UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
PROJETOS POLÍTICOS PEDAGÓGICOS DOS CURSOS DE
ODONTOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE E A
PERSPECTIVA DA ATENÇÃO À PESSOA IDOSA
Jônia Cybele Santos Lima
Natal/RN
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
JÔNIA CYBELE SANTOS LIMA
PROJETOS POLÍTICOS PEDAGÓGICOS DOS CURSOS DE ODONTOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE E A PERSPECTIVA DA ATENÇÃO À PESSOA IDOSA
NATAL 2011
PROJETOS POLÍTICOS PEDAGÓGICOS DOS CURSOS DE ODONTOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE E A PERSPECTIVA DA ATENÇÃO À PESSOA IDOSA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva.
Orientador: Professor Dr. Antônio Medeiros Júnior
.
Lima, Jônia Cybele Santos.
Projetos políticos pedagógicos dos cursos de odontologia do RN: formação profissional e a perspectiva da atenção à terceira idade \ Jônia Cybele Santos Lima. – Natal, RN, 2011.
75 f. : il.
Orientador: Prof. Dr. Antônio Medeiros Júnior.
Dissertação (Mestrado em Odontologia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Odontolo-gia.
1. Educação em odontologia – Dissertação. 2. Competência profissional – Dis-sertação. 3. Idoso – Dissertação. I. Medeiros Júnior, Antônio. II. Título.
RN/UF/BSO Black D585
PROJETOS POLÍTICOS PEDAGÓGICOS DOS CURSOS DE ODONTOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE E A PERSPECTIVA DA ATENÇÃO À PESSOA IDOSA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva.
Aprovada em: ___/___/___
___________________________________________________________ Prof. Dr. Antônio Medeiros Júnior
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Orientador
___________________________________________________________ Prof. Dra. Antônia Oliveira Silva
Universidade Federal da Paraíba – UFPB
Membro Externo
___________________________________________________________ Prof. Dra. Íris do Céu Clara Costa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Membro interno
A Deus, ao mestre amado Jesus e à Maria Santíssima mãe de todas as mães, que são amor
supremo sem eles eu nada seria.
À minha mãe, presente de Deus, amada e amiga: Maria do Amparo Batista dos Santo Lima.
A meu pai e amigo José Ribamar Lima.
Às minhas irmãs e amigas, presentes de Deus: Jamyle Clarissa Santos Lima e Juliana Cynara
Santos Lima.
À minha amada sobrinha: Maria Júlia Santos Lima Muniz Costa, fonte de vida, presente de
Deus e luz para mim e ao meu sobrinho Juan.
A meus cunhados Rafael Monte Duarte e Glauco José Muniz Costa.
Aos meus padrinhos: Júlio Lopes e Iolanda.
A toda minha família: tios, tias, primos e primas, em especial, à minha tia e madrinha
Lucimar, ao meu tio Cecílio e aos meus primos Ana Cecília e Hands e em memória dos meus
avôs maternos: Maria Batista dos Santos e João Matos dos Santos e avós paternos: Júlio
Álvares Lima e em especial, em memória da minha avó Joana Rocha Lima (Vovó Noca) a
Ao meu orientador Professor Doutor Antônio Medeiros Junior pela dedicação, pelo exemplo
de mestre, docente, pela compreensão das minhas limitações e exaltação das minhas virtudes
e conquistas.
À Cidade de Natal, por me receber e contribuir para meu crescimento pessoal, assim como, a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por ter me proporcionado minha formação
profissional e contribuído para minha formação pessoal.
A todos os funcionários do Departamento de Odontologia da UFRN em especial a Eliane, seu
Ossian e Sebastião da biblioteca.
As três instituições de ensino superior de Odontologia do RN: UFRN, UERN E UNP.
Aos Coordenadores dos cursos de odontologia do RN:
Aos Alunos concluintes dos cursos de odontologia do RN 2010 da UFRN, UERN e UNP pela
colaboração no nosso trabalho.
À minha amiga Claudia Cristiane pela amizade, dedicação e força em todos os momentos.
À amiga Neusa e sua família pela amizade, força incondicional de todas as horas.
As bibliotecárias Mônica e Cecília pela amizade, dedicação durante a construção desse
trabalho.
Ao bolsista Anderson pela colaboração e dedicação ao nosso trabalho.
À amiga Cristiane Assunção pela amizade construída nas conquistas profissionais desde a
graduação.
Ao Professor Doutor Antonio de Lisboa Lopes Costa pela colaboração ao nosso trabalho.
A todas as amizades conquistadas em minha cidade natal Fortaleza e na cidade do Natal
À minha professora de literatura no ensino médio Claudenildes.
As minhas amigas irmãs Arnislane Nogueira Silva e Família, Maria Lucineide Lopes, Lena
Santos, Kátia Angelica e família, Kátia e família e Mariles e família, a Rejane e família e
Margarida e família.
A toda minha turma da graduação em Odontologia da UFRN 1996.2.
A toda turma da especialização 2003 e a minha orientadora Maria Jalila.
Aos funcionários Sandra e Lucas pela dedicação e amizade permanente.
À Doutora Leda pelo exemplo de docente e profissional de saúde bucal
Aos amigos Rute e Manoel Feijão pela amizade e exemplo de dedicação a saúde bucal
A todos os docentes do mestrado em especial a Professora Iris e professor Ângelo pela
À banca de avaliação do nosso trabalho representada na Professora Doutora Antônia.
A amiga e irmã Jane Suely de Melo Nóbrega pela amizade de todas as horas.
Ao meu amigo Jóas Araújo pela amizade e colaboração.
À amiga Silvia Anjos pela amizade e colaboração.
À Thales Henrique pela luz, alegria, carinho e admiração.
Ao Município de Jundiá/RN e todos os seus Gestores que já serviram e servem a saúde do
município: Dona Maria, Jucileide, Seu Medeiros e Aécio e aos Prefeitos Manoel Luís, Thiago
e Cenira pelo incentivo a minha dedicação ao mestrado.
Aos profissionais que trabalham nas Equipes de Estratégia de saúde da família e Saúde Bucal
I e II e de Saúde, de Educação e Assistência do município de Jundiá/RN.
Aos meus Auxiliares de Saúde Bucal: Rosário, Ana Maria, Francisco de Assis e Lucélia
Santos.
Aos Agentes Comunitários de Saúde e Endemias do Município de Jundiá /RN.
À Comunidade do Município de Jundiá/RN, pela compreensão diante das ausências em
dedicação ao mestrado.
Enfim, a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a concretização deste sonho.
[...] a consciência do mundo e a consciência do homem como ser
inacabado necessariamente inscrevem o ser consciente de sua
inconclusão num permanente movimento de busca. Na verdade, seria
uma contradição se, inacabado e consciente do inacabamento, o ser
humano não se inserisse em tal movimento. É nesse sentido que para
mulheres e homens, estar no mundo necessariamente significa estar
com o mundo e com os outros. Estar no mundo sem fazer história,
sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem “tratar” sua própria
presença no mundo, sem cantar, sem sonhar, sem musicar, sem pintar,
sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos, sem esculpir, sem
fazer ciência, ou teologia, sem assombro em face do mistério, sem
aprender, sem ensinar, sem idéias de formação, sem politizar não é
possível.
Paulo Freire, 1998.
O Brasil vem passando por grande transformação demográfica. Segundo o IBGE, nos próximos 20 anos a população idosa do país poderá ultrapassar os 30 milhões de pessoas. Este contingente traz especificidades com respeito ao processo de saúde/doença. É fundamental que as instituições de ensino superior estejam comprometidas com esta demanda, na perspectiva da formação integrada às necessidades de saúde da sociedade. O objetivo deste estudo é analisar os Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs) dos cursos de odontologia do Rio Grande do Norte (RN), de acordo com as diretrizes curriculares nacionais (DCNs) e a formação profissional na perspectiva da atenção à pessoa idosa. Trata-se de um estudo de natureza exploratória, com abordagem qualitativa: com análise documental e entrevista. Os sujeitos do estudo foram um professor colaborador na elaboração do PPPs de cada instituição. O cenário do estudo foram as instituições de formação em odontologia do RN. Inicialmente, a análise dos PPPs foi mediante a utilização do software Alceste 4.9. A interpretação dos conteúdos das entrevistas aos professores foi feita através da análise de conteúdo de Bardin (2010). Os PPPs fundamentam-se nas DCNs, atendem as características, as especificidades regionais e buscam uma formação generalista, porém ainda fortemente direcionada aos aspectos técnico-científicos do exercício profissional. Esforços e aproximações institucionais, envolvendo docentes e discentes dos cursos, estão sendo mobilizadas para uma formação mais articulada com a rede de serviços de saúde. Entretanto, a ênfase aos conteúdos inerentes a atenção a saúde da pessoa idosa, ainda é restrita, quando se compara aquela direcionada aos conteúdos inerentes às crianças e adolescentes, presente nas três estruturas curriculares. É lícito concluir que o caráter histórico, político, científico, cultural e social, presente na sociedade, influenciam na formação profissional em odontologia do RN. A maior participação da sociedade no processo de formação profissional em odontologia se faz necessária. Essa pode ser realizada a partir do envolvimento das universidades com os conselhos de saúde, entidades representativas da classe odontológica e demais segmentos da sociedade civil organizada, no sentido de induzir reflexões e mudanças que gerem práticas educativas integradoras e interdisciplinares, com ênfase na educação permanente dos docentes, servidores, funcionários e discentes. Contendo esse processo a conduta inerente à flexibilização curricular, integração ensino-serviço e a articulação de habilidades e competências profissionais, que são indispensáveis à compreensão do ser humano e de suas complexidades.
Brazil has been undergoing major demographic change.According to IBGE, the next 20 years the country's elderly population may reach over 30 million people. This tariff provides specifics regarding the process of health / disease. It is essential that higher education institutions are committed to this demand in view of the integrated training of health needs of society. The aim of this study is to analyze the Pedagogical Political Projects (PPP) of courses in dentistry in Rio Grande do Norte (RN), according to the national curriculum guidelines (DCNS) and training from the perspective of health care for the elderly. This is an exploratory study with a qualitative approach: with records and interviews. The study subjects were an Assistant Professor in the development of PPPs for each institution. The scenario in this study were dental training institutions in the newborns. Initially, the analysis of the PPP was by using the Alceste 4.9 software. The interpretation of the contents of interviews with teachers was done through content analysis of Bardin (2010). The PPPs are based on the DCNS, meet the characteristics of regional and seek a generalist, but still strongly directed to technical and scientific aspects of professional practice. Efforts and institutional approaches, involving teachers and students of the courses are being mobilized for training with more articulated network of health services. However, the emphasis on content pertaining to the health care of the elderly, is still limited when compared to those targeted content inherent in children and adolescents in all three curricular structures. It is reasonable to conclude that the historical, political, scientific, cultural and social, present in society, influence the formation of the dental professional RN. The greater participation of society in the process of vocational training in dentistry is needed. This can be done from the involvement of universities with health councils, bodies representing the dental profession and other segments of civil society in order to induce changes that generate ideas and educational practices integrative and interdisciplinary, with emphasis on continuing education for teachers, servants, employees and students. Containing conduct this process inherent flexibility of curriculum, teaching-service integration and coordination abilities and professional skills that are essential to understanding the human being and its complexities.
Figura 1 - Desenvolvimento de uma análise segundo Bardin...34
Alceste (Análise Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto)
Associação Brasileira de Ensino odontológico (ABENO)
Atenção Primária (AP)
Atividade Curricular de Curso (ACC)
Centro de Ciências da Saúde (CCS)
Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária (CRUTAC)
Classificação Hierárquica ascendente (CHAS)
Classificação Hierárquica Descendente (CHD)
Comissão Interna do Trabalho (CIT)
Conferência Nacional de Saúde (CNS)
Conselho Federal de Odontologia (CFO)
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Conselho Nacional de Saúde (CNS)
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs)
Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de graduação em odontologia (DCNGO)
Disfunção Têmporo mandibular (DTM)
Estratégia de Saúde da Família (ESF)
Fórum de Pró-Reitores de Graduação (ForGRAD)
Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL/RN)
Instituições de Ensino Superior (IES)
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
Lei Orgânica de Saúde (LOS)
Ministério da Saúde (MS)
Ministério de Educação e Cultura (MEC)
Plano Nacional de Educação (PNE)
Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB)
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI)
Programa Saúde da Família (PSF)
Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC)
Recursos Humanos (RH)
Rio Grande do Norte (RN)
Sistema Único de Saúde (SUS)
Sociedade Potiguar de Educação e Cultura (APEC)
Termo de consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
Unidades de Análises (UA)
Unidades de Contextos Elementares (UCEs)
Unidades de Contextos Iniciais (UCIs)
Universidade de Brasília (UNB)
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
1 INTRODUÇÃO... 14
2 REVISÃO DA LITERATURA... 17
2.1 ENVELHECIMENTO E SOCIEDADE... 17
2.2 FORMAÇÃO PROFISSIONAL E O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO... 21
2.2.1 Lei de Diretrizes e Bases da Educação e as Diretrizes Curriculares Nacionais... 21
2.2.2 2.2.2 A odontologia do Rio Grande do Norte... 24
2.2.3 Reforma sanitária, o SUS e as Políticas públicas direcionadas à pessoa Idosa... 27
3 OBJETIVO GERAL... 30
3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 30
4 DIMENSÕES ÉTICAS... 31
5 METODOLOGIA... 32
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA... 32
5.2 COLETA DE DADOS... 32
5.3 ANÁLISE DOS DADOS... 33
5.3.1 Seqüência das Análises... 35
5.3.1.1 Análise a partir do Alceste... 35
5.3.1.2 Análise Manual das Entrevistas... 36
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES... 38
6.1 RESULTADOS OBTIDOS MEDIANTE O AUXÍLIO DO ALCESTE... 38
6.2 RESULTADOS OBTIDOS MEDIANTE O AUXÍLIO DA ANÁLISE MANUAL... 50 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 60
REFERÊNCIAS... 64
APÊNDICES... 70
1 INTRODUÇÃO
Diante da organização da pirâmide social, no que diz respeito ao envelhecimento
populacional e suas diversas necessidades, surgem prioridades a serem discutidas, dentre elas
à saúde. Assim sendo, deve existir a preocupação em relação à formação de recursos humanos
na área de saúde; sua vinculação à compreensão do envelhecimento e a inserção nos
processos de atenção e assistência à saúde, com enfoque no profissional cirurgião-dentista. É
importante que tais temáticas sejam debatidas durante o processo de formação, com o objetivo
de despertar os futuros profissionais para o atual panorama demográfico e a partir das análises
e reflexões surgidas, agregar o interesse na realização de pesquisas que preencham as lacunas
existentes nesse novo contexto.
Nesse sentido, a educação superior passa, nos últimos anos, por transformações, crises
e processos de reconstrução. As reflexões, acerca do processo de produção do conhecimento
acadêmico, o desenvolvimento de tecnologias e as mudanças na sociedade, exigem da
universidade um exercício de auto-avaliação constante.
A importância da pesquisa qualitativa no âmbito do ensino superior é importante para
a compreensão das dimensões pedagógicas do processo de formação, na busca de uma
odontologia sintonizada com as dinâmicas sociais, visando o conhecimento ampliado da
saúde, através do ensino, da pesquisa, da extensão e na interação com o serviço.
Nesse contexto, que tem como ponto de destaque, a construção de uma formação
profissional voltada às necessidades da sociedade contemporânea e conectada à emancipação
dos sujeitos, a orientação de um currículo para formação profissional deve estar
permanentemente ligada, a esse modo de agregar, o pensar e o fazer coletivos.
A política de educação na saúde, em curso no país, depois de aprovada pelo Conselho
Nacional de Saúde (CNS) pactuada pela Comissão Interna do Trabalho (CIT), tem como
grande desafio superar a tradição da formação e desenvolvimento que era realizado no setor
saúde. Essa tradição entende a educação como um componente operacional, centrado nas
capacitações e treinamentos aplicados ao cotidiano imediato dos serviços, colocando os
trabalhadores como os únicos responsáveis pela qualidade da atenção e pela qualidade da
gestão que se faz em saúde; sem a preocupação com o componente social, sem o
comprometimento com o coletivo e trocas de experiências de cada setor, o que deve ser
Nesse sentido, a revisão do papel da educação superior na sociedade e a inter-relação
entre ambas deve ser uma realidade, assim como, a busca por uma conduta produtora de
conhecimento pertinente, onde a reestruturação das filosofias pedagógicas tornam-se objetos
importantes de análise, em todas as áreas, seja na universidade ou na sociedade, inclusive no
que está diretamente ligada a construção do conhecimento em saúde.
O favorecimento a um universo de profundas reflexões, sobre esse processo do
ensino-aprendizado se faz pertinente, assim como, a busca por uma postura que traduza
indagações deve ser permanentemente incentivada. A fim de que, sejam provocadas
transformações sociais, inovações educativas e implementações de serviços públicos de
saúde, que através das novas orientações curriculares, possam contribuir para a criação de um
contexto facilitador e atento as várias inovações que a sociedade possa apresentar5.
As transformações que são pautadas, no processo de construção coletivo do saber em
saúde, são oriundas do movimento de reforma sanitária, que pode ser considerado como a
maior experiência da construção da consciência sanitária na história do país e que gerou, no
âmbito do marco constituinte, o delineamento do Sistema Único de Saúde (SUS), que
reafirmou a noção do direito à saúde de cada cidadão numa perspectiva integral e universal,
refletindo as necessidades de cada usuário do sistema em ampla visão do processo
saúde/doença14.
Nesse novo contexto, as instituições formadoras de Recursos Humanos (RH),
assumem um papel fundamental, a fim de trazer a concepção de integração entre estas e a
sociedade para que se tenha o alcance das mudanças desejadas. Esse processo se constitui
interativo e participativo em todas as relações cotidianas, principalmente, quando marcadas
por compromisso ético com o melhor acolhimento da população e com a promoção da
autonomia dos usuários, tendo a universidade papel marcante para a consolidação dessas
mudanças. “Nesse panorama, situam-se desafios e perspectivas na formação dos profissionais
de saúde, implicando distintos compromissos políticos, sociais e educacionais”5.
Portanto, a formação dos profissionais de saúde, em destaque a do cirurgião-dentista,
objeto do estudo em questão, deve passar pela compreensão da dinâmica que norteia as
relações e às transformações sociais, no que concerne à população idosa do nosso país, e o
papel da universidade, nesse cenário social ao qual passamos a interagir.
Nesse estudo, que envolve a educação e saúde, será possível observar e refletir diante
da formação desses profissionais, pertencentes aos cursos de odontologia do Rio Grande do
Norte (RN): Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade do Estado
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e os pressupostos da atenção à saúde da pessoa
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 ENVELHECIMENTO E SOCIEDADE
O envelhecimento populacional vem sendo observado de maneira global. Em se
tratando dos países desenvolvidos ocorrem alterações marcantes, como: à queda da
mortalidade, as grandes conquistas médicas, a urbanização adequada das cidades, a melhoria
nutricional, a elevação dos níveis de higiene pessoal e ambiental, tanto em residências, como
nos ambientes de trabalho, assim como, os avanços tecnológicos; trazendo à tona essa nova
estrutura social, que se encontra em processo de expansão contínua.
No Brasil, os problemas decorrentes do envelhecimento populacional fazem parte
da agenda de pesquisadores da área de Saúde Coletiva, desde a década de 80. A atenção que
surge e que se intensifica com o progressivo aumento da população idosa, precisa ser
enfrentada, notadamente no que se refere aos suportes familiares e sociais, declínio do nível
de vida econômico e social, solidão, manutenção da independência e autonomia59.
O cenário que se desenha é de profundas transformações sociais, não só pelo
aumento proporcional do número de idosos nos diferentes países e sociedades, mas
igualmente em função do desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Estima-se que os
avanços científicos e técnicos permitirão ao ser humano alcançar uma expectativa de vida em
torno de 110, 120 anos, que corresponderia aos limites biológicos do homo sapiens, ainda no
presente século. São mudanças fantásticas e muito próximas, que reclamam modelos
inovadores e sintonizados com a contemporaneidade, que garantam vida com qualidade para
este crescente contingente populacional60.
O envelhecimento humano é um conquista e está intimamente ligado aos diversos
fatores, dentre os quais se destacam os familiares, os emocionais, os biológicos, os cognitivos
e os socialmente construídos. No Brasil é considerada idosa a pessoa com idade igual ou
superior a 60 anos.
No final da década de 90, a nível global, passou-se a utilizar o conceito de “envelhecimento ativo” buscando incluir, além dos cuidados com a saúde, outros fatores que afetam o envelhecimento. O envelhecimento ativo pode ser compreendido como o objetivo de
melhorar a qualidade de vida, à medida que as pessoas ficam mais velhas. Envolve políticas
públicas que promovam modo de viver mais saudáveis e seguros em todas as etapas da vida,
favorecendo a prática de atividades físicas no cotidiano e lazer, a prevenção às situações de
ente outros. Tais medidas contribuirão para o alcance de um envelhecimento que signifique
também um ganho substancial em qualidade de vida e saúde. Até a constituição de 1988 não
existia dispositivo algum tratando dos direitos dos idosos, já que esta era uma problemática
desconsiderada pelos tecnocratas e ainda pouco visível para a sociedade considerada jovem
como a brasileira46.
A sociedade de uma maneira geral não se preparou para essa mudança de perfil
populacional e embora essas pessoas estejam vivendo mais, a qualidade de vida não
acompanhou essa evolução. Os idosos apresentam mais problemas de saúde que a população
em geral. Em 1999, dos 86,5 milhões de pessoas que relataram ter consultado um médico nos
últimos 12 meses, 73,2% tinham mais de 65 anos, sendo que esse grupo, no ano anterior,
apresentou 14,8 internações por 100 pessoas, representando o maior coeficiente de internação
hospitalar. Mais da metade dos idosos (53,3%) apresentou algum problema de saúde, e 3%
tinham alguma doença crônica16.
Confirma-se a necessidade dessa reformulação com a observação, que a barreira dos
70 anos de vida média foi rompida por volta do ano 2000, quando a esperança de vida passou
para os 70,40 anos. Segundo a projeção, o Brasil continuará galgando anos na vida média de
sua população, alcançando, em 2050, o patamar de 81,29 anos, basicamente o mesmo nível
atual da Islândia (81,80), Hong Kong, China (82,20) e Japão (82,60). As mudanças na
população nos próximos 20 anos serão visíveis, composta de um contingente que poderá
ultrapassar os 30 milhões de idosos, traduzindo a perspectiva de um processo de
envelhecimento, que necessita, portanto, de uma maior preocupação e formatação das
instituições superiores em relação à formação de profissionais capacitados para lidar com esse
universo social15.
As mudanças na sociedade brasileira, em relação à sua população, obtidas com os
sucessivos avanços da medicina e melhorias nas condições gerais de vida da população,
promoveram elevações na expectativa de vida ao nascer do brasileiro. O número absoluto dos
idosos com mais de cem anos passaram de cerca de 14 mil no censo anterior para cerca de 17
mil, como mostram os dados preliminares do censo 2010. A tendência de envelhecimento da
população resultou também na redução do número médio de habitantes por domicílio, de 3,79
para 3,3435.
Portanto, o resultado parcial do censo 2010 confirmou a tendência de envelhecimento
da população brasileira, fruto da redução da taxa de fecundidade e do aumento da expectativa
de vida. De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
cerca de 30 anos. "Mantidas as condições atuais de fecundidade, expectativa de vida e
movimento migratório, o país deixará de ser um país ainda jovem para ser tornar adulto". Os
dados mais atuais são de que 153,6 milhões de brasileiros já tinham sido recenseados. O
número equivale a 80,22% da população estimada em 2009. A análise dos dados preliminares
revelou que a proporção do número de pessoas de 0 a 4 anos no total da população brasileira
passou de 9,64% em 2000, data do último censo, para 7,17% neste ano. Demonstrando assim,
a importância das universidades ficarem atentas a essas modificações demográficas para o
planejamento do ensino superior compatível com as necessidades da sociedade.
De acordo com Brunetti18 envelhecer é um processo contínuo e inevitável e que deve
ser vivido da forma mais agradável possível, tentando-se prevenir e minimizar sintomas
capazes de incapacitar o indivíduo. Envelhecer significa amadurecer, ter experiências únicas
ao longo de uma vida. Ao idoso deve ser dispensados respeito e dignidade, o envelhecimento
não deve estar relacionado à sobrevida, mas a qualidade de vida, assim torna-se necessário um
atendimento em saúde adequado em todos os níveis de atenção às necessidades da pessoa
idosa.
Segundo De Luiz26 a mudança para um novo modelo de organização do trabalho
baseado em competências não mais enfatiza o saber escolar ou técnico-profissional, mas a
capacidade de mobilizar saberes a fim de resolver problemas ou imprevistos, reconfigurando a
importância atribuída às qualificações sociais e à subjetividade do indivíduo. Assim, ao
buscar o sentido da competência na atuação profissional junto à população idosa, objetiva-se
não só o conhecimento, mas sua contextualização dentro do processo de envelhecimento e da
prestação de serviços, a capacidade de atuação frente à imprevisibilidade e diversidade de
situações, incluindo o trabalho em equipe interdisciplinar e a mobilização de conteúdos
diversos buscando a atuação integral.
Com a Política Nacional do Idoso (PNI), constituição de 1988, pela lei 8.842/94 e
regulamentada pelo Decreto 1948/96, estabeleceu-se direitos sociais, garantia da autonomia,
integração e participação dos idosos na sociedade, como instrumento de direito próprio de
cidadania, sendo considerada população idosa o conjunto indivíduos com 60 anos ou mais17.
A Lei nº 8.842/94 criou o Conselho Nacional do Idoso (CNI) responsável pela
viabilização do convívio, integração e ocupação do idoso na sociedade, através, inclusive, da
sua participação na formulação das políticas públicas, projetos e planos destinados à sua faixa
etária. Suas diretrizes priorizam o atendimento domiciliar; o estímulo à capacidade dos
médicos na área da Gerontologia; a descentralização político-administrativa e a divulgação de
Em seguimento a essas necessidades, ocorre à definição da Agenda de Compromisso
pela saúde que agrega três eixos: o Pacto em Defesa do SUS, o Pacto em Defesa da Vida e o
Pacto de Gestão13. Em destaque tem-se o Pacto em Defesa da Vida, que constituem conjunto
de compromissos que deverão tornar-se prioridades inequívocas dos três entes federativos,
com definição das responsabilidades de cada um. Foram pactuadas seis prioridades, sendo que
três delas têm especial relevância com relação ao planejamento de saúde para a pessoa idosa.
São elas: a saúde do idoso, a promoção da saúde e o fortalecimento da Atenção Básica11.
A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), Portaria GM nº 2.528, de 19
de outubro 2006, define que a atenção à saúde dessa população terá como porta de entrada à
Atenção Básica (AB) / Estratégia de Saúde da Família (ESF), tendo como referência a rede de
serviços especializados de média e alta complexidade. Nessa perspectiva, a formação dos
profissionais de saúde, em destaque o profissional cirurgião-dentista e a sua colocação nas
práticas de saúde, compreendem dinâmica relevante para uma assimilação do papel norteador
da Universidade em relação á sociedade, em particular, em relação à população idosa do
nosso país12.
Apesar da reconhecida importância da saúde bucal, a população idosa brasileira não
tem igualdade no acesso e utilização desses serviços, mostrando que pequenas diferenças nas
rendas domiciliares são suficientemente sensíveis para identificar idosos com piores
condições de saúde e menos acesso aos serviços de saúde no Brasil. Além da questão da baixa
renda, pode-se incluir entre as principais barreiras para o acesso aos serviços odontológicos, a
baixa escolaridade e a escassa oferta de serviços públicos de atenção à saúde bucal voltados
para a população idosa brasileira43.
Nesse contexto, é necessário reorganizar o acesso aos serviços públicos de saúde bucal,
envolvendo ações preventivas e restauradoras, bem como o atendimento especializado de
reabilitação protética, visto que a demanda estética e funcional é elevada nessa faixa etária20. As políticas de saúde pública devem rever organizar e efetivar estratégias específicas de saúde
bucal, não só para o idoso que vive na comunidade, junto de sua família, mas também para
aquele com comprometimento funcional residente em instituições de longa permanência.
Com o aumento da população idosa, encontraremos um “novo idoso”, com suas
condições físicas, sociais e psíquicas bastantes particulares, que demandará por uma maior e
mais diversificada atenção por parte dos dentistas e de outros profissionais da saúde6.
Portanto, segundo Araújo et al.3, o processo de envelhecimento populacional brasileiro
mostra-se bastante acelerado e demonstrando cada vez mais perfis epidemiológicos que
desenvolverem estratégias para atenuarem os impactos fisiológicos, funcionais e sociais
trazidos pela senilidade.
2.2 FORMAÇÃO PROFISSIONAL E O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
2.2.1 Lei de Diretrizes e Bases da Educação e as Diretrizes Curriculares Nacionais.
O PPP na sua dimensão global deve ser representativo por meio do reconhecimento
das demandas sociais, econômicas e políticas esperadas das universidades, advindas da
Constituição Federal, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e do Plano
Nacional de Educação (PNE), dos movimentos sociais e das demandas produtivas. A partir do
artigo 12 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), lei 9.394/96, instituiu-se
que cada estabelecimento de ensino deveria elaborar e executar sua proposta pedagógica,
através da construção de um Projeto Político Pedagógico (PPP).
Quanto ao PPP de Curso, a dimensão global deste, passa a ser o próprio Projeto
Institucional (PI). O PPP deve explicitar o conjunto de capacidades que será desenvolvido
durante o processo de formação, os referenciais a ela associados e a metodologia a ser
adotada. A qualidade revitaliza o PPP e deve ser buscada na relação dinâmica e integradora
das diversas esferas e estruturas internas e nas relações entre elas e a sociedade.
Os ensinamentos de Dias25 ajudam a compreender que:
(...) a qualidade é fortemente concernida pelas prioridades, pelas diretrizes políticas de inserção, compromissos e projetos sociais dos departamentos, dos institutos, das faculdades, dos centros, não só nas suas dimensões específicas, mas, sobretudo nas suas relações dentro das áreas, com o conjunto de universidade e com a sociedade mais ampla.
A universidade como representação social, deve estar presente no centro das
discussões críticas diante da dinâmica das inovações pelas quais transita a humanidade. Na
odontologia ocorre um processo semelhante, já que, a saúde bucal coletiva procura recuperar
e solidárias; onde o processo saúde doença é de interesse público, de responsabilidade do
Estado, mas também, do conjunto da sociedade44.
Nesse aspecto, tem sido renovada a importância das Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs), que deram origem as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de graduação
em odontologia (DCNGO), respaldadas na legalidade, apresentando as seguintes referências
legais: Constituição Federal de 1988; Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde (LOSUS) n.º
8.080 de 19/9/1990; LDB n.º 9.394 de 20/12/19969; Lei que aprova o PNE n.10.172 de
9/1/2001; Parecer da CES/CNE n°.776/97 de 3/12/19978; Edital SESu/MEC nº4/97 de
10/12/1997;Parecer da CES/CNE nº 583/2001; Relatório Final da 11ª Conferência Nacional
de Saúde(CNS) de 15 a 19/12/2000; Plano Nacional de Graduação (PNG) do Fórum de
Pró-Reitores de Graduação (ForGRAD) de maio de/1999; Documentos legais que regulamentam o
exercício das profissões de saúde.
As Diretrizes contam com a participação de diferentes instituições, organizações e
especialistas da sociedade civil organizada e também do Estado, com ampla consulta em
audiências e eventos públicos. Em relação específica para a odontologia, são observadas
referências nas Reuniões da Associação Brasileira de Ensino odontológico (ABENO), que em
agosto de 2003, na presença das diversas regiões do Brasil, recomendou as DCNGO, como
documento norteador das reformas curriculares necessárias aos cursos de odontologia no
Brasil. A busca de um PPP inserido para dar suporte de investimentos que tragam respostas
concretas à sociedade deve ser vivenciada constantemente por todos os atores envolvidos
nessa dinâmica.
Os princípios norteadores do PPP devem levar em consideração as DCNs, mas não
deve ficar restrito a elas. A autonomia na elaboração do projeto, apesar dos limites impostos
pela atual política do Ministério de Educação e Cultura (MEC), precisa ser exercida. Os
profissionais envolvidos no processo de elaboração do PPP devem ousar no sentido de propor
um projeto que contemple experiências acadêmicas criativas e inovadoras. O PPP do curso
deve estar necessariamente articulado com o projeto de universidade pública democrática e de
qualidade social. Assim, a elaboração do PPP pressupõe uma compreensão do contexto social
e político do momento2.
O PPP deve compreender três momentos interligados. O primeiro relaciona-se com o
perfil desejado para o egresso do curso, as habilidades e competências definidas e os objetivos
do curso, dentre outros aspectos que condicionam os demais componentes do projeto. O
segundo diz respeito à estrutura curricular propriamente dita. Matérias e disciplinas são
definição dos procedimentos a serem executados em função dos dois primeiros momentos e as
exigências infraestruturais para tal2.
Dessa forma Alberto e Balzan1 destacam que,
“[...] o projeto político-pedagógico” objetiva dar ênfase proposital às características políticas e pedagógicas de um projeto institucional. Político porque o projeto de uma instituição de ensino, como atividade-fim, proporciona a formação dos alunos para a sociedade e, como atividade-meio, se constrói no coletivo, nas relações dos sujeitos (professores, alunos e funcionários) na prática institucional. Pedagógico porque nele está a possibilidade de tornar real a intenção da instituição: formar seres humanos críticos e criativos.
Na reorientação da construção do exercício da odontologia dentro do SUS, o PPP tem
papel interlocutor na busca de sua identidade social, o que ocupa toda sua essência.
O PPP é dinâmico na medida em que seu desenvolvimento oscila numa relação
dialética entre o instituído e o instituinte. Centrado na universidade, o PPP desenvolve-se
dentro de um quadro normativo-legal-institucional do sistema educativo, numa relação de
permanente negociação, singularidade, adequação ao contexto em que se desenvolve a
autonomia dos atores implicados.
Nesse aspecto, a definição de um PPP procura ligar os processos de reflexão e
elaborações coletivas que servem de suporte à ação profissional.
Mendel39 afirma que:
“(...) na verdade, se pretendemos tornar a reflexão sobre nossa ação educativa mais completa, devemos incluir um olhar sobre as mudanças da sociedade e sobre o futuro”. Isso significa que a instituição deve empreender coletivamente a construção de seu projeto, não promovendo simplesmente a sua apologia, porém buscando a sua implantação. Assim, o projeto pedagógico é um processo de desenvolvimento institucional e de curso num tempo e espaço determinados. Esse processo traduz-se num continuo de decisões a serem desencadeadas, sistematicamente, por coordenadores, professores, alunos e técnicos, tendo como suporte um dado contexto social.
Portanto, a ação pedagógica deve ser pautada em uma dinâmica que articule
adequadamente ensino, pesquisa e extensão. A construção do PPP pressupõe uma ação
coletiva resultante do engajamento dos agentes educacionais e sociais. O PPP, ao ser
estruturado, deve levar em consideração que o ato educativo compreende a apropriação pelo
hábitos, atitudes e valores éticos. Isso implica em uma articulação adequada entre
conhecimentos científicos, tecnológicos e o desenvolvimento de habilidades políticas e sociais
para o exercício da cidadania em contextos permeados por desigualdades socioeconômicas.
Nessa perspectiva, as atividades curriculares devem facilitar, desde cedo, a interação do aluno
com a realidade sócio- epidemiológica local.
2.2.2 A odontologia do Rio Grande do Norte
A profissão de cirurgião-dentista obteve sua regulamentação no Brasil, ainda no
período colonial, de acordo com Velloso58 em 1626 um decreto da Corte Imperial
regulamentou o exercício de cirurgião-barbeiro. A odontologia, até o ano de 1884, no período
do Império era exercida por leigos de forma artesanal. Somente em 25 de outubro de 1884,
por decreto nº 9311, o Imperador D. Pedro II, autorizou as Faculdades de Medicina do
Império do Rio de Janeiro e da Bahia a mudarem seus estudos, e dentre eles foi incluído a
odontologia para funcionar como curso anexo aos de Ciências Médicas32. A regularização do
exercício da odontologia no Brasil ocorreu em todo território nacional, em 1966, pela lei
5.081 de 24 de agosto.
As alterações políticas, econômicas e sociais que permeavam no país repercutiram
sobre todas as profissões de saúde, tendo a necessidade da criação de Faculdades isoladas, o
que possibilitou a odontologia sair das características artesanais e se vincular a um processo,
que mesmo lento, caminhou para uma atividade científica, com firmes e amplos fundamentos
metodológicos e biológicos.
Em Natal/RN um dos fatos marcantes foi à criação da Faculdade de farmácia e
odontologia de Natal, pelo Decreto Estadual nº 682, de 03/02/1947. Em 06 de janeiro de
1948, o governo federal concede autorização oficial para o funcionamento das duas
Faculdades, através do Decreto nº 25.97. No ano de 1951, a Faculdade diplomava a sua
primeira turma de cirurgiões–dentistas e farmacêuticos, logo no ano seguinte, mediante
Decreto nº 31.09, de 29/07/1952, o curso é devidamente reconhecido pelo governo federal. A
partir da federalização da universidade pela lei nº 3.849, de 18/12/1960, foi desmembrada em
unidades distintas denominadas, Faculdade de odontologia e Faculdade de farmácia.
Na reforma universitária de 1968, implantada pela Lei 5.540 de 28/11/1968 as
Faculdades deixam de existir, passando a vigorar os sistemas de cursos, departamentos e
centros. O curso de odontologia passa, então, a fazer parte do Departamento de odontologia
Desde a sua criação, o curso passou por diversas propostas curriculares, três delas
estão disponíveis no sistema de registro da UFRN. Na primeira estrutura, o curso foi
programado para 8 semestres, num total de 210 créditos (3450 horas) distribuídos em 36
disciplinas. Na segunda proposta curricular, o tempo do curso passa para 5 anos (10
semestres), totalizando 200 créditos (3475 horas) em 42 disciplinas. Finalmente, no início
dos anos 1980 é implantado o currículo que está em vigor até 2006, onde o tempo mínimo do
curso passa para 9 semestres, numa carga horária de 231 créditos (3795 horas) em 43
disciplinas56.
Recentemente, dois novos cursos de odontologia foram criados: o curso de odontologia
da Universidade Potiguar (UNP), a partir da década de 1990, ofertado em Natal/RN, na
ocasião mantida pela Sociedade Potiguar de Educação e Cultura (APEC). A UNP, em
consonância com a legislação vigente e de acordo com as metas do Plano de
Desenvolvimento Institucional (PDI 1997/2001), criou o Curso de odontologia através da
Resolução nº 12/97 – ConSUni, de 21 de fevereiro de 199757.
O Curso teve inicio com a oferta de 60 (sessenta) vagas anuais no turno vespertino.
Entre 2000 e 2004, este número passou para 80 (oitenta) vagas. Em 2005, foram ofertadas 100
(cem) vagas, com duas entradas, sendo 50 no primeiro semestre e 50, no segundo. Em 2006
foram oferecidas 50 vagas anuais e a partir de 2007, 60 vagas, assim também em 2008 e 2009.
O Curso, apesar de funcionar no turno vespertino, oferece no turno matutino atividades
práticas de algumas disciplinas, em atendimento à necessidade de revezamento com as
atividades práticas desenvolvidas em unidades de saúde que recebem estudantes somente
nesse turno.
Reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) no ano de 2001, através
da Portaria/MEC n. 2330/01, conceito A. Em 2002, foi novamente avaliado, momento em que recebeu o conceito máximo de “Muito Bom” e em 2007, na avaliação para renovação do reconhecimento, o Curso obteve conceito 4. A primeira turma concluiu em 2001, com 62
estudantes, estando o Curso em pleno funcionamento57.
O curso de odontologia, pertencente à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN), com sede no Campus do Seridó Governadora Wilma Maria de Faria, em Caicó/RN
iniciou suas atividades no dia 19 de outubro de 2006, com uma turma de 20 alunos em dois
turnos de aulas e um corpo docente de quatro professores lotados no curso, um professor do
curso de medicina, dois professores pró-labore e dois professores do curso de enfermagem55.
A primeira turma soube utilizar junto com o corpo docente a criatividade para manter
que elas interferissem de maneira prejudicial, conseguindo realizar na íntegra das atividades
pedagógicas necessárias ao rendimento acadêmico. Após a aprovação pelo Conselho Superior
de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) da UERN dos primeiros e segundo períodos do
Curso de Odontologia, foi encaminhada a equipe docente responsável pela elaboração do
Projeto de Curso, a Resolução Número 2 de 2007 – CES/CNE, datada de 18 de junho de 2007
e publicada no Diário Oficial da União no dia 19 de junho de 2007, seção 1, pagina 6,
dispondo sobre a carga horária mínima e procedimentos relativos à integralização e duração
dos cursos de graduação, bacharelados, na modalidade presencial.
Tal Resolução determina em seu artigo segundo, inciso III, letra D o limite mínimo
para integralização de 5 anos para o grupo de carga horária mínima acima de 4000 horas,
obrigando o referido curso que possuía 4225 horas a se adequar a esta determinação, uma vez
que o mesmo encontra-se em pleno decorrer do segundo período da primeira turma. Diante
deste fato, houve a necessidade de readequação da grade curricular de todo o curso (antes
prevista para quatro anos e meio e 4225 horas para 5 anos e 4670 horas) a partir do segundo
período mesmo este estando aprovado pelo CONSEPE. Então, a equipe docente do curso de
odontologia da UERN e a comissão de implantação processaram a readequação da matriz
curricular. Conseguiu-se manter inalterada a estrutura do primeiro período. Mas julgou-se
necessário modificar o segundo período.
No estado do RN, o município de Caicó está inserido na microrregião do Seridó
Ocidental e conta com uma população de aproximadamente sessenta e três mil habitantes.
Dados do IBGE12 mostram que em relação ao ensino superior, Caicó contou apenas com 1115
alunos matriculados no ano de 2005. Embora os cursos de odontologia tenham apresentado
um crescimento da ordem de109%, saindo de 83 cursos em1991, chegando a 174 em 2004,
segundo o Censo de Educação Superior (CES), esse crescimento não foi uniforme.
De acordo com a implementação das DCNs (2002), o Curso de odontologia da UERN
tem como meta a formação de profissionais generalistas e adequados à realidade
sócio-econômico-cultural da região do Seridó. O curso também objetiva adequar o perfil do egresso
à nova realidade do mercado de trabalho odontológico, trazendo em seu escopo uma maior
dedicação e interesse pela Clínica Geral integralizada à odontologia em Saúde Coletiva, sendo
fundamental a inclusão dos espaços públicos de atenção em saúde bucal como cenário de
ensino-aprendizagem.
Esses cursos complementam o perfil da ampliação da representação da cultura
odontológica do Estado, traçam ensinamentos emanados e solidificados, a partir de suas
potiguar e nacional, através de suas graduações, palestras, seminários, simpósios, congressos,
cursos de pós-graduação. Nessa perspectiva, os cursos de odontologia do Estado têm
procurado contribuir para a conscientização e habilitação necessária dos discentes para o
exercício de uma odontologia moderna, em consonância com os anseios e necessidades de
saúde da população brasileira. A formação desses profissionais, portanto, deve retratar os
reais objetivos sociais pertinentes a uma maior interação entre as universidades e as realidades
que permeiam de forma dinâmica a sociedade moderna.
Nesse sentido, a formação em saúde deve esta inserida nesse processo de construção e
interligação de saberes e nela se inclui o profissional da odontologia, que deve primar por
uma formação comprometida com o social e preparada de modo técnico-cientifico para os
enormes desafios no enfrentamento dos problemas de saúde da população.
No bojo dessas transformações, os caminhos sociais, políticos e econômicos
percorridos pelo Brasil, as políticas de saúde sofreram alterações, possibilitando avanços,
retrocessos e momentos de reconstruções constantes. A educação representa, nesse aspecto,
um dos lugares aonde diferentes atores sociais, ao se inter-relacionarem, constroem um
universo de questionamentos e trocas que se constitui na própria formação. Partindo dessa
concepção é fundamental o alerta de Paulo Freire, quando insiste que “formar é muito mais do
que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas30.”
2.2.3 Reforma Sanitária, o SUS e as PolíticasPúblicas direcionadas a Pessoa Idosa.
O movimento de Reforma Sanitária surge em um contexto a partir de construção
negociada, após intensos debates e conflitos. Seguindo esse movimento, a oitava Conferência
Nacional de Saúde (CNS) (1986) marca a criação do Sistema Único de Saúde (SUS),
regulamentado na Lei Orgânica de Saúde (LOS), dois anos após a promulgação da
constituição Federal de 1988. Novos princípios doutrinários e organizativos são incorporados
às políticas de saúde no Brasil, entre os quais podemos destacar o processo de reorientação
das condutas de formação profissional, objetivando alcançar uma formação a serviço da
população, capaz de romper com a dicotomia entre as ações previdenciárias e de saúde
pública.
O SUS, em busca de transformação social, fez o processo de descentralização e
municipalização da saúde avançar, tornando o contato social, político e administrativo uma
satisfação diante das diferentes necessidades de saúde das populações de distintas regiões e
reconhece na formação profissional um fator relevante.
A Constituição Federal brasileira determina que: “ao SUS é delegada a competência
para ordenar a formação de recursos humanos para a área de saúde”. Recomenda um controle
mais efetivo por parte do poder público através de profundas transformações no sistema de
formação de recursos humanos odontológicos, mediada por organizações competentes como a
Coordenação Geral da Política de Recursos Humanos (CGPRH), respaldando seu argumento
na LOS, nº 8.080, de 1990 que em seu título IV, no artigo 27 destaca: “Organização de um
sistema de formação de recursos humanos em todos os níveis de ensino, inclusive de
Pós-graduação, além da elaboração de programas de permanente aperfeiçoamento de pessoal”50.
A saúde bucal brasileira acompanhou os avanços da estruturação do SUS buscando
novas estratégias de atenção, procurando universalizar o acesso a um conjunto de ações, tanto
curativas, quanto preventivas no processo de formação profissional dentro de uma perspectiva
da educação permanente. O avanço da política nacional de saúde bucal nos últimos anos
configurou-se em importante perspectiva para o sistema de atenção, incorporando um
significativo número de profissionais de nível superior e técnico, incrementando a noção de
trabalho da equipe de saúde bucal integrada às equipes de saúde da família, e não mais
centralizada na figura de um único ator, mas com posturas profissionais compartilhadas em
objetivos comuns34.
Nessa concepção, o alcance das mudanças desejadas supõe um processo interativo e
participativo nas relações cotidianas, principalmente quando marcadas por compromissos
éticos com o melhor acolhimento da população e com a promoção da autonomia dos
usuários11, tendo a universidade papel determinantes em todo esse processo.
Sendo assim, a formação dos profissionais de saúde, em destaque o profissional
cirurgião-dentista, deve ter em atenção a sua colocação nas práticas de saúde, assim como,
deve compreender a relevância norteadora para assimilação do papel da universidade em
relação á sociedade e em particular, em relação às transformações referentes ao que concerne
à população idosa do nosso país.
Dentro da organização da saúde no Brasil, surge de alcançar melhores indicadores
epidemiológicos, garantir acesso e aumento de cobertura à necessidade populacional aos
serviços de saúde e nesse se inclui a Saúde Bucal. Com a inclusão, dos cirurgiões-dentistas no
Programa Saúde da Família (PSF), a partir da portaria nº 1444, que traçou os primeiros passos
No contexto do SUS, a Norma Operacional de Atenção a Saúde 2001 (NOAS) avança
ao enumerar áreas prioritárias de abrangência à atenção e a assistência à saúde, dentre elas, a
saúde Bucal; indicando-a dentre as áreas pertencentes a esses grupos estratégicos (MS, 2001 a
/2002 a), colaborando, para a criação de uma Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB)10.
3 OBJETIVO GERAL
Analisar os PPPs dos cursos de odontologia do Rio Grande do Norte (RN): UFRN,
UERN e UNP, de acordo com as DCNs e a formação profissional na perspectiva da atenção à
pessoa idosa.
3.1OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Verificar, através das ementas das disciplinas e das atividades complementares de
pesquisa e extensão desenvolvidas nos três cursos de odontologia do RN, se a formação
contempla a abordagem de populações e/ou pessoas na terceira idade.
Analisar informações sobre a elaboração dos PPPs dos cursos de odontologia do RN,
4 DIMENSÕES ÉTICAS
O projeto foi submetido à aprovação e apreciação do comitê de ética do Hospital
Universitário Onofre Lopes (HUOL/RN). Os sujeitos desse estudo são professores
universitários que participaram institucionalmente dos processos de elaboração dos PPPs.
Na ocasião das assinaturas do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
conforme determina o Conselho Nacional de Saúde (CNS), através da resolução 196/96
expusemos as características, objetivos e metodologia da pesquisa. Esclarecemos também a
presença dos riscos mínimos, conforme estabelece a mesma resolução. Os nomes dos sujeitos
da pesquisa não foram coletados durante a aplicação da entrevista e nem serão divulgados nas
publicações, garantindo, dessa forma, a confidencialidade, a privacidade das informações e o
anonimato. O presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do HUOL/RN,
5 METODOLOGIA
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Essa pesquisa assume a abordagem metodológica descritiva com análise qualitativa.
Trata-se de um estudo aprofundado e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a
permitir o seu conhecimento amplo e detalhado. Caracteriza-se pela capacidade de lidar com
uma completa variedade de evidências, documentos, entrevistas e observações33. O cenário da
pesquisa é representado pelos cursos de odontologia das três instituições de ensino superior
do RN através dos seus PPPs, tendo como sujeitos do estudo, um coordenador de cada curso.
Trata-se, portanto, de uma pesquisa qualitativa, com abordagem que envolve análise
documental e entrevista.
Para Minayo40
“A metodologia qualitativa se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, trabalham com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.”
5.2 COLETA DE DADOS
A elaboração da coleta se deu através dos documentos: os PPPs, os resumos dos
relatórios finais dos projetos de pesquisa e extensão, nos quais os alunos da graduação tiveram
participação, referentes aos anos de 2007, 2008 e 2009, correspondentes às produções
científicas dos três cursos de graduação estudados. Em seguida, os professores foram
contactados, sendo um de cada instituição, por meio de ofício e foram instruídos a assinar o
TCLE.
Tomando como base a experiência desses atores, buscaram-se novos elementos que
pudessem estar presentes no processo de construção dos PPPs. Esses coordenadores,
informantes-chave, participaram ativamente na elaboração dos PPPs e submeteram-se a
entrevista que contém seis perguntas abertas, cujos conteúdos foram gravados e depois
transcritos na integra, sem identificação nominal dos entrevistados.
O critério de inclusão dos sujeitos da pesquisa foi o de abranger apenas um professor
participação institucional durante a elaboração dos PPPs. A não assinatura do TCLE foi
considerada critério de exclusão.
5.3 ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos documentos referentes aos PPPs e dos resumos dos projetos de pesquisa
e extensão foi feita mediante a utilização do software Alceste (Análise Lexical Contextual de
um Conjunto de Segmentos de Texto versão 4.9), desenvolvido por Max Reinert. Este
programa conjuga uma série de procedimentos estatísticos aplicados a banco de dados
textuais, como entrevistas, obras literárias, artigos de jornais e revistas, entre outros. A base
do funcionamento do programa traz a idéia de relação entre contexto lingüístico e
representação coletiva ou entre unidade de contexto e contexto típico19. Os documentos foram
lidos, tendo como suporte teórico básico as DCNs.
Em relação às entrevistas estas foram submetidas aos procedimentos relatados pela
técnica de análise de conteúdo segundo Bardin4, que é um conjunto de técnica de análise das
comunicações, que visa obter, por procedimentos e objetivos sistemáticos de descrição do
conteúdo das mensagens, indicadores que permitem a inferência de conhecimentos relativos
às condições de produção/recepção destas mensagens. A técnica de análise possui três etapas:
pré-análise, descrição analítica e interpretação inferencial. (FIGURA I)
Os conteúdos das entrevistas constituíram o “corpus do estudo”, em seguida foi
realizada a leitura flutuante que objetiva apenas selecionar e organizar o material transcrito
(conteúdos das entrevistas), assim como, a classificação, categorização e codificação das
informações obtidas. As Unidades de Análises (UA), bem como as subcategorias,emergiram
das categorias estabelecidas a posteriori, a partir dos resultados contidos nas entrevistas.
Para Bardin4 a pré-análise é simplesmente a organização do material que queremos na
fase inicial. A descrição analítica é a segunda fase, em que o corpus é submetido a um estudo
aprofundado, sendo orientado, em princípio, pelas hipóteses e referenciais teóricos. Os
procedimentos como: a codificação, a classificação e a categorização são consideradas básicas
nessa instância do estudo.
Por fim, a fase de interpretação inferencial, que representa a terceira fase, se refere à
reflexão que engloba a etapa intermediária, entre a descrição e a interpretação dos dados. Essa
ocorre com embasamento nos materiais que proporciona estabelecer relações, sobre a função
do supervisor; aprofunda as conexões das ideias, chegando a propostas básicas de
Figura 1 - Desenvolvimento de uma análise segundo Bardin4
5.3.1 Seqüência das Análises
5.3.1.1 Análise a partir do Alceste
A análise através do Alceste (4.9) toma como base os documentos dos três PPPs, com
suas ementas e os resumos dos projetos de pesquisa e extensão dos cursos de odontologia do
RN. “Após o estabelecimento das Unidades de Contextos Iniciais (UCIs) essas foram separadas pelas linhas de comando, também chamadas de” linhas de asteriscos”, para os documentos da UFRN (0001 *emf *pef *exf), UERN(0002*eme *pee *exe) e UNP(0003
*emp * pep *exp). A partir do reconhecimento destas UCIs, o próprio programa Alceste
dividiu o material em Unidades de Contextos Elementares (UCEs).
Segundo Reinert19, elas são segmentos de texto, na maior parte das vezes, do tamanho
de três linhas, dimensionadas pelo programa informático em função do tamanho do corpus e,
em geral, respeitando a pontuação.
Essa análise contempla quatro etapas: Na primeira o programa prepara o corpus,
reconhece as UCIs, faz uma primeira segmentação do texto, agrupa as ocorrências das
palavras em função de suas raízes e procede ao cálculo da freqüência destas formas reduzidas.
Na segunda as UCEs são classificadas em função dos seus respectivos vocabulários, e o
conjunto delas é repartido em função da freqüência das formas reduzidas. A partir de matrizes
cruzando formas reduzidas e UCEs, variando o tamanho das UCEs, aplica-se o método de
Classificação Hierárquica Descendente (CHD) e obtém - se uma classificação definitiva.
Esta análise visa obter classes de UCEs que ao mesmo tempo, apresentam vocabulário
semelhante entre si, e vocabulário diferente das UCEs das outras classes. Para isto, utiliza-se
do teste do qui-quadrado de associação das formas reduzidas e das UCEs às classes. A
terceira etapa fornece os resultados mais importantes. O programa apresenta o dendongrama
da CHD, que ilustra a relação entre as classes. Além disso, executa cálculos complementares
para cada uma das classes, obtidas a partir dos cálculos da etapa precedente, e fornece
resultados que nos permite a descrição de cada uma das classes, principalmente, pelo seu
vocabulário característico (léxico) e pelas suas palavras com asteriscos (variáveis
significativas). Na última etapa, com base nas classes de UCEs escolhidas anteriormente, o
programa calcula e fornece as UCEs mais características de cada classe. Produz ainda a
Classificação Hierárquica ascendente (CHAS) para cada classe, permitindo assim, o estudo
Em síntese as operações que produzem os resultados significativos para a
interpretação do corpus desse estudo são o dendograma da classificação hierárquica
descendente, a descrição das classes, a seleção das UCEs, mais características de cada classe e
a classificação hierárquica ascendente das palavras por classes. Também ocorre a produção do
dicionário das formas reduzidas, o que aprimora globalmente a análise do corpus.
5.3.1.2Análise das Entrevistas segundo Bardin4
a) Primeiro momento: Pré-análise
Foram selecionados e organizados os documentos para a realização da pesquisa. Como
fontes primárias foram utilizadas os dados dos conteúdos contidos na entrevista com os
professores, cuja transcrição formou o “corpus do estudo”. Em seguida, todos os documentos
foram submetidos à leitura inicial ou flutuante.
b) Segundo momento: Descrição Analítica e Codificação
Os documentos foram relidos para uma maior apropriação destes. A posteriori foram
estabelecidas as categorias, subcategorias e as Unidades de Análise (UA-palavras).
As etapas da codificação correspondem a uma transformação, que pode ser feita por
recorte, agregação e enumeração, permitindo atingir uma representação do conteúdo ou de sua
expressão. Os critérios para as codificações das entrevistas foram à utilização das agregações
das letras iniciais das categorias e subcategorias emergentes.
Após a subcategorização e a categorização, as UA emergiram a partir dos conteúdos
presentes nas categorias e subcategorias extraídas das leituras das entrevistas.As UA tiveram
como parâmetro, a freqüência com que foram citados esses conteúdos, pois à medida que
aumenta a aparição da freqüência, aumenta a importância da categoria, levando-se em questão
todo o texto narrado e descrito.
c) Terceiro Momento: Interpretação Inferencial
A fase da interpretação inferencial na análise de conteúdo determina a significação das
características dos documentos, dos textos selecionados, a necessidade de se retirar
documentos, portanto, prima pela busca, pela compreensão, interpretação das mensagens
extraídas e da relação real da produção e da recepção destas, para fundamentar impressões,
idéias que gerem resultados de confiança. Desta forma, analisa-se o conteúdo por trás de todas
as realidades geradas pelas mensagens, contribuindo para a consolidação da descrição destes,