“O teorema espectral e a
propriedade de ‘self-adjointness’ para
alguns operadores de Schr¨
odinger”
Rodrigo Augusto Higo Mafra Cabral
Disserta¸c˜ao de mestrado
Orientador: Severino Toscano do Rˆego Melo
Programa de p´os-gradua¸c˜ao em Matem´atica Aplicada Instituto de Matem´atica e Estat´ıstica da
Universidade de S˜ao Paulo (IME - USP)
“O teorema espectral e a propriedade de ‘self-adjointness’ para alguns operadores de Schr¨odinger”
Esta vers˜ao da disserta¸c˜ao cont´em as corre¸c˜oes e altera¸c˜oes sugeridas pela Comiss˜ao Julgadora durante a defesa da vers˜ao original do trabalho, realizada em 18/12/2014. Uma c´opia da vers˜ao original est´a dispon´ıvel no Instituto de Matem´atica e Estat´ıstica da Universidade de S˜ao Paulo.
Comiss˜ao Julgadora:
• Prof. Dr. Severino Toscano do Rˆego Melo (orientador) - IME-USP • Prof. Dr. Frank Michael Forger - IME-USP
Agradecimentos
Resumo
Neste texto s˜ao demonstrados, a partir do ponto de vista da teoria dos espa-¸cos de Hilbert e da teoria das C∗-´algebras, teoremas relacionados a operadores
auto-adjuntos em espa¸cos de Hilbert, entre os quais est˜ao o Teorema Espec-tral, o teorema de Kato-Rellich e a desigualdade de Kato. Tamb´em s˜ao dadas aplica¸c˜oes destes teoremas a alguns operadores de Schr¨odinger provenientes da F´ısica-Matem´atica.
Abstract
In this text we prove, within the Hilbert spaces theory and C∗-algebras points
of view, some theorems which are related to self-adjoint operators acting on Hil-bert spaces, among which are the Spectral Theorem, the Kato-Rellich theorem and Kato’s inequality. Also, some applications to Schr¨odinger operators coming from the Mathematical-Physics context are given.
Sum´
ario
Considera¸c˜oes Iniciais 14
´
Algebras de Banach e C∗-´algebras - alguns resultados elementares . . 31
1 O Teorema Espectral 42
O teorema espectral para operadores lineares auto-adjuntos limitados 43 O C´alculo Funcional Boreliano relativamente a operadores lineares
auto-adjuntos limitados . . . 52 Teorema espectral para n-uplas de operadores lineares auto-adjuntos
que comutam dois a dois . . . 56 O teorema espectral para operadores lineares normais . . . 62 O teorema espectral para operadores auto-adjuntos n˜ao-limitados . . . 64 O C´alculo Funcional Boreliano relativamente a operadores lineares
auto-adjuntos n˜ao-limitados . . . 67
2 O Teorema de Kato-Rellich 71
3 Aplica¸c˜oes do Teorema de Kato-Rellich 85 O dom´ınio de “self-adjointness” do operador−∆ . . . 85 O ´atomo de hidrogˆenio e um ´atomo qualquer . . . 94
4 A desigualdade de Kato 102
Um corol´ario da desigualdade de Kato . . . 110 Aplica¸c˜oes do corol´ario da desigualdade de Kato . . . 113
5 Apˆendice A 116
Teorema espectral para operadores normais via C∗-´algebras . . . 116
Teorema de Von Neumann . . . 119 O Teorema Espectral - uma outra demonstra¸c˜ao . . . 123
6 Apˆendice B 127
Introdu¸c˜ao
O intuito principal deste texto ´e fazer uma exposi¸c˜ao de alguns t´opicos cl´ as-sicos em teoria de operadores n˜ao-limitados auto-adjuntos sobre espa¸cos de Hil-bert.
Nas “Considera¸c˜oes Iniciais” s˜ao estabelecidas algumas nota¸c˜oes, defini¸c˜oes e teoremas que servir˜ao de ferramentas b´asicas para o desenvolvimento do con-te´udo principal. Incluem-se nessa se¸c˜ao:
1. a defini¸c˜ao de somabilidade em espa¸cos de Banach com alguns resultados, para que possamos lidar com espa¸cos de Hilbert n˜ao-separ´aveis;
2. as defini¸c˜oes de semi-´algebras e ´algebras de conjuntos, que ser˜ao cruciais para que possamos estabelecer (de maneira um tanto “limpa”) uma esti-mativa vital, quando formos demonstrar o teorema espectral para n-uplas finitas de operadores lineares limitados auto-adjuntos que comutam dois a dois;1
3. uma subse¸c˜ao na qual s˜ao expostos alguns resultados rudimentares sobre a teoria de C∗-´algebras, que ser˜ao importantes para a demonstra¸c˜ao de v´arios teoremas presentes nos Apˆendices A e B. As informa¸c˜oes desta sub-se¸c˜ao s´o ser˜ao utilizadas fortemente nos Apˆendices A e B, e n˜ao precisam ser lidas caso n˜ao se pretenda lˆe-los (na verdade, utilizamos levemente um resultado mencionado logo no in´ıcio dessa subse¸c˜ao - a expans˜ao da s´erie de Von Neumann - para podermos concluir alguns detalhes da demonstra¸c˜ao do teorema de Kato-Rellich; mas esta ´e a ´unica exce¸c˜ao).
O Cap´ıtulo 1 se encarrega da demonstra¸c˜ao detalhada, utilizando-se somente a teoria de espa¸cos de Hilbert e alguns resultados de medida e integra¸c˜ao, das linhas gerais do teorema espectral para operadores lineares auto-adjuntos ex-postas em [18]. Tal teorema se encarrega da caracteriza¸c˜ao dos operadores lineares auto-adjuntos (n˜ao-limitados) agindo num espa¸co de Hilbert (n˜ao ne-cessariamente separ´avel) como sendo unitariamente equivalentes a um operador de multiplica¸c˜ao por uma fun¸c˜ao real e Borel-mensur´avel definido num certo espa¸co de fun¸c˜oes de quadrado integr´avel.
estimativas utilizamos o C´alculo Funcional estabelecido no cap´ıtulo 1 (tamb´em utilizamos tal C´alculo para demonstrar o Lema 2.2).
No Cap´ıtulo 3 apresentamos alguns conceitos b´asicos relativos `a Teoria de Distribui¸c˜oes para estabelecer o dom´ınio de “self-adjointness” do Laplaciano, e utiliza-se o teorema de Kato-Rellich para concluir que os operadores de Schr¨o-dinger da forma−∆ +V(x), agindo emL2(Rn), com
V =V1+V2, V1∈L2(Rn), V2∈L∞(Rn),0< n≤3,
est˜ao bem-definidos e s˜ao auto-adjuntos emH2(Rn). Em particular, mostra-se que o operador de Schr¨odinger que descreve um modelo aproximado do sistema correspondente a um ´atomo de hidrogˆenio ´e auto-adjunto emH2(Rn) e limitado inferiormente. Essa ´e uma aplica¸c˜ao muito famosa, e muito importante para a Mecˆanica Quˆantica n˜ao-relativ´ıstica. Tamb´em mostramos que o operador de Schr¨odinger correspondente a um modelo aproximado de um ´atomo qualquer ´e auto-adjunto em emH2(Rn).2
O Cap´ıtulo 4 destina-se `a demonstra¸c˜ao detalhada da famosa desigualdade (distribucional) de Kato, com uma aplica¸c˜ao aos operadores de Schr¨odinger da forma−∆ +V(x), ondeMV(x)´e um operador de multiplica¸c˜ao limitado
infe-riormente tal que V ∈ L2loc(Rn) (a saber, mostramos que tais operadores s˜ao essencialmente auto-adjuntos em C∞
c (Rn)). Em particular, mostra-se que o operador de Schr¨odinger relativo ao potencial de Coulomb em uma dimens˜ao ´e essencialmente auto-adjunto emC∞
c (Rn), e comenta-se como a desigualdade de Kato pode ser refinada de modo a podermos aplic´a-la a operadores de Schr¨odin-ger relativos a sistemas denpart´ıculas carregadas sujeitas `a a¸c˜ao de um campo magn´etico constante.
No Apˆendice A ´e dada uma demonstra¸c˜ao alternativa do teorema espectral para operadores normais utilizando a teoria de C∗-´algebras, e conclui-se uma
nova demonstra¸c˜ao do teorema espectral para operadores auto-adjuntos que n˜ao s˜ao limitados, com o aux´ılio do teorema de Von Neumann (que classifica as ex-tens˜oes sim´etricas de um operador sim´etrico em termos da transforma¸c˜ao de Cayley), tamb´em demonstrado no apˆendice.
No Apˆendice B demonstra-se, tamb´em utilizando a teoria de C∗-´algebras, o teorema espectral para uma cole¸c˜ao infinita (de qualquer cardinalidade) de operadores limitados auto-adjuntos que comutam dois a dois.
Considera¸c˜oes Iniciais
I) todos os espa¸cos vetoriais mencionados ser˜ao considerados sobre o corpo
Cdos n´umeros complexos;
II) as normas e os produtos internos (que ser˜ao considerados lineares na primeira entrada, seguindo a “nomenclatura dos matem´aticos”) de um espa¸co normado (respectivamente, espa¸co com produto interno) ser˜ao representados in-distintamente pork·k/h·,·i, estando subentendido no contexto a qual espa¸co tal norma (respectivamente, produto interno) se refere;
III) uma nota¸c˜ao recorrente que ser´a utilizada ´e a seguinte: seX ´e um es-pa¸co normado ex∈X, com{xn}n∈Nsendo uma seq¨uˆencia de elementos de X
que converge parax, indicaremos “xn−→x” para indicar que “limnxn =x”; IV) seI´e um intervalo compacto, ou o produto cartesiano finito de intervalos compactos, ent˜ao:
1. P(I) denota o espa¸co normado das fun¸c˜oes polinomiaispcom coeficientes complexos definidas emI, com a norma do supkpk∞:= sup{|p(x)|:x∈I};
2. C(I) denota o espa¸co normado das fun¸c˜oes cont´ınuas a valores complexos definidas em I, com a “norma do sup”kfk∞ := sup{|f(x)|:x∈I}. A
fun¸c˜ao idC(I) ser´a sempre definida por idC(I)(x) := x, para todox ∈I,
e a fun¸c˜ao 1C(I), por 1C(I)(x) := 1, para todo x ∈ I (na verdade, para
todo espa¸co topol´ogico compacto e Hausdorff X, o espa¸co das fun¸c˜oes cont´ınuas a valores complexos definidas emX ser´a denotado porC(X), e ser´a sempre munido da norma do sup, tornando-se um espa¸co de Banach, desta forma);
3. seµ´e uma medida que possui as propriedades da medida constru´ıda no Teorema da Representa¸c˜ao de Riesz (veja a p´agina 45), ent˜ao Cµ(I) de-nota o espa¸co normado das classes de equivalˆencia (segundo a rela¸c˜ao de equivalˆencia usual induzida pela medidaµ) de fun¸c˜oes cont´ınuasf a va-lores complexos definidas emI, com a norma herdada do espa¸coL2(I, µ)
(a norma induzida pelo produto interno usual). Isto ´e poss´ıvel devido ao fato de que Cµ(I) ⊆ L2(I, µ) (na verdade, Cµ(I) ´e denso em L2(I, µ)).
A nota¸c˜aoidCµ(I) sempre indicar´a a classe de equivalˆencia deidC(I) com
respeito a µ, e 1Cµ(I) sempre indicar´a a classe de equivalˆencia de 1C(I)
com respeito aµ;
4. B(R) denota o espa¸co das fun¸c˜oes definidas em R a valores complexos,
Borel-mensur´aveis e limitadas, e ´e munido da norma do sup (inclusive, torna-se um espa¸co de Banach, desta forma);
quanto para nos referirmos a sua classe de equivalˆencia relativa aµ(por exem-plo, nos espa¸cos Lp(M, µ), 1
≤ p ≤ +∞. Lembramos que L∞(M, µ) ´e
de-finido como sendo o conjunto das fun¸c˜oes f mensur´aveis tais que kfk∞ :=
inf
λ∈R, λ≥0 :µ(|f|−1[(λ,+∞)]) = 0 < +∞; os membros desta ´algebra
ser˜ao chamados de fun¸c˜oes essencialmente limitadas). Tamb´em chamamos a aten¸c˜ao para o fato de que usamos a mesma nota¸c˜ao para indicar as normas do sup e a norma das fun¸c˜oes essencialmente limitadas, estando impl´ıcito pelo contexto qual delas est´a sendo usada;
V) um operador linearAnum espa¸co de HilbertH ser´a uma transforma¸c˜ao linear cujos dom´ınio e conjunto-imagem est˜ao contidos em H, e seu dom´ınio ser´a sempre um subespa¸co vetorial de H. O seu dom´ınio ser´a denotado por Dom(A), enquanto sua imagem e kernel ser˜ao denotados por Im(A) e Ker(A), respectivamente; seu gr´afico ser´a denotado por
Gr(A) :={(u, v)∈H×H :u∈Dom(A), v=Au};
VI) se A eB s˜ao dois operadores lineares num espa¸co de Hilbert H, ent˜ao definiremos
Dom(A+B) := Dom(A)∩Dom(B) e
Dom(A◦B) :={u∈Dom(B) :Bu∈Dom(A)};
note que tais dom´ınios, assim definidos, permanecem sendo subespa¸cos vetoriais deH;
VII) seAeB s˜ao dois operadores lineares num espa¸co de HilbertH, diremos queB ´e uma extens˜ao de A, e escreveremos A⊂B, se Dom(A)⊆Dom(B) e
B|Dom(A)=A; (perceba que tal nota¸c˜ao torna-se natural se interpretarmos uma
fun¸c˜ao definida emH a valores emH como sendo um subconjunto deH×H) VIII) se X ´e um espa¸co normado, ent˜ao B(X) denota o espa¸co normado dos operadores lineares limitados T : Dom(T) −→ X tais que Dom(T) ´e um subconjunto denso deX, com a norma dada por
kTk:= sup{kT xk/kxk:x∈Dom(T), x6= 0},
para todo T ∈ B(X). O operador identidade IB(X) ∈ B(X) ´e definido por
IB(X)(u) :=u, para todou∈X, e o operador nulo 0B(X)∈ B(X) ´e definido por
0B(X)(u) := 0, para todo u∈ X. Devido ao Lema 1.1 (B.L.T.), demonstrado
(ou seja, operadoresT tais quekTk = +∞)3 sobre espa¸cos de Hilbert (e cujo
operador adjunto correspondente esteja bem definido). Ainda notamos tamb´em que, devido ao Teorema do Gr´afico Fechado,4vemos que operadores lineares n˜
ao-limitados (ou, equivalentemente, n˜ao-cont´ınuos) fechados n˜ao podem satisfazer Dom(T) =X. Ali´as, notamos aqui como os operadores n˜ao-limitados s˜ao entes bastante naturais, a partir do exemplo de um operador de diferencia¸c˜ao agindo num espa¸co de Banach: considere o operador de diferencia¸c˜aoD:C1([−π, π])⊆
C([−π, π]) −→ C([π, π]), D : f 7−→ D(f) := f′. Vamos mostrar que este
operador n˜ao ´e limitado. De fato, considere a seq¨uˆencia{fn}n∈N definida por fn(x) := sen(nx)
n , n∈N, x∈[−π, π].
Vemos que os elementos desta seq¨uˆencia est˜ao em C1([−π, π]) e que f
n −→ 0[−π,π], pois
sen(nx)
n ∞≤
1
n,
para todo n∈ N. No entanto, {D(fn)}N ´e uma seq¨uˆencia de fun¸c˜oes tal que,
para cada x ∈ [−π, π] fixado, o limite limnD(fn)(x) n˜ao existe. Logo, n˜ao existe um elemento g em C([−π, π]) que possa satisfazer D(fn) −→ g, pois a convergˆencia pontual da seq¨uˆencia ´e condi¸c˜ao necess´aria para que haja a con-vergˆencia uniforme da seq¨uˆencia. Em particular, n˜ao podemos ter D(fn)−→
D(0C([−π,π])) = 0C([−π,π]), eDn˜ao ´e um operador cont´ınuo emC([−π, π]). Para
ver um exemplo de operador n˜ao-limitado em espa¸cos de Hilbert, basta tomar o operador de diferencia¸c˜ao com dom´ınioH1[0,1]
⊆L2[0,1] (com a medida de
Le-besgue e norma induzida deL2[0,1]).5 A sequˆencia
{φn(x) :=√2sen(nπx)}n∈N
´e formada somente por elementos de norma 1 e est´a emL2[0,1], mas a sequˆencia
de suas derivadas satisfazkφnk=nπ, para todo n∈N, mostrando novamente que tal operador n˜ao ´e cont´ınuo.
Um resultado elementar relativo `a geometria de espa¸cos de Hilbert e que ser´a utilizado freq¨uentemente ´e o
IX) Teorema I: Se H ´e um espa¸co de Hilbert e F ⊆ H ´e um subespa¸co vetorial fechado, ent˜ao H =F⊕F⊥, isto ´e, se x∈H, ent˜ao existem x
1∈F e
x2∈F⊥tais quex=x1+x2e, sex=x1+x2= (x1)′+(x2)′, comx1,(x1)′∈F
e x2,(x2)′ ∈ F⊥, ent˜ao x1 = (x1)′ e x2 = (x2)′; al´em disso, existe um par
P, Q∈ B(H) unicamente determinado pelas propriedades: (i) IB(H) =P+Q,
(ii) Im(P)⊆F e (iii) Im(Q)⊆F⊥. P e Qpossuem as seguintes propriedades
3Salientamos aqui que assumir esta interpreta¸c˜ao para a express˜ao “n˜ao-limitado” n˜ao ´e uma pr´atica usual da literatura, ou seja, costuma-se dizer “n˜ao-limitado” (unbounded) para afirmar que um operador n˜ao ´enecessariamente limitado. No entanto, n˜ao adotaremos esta
pr´atica amb´ıgua neste texto
4SeT :X⊇Dom(T)−→Y ´e uma transforma¸c˜ao linear tal que Dom(T) ´e fechado emX e cujo gr´afico ´e fechado - segundo a topologia do gr´afico induzida pela norma (x, y)7−→ kxk+kyk
-, ent˜aoT ´e cont´ınua
adicionais: (iv) P◦Q= Q◦P = 0B(H) e (v) P2 =P, Q2 =Q (ou seja, P
e Q s˜ao proje¸c˜oes - veja a Defini¸c˜ao abaixo). Devido `a propriedade (iv), P e Qs˜ao denominadas proje¸c˜oes ortogonais sobre F eF⊥, respectivamente. Note que Im(P) =F e Im(Q) =F⊥
X) se A ´e um operador linear num espa¸co de Hilbert H, defina DA := {v∈H : existeη∈H satisfazendohAu, vi=hu, ηi, para todo u∈Dom(A)}.
Vamos mostrar que cada v ∈DA determina unicamente o η da defini¸c˜ao se, e somente se,A´e densamente definido, isto ´e, o conjunto Dom(A) ´e denso emH: ⇒) Sejam v ∈ DA e η ∈ H um elemento tal que hAu, vi = hu, ηi, para todo u ∈ Dom(A). Suponhamos que Dom(A) n˜ao seja denso em H. En-t˜ao, Dom(A)6=H e, pelo Teorema I, garantimos a existˆencia de um elemento 0 6=w∈Dom(A)⊥. Portanto,hAu, vi=hu, η+wi=hu, ηi+hu, wi=hu, ηi, para todou∈Dom(A), e vemos queη+wtamb´em contempla a defini¸c˜ao, mas
η+w6=η (na verdade, (η+αw) contempla a defini¸c˜ao para todo α∈C).
⇐) Sejav∈DA. Se η1, η2 ambos contemplam a defini¸c˜ao, ent˜ao para todo
u ∈ Dom(A), tem-se que 0 = hu, η1 −η2i. Como Dom(A) ´e denso em H,
sabemos que existe uma seq¨uˆencia {un}n∈N de elementos de Dom(A) tal que un −→ (η1−η2). Da igualdade acima, obtemos 0 = hun, η1−η2i, para todo
n∈N. Tomando limites em ambos os membros, conclu´ımos 0 =hη1−η2, η1−η2i,
e vem queη1=η2. Logo, oη da defini¸c˜ao est´a unicamente determinado.
Assim, seA´e um operador linear densamente definido emH, podemos defi-nir em fun¸c˜ao deste um outro operador emH, que denotaremos porA∗, e ser´a
tal que Dom(A∗) :=D
AeA∗v:=η, ondeη´e tal quehAu, vi=hu, ηi, para todo
u∈Dom(A) (note queDA´e um espa¸co vetorial eA∗´e linear).
A∗ ser´a denominado o operador adjunto deA(lembramos que seA
∈ B(H) - e, portanto, Dom(A) =H -, ent˜ao Dom(A∗) =H, pelo Lema de Riesz6).
XI) seA´e um operador linear num espa¸co de HilbertH, definimos seu resol-vente como sendo o conjunto dosλ∈Cque satisfazem as seguintes condi¸c˜oes:
1. (λIB(H)−A) : Dom(A)−→H ´e uma bije¸c˜ao;
2. existe um operador linear limitado (λIB(H)−A)−1:H −→Dom(A) que
satisfaz (λIB(H)−A)(λIB(H)−A)−1=IB(H)e (λIB(H)−A)−1(λIB(H)−
A) =IB(Dom(A)).
Denotaremos o resolvente de A porρ(A); definimos o espectro de A como sendoσ(A) :=C\ρ(A);
6Seλ´e um funcional linear limitado definido num espa¸co de HilbertH, ent˜ao existe um ´
XII) Defini¸c˜ao: Se H ´e um espa¸co de Hilbert, ent˜ao um operador linear densamente definidoA ´e dito auto-adjunto seA=A∗.
Em Mecˆanica Quˆantica n˜ao-relativ´ıstica, o estado de uma part´ıcula ´e dado por uma fun¸c˜ao R4 ∋ (x, t) 7−→ψ(x, t)∈ C de quadrado integr´avel sobre R3,
para todot∈Rfixado (ou melhor, (x, t)7−→ψ(x, t) satisfazR
R3|ψ(x, t)|2dx=
C, onde C ´e uma constante real, para todo t ∈ R fixo). Ela ´e denominada
fun¸c˜ao de onda da part´ıcula. Atrav´es de uma normaliza¸c˜ao, tal aplica¸c˜ao induz uma distribui¸c˜ao de probabilidade para a posi¸c˜ao da part´ıcula. A evolu¸c˜ao desta fun¸c˜ao ´e governada pela equa¸c˜ao
i~∂
∂tψ=Hψ,
chamada equa¸c˜ao de Schr¨odinger.7 Aqui,H ´e um operador
H :=−~
2
2m∆ +MV(x)
agindo em um certo dom´ınio Dom(H) ⊆ L2(Rn), e ´e chamado operador de Schr¨odinger que, com o dom´ınio adequado, representa a energia mecˆanica do sistema correspondente. Se o problema de valor inicial
i~∂
∂tψ=Hψ
ψ|t=0=ψ0 ,
para algum ψ0 ∈Dom(H) fixo, possui uma ´unica solu¸c˜ao, e que preserva
pro-babilidade (i.e., (x, t)7−→ψ(x, t) satisfaz R
R3|ψ(x, t)|2dx= 1, para todot ∈R
fixo), diz-se que existe uma dinˆamica unit´aria. Prova-se que uma dinˆamica uni-t´aria existe se, e somente se,H ´e auto-adjunto. Al´em disso, os observ´aveis da Mecˆanica Quˆantica tais como posi¸c˜ao, momento, energia, etc., s˜ao represen-tados por operadores auto-adjuntos agindo num espa¸co de Hilbert. Estes fatos s˜ao uma motiva¸c˜ao (provinda de argumentos f´ısico-matem´aticos) do porquˆe de a propriedade de “self-adjointness” ser algo importante, e do porquˆe de investigar-se quando investigar-se tem a propriedade de “self-adjointness” para operadores da forma
H=−∆ +MV(x).
XIII) se f ´e uma fun¸c˜ao mensur´avel e finita em µ-quase toda parte rela-tivamente a um espa¸co de medida positiva (M, µ), definimos o operador de multiplica¸c˜ao Mf : Dom(Mf) −→ L2(M, µ) por Mf(g) = f ·g, para toda
g ∈ Dom(Mf) := g∈L2(M, µ) : (f ·g)∈L2(M, µ) . Este operador possui uma participa¸c˜ao fundamental na essˆencia do Teorema Espectral. Se Mf : Dom(Mf) −→ L2(M, µ) ´e um operador de multiplica¸c˜ao, ent˜ao quatro fatos importantes `a respeito deste s˜ao:
1. Mf ´e densamente definido (e, portanto, o seu adjunto est´a sempre bem definido);
2. (Mf)∗=Mf;
3. kMfk ≤ kfk∞. SeM forσ-finito, ekfk∞<∞, ent˜aokMfk=kfk∞;
4. seM ´e σ-finito, ent˜aoσ(Mf) ={λ∈C:µ({x∈M :|λ−f(x)|< ǫ})> 0,∀ǫ > 0} (este ´ultimo conjunto ´e chamado de imagem essencial de f, e ser´a denotado por Imess(f)).
Demonstra¸c˜ao de 1: Defina, para cadan∈N,
En:={x∈M :|f(x)| ∈[0, n]},
e seja ξ ∈ Dom(Mf)⊥ ⊆ L2(M, µ). Ent˜ao, RMξφdµ = 0, para todo φ ∈ Dom(Mf) eξχEn∈Dom(Mf), pois ξχEn∈L
2(M, µ) e
Z
M|
f(ξχEn)|
2dµ=Z
M|
f ξ|2|χEn|
2dµ=Z
M|
f ξ|2χEndµ=
Z
En
|f ξ|2dµ
≤n2 Z
En
|ξ|2dµ
≤n2 Z
M|
ξ|2dµ <
∞.
Portanto, R
M|ξ|
2χ
Endµ = R
Mξ ·ξχEndµ = 0, para todo n ∈ N. Como
|ξ|2χ
En −→ |ξ|
2 pontualmente e
|ξ|2χ
En ≤ |ξ|
2
∈L1(M, µ), para todo n
∈N,
obtemos pelo Teorema da Convergˆencia Dominada (ou pelo Teorema da Con-vergˆencia Mon´otona) que R
M|ξ|
2dµ = limnR
M|ξ|
2χ
Endµ = 0, o que implica ξ= 0∈L2(M, µ). Assim, conclu´ımos que Dom(M
f) =L2(M, µ). Demonstra¸c˜ao de 2:
Primeiro, notemos que Mf ⊂ (Mf)∗, pois se θ ∈ Dom(Mf) = Dom(Mf), ent˜ao
hMfφ, θi=hf φ, θi=
Z
M
(f φ)θdµ=
Z
M
φ(f θ)dµ=hφ, f·θi,
para todoφ∈Dom(Mf) e, como (f·θ)∈L2(M, µ), segue pela defini¸c˜ao de ad-junto queθ∈Dom((Mf)∗), com (Mf)∗θ=Mfθ. Seja, agora,θ∈Dom((Mf)∗). Ent˜ao, existe um ´unico elemento em L2(M, µ), denotado por (M
f)∗θ, tal que hMfφ, θi =hφ,(Mf)∗θi, para todo φ ∈ Dom(Mf). Vamos mostrar que f θ ∈
L2(M, µ). De fato, como para todoρ∈L2(M, µ) a norma do funcional linear
L2(m, µ)∋ψ7−→ hψ, ρi
´e kρk, obtemos pelo Teorema da Convergˆencia Mon´otona (considerando En como acima),
∞> Z
M|
(Mf)∗θ|2dµ= lim n
Z
M|
(Mf)∗θ|2χEndµ= lim n k[(Mf)
∗θ]χ
Enk
2
lim n (sup
|hψ,[(Mf)∗θ]χEni|:ψ∈L
2(M, µ),
kψk= 1 )2= lim
n (sup
|hψ,(Mf)∗θi|:ψ∈L2(M, µ),kψk= 1, ψ|M\En= 0 )
2=(∗)
lim n (sup
|hMfψ, θi|:ψ∈L2(M, µ),kψk= 1, ψ|M\En= 0 )
2=
lim n (sup
|hψ, f θi|:ψ∈L2(M, µ),kψk= 1, ψ|M\En= 0 )
2=
lim n (sup
|hψ, f θχEni|:ψ∈L
2(M, µ),
kψk= 1 )2=
lim n
f θχEn
2 = lim n Z M|
f θχEn|
2dµ= f θ
2
.
Note que em (∗) foi usado que as fun¸c˜oes ψ∈L2(M, µ),kψk= 1, ψ|M
\En = 0
pertencem ao dom´ınio deMf. Segue, ent˜ao, queθ´e uma fun¸c˜ao deL2(M, µ) tal quef θ∈L2(M, µ). Portanto, conclu´ımos que Dom((M
f)∗)⊆Dom(Mf). Logo, Dom((Mf)∗) = Dom(Mf), e como j´a foi mostrado que Mf ⊂(Mf)∗, conclu´ı-mos queMfθ= (Mf)∗θ, demonstrando que (Mf)∗ ⊂Mf. Logo, (Mf)∗ =Mf. Obtemos como corol´ario deste teorema que, se f ´e uma fun¸c˜ao a valores reais, ent˜aoMf ´e auto-adjunto.
Demonstra¸c˜ao de 3:
Notemos, primeiramente, que kMfk ≤ kfk∞. Se kfk∞ = +∞, a
desi-gualdade ´e trivialmente satisfeita. Suponhamos que kfk∞ < ∞. Para todo φ∈Dom(Mf), tem-se que
kMfφk2=
Z
M|
f φ|2dµ=Z
|f|−1[(kfk∞,+∞)]|
f φ|2dµ+
Z
M\|f|−1[(kfk∞,+∞)]|
f φ|2dµ=Z
M\|f|−1[(kfk∞,+∞)]|
f φ|2dµ=
Z
|f|−1[0,kfk∞]|
f φ|2dµ
≤ kfk2
∞ Z
|f|−1[0,kfk∞]|
φ|2dµ
≤
kfk2∞ Z
M|
φ|2dµ=kfk2∞kφk2,
mostrando quekMfk ≤ kfk∞. Suponha, agora, queM ´eσ-finito e quekfk∞<
∞. Para ver quekMfk ≥ kfk∞, tomer <kfk∞. Vamos mostrar quekMfk> r. Pela defini¸c˜ao de kfk∞, temos que µ(f−1[r,+∞)) > 0. Agora, como (M, µ)
´e σ-finito, garantimos a existˆencia de um subconjunto E ⊆ f−1[r,+
∞) de medida finita e estritamente positiva. Dessa forma, a fun¸c˜ao caracter´ıstica
χE ∈ Dom(Mf) (basta fazer um c´alculo semelhante ao que foi feito no item 1 para ver queR
M|f χE|
2dµ
≤ kfk2
∞ R
M|χE|
2dµ=
kfk2
∞µ(E)) e
kMf(χE)k2=
Z
M|
f χE|2dµ=
Z
E|
f|2dµ > r2Z
E
r2
Z
M|
χE|2dµ=r2kχEk2.
Logo, comokχEk 6= 0, conclu´ımos quekMfk> r. Isto finaliza a demonstra¸c˜ao. Corol´ario: Se M for σ-finito, ent˜ao Mf ser auto-adjunto implica que f
seja, a menos de um conjunto de medida nula, uma fun¸c˜ao a valores reais.
Demonstra¸c˜ao: Se Mf for auto-adjunto, ent˜ao pelo item 2, temos que
Mf−f = 0. Logo, pelo que acabou de ser mostrado no item 3, 0 = Mf−f = kf−fk∞, e conclu´ımos quef =f emµ-quase toda parte de M.
Observa¸c˜ao importante: enfatizamos que a propriedade fundamental do espa¸co de medida (M, µ) utilizada para mostrar quekMfk ≥ kfk∞ foi a
exis-tˆencia de um subconjunto E ⊆ f−1[r,+
∞) de medida finita e estritamente positiva. Logo, se ao inv´es da σ-finitude de M exig´ıssemos a hip´otese mais fraca de queM seja um espa¸co de medida no qualtodo subconjunto S⊆M de medida estritamente positiva possui um subconjuntoE ⊆S de medida finita e estritamente positiva, concluir´ıamos que kMfk ≥ kfk∞. O espa¸co de medida
que construiremos no decorrer do Teorema Espectral possuir´a esta propriedade, como mostraremos na p´agina 63.
Demonstra¸c˜ao de 4:
Suponha queλ∈ρ(Mf). Ent˜ao, existe um operador limitadoL agindo em
L2(M, µ) satisfazendo (LM
λ−f)φ = φ, para todo φ ∈ Dom(Mλ−f) (note que λIL2(M µ)−Mf =Mλ−f). Isto implica
kLk2 Z
M|
λ−f|2|φ|2dµ≥ Z
M|
φ|2dµ,
ou melhor,
Z
M
1
kLk2 − |λ−f| 2
|φ|2dµ
≤0,
para todoφ∈ Dom(Mλ−f) = Dom(Mf). Afirmamos que kL1k2 − |λ−f|2 ≤0
emµ-quase toda parte de M. Suponha, por absurdo, que exista um conjunto de medida positivaS ⊆M de forma que 1
kLk2 − |λ−f|2 >0 emµ-quase toda
parte deS. Pela σ-finitude deM, podemos encontrar um subconjuntoE deS
com medida estritamente positiva e finita. Portanto, como tamb´em
E=∪n∈N(E∩ |f|−1[0, n]),
existe n0 ∈ N tal que +∞ > µ(E∩ |f|−1[0, n0]) >0. Assim, χE∩|f|−1[0,n0] ∈
Dom(Mf) e conclu´ımos que
Z
M
1
kLk2− |λ−f| 2
Z
E∩|f|−1[0,n0]
1
kLk2 − |λ−f|
2dµ >0,
e isto n˜ao pode ocorrer. Portanto,
|λ−f| ≥ 1
kLk
emµ-quase toda parte deM, estabelecendo queλn˜ao est´a na imagem essencial def. Logo, Imess(f)⊆σ(Mf).
(Outra observa¸c˜ao importante: Como no item anterior, poder´ıamos trocar a propriedade deσ-finitude e substituir por aquela outra propriedade mencio-nada, mais fraca, e ainda obter´ıamos a mesma conclus˜ao).
Suponha, agora, queλ /∈Imess(f). Ent˜ao, por hip´otese, existeǫ >0 tal que
µ({x ∈M : |λ−f(x)| < ǫ}) = 0. Portanto, |λ−f(x)| ≥ ǫ >0 em µ-quase toda parte deM, mostrando que est´a bem definido emL2(M, µ) e ´e limitado
o operador M 1
|λ−f(x)|, com Dom
M 1
|λ−f(x)|
= L2(M, µ), pelo item 3 - para
concluir que
DomM 1
|λ−f(x)|
=L2(M, µ),
usamos que
1
λ−f(x)
∞
≤ 1ǫ.
Ent˜ao,λ∈ρ(Mf), e isto estabelece a inclus˜aoσ(Mf)⊆Imess(f).
XIV) Defini¸c˜ao: Se A ´e um operador linear definido num espa¸co de Hil-bert H, diremos que A ´e fechado se seu gr´afico ´e um subconjunto fechado de H×H, segundo a norma definida em H×H dada pork(u, v)k:=kuk+kvk, para todo (u, v) ∈ H ×H; A ser´a dito fech´avel se possuir uma extens˜ao fe-chada. Neste caso, a menor extens˜ao fechada de A - no sentido da inclus˜ao - ser´a denotada por A, e denominada o fecho de A. Notamos aqui que, se
Gr(A) := {(u, v)∈H×H :u∈Dom(A) e v = Au e A for fech´avel, ent˜ao
Gr(A) = Gr(A). Em particular, o conjunto Gr(A)ser´a o gr´afico de um opera-dor linear.
Alguns fatos que devem ser ressaltados, e que poder˜ao ser utilizados suma-riamente, s˜ao os seguintes:
seA ´e um operador linear densamente definido num espa¸co de HilbertH, ent˜ao:
1. A∗ ´e um operador fechado;
2. seAfor fech´avel, ent˜aoA=A∗∗eA∗=A∗;
Se A´e um operador linear densamente definido num espa¸co de HilbertH, diremos queA´e sim´etrico se o seu adjunto o estende. Como o adjunto de um operador linear ´e sempre fechado, temos que todo operador linear sim´etrico ´e fech´avel. Al´em disso, A´e dito ser essencialmente auto-adjunto se o seu fecho ´e um operador auto-adjunto.
XV) Defini¸c˜ao: Uma transforma¸c˜ao linear U : H1 −→ H2 entre os
espa-¸cos com produto interno H1 e H2 ´e dito um operador unit´ario se ´e bijetor e
hu, vi=hU u, U vi, para todosu, v ∈H1. Se U : Dom(U)⊆H1−→H2for uma
bije¸c˜ao tal quehu, vi=hU u, U vi, para todos u, v ∈Dom(U)mas Dom(U) n˜ao for necessariamente igual a H1, ent˜ao diremos que U ´e uma isometria. Note
que todo operador unit´ario ´e uma isometria.
XVI) Defini¸c˜ao: Se H ´e um espa¸co de Hilbert, ent˜ao um operador linear N∈ B(H)´e dito normal seN◦N∗=N∗
◦N.
XVII) Defini¸c˜ao: Se H ´e um espa¸co de Hilbert, ent˜ao um operador linear P ∈ B(H) ´e dito uma proje¸c˜ao se P2 = P. Um resultado importante sobre
proje¸c˜oes ´e a equivalˆencia:
SejaP uma proje¸c˜ao. Ent˜aoP´e auto-adjunta se, e somente se, ´e a proje¸c˜ao ortogonal sobre algum subespa¸co fechadoF deH.
Demonstra¸c˜ao:
⇒) Vamos mostrar, primeiramente, que a imagem de P ´e fechada emH. De fato, se {un}n∈N ´e uma seq¨uˆencia de elementos de H tal que P un −→
η ∈ H, ent˜ao pela continuidade de P, segue que P un = P(P un) −→ P(η) e, pela unicidade do limite, segue que P(η) = η. Definindo o operador li-near Q : u 7−→ (u−P u), para todo u ∈ H, vemos que hP v, u−P ui = hv, P∗(u
−P u)i=hv, P(u−P u)i=hv, P u−P2u
i=hv, P u−P ui= 0, quaisquer que sejam u, v ∈ H. Logo, como se u ∈ H ´e dado, temos u= P u+Qu, te-moskQuk2=kuk2− kP uk2≤ kuk2, mostrando queQ∈ B(H). Ent˜ao, fazendo
F= Im(P) no enunciado do Teorema I, garantimos pela unicidade da existˆencia dos operadores ali mencionados queP´e a proje¸c˜ao ortogonal sobre sua imagem. ⇐) Sejam Q ∈ B(H) a proje¸c˜ao ortogonal sobre F⊥ e u, v ∈ H. Ent˜ao, hP u, vi = hP u, P v+Qvi = hP u, P vi+hP u, Qvi = hP u, P vi = hu, P∗P v
i. Como tal igualdade ´e v´alida para todosu, v∈H, conclu´ımos queP∗=P∗P, e
temos queP=P∗∗= (P∗P)∗=P∗P =P∗.
XVIII) Sejam Ae B operadores lineares densamente definidos num espa¸co de HilbertH. Ent˜ao, seA+BeA◦Btamb´em s˜ao densamente definidos, temos que:
1. A∗+B∗
⊂(A+B)∗ (se A
2. B∗
◦A∗
⊂(A◦B)∗ (seA
∈ B(H), ent˜aoB∗
◦A∗= (A
◦B)∗).
Demonstra¸c˜ao de 1:
Se ξ ∈ Dom(A∗+B∗) = Dom(A∗)∩Dom(B∗), ent˜ao hu, A∗ξ+B∗ξi =
hu, A∗ξi+hu, B∗ξi=hAu, ξi+hBu, ξi=h(A+B)u, ξi=hu,(A+B)∗ξi, para
todou∈Dom(A+B) = Dom(A)∩Dom(B). Portanto, da defini¸c˜ao de adjunto, segue queξ∈Dom(A+B)∗eA∗ξ+B∗ξ= (A+B)∗ξ. Da arbitrariedade deξ,
obtemosA∗+B∗
⊂(A+B)∗.
Suponha, agora, queA∈ B(H), e tomeξ∈Dom((A+B)∗). Ent˜ao, pela
de-fini¸c˜ao de adjunto,h(A+B)u, ξi=hu,(A+B)∗ξ
i, para todou∈Dom(A+B). Ainda, como Dom(A+B) = H ∩Dom(B) = Dom(B) e ξ ∈ Dom(A∗) = H
(pois kA∗
k =kAk < ∞), temos quehu, A∗ξ
i+hBu, ξi =hAu, ξi+hBu, ξi = h(A +B)u, ξi = hu,(A+B)∗ξ
i, para todo u ∈ Dom(A +B) = Dom(B). Mas, pela defini¸c˜ao de adjunto, isto ´e equivalente a dizer que ξ ∈Dom(B∗) = H∩Dom(B∗) = Dom(A∗)
∩Dom(B∗) e B∗ξ = (A+B)∗ξ
−A∗ξ. Portanto,
(A+B)∗⊂A∗+B∗. Conclu´ımos, ent˜ao, queA∗+B∗= (A+B)∗.
Demonstra¸c˜ao de 2:
Sejaξ∈Dom(B∗◦A∗). Ent˜ao,A∗ξ∈Dom(B∗), de onde vem quehBu, A∗ξi= hu,(B∗
◦A∗)ξ
i, para todou∈Dom(B). Em particular, hBu, A∗ξ
i=hu,(B∗
◦
A∗)ξ
i, para todo u ∈ Dom(A◦ B) = {u∈Dom(B) :Bu∈Dom(A)}. Por-tanto,h(A◦B)u, ξi=hBu, A∗ξ
i=hu,(B∗
◦A∗)ξ
i, para todou∈Dom(A◦B). Logo, pela defini¸c˜ao de adjunto, conclu´ımos que ξ ∈ Dom((A◦B)∗) e que
(A◦B)∗ξ= (B∗
◦A∗)ξ. Assim,B∗
◦A∗
⊂(A◦B)∗.
Suponhamos, agora, queA∈ B(H), e sejaξ∈Dom(A◦B)∗. Ent˜ao,
hA(Bu), ξi=h(A◦B)u, ξi=hu,(A◦B)∗ξi,
para todou∈Dom(A◦B). Decorre deA∈ B(H) que hBu, A∗ξi=hA(Bu), ξi,
para todou∈Dom(A◦B), uma vez queξ ∈Dom(A∗) =H. Assim,
conclu´ı-mos queA∗ξ∈Dom(B∗), e que B∗(A∗ξ) = (A◦B)∗ξ. Mostramos, ent˜ao, que
Dom((A◦B)∗)
⊆Dom(B∗
◦A∗), e que (B∗
◦A∗)
|Dom((A◦B)∗)= (A◦B)∗, isto
´e, (A◦B)∗
⊂B∗
◦A∗, finalizando a demonstra¸c˜ao.
XIX) Demonstraremos, agora, condi¸c˜oes necess´arias e suficientes para que um operador linear sim´etrico num espa¸co de Hilbert seja auto-adjunto.
Teorema II:Se H ´e um espa¸co de Hilbert, A´e um operador linear densa-mente definido e sim´etrico emH eλ∈R, λ >0, ent˜ao s˜ao equivalentes:
2. A´e fechado e Ker(A∗
±λiIB(H)) ={0};
3. Im(A±λiIB(H)) =H.
Demonstra¸c˜ao:
1 ⇒ 2) A ´e fechado, pois A∗ ´e fechado e A = A∗. Se u ∈ Dom(A∗) =
Dom(A∗+λiI
B(H)), ent˜ao
(A∗+λiIB(H))u
2
=kA∗uk2−λihA∗u, ui+λihu, A∗ui+λ2kuk2≥ λ2kuk2
(note quehA∗u, ui=hu, A∗ui), o que mostra a injetividade deA∗+λi. A
de-monstra¸c˜ao de Ker(A∗−λiI
B(H)) ={0} ´e an´aloga.
2⇒3) Vamos mostrar que Im(A+λiIB(H)) ´e um conjunto denso e fechado.
Se Im(A+λiIB(H)) n˜ao fosse denso, ent˜ao pelo Teorema I existiriaξ∈Im(A+
λiIB(H))⊥ n˜ao-nulo. Mas isto implicaria 0 =h(A+λiIB(H))u, ξi=hu,0i, para
todou∈Dom(A) e, portanto,ξ∈Dom((A+λiIB(H))∗), com
(A+λiIB(H))∗ξ= (A∗−λiIB(H))ξ= 0,
contradizendo a hip´otese. Logo, Im(A+λiIB(H)) ´e denso em H. Seja, agora,
(A+λiIB(H))un n∈N uma seq¨uˆencia convergente de elementos de Im(A +
λiIB(H)). Como A ´e sim´etrico, vale que hAu, vi = hu, Avi, para todo v ∈
Dom(A), o que implica
(A+λiIB(H))un
2
≥λ2kunk2,
para todo n ∈ N. Por esta ´ultima desigualdade, segue que {un}n
∈N ´e uma
seq¨uˆencia de Cauchy em Dom(A), uma vez que
(A+λiIB(H))un n∈N tam-b´em o ´e. Logo, da completude deH, segue que{un}n∈Nconverge para algum
elemento de H, e conclu´ımos que
(un,(A+λiIB(H))un) n∈N ´e uma seq¨
uˆen-cia convergente de elementos de Gr(A+λiIB(H)). Como A+λiIB(H) ´e
fe-chado (poisA´e fechado), o limite de
(un,(A+λiIB(H))un) n∈Ntamb´em
per-tence a Gr(A+λiIB(H)). Em particular, o limite de
(A+λiIB(H))un n∈N pertence `a imagem deA+λiIB(H), e conclu´ımos que Im(A+λiIB(H)) ´e fechado
em H. Temos, ent˜ao, que Im(A+λiIB(H)) ´e denso e fechado em H, isto ´e,
Im(A+λiIB(H)) =H. A demonstra¸c˜ao de que Im(A−λiIB(H)) =H ´e an´aloga
`a que acabou de ser feita.
3⇒1) Vamos mostrar, primeiramente, que seT ´e um operador linear qual-quer, ent˜ao Im(T)⊥ = Ker(T∗). De fato, se v
∈ Ker(T∗), ent˜ao
hT u, vi = hu, T∗v
i = 0, para todo u ∈ Dom(T). Isso mostra que Ker(T∗)
⊆ Im(T)⊥.
Por outro lado, se v ∈ Im(T)⊥, ent˜ao
hT u, vi = 0 = hu,0i, para todo u ∈
Dom(T), mostrando que v ∈ Dom(T∗) e que T∗v = 0. Logo, v
e a outra inclus˜ao est´a demonstrada. Voltemos `a demonstra¸c˜ao original. Seja
ξ∈ Dom(A∗). Da sobrejetividade de A
−λiIB(H), garantimos a existˆencia de
ρ∈Dom(A−λiIB(H)) = Dom(A) tal que (A−λiIB(H))ρ= (A∗−λiIB(H))ξ.
Como A ´e sim´etrico, temos que (A∗ −λiI
B(H))(ρ−ξ) = 0. Logo, como
Im(A+λiIB(H)) =H, pelo que acabou de ser demonstrado temos que Ker(A∗−
λiIB(H)) = Ker((A+λiIB(H))∗) = Im(A+λiIB(H))⊥ = {0}, e obtemos ξ =
ρ∈Dom(A−λiIB(H)) = Dom(A). Portanto, Dom(A∗)⊆Dom(A) e, como A´e
sim´etrico por hip´otese, conclu´ımos queA´e auto-adjunto.
Deste teorema que acabamos de mostrar, podemos derivar um crit´erio para verificar se um operador linear densamente definido e sim´etrico ´e essencialmente auto-adjunto, bastando substituirAporA:
SeH ´e um espa¸co de Hilbert,A´e um operador linear densamente definido e sim´etrico emH, ent˜aoA´e um operador linear densamente definido e sim´etrico emH. Portanto, pelo Teorema II, seλ∈R, λ >0, ent˜ao s˜ao equivalentes:
1. A´e auto-adjunto;
2. Im(A∓λiIB(H))⊥= Ker(A∗±λiIB(H)) ={0}.
Denotaremos, `as vezes,A±λIB(H), λ∈C, simplesmente porA±λ,
alterna-tivamente.
Temos tamb´em o seguinte lema, que utilizaremos na demonstra¸c˜ao do coro-l´ario da desigualdade de Kato, no cap´ıtulo 4:
Lema: Seja A um operador densamente definido e sim´etrico. Se existir λ∈RsatisfazendoIm(A−λIB(H)) =H ent˜aoA´e essencialmente auto-adjunto.
Demonstra¸c˜ao: J´a sabemos queA⊆A∗=A∗=A∗. Vamos mostrar que
Dom(A∗)
⊆Dom(A). Sejav∈Dom(A∗). Pela defini¸c˜ao de adjunto,
h(A−λ)u, vi=hu,(A∗−λ)vi,
qualquer que sejau∈Dom(A) (lembre-se que, pelo que comentamos na Obser-va¸c˜ao XIII,A∗=A∗). Tomew
∈Dom(A) =: Dom(A−λ) tal que (A−λ)w= (A∗
−λ)v. Ent˜ao,
h(A−λ)u, vi=hu,(A−λ)wi=h(A−λ)u, wi,
para todou∈Dom(A), mostrando que w−v deve ser ortogonal a todo vetor deH. Logo,v=w∈Dom(A), e terminamos a demonstra¸c˜ao.
O intuito das pr´oximas duas defini¸c˜oes8´e generalizar a no¸c˜ao de convergˆencia
fato de n˜ao estarmos lidando com espa¸cos de Hilbert necessariamente separ´aveis: XX)Defini¸c˜ao:SejaX um espa¸co normado. Diremos que a fam´ılia{xi}i∈I
de elementos deX´e som´avel se existirx∈Xde forma que, para todoǫ >0dado existaFǫ⊆Ifinito tal que, para todoF ⊇Fǫfinito, se tenha
(Pi∈Fxi)−x < ǫ. Nesse caso, diremos que a soma de tal fam´ılia ´e x, e denotaremos x :=
P
i∈Ixi (note que a soma de uma fam´ılia som´avel ´e ´unica). Se a fam´ılia {kxik}i∈I for som´avel, ent˜ao diremos que a fam´ılia {xi}i∈I ´e absolutamente
som´avel.
XXI) Defini¸c˜ao: Seja X um espa¸co normado. Diremos que a fam´ılia
{xi}i∈I de elementos deX ´e de Cauchy se, dadoǫ >0, existe Fǫ⊆I finito tal
que, para todoF ⊆I finito e disjunto de Fǫ, tem-se
Pi∈Fxi
< ǫ.
Alguns fatos pertinentes relacionados `as defini¸c˜oes XX e XXI s˜ao: (alguns s˜ao apresentados sem demonstra¸c˜ao. Os que ser˜ao efetivamente utilizados pos-teriormente s˜ao os Fatos 1, 2, 3, a implica¸c˜ao (⇒) do Fato 4 e o Fato 7)
Fato 1: Dada uma fam´ılia Γ = {ri}i∈I n˜ao-vazia de n´umeros reais n˜ ao-negativos, se existirM >0 tal que
sup
( X
i∈F
ri:F ⊆I finito
)
≤M,
ent˜ao Γ ´e som´avel eP
i∈Iri= supPi∈Fri:F ⊆I finito .
Obs.: daqui para frente, denotaremos o fato de uma fam´ılia de n´umeros reais n˜ao-negativos{ri}i∈I ser som´avel por
P
i∈Iri<∞. Demonstra¸c˜ao: Basta mostrar que
X
i∈I
ri= sup
( X
i∈F
ri:F ⊆Ifinito
)
=:s.
Sejaǫ >0. Pela hip´otese, sabemos que o supremo deP
i∈Fri:F ⊆I finito existe e ´e um n´umero real. Da defini¸c˜ao de supremo, temos que existeFǫ ⊆I finito de modo ques−ǫ <P
i∈Fǫri. Mas, seF ⊆I´e um subconjunto finito tal
queF ⊇Fǫ, ent˜aos−ǫ <P
i∈Fǫri≤ P
i∈Fri, o que implica|
P
i∈Fri−s|< ǫ. Assim, da unicidade da soma, vem queP
i∈Iri= sup
P
i∈Fri:F ⊆Ifinito . Fato 2: Se Γ = {ri}i∈I ´e uma fam´ılia som´avel n˜ao-vazia de n´umeros reais n˜ao-negativos, ent˜aoP
i∈Iri= supPi∈Fri:F ⊆I finito =:s.
Demonstra¸c˜ao: Seja ǫ > 0. Sabemos, por hip´otese, que existe Fǫ ⊆ I finito tal que, se F ⊆ I ´e um subconjunto finito que satisfaz F ⊇ Fǫ, en-t˜ao |(P
i∈Fri)−
P
i∈Iri| < ǫ, e isto implica (Pi∈Iri)−ǫ <
P
finalizar a demonstra¸c˜ao, basta mostrar que P
i∈Iri ´e uma cota superior de
P
i∈Fri:F ⊆Ifinito . Seja F ⊆I finito. Ent˜ao, Pi∈Fri ≤Pi∈F∪Fǫri =
(P
i∈F∪Fǫri)−( P
i∈Iri) + (
P
i∈Iri)< ǫ+ (
P
i∈Iri) e, comoǫeF s˜ao arbitr´ a-rios, concluiu-se a demonstra¸c˜ao.
Fato 3: Se a fam´ılia{xi}i∈I ´e de Cauchy, ent˜ao o conjunto
E:={i∈I:xi6= 0} ´e enumer´avel.
Demonstra¸c˜ao: Como E =S
n∈N\{0}{i∈I:kxik ≥1/n}, basta mostrar queEn :={i∈I:kxik ≥1/n} ´e finito, para todo n∈N\ {0}. De fato, seEn n˜ao for finito, para algum n∈ N\ {0}, ent˜ao dado F ⊆I finito, garantimos a
existˆencia dej ∈En\F. Logo, comoEn\F ´e disjunto de F, {xi}i∈I n˜ao pode ser de Cauchy.
Fato 4: SeX´e um espa¸co de Banach, ent˜ao a fam´ılia{xi}i∈I ´e som´avel se, e somente se, for de Cauchy.
Fato 5: Se{xi}i∈I ´e uma fam´ılia absolutamente som´avel eX ´e um espa¸co de Banach, ent˜ao ela ´e som´avel: de fato, seǫ >0 ´e dado, sabemos que existe, pelo Fato 4, Fǫ ⊆ I finito tal que, se F ⊆ I ´e finito e disjunto de Fǫ, ent˜ao
P
i∈Fkxik < ǫ e, portanto,
Pi∈Fxi
≤ Pi∈Fkxik < ǫ. Logo, valendo-se novamente do Fato 4, conclu´ımos que{xi}i∈I ´e som´avel.
Fato 6: Se A ´e um operador limitado num espa¸co com produto interno
H e {xi}i∈I ´e uma fam´ılia som´avel em H, ent˜ao {Axi}i∈I ´e som´avel em H e P
i∈IAxi = A(Pi∈Ixi). (basta notar que
Pi∈FAxi−A(Pi∈Ixi)
≤
kAk (
P
i∈Fxi)−
P
i∈Ixi
, para todoF ⊆I finito)
Fato 7: Seja{Xi}i∈I uma fam´ılia de espa¸cos normados. Ent˜ao, a) o conjunto
⊕i∈IXi:=
(
(xi)i∈I ∈
Y
i∈I
Xi:{i∈I:xi6= 0} ´e finito
)
´e denso no conjunto ˜
lp:=
(
(xi)i∈I ∈
Y
i∈I
Xi:
X
i∈I
kxikp<∞
)
,
se 1≤p <∞(com a topologia induzida pela norma dada por k(xi)i∈Ik:= p
s X
para todo (xi)i∈I ∈˜lp): de fato, sejam ǫ >0 e (xi)i∈I ∈˜lp. Da somabilidade de {kxikp}i∈I garantimos, pelo Fato 2, a existˆencia de Fǫp ⊆ I finito tal que P
i∈I\Fǫpkxik
p = |P
i∈Fǫpkxik
p −P
i∈Ikxik p
| < ǫp. Considere o elemento (yi)i∈I definido poryi =xi, se i∈Fǫp eyi = 0, sei∈I\Fǫp. Ent˜ao, (yi)i∈I ´e
tal que (yi)i∈I ∈ ⊕i∈IXi ek(yi)i∈I−(xi)i∈Ik< ǫ.
Logo, sep= 2 e cadaXi:=Hi for um espa¸co com produto interno, ˜l2ser´a
um espa¸co com produto interno, sendo este dado por h(xi)i∈I,(yi)i∈Ii:=
X
i∈I
hxi, yii,
(xi)i∈I,(yi)i∈I ∈Qi∈IHi.
b) ˜lp ´e completo se, e somente se, Xi ´e completo, para todo i ∈ I. Para demonstrar este item, basta usar o Fato 1 e alguns truques simples de An´alise.
XXII) SejaX um conjunto n˜ao-vazio.
Uma fam´ıliaS n˜ao-vazia de subconjuntos deX ´e dita ser uma semi-´algebra emX se:
1. X ∈ S;
2. para todos A, B ∈ S tem-se que A∩B ∈ S; (e, portanto, intersec¸c˜oes finitas de elementos deApertencem aA)
3. para todo A ∈ S, existem n ∈ N e elementos Ai ∈ S,1 ≤ i ≤ n, com
Ai∩Aj=∅, sei6=j, tais que X\A=∪1≤i≤nAi.
Al´em disso, uma fam´ıliaA n˜ao-vazia de subconjuntos deX ´e dita ser uma ´algebraX se:
1. para todos A, B ∈ A tem-se queA∪B ∈ A; (e, portanto, uni˜oes finitas de elementos deApertencem aA)
2. para todoA∈ A, tem-se queX\A∈ A. (Note queX∈ A).
Um resultado muito importante que vamos utilizar mais tarde, na demons-tra¸c˜ao do teorema espectral paran-uplas finitas de operadores lineares limitados auto-adjuntos que comutam dois a dois, ´e o seguinte:
Lema:9 Seja
S uma semi-´algebra em X. Ent˜ao a ´algebra gerada por S,
A(S), consiste no conjunto D(S) das uni˜oes finitas disjuntas de elementos de
S.
Demonstra¸c˜ao: E poss´ıvel ver que´ A(S) ´e o conjunto das uni˜oes finitas de elementos deS com complementares de elementos de S. Logo, tem-se trivial-mente queD(S)⊆ A(S). ComoD(S) cont´emS, terminaremos a demonstra¸c˜ao se mostrarmos que D(S) ´e uma ´algebra. Vamos mostrar, primeiramente, que D(S) ´e fechado por complementa¸c˜ao. SejamBj,1≤j≤m, elementos deStais queBp∩Bq=∅, sep6=q. DefinindoB :=S1≤j≤mBj temos que
X\B= \
1≤j≤m
X\Bj,
e cada X\Bj ´e uma uni˜ao disjunta de elementos de S, digamos X\Bj =
S
1≤k≤r(j)Bkj, para algum r(j) ∈ N e certos Bjk ∈ S. Logo, X\B ´e a uni˜ao variando-se nas m-uplas (k(i))1≤i≤m, onde 1 ≤ k(i) ≤ r(i), dos elementos T
1≤j≤mB k(j)
j . Cada
T
1≤j≤mB k(j)
j pertence aS, pelo fato deS ser uma semi-´
algebra. Al´em disso, eles s˜ao dois a dois disjuntos, pois se T
1≤j≤mB k1(j)
j e
T
1≤j≤mB k2(j)
j s˜ao tais que (k1(i))1≤i≤m = (6 k2(i))1≤i≤m, ent˜ao existe i tal
quek1(i)6=k2(i). Logo, Bki1(i)∩B k2(i)
i = ∅, mostrando que
T
1≤j≤mB k1(j)
j e
T
1≤j≤mB k2(j)
j s˜ao disjuntos. Isto estabelece queX\B ´e uma uni˜ao disjunta de elementos deS. Vamos mostrar, agora, que D(S) ´e fechado por uni˜ao. Sejam
Al,1 ≤l ≤n, elementos de S tais queAi∩Aj =∅, se i6=j. Vamos mostrar que (S
1≤l≤nAl)∪(
S
1≤j≤mBj) ´e uma uni˜ao disjunta de elementos deS. Temos que
( [
1≤l≤n
Al)∪B= ( [
1≤l≤n
(Al∩X\B))∪B.
MasX\B ´e uma uni˜ao disjunta de elementos deS, como j´a vimos. Portanto,
S
“ ´Algebras de Banach e C∗-´algebras - alguns resultados elementares”
10
Definiremos uma ´algebra de BanachAcomo sendo umC-espa¸co vetorial no
qual:
1. al´em das opera¸c˜oes de soma (+) e de multiplica¸c˜ao por um escalar (·), est´a definida uma opera¸c˜ao de multiplica¸c˜ao◦:A×A−→Aque ´e associativa e bilinear (em particular, vale a distributividade `a esquerda e `a direita). Os s´ımbolos de multiplica¸c˜ao e de multiplica¸c˜ao por escalar ser˜ao sempre omitidos;
2. est´a definida uma norma k · kque ´e submultiplicativa (isto ´e, ela satisfaz kabk ≤ kakkbk, para todosa, b∈A) e que induz uma m´etrica segundo a qualA, quando considerada como um espa¸co m´etrico, ´e completo. Uma ´algebra de Banach ser´a dita comutativa se a multiplica¸c˜ao satisfizer
ab=ba, para todosa, b∈A. Al´em disso, se Afor uma ´algebra de Banach na qual existe um elemento IA satisfazendo IA 6= 0, aIA = IAa = a, para todo
a∈A, ekIAk= 1 (note queaIA=IAa=a, para todo a∈Aimplica somente kIAk ≥1), diremos que tal ´algebra possui uma unidade (note que sua defini¸c˜ao implica sua unicidade). Agora, seA for uma ´algebra de Banach na qual est´a definida uma aplica¸c˜ao∗:A−→A satisfazendo, para todosa, b∈Aeλ∈C:
1. (a+λb)∗=a∗+λb∗,
2. (ab)∗=b∗a∗,
3. (a∗)∗=a,
com a propriedade adicional ka∗a
k = kak2, para todo a
∈ A, ent˜ao A ´e dita ser uma C∗-´algebra (
∗ ´e denominada aplica¸c˜ao de involu¸c˜ao, e a propri-edade ka∗a
k = kak2, para todo a
∈ A, ´e denominada propriedade C∗; al´em
disso, a∗ ´e definido como o adjunto de a). Numa C∗-´algebra, a involu¸c˜ao
´e uma isometria, isto ´e, ka∗k = kak, para todo a ∈ A. Isto se segue da
propriedade 3 da involu¸c˜ao, da submultiplicatividade da norma e da identi-dade C∗. Se A for uma C∗-´algebra que possui uma unidade, dizemos que A ´e uma C∗-´algebra unital. Se A for uma C∗-´algebra sem unidade podemos munir o produto cartesiano A×C com uma estrutura de C∗-´algebra unital,
na qual a aplica¸c˜ao a 7−→ (a,0) := ´e uma isometria. Basta definirmos a soma, o produto por escalar e a involu¸c˜ao da maneira ´obvia (coordenada a co-ordenada), o produto por (a, α)(b, β) 7−→ (ab+αb+βa, αβ) e a norma por k(a, α)k = sup{(a, α)˜x:x∈A,kxk ≤1}, a, b∈A, α, β ∈C. A unidade, neste
caso, ser´a o elemento (0,1) (a C∗-´algebra ˜A assim obtida ´e conhecida como a
unitiza¸c˜ao deA).
SeA´e uma C∗-´algebra, dizemos que:
1. a∈A ´e um elemento normal se aa∗ =a∗a, isto ´e, se a comuta com seu
adjunto;
2. a∈A´e um elemento auto-adjunto sea=a∗;
3. a∈A´e um elemento unit´ario se satisfazaa∗=a∗a=IA;
4. a∈A´e uma proje¸c˜ao se satisfaz a∗=a=a2.11
Ressaltamos aqui, sem demonstra¸c˜ao, que os espa¸cosC(I) eB(H) s˜ao C∗
-´
algebras, se definirmos suas involu¸c˜oes pela conjuga¸c˜ao complexa e pela opera¸c˜ao de adjun¸c˜ao, respectivamente.
Um homomorfismo entre C∗-´algebras ser´a dito um
∗-homomorfismo se for um homomorfismo de ´algebras que preserva a involu¸c˜ao. Se as C∗-´algebras forem
unitais e tal homomorfismo levar a unidade de uma na unidade da outra, ent˜ao ele ser´a denominado um homomorfismo unital.
Um resultado muito conhecido afirma que, se A ´e uma ´algebra de Banach com unidade IA, ent˜ao o elemento IA−a ´e invers´ıvel, para todo a ∈ A sa-tisfazendo kak < 1. Neste caso, mostra-se que (IA −a)−1 = P+n=0∞an (esta f´ormula ´e conhecida como s´erie de Von Neumann). Isto mostra que o con-junto G(A) := {a∈A: a ´e invers´ıvel em A} (dizer que “a ∈ A ´e invers´ı-vel em A” significa dizer que a possui um inverso multiplicativo a−1, isto ´e,
aa−1=a−1a=IA, e queeste pertence aA) ´e aberto emA, pois sea
∈G(A) eb ∈ A satisfizer kbk <ka−1
k−1, ent˜ao a
−b = a(IA−a−1b), eIA−a−1b ´e invers´ıvel, uma vez queka−1b
k ≤ ka−1
kkbk<1. ´
E poss´ıvel provar que a opera¸c˜ao de invers˜ao em G(A) ´e um homeomorfismo diferenci´avel (n˜ao nos aprofundaremos nesta discuss˜ao, aqui).
Dadoa∈Anuma ´algebra de Banach com unidade, definimos o espectro de
acom respeito a A por σA(a) :={λ∈C:λIA−an˜ao ´e invers´ıvel emA}, e o
seu resolvente (com respeito aA) porρA(a) :=C\σA(a). Definimos, ainda, o
raio espectral dea, com respeito a A, porrA(a) := sup{|λ|:λ∈σA(a)}(se A
n˜ao tiver uma unidade, definimosσA(a) :=nλ∈C:λI˜
A− ´e invers´ıvel em ˜A
o
, sendo IA˜ = (0,1)). Ali´as, o acr´escimo “com respeito a A” posto acima na
defini¸c˜ao de espectro se deve ao fato de que, se um certo elemento a ∈ A
pertence a uma sub´algebra de Banach de A, digamos B, com IA ∈ B - por exemplo, a sub´algebra gerada por a e IA -, ent˜ao σA(a) ⊆ σB(a), mas nem sempre se tem a inclus˜ao inversa, pois um elemento invers´ıvel emA pode n˜ao ser invers´ıvel emB. Portanto, seλ∈C,|λ|>kak, ent˜aoλ∈ ρA(a). De fato,
se|λ|>kak, temos queλ1−a=λ(IA−a/λ), eka/λk<1. Al´em disso, como
C∋λ7−→λIA−a∈A´e uma aplica¸c˜ao cont´ınua e σA(a) ´e a imagem inversa
deA\G(A) por tal aplica¸c˜ao, segue queσA(a) ´e um subconjunto fechado deC.
Logo,σA(a) ´e um subconjunto compacto de C. Prova-se, inclusive, queσA(a)
´e sempre n˜ao-vazio.
Uma f´ormula extremamente importante afirma que (R) rA(a) = lim
n ka n
k1/n.
Com esta f´ormula, mostra-se que, seAfor uma C∗-´algebra unital, ent˜aorA(a) =
kak, sempre que a ∈ A for um elemento normal ou auto-adjunto. Inclusive, usando este fato, podemos dar uma aplica¸c˜ao interessante aos operadores auto-adjuntos sobre espa¸cos de Hilbert (sejam eles limitados ou n˜ao). Vamos fazer uma breve digress˜ao para mostrar um lema e, logo em seguida, mostrar a apli-ca¸c˜ao mencionada:12
Lema A0: SeA´e um operador linear injetor agindo num espa¸co de Hilbert H, ent˜ao
σ(A−1)\{0}={λ−1:λ∈σ(A)\{0}}, ondeDom(A−1) := Im(A)
Demonstra¸c˜ao: A identidade alg´ebrica
(z−1−λ−1)−1=−λz(z−λ)−1,
v´alida para quaisquerz, λ∈Cn˜ao-nulos, nos motiva a ideia da demonstra¸c˜ao:
seλ∈ρ(A), λ6= 0, ent˜ao para todou∈H,
(A−1−λ−1)(−λA(A−λ)−1)u=−λ(A−λ)−1u+A(A−λ)−1u=u,
enquanto que para todov:=Aw∈Dom(A−1) = Im(A),
(−λA(A−λ)−1)(A−1−λ−1)v=A(A−λ)−1(−λ+A)w=Aw=v.
Isto mostra que
−λA(A−λ)−1= (A−1−λ−1)−1 e, como
−λA(A−λ)−1=−λ2(A−λ)−1−λ
e o membro da direita pertence aB(H), temos pela defini¸c˜ao de resolvente que
λ−1
∈ρ(A−1). Isto mostra a inclus˜ao ρ(A−1)
\{0} ⊇ {λ−1 :λ
∈ρ(A)\{0}}, ou seja,σ(A−1)
\{0} ⊆ {λ−1:λ
∈σ(A)\{0}}. Usando-se a identidade −λ−1z−1(z−1−λ−1)−1= (z−λ)−1
e a mesma estrat´egia acima, mostra-se a outra inclus˜ao.
Teorema: O espectro de qualquer operador auto-adjuntoAagindo num es-pa¸co de HilbertH ´e n˜ao-vazio.
Demonstra¸c˜ao: Se 0 ∈ σ(A), n˜ao h´a nada a demonstrar. Suponha que 0∈/ σ(A). Ent˜ao, est´a bem definido e ´e limitado o operadorA−1. Como A−1
´e auto-adjunto,13 r
B(H)(A−1) = kA−1k, pelo que acabamos de afirmar. Isto
mostra que σ(A−1) cont´em um elemento n˜ao-nulo de C, pois caso contr´ario,
A−1 seria nulo, um absurdo. Logo, existe 0 6= λ ∈ σ(A−1). Pelo Lema A0,
garantimos que λ−1∈ σ(A), mostrando que o espectro deA´e n˜ao-vazio. Isto
estabelece o resultado desejado.
(na realidade, ganhamos o seguinte corol´ario, tamb´em: se A ´e um operador linear agindo sobre um espa¸co de Hilbert H tal que 0 ∈/ σ(A) e A−1 ´e um
operador normal, ent˜ao σ(A)6=∅. Isto se deve ao fato de que tamb´em temos
rB(H)(A−1) =kA−1k, neste caso).
Voltemos `a teoria de ´algebras de Banach.
Devido ao fato de a defini¸c˜ao do raio espectral ser puramente alg´ebrica e `a “ponte” criada entre a estrutura alg´ebrica e a estrutura topol´ogica de A pela f´ormula (R), provamos que o raio espectral de apermanece o mesmo, tanto se o consideramos com respeito a A ou com respeito a alguma sub´algebra unital de A que contenha a (desde que a unidade desta seja a unidade de A). Por este motivo, representaremos o raio espectral de a simplesmente por r(a), de agora em diante. Prova-se tamb´em que se A´e uma ∗-´algebra (isto ´e, uma ´al-gebra com uma involu¸c˜ao) que adquire uma estrutura de C∗-´algebra quando
munida de uma certa norma k · k1 e se, quando munimos A com uma outra
normak · k2, (mantendo as mesmas opera¸c˜oes de soma, multiplica¸c˜ao,
multipli-ca¸c˜ao por escalar e involu¸c˜ao)Atamb´em se transforma numa C∗-´algebra, ent˜ao
k·k1=k·k2. De fato, sea∈A´e um elemento de uma ´algebra de BanachAcom
unidade que se torna uma C∗-´algebra tanto com
k · k1quanto com k · k2, ent˜ao
kak2
1=ka∗ak1=r(a∗a) =ka∗ak2=kak22, poisa∗a´e um elemento auto-adjunto
deA.
Devido ao fato (n˜ao trivial) de que o espectro de todo elemento de uma ´al-gebra de Banach com unidade ´e n˜ao-vazio, prova-se o seguinte resultado:
Teorema (Gelfand): Se A´e uma ´algebra de Banach com unidade tal que todo elemento n˜ao-nulo ´e invers´ıvel, ent˜ao A ´e isometricamente isomorfa aC
(a comutatividade deA tamb´em ´e conseq¨uˆencia do teorema).
Demonstra¸c˜ao: notemos, primeiramente, que o espectro de cada elemento
a de A, por ser n˜ao-vazio, cont´em somente um elemento. De fato, se λ, µ ∈ σA(a), ent˜aoλIA−a= 0 =µIA−a, pela defini¸c˜ao de espectro, uma vez que 13Pois sejaAum operador sim´etrico densamente definido tal que 0∈/σ(A). Ent˜ao, sev∈H eu∈Dom(A−1), existemx, y∈Dom(A) tais queAx=ueAy=v. Logo,