós-graduação... 43

Gráfico 7: Referenciais utilizados no cotidiano como assistente social... 48

Gráfico 8: Instrumentos apresentados por área... 84

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LISTA DE SIGLAS

ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

CBAS – Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais.

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social.

CRAS– Centro de Referência de Assistência Social.

CREAS– Centro de Referência Especializado de Assistência Social. CRESS– Conselho Regional de Serviço Social.

ECA– Estatuto da Criança e do Adolescente.

ENESSO – Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social. ENPESS– Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social.

EUA– Estados Unidos da América.

FMI – Fundo Monetário Internacional.

LOAS– Lei Orgânica da Assistência Social.

LOS– Lei Orgânica da Saúde.

MEC– Ministério da Educação.

ONG– Organização Não Governamental.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

2 AS DIMENSÕES FORMATIVA, TÉORICO-INTELECTUAL E INVESTIGATIVA: CAMINHOS PARA UMA INTERVENÇÃO COM QUALIDADE E COMPROMISSO ÉTICO. ... 30

2.1 DIMENSÃO FORMATIVA: O COMEÇO DA JORNADA. ... 30

2.2 DIMENSÃO TEÓRICO-INTELECTUAL: O CONHECIMENTO COMO FERRAMENTA PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL. ... 46

2.3 DIMENSÃO INVESTIGATIVA: CONHECER A REALIDADE PARA UMA INTERVENÇÃO COERENTE. ... 50

3 DIMENSÃO TÉCNICO-INSTRUMENTAL: O EPICENTRO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL. ... 57

3.1 DEMANDAS PARA O SERVIÇO SOCIAL: OBJETO COTIDIANO DA INTERVENÇÃO PROFISSIONAL. ... 65

3.2 ATRIBUIÇÕES: ENTRE OS LIMITES E POSSIBILIDADES PARA AS ATIVIDADES DO ASSISTENTE SOCIAL. ... 75

3.3 INSTRUMENTOS TÉCNICO-OPERATIVOS: ALIADOS OU VILÕES? ... 83

3.3.1 Entrevista, Visita Domiciliar e Parecer Social. ... 94

4 DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA: DIREÇÃO, COMPROMISSO E POSTURA PARA O SERVIÇO SOCIAL CRÍTICO. ... 102

4.1 A QUESTÃO DA ÉTICA: OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DESSA CONSTRUÇÃO ... 103

4.2 PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL: ENTRE CONQUISTAS E RESISTÊNCIAS. ... 114

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 133

REFERÊNCIAS ... 139

APÊNDICES ... 145

APÊNDICE A - Roteiro para entrevista ... 146

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ... 150

ANEXOS ... 153

ANEXO A - Ficha para inscrição principal no CRESS/RN (2012). ... 154

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1 INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho consiste em um desdobramento do que foi encetado na experiência durante a graduação, em atividade de iniciação científica com a pesquisa “Determinações Sócio-Históricas aos Processos de Trabalho dos Assistentes Sociais no Rio Grande do Norte”1, vinculada ao Plano de Trabalho

“Caracterização dos espaços sócio-ocupacionais dos Assistentes Sociais no RN”. À época, a metodologia da pesquisa privilegiou a realidade concreta dos assistentes sociais no mercado de trabalho e as explicações universais e particulares articuladas à ação profissional, tais como: competências e habilidades do perfil profissional diante das novas configurações no mundo de trabalho; retração e/ou ampliação da oferta e caracterização dos campos de atuação; componentes de classe, gênero e raça/etnia que perpassam o perfil profissional e relações com as demandas; trajetória das políticas sociais regionais.

Naquela ocasião (2010), aconteceram dezessete entrevistas com assistentes sociais inseridos em instituições de natureza: pública municipal (47%), pública estadual (12%), pública federal (23%) e entidades filantrópicas (18%). Tais instituições condicionam a área onde o assistente social se insere que, nessa amostra, obteve a seguinte representatividade: 46% estavam na área da saúde, 18% na Educação, repetindo-se esse índice para as áreas sócio-jurídica e de assistência. Essa pesquisa procurou analisar a apreensão dos profissionais quanto às demandas do serviço social na instituição, bem como acerca do que os assistentes sociais entendiam como suas atribuições.

Quanto às demandas, foi observada, na análise, que as profissionais não apresentaram distinção entre a demanda institucional, necessidades sociais e

demandas do Serviço Social. Identifica-se tal afirmativa em citações, como: “ações

de tutela e curatela”, “cadastramento para adoção”, “crimes de abuso sexual contra

crianças e adolescentes”, “pacientes credenciados ao SUS vítimas de algum

acidente”, “pensão alimentícia”. A amostra dos dados da realidade aponta para o

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sentido de que a intervenção profissional está, sobretudo, voltada para atender à demanda institucional, sendo tal reflexão ratificada para o que apontam os resultados no eixo das atribuições, objeto de interesse direto para a construção desse projeto.

No eixo de discussão pertinente à atribuição do assistente social, uma maioria de 59% dos entrevistados considera “visita domiciliar” enquanto atribuição da sua profissão. Além desse, outros instrumentos também apareceram: entrevista (24%), triagem (18%), parecer social (12%), palestras (12%) e estudo social (6%).

Diante dos dados obtidos e, considerando que o instrumental técnico-operativo é uma dimensão que compõe a instrumentalidade, surgiram indagações acerca do seu significado no cotidiano da profissão: qual a importância e o direcionamento teórico-metodológico e ético-político atribuído aos instrumentos no cotidiano? Ou seja, os instrumentos que vêm sendo utilizados pelos assistentes sociais se baseiam em quais objetivos? Como a instrumentalidade tem se articulado à intervenção cotidiana?

Tais questionamentos nortearam o projeto de pesquisa do mestrado, o qual subsidiou a análise dessa produção teórica a partir dos resultados empíricos. Assim, a presente pesquisa buscou investigar a materialização da instrumentalidade na sua dimensão técnico-operativa, em conjunto com as vivências no processo formativo, com as articulações teórico-metodológicas e com o posicionamento ético-político dos profissionais no cotidiano institucional; o seu desenvolvimento metodológico será apresentado mais adiante.

A instrumentalidade está presente no cotidiano do assistente social, fundamentalmente por essa profissão integrar, na condição de assalariado, o processo de trabalho coletivo. Essa temática possibilita pensar a dimensão

técnico-operativa, as apreensões teóricas – com os limites e possibilidades da formação

acadêmica – bem como os objetivos políticos e o direcionamento ético, incutidos no

exercício profissional do assistente social. Por isso, é entendida por Guerra (2011, p.18) como:

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processos e práticas sociais quanto que esta compreensão se objetive em ações competentes técnica e politicamente.

Não obstante, também é terreno fértil para a análise macrossocietária dos processos de trabalho em que se inserem os profissionais, contextualizando a sociedade capitalista contemporânea, o papel do Estado nessa sociedade, os

rebatimentos para a questão social 2 – presente nas intervenções como objeto do

serviço social – e para a política social.

Então, o ponto de partida para esse estudo foi a preocupação em apreender o trabalho cotidiano do assistente social e sua articulação com as dimensões

prático-sociais que compõem a instrumentalidade – tema que será explicado mais à frente e

explorado no decorrer da dissertação – fundamentais para se realizar um exercício

profissional crítico.

A relevância da temática também está fundamentada nas Diretrizes Curriculares da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social de 1996 (ABEPSS, 1996), as quais orientam a formação em Serviço Social, na medida em que essas colocam como objetivo desenvolver competências e habilidades para a capacitação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa. Ademais,

O reconhecimento do caráter interventivo do assistente social, supõe uma capacitação crítico-analítica que possibilite a construção de seus objetos de ação, em suas particularidades sócio-institucionais para a elaboração criativa de estratégias de intervenção comprometidas com as proposições ético-políticas do projeto profissional (ABEPSS, 1996, p. 13).

Nesse sentido, o estudo pretende contribuir para a produção teórica do acervo

que debate, principalmente, o núcleo de fundamentos do trabalho profissional3,

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A expressão “questão social” foi cunhada para designar o fenômeno do pauperismo crescente no período industrial de instauração do capitalismo no século XVIII. Essa expressão surge no cenário sociopolítico por via das reivindicações, como o luddismo e as trade unions, dos pauperizados por melhores condições materiais de vida, todavia foi encarada pela burguesia e pelo Estado como uma situação pontual, uma “questão”, resolvível com uma reforma moral do homem e da sociedade. (NETTO, 2001).

3 O núcleo de fundamentos do trabalho profissional é um dos que constituem o tripé dos “Núcleos de

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enriquecendo a apreensão da instrumentalidade, seus limites e possibilidades na realidade dos assistentes sociais da cidade de Natal/RN, tendo em vista que a produção acerca dessa temática ainda é escassa. Nos termos de Guerra (2011, p.38):

a instrumentalidade do serviço social é um campo saturado de mediações que não foram suficientemente discutidas na e pela categoria profissional. A ausência ou a insuficiência da tematização dessa dimensão da profissão produz, por um lado, um discurso que a nega; por outro, intervenções que se reduzem a ações finalísticas, repetitivas, modelares.

Assim, objetiva-se aproximar cada vez mais o cotidiano da prática profissional às pesquisas acadêmicas, à necessidade de garantir a unidade teoria/prática, para qualificar e desenvolver uma intervenção crítica e reflexiva com compromisso ético-político. Dessa maneira, contribui para desconstrução de determinadas afirmações

recorrentes tanto no meio acadêmico como profissional – e algumas bastante

contraditórias com o projeto ético-político do serviço social – tais como “na prática, a teoria é outra” e mesmo as que declaram “o curso é teórico demais” ou “a formação não ensina a intervir”, problematizando a dimensão técnico-operativa, alvo de “preocupação” e “atenção” de tais afirmações, correlacionada com a teoria articuladas ao direcionamento ético-político do serviço social.

Para apropriação da realidade do cotidiano profissional, é fundamental apreender assistente social como um trabalhador assalariado que vende a sua força de trabalho, consequentemente, está imerso em processos de trabalho. Assim, faz-se necessário situar a perspectiva da categoria trabalho aqui assumida, primeiramente no seu sentido ontológico, para então dimensionar essa categoria dentro do capitalismo.

O trabalho, na sua definição essencial ou ontológica, é a atividade em que os indivíduos, por meio da sua própria ação, impulsionam, regulam e controlam a natureza, transformando recursos naturais em produtos que atendem às suas necessidades materiais diárias. Nesse sentido, homens e mulheres interagem com a natureza e entre eles mesmos, buscando sempre modificar para melhor servi-los.

Por conseguinte, “ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele

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lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade”. (MARX, 1984, p. 202).

Partindo de tais premissas, Braz; Netto (2010) afirmam que as características constitutivas do trabalho são: a atividade teleologicamente orientada (a capacidade de projetar o resultado da ação, antes de efetivada a atividade); a tendência à universalização (as experiências do trabalho provocam uma socialização e generalização dos saberes que o sujeito detém); e a linguagem articulada (o que viabiliza a comunicação, sendo condição para o aprendizado).

Assim, o trabalho é uma atividade histórica central na construção e (re)construção da sociedade, de caráter coletivo, considerando que a interação por meio do trabalho é determinante na vida dos homens tanto de forma singular (o homem e sua subjetividade), quanto em sociedade, na sua objetividade/ materialidade. Essa definição suprime a ideia do trabalho como uma atividade natural, “biologicamente determinada”, é uma necessidade do homem enquanto ser

social4 inscrito em relações de reprodução e desenvolvimento social. Nesse sentido,

Nicolau (2005) reforça,

A natureza e o fazer do homem sintetizam uma relação que se expressa numa transformação contínua daquele que se faz homem. Não são grandes transformações; são sutis e geram novas lutas, novas sínteses sempre provisórias e potencialmente transformáveis. Nesse processo, tem-se a humanização do homem frente ao outro, e a construção da sociedade à qual ele se articula constitutivamente. [...] O trabalho [...] é condição fundamental para sua existência como homem. (NICOLAU, 2005, p. 159-160).

A categoria trabalho constitui-se de elementos que possibilitam definir a ruptura entre o trabalho e atividade natural; são estes: o objeto, sobre o qual o sujeito irá executar a ação; a atividade adequada a um fim (o próprio trabalho); e, os meios de trabalho, que intermedeiam e possibilitam potencializar as ações dos sujeitos. Tais elementos compõem o processo de trabalho necessário para gerar um produto, o resultado da ação. (MARX, 1984).

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Na compreensão desses elementos como presentes no trabalho do assistente social, pode-se fazer as seguintes associações5: a questão social como objeto, a

qual é fundamento das demandas cotidianas; os meios de trabalho como o conjunto da instrumentalidade; e as atribuições do assistente social, como parte da atividade teleológica adequada a uma finalidade, desenvolvida por um especialista qualificado (no caso, assistente social).

Entretanto, na sociedade do capital, a noção histórico-ontológica do trabalho coletivo é completamente invertida. A produção continua sendo da maioria, mas a apropriação é privada, restrita a uma classe que, sequer, representa a coletividade.

Na sociedade mercantil o valor de uso é subsumido pelo valor de troca e o processo de trabalho pelo processo de valorização: de produção de valor e/ou mais-valia. [...] Cada trabalho particular é considerado uma fração do trabalho social médio, medido por meio do tempo de trabalho socialmente necessário a sua produção, uma medida histórica. Esta característica social de ser produto de trabalho humano geral (trabalho humano indiferenciado), abstraído de sua qualidade – ainda que ela se preserve na materialidade do processo de produção do produto – só se revela quando comparável a qualquer outra mercadoria de qualidade distinta, requerendo, para tanto, a mediação do valor de troca: um equivalente geral (o dinheiro) que permite equiparar valores relativos. (IAMAMOTO, 2011, p. 217, grifo da autora).

O homem não é mais detentor dos meios de trabalho, ou mesmo da vontade.

Para subsistir, a classe trabalhadora é obrigada a vender a sua força de trabalho –

esta passa a ser mercadoria do capital, que gera valor, mais valia6, ou seja, lucro ao

capitalista – em troca de um salário, que atende apenas às necessidades de

reprodução, e por isso, insuficiente para sua subsistência como ser social, sendo as estratégias de dominação da classe capitalista renovadas a partir dos períodos históricos de desenvolvimento da sociedade.

Na sua essência o capitalismo é um modelo econômico, cujas bases históricas

estão na “concentração da propriedade dos meios de produção em mãos de uma

5 Com as necessárias ressalvas que o trabalho do assistente social não transforma uma matéria concreta. Ele trabalha com os serviços sociais fundamentais na reprodução da classe trabalhadora. Sobre isso, ver Iamamoto (2008).

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classe social e a presença de uma outra classe para a qual a venda da força de trabalho seja a única fonte de subsistência” (CATANI, 1995, p.99, grifo nosso).

O sistema restabelece seus mecanismos de produção e acumulação, produzindo, assim, novas roupagens para a questão social. Nos últimos tempos, volta suas forças e estratégias à esfera das finanças. Iamamoto (2011) coloca que

as instituições financeiras que operam com o capital que rende juros7 (bancos,

companhias de seguro, fundos de pensão, fundos mútuos e sociedades financeiras de investimento) estão em ascensão, consolidando-se na dívida pública e no mercado acionário.

O capital se apresenta como aparente detentor do poder de gerar mais dinheiro, sendo tais finanças potências autônomas. Por isso, é chamado capital fetiche, pois é algo idealizado, no qual é atribuído um poder “sobrenatural”; esse processo não revela a dominação dos organismos transnacionais e, ainda, ofusca as vias produtivas, verdadeiras geradoras da riqueza: o trabalho, que gera a mais valia.

A efetiva mundialização da ‘sociedade global’ é acionada pelos

grandes grupos industriais transnacionais articulados ao mundo das finanças. Este tem como suporte as instituições financeiras que passam a operar com o capital que rende juros [...], apoiadas na dívida pública e no mercado acionário das empresas. Esse processo impulsionado pelos organismos multilaterais captura os Estados nacionais e o espaço mundial [...] tem-se o reino do capital fetiche (IAMAMOTO, 2011, p. 107, grifo do autor).

Nesse sentido, soma-se ao capital financeiro o fenômeno da “globalização”. A

propagandeada “globalização” dissemina-se sob o falso objetivo de transcender as barreiras geográficas e espaciais para expansão e comércio, diminuindo a desigualdade entre os povos.

Entretanto, o interesse mascarado na “globalização” está no controle dos Estados nacionais por parte dos organismos internacionais, representantes dos

grandes grupos industriais – como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco

Mundial – em aspectos para além da economia, tais como: política, educação,

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cultura. Portanto, é estratégia para expansão da dominação e monopólio dos países ricos, gestando a desigualdade, além de social, também territorial.

Considerando que o princípio primordial do capitalismo é o lucro, (acumulação) é contraditório pensar em um mercado que distribua recurso, ou seja, essa sociabilidade capitalista é geradora/mantedora da desigualdade social. Portanto, dentro do discurso do livre mercado, verifica-se uma supervalorização do

universo privado, da propriedade privada – privando-se de“ser por um excedente de

ter” (ANTUNES, 1999, p.42).

Nesse sentido, o ter, o possuir implica você ser alguém socialmente reconhecido, com direitos e acesso aos aparatos sociais. É o consumismo ditando as regras dos significados dos sujeitos sociais, bem como criando necessidades objetivas e subjetivas, que se tornam essenciais para a vida em coletividade. A exemplo, pode-se citar que, para ser empregado no mercado, há requisições mínimas que exigem o consumo: como o domínio da informática, que é possibilitado ao se ter um computador; um telefone para contato; ou mesmo a “boa apresentação”, com vestimenta “adequada”.

A questão social e as necessidades humanas repercutem conjunturalmente,

tanto como determinações das relações trabalhistas – a habilitação/desabilitação de

postos de trabalho e emprego – até determinações de consumo que impõem na

sociedade necessidades, para que exista o sentido de (não) pertencimento a esta.

Com a crise dos anos 19708, a ofensiva do capital investe em mecanismos

advindos do modo de produção toyotista9, o que significou uma “recomposição do

desemprego estrutural, para, a partir daí, criar um novo patamar de acumulação do capital, baseada principalmente numa nova estratégia de acumulação capitalista intitulada ‘flexível’” (ALVES, 1996, p.119-120). Segundo Oliveira (2004, p.35),

8 “Após um período de notável desenvolvimento capitalista, considerado ‘a idade de ouro do

capitalismo’, caracterizado pela internacionalização da produção industrial (e de serviços), expansão do comércio internacional e concentração acentuada do capital, sob a hegemonia dos EUA no mercado mundial, as principais economias capitalistas passam a conviver, a partir de 1973, com um novo período de crise do capital”. (ALVES, 1996, p.113). As principais causas estruturais dessa crise, segundo Alves (1996, p.115) foram: “a incapacidade da desvalorização de capitais, o enorme excedente de capacidade produtiva e do volume de ‘capitais não-aplicados’, [e] a ‘superacumulação’ de capitais-dinheiro (que está por trás do boom especulativo e da aceleração do processo inflacionário)”.

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“flexibilizar a força de trabalho significa despir o trabalhador de sua roupagem de

proteção, segurança, perspectiva de futuro e solidariedade de classe –

determinando as novas condições de inserção da força de trabalho”.

Assim, novas estratégias de exploração e desconstrução da materialidade do trabalho são incorporadas às relações de produção, alimenta-se o desemprego estrutural; a expansão do trabalho informal, terceirizado e desregulamentado; bem como requer um ritmo de trabalho intenso, com sobrecarga de atividades ao trabalhador e o desempenho de múltiplas funções. Esse processo caracterizou a chamada reestruturação produtiva do capital.

Ante essa crise, o capitalismo adota, também, formas mais ideológicas na busca por manter sua hegemonia e consenso, promovendo a difusão da perspectiva neoliberal como direcionadora do pensamento social. De acordo com Harvey (2008b, p.12):

O neoliberalismo é em primeiro lugar uma teoria das práticas político-econômicas que propõe que o bem-estar humano pode ser melhor promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos direitos a propriedade privada, livres mercados e livre comércio. O papel do Estado é criar e preservar uma estrutura institucional apropriada a essas práticas.

Essa modalidade de discurso enfatiza as relações contratuais, as transações de mercado, procurando enquadrar neste as ações não apenas econômicas, mas políticas e sociais. A ênfase está na liberdade individual e na ética da concorrência, proporcionadas pelas vias do comércio e do consumo. (HARVEY, 2008b).

O processo de reestruturação produtiva e difusão do pensamento neoliberal se reifica na atualidade, com estratégias cada vez mais severas de precarização do trabalho. Esse rebate também no serviço social, uma vez que a profissão tanto se insere no trabalho coletivo como assalariada, quanto atende, por via dos serviços sociais, à população que sofre com as expressões do desemprego e da miséria.

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Isso significa apreender que o assistente social, consubstanciado no contrato de trabalho, está imerso nessas relações de disputa de forças sociais, e para o profissional é indispensável o reconhecimento da profissão ante essa realidade, pois “as condições e relações de trabalho em que se inscreve o assistente social articulam o conjunto de mediações que interferem no processamento da ação e nos resultados individual e coletivamente projetados” (IAMAMOTO, 2002, p.25).

O Serviço Social construiu avanços teóricos de extrema relevância, nos últimos tempos, rompendo com o conservadorismo, construindo um posicionamento crítico e situando a profissão no contexto da totalidade das relações sociais. Assim, a trajetória intelectual do Serviço Social está atrelada tanto às condições históricas que demandaram uma determinada prática profissional como a produção de conhecimento no que diz respeito à reafirmação de concepções ou mesmo de rupturas.

É possível identificar essa processualidade histórica desde a década de 1930, quando a Igreja Católica convoca os agentes da caridade, direcionados pelos princípios caritativos e cristãos, para disciplinar a crescente classe trabalhadora

proveniente da industrialização e urbanização10. Posteriormente, na década de

1940, o serviço social se consolida como profissão fundamentada, teoricamente, no positivismo estrutural-funcionalista, buscando a metodologia do serviço social; engajou-se, também, em uma atuação terapêutica, cuja prática se pautava na vertente psicologizante do serviço social de caso e grupo. Somente na década de

1960, o serviço social inicia seus primeiros questionamentos à ordem social11, ainda

com uma direção enviesada do marxismo.

Em meio ao processo de redemocratização brasileira, o serviço social se repensa e opta, hegemonicamente, por adotar uma direção social crítica. A interlocução com os movimentos sociais foi base fundamental no processo de reorientação e ruptura com a tradição conservadora do Serviço Social. Na década de 1980, passa por uma releitura teórica, metodológica, ética e política de qualidade;

10 A instauração da indústria promoveu um aprofundamento da situação de miséria e desigualdade social, agravada pelo fator que, para sobrevivência das famílias operárias, era necessário a venda da força de trabalho, e o mercado não absorve toda a população das cidades e imigrantes rurais, que vinham aos centros urbanos em busca de emprego. Ademais, as condições do trabalho fabril eram desumanas, a remuneração baixa e as funções de alto risco à saúde. “Pela primeira vez na história registrada, a pobreza crescia na razão direta em que aumentava a capacidade social de produzir riquezas”. (NETTO, 2001, p.153, grifo do autor).

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dessa vez, com a tradição marxista autêntica, reconhecendo a categoria trabalho e os espaços sócio-ocupacionais como necessários para atuação do assistente social.

Isso possibilitou à profissão amadurecer intelectualmente, por meio de uma leitura ampliada de sociedade, compreendendo as múltiplas determinações da sociedade burguesa, bem como a trajetória histórica do Serviço Social brasileiro e seu significado social. Reconhecer os fundamentos dessa profissão é um importante

indicativo para não incorrer na “reatualização” de tendências conservadoras já

superadas no debate do serviço social, principalmente diante de uma realidade de retrocesso de direitos trabalhistas.

A década de 1990 vai marcar a consolidação e a regulamentação dessa nova perspectiva construída no debate coletivo da profissão, por meio dos instrumentos normativos do serviço social: a Lei nº 8.662 de Regulamentação da profissão de Assistente Social (1993); Código de Ética Profissional do Assistente Social, Resolução CFESS nº 273/93; Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social da ABEPSS (1996). Ademais, consolida uma vasta e importante produção acadêmica sobre as políticas sociais que, por excelência, constituem o campo de trabalho do assistente social.

O amadurecimento crítico e o fortalecimento intelectual, permitem ao assistente social se reconhecer inserido em uma conjuntura social que configura sua ação em parâmetros para além da instituição a que está vinculado e possibilita contextualizar o Serviço Social inserido na divisão sócio-técnica do trabalho coletivo. Nota-se que:

Ao se falar em ‘prática profissional’ usualmente tem-se em mente ‘o que o assistente social faz’, ou seja, o conjunto de atividades que são

desempenhadas pelo profissional. A leitura hoje predominante da

‘prática profissional’ é de que ela não deve ser considerada ‘isoladamente’, ‘em si mesma’, mas em seus condicionantes sejam eles ‘internos’ – os que dependem do desempenho do profissional – ou ‘externos’ – determinados pelas circunstâncias sociais nas quais se realiza a prática do assistente social. [...] Transitar do foco da prática ao trabalho não é uma mudança de nomenclatura, mas de concepção: o que geralmente é chamado de prática corresponde a um dos elementos constitutivos do processo de trabalho que é o próprio trabalho (IAMAMOTO, 2008, p.94-95, grifo do autor).

(23)

e a conjuntura como condicionante, saindo da endogenia de apreender o serviço social por si, preso nos próprios muros.

Partindo de tais premissas, pode-se afirmar que os assistentes sociais se

inserem nas relações produtivas como detentor da força de trabalho – sendo

necessário vendê-la para se realizar como trabalhador. Diante do leque de possibilidades de inserção no mercado de trabalho, pode-se afirmar que o Serviço Social é partícipe de múltiplos processos de trabalho, não havendo o processo de trabalho único e exclusivo do Serviço Social, mas sim, processos de trabalho em que se insere esse profissional comparte do trabalho coletivo.

Essa afirmação encontra respaldo nas seguintes reflexões de Iamamoto (2011, p. 429):

O desafio [...] é salientar a leitura do trabalho do assistente social em espaços ocupacionais de natureza diferentes particularizando, no seu processamento, as competências e atribuições profissionais enquanto expressões desse trabalho concreto, situado no campo de forças sociais que, imediatamente, incidem nesses espaços; e o seu significado social no processo de reprodução das relações sociais nesse tempo do capital fetiche, ante as profundas transformações que se operam na organização e consumo do trabalho e nas relações entre o Estado e a sociedade civil com a radicalização neoliberal.

O pressuposto, que orienta essa proposta, é o que de que não existe um processo de trabalho do Serviço Social, visto que o trabalho é atividade de um sujeito vivo, enquanto realização de capacidades, faculdades e possibilidades do sujeito trabalhador. Existe, sim, um trabalho do assistente social e processos de trabalho nos quais se envolve na condição de trabalhador especializado.

Nesse substrato do texto acima, a autora afirma o entendimento outrora explicitado do serviço social como partícipe de diferentes processos de trabalho, organizados pelo espaço sócio-ocupacional em que se insere. Ademais, os instrumentos, nos moldes da teoria marxiana, compõem um elemento fundamental

nos diversos12 processos de trabalho nos quais se inserem o assistente social, uma

vez que estes possibilitam a materialização da teleologia do indivíduo que opera a ação, atuando como mediadores.

(24)

A instrumentalidade, por sua vez, é a dimensão que abrange componentes não apenas técnicos, mas também teóricos, políticos e ideológicos, os quais geram implicações nos resultados obtidos com a intervenção profissional.

No processo de trabalho a passagem do momento da pré-ideação (projeto) para a ação propriamente dita requer instrumentalidade. Requer a conversão das coisas em meios para o alcance dos resultados. Essa capacidade só pode se dar no processo de trabalho, no qual o homem mobiliza todos os recursos convertendo-os em instrumentconvertendo-os para alcançar seus resultadconvertendo-os. É essa capacidade que, como instância de passagem, possibilita passar das abstrações da vontade para a concreção das finalidades. (GUERRA, 2000b, p.09).

Segundo Iamamoto (2011), a fundamentação na categoria trabalho constitui pressuposto para que se compreenda o desafio que é lançado ao assistente social no seu cotidiano de trabalho. O desafio consiste em pensar o seu objeto, sua atividade, os espaços onde se insere e seus meios de trabalho. Isso define a profissão internamente e socialmente, dando discernimento acerca de si, orientando e instrumentalizando o exercício profissional.

Nesse sentido, as motivações que inspiraram essa dissertação, também, se

fundamentam na necessidade, expressa por Iamamoto (2011, p. 214), de “transitar

da análise da profissão para o seu efetivo exercício”. Todavia, a autora atenta para o

fato de que:

Essa formação teórica não pode silenciar a capacitação voltada às competências e habilidades requeridas para o desempenho prático-profissional, que, resguardando um domínio teórico-metodológico e um direcionamento ético-político, se traduzam na construção de respostas às demandas postas ao assistente social – o que não se identifica com a sua imersão no terreno dos imediatismos. (IAMAMOTO, 2011, p. 240).

Assim, tal reflexão dimensiona a importância dessa pesquisa na medida em que pode ser reveladora dos desafios ou pontos merecedores de uma maior atenção em nossos debates coletivos referentes à instrumentalidade do serviço social, considerando-a fundamental na prática cotidiana do assistente social.

Ademais, o aprofundamento das discussões em torno da instrumentalidade

(25)

de superação dos traços conservadores tradicionais que constituíram a profissão –

dos quais são emblemáticos o tecnicismo, o imediatismo e o metodologismo – com a

finalidade de qualificar o atendimento ao usuário e imprimir orientação crítica em defesa dos interesses da classe trabalhadora.

A partir desses primeiros apontamentos sobre o objeto de estudo, houve a preocupação em se realizar uma pesquisa que possibilitasse aproximação com o trabalho cotidiano dos assistentes sociais, desvendando a articulação da instrumentalidade ao exercício profissional.

Destarte, para a pesquisa “A instrumentalidade do Serviço Social nos espaços

sócio-ocupacionais: a realidade de Natal/RN” estabeleceu-se como objetivo

“identificar e analisar os instrumentos técnico-operativos no conjunto da

instrumentalidade do serviço social, a partir da articulação realizada pelos

profissionais no cotidiano do seu trabalho nos espaços sócio-ocupacionais”.

Assim, procurou-se conhecer o trabalho do(a) assistente social fazendo uma interlocução entre as quatro áreas de maior inserção do assistente social no Rio

Grande do Norte, segundo os dados do CRESS/RN13, quais sejam: saúde (69%),

assistência (12%), previdência (7,5%) e sócio-jurídica (4%).

Para materializar o objetivo da pesquisa, foi escolhida uma abordagem qualitativa com entrevistas direcionadas por roteiro semiestruturado, previamente

elaborado pela pesquisadora. Definiu-se, aleatoriamente, uma amostra de doze14

assistentes sociais para entrevista, distribuídos nas quatro áreas citadas,

13 De acordo com o Conselho Regional de Serviço Social do Rio Grande do Norte, existem, no período até maio de 2012, 2.579 profissionais ativos; destes, apenas 295 (11,5%) assistentes sociais informaram a caracterização do espaço de trabalho, sendo esta de fundamental importância para a definição da amostra, uma vez que a instrumentalidade tem particularidades a partir das diferentes inserções nos processos de trabalho. A partir do acesso ao modelo das fichas de inscrição, cancelamento e reinscrição do CRESS/RN, as quais deram origem aos dados, algumas hipóteses foram levantadas para justificar esse fato. Primeiramente, observou-se que o campo que solicita as informações referentes à área e instituição onde o assistente social atua só consta na ficha de inscrição principal. Devido à instabilidade do mercado na era do capital, quando solicitam a carteira de habilitação profissional, muitos assistentes sociais ainda não têm definido uma vaga de trabalho ou mesmo encontram-se em situação de contratação precária, e acabam não preenchendo esse campo. Acontece, também, que, como essas informações não são solicitadas em caso de cancelamento/reinscrição da habilitação (ficha de requerimento), acaba gerando uma insuficiência dos dados; ademais, há a hipótese dos mesmos estarem obsoletos, já que a rotatividade dos contratos precarizados é uma realidade da profissão.

(26)

considerando, para essa distribuição, as proporções numéricas apresentadas no universo, obtendo o seguinte quadro: seis da área da saúde, quatro da assistência social, uma da previdência social e uma da área sócio-jurídica.

Outra preocupação na definição da amostra da saúde e assistência social –

dado o caráter mais abrangente de ambas – foi referente à natureza das instituições, considerando que esse é um aspecto determinante nos diversos processos de trabalho em que se insere o assistente social; além desse aspecto, houve, também, interesse em diversificar a amostra, incluindo níveis distintos de complexidade das instituições. Dessa maneira, na saúde participaram da pesquisa: um/a (1) assistente social de hospital público; um/a (1) de hospital privado; um/a (1) de hospital do terceiro setor; um/a (1) de unidade mista de saúde; dois/duas (2) de unidades básicas de saúde. Na assistência social, obteve-se, em relação à amostra, o seguinte quadro, em número de um profissional para cada espaço: Centro de Referência da Assistência Social (CRAS); Centro de Referência Especializada da Assistência Social (CREAS); Organização Não Governamental (ONG) de atendimento ao idoso; e ONG de atendimento à pessoa com deficiência.

A produção dos dados ocorreu com a participação livre e não remunerada desses sujeitos, assegurada por via de Termo de Consentimento explicado e assinado no momento antes da entrevista; também lhes foi livre permitir a gravação; dos doze participantes, três não consentiram o uso do gravador (Unidade Básica de Saúde Sul, ONG idoso e sócio-jurídico), por isso, suas falas serão apresentadas em terceira pessoa. As entrevistas foram agendadas por telefone de acordo com a

disponibilidade do profissional – no contato se explicava brevemente sobre o

objetivo da pesquisa e o procedimento da entrevista. Como mencionado, as instituições foram escolhidas, aleatoriamente, mas vale ressaltar que a pesquisa foi bem recebida, uma vez que não houve recusa nas primeiras tentativas de convite à participação.

(27)

constrangimento, modificações nas falas poderão ser realizadas antes de entregar a versão final.

O público entrevistado foi massivamente do sexo feminino, havendo, apenas, um homem dentre o/as participantes15. Isso remete ao traço histórico do Serviço Social como uma profissão eminentemente feminina, ou seja, a profissão tem uma identidade com a história de opressão das mulheres, o que contribui para uma apropriação, muitas vezes, mais precarizada dessa força de trabalho, assumindo-se que a sociedade se constrói a partir de valores machistas, consequentemente, há uma divisão sexual do trabalho.

Quanto à classificação étnica, esta foi predominantemente branca (seis), havendo ainda dois/duas entrevistados/as que se designaram negros/as, também dois/duas pardos/as, um/a que disse ser moreno/a e outro/a moreno/a claro/a.

Em continuidade ao perfil dos/as entrevistados/as, tem-se esta distribuição etária: cinco com idade entre 25 e 30 anos; três entre 36 e 45 anos; três entre 46 e 55 anos de idade e um/a com idade superior a 55 anos. Esse recorte etário repercute no período de conclusão da graduação em Serviço Social, portanto no tempo como assistente social, obtendo-se o seguinte panorama:

Gráfico 1: Faixa etária e tempo como assistente social.

Dados coletados pela pesquisadora (2012).

15

No decorrer do trabalho na descrição do perfil e quando se tratar “os/as entrevistados/as” se utilizará a variação do gênero no verbete; predominantemente no texto serão mantidos os substantivos em conformidade com a regra formal da gramática, todavia compreendendo que abrange ambos os sexos feminino e masculino.

0 1 2 3 4 5

Faixa etária

Tempo como A.S.

(28)

Assim, a amostra, apesar de aleatória, conseguiu contemplar assistentes sociais de diferentes etnias e faixas etárias, abarcando momentos distintos da formação profissional e os parâmetros da formação continuada dos assistentes sociais – assunto de um dos eixos a ser problematizado no trabalho.

Além dos aspectos acima levantados, outra pergunta que compôs o perfil foi quanto à renda individual dos profissionais, a média predominante de salários foi de dois a três mil reais, havendo inferiores e superiores conforme o gráfico a seguir. É relevante aqui uma observação quanto à renda dos dois entrevistados com maiores salários (acima de oito mil reais): um recebe esse quantitativo em razão de dois vínculos empregatícios; e o outro por motivo de ação judiciária ganha, incorporando ao seu vencimento algumas gratificações e indenizações devidas.

Gráfico 2: Renda individual.

Dados coletados pela pesquisadora (2012).

A partir desse cenário, é possível visualizar os sujeitos participantes da pesquisa que possibilitaram o acesso à realidade do cotidiano profissional, visando fundamentar uma problematização teórico-crítica que parte do concreto, portanto orientada pelo movimento da dialética.

A análise sobre a instrumentalidade foi orientada pelas cinco dimensões prático-sociais do exercício do assistente social, apontadas por Guerra (2000a),

0 1 2 3 4 5 6

De R$ 1.000 a R$ 2.000

Mais de R$ 2.000 a R$

3.000

Mais de R$ 3.000 a R$

5.000

Mais de R$ 5.000 a R$

8.000

Mais de R$ 8.000

(29)

consideradas indispensáveis para pensar o conjunto da instrumentalidade, direcionando, assim, o processo metodológico da pesquisa, inclusive definindo os eixos do roteiro das entrevistas. São estas dimensões:

1) dimensão técnico-instrumental que, como a razão de ser da profissão, remete às competências instrumentais pelas quais a profissão é reconhecida e legitimada; porém, ainda que seja necessário atendê-las, o exercício profissional não pode se limitar às competências instrumentais; 2) dimensão teórico-intelectual [...] sólido referencial teórico-metodológico que permita ao profissional distinguir entre os tipos de saberes e suas possibilidades. [...] o papel da teoria para o Serviço Social é tanto fazer a crítica ontológica do cotidiano quanto apontar as possibilidades de ação de uma realidade sociohistórica; 3) dimensão ético-política, a qual implica a adoção de determinados valores, princípios, escolhas (ídeo-políticas), tendo por base finalidades. [...] 4) dimensão investigativa: He de se pensar em formar profissionais para pesquisar, analisar conjunturas e contextos sociohistóricos e institucionais, mas também buscar informações sobre os objetos e usuários dos serviços e saber transmitir as informações adequadas de maneira acessível; 5)

dimensão formativa: a profissão tem uma dimensão formativa, pela qual todos os assistentes sociais são potencialmente competentes para atuar no âmbito da formação profissional. (GUERRA, 2000a, p. 158-159, grifo nosso).

Portanto, procurou-se conhecer a instrumentalidade dentro do fazer profissional, articulada nas dimensões prático-sociais anunciadas. A exposição dos capítulos obedece, também, a essa lógica, procurando relacionar as respostas ao debate teórico-metodológico proposto.

No primeiro capítulo, estão as dimensões teórico-intelectual, formativa e investigativa; o segundo se voltou à dimensão técnico-instrumental; e o terceiro, à dimensão ético-política do Serviço Social.

Essa separação foi a alternativa eleita para expor o conteúdo e apresentar os elementos que perpassam cada dimensão em particular, atendendo à necessidade de aprofundar especificidades, mas não subsumindo a articulação das dimensões em conjunto, além de imprimir maior visibilidade a cada uma delas.

(30)

Assim, a dissertação está estruturada em três capítulos16. No primeiro capítulo,

está a discussão sobre o processo de formação, abordando os pontos fortes e frágeis apontados na opinião dos/as entrevistados/as, problematizando o lugar da prática profissional no processo acadêmico; seguindo essa linha de discussão, ainda no mesmo capítulo, são trabalhadas as dimensões teórico-intelectual e investigativa, na primeira trazendo a importância do conhecimento crítico para fundamentar a intervenção profissional, na outra a necessidade de desvendar a realidade que permeia as demandas profissionais na instituição.

O segundo capítulo se direciona à dimensão técnico-operativa, parte das vivências e entendimentos dos assistentes sociais acerca dos elementos presentes nos processos de trabalho que se inserem; analisando a operacionalização do trabalho do assistente social, suas demandas, atribuições e competências profissionais, bem como os instrumentos técnico-operativos.

Quanto ao terceiro capítulo, o estudo se centraliza na questão da ética, buscando se aproximar das múltiplas determinações que desafiam essa construção coletiva do serviço social no dia a dia dos/as entrevistados/as; ademais, traz a opinião deles sobre a possibilidade ou não de materialização do projeto ético-político, construindo-se um debate pertinente em face dessa conjuntura de refluxo e da constante ameaça a qualquer perspectiva crítica, que defenda direitos e se oriente na direção de superação da lógica perversa do capitalismo.

(31)

2 AS DIMENSÕES FORMATIVA, TÉORICO-INTELECTUAL E INVESTIGATIVA: CAMINHOS PARA UMA INTERVENÇÃO COM QUALIDADE E COMPROMISSO ÉTICO

O presente capítulo reúne essas três dimensões por compreender que essas, de uma maneira geral, antecedem o exercício profissional do assistente social efetivo, permanecendo necessárias no decorrer da vida profissional. Cada qual com sua particularidade, elas formam um conjunto de conhecimentos e habilidades importantes para o senso crítico, que subsidia a teleologia do trabalho profissional; por isso, são requisitos importantes no momento da intervenção e serão, aqui, problematizados.

2.1 DIMENSÃO FORMATIVA: O COMEÇO DA JORNADA

A dimensão formativa compreende, a princípio17, o decurso da graduação em

serviço social, por isso, de maneira geral, ela representa as primeiras apreensões acerca da profissão. É o momento quando concepções e leituras de realidade são (des)construídas, em meio ao processo de aprender e discutir as teorias sociais e filosóficas que explicam as relações societárias, fazendo a constante ligação com o papel do serviço social, sua ética, suas demandas, competências e atribuições.

Esse processo de apreensão e (des)construção não é homogêneo, visto que a subjetividade, a vivência e a história dos sujeitos influem no processo de aprendizado. Os alunos ingressos no curso de serviço social têm um perfil diverso em relação a fatores determinantes objetiva e subjetivamente, como religião, etnia e classe social. Ademais, existem as diferentes perspectivas ao chegar: há os que não conhecem a profissão; há os que fazem vestibular para o curso em decorrência de ser menos “concorrido”; e, ainda, existem aqueles que chegam com a noção da

(32)

prática conservadora do serviço social (ligada à caridade), ou, até mesmo, com a concepção de profissional, apenas, como militante, dentre tantos outros aspectos característicos dessa diversidade.

A multiplicidade de identidades subjetiva-se e materializa-se a partir das relações sociais que os sujeitos estabelecem, tanto antes quanto durante a graduação. A inserção em atividades de pesquisa, monitoria e/ou extensão; a necessidade ou não de trabalhar; o fato de ter filhos; ser dona de casa são alguns

determinantes nesse processo de construção do aprendizado, e,

consequentemente, indicam uma heterogeneidade no perfil dos egressos do curso, por mais que as diretrizes da formação almejem um futuro profissional crítico.

Assim, a dimensão formativa não se reduz ao treinamento de alunos, mas compreende o desafio de instrumentalizar o estudante descortinando a integração entre teoria e metodologia, visto que “o processo formativo se faz para além da linearidade da transmissão de teorias” (NICOLAU, 2005, p.103); para isso, o incentivo, também, às atividades de pesquisa, monitoria e extensão são indispensáveis.

Considerando esse objetivo, e na busca por uma formação comprometida e coerente com o projeto ético-político do serviço social, as Diretrizes Curriculares de 1996, articuladas pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), estão consolidadas para orientar e garantir uma direção social e política ao processo de ensino-aprendizagem em serviço social e o perfil do estudante egresso do curso.

A análise sobre esse item parte do levantamento constatado na pesquisa, que apresentou um quadro de assistentes sociais, majoritariamente, advindos da universidade pública federal (dez), sendo os demais da rede privada (dois). Todos cursaram a modalidade presencial de ensino. Para cinco desses assistentes sociais, a graduação precede as Diretrizes Curriculares (1996), enquanto sete alcançaram as mudanças no currículo acadêmico, ocorridas a partir de 1996.

(33)

Avaliação geral da formação, com respostas objetivas:

Gráfico 3: Avaliação geral da graduação em Serviço Social.

Dados coletados pela pesquisadora (2012).

Relacionando essa avaliação com a natureza da instituição onde cursou graduação:

Gráfico 4: Relação entre a avaliação geral e a natureza da instituição onde cursou graduação.

Dados coletados pela pesquisadora (2012). 0

1 2 3 4 5 6

Avaliação da Formação

Excelente

Ótima

Boa

Satisfatória

Regular

0 2 4 6 8 10 12

Universidade Pública Universidade/Faculdade Privada

Excelente

Ótima

Boa

Satisfatória

(34)

Avaliação específica, com respostas subjetivas:

Tabela 1: Pontos fortes da formação em Serviço Social.

PONTOS FORTES DA FORMAÇÃO: MAIS FREQUENTES

Pontos fortes apresentados: Nº de

entrevistados Instituição de graduação

Professores qualificados, com domínio teórico. 5 Pública e privada

O curso proporciona uma visão crítica da realidade;

seu conteúdo forma profissionais reflexivos. 4 Pública

As disciplinas no geral; a parte teórica é completa. 2 Pública e privada

OUTROS PONTOS

Pontos fortes apresentados: Nº de

entrevistados Instituição de graduação

Carga horária suficiente. 1 Pública

Incentivo à realização de projetos. 1 Privada

A formação generalista propicia a visão de um leque

de direcionamentos. 1 Pública

Dados coletados pela pesquisadora (2012).

Tabela 2: Pontos frágeis da formação em Serviço Social.

PONTOS FRÁGEIS DA FORMAÇÃO: MAIS FREQUENTES

Pontos frágeis apresentados: Nº de

entrevistados Instituição de graduação

Necessidade de aprofundamento na prática do serviço social, período de estágio é curto.

4 Pública

(35)

A formação não propicia imersão/aprofundamento nos diversos campos do serviço social; a prática é

direcionada e limitada pelo/ao estágio.

2 Pública

Infraestrutura ficava a desejar: ausência de

equipamentos, e material restrito na biblioteca. 2 Pública

OUTROS PONTOS: MAIS RELACIONADOS AO SERVIÇO SOCIAL

Pontos frágeis apresentados: Nº de

entrevistados Instituição de graduação

Falta de acompanhamento do orientador de ensino no

período de estágio. 1 Pública

Fragmentação do conteúdo, o que ocasionava uma repetição na explanação e estudo das correntes teóricas e cientistas sociais.

1 Pública

Necessidade de trabalhar mais pesquisas. 1 Privada

Despreparo de alguns professores. 1 Pública

Não oferta de pós-graduação em nível de

especialização na universidade pública (lato sensu). 1 Pública

Incentivos para mais oportunidades de palestras. 1 Pública

OUTROS PONTOS: MAIS ESTRUTURAIS

Pontos frágeis apresentados: Nº de

entrevistados

Instituição de graduação

Alto índice de professores substitutos. 1 Pública

Poucos professores. 1 Pública

Alto número de alunos por sala de aula. 1 Privada

(36)

Algumas falas convocam a problematização à luz do que está preconizado nas Diretrizes Curriculares (1996) enquanto formação para o curso de serviço social, e como essa relação ensino/aprendizagem tem se articulado na realidade do exercício profissional.

A lógica curricular das diretrizes da ABEPSS (1996) objetiva superar as fragmentações que dicotomizam teoria e prática. Desse modo, apoia a construção

do conhecimento num tripé que constitui os “núcleos de fundamentação da formação

profissional”. São estes:

- Núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social: Este Núcleo é responsável pelo tratamento do ser social enquanto totalidade histórica, fornecendo os componentes fundamentais da vida social [...]. Objetiva-se uma compreensão do ser social, historicamente situado no processo de constituição e desenvolvimento da sociedade burguesa, apreendida em seus elementos de continuidade e ruptura, frente a momentos anteriores do desenvolvimento histórico. (p.10)

- Núcleo de fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira: Este núcleo remete ao conhecimento da constituição econômica, social, política e cultural da sociedade brasileira, na sua configuração dependente, urbano-industrial, nas diversidades regionais e locais, articulada com a análise da questão agrária e agrícola, como um elemento fundamental da particularidade histórica nacional. [...]Estes conteúdos implicam em uma constante e atenta análise conjuntural da sociedade brasileira, em sua inserção internacional, tendo em vista o acompanhamento dos processos sociais em curso, geradores das múltiplas manifestações da questão social. (p. 11)

(37)

Mesmo sistematizados separadamente, esses núcleos são complementares e

representam dimensões indispensáveis às competências e habilidades do assistente

social: o primeiro indica o conhecimento das relações presentes na sociedade capitalista, possibilitando uma leitura histórica da totalidade; o segundo direciona a compreensão da questão social na realidade brasileira, considerando as peculiaridades do seu desenvolvimento urbano e rural, bem como as diferenças regionais; já o núcleo de fundamentos do trabalho profissional propicia pensar acerca da profissão, desde seus fundamentos históricos, teóricos, metodológicos e éticos, até a capacitação técnica para o exercício das funções.

Entretanto, tais fundamentos sofreram severas retaliações com a

regulamentação aprovada pelo Ministério da Educação (MEC) em 2002. “As

supressões incidiram tanto no perfil do profissional como no elenco das competências e na total exclusão das matérias e ementas elaboradas pela Comissão de Especialistas, em 1999” (MOTA, 2007, p. 60).

Segundo Mota (2007), ademais do que foi colocado, a categoria trabalho/processos de trabalho e o núcleo de fundamentos do trabalho profissional foram descaracterizados na implementação das Diretrizes para o Curso de Serviço Social. Assim, principalmente os cursos criados a partir de 2002 – quando houve

uma intensa multiplicação de universidades privadas no Brasil – passam a

apresentar diferentes propostas no tocante às categorias em questão, bem como no (não) entendimento do assistente social como trabalhador coletivo partícipe de processos de trabalho. Isso infere o risco cada vez maior da dicotomia teoria e prática no processo de formação e no exercício profissional.

O que se observou na pesquisa, de modo geral, foi, por um lado, o reconhecimento de uma graduação diferenciada no curso de serviço social, que valoriza as discussões e construções teórico-críticas da sociedade, possibilitando uma visão ampla da dinâmica societária, preconizada nos fundamentos teórico-metodológicos da vida social e da formação sócio-histórica da sociedade brasileira.

Por outro lado, a maioria dos entrevistados identificou como fragilidade no

processo de formação, a “necessidade de aprofundamento na prática do serviço

(38)

À primeira impressão, pode-se pensar na dicotomia teoria versus prática, ainda recorrente no serviço social, presente, por exemplo, na fala que afirma que a “parte teórica é completa”. Essa disjunção é advinda do entendimento de que “a teoria é reduzida a algo que deve se ‘encaixar na prática’ e a prática social é reduzida à prática profissional que, por sua vez, é reduzida a utilização de instrumentos de intervenção” (SANTOS, 2010, p. 14).

Todavia, numa releitura das falas, é possível se questionar para além dessa

dicotomia, perguntando-se: Qual o lugar do “ensino da prática”? Qual a relação que

se tem feito no ensino, entre as teorias sociais e o exercício profissional do assistente social? Como as demandas da realidade são abordadas em sala de aula? Como se tem trabalhado o método da teoria crítica para além de uma orientação política de compreensão da realidade?

Antecedendo a essa discussão, entende-se que falar do Serviço Social é distinto de falar do exercício profissional, embora essa análise seja indissociável. Isto é, o serviço social compreende as discussões amplas da sociedade, do processo de trabalho, das particularidades do assistente social inserido na divisão sócio-técnica do trabalho coletivo, das políticas sociais, das formulações éticas e políticas do projeto profissional, da atuação política das entidades representativas, dentre outros fundamentos com centralidade nas categorias, sendo essas reflexões livres direcionadas pela teoria crítica (IAMAMOTO, 2011).

O exercício profissional, por sua vez, é efetivado na venda da força de trabalho especializada do assistente social, seu processamento se realiza em meio ao trabalho assalariado alienado.

Esta condição sintetiza tensões entre o direcionamento que o assistente social pretende imprimir ao seu trabalho concreto [...] e os constrangimentos inerentes as trabalho alienado que se repõe na forma assalariada do exercício profissional. (IAMAMOTO, 2011, p. 214).

(39)

realidade que determinam a possibilidade para materialização do “dever ser” da profissão. Para se definir a orientação e, também, a intervenção, é necessário que ambos estejam articulados, por meio das mediações indispensáveis para entender a unidade do diverso.

Partindo dos dados coletados, o que se descortina é uma relação imediata entre prática e estágio/ teoria e disciplinas, como se o exercício profissional não ou pouco estivesse, presente no momento de explanação e discussão em sala de aula.

De acordo com Guerra (2000a, p.153), “o ensino da prática tem ocupado um espaço

secundário no âmbito do currículo”. A autora ainda afirma que:

Historicamente, no Serviço Social, o ensino da prática tem sido limitado: 1) ao ensino de instrumentos e técnicas e/ou das

“chamadas” metodologias de ação; 2) ao aprendizado restrito aos

campos de estágio. No primeiro caso, a concepção de prática é a de adestramento, de treinamento. A noção de competência fica restrita

ao domínio de um “suposto” método profissional e dos instrumentos

e técnicas a ele correlatos. No segundo, contribui para reforçar a

concepção positivista da “dicotomia entre teoria e prática”.

(GUERRA, 2000a, p.153)

Tais premissas evidenciam a necessidade de refletir acerca de duas tendências presentes no ensino em serviço social: a) a falta de articulação das disciplinas acadêmicas com o cotidiano profissional; b) a tecnificação do processo formativo, isto é, a mera preparação para o “mercado de trabalho”.

Existe uma dificuldade histórica em se trabalhar o ensino da prática no serviço social, pois a trajetória de construção da profissão passou por momentos em que, apenas, se valorizava o aprimoramento de técnicas (tecnicismo); outro em que se negou a atuação profissional em instituições (politicismo) e se supervalorizou as produções científicas desvinculadas da realidade, do concreto (teoricismo). (IAMAMOTO, 2008).

Imagem

Gráfico 1: Faixa etária e tempo como assistente social.
Gráfico 2: Renda individual.
Tabela 2: Pontos frágeis da formação em Serviço Social.
Gráfico 5: Participação em atividades complementares.
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Referências

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