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ARTIGO
ORIGINAL
Prevalence
and
factors
associated
with
vitamin
A
deficiency
in
children
and
adolescents
夽
Rita
de
Cássia
Ribeiro-Silva
∗,
Itaciara
L.
Nunes
e
Ana
Marlúcia
Oliveira
Assis
EscoladeNutric¸ão,ProgramadePós-Graduac¸ãoemAlimentac¸ãoeNutric¸ão,DepartamentoCiênciadaNutric¸ão, UniversidadeFederaldaBahia(UFBA),Salvador,BA,Brasil
Recebidoem15deoutubrode2013;aceitoem8dejaneirode2014
KEYWORDS
VitaminAdeficiency; Riskfactors;
Children; Adolescents
Abstract
Objective: ToidentifytheprevalenceandfactorsassociatedwithvitaminAdeficiency(VAD)in childrenandadolescents.
Methods: Thiswas across-sectionalstudyinvolving546schoolchildren,agedbetween7and 14years,ofbothgenders,enrolledinpublicelementaryschools.Bloodwascollectedfor mea-surementofserumretinol.Theretinolconcentrationinthesampleswasdeterminedbyhigh performanceliquidchromatography(HPLC).Datawerecollectedonanthropometrics,dietary, demographic,andsocioeconomicfactors.Polytomouslogisticregressionwasusedtoevaluate theassociationsofinterest.
Results: Approximately27.5%ofthestudentshadretinolvalues<30g/dL.Themultivariate analysisshowed,aftertheappropriateadjustments,apositiveandstatisticallysignificant asso-ciationofmoderate/severeVAD(OR=2.19;95%CI1.17to4.10)andmarginalVAD(OR=2.34; 95%CI1.47to3.73)withage<10years.TherewasalsoassociationofVADmoderate/severe (OR=2.01;95%CI1.01to5.05)andborderlineVAD(OR=2.14;95%CI:1.08to4.21)withthe anthropometricstatusofunderweight.Lowerintakeofretinolwasdetectedamongthosewith severeVAD.
Conclusion: VADisahealthconcernamongchildrenandadolescents.Lowerweightandyounger schoolchildrenhadgreatervulnerabilitytoVAD.
©2014SociedadeBrasileiradePediatria.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrightsreserved.
DOIserefereaoartigo:http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2014.01.014
夽 Comocitaresteartigo:deCássiaRibeiro-SilvaR,NunesIL,AssisAM.PrevalenceandfactorsassociatedwithvitaminAdeficiencyin
childrenandadolescents.JPediatr(RioJ).2014;90:486---92.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:rcrsilva@ufba.br(R.deCássiaRibeiro-Silva).
PALAVRAS-CHAVE
Deficiênciade vitaminaA; Fatoresderisco; Crianc¸as; Adolescentes
PrevalênciaefatoresassociadosàdeficiênciadevitaminaAemcrianc¸as eadolescentes
Resumo
Objetivo: IdentificarprevalênciaefatoresassociadosàdeficiênciadevitaminaA(DVA)entre crianc¸aseadolescentes.
Métodos: Estudotransversalenvolvendo546escolares,comidadeentre7e14anos,deambos ossexos,matriculadasnaredepúblicadoensinofundamental.Osanguefoicoletadopara dosa-gemdosníveisséricosderetinol.Aconcentrac¸ãoderetinoldasamostrasfoideterminadapelo métododacromatografialíquidadealtaeficiência(CLAE).Coletaram-sedados antropométri-cos,alimentares,demográficosesocioeconômicos.Utilizou-sedaregressãologísticapolitômica paraavaliarasassociac¸õesdeinteresse.
Resultados: Aproximadamente 27,5% dos estudantes apresentaram valores de reti-nol<30g/dL. Em análise multivariada, verificou-se, após devidos ajustes, associac¸ão positivaeestatisticamentesignificantedaDVAmoderada/grave(OR=2,19;IC95%:1,17-4,10) e daDVA marginal(OR=2,34; IC 95%:1,47-3,73)comaidade<10 anos. Verificou-se, igual-mente, associac¸ão da DVA moderada/grave (OR=2,01; IC 95%: 1,01-5,05) e DVA marginal (OR=2,14; IC 95%: 1,08-4,21) com o estado antropométrico magreza. Menor consumo de retinolfoidetectadoentreaquelescomDVAgrave.
Conclusão: AdeficiênciadevitaminaAconfigura-secomoumproblemadesaúdepreocupante entreosescolareseadolescentes.Constatou-semaiorvulnerabilidadedosescolaresdebaixo pesoemaisjovensàDVA.
©2014SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todososdireitos reservados.
Introduc
¸ão
AdeficiênciadevitaminaA(DVA)éumacarêncianutricional deelevadamagnitude,quepodesercausadapelaingestão insuficientedealimentosquesãofontesdevitaminaAou porproblemasemsuaabsorc¸ão,transporteouutilizac¸ão.1
Aimportânciadoadequadoestadonutricionaldevitamina Aéincontestável,umavezqueelapossuipapelfisiológico muitodiversificado,atuandonofuncionamentodoprocesso visual, na integridade do tecido epitelial, no sistema imunológicoeemoutrasfunc¸õesmetabólicas.1
A DVA acomete especialmente osgrupos populacionais submetidosa precáriascondic¸õesdevida,alémdeoutros fatoresligadosà condic¸ão demorbidade que contribuem, também, para a deplec¸ão dos níveis de retinol sérico. Entre eles, destacam-se as infecc¸ões, que aumentam o requerimentoouestimulamaperdaendógenadesse micro-nutriente, e a desnutric¸ão energéticaproteica, que afeta a síntese da proteína de enlace de retinol (Retinol
Bin-dingProtein---RBP),diminuindoassimadisponibilidadede
retinol.2
As crianc¸as em idade pré-escolar, mulheres grávidas e nutrizes sãoconsideradascomo o grupo clássico derisco. Contudo,estudosapontamoutrospossíveisgruposderisco para a carência, dentre eles, os escolares e adolescen-tes.Porestarenvolvidanocrescimentoedesenvolvimento físico,avitaminaAtorna-seessencialtambémnesseciclode vida.1,3Osresultadosdospoucosestudosdisponíveisna
lite-raturanacionalindicam,demodogeral,queaprevalência DVAvariade6,8%a34,0%nestapopulac¸ão.3
Pornãoseremconsideradosclassicamentecomoderisco, nãosedispõedemuitosestudossobreoestadonutricional
devitaminaAentreosescolares(incluindoosadolescentes), oquetemimpedidoumaavaliac¸ãoadequadadareal magni-tudedaDVAnessesegmento,noBrasil.Assim,pretende-se comopresente estudoestimar aprevalência deDVAeos fatoresassociadosemcrianc¸aseadolescentesmatriculadas naredepúblicadeensinonacidadedeSalvador-BA.
Métodos
Trata-se de um estudo transversal em que participaram estudantes, de ambos os sexos, de 7 a 14 anos de idade.Osparticipantesforamidentificadosapartirdeuma investigac¸ãomaisampla,queteveporobjetivoidentificaros fatoresassociadosàanemiaferroprivaemcrianc¸ase adoles-centesmatriculadosnaredepúblicadeensinodacidadede Salvador-BA.4Oprocessodeamostragemnoestudooriginal
Para o presente estudo, foram selecionados aleatoria-mente 600 estudantes, correspondendo a 50%da amostra original.Considerando que esta amostranãofoi estimada parainvestigaroobjetoadotadonesteestudo,optou-sepor calcularoerroamostralaposteriori.Nessascircunstâncias ecombasenaprevalênciadeDVAinadequadaidentificada nesteestudo(27,5%),onúmeroamostralpreviamente ado-tadopermitiudeterminarosfatoresassociadosaodesfecho estudadocomerro deaté2,75%, considerandoo nívelde confianc¸ade95%.
Variávelresposta
Dosagemderetinolsérico
Amostras de sangue (5mL) foram colhidas no início da manhã, com a crianc¸a em jejum, e obtidas por punc¸ão venosa periférica, utilizando-se agulha e seringa descar-táveis. As amostras foram armazenadas em tubos secos, transparentes,envolvidosempapel-alumínio, para ameni-zarperdasemdecorrênciadaexposic¸ãoàluz.Apósretrac¸ão do coágulo e separac¸ão por centrifugac¸ão (1.500rpm por 10 minutos), as amostras de soro foram acondi-cionadas e enviadas para o Laboratório da Escola de Nutric¸ãodaUFBA,paradeterminac¸ãodosníveisderetinol sérico. Os procedimentos foram padronizados com refe-rências nacionais e internacionais. Adotou se a rotina de controle de qualidade conforme recomendadopelo Inter-national Vitamin A Consultative Group (IVACG).5 Toda a
manipulac¸ão do sangue, desde a coleta até a dosagem laboratorial,foirealizadaemambientecompouca lumino-sidade.
A extrac¸ão do retinol no soro foi realizada segundo propostopeloIVACG.5Aconcentrac¸ãoderetinoldas
amos-trasfoideterminadapelométododacromatografialíquida de alta eficiência (CLAE). Foi utilizado um sistema de fase reversa, seguido por detecc¸ão em PDA em 325nm. Empregou-seumcromatógrafoWatersModeloAlliance2695 (WatersTechnologiesdoBrasil,SP),acopladoaodetectorde arranjodephotodi-iodo(PDA),modelo2998marcaWaters (Waters Technologies do Brasil, São Paulo). A análise foi desenvolvidausandocolunaX-TerraMSC18((Waters Tech-nologiesdo Brasil, SãoPaulo) e poros de5m (150mm x 3,9mm),protegidaporumacolunadeguardaC18.O cro-matógrafo evoluiu em eluic¸ão isocrática com fase móvel 100% metanol (1mL/min). O tempo de retenc¸ão do reti-nolfoi 2,4min. A identificac¸ão e quantificac¸ão do retinol nasamostrasdesoroforamestabelecidasporcomparac¸ão como tempoderetenc¸ão e aárea dorespectivo padrão, emcomprimentodeondade325nm.Aexatidãodométodo foiavaliadapormeiodotestederecuperac¸ãodaextrac¸ão, obtendo-se95%derecuperac¸ãodoretinolacetato(padrão interno) adicionado às amostras. A precisão foi avaliada pelo teste de reprodutibilidade, em que triplicatas de umamesma amostra foram aferidas para retinol durante trêsdiasalternados. Osvaloresencontradosapresentaram variac¸ão inferior a umdesvio-padrão. A curva-padrão foi realizadacompadrãoreferênciaretinoltodotrans(Sigma) em diferentes concentrac¸ões. Os limites de detecc¸ão e quantificac¸ão foram baseados na linearidade da curva--padrão, obtendo-se valores de 0,82g/dL e 2,74g/dL, respectivamente.
Osvaloresderetinolséricoforamcategorizadosemtrês níveis: deficiente grave/moderado (<20g/dl), marginal (≥20g/dle<30g/dl)eadequado(≥30g/dl)(categoria dereferência).6
Estadoantropométrico
Os dados antropométricos foram coletados no ambiente escolarporantropometristaseentrevistadorasqualificadas e previamente treinadas paraa coletados dados. Opeso foiobtidocomoauxíliodebalanc¸amicroeletrônica,marca Marte (Marte Balanc¸as e Aparelhosde PrecisãoLtda.,São Paulo), modeloPP200-50,com capacidadepara199,95kg e precisão de 50 gramas. Para a obtenc¸ão da estatura, utilizou-seestadiômetromarcaLeicester(Height Measure, Londres,Inglaterra),graduadoemdécimosdecentímetros. Todas as medic¸ões foram realizadas seguindo os procedi-mentospreconizadospeloAnthropometric standartization referencemanual.7
Paraavaliar o estadoantropométrico, foramutilizadas comopadrãodereferênciaastabelasdaWHO,8baseadasem
valorespercentílicosdoíndicedemassacorporal[IMC=peso (kg)/estatura(m)2]parasexoeidade.Eparaclassificac¸ão,
utilizou-se a proposta da WHO:9 magreza ou baixo peso
(< percentil 3), peso normal (≥ percentil 3 e < percentil 85),sobrepeso(≥percentil85e<percentil97)eobesidade (percentil≥97).
Aidadedoalunofoiorigináriadabasededadosdas Secre-tariasEstadualeMunicipaldeEducac¸ãoeconfirmadapela datadenascimentopresentenoregistrodenascimentoou nacarteiradeidentidade.
Consumoalimentar
Ométodorecordatóriode24horasfoiutilizadoparaavaliar oconsumoalimentar.Ocálculodacomposic¸ãocentesimalda dietafoiefetuadoutilizando-seoProgramadoVirtualNutri, versão1.0,desenvolvidopeloDepartamentodeNutric¸ãoda Faculdade deSaúdePúblicadaUniversidadedeSãoPaulo (SãoPaulo).10Oconsumoderetinolfoiestratificadosegundo
tercis:o1◦ tercilfoicategorizadoporconsumomaisbaixo,
eosdemaisporconsumomaiselevado(categoriade refe-rência).
Variáveisdemográficasesocioeconômicas
Asvariáveisdemográficasforam:sexo[masculino(categoria de referência), feminino]: e faixa etária [< 10 anos e >10anos(categoriadereferência)].
Ascaracterísticasdascondic¸õesambientaisede mora-dia,socioeconômicasematernasforamcoletadasmediante questionários aplicados aos responsáveis pelos estudantes por entrevistadores treinados e qualificados. Os respon-sáveis foram convidados a comparecer na escola para as entrevistas.Foramobtidosdadosacercadascaracterísticas do domicílio (condic¸ões de posse do domicílio, tipo de construc¸ão, material predominante de piso, material predominante na cobertura e parte dodomicílio, número dehabitantespordormitóriosetc.)edesaneamentobásico (abastecimento de água, coleta de lixo, esgotamento sanitário) para a construc¸ão de um índice adaptado do modelo propostoporIssler& Giugliani.11 Acada situac¸ão,
valorescaracterizou oindicador dascondic¸õesambientais e de moradia. O índice foi classificado em dois estratos, tendocomopontodecorteamediana:adequado(escore≤
4--- categoriadereferência)einadequado(escore>4). Foramcoletados,ainda,dadosdeescolaridadematerna. Foram considerados dois níveis, conforme a série escolar cursada:I<5asérieeII>5asérie(categoriadereferência).
Análiseestatística
Paraoprocessamentoeconstruc¸ãodobancodedados,foi utilizado o EpiInfo versão 6.04 (Centersfor Disease Con-trolandPrevention,Atlanta,EstadosUnidos),adotando-se adigitac¸ãodupladosdadosapósarevisãodosquestionários eacorrec¸ãodoserrosdecorrentesdacodificac¸ãorealizada inicialmenteemcampo.
As característicasdapopulac¸ãoforamidentificadaspor meiodaanálisedescritiva,utilizando-seaprevalênciapara os dados categorizados e a média e o respectivo desvio--padrãoparavariáveiscontínuas.
Os valores de retinol sérico categorizados em três níveis foram adotados como o desfecho: nível de reti-nol deficiente grave/moderado (< 20g/dL), marginal (≥
20g/dle <30g/dL)eadequado (≥30g/dL)(categoria
decomparac¸ão).Empregou-seatécnicaderegressão logís-ticapolitômicaparaavaliarosfatoresassociadosàDVA.A forc¸adasassociac¸õesfoiexpressaem oddsratio(OR)eos respectivosintervalosdeconfianc¸a(IC95%).
Iniciou-se o processamento das análises realizando a regressão logística politômica univariada para investigar a associac¸ão de cada uma das covariáveis na ocorrência dos desfechos. As variáveis associadas com DVA de 20% foramselecionadas para inclusãona análise multivariada. Para a selec¸ão das variáveisno modelo final,adotou-se o procedimento de eliminac¸ão progressiva (backward). Per-maneceramnomodeloajustadoapenasaquelascomvalor dep<0,05.
As análises estatísticas foram corrigidas pelo delinea-mento complexo da amostra, por meio da utilizac¸ão do conjuntodecomandossvydoStata,versão9.0(StataCorp, CollegeStation,EstadosUnidos).
Questõeséticas
O protocolo de estudo foi submetido ao Comitê de Ética do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, que avaliou e emitiu parecer favorável à sua realizac¸ão.
Resultados
Donúmerototaldealunosselecionadosinicialmente(600), 54nãoparticiparamdoestudo(devidoàrecusa,mudanc¸a familiarparaoutracidadeouàtransferênciadoalunopara outraescola),resultando546estudantesnafaixaetáriade7 a14anos,havendopercentualdiscretamentemaiselevado de indivíduos dosexo feminino (50,2%). As demais carac-terísticasestãodispostasnatabela1.Emboraapopulac¸ão desteestudosejaorigináriadeoutrainvestigac¸ão,nãofoi observadadiferenc¸aestatisticamente significanteentreas características sociodemográficasdaamostraoriginale as
Tabela 1 Características da populac¸ão estudada. Salva-dor/BA,2009
Variáveis n %
Idade
<10anos 148 27,1
≥10anos 398 72,9
Sexo
Masculino 272 49,8
Feminino 274 50,2
Escolaridadematernaa
I<5asérie 185 34,8
II>5asérie 347 65,2
Indicadordascondic¸õesdemoradiaa
Inadequadas 213 39,0
Adequadas 333 61,0
Estadonutricional
Magreza 51 9,3
Eutrófico 430 78,8
Excessodepeso(sobrepeso/obesidade) 65 11,9
DosagemséricadeVitaminaA
I<10g/dL 22 4,0
II10-20g/dL 27 4,9
III20-30g/dL 103 18,9
IV≥30g/dL 394 72,2
Retinol(g)b
Percentil25(175,79) 136 24,9
Mediana(333,03) 137 25,1
Percentil75(671,90) 273 50,0
DP,desvio-padrão.
a Dadosfaltantes. b Médiaderetinol(
g)(±DP)=960,06(±2418,89).
dasubamostrautilizadanestetrabalho(dadosnão apresen-tados).
Adistribuic¸ãodasfrequênciasdosvaloresmédiosde reti-nolsérico apresentou algum grau deassimetria; o desvio foimaispronunciado para a esquerda,sugerindo um per-centual elevado de crianc¸as e adolescentes com valores médiosbaixosderetinolsérico(média=39,6±19,25g/dL).
Observou-se prevalência de 27,8% da deficiência de vita-minaA(<30g/dL)entreosestudantese, desta,4,0%foi
caracterizadapordeficiênciagrave(<10g/dL),e4,9%por
moderada(≥10g/dLe<20g/dL).
Foi evidenciada, por meio de análise univariada, associac¸ão positivae estatisticamente significantedaDVA moderada/grave com a idade <10 anos (OR = 2,20; IC95%:
1,18-4,10)eestadoantropométricomagreza(OR=2,09;IC95%:
1,02-5,08).TambémaDVAmarginalesteveassociadacoma idade<10anos(OR=2,29;IC95%:1,45-3,64)eestado
antropo-métricomagreza(OR=2,14;IC95%:1,10-4,17).Emrelac¸ãoàs
demaisvariáveis,nãofoiobservadadistribuic¸ão diferenci-adasegundoosníveisséricosderetinol(tabela2).
Tabela2 ORbrutoerespectivosintervalosdeconfianc¸a95%(IC95%)daassociac¸ãoentredeficiênciadevitaminaA(DVA)e variáveisselecionadasemcrianc¸aseadolescentesdaredepúblicadeensinodomunicípiodeSalvador,BA,2009
Variáveis Modelounivariado(DVA
moderada/grave)a
Modelounivariado(DVAmarginal)a
OR IC95% OR IC95%
Idade
<10anos 2,20 1,18-4,10 2,29 1,45-3,64
≥10anos Referência Referência
Sexo
Masculino 0,93 0,54-1,68 0,91 0,59-1,41
Feminino Referência Referência
Escolaridadematerna
<5aSérie 0,91 0,48-1,73 1,09 0,69-1,72
≥5aSérie Referência Referência
Indicadordascondic¸õesdemoradia
Inadequadas 1,14 0,79-1,65 1,07 0,81-1,40
Adequadas Referência Referência
Estadonutricional
Magreza 2,09 1,02-5,08 2,14 1,10-4,17
Eutrófico+excessodepeso Referência Referência
RetinolA(g)
<1otercildeconsumo(231,94) 0,97 0,35-1,33 0,89 0,56-1,41
≥1otercildeconsumo Referência Referência
OR,oddsratio.
aNíveisadequadosdevitaminaA=níveisderetinol≥30
g/dL(grupodecomparac¸ão).
da DVA moderada/grave (OR = 2,01; IC95%: 1,01-5,05) e DVAmarginal (OR= 2,14; IC95%:1,08-4,21) com oestado antropométricomagreza(tabela3).
Menorvalordeconsumo deretinolfoidetectado entre aquelescomDVAgrave(nívelderetinolsérico<10g/dL) (fig.1).
Discussão
Aprevalênciadeníveisbaixosderetinolsérico(<20g/dL)
foi aproximadamente de 9,0% (IC 95%, 6,5-11,3), carac-terizandoa DVAcomo problema desaúde públicadotipo leve,segundocritériosdaOrganizac¸ãoMundialdeSaúde.1
Esse resultado é compatível com aquele encontrado por Gonc¸alves-Carvalhoetal.12(10,7%)emCapinas,SP;emenor
doque aqueleidentificado porGraebner etal.13 (33.55%)
emBrasília,DF.Poroutrolado,18,5%(IC95%15,23-21,19) dascrianc¸aseadolescentesapresentaramníveismarginais (20-30g/dL)deretinolsérico.Assim,27,5%dosescolares matriculadosnaredepúblicadeensinodeSalvador,estado da Bahia, apareceram com níveis inadequados de retinol (<30g/dL),percentualacimadoencontradopordeSouza Valente da Silva et al.14 (10,0%) em estudo realizado no
Riode Janeiro,RJ. Esse éumpontodecorte(<30g/dL) utilizadocomfrequênciacrescenteparadefinira deficiên-ciadavitaminaAem escolares,incluindoadolescentes.3,6
Ressalta-se que esse ponto de corte já foi intervalidado
Tabela3 ORajustadoerespectivosintervalosdeconfianc¸a95%(IC95%)daassociac¸ãoentredeficiênciadevitaminaA(DVA) evariáveisselecionadasemcrianc¸aseadolescentesdaredepúblicadeensinodomunicípiodeSalvador,BA,2009
Variáveis Modelomultivariado(DVA
moderada/grave)a
Modelomultivariado(DVAmarginal)a
ORajustado IC95% ORajustado IC95%
Idade
<10anos 2,19 1,17-4,10 2,34 1,47-3,73
≥10anos 1 1
Estadonutricional
Magreza 2,01 1,01-5,05 2,14 1,08-4,21
Eutrófico+excessodepeso 1 1
OR,oddsratio.
aNíveisadequadosdeVitaminaA=níveisderetinol≥30
2500,00
2000,00
*
1500,00
1000,00
500,00
0,00
I <10 μg/dL II 10-20 μg/dL III 20-30 μg/dL
*I≠II, I≠IV
IV ≥ 30 μg/dL
IC 95% Retinol
Níveis séricos de retinol
Fig.1 Valoresmédiosdeconsumoderetinolsegundoníveis séricosderetinolemcrianc¸aseadolescentesdaredepública deensinodomunicípiodeSalvador,BA,2009.
IC 95%Retinol,intervalode confianc¸apara onível médio de retinol.
comotesteterapêutico(+S30DR)ecomoRDR,15 alémde
apresentarassociac¸ãocomalterac¸õesfuncionaisdavisão.16
Opresenteestudofoirealizadoparainvestigaros fato-res associados à ocorrência de DVA. Verificou-se que a magreza imprimiu chance 2,01 (IC95%: 1,01-5,05) vezes maiorde osescolares apresentarem DVA moderada/grave e2,14 (IC95%:1,08-4,21)vezesdeelesapresentarem DVA marginal. Esses resultados corroboram aqueles descritos em outrosestudos,13,17,18 e essarelac¸ãose justifica,dado
queadesnutric¸ãotornaoindivíduovulnerávelamúltiplas deficiências nutricionais. Há que considerar que, embora a prevalência dadesnutric¸ão na infância tenha declinado globalmente ao longo das últimas décadas, essa reduc¸ão tem ocorrido de formadesigual. Em alguns países, inclu-sive,oproblematempersistido.19Estima-sequenoBrasil,
entreaquelesemidadeescolar,asprevalênciasdescritasde desnutric¸ão,avaliadaspeloindicadoraltura/idade,oscilam emtorno de6,8%,eentreosadolescentes,avaliadospelo índice demassacorporal(IMC) paraaidade, emtorno de 3,4%,variandodeacordocomoestratoderenda.20
Igualmente,observou-sequeaidadeabaixode10anos imprimiu uma chance 2,19 vezes maior de os escolares apresentarem DVA moderada/grave (IC95%: 1,17- 4,10) e 2,34 (IC95%: 1,47- 3,73) vezes de eles apresentarem DVA marginal. Esses resultados estão de acordo com aque-lesobservadosem outrasinvestigac¸ões,21,22sugerindouma
maior vulnerabilidade dos escolares mais jovens. É pos-sível que esta tendência decorra do crescimento físico, efeito adverso de infecc¸ões por vírus e bactérias e das infestac¸õesparasitáriascomunsnessafaixaetária,ouainda deumamaiordiversificac¸ãodopadrãodietéticoobservado emcrianc¸asmaisvelhas.ConcordandocomRamalhoetal.,22
aindaque afrequênciade baixosníveis séricosderetinol tendaacaircomaidade,comovisto nopresenteestudo, elaaindaéalta osuficienteparajustificaratenc¸ãoaesse segmentopopulacional.
Embora o baixo consumo de alimentos fontes de vita-mina Anãotenhasido umdado complementarnomodelo explicativo daDVA, verificou-sebaixo consumo deretinol
entreos portadores deDVA grave, quando o consumo foi comparadoaosdemaisníveisdedeficiência.Apercepc¸ãoda influênciadoconsumodevitaminaAsobreosníveisde reti-nolséricotemsido compartilhadaporalguns estudos.17,23
Oshábitosalimentaresinadequadospodemexercergrande influência no aparecimento das carências nutricionais,24
sobretudonascrianc¸as e adolescentes.Assim,em tempos emqueemergeumaepidemiadesobrepeso/obesidade, per-sistemaindacarênciasnutricionaisendêmicas,aexemploda hipovitaminoseAedaanemia,em váriosespac¸osdo terri-tórionacional.25 Esse quadro é explicado,em parte, pela
adoc¸ãodepadrõesalimentares poucosaudáveis, especial-menteentreosjovens,o quedenotaanecessidadedese aplicarestratégiaspúblicas,afimdedeteroavanc¸odos dis-túrbiosnutricionaisesuascomplicac¸õesnesseciclodevida. É importante salientar que a principal limitac¸ão desta investigac¸ão está no fato de se tratar de um estudo transversal, o que afeta a interpretac¸ão dos resultados. O desenho adotado permite apenas observar associac¸ões entre os eventos estudados, não sendo possível demons-trar uma relac¸ão de causa e efeito entre tais eventos. Este estudo, embora coerente com seu objetivo e tendo utilizadoamostraprobabilística comtamanhoadequado e técnicasdelaboratóriointernacionalmenterecomendadas, apresentacomolimitac¸ãoafaltadeinformac¸õesreferentes às infecc¸ões gastrointestinais e respiratórias, que redu-zema absorc¸ão e elevam consideravelmente a utilizac¸ão biológicae aexcrec¸ão dessemicronutriente, independen-tementedareservahepática.1 Tambémnãoforamobtidos
dados de sinais clínicos de DVA.26 Ademais, o método
recordatóriode24horas,utilizadonesteestudopara inves-tigar o consumo alimentar, também apresenta algumas limitac¸ões. Oinquéritodeconsumo alimentar, alémdese limitar apenas a dados do consumo de vitamina A, sem informac¸õessobreabsorc¸ãoeutilizac¸ãobiológica,tem rece-bidopesadascríticas emvirtude daextrema variabilidade dadeterminac¸ãodoteordevitaminaAdosalimentos fon-tes,bemcomo damultiplicidadedetabelas,muitasvezes sem uma adequada informac¸ão do conteúdo dos alimen-tosregionaisconsumidospelapopulac¸ão-alvo.Noentanto, esse método fornece informac¸ões da estimativa do con-sumo médio das populac¸ões, inclusive quando aplicado umaúnica vez,quandoospressupostosmetodológicossão observados e os recursos analíticos adequados.27 Assim,
os estudos de consumo alimentar podem fornecer, pre-cocemente, importantes informac¸ões sobre os riscos de deficiêncianutricional,antesqueaformaclínicaseinstale. A deficiência de vitamina A configura-se como um problemadesaúdepreocupanteentreosescolarese ado-lescentes.Verificou-semaiorvulnerabilidade dosescolares debaixopesoemaisjovensàDVA.Aescolatemumpapel importante na prevenc¸ão da deficiência da vitamina A, promovendoeducac¸ãonutricionaldirigidaespecialmentea gruposderisco.
Financiamento
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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