www.rpped.com.br
REVISTA
PAULISTA
DE
PEDIATRIA
ARTIGO
ORIGINAL
Fatores
preditores
do
perfil
sensorial
de
lactentes
dos
4
aos
18
meses
de
idade
Carina
Pedrosa
a,∗,
Priscila
Cac
¸ola
be
Maria
Isabel
Martins
Mourão
Carvalhal
aaUniversidadedeTrás-os-MonteseAltoDouro(Utad),VilaReal,Portugal
bUniversidadedoTexasemArlington(UTA),Arlington,EUA
Recebidoem9dejulhode2014;aceitoem17denovembrode2014 DisponívelnaInternetem28demarçode2015
PALAVRAS-CHAVE
Lactente; Desenvolvimento infantil;
Meioambiente
Resumo
Objetivo: Identificarosfatoresambientaispreditoresdoperfilsensorialdelactentesdosquatro aos18mesesdeidade.
Métodos: Estudotransversalcom97lactentes(40dosexofemininoe57domasculino),com idademédiade1,05±0,32,aosquaisfoiaplicadooTestofSensoryFunctionsinInfants. Res-ponderamaoquestionárioAffordancesintheHomeEnvironmentforMotorDevelopment-Infant Scale97paise11educadorasdesetecreches,deformaacaracterizarocontextofamiliarede creche,erelacionou-seaoperfilsensorialdosbebês.OAHEMD-ISéumquestionárioque carac-terizaasoportunidadesnoambienteparacrianc¸asentretrêse18mesesdeidade.Asvariáveis queapresentaramumaassociac¸ãosignificanteforamincluídasnomodeloderegressãolinear paradeterminarosfatorespreditoresdoperfilsensorial.
Resultados: A maioria dos bebês (66%) apresentou um perfil sensorial normal e 34% deles encontram-se em risco ou em déficit (com problemas sensoriais). As oportunidades de estimulac¸ãonahabitac¸ãoforamclassificadascomosuficientesenascrechesforamavaliadas comoboas.Osresultadosdaregressãorevelaramqueapenasosfatores‘‘horasdiáriasna cre-che’’e‘‘espac¸oexteriordecreche’’influenciaramoperfilsensorialdosbebês,notadamente ocontroleoculomotor.
Conclusões: Operfilsensorialdosbebêssituou-seentreonormaleemrisco.Ocontextofamiliar ofereceoportunidadesdeestimulac¸ãosuficienteseascrechesdemonstraramterboas oportu-nidades.Ashorasdiáriasemcrecheeoespac¸oexterioremcrecheforamospreditoresdoperfil sensorialnocontroleoculomotor.
©2015Associac¸ão dePediatriade SãoPaulo.Publicado porElsevier EditoraLtda.Todosos direitosreservados.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:carina-pedrosa@iol.pt(C.Pedrosa).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rpped.2014.11.016
KEYWORDS
Infant;
Childdevelopment; Environment
Factorspredictingsensoryprofileof4to18montholdinfants
Abstract
Objective: Toidentifyenvironmentfactorspredictingsensoryprofileofinfantsbetween4and 18monthsold.
Methods: Thiscross-sectionalstudyevaluated97infants(40femalese57males),withamean age of1.05±0.32yearswith theTest ofSensory Functions inInfants(TSFI) andalso asked 97parentsand11kindergartenteachersofsevendaycarecenterstoanswertheAffordances intheHomeEnvironmentforMotorDevelopment-InfantScale(AHEMD-IS).TheAHEMD-ISisa questionnairethatcharacterizestheopportunitiesinthehomeenvironmentforinfantsbetween 3and18monthsofage.Wetestedtheassociationbetweenaffordancesandthesensoryprofile ofinfants.Significantvariableswereenteredintoaregressionmodeltodeterminepredictors ofsensoryprofile.
Results: Themajorityofinfants(66%)hadanormalsensory profileand34%were atrisk or deficit.Affordancesinthehomewereclassifiedasadequateandtheyweregoodinthestudied daycarecenters.Theresultsoftheregressionrevealedthatonlydailyhoursindaycarecenter anddaycareoutsidespaceinfluencedthesensoryprofileofinfants,inparticularthe Ocular--MotorControlcomponent.
Conclusions: Thesensoryprofileofinfantswasbetweennormalandatrisk.Whilethefamily homeofferedadequateaffordancesformotordevelopment,thedaycarecentersoftheinfants involveddemonstratedagoodquantityandqualityofaffordances.Overall,weconcludethat daily hoursinthedaycarecenteranddaycareoutsidespacewere predictorsofthesensory profile,particularonOcular-MotorControlcomponent.
© 2015Associac¸ão dePediatria deSãoPaulo. Publishedby Elsevier EditoraLtda. Allrights reserved.
Introduc
¸ão
A primeira infância é a fase na qual se registra grande neuroplasticidade e as mudanc¸as neuropsicomotoras con-tribuem para um melhor desenvolvimento infantil.1,2
O desenvolvimento motor é dependente das experiências sensoriomotoras oferecidaspelo ambiente e o bebê com-preende e apreende melhor o seu mundo3 por meio de
diversificadasinformac¸õesprovenientesdosestímulos rece-bidos pelavisão, audic¸ão,pelo toquee pelamanipulac¸ão deobjetos.Considera-seumdesenvolvimentosensorial ade-quadoquandoesseseencontradeacordocomosprincípios da integrac¸ão sensorial, os quais se relacionam às bases neurológicaseaosaspectoscomportamentais.Um compor-tamento adaptado é resultado de uma eficaz integrac¸ão sensorial.4 Também um processamento efetivo, em nível
cortical, dos estímulos sensoriais é fundamental para o desenvolvimentodasfunc¸õespercetivomotoras,emocionais ecognitivas.5Amaturac¸ãobiológicadefineosparâmetrosdo
desenvolvimentoinfantil,notadamenteosfatoresdeordem estruturalefuncional,comoamassacorporal,aestatura, aforc¸aeacoordenac¸ão;masoambiente(contextofísico, cultural e social) e a solicitac¸ão detarefas influenciamo desenvolvimentosensorialdobebê.6
Segundo Cac¸ola, Gabbard, Santos e Batistela,7
ulti-mamente tenta-serelacionar o desenvolvimento sensorial infantilcomoambiente,maisespecificamentecomas affor-dances, termo introduzido por Gibson,6,8 que se refere à
interac¸ão entre o contexto físico em que a crianc¸a está inseridaeasoportunidadesdeestimulac¸ãopresentes (ativi-dadesebrinquedos),ouseja,aformacomoseorganizame
seusamosobjetosdocontexto.Aavaliac¸ãodasaffordances écrucialparamelhorseadequaressescontextosàs neces-sidadesdascrianc¸as e, consequentemente,facilitaro seu desenvolvimentosensorial.9,10Asconclusõesdessesestudos
ressaltamqueadisponibilidade debrinquedose as carac-terísticas do espac¸o físico promovem o desenvolvimento sensoriomotor de bebês nos primeiros anos de vida,11-13
poisumaexposic¸ãoadequadaaestímulosresultanumaboa integrac¸ãosensorial.
Afamíliaéoprimeiro contextocomoqualobebêtem contato.Esse podeoferecer estimulac¸ãoe protec¸ão,mas tambémriscos parao desenvolvimento,13 poisas
caracte-rísticassocioeconômicaseculturaisdecadafamíliapodem promoveroucondicionarasoportunidadesdeestimulac¸ão dobebê.14 Noquedizrespeitoaocontextodecreche, em
Portugal,segundoaPortarian◦262/2011de31deagosto,15
para uso de brinquedos com rodas e um espac¸o aberto comequipamentosquepermitamescalar,subireescorregar. AmaioriadascrechesemPortugalnãotemumespac¸o exte-rior,poisforamcriadasanteriormenteaessaportaria.Com aemancipac¸ãodamulhernomundodotrabalho,amaioria dosbebêspassagrandepartedoseudianacreche(cercade oitohoras),logoéimportanteavaliaressecontexto.Há pou-cosestudoscomreferênciaàsoportunidadesdeestimulac¸ão paraodesenvolvimentosensoriomotornacrechee, princi-palmente,queascomparecomasoportunidadesemcasae operfilsensorialinfantil.
Assim,esta investigac¸ão pretendeudeterminar arazão pelaqual alguns bebês, sem doenc¸a neurológica, ortopé-dicaouantecedentedeprematuridade,apresentamdéficits sensoriais, que se não forem detectados precocemente podem causar problemas na idade escolar, como atrasos nodesenvolvimentomotor ealterac¸õescomportamentais. Nessecontexto,opresenteestudotemcomoobjetivogeral verificarseexisteumainfluênciadas affordances familia-resedecrechenodesenvolvimentosensorialeidentificar osfatoresambientaispreditoresdoperfilsensorialdosbebês comidadesentrequatroe18meses.Foramdefinidoscomo objetivosespecíficos:1◦ Caracterizaro perfilsensorialdos lactentes;2◦ Caracterizaro contextofamiliare decreche quantoàsaffordances;e3◦
Relacionaroperfilsensorialdos lactentescomasaffordances.
Método
Trata-sedeestudo transversal,comtrêsamostrasde con-veniência.OComitêdeÉticadoCentrodeInvestigac¸ãoem Desporto,SaúdeeDesenvolvimentoHumanoconsiderouque oestudocumpreosprincípioséticosdadeclarac¸ãode Hel-sinque.AAmostra1foiconstituídapor97bebês,comuma médiadeidadede12meses(idademédia1,05±0,32anos). Foramoscritériosdeinclusão:lactentescomidades com-preendidasentrequatroe18meses,deambososgêneros, semdoenc¸asortopédicas,neurológicas,ouprematuroscom idadegestacionalao nascimentoinferiora 34semanasde gestac¸ão,semcomplicac¸õesneonatais(boletimdeApgarno 5◦minuto≥9epeso denascimento>2.500g).AAmostra2
foiconstituídapor97pais(umdecadabebê),foram incluí-dosaquelesquesemostrarammotivadoseinteressadosem participar no estudo e que o autorizaram. Finalmente, a Amostra3foiconstituídapor11educadorasdeinfânciade setecrechesdeVilaReal.Cadaumatemaresponsabilidade decoordenara salaonde osbebêsseencontravam inseri-dos.Houveautorizac¸ãopréviaporparte dacrecheparaa feituradoestudoe adisponibilidade daseducadoraspara participaremdele.
Os instrumentos usados neste estudo foram o Test of Sensory Functionsin Infants ---TSFI,16 o Affordance in the
Home Environment for Motor Development-Infant Scale (AHEMD-IS)--- Escala Bebê(três-18 meses)7 e umpequeno
questionário para recolher informac¸ões sobre o contexto físicoeasrotinasdobebê,assimcomoalgunsdadossobre onascimentoe acompanhamentomédicodacrianc¸a,para complementaracaracterizac¸ãodoperfilsensorialedos con-textosambientais.
O perfil sensorial foi avaliado por meio do TSFI. Esse teste avalia o processamento e a reac¸ão sensorial em
bebês comidadesentrequatro-18meses nossubtestes de reac¸ãoà pressão tátilprofunda, func¸ões motoras adapta-das,integrac¸ãovisuotátil,controleoculomotorereac¸ãoà estimulac¸ão vestibular. Foi usada a versão portuguesa do teste, validada por Pedrosa e Ribeiro.17 Seu uso
consis-tiuna aplicac¸ão do testetal como é descrito nomanual, na ordem dos itens e com o uso dos materiais indicados. A aplicac¸ão foi feita apenas por um avaliador com trei-namentoem integrac¸ãosensorial eespecificamente nesse instrumentodeavaliac¸ão.Aaplicac¸ãofoifeitanacreche, comapresenc¸adaeducadoradeinfânciaecomadurac¸ão de aproximadamente 20minutos por bebê. Cada item foi avaliadonumaescaladevaloresdesde0-1a0-3.Após ter--se procedido à pontuac¸ão de cada item, somaram-se os valoresobtidosemcadasubtestee,nofim,somaram-seas pontuac¸õesdossubtesteseobteve-seovalordapontuac¸ão total do teste, com valores entre 0 e 49. Esses valores encontram-se subdivididosdeacordocomaidade edãoa indicac¸ão daclassificac¸ão doperfilsensorial entrenormal (33-49para4-6meses;41-49para7-9mesese44-49para 10-12/13-18meses),emrisco(30-32para4-6;38-40para7-9e 41-43para10-12/13-18meses)eemdéficit(0-29para4-6, 0-37para7-9e0-40para10-12/13-18meses).A confiabili-dadedosdadosfoiverificadacomorecursoaocoeficiente de correlac¸ão intraclasse dos resultados obtidos dadupla aplicac¸ãodoTSFIaumgrupode10crianc¸asdogrupo etá-rio em estudo. Ovalor em todos osíndicesfoi superior a 0,950.
Foi usado um pequeno questionário para a coleta de informac¸ões sobre o contexto físico, as rotinas do bebê e a gravidez/parto. Para uma melhor compreensão e confirmac¸ão dos resultados obtidos com o TSFI, foram aindafeitasentrevistassemiestruturadascomaseducadoras eauxiliaresdascreches,assimcomocomalgunspais,sobre odesempenhosensoriomotordosbebês,alémdaobservac¸ão direta dosbebês nassuas rotinasdiárias nacreche, como formadeafastar a presenc¸adeproblemas de saúde tem-poráriosnobebê,comofebre,rompimentodosdentes,dor ououtros.Essesproblemaspoderiamafetaroresultadodo teste.
Foram solicitadas asdevidas autorizac¸õesàs crechese aospaisdosbebêsparaaaplicac¸ãodostestes,assimcomo aosautoresdestes.
A análise dos dados foi feita com o programa Statisti-cal Packagefor Social Scienses,versão 19 para Windows. Inicialmente comprovou-se a normalidade da distribuic¸ão dos dados por meio da simetria e da curtose. Com base nospontos decortedosinstrumentos, foicaracterizadoo perfilsensorialeocontextofamiliaredecrechequantoàs oportunidadesde estimulac¸ão. Para verificara associac¸ão entreas variáveisindependentes (biológicas e sociocultu-rais--- informac¸õesneonataisedomíniosdoAHEMD-IS)eas variáveisdependentes(áreasdoperfilsensorial---subtestes doTSFI)foiusadoocoeficientedecorrelac¸ãodePearson. Asvariáveisqueapresentaramumaassociac¸ãosignificativa entraramnomodeloderegressãolinear,porordem decres-centedovalorder,paradeterminarosfatorespreditores.
Resultados
Osresultados daaplicac¸ão do TSFI revelamque os bebês apresentam,emmédia±desviopadrão,umperfilsensorial de 43,41±5. Isso significa que estão entre os parâmetros normais e em risco. As pontuac¸ões finais do TSFI obtidas variaramentreumvalormáximode49eumvalormínimode 26.Apontuac¸ãode47foiaqueobteveumamaiorfrequência (16,5%).Apenas13bebêsalcanc¸aramapontuac¸ãomáxima de49. Amaioria dos bebês situa-senoparâmetro normal (66%),embora34%apresentemumperfilsensorialemrisco (11,3%)oumesmoemdéficit(22,7%),
Ossubtestesapresentaramresultadosentreos parâme-tros ‘‘normal’’ e ‘‘em risco’’, exceto quanto às func¸ões motorasadaptadas,que,adependerdaidadeedospontos decorte, apresentaramresultados dastrês classificac¸ões. Comosepodeverificarna figura1,ossubtestesque apre-sentamvaloresmédiosmaisaltose,portanto,maispróximos doparâmetroemriscoeemdéficitsãoasfunc¸õesmotoras adaptadaseareac¸ãoàestimulac¸ãovestibular.
Com relac¸ão às affordances familiares, obtiveram-se valores médios de 38,70±6,71 para bebês com idade <12mesese54,91±11,15para>12meses,ouseja, sufici-entes.Asaffordancesnacrechepodemserclassificadasde boas,poisovalormédiototalfoide69,88±9,39.Natabela1
são apresentados os valores médios das affordances por domíniosdoAHEMD-IS.
Na residência, a oferta de brinquedos para a motrici-dade fina e grossa situa-se na categoria suficiente. Esses sãoosdomíniosmaisfracosna estimulac¸ãodo desenvolvi-mentosensorialinfantil.Oespac¸ofísicointeriordestaca-se
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Subteste 1 Subteste 2 Subteste 3 Subteste 4 Subteste 5
9,91±0,561
12,32±2,867
8,96±1,520
10,28±2,816
1,96±0,200
Figura1 Valoresmédiosedesviopadrãodoperfilsensorial
porsubtestedoTSFI.
Subteste1,reac¸ãoàpressãotátilprofunda;Subteste2,func¸ões motorasadaptadas;Subteste3,integrac¸ãovisuotátil;Subteste 4,controleoculomotor;Subteste5,reac¸ãoàestimulac¸ão ves-tibular.
comoodomíniomaisbemestruturadoparaapromoc¸ãodo desenvolvimentodosbebês.Noconjuntodascreches avali-adas,osvaloresobtidosmostraramboasoportunidadesem todososdomínios.Odomínioespac¸ofísicointeriorfoiomais pontuado.Talcomonaresidência,foramosbrinquedospara a motricidade grossa e fina que receberam a pontuac¸ão média maisbaixa (19,38±5,449 e 24,63±7,763; respecti-vamente), mesmo assim inserida na classificac¸ão de boas affordances.
Osresultadosdacorrelac¸ãoevidenciamumaassociac¸ão entrehorasdecreche(p=0,009),áreadacreche(p=0,047), tempodeTVnacreche(p=0,012)eespac¸oexteriorda cre-che(p<0,001)comocontroleoculomotor.Nãoseverificaram associac¸ões entre os fatores biológicos e as affordances familiarescomoperfilsensorial(tabela2).
Para verificar quais variáveis são preditoras do perfil sensorial,fez-se umaregressãolinear. Foramincluídas no modelo apenas as variáveis que apresentaram associac¸ão significativa (tabela 3). O conjunto das variáveis (horas de creche, área da creche, o tempo de TV na creche e espac¸o exterior da creche) explicou 27,5% do controle oculomotor.
Deacordocomomodelousado,constatou-sequeashoras decreche(p=0,035)eoespac¸oexteriordacreche(p=0,003) sãoas variáveispreditores do perfil sensorial,com poder explicativododesempenhodosbebêsnocontrole oculomo-tor.Quantoàáreadacrecheeo tempodeTVna creche, nãosemostraram comassociac¸ão significativa(p=0,855 e p=0,627,respectivamente).
Discussão
Existemopiniõescontroversassobreaeficáciadaavaliac¸ão eintervenc¸ãoemintegrac¸ãosensorial,18massãomuitosos
autores3,5,8,11,19 quedefendemaimportânciadaintegrac¸ão
Tabela1 Pontuac¸ãodeacordocomaAffordancesintheHomeEnvironmentforMotorDevelopment-InfantScaledas oportuni-dadesdeestimulac¸ãoemcasaenacreche
Oportunidadesemcasa Bebêsaté12meses
Oportunidadesemcasa Bebêsapós12meses
Oportunidades nacreche
Domínios Média±DP Min-Máx Média±DP Min-Máx Média±DP Min-Máx
Espac¸ofísico externo
3,02± 1,85 0-5 3,39± 1,79 0-5 4,25± 1,75 0-5
Espac¸ofísico interno
4,09± 0,65 2-5 4,24± 0,58 3-5 4,25± 0,46 4-5
Atividadesdiárias 14,65± 2,26 10-20 16,04± 2,37 10-21 17,37± 2,26 3-20 Brinquedosde
motricidade grossa
9,44±2,50 3-14 13,78±5,19 7-30 19,38±5,45 12-27
Brinquedosde motricidadefina
7,49±3,07 2-14 17,24±6,92 4-39 24,63±7,76 13-32
DP,desviopadrão;Min-Máx,mínimo-máximo.
Tabela2 Correlac¸ãodePearsonentreoperfilsensorial(subtestesdoTSFI)eosfatoresbiológicos/socioculturaiseosdomínios doAHEMD-ISsignificativos
Fatores Horasdiáriasnacreche Áreadacreche TempodeTVnacreche Espac¸oexteriornacreche
TesteTSFI r=---2,79 r=0,24 r=---0,30 r=0,52
Controleoculomotor p=0,009 p=0,047 p=0,012 p<0,001
normal.Porém,11,3%e22,7%delesencontram-seemriscoe emdéficitrespectivamente.Essesresultadosjustificamum encaminhamentoparaumanovaavaliac¸ão,mais pormenori-zadaepartilhadacomoutrosprofissionaisdesaúde.Casose comprove,edeacordocomasindicac¸õesdoTSFI,olactente deveráterumacompanhamentoterapêuticoespecializado, devidoàfaltadeestimulac¸ãosensoriomotoraouaumatraso nodesenvolvimentomotornãodiagnosticado.6,20,21Asáreas
maisafetadas, as func¸ões motoras adaptadas e a reac¸ão à estimulac¸ão vestibular estão de acordo com o descrito naliteratura.22Foramassinaladascomoáreasafetadasnos
bebês, principalmente por falta de estimulac¸ão quer de formaprovocada querdalivre.Também Reams13 verificou
queasfunc¸õesmotorasadaptadaseramumadasmais afe-tadasnoperfilsensorialdosbebês,assimcomoocontrole oculomotorsurgenesteestudoenodeReams13 comouma
das func¸ões mais desenvolvidas. Quanto à reac¸ão à pres-sãotátilprofunda,nãoexisteconcordâncianessesestudos: noestudodeReams13surgecomoumafunc¸ãoafetadaeno
presenteestudoéaquecontacommelhoresresultadosde
desempenho. A discordância dos resultados nesse quesito podeserexplicadapelasdiferenc¸asculturaisdospaíses.As rotinasusadasnasfamíliasportuguesas,comoodarcoloaos bebêseocontatofísiconasbrincadeiras(ex.:‘‘ondeestáo teunariz?’’),poderiamexplicarosresultadossuperioresna tolerânciaaotoque.23
As oportunidadesna habitac¸ão foram avaliadasapenas comosuficientes,ouseja,asaffordancesexistem,masnão emnúmeroediversidadenecessáriosparaseconsideraruma boa oferta de oportunidades de estimulac¸ão. Quanto aos domínios, osmaisafetadossãoosdasofertasde brinque-dos demotricidade grossae fina e o maisadequado o da estruturac¸ãodoespac¸ofísiconointeriordahabitac¸ão.Esses resultados revelamque asfamílias têm umapreocupac¸ão com a organizac¸ão do espac¸o e o tipo de brinquedos do bebê,maspossivelmenteoorc¸amentofamiliar8ouafaltade
informac¸ãopodeimpossibilitaroaumentodeoportunidades noqueserefereaosbrinquedosdemotricidadegrossaefina. Outrarazãopossíveléafaltadetempoparalevarosfilhos aoparqueinfantil,ondeseencontramdiversosbrinquedos
Tabela3 Preditoresdodesempenhonocontroleoculomotor
Variáveis Controleoculomotor
 t pvalor
Áreadacreche 0,02 0,18 0,855
Horasdiáriasemcreche ---0,25 ---2,16 0,035
TempodeTVnacreche 0,06 0,49 0,627
Espac¸oexteriornacreche 0,45 3,07 0,003
degrande dimensãoque promovem amotricidade grossa, dado que os pais trabalham em média oitohoras diárias, comoacréscimodashorasparadeslocamentosedagestão doméstica.
Talcomoesperado,ascrechesapresentaramboa affor-dances, pois uma creche com boas condic¸ões físicas e de estimulac¸ão pode promover uma excelente
oportu-nidade para os bebês se desenvolverem adequadamente
em seguranc¸a e facilitar o brincar, além de assegurar a alimentac¸ão,ahigienee ocontatocomoutrascrianc¸as.24
Verifica-sequeascrianc¸asinseridasemcrecheapresentam ummelhor desenvolvimentosensoriomotor,embora alguns autoresquestionemseissoocorredevidoexclusivamenteà crecheouseafamíliatambémficamaisdisponívelparaos períodosdeinterac¸ão.24
Nassalasdacrecheatéaos12mesesdeidade,as opor-tunidades,em níveldeespac¸ofísico,dasatividades feitas edosbrinquedosdisponíveis,ofereciamcondic¸ões adequa-dasparaa promoc¸ãododesenvolvimentosensoriomotore podemcontribuirparaoperfilsensorialdosbebês,apesar deteremapenasasupervisão,enãoapresenc¸adiária,de umeducadordeinfância.
Quandoserelacionaramasvariáveisdependentes(perfil sensorial) com as independentes (contexto familiar e de creche), observou-se que apenas fatores socioculturais dacrecheinfluenciaramo perfilsensorialdosbebês. Uma razão poderia ser o fato de os bebês passarem a maior parte do seu dia ativo nesse contexto. A habitac¸ão é um espac¸o com menos tempo ativo, à excec¸ão do fim de semana. As horas diárias e o espac¸o exterior da creche foramasvariáveisquemaisinfluenciaramoperfilsensorial emrelac¸ãoaodesempenhooculomotoreapresentaramum poder explicativo de 27,5%. A creche pode oferecer uma maior quantidade e melhor qualidade de oportunidades, além da estimulac¸ão para o uso dessas affordances. É possívelque,comoosbebêspassammaistemponacreche doqueemcasa,essasoportunidadesvariadastenham influ-enciadoodesempenhooculomotor.Entretanto,maisdoque oitohoraspassadasnacrechepodemdesfavorecero desen-volvimento,vistoqueessashorasnãosãodeestimulac¸ãoe usodeaffordancesepoderiamserpassadasemcasacomos pais,embrincadeirasejogosqueestimulamodesempenho oculomotor. Já foi observado, em estudos prévios, que a interac¸ãodospaiscomosseusbebêsembrincadeirasque estimulemoalcanc¸areagarrareaparticipac¸ãoemjogosde imitac¸ão, e permitem ao bebêmovimentar-se livremente eescolherosbrinquedosaexplorar,propiciamo desenvolvi-mentosensoriomotor.11Comojáfoisugerido,emrelac¸ãoao
espac¸o exterior em apartamentos, as oportunidades de estimulac¸ão apresentam classificac¸ões fracas.25,26
Umespac¸oexteriordecrechedeveapresentarbrinquedos diversos,comoossuspensos,cadeirinhasdebalanc¸o,bolas, percursos com obstáculos e superfícies diversas, entre outros,paraforneceraobebêestímulosqueserão proces-sados,deformaqueesseconsigafazerastarefasquelhesão exigidasparaexploraro próprioespac¸oe osbrinquedos.21
EmPortugal,oespac¸oexteriordacrecheéfrequentemente negligenciado, a quantidade e sobretudo a qualidade dos brinquedosqueexistemnosespac¸osexterioresnão permi-tem umdesenvolvimento sensorial adequado, porque são poucoversáteisecomfracascondic¸õesdeseguranc¸a.Esses deveriampotenciarumaestimulac¸ãodasáreascerebraise
componentessensoriais, de formaa promover uma maior entrada de estímulos propriocetivos e vestibulares, além deestimular todo o processamento ao nível do cerebelo. Um exemplo são as atividades que requerem equilíbrio (cerebelo) ouasatividades de planificac¸ão/organizac¸ão e execuc¸ãomotora(córtexfrontal),5,27quepodemcontribuir
para um melhor controle oculomotor. Este estudo realc¸a a importância da organizac¸ão e planificac¸ão do espac¸o exterior,nocontexto noqual o bebêpassaa maiorparte doseudia.
Valeressaltaraimportânciadafeituradeestudos simila-res,deformaafavoreceraformulac¸ãoderecomendac¸ões quantoao tipode equipamento e dematerial mais acon-selhávelparamaximizar odesenvolvimentosensoriomotor dosbebêsepreveniroaparecimentodeproblemasnaidade escolar.7Atualmenteospaiseeducadoresdemonstramuma
maiorpreocupac¸ãocomodesenvolvimentodascapacidades quecontribuemparaosucessoescolar,valorizambastante asatividadesdesenvolvidasnosespac¸osinteriores (cogniti-vasedemotricidadefina)enegligenciamaspotencialidades desenvolvidasnoespac¸oexterior.
Esteestudoapresentacomolimitac¸õesofatodenãose terem aplicado como complemento da avaliac¸ão do per-filsensorial testesvalidadosparacomprovarosresultados obtidos,assimcomo o autopreenchimentopelas educado-rasdo questionário de avaliac¸ão do contexto em creche, poisessefoi construídoparaavaliarocontexto habitacio-nal.Ressalta-seaindaofatodeascorrelac¸õesseremfracas e a dificuldade de generalizac¸ão dos resultados em nível nacionaleinternacional.
Apesardisso,pode-seconcluirqueoperfilsensorialdos bebês situou-se, em média, entreo normal e o de risco. São recomendados uma nova avaliac¸ão e, possivelmente, umencaminhamentoparaumasupervisãoterapêuticapara confirmac¸ãodosresultados.Asfamíliastinhamumaoferta suficiente de oportunidades de estimulac¸ão. Já as cre-chesdemonstraramcontarcomboasoportunidadesquerno espac¸ofísicoquer embrinquedos ebrincadeiras.As horas diárias em creche e o espac¸o exterior da creche foram ospreditoresdoperfilsensorialquantoaodesempenhodos bebêsnocontroleoculomotor.
Em síntese, os resultados deste estudo permitem-nos perceberaimportânciadocontextodecrecheno desenvol-vimentosensorialdosbebês,oqueédamaiorimportância paraaformac¸ãodeequipesmultidisciplinaresresponsáveis pelaconcepc¸ãoeplanificac¸ãodessesespac¸os.
Financiamento
Oestudonãorecebeufinanciamento.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Agradecimentos
Referências
1.Rodovalho JC, Braga AK, Formiga CK. Difference in growth andneuropsychomotordevelopmentinchildrenattendingchild education centers in Goiânia/GO. Rev Eletr Enf [página da Internet]. 2012;14:122---32. Acessadoem 12 de setembro de 2014. Disponível em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/ fen/article/view/10382/15564.
2.ManciniMC,TeixeiraS,AraújoLG,PaixãoML,MagalhãesLC, CoelhoZA,etal.Studyofmotorfunctionat8and12months ofage inpretermand at termchildren. Arq Neuropsiquiatr. 2002;60:974---80.
3.CorbettaD,Snapp-ChildsW. Seeingandtouching:theroleof sensory-motor experienceonthedevelopmentofinfant rea-ching.InfantBehavDev.2009;32:44---58.
4.FisherAC,MurrayE,BundyA.Sensoryintegration:theoryand practice.Philadelphia:FADavisCompany;1991.
5.SchaafRC,MillerLJ.Occupationaltherapyusingasensory inte-grative approach for children withdevelopment disabilities. MentRetardDevDisabilResRev.2005;11:143---8.
6.Nazário PF, PeresLW, KrebsRJ.A influência docontexto no comportamento motor. Uma revisão. EFDeportes [página da Internet]. 2011; 15(152) [acessado em 12 de setembro de 2014].Disponívelem: http://www.efdeportes.com/efd152/a--influencia-do-contexto-no-comportamento-motor.htm 7.Cac¸olaP,GabbardC,SantosDC,BatistelaAC.Developmentof
theaffordancesinthehomeenvironmentformotor develop-ment---Infantscale.PediatrInt.2011;53:820---5.
8.Freitas TC, Gabbard C, Cac¸ola P, Montebelo MI, SantosDC. Familysocioeconomicstatusandtheprovisionofmotor affor-dancesinthehome.BrazJPhysTher.2013;17:319---27. 9.MiqueloteAF,SantosDC,Cac¸olaPM,MontebeloMI,GabbardC.
Effectofthehomeenvironmentonmotorandcognitive beha-viorofinfants.InfantBehavDev.2012;35:329---34.
10.AmmarD,AcevedoGA,Cordova A. Affordancesinthehome environment for motor development: a cross-cultural study betweenAmericanandLebanesechildren.ChildDevelopment Research.2013;2013:1---5.
11.SaccaniR,ValentiniNC,PereiraKR,MüllerAB,GabbardC. Asso-ciationsofbiologicalfactorsandaffordancesinthehomewith infantmotordevelopment.PediatrInt.2013;55:197---203. 12.SinderCB,FerreiraMC.Oportunidadesdoambientedomiciliar
edesenvolvimentomotordelactentesentredeze18mesesde idade.JuizdeFora:UFJF;2010.
13.ReamsR.Childrenbirthtothreeenteringthestate’scustody. InfantMentalHealthJournal.1999;20:166---74.
14.DefilipoEC,FrônioJS,TeixeiraMT,LeiteIC,BastosRR,Vieira MT,et al.Opportunities inthehome environmentfor motor development.RevSaudePublica.2012;46:633---41.
15.Portugal- Ministério da Solidariedade e da Seguranc¸a Social [páginadaInternet]. Portarian◦ 262/2011,de 31deAgosto
de 2011. Lisboa: Diário da República; 2011 [acessado em]. Disponívelem:http://www4.seg-social.pt/documents/10152/ 53442/P2622011
16.DeGangiG,GreenspanSI.Testofsensoryfunctionsininfants. LosAngeles:WesternPsychologicalServices;1989.
17.PedrosaC,RibeiroV.Testedasfunc¸õessensoriaisemCcianc¸as. Alcoitão:Essa;2003.Monografia.
18.Hyatt KJ, Stephenson J, Carter M. A review of three con-troversialeducationalpractices:perceptual motorprograms, sensoryintegration, and tinted lenses. Educ TreatChildren. 2009;32:313---42.
19.DunnW,WestmanK.Thesensoryprofile:theperformanceof anationalsampleofchildrenwithoutdisabilities.AmJOccup Ther.1997;51:25---34.
20.BaltieriL,SantosDC,GibimNC,SouzaCT,BatistelaAC,Tolocka RE.Motorperformance of infantsattending thenurseries of publicdaycarecenters.RevPaulPediatr.2010;28:283---9. 21.EickmannSH,MacielMA,LiraPI,LimaMC.Factorsassociated
withmentaland psychomotordevelopmentofinfantsinfour publicdaycarecentersinthemunicipalityofRecife.BrazilRev PaulPediatr.2009;27:282---8.
22.CamposAC,CoelhoMC,RochaNA.Motorandsensory perfor-mance of infantswith and without Down syndrome: a pilot study.FisioterPesqui.2010;17:203---8.
23.Johnson-EckerCL,ParhamLD.Theevaluationofsensory pro-cessing:avaliditystudyusingcontrastinggroups.AmJOccup Ther.2000;54:494---503.
24.MurtaAM,LessaAC,SantosAS,MurtaNM,CambraiaRP. Cogni-tion,motoractivity,selfcare,languageandsocializationduring childrendevelopmentindaycare.RevBrasCrescimento Desen-volvHum.2011;21:220---9.
25.Soares ES, Flores FS, Piovesan AC, Corazza ST, Copetti F. Evaluation of affordances in different types of residen-ces for promoting motor development. Temas Desenvolv. 2013;19:184---7.
26.NobreFS,CostaCL,OliveiraDL,CabralDA,NobreGC,Cac¸ola P.Analysisoftheopportunities(affordances)formotor deve-lopment in thehome environmentin Ceará-Brazil. RevBras CrescimentoDesenvolvHum.2009;19:9---18.