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Sedução, tradução e cura.

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Academic year: 2017

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Professor da Universidade Federal da Paraíba.

Psicanalista. RES UMO: A teoria da sedução foi a prim eira proposta sistem ática de Freud para dar conta de um excedente de excitação que faz um a exigência de tradução ao sujeito hum ano, constituindo, ao m es-m o tees-m po, o seu aparelho psíquico. Baseando-se na teoria da se-dução generalizada, de Laplanche, o texto explora as relações entre as noções de sedução e de tradução e suas conseqüências na situa-ção analítica.

Palavras - c h ave s : sedução, tradução, cura.

ABSTRACT:Seduction: translation and cure. The theory of

seduc-tion w as Freu d’s system atic proposal to explain h ow excessive excitem ent requires a translation by the hum an subject, w hich at the sam e tim e constitutes the latter’s psychic apparatus. The text explores the relationships betw een the notions of seduction and translation and their influence on the analytic situation, based on Laplanche’s theory of generalized seduction.

Ke yw o rds : seduction, translation, cure.

E

m suas teorias sobre o desprazer, a dor e a angústia, as-sim com o em m uitas outras passagens de sua obra, Freud sem pre se preocupou com as relações entre o psiquism o e o corpo. A teoria da sedução foi a prim eira proposta sistem ática para dar conta de um excedente de excitação que faria um a exigência de tradução ao sujeito hum ano, constituindo, ao m esm o tem po, o seu aparelho psíquico num a seqüência tópi-ca. Laplanche retom a os elem entos da teoria da sedução, aban-donada por Freud em 1897, para construir um a teoria da sedução generalizada que, partindo do m ecanism o do recalcam ento,

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pulsão, fariam ao psiquism o um a exigência perm anente de tradução. O que vam os explorar a seguir são as relações estabelecidas por Laplanche entre as noções freudianas de sedução e de tradução, com suas conseqüências na situa-ção de cura.

SEDUÇÃO

Entre 1895 e 1897, Freud esteve envolvido com a im portância da sedução na etiologia das neuroses. A partir dos decisivos 13 casos clínicos com pletos, m ais tarde am pliados para 18, constatou que todos esses pacientes haviam sido víti-m as de experiências sexuais na tenra infância, por parte de adultos ou de crian-ças m aiores. Foi esta constatação clínica que perm itiu a Freud elaborar a sua teoria da sedução, com que acreditava ter respondido às questões que sua clíni-ca coloclíni-cava. Não se tratava, porém , apenas de constatar na clíniclíni-ca a freqüência dos atentados sexuais, nem levantar um a sim ples hipótese sobre a im portância de tais atentados num a série de eventos traum áticos. Com tal teoria, Freud pretendia ter estabelecido, sem contestação, o vínculo entre a sexualidade, o traum atism o e a defesa, m ostrando “que é da própria natureza da sexualidade ter um efeito traum ático e, inversam ente, que só se pode, em últim a instância, falar de traum atism o e nele descobrir a origem da neurose, na m edida que interveio a sedução sexual” ( LAPLANCHE & PONTALIS, 1988, p. 27) .

Com exceção do Projeto para um a psicologia científica ( 1895) , todos os escritos de Freud referentes à teoria da sedução estão datados de 1896. O artigo sobre

A etiologia da histeria ( FREUD, 1896/ 1968) , baseado em um a conferência realiza-da na Socierealiza-dade de Psiquiatria e Neurologia de Viena, é o m ais bem articulado de todos os que tratam do assunto. Por isso, é nele que vam os procurar identi-ficar os passos originais desta descoberta freudiana.

Freud ( 1896/ 1968) com eça o artigo estabelecendo um a analogia entre o m étodo psicanalítico e os novos procedim entos da arqueologia que, em suas descobertas auto-explicativas, fariam falar as pedras dos velhos m onum entos: saxa Loquuntur! Da m esm a m aneira que as pedras, os sintom as da histeria

poderi-am se fazer ouvir com o testem unhas da história da origem da doença, um a vez que, segundo o m étodo descoberto por Breuer, tais sintom as, com exceção dos estigm as, “são determ inados por certas experiências do paciente que operam de m aneira traum ática e que são reproduzidas na sua vida psíquica sob a form a de sím bolos m nêm icos” ( p.192-3) . Partindo da prem issa e do m étodo de Breuer, Freud ( 1896/ 1968) pretende agora dem onstrar com o conseguiu elaborar a sua teoria da sedução, atingindo a descoberta básica de que

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sintom as histéricos — m as não o fazem im ediatam ente, perm anecendo inicial-m ente seinicial-m efeito e só exercendo uinicial-m a ação patogênica depois, quando einicial-m ergeinicial-m após a puberdade sob form a de lem branças inconscientes”. ( p. 212)

Tal descoberta vem preencher um a lacuna deixada em aberto desde o seu prim eiro artigo sobre As neuropsicoses de defesa ( 1984/ 1968) . Ali, Freud ( 1896/ 1968) já havia considerado que “a eclosão da histeria podia ser inevitavelm ente atribuída a um conflito psíquico que em erge quando um a idéia incom patível detona um a defesa por parte do ego e solicita um recalque” ( p. 210, 211) . Restava, por essa época, estabelecer as circunstâncias em que se operava essa defesa, cujo resultado era substituir a lem brança aflitiva por um sintom a histé-rico. Agora, Freud ( 1896/ 1968) se considera apto a preencher essa lacuna:

“a defesa cum pre seu propósito de arrem essar a idéia incom patível fora da cons-ciência se há cenas sexuais infantis presentes no sujeito ( até então norm al) sob a form a de lem branças inconscientes, e se a idéia que tinha de ser recalcada puder ser

posta em conexão lógica e associativa com um a experiência infantil desse tipo”. ( p. 211)

Ficavam , desde então, firm em ente vinculadas às noções de traum atism o, sexualidade infantil recalque e posterioridade. O reconhecim ento do papel do conflito defensivo na gênese das psiconeuroses de defesa não reduz a função etiológica do traum atism o. Articulando estreitam ente as noções de defesa e traum atism o, a teoria da sedução “constitui um a tentativa para explicar o fato, descoberto pela clínica (Estudos sobre a histeria) , de que o recalcam ento se exerce eletivam ente sobre a sexualidade” ( LAPLANCHE & PONTALIS, 1988, p. 27) .

O m étodo de investigação descoberto por Breuer perm itia alcançar as cenas infantis a partir dos sintom as, ao m esm o tem po em que surtia efeito terapêutico, devolvendo a idéia recalcada ao seu devido lugar, usurpado pelo sintom a na cadeia associativa, de onde tinha sido expulsa pelo processo de defesa. Tal ins-trum ento arqueológico-terapêutico levaria a atenção do paciente a

“retroagir de seu sintom a à cena na qual, e através da qual, o sintom a assom ou; e, tendo assim localizado a cena, rem ovem os o sintom a, realizando, durante a repro-dução da cena traum ática, um a correção subseqüente do curso psíquico dos even-tos que então ocorreram ”. ( FREUD, 1896/ 1968, p. 193)

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ei-ro lugar, possuir “suficiente adequabilidade para servir como determinante”. Em segundo lugar, possuir a “necessária força traumática” (FREUD, 1896/ 1968, p.193). Aqui, porém , Freud encontra o seu prim eiro desapontam ento. Em lugar da cena que satisfaz ao requisito da operatividade traum ática, o que costum a apa-recer, com m uito m aior freqüência, são cenas que apresentam um a entre as três seguintes possibilidades, todas desfavoráveis à com preensão: 1) a cena em que o sintom a apareceu pela prim eira vez é inadequada, não tendo o seu conteúdo nenhum a relação com a natureza do sintom a; 2) m esm o tendo relação com o sintom a, a cena revela-se inócua, incapaz de produzir qualquer efeito terapêutico; 3) a cena apresenta-se sim ultaneam ente com o inócua e sem relação com a natureza do sintom a.

A esse desapontam ento do ponto de vista puram ente investigativo, segue-se outro, considerado por Freud ( 1896/ 1968) especialm ente doloroso para os terapeutas: quando a cena evocada não possui adequabilidade e efetividade trau-m ática, não ocorre nenhutrau-m proveito terapêutico, pertrau-m anecendo inalterado o quadro sintom ático. Isto levaria qualquer um que não tivesse a sua tenacidade a renunciar ao trabalho por ele m esm o reconhecido com o cansativo. Aferrando-se à hipóteAferrando-se de que os sintom as poderiam Aferrando-ser resolvidos quando, a partir deles, se percorre o cam inho de volta à lem brança de um a experiência traum ática, se a lem brança obtida não corresponder à expectativa, só resta continuar no cam i-nho e ir um pouco além . Com unicando ao paciente que a cena encontrada nada explica, que provavelm ente por trás dela deve existir algo realm ente im portan-te, chega-se à conclusão de que a prim eira cena é apenas um elo de ligação na cadeia de associação que levará “ do sintom a histérico à cena que é de fato traum aticam ente operativa e que é satisfatória em am bos os casos, tanto terapêutica com o analiticam ente” ( p. 195) . Esta obstinação em perseguir a lem brança traum ática a partir dos sintom as levou Freud ( 1896/ 1968) a um a im -portante conclusão que serviria de base à sua teoria psicológica da histeria: “nenhum sintom a histérico pode em ergir de um a experiência real isolada, m as que em todos os casos a lem brança de experiências m ais antigas, despertadas em associação com ela, atua na causação do sintom a” ( p. 197) .

De início, pareceu assom broso que os sintom as histéricos tivessem sua ori-gem em lem branças. Principalm ente porque essas lem branças não se introdu-zem na consciência do paciente no m om ento em que o sintom a se apresenta pela prim eira vez. Mas havia um a descoberta m ais im portante a ser feita:

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Um a vez convergindo ao cam po da experiência sexual, as cadeias associativas levavam a um pequeno núm ero de lem branças que em sua m aioria ocorriam na puberdade. Seria de esperar que, ao reviver essas lem branças, o paciente se livrasse dos seus sintom as histéricos. Mas aí surge um novo desapontam ento: essas lem branças, em geral, eram “surpreendentem ente triviais”, faltando a elas a força necessária à operatividade trau m ática. Su a su posição básica fez pare-cer óbvio qu e as causas determ inantes dos sintom as deveriam repousar em experiências ainda m ais rem otas. E m ais u m a vez n ada h avia a fazer sen ão persistir n o cam in h o da cadeia associativa, fazendo-a retroagir ainda m ais. Tal persistência levou o fluxo de lem branças ao período m ais precoce da infância em que, segundo a concepção da época, a vida sexual do indivíduo ainda não se desenvolvera.

Chega-se agora a um im passe que a elaboração teórica resolve em lugar do em pirism o do m étodo. Se as cadeias associativas levam a experiências traum á-ticas ocorridas em um período da vida isento de sexualidade, naturalm ente teria de ser abandonada a hipótese de um a etiologia sexual para a histeria. Recorre-se a um a solução de com prom isso, supondo que m esm o na infância o indivíduo esteja sujeito a leves excitações sexuais e que as experiências sexuais infantis influenciam decisivam ente o futuro desenvolvim ento sexual. Baseia tal suposição na analogia com os organism os em geral, onde um a interferência danosa em um órgão ainda im aturo ou em um a função em processo de desen-volvim ento teria efeitos m ais graves e duradouros do que se ocorresse em época m ais m adura.

Se for aceito que a reação anorm al às experiências sexuais da puberdade, revelada na inadequação traum ática da cena evocada desse período, esteja ba-seada em experiências sexuais da infância, ter-se-ia encontrado um a etiologia para a histeria em substituição a até então inexplicada hipótese da predisposi-ção hereditária. A perseverança em direcionar a análise à m ais tenra infância, até onde for capaz de alcançar a m em ória, levou à reprodução de experiências cujos traços particulares e relações específicas com os sintom as da doença pos-terior perm itiam ser consideradas com o a procurada etiologia da neurose.

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reproduzidas através do trabalho da psicanálise, a despeito das décadas inter-postas” ( p. 203) .

Tais cenas tam bém estariam presentes nos casos de neurose obsessiva e na paranóia, sendo a sua com binação com outros fatores patogênicos que determ i-nariam a escolha da neurose. As objeções contra a autenticidade das cenas in-fantis são rebatidas im ediatam ente com vários argum entos. Em prim eiro lugar, os pacientes nada sabem sobre essas cenas antes de se subm eterem à análise. Apenas a com pulsão m ais forte do tratam ento pode induzi-los a reproduzi-las.1 A indignação com que o paciente reage ao ser avisado da em ergência dessas cenas, o desgosto e a relutância com que as reproduz, as sensações violentas que apresenta durante a sua reprodução, acom panhadas de vergonha, e a tenta-tiva de negar a sua im portância m esm o depois de reproduzidas são, para Freud ( 1896/ 1968) , provas irrefutáveis da sua veracidade: “Por que os pacientes m e garantiriam enfaticamente sua descrença, se o que eles querem desacreditar é algu-ma coisa que — por qualquer m otivo — eles próprios inventaram ?” ( p. 204) . Quando Freud abandonou a hipnose, sua luta contra a resistência m ostrou que a recusa à rem em oração encobria a repulsa a um a cena em que um adulto ou criança m ais velha teria, com atos ou palavras, realizado um atentado sexual a um indivíduo que ainda não possuía, por conta da tenra idade, condições para com preender por inteiro o sentido do atentado. Só depois, com o advento da puberdade, tal acontecim ento seria recordado em conexão com outro evento m ais recente, de caráter fortuito, adquirindo, então, todo o seu significado se-xual, de onde adviria a sua força traum ática. Só nesse segundo tem po, o da efetivação do traum a pela lem brança do evento, é que se efetivaria o recalque, ou seja, a cena do atentado seria alijada da m em ória, ficando em seu lugar a cena fortuita do segundo m om ento.

Ao se deter, junto com Pontalis, no modelo de funcionamento psíquico propos-to por Freud com sua teoria da sedução, Laplanche (1988) observa primeiro que a ação do traumatism o se decom põe em vários tem pos, deixando sem pre supor a existência de, pelo menos, dois acontecimentos: uma primeira “cena de sedução”, em que a criança sofre o atentado sexual, sem que isto lhe cause uma excitação sexual. Qualificar tal cena de traumática implicaria em abandonar o modelo somático d o trau m a, p o is aí n ão o co rre u m aflu xo d e excitaçõ es extern as, n em o extravasam ento das “defesas”. Tal cena só poderia ser qualificada de sexual

“ na m edida em que o é, exteriorm ente, para o adulto. A criança não tem à sua

disposição nem as condições som áticas de excitação, nem as representações para

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integrar o evento; é sexual em si, em bora não adquira qualquer significação sexual para o sujeito: é ‘sexual pré-sexual’”. ( p. 28)

A segunda cena, por sua vez, seria m uito m enos traum ática do que a prim ei-ra, por sua aparência anódina e isenta de violência. Ocorrendo após a puberda-de, sua eficácia devia-se apenas ao fato de evocar a prim eira cena, através de certos traços associativos. Será, então,

“a lem brança da prim eira cena que deflagra o recrudescim ento de excitação sexual, tom ando o ‘eu’ de surpresa e deixando-o desarm ado, sem condições de utilizar defesas norm alm ente voltadas para o exterior e suscitando, assim , a entrada em ação de um a defesa patológica ou ‘processo prim ário póstum o’: a lem brança é recalcada”.

( LAPLANCHE & PONTALIS, 1988, p. 29)

A própria dificuldade em pensar esse esquem a explicativo, designado por Freud de proton pseudos, faz com que ele conserve, aos olhos de Laplanche e Pon talis ( 1 9 8 8 ) , “ u m valor exem plar qu an to à sign ificação da sexu alidade hum ana”( p. 29) , à m edida que introduz dois im portantes enunciados em rela-ção aos tem pos em que ocorrem as duas cenas: num prim eiro tem po, “a sexua-lidade irrom pe literalm ente de fora para dentro, penetrando por efração num ‘m undo da infância’ que se supõe inocente, onde ela se enquista com o um

evento brutal sem provocar reação de defesa; o evento não é patogênico per

se”( p. 29) . Por outro lado, no segundo tem po, “tendo o im pulso da puberdade desencadeado o despertar fisiológico da sexualidade, há produção de desprazer e a origem desse desprazer é procurada na lem brança do evento prim ordial, even to d o exter io r co nver tid o em even to d o in ter io r, ‘co r p o estr an h o ’ internalizado que irrom pe agora do próprio íntim o do sujeito” ( p. 30) .

Esta é a form a surpreendente, alcançada por Freud, de resolver a questão do traumatismo, respondendo, de uma só vez, a duas questões aparentemente excludentes, enunciadoras de um a problem ática que continuará presente ao longo da sua obra e de alguns de seus seguidores: a) “É um afluxo de excitação externa (...) que traumatiza o sujeito, de acordo com o m odelo de um a efração física?” Ou, pelo contrário, é b) “a excitação interna, a pulsão, que, à falta de exutório, coloca o sujeito em estado de aflição?” ( LAPLANCHE & PONTALIS, 1988, p. 30, 31) .

Respondendo a este im passe, Laplanche e Pontalis ( 1988) afirm am que, com a teoria da sedução, todo traum atism o provém sim ultaneam ente do exte-rior e do inteexte-rior. De um outro externo, de onde provém a sexualidade e desse outro interiorizado produtor das rem iniscências de que sofrem os histéricos, em

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SEDUÇÃO GENERALIZADA

Esta “solução sedutora” que Freud logo haveria de abandonar, será m ais tarde retom ada por Laplanche ( 1992) para, a partir daí, construir a sua teoria da sedução generalizada. Para Laplanche, a verdadeira teoria da sedução freudiana “articulava o depósito de um prim eiro real, um prim eiro acontecim ento, e a eficácia que adquiria em se tornando rem iniscência, corpo estranho interno” ( p. 266) . O que faltava a essa teoria, e o que Laplanche se propõe realizar, seria dem onstrar “a natureza desse prim eiro depósito, destes prim eiros indícios ex-ternos-internos, e diferenciar este real de um a sim ples percepção objetiva, de um a sim ples im agem ” ( Idem ) . Essas prim eiras inscrições, os fam osos traços de percepção (W ahrnehm ungszeichen) do Projeto de 1895, têm um duplo estatuto, pos-suindo ou não um a intenção significante, a depender do lugar de onde seja conside-rado. Pressupom os um a tópica originária que inclua um agente da sedução originária, depositante desses traços que seriam percebidos pelo infante com o significantes enigm áticos.

Recorrem os ao seio com o exem plo concreto do que seja um significante enigm ático porque, sendo aparentem ente o órgão natural da lactação, recebe um investim ento sexual e inconsciente pela m ulher. Tal investim ento, pelo que contém de perverso, seria percebido, suspeitado pelo bebê com o fonte deste obs-curo questionam ento: “que quer ele de m im ?” Esta confrontação adulto-criança engloba um a relação essencial de atividade-passividade que não deve ser defi-nida “nem pela iniciativa do gesto, nem pela penetração, nem por qualquer outro elem ento com portam ental. A passividade está toda inteira na inadequação para sim bolizar o que ocorre em nós, vindo da parte do outro” ( LAPLANCHE, 1992, p. 263) .

Se é essa passividade ao que vem do outro que caracteriza a situação origi-nária, é necessário salientar que esse outro, por sua vez, é tam bém passivo em relação ao seu próprio isso, esse discurso em terceira pessoa, de si m esm o igno-rado. O psiquism o parental é, por certo, m ais rico que o da criança. Mas esta m aior riqueza não seria sinônim o de perfeição, um a vez que o adulto traz na clivagem do seu próprio inconsciente a m arca da sua im perfeição.

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Resum indo, Laplanche parte da hipótese de que é a sedução, a interferência de um outro, que opera o desvio da sexualidade em relação à autoconservação, fazendo incidir no som ático os traços de um desejo im possível de ser traduzido pela sua condição de inconsciente no próprio sujeito desejante. Depositados no corpo do infante, esses traços perm anecem nas bordas do psiquism o incipiente, fixados neste espaço-lim ite, de onde passam a em itir um a exigência perm anen-te de tradução.

TRADUÇÃO

A noção de tradução está presente desde cedo no texto freudiano, tendo um papel prim ordial para a com preensão dos seus prim eiros m odelos do aparelho psíquico. No início da inesgotável Carta 52, endereçada a Fliess em 6 de dezem -bro de 1896 ( FREUD, 1892-1899/ 1968) , Freud inform a que está trabalhando com a hipótese de que o aparelho psíquico se constitui por um processo de estratificação em que os traços de m em ória se subm eteriam , periodicam ente, a um a retranscrição, de acordo com novas circunstâncias. Essas transcrições su-cessivas representariam a operação psíquica de épocas susu-cessivas da vida, na fronteira das quais necessariam ente se efetuaria a tradução do m aterial psíqui-co, de acordo com as características dos neurônios que dariam suporte a estas transcrições. Este aparelho tradutor baseia-se na tendência à nivelação quantita-tiva, sendo cada reescritura necessária para adequar a excitação às característi-cas da via neuronal que lhe facilitará o trânsito na parte do trajeto de um a determ inada jurisdição.

Ao percorrer um determ inado cam inho, um a certa excitação recebe um a significação diferente, de acordo com as características de cada trecho do per-curso entre a percepção e a consciência. A cada nova transcrição existe a possi-bilidade de perm anecerem sem tradução determ inadas partes do texto da ver-são anterior, por conta do desprazer que tal tradução geraria. Tais relíquias restariam anacrônicas no discurso atual de um determ inado período, sendo, além do m ais, passadas para o período posterior em sua form a arcaica não traduzida, em que causariam m aior estranheza. Esta sucessão de traduções, se-ria um a tentativa perm anente do aparelho psíquico em se livrar de um excesso de excitação gerado pelos traços de percepção (W ahrnehm ungszeichen) que desde a sua porta de entrada, o sistem a perceptivo, vem exigindo um a tarefa im possí-vel de tradução. E o desprazer causado pela ineficiência de cada transcrição proposta provocará o ataque e dissolução desta organização provisória, perm a-necendo a exigência de um a reestruturação dos signos, da qual surgirão novos sentidos.

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circuito pulsional. Perm aneçam os ainda na Carta 52, em que a clínica m ostra que os sintom as das psiconeuroses, tais com o ataques de vertigem e acessos de choro, têm com o alvo uma outra pessoa. Mas não um a pessoa com um . É um outro pré-histórico, inesquecível, um a pessoa “que nunca é igualada por nenhum a outra posterior” ( FREUD, 1892-1899/ 1968, p. 239) . E o exem plo dado logo em seguida nos indica esse outro: a m ãe. Se na sucessão de gerações é necessário um perverso para gerar um histérico, não é o pai, m as a m ãe que Freud coloca no lugar desse outro pré-histórico, inesquecível, inigualável. Inigualável, porque não vai ser nunca substituído; inesquecível, m as apenas em um dos lugares do aparelho psíquico. E o seu “inesquecim ento”, a sua eterna perm anência deve-se exatam ente ao seu caráter sexual pré-histórico. Um sexual pré-sexual, pois pertence à ordem pulsional do outro, im plantando a sexualidade pelo seu cará-ter m esm o de intraduzível. É ancará-terior à palavra, apresentando-se a um infans sem capital significante para nom eá-lo.

TRADUÇÃO E RECALQUE

Um a vez que som ente a sexualidade é objeto do recalque, pela sua própria condição de indecifrável no tem po da sedução, tem os que a pulsão, toda pulsão, seria sexual. Sua constituição se daria pelo m esm o m ovim ento que diferencia o aparelho psíquico: o recalque originário. A m etapsicologia de 1915 nos ensina que o recalcam ento se constitui em duas fases. A prim eira delas é denom inada de recalque originário, prim ordial (Urverdrängung) , em que é negada a adm issão ao consciente à representação (Vorstellung) representante (Repräsentantz) psíquico da pulsão. A segunda etapa, o recalcam ento propriam ente dito, tam bém deno-m inado por Freud de pós-pressão (N achdrängen) recai sobre os derivados psíqui-cos do representante recalcado na prim eira fase ou sobre certas seqüências de pen sam en to qu e, vin dos de algu m lu gar, ten h am estabelecido u m vín cu lo associativo com esse representante ( cf. FREUD, 1915/ 1988, p.191) . Pelo paren-tesco com o m aterial não traduzido do recalque originário, esses derivados são enviados ao inconsciente, de onde, aproveitando-se da força do originário, in-sistem sem pre em ser retraduzidos. Os lapsos e os sintom as são resultados visíveis dessas tentativas de tradução.

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exem plo do seio. Em um segundo tem po, o tem po m esm o do recalque, aquele que perm ite o nascim ento do eu-instância, o objeto-fonte, com o resto recalcado do significante enigm ático, torna-se interno. Nesta nova condição, perm anece externo em relação ao eu, cravado em sua periferia. Um a vez que o eu é m ais restrito do que o indivíduo, o objeto-fonte situa-se num espaço externo-inter-no: interno ao indivíduo, age externam ente em relação ao eu.

É aí, nesse espaço de transição entre o traço e o signo, que se localiza a fonte de onde em erge toda a energia pulsional, pois a pulsão não é, neste contexto teórico, um ser m ítico, um a força biológica, nem m esm o um conceito lim ite entre o som ático e o psíquico. Para Laplanche ( 1992) , a pulsão “é o im pacto sobre o indivíduo e sobre o eu da estim ulação constante exercida, desde o interior, pelas representações-coisas recalcadas que se pode designar com o ob-jetos-fontes da pulsão” ( p. 239) . Im plantado no interior do indivíduo, situado na periferia do eu, este objeto é caracterizado por um a espécie de intencionali-dade que desconhece a si própria. É deste lugar que ele faz sinal e exige a tradução im possível de um a m ensagem de si m esm a ignorada.

A CURA

Verifiquem os agora um a nova concepção do trabalho de análise que guarda um a estreita correlação com o m odelo tradutivo do aparelho psíquico desenha-do por Freud entre 1895 e 1900. Num a releitura que não é apenas um a sim ples substituição de term os, querem os sublinhar que essa exigência de tradução “potencialm ente infinita da escritura subjetiva é a condição de possibilidade do psiquism o” ( BIRMAN, 1993, p. 31) . Desde os prim órdios da teoria psicanalíti-ca, o sujeito hum ano é concebido com o ser de tradução. A psicanálise som ente se constitui com o um a m odalidade de saber fundado na tradução, na m edida que, desde os prim órdios, o sujeito é o resultado de um trabalho perm anente de tradução. Se “aquilo que o sujeito em preende na experiência analítica é o que sem pre foi realizado pelo psiquism o desde os seus prim órdios” ( Idem ) , o su-jeito só dem anda por análise quando esse processo de tradução é perturbado, fazendo com que se perturbe tam bém o fluxo da sua existência. Será na análise que ele irá encontrar novas propostas de escritura para essa exigência perm a-nente do objeto-fonte.

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descontrução dos m itos e ideologias que o eu elaborou em resposta a esses enigm as, pela destradução dos textos que lhes servem de veículo.

Mas é preciso, nos lem bra Laplanche ( 1977) , nunca negligenciar “que o próprio eu é m ovido por um a com pulsão à síntese, em função m esm o do peri-go de desligam ento reatualizado pela análise” ( p.1.192) , o que faz com que o trabalho progressivo de destradução seja sem pre acom panhado por um m ovi-m ento inverso. Laplanche considera possível afirovi-m ar “que esta força de síntese co n stitu i a ten d ên cia rep arad o ra p ró p ria ao m o vim en to esp ecificam en te ‘p sico ter áp ico ’” ( Id em ) . Gr aças a esta com pulsão à com posi ção (Zw ang zur Zusam m ensetzung) ,2 entendida com o um dos nom es dados por Freud à exigência

de tradução, o analista pode se dedicar ao seu trabalho de anti-herm eneuta, sem se preocupar em propor esquem as ou esboços para a retradução do m aterial por ele decom posto. O único herm eneuta será o analisando, com pelido a procurar um novo sentido para a sua existência. Sentido que, apesar de novo, tam -bém o sabem os, será sem pre inadequado.

Esta divisão de trabalho está bastante m arcada em Freud, servindo de exem -plo o bom tem po que dedica em sua intervenção no Congresso de Budapeste, em 1918, refutando uma concepção corrente de que, após a análise de uma mente enferma, deve-se seguir uma síntese. Tal concepção é rejeitada com o argumento de que, se o paciente neurótico se apresenta com o psiquism o dividido pelas resis-tências, à m edida que a análise elim ina essas resisresis-tências, o psiquism o se reunifica. A grande unidade do eu “ajusta-se a todas as pulsões que haviam sido expelidas e separadas dele” ( FREUD, 1919/ 1986, p.157) . Freud tam bém aqui afirm a que encontram -se na vida aním ica certas tendências que estão subm etidas a um a com pulsão para a unificação e a com binação. De form a análoga à análise quí-m ica, “sequí-m pre que conseguiquí-m os analisar uquí-m sintoquí-m a equí-m seus elequí-m entos, libe-rar um a m oção pulsional de um vínculo, essa m oção não perm anece em isola-m ento, isola-mas entra iisola-mediataisola-mente nuisola-ma nova ligação” (Ideisola-m). De forisola-ma autoisola-máti- automáti-ca e inevitável, a psicossíntese ocorre na análise sem a intervenção direta do terapeuta. Este apenas cria as condições necessárias a ela, fragm entando os sintom as em seus elem entos e rem ovendo as resistências. Não é verdade, reitera Freud, “que algo no paciente tenha sido dividido em seus com ponentes e aguarde, então, tranqüilam ente, que de algum a form a o unifiquem os outra vez.” ( Idem )

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Desta recusa à reconstrução, assim com o a toda atividade que transgrida a regra de abstinência, decorre que o único trabalho reservado ao analista é o de prom over a dissociação dos elem entos do discurso do analisando. Deixa-se, assim , que o Zwang zur Zuzsam m ensetzung, a com pulsão à com posição que, com o já vim os, está presente desde o com eço da elaboração psíquica, prom ova as novas ligações do m aterial analisado. É a esta com pulsão à com posição que se deve atribuir a função de ligação que Freud situou no tem po m ítico de Eros e sua pulsão de vida.

A recusa à reconstrução, tão veem entem ente sustentada por Freud, vai se co n stitu ir n u m d o s p rin cip ais veto res d a in stalação d a situ ação an alítica. Laplanche ( 1992) distingue dois tipos de recusa do analista. Prim eiro, “o ana-lista recu sa, e se recu sa, a fazer coin cidir o plan o sexu al com o plan o do adaptativo” ( p. 279) . Isto quer dizer que se recusa a fazer qualquer m anipula-ção, ou dar qualquer conselho, fazer, em sum a, qualquer intervenção adaptativa. Mais essencial, porém , é a recusa à reconstrução, a recusa do saber. Esta recusa em singularizar-se no real e a recusa do saber não são apenas aspectos banais de um a neutralidade não com prom etida. Elas constituem a essência de um a neu-tralidade benevolente que vem abrir um espaço vazio onde viriam se instaurar, por sua vez, a transferência a pleno e a transferência em oco.

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NEUTRALIDADE BENEVOLENTE

A noção de neutralidade benevolente envolve, para Laplanche ( 1987b) , toda a problem ática da cura, num a perspectiva da posição do analista nos lim ites da situação. Reconhecendo que a fórm ula presta-se a todos os m al-entendidos e interpretações, com ela Laplanche ( 1987b) nos introduz em pleno paradoxo. “Benevolência: ‘querer o bem ’ do outro sem jam ais ter a pretensão de o conhe-cer, sem m anipular o paciente, m esm o que seja para seu suposto bem ” ( Idem ) . Se quiserm os conservar a noção de benevolência, nos adverte Laplanche, o úni-co sentido plausível que ela pode tom ar “é a idéia de um a aúni-colhida tolerante e a priori favorável em relação a toda m anifestação do W unsch, da volição [vœu]

inconsciente” ( p. 205) . A neutralidade consiste nas recusas feitas ao analisando, quanto à satisfação de suas necessidades e desejos. E Laplanche destaca que, pelo m enos na form a da recusa em dar soluções às questões do analisando, a neutralidade “deve ser posta em perspectiva com a situação da criança a quem os m eios de sim bolização adulta são a princípio inacessíveis e sem dúvida tam bém parcialm ente recusados” ( Idem ) .

Neste ponto, Laplanche ( 1987b) se apropria da expressão sujeito suposto saber, que considera um dos achados m ais positivos de Lacan, afirm ando que a noção identifica, a princípio, o adulto para a criança. É o adulto que “propõe um a situação constantem ente excitante e enigm ática, furtando-se na m aioria das vezes a ajudar a explicá-la ou, com o dizem os, sim bolizá-la” ( p. 206) . Esta situação enigm ática da criança frente ao adulto é o m odelo da situação enigm á-tica da análise, estando o analista na posição do sujeito suposto saber do adulto originário. Resgatando a fórm ula lacaniana, Laplanche afirm a que se o saber do analista torna-se objeto de um a dem anda im perativa, o dever do analista é recusar-se em oferecer este saber, provocando um a certa ressonância com a situação em que um pai ou um a m ãe seriam tom ados com o um “suposto signi-ficar”. Tal recusa do saber teria o poder de “renovar o traum atism o e a sedução originária; traum atism o sob controle ou violento, m as que som ente assim per-m ite repor eper-m andaper-m ento o processo de tradução e de siper-m bolização” ( p. 271) .

TRADUÇÃO, DESTRADUÇÃO

A cura propicia um a verdadeira reabertura do processo infantil, em seus dois aspectos. A neutralidade rem ete à sedução e ao traum atism o originário, en-quanto que as traduções propostas ao enigm a originário teriam seu correspon-dente no discurso sim bolizante do adulto. O que Laplanche nos aponta é que este discurso do analisando pode ser catastrófico se vier corroborar a idéia de que o analista sabe tudo sobre ele.

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com o im própria ao trabalho analítico. Agora, a construção constitui apenas um trabalho prelim inar de um objetivo já anteriorm ente estabelecido de substituir os recalques ( tom ados em seu sentido m ais am plo) próprios ao desenvolvi-m ento pridesenvolvi-m itivo do paciente por reações que correspondadesenvolvi-m a udesenvolvi-m a condição psíquica m adura. Com isto se obteria um quadro com pleto e digno de confian-ça dos anos esquecidos do desenvolvim ento prim itivo do paciente. A m atéria-prim a desta construção consiste de fragm entos de lem branças postos à disposi-ção pelo sujeito da análise através de sonhos e associações livres em que se pode encontrar alusões às experiências recalcadas derivadas de im pulsos afetivos suprim idos, assim com o as reações contra estes, além dos atos falhos com etidos dentro e fora da situação analítica. É a relação de transferência que favorece o retorno dessas conexões em ocionais ( cf. FREUD, 1937/ 1968, p. 260) .

Um a distinção é feita por Freud ( 1937/ 1968) entre interpretação e constru-ção. A interpretação é concebida com o um procedim ento restrito a um elem en-to particular do m aterial fornecido pelo analisando, tal com o um a idéia surgida subitam ente ou um ato falho. Faz-se um a construção quando se apresenta ao analisando um a parte esquecida de sua história prim itiva. Este trabalho de cons-trução é dividido por Freud em duas partes com pletam ente diferentes, com tarefas específicas realizadas por pessoas diferentes, em localidades tam bém separadas. De um lado dessa tópica, o analisando é induzido a recordar algo que foi um dia por ele experienciado e recalcado. A ênfase dada à dinâm ica deste processo é tal que distrai nossa atenção do que se passa do outro lado da tópica. O que faz ali o analista? O analista não experim entou nada, nem recalcou nada do m aterial que ali está sendo considerado. Não tem nada, pois, a recor-dar. Sua tarefa, então, “é a de com pletar aquilo que foi esquecido a partir dos traços que deixou atrás de si ou, m ais corretam ente, construí- lo”( Idem ) . É pelo trabalho de construção que o analista estabelece o vínculo entre os dois lugares da tópica da cura. É na fronteira entre esses dois lugares que se opera a tradu-ção, num a operação em dois tem pos. Num prim eiro tem po, configura-se no analista um fragm ento de construção que é com unicado ao sujeito da análise. Num segundo tem po, o trabalho deste fragm ento no sujeito produz um a tor-rente de m aterial novo que o analista aproveitará em um a construção posterior ( cf. FREUD, 1937/ 1968, p. 260-1) .

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defensivas que o sujeito se forjou antigam ente” ( p. 1.192) . O surpreendente disto tudo, aduzim os, é que o próprio inconsciente do analisando se encarrega de destraduzir, fragm entar, as traduções ofertadas pelo analista. Se a proposição da construção reatualiza a situação traum ática originária, ela traz, com o conse-qüência, a reativação desses significantes enigm áticos que trazem no seu enig-m a a enig-m arca do país estrangeiro onde se originaenig-m . Freud não pôde decifrá-los, m as nos colocou num a pista segura quando os com parou às alucinações dos psicóticos.

Se a radicalidade do inconsciente, o isso, consiste na sua inacessibilidade à linguagem , o bem que a cura pode ofertar “é a acolhida, a com unicação torna-da possível, e suscitatorna-da, torna-daquilo que por definição tornou-se incom unicável” ( LAPLANCHE, 1987b, p. 205) . É a atitude interior do analista, feita de escuta e de respeito pela alteridade de seu próprio inconsciente, resguardando-se de toda interferência contratransferencial, que perm ite, junto com a regra funda-m ental, a instauração de ufunda-m a situação propícia ao desenvolvifunda-m ento de ufunda-m pro-cesso com plexo de reativação do trabalho autotradutivo do analisando. Um a divisão de trabalho em que cabe ao analisando a tarefa de tradução ou constru-ção, enquanto ao analista cabe a destraduconstru-ção, ou interpretação no sentido m ais estrito. Este trabalho com um , antes de ser posto a serviço de concepções psica-nalíticas preestabelecidas, deve estar voltado para as autoteorizações próprias ao eu do analisando, provocadas pela sua im ersão num a situação de reabertura do enigm a originário.

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BIBLIOGRAFIA

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Ronaldo Monte Alm eida

Av. Sergipe, 234

Referências

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