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Participação política, efeitos e resultados em políticas públicas: notas crítico-analíticas.

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Academic year: 2017

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políticas públicas: notas crítico-analíticas

 

 

   

Alexander Cambraia N. Vaz

Projeto Democracia Participativa Departamento de Ciência Política Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo: O artigo oferece uma discussão e um modelo de análise sobre as potenciais influências da categoria “participação política” na distribuição de bens e serviços públicos em municípios brasileiros. Mais especificamente, coteja associações entre grau de participação em nível local e qualidade da oferta de tais equipamentos em áreas específicas, notadamente, saneamento, saúde e assistência social. Para isso, em oito municípios brasileiros são levantados aspectos gerenciais cruciais que, sugere-se, são passíveis de influência por políticas de cunho participativo.

Palavras-chave: participação política; avaliação de políticas públicas; distribuição; teoria democrática; estudos de política local

Abstract: The paper discusses potential linkages between political participation and the distribution of public goods and services at the local level. It considers a relation between greater participation and a better performance on the offer of public goods by governments by analyzing variables associated to managerial aspects. The study was conduced in eight Brazilian cities.

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Introdução1

Incitado, em grande medida, pela promulgação da Constituição de 1988, o fenômeno da institucionalização da participação política tem se diversificado e aumentado no Brasil, servindo de base e aporte ao desenvolvimento de literatura correlata na seara da teoria democrática contemporânea (AVRITZER, 2006; SANTOS, 1998; SANTOS e AVRITZER, 2003; COELHO e NOBRE, 2004). Grande parte dos estudos esteve voltada basicamente à investigação de fatores que condicionariam o funcionamento e o êxito de instituições participativas2,

pressupondo, a partir disso, dada influência nas decisões tomadas por governos locais (VAZ, 2009, 2011; DAGNINO, 2002; FUNG & WRIGHT, 2003; TATAGIBA, 2004). Pouca atenção tem sido dedicada, todavia, aos efeitos output dessas instituições, isto é, se, em que medida, em que sentido e sob quais condições

processos e decisões em políticas públicas podem factualmente ser influenciados por procedimentos dessa natureza (VAZ e PIRES, 2011).

Este artigo se insere nessa discussão, ainda que, com um objetivo mais modesto em relação à envergadura do desafio colocado. Pretende-se, com base na metodologia de matched-pairs3, somente cotejar potenciais associações entre

algumas características de determinados municípios brasileiros no tocante a variáveis ligadas às categorias “participação política” e “gestão e administração pública”. Efetivamente, não se constitui como objetivo o estabelecimento factual de efeitos, impactos ou mesmo relações explícitas de causalidade entre as variáveis elencadas, mas, antes, demonstrar o comportamento de algumas variáveis de resultado em políticas públicas sob o controle de variáveis ligadas a características de participação política e a características de fundo contextual, socioeconômicas e demográficas.

O trabalho está organizado da seguinte forma. Na próxima seção, realiza-se discussão sobre o crescimento e a diversificação de políticas de participação social no Brasil, enfatizando-se, principalmente, sua presença em nível local como realidade inevitável para a gestão em políticas públicas. Em seguida, na terceira seção, discute-se alguns estudos que pretenderam avanços na análise dos efeitos destas políticas sobre a administração pública. A quarta seção explicita a metodologia de matched-pairs como uma alternativa analítica e mais uma via de estudos em relação a estes trabalhos. A quinta seção traz à baila e analisa, com       

1 Agradeço aos pareceristas da Revista OPINIÃO PÚBLICA pelos comentários à versão anterior deste

artigo.

2 Instituições que propiciam a participação da chamada sociedade civil nas decisões sobre políticas

públicas (AVRITZER, 2002). Grosso modo, dois tipos mais conhecidos são os Conselhos Gestores (GOHN, 2001; COELHO, 2004) e o Orçamento Participativo (AVRITZER e NAVARRO, 2003; AVRITZER e VAZ, 2008).

3 Consiste em uma técnica de controle de variáveis e análise (VAZ e PIRES, 2011) e será mais bem

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base neste referencial metodológico, dados empíricos ligados às temáticas da participação social, da gestão pública e de caráter contextual (político e socioeconômico) de oito municípios brasileiros, a saber, Vitória da Conquista, Ilhéus, Juiz de Fora, Uberlândia, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Poços de Caldas e Montes Claros4. A última seção é dedicada às considerações finais.

Políticas participativas em voga

Há pelo menos duas décadas, especialmente após a promulgação da Constituição de 1988, o fenômeno da participação política tem crescido e se diversificado no Brasil, especialmente ao nível municipal (TATAGIBA, 2004; GOHN, 2001; AVRITZER e NAVARRO, 2003; VAZ, 2009, 2011; DAGNINO, 2002; CUNHA, 2007). O país tem sido visto como “um laboratório de enormes dimensões” (LAVALLE, HOUTZAGER e CASTELLO, 2006:45) acerca da criação de instituições que operacionalizam a participação dos cidadãos, particularmente no desenho e implementação de políticas públicas em áreas e temática específicas (AVRITZER, 2006; SANTOS, 1998; SANTOS e AVRITZER, 2003; COELHO e NOBRE, 2004).

Pilar central desse fenômeno, a Carta de 1988 é resultado de um intenso processo de negociação entre grupos sociais diversos que atuaram sob um contexto político-econômico em plena transformação, contando com fenômenos como o fim da ditadura militar e o aumento das chances de organização de agrupamentos opositores, o estabelecimento de um sistema multipartidário e o fortalecimento de movimentos sociais de base, como o Movimento Sanitarista e a ação da Igreja Católica (SKIDMORE,1999; MAINWARING, 1999; JACOBI, 1989). O documento previu algumas novidades na política brasileira, como a prerrogativa de descentralização política e a elevação dos municípios à categoria de entes federativos autônomos; a previsão, como direito coletivo, do acesso a bens e serviços em áreas temáticas específicas, como saúde, educação e assistência social (CUNHA, 2007); bem como, a previsão e incentivo à criação de canais institucionais que permitissem a participação dos cidadãos nos processos públicos de tomada de decisão especialmente nestas áreas5 (TATAGIBA, 2004; GOHN, 2001).

      

4 Os dados trabalhados têm caráter inédito, tendo sido coletados em pesquisas realizadas pelo “Projeto

Democracia Participativa” (Prodep), centro de estudos acerca da participação política ligado ao Departamento de Ciência Política da UFMG. Para mais informações: <www.democraciaparticipativa.org>.

5 Apenas como nota, pode-se dizer que as instituições políticas dos países da América Latina sempre

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As instituições participativas, um dos formatos possíveis assumidos por políticas de cunho participativo6, sendo os casos mais famosos no Brasil os

“Conselhos Gestores”, a experiência do “Orçamento Participativo” e as “Conferências temáticas”, têm sido, desde pelo menos o início da década de 90, amplamente disseminadas pelos municípios do país (GOHN, 2001; COELHO, 2004; AVRITZER e NAVARRO, 2003; AVRITZER e VAZ, 2008; CUNHA, 2007; AVRITZER, 2008; KECK, 1992; TATAGIBA, 2004; VAZ, 2011). A Tabela 1 fornece um panorama desse fenômeno para o caso dos Conselhos Gestores:

Tabela 1

Disseminação de conselhos nos municípios brasileiros, por área de atuação

Área de atuação 2001 2002 2004 2005 2006 2008 2009

Saúde 98% - - - - - - - - - - 98%

Assistência Social 93% - - - - - - - - - - - -

Criança e Adolesc. 77% 82% - - 93% 83% - - 91%

Educação 73% - - - - - - 68% - - 71%

Emprego/Trabalho 34% - - - - - - - - - - - -

Turismo 22% - - - - - - - - - - - -

Cultura 13% - - - - 21% 17% - - 25%

Habitação 11% - - 14% 18% - - 31% 43%

Meio Ambiente 29% 34% 37% - - - - 48% 56%

Transporte 5% - - - - - - - - 6% 6%

Política Urbana 6% - - - - 13% - - 18% - -

Orçamento 5% - - - - - - - - - - - -

Segurança Pública - - - - - - - - 8% - - 10%

Defesa Civil - - - - - - - - 26% - - - -

Esporte - - - - - - - - - - - - 11%

Direitos da Mulher - - - - - - - - - - - - 11%

Idoso - - - - - - - - - - - - 36%

Juventude - - - - - - - - - - - - 5%

Direito das P.c/Def. - - - - - - - - - - - - 9%

Fonte: MUNIC 01-09, IBGE.

Nota: ‘- -‘ indica dados não disponíveis.

        “reforma” que estaria em curso no tocante às suas bases (SANTOS, 1998; AVRITZER, 2000; HELD, 1995).

6 É mister enfatizar que, além das instituições participativas, outros canais que propiciam a participação

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Conselhos Gestores são instituições compostas de forma paritária por membros do governo e da sociedade civil para deliberação sobre as bases e condições de políticas públicas específicas7 – que variam desde a temática da

saúde, de assistência social, criança e adolescente, até a de patrimônio público e cultural (WAMPLER e AVRITZER, 2004; TATAGIBA, 2004; GOHN, 2001; DAGNINO, 2002). A Tabela 1 mostra que ao longo pelo menos da última década, o percentual de Conselhos tem aumentado significativamente, sobretudo os casos das áreas da saúde e assistência social, que, segundo as estimativas, já contariam ambas com Conselhos em mais de 90% das localidades nacionais. Além disso, segundo Cunha (2004), somando-se todos os Conselhos atualmente existentes, é possível estimar que existam 1,5 milhão de pessoas atuando nestes espaços, número que, como já apontado por Avitzer (2007), supera a quantidade atual de vereadores. No caso do Orçamento Participativo (OP), estima-se uma quantidade de participantes acima de 200 mil pessoas (WAMPLER e AVRITZER, 2008).

Não é difícil perceber que as instituições participativas conformam realidade inevitável para formuladores de políticas públicas, de uma maneira geral. A importância desse fato reside no pressuposto de que a distribuição de serviços e recursos teria por base uma variável de considerável peso, que é a presença dos próprios “impactados” para concordar, discordar ou mesmo apresentar propostas determinadas. Assim, a hipótese implícita nesse tipo de análise é a de que municípios nos quais se observasse um maior grau de institucionalização da participação seriam mais propensos a políticas redistributivas e a medidas voltadas ao aprimoramento do governo local, uma vez que relações mais intensas ente governo e cidadãos constituiriam pressões importantes nessas direções (PIRES e VAZ, 2010).

Tal como afirmamos em outros trabalhos, é possível dividir em duas grandes fases os estudos até hoje empreendidos no país com relação ao fenômeno da participação política (VAZ, 2009; 2011). Em uma primeira fase, que poderia ser considera laudatória, os teóricos estudaram o fenômeno pela ótica das implicações do aumento e ampliação desta participação política para a dinâmica democrática. Nos últimos anos, a literatura tem focado sua atenção em fatores que influenciariam o funcionamento das instâncias de participação, pressupondo dada relação entre seu adequado funcionamento e o grau de influência nas ações e tomadas de decisão do Estado8.

      

7 A consolidação dos Conselhos enquanto esferas de interlocução concretizou-se na busca de um padrão

de relacionamento entre governo e atores sociais que promovesse a partilha efetiva de autoridade entre ambos (TATAGIBA, 2002). Há três Conselhos Gestores específicos cuja presença é obrigatória para o repasse de verbas do Governo Federal referente à política pública à qual eles se ligam. São eles, o da Saúde, o da Assistência Social e o de Direitos da Criança e Adolescente (GOHN, 2001).

8 Diversas variáveis têm sido levantadas nessa linha. Wampler e Avritzer (2004), por exemplo, chamam

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Muito embora as pesquisas realizadas tenham contribuído para o avanço do próprio entendimento do papel das instituições participativas, estudos que tenham por foco a análise oposta, isto é, os efeitos do funcionamento das instituições participativas sobre a administração pública ainda são raros. Trabalhando nessa linha, alguns pesquisadores já pretenderam alguns avanços, tentando, de uma forma geral, entender os impactos distributivos efetivos ocorridos nos índices de vulnerabilidade e priorização de investimentos. A próxima seção se ocupa exatamente destes estudos.

Analisando o papel da participação

Algumas tentativas de associação entre a presença de instituições participativas e os resultados de políticas públicas em áreas diversas têm sido empreendidas recentemente na seara da literatura sobre participação social. O método base tem consistido na adoção de um conjunto de proposições que operacionalizam, de diferentes maneiras, a configuração dessas instituições como variável independente, as dimensões potenciais de impacto de suas ações e, por fim, técnicas específicas capazes de combinar essas duas variáveis sob uma perspectiva de causalidade (PIRES e VAZ, 2010).

Avritzer e Pires (2004), por exemplo, fizeram um estudo da utilização de elementos objetivos como aporte para definições orçamentárias em Belo Horizonte no âmbito do OP. Os autores mostraram que a adoção do chamado IQVU, Índice de Qualidade de Vida Urbana, serviu como ferramental importante para conferir suporte às decisões tomadas nas assembléias do programa, principalmente na perspectiva de distribuição espacial das demandas apresentadas num contexto de restrições financeiras.

Trabalhando na mesma chave de análise, Boulding e Wampler (2009) tentam estabelecer uma ligação entre existência do programa OP e melhoria do bem-estar local. As variáveis que operacionalizam o conceito de bem-estar – e que, neste sentido, são definidas como dependentes – são o IDH-M (e suas variações próprias: longevidade, renda e educação) e o índice de Gini. O OP é tomado como variável independente e dicotômica. São selecionadas outras variáveis que, teoricamente, teriam potencial explicativo sobre os resultados, em especial, a orientação ideológica do partido político no poder, a presença do PT, a região, o

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nível presente de desenvolvimento municipal e o orçamento per capita local. Lidando com dados de 1989-2000 e através da utilização de regressões, os autores concluem que, no geral, o peso relativo do OP para explicar melhorias no bem-estar é estatisticamente baixo e tem relação maior, no caso de disponibilidade de recursos no município (nos municípios com mais recursos, os resultados tendem a ser mais visíveis).

Zamboni (2007) também trabalha com o Orçamento Participativo como variável independente para avaliação de resultados e impactos, adotando a metodologia de comparação de pares. O autor lida especificamente com variáveis ligadas a uma concepção de corrupção no trato com o serviço público, baseando-se em dados de auditorias realizadas pela Controladoria-Geral da União em municípios brasileiros. Ele seleciona municípios semelhantes para alguns prospectos específicos, como renda per capita, população – dentre outros – e filtra aqueles com e sem OP. Sua análise comparativa revelou que os municípios com OP foram aqueles que, em sua maioria, tiveram menos indícios de práticas graves de corrupção.

Na cidade de Porto Alegre, Marquetti (2003; 2005) demonstrou que o percentual de investimentos públicos tende a aumentar à medida que se observa um maior grau de pobreza nas regiões da cidade.

Em Marquetti, Campos e Pires (2008), observamos uma série de estudos de caso de experiências de participação e seus respectivos impactos em áreas específicas. Diversos municípios são tomados como objeto de estudo em análises que lidam, em sua maioria, com o OP como objeto e investigam sua capacidade redistributiva, tomando-o, no geral, como variável independente e com significativo poder preditivo/explicativo de variações de resultados em temáticas determinadas, como a fiscal e a social.

A análise deste conjunto de estudos, que toma por objetivo o estabelecimento de uma associação entre políticas participativas e resultados em políticas públicas, incita pelo menos duas conclusões. Em primeiro lugar, estes estudos caracterizam-se por um alto grau de especialização do objeto de estudo. Este breve apanhado já foi capaz de sugerir uma concentração em um tipo específico de instituição participativa, notadamente o OP. Em segundo lugar, é possível notar uma preferência pela metodologia de estudos de caso do que por um método de cunho comparativo. Singular nesse entremeio, e compreendida como técnica alternativa cujas bases conseguem lidar diferentemente com estes elementos, potencializando diferentes tipos de análises nesse sentido, o método

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Participação e políticas públicas: resultados

A análise de pares contra-factuais pretende a comparação de municípios com características socioeconômicas e socio-demográficas semelhantes com fins de verificação de variabilidade de outras dimensões de interesse, como no caso de indicadores de oferta de serviços em áreas específicas (ZAMBONI, 2007). É um método que estabelece, portanto, variáveis de controle específicas e possibilita investigar a variação de diversos fatores para os casos em análise e atribuí-las, em alguma medida, ao comportamento das primeiras.

Tal como pontuado em Vaz e Pires (2011):

“trata-se de um procedimento que considera uma variável de interesse Y e uma intervenção ou tratamento W

i. Wi pode assumir valores 0 ou

1, mas nunca ambos. Zero indica a ausência do tratamento, em nosso caso a ausência (ou insucifência) de instituições participativas. Portanto, Y

i = Yi(Wi) será o resulto de uma variável de interesse (por

exemplo, qualidade da gestão ou investimentos em saúde, etc.) quando a variável de tratamento esteja presente ou não em um dado município i. A questão central, então, se torna a diferença entre Y

i(1) e

Y

i(0). Entretanto, para um município com o tratamento, apenas Yi(1) é

observável, enquanto que o resultado contrafactual - por exemplo, investimento em saúde – na ausência do tratamento para o mesmo município Y

i(0) não é observável e, por isso, precisa ser estimado

utilizando-se os resultados observados em um município muito semelhante não submetido ao tratamento. Partindo do princípio de que a única diferença relevante entre os municípios é a sua condição em relação à ausência e presença do tratamento – isto é, ausência ou presença (ou qualidade) de instituições participativas -, quaisquer diferenças entre os resultados e o desempenho observado entre os municípios pode ser associado à operação de instituições participativas” (VAZ e PIRES, 2011:4 – no prelo).

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orçamento municipal e realiza-se uma análise comparativa de alguns indicadores de resultado em áreas específicas, como as fiscal/tributária e social. O OP, assim, é tomado como variável independente, mas seu peso para a melhoria de indicadores de resultado é mensurado basicamente a partir de casos nos quais o programa não está presente.

Trabalhando com a técnica, vale a pena mencionar o trabalho de Pires e Tomás (2007), que adotam a metodologia de pares para análise de efetividade de instâncias participativas, mas ampliando o objeto de pesquisa. Os autores tomam por unidade de análise a presença de um conjunto de instituições participativas, composto pelo OP, Conselhos gestores e outras. A esse conjunto é dado o caráter de variável independente e, ao tomá-lo por base, os autores empreendem uma comparação de pares de municípios, selecionados de acordo com variáveis de controle específicas, como o tamanho populacional, a renda per capita, os níveis de associativismo, entre outras, para resultados específicos de indicadores das áreas de arrecadação tributária e dispêndios em serviços públicos, como saúde, educação e assistência social. Os resultados encontrados para os casos estudados sugeriram uma correlação positiva entre presença de instituições participativas e melhoramento destes indicadores.

Na mesma linha, Pires e Vaz (2010) empreendem uma análise sistemática de uma amostra de municípios brasileiros, comparando variações no número de instituições participativas e resultados para alguns indicadores de cunho fiscal, administrativo e social. Os autores elaboram uma proposta de índice que tenta medir variações no grau de presença dessas instituições em determinado município, chamado de Índice Municipal de Institucionalização da Participação (IMIP).

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Desenvolvendo a análise: a participação em foco

Com base no exposto, fica claro que a utilização de uma metodologia tal qual a de pares-contrafactuais pode ensejar contribuições relevantes na temática da participação política, notadamente na sua relação com resultados apresentados por políticas públicas específicas. Face às dificuldades impostas pelo próprio objetivo dos estudos, bem como no que concerne ao estabelecimento de relações de causalidade ou mesmo de associação entre variáveis nas ciências sociais de uma forma geral, o matched-pairs revela-se uma alternativa plausível, principalmente em função das características mencionadas na última seção.

Tal constatação sugere que vale a pena utilizar essa técnica para cotejar os objetivos desse trabalho, especialmente em função do número, diversidade e tipos de casos sob análise, seja no tocante às cidades, seja no tocante à operacionalização da categoria “participação política”. Com vistas a tal tarefa, algumas características importantes da metodologia devem ser analisadas e levadas em consideração.

O primeiro pressuposto concerne ao Estado ou região de origem das cidades. Deve-se priorizar a escolha de casos que comunguem essa primeira característica, porque estudos anteriores, como em Avritzer (2007), já demonstraram que há uma relevante variabilidade, por exemplo, no grau de associativismo entre os Estados e entre regiões, como nos casos do Estado do Rio Grande do Sul e da região Nordeste. Assim, ao se escolher casos pertencentes a Estados e regiões iguais, poder-se-á atribuir um fraco grau de influência dessa característica em eventuais variações das variáveis de resultado.

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Estratégia de análise

Efetivamente, vale observar, o atendimento completo a estas restrições metodológicas configura desafio significativo quando buscamos casos empíricos para análise. O que se pretende, para este trabalho, é conhecer, sob condições de relativa semelhança para algumas variáveis (o que poderíamos chamar de “controle”), o comportamento de determinadas variáveis de resultado em uma perspectiva comparada, diferenciando os casos em relação aos seus respectivos graus de participação – considerando municípios segundo o grau de participação política. Seguindo esses critérios e em função da disponibilidade de dados, conseguimos escolher um total de 8 municípios para comparação em pares.

Contextos e semelhanças

Os dados apresentados para análise neste artigo compreendem um conjunto de oito municípios pesquisados no âmbito de trabalhos realizados pelo “Projeto Democracia Participativa”, núcleo de estudos vinculado ao Departamento de Ciência Política da UFMG. A Tabela 2 explicita as informações dos casos elencados:

Tabela 2

Dados socioeconômicos e demográficos para os municípios da amostra

UF Município População Taxa de urbanização

Renda per capita

Gini IDH-M Taxa alfabetizaçã

o

Sobrevivência até 60 anos

PIB

(p/ 1.000 hab – R$)

BA Vitória da

Conquista 262494 85,9 204,9 0,63 0,708 80,22 71,23 5.166

BA Ilhéus 222127 73,0 170,22 0,64 0,703 79,4 73,54 3.805

MG Juiz de

Fora 456796 99,2 419,4 0,58 0,828 95,3 83,17 8.091

MG Uberlândia 501214 97,6 389,32 0,56 0,83 94,55 84,99 10.253

RS São

Leopoldo 193547 99,7 370,06 0,55 0,805 95,22 77,68 7.847

RS Novo

Hamburgo 236193 98,2 390,95 0,55 0,809 94,99 79,74 9.683

MG Poços de

Caldas 135627 96,5 435,56 0,56 0,841 94,32 89,5 8.963

MG Montes

Claros 306947 94,2 245,43 0,62 0,783 90,08 82,7 5.840

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A Tabela 2 revela que as cidades elencadas para comparação estão conformadas com pelo menos dois pressupostos restritivos da metodologia em pauta. Em primeiro lugar, cada par de municípios advém não apenas da mesma região, mas do mesmo Estado. Esse fato é importante porque já indica que, pelo menos em certa medida, variações significativas em relação ao grau de associativismo tendem a ser amenizadas9. Em segundo lugar, existem semelhanças

entre alguns indicadores socioeconômicos de base para cada par de casos.

No que tange ao quesito populacional, observamos diferenciações significativas nos pares Poços de Caldas/ Montes Claros e São Leopoldo/ Novo Hamburgo – especialmente neste último caso, no qual a diferença supera os 100%. Não obstante, em função da semelhança para os demais indicadores, podemos afirmar que essas discrepâncias podem ser amenizadas. Além disso, esse argumento também é reforçado ao considerarmos que esses valores se encontram nas mesmas faixas populacionais quando consideramos as indicações e normativas de órgãos como o IBGE e o Ipea, por exemplo10.

O segundo indicador considerado consiste na taxa de urbanização dos municípios. Neste caso, observa-se que, no geral, eles se caracterizam majoritariamente por contextos urbanos, com uma taxa média de urbanização de 93,2%. A única diferença significativa é encontrada no primeiro par, referente aos municípios de Vitória da Conquista e Ilhéus. Além desse aspecto, os casos elencados se caracterizam por uma renda per capita que tende a variar entre os pares. As semelhanças mais significativas são encontradas nos casos Juiz de Fora/ Uberlândia e São Leopoldo/ Novo Hamburgo, com uma diferença média de 6,7%. Os demais pares, a seu turno, apresentam diferenças relativamente maiores. O par Vitória da Conquista/ Ilhéus apresenta uma discrepância de 16,9% e o par Poços de Caldas/ Montes Claros conta com um percentual de 77%. O fato desse último percentual ser significativo pode ser compensado, ainda que em parte, pelo fato de que ambos os municípios apresentam uma renda per capita relativamente alta, isto é, não é o caso de um apresentar uma renda muito baixa e o outro uma renda muito alta, mas podemos dizer que a faixa é praticamente a mesma.

Quando observamos os indicadores de Gini e IDH municipal, constatamos relativa semelhança para todos os pares. No geral, a média do Gini ficou em 0,59, o que indica que, em termos de desigualdade local, os casos encontram-se numa

      

9 Reconhece-se, logicamente, que dentro de um mesmo Estado pode haver diferenciações entre regiões

específicas, o que levaria a diferenciações também para esta variável. Poços de Caldas, por exemplo, localiza-se no sul de Minas Gerais, ao passo que Montes Claros se localiza no Norte. Não obstante, as análises têm demonstrado que essas variações intra-estaduais tendem a ser menos significativas em relação àquelas de caráter inter-estaduais. Vide Avritzer (2007).

10 Especialmente nas pesquisas do IBGE, como os Censos e as PNADS, é possível observar que uma das

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posição intermediária, já que, para este índice, a proximidade do valor 1 significa aumento das desigualdades. A maior média, de 0,64, concerne ao par Vitória da Conquista/ Ilhéus, ao passo que a menor média concerne ao par São Leopoldo/ Novo Hamburgo, com 0,55. No caso do IDH-M, observa-se uma média geral de 0,78 aproximadamente, indicando situação relativamente favorável em termos de desenvolvimento humano, se considerarmos que a média dos municípios brasileiros não passa de 0,49. Neste caso, a proximidade do valor 1 indica melhoria do conjunto de elementos mensurados, sendo que a maior média, de 0,829, concerne ao par Juiz de Fora/ Uberlândia, ao passo que a pior média (que, ainda assim, é melhor que a média nacional), concerne ao par Vitória da Conquista/ Ilhéus, com 0,7.

Os dois indicadores seguintes, Taxa de alfabetização e Probabilidade de sobrevivência até os 60 anos, reforçam o caráter de semelhança entre os municípios analisados. Não se observa, por exemplo, diferenças significativas dentre os pares no que tange à taxa de alfabetização, sendo que melhor média, de 95,1%, fica com o par São Leopoldo/ Novo Hamburgo, e a pior média, 79,81%, com o par Vitória da Conquista/ Ilhéus. Vale dizer, a média geral, de 90,51%, é notavelmente maior do que média nacional, de 78,1%. Ao analisarmos o indicador demográfico de sobrevivência até os 60 anos, também não notamos diferenças significativas dentre os pares, sendo a maior média, de 86,1, observada no par Poços de Caldas/ Montes Claros, e a pior média vista no par Vitória da Conquista/ Ilhéus, com 72,3. Também para este indicador, vale dizer, a média geral, de 80,3, é maior do que a média nacional de 76,1, aproximadamente.

Em último lugar, como forma de demonstrar semelhança entre os pares elencados, foi selecionado o indicador do Pib por mil habitantes. No geral, os municípios têm um Pib de mais de R$ 7.000,00 para cada grupo de 1000 habitantes. Pode-se afirmar, ademais, que existe uma discrepância média de aproximadamente R$ 2.500,00 para cada par, muito embora os municípios contemplados em cada um se encontrem em faixas deveras semelhantes. O par Poços de Caldas/ Montes Claro, por exemplo, está numa faixa média de R$ 7.000,00, ao passo que os municípios do par Vitória da Conquista/ Ilhéus encontram-se numa faixa média de R$ 4.500,00.

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A importância disso reside no fato de que grande parte dos estudos sobre políticas participativas têm apontado que as iniciativas de estabelecimento dessas políticas concerne, em grande medida, aos governos (WAMPLER e AVRITZER, 2008). Estes últimos é que teriam capacidade de estabelecer canais institucionais para participação – como os Conselhos Gestores e outras iniciativas, como o OP, os Planos Diretores, dentre outros – e incentivar o estreitamento das relações com os cidadãos. Os estudos têm apontado que existe uma “vontade política” maior dos partidos de esquerda em realizar tal tarefa, comparativamente aos tradicionais partidos de direita. Assim, cada par será analisado em relação aos seus respectivos contextos político-econômicos.

O par Vitória da Conquista/ Ilhéus

Em termos econômicos, Vitória da Conquista e Ilhéus são cidades significativamente distintas. Na primeira, a base econômica municipal concerne ao comércio e prestação de serviços. Nas últimas décadas, observa-se relevante expansão industrial, fazendo com que o município se localize, regionalmente, dentre aqueles que mais se desenvolveram. Ilhéus, a seu turno, conta com a agricultura como base econômica, especialmente na plantação de cacau. Pode-se dizer que os principais desenvolvimentos industriais resvalam na tentativa de aumento da produção do produto.

Politicamente, Ilhéus tem sido governada, pelo menos nos últimos 30 anos, por grupos tradicionalistas de direita. Apenas em uma gestão o controle foi assumido por um grupo de centro-direita, na gestão de Antônio Olimpo, do PDT. Já em Vitória da Conquista, o governo tem ficado a cabo de grupos esquerdistas com cada vez maior intensidade desde o fim da ditadura. Existe considerável atuação de movimentos sociais e um papel importante desempenhado pelas Igrejas, tanto católicas, quanto evangélicas.

O par Juiz de Fora/ Uberlândia

A análise deste par permite perceber informações relevantes. Economicamente, Juiz de Fora caracteriza-se pelo incentivo a políticas de industrialização, bem como pelo incentivo ao comércio de bens e serviços, sendo que só o setor de indústrias compõe quase 48% do PIB municipal. Uberlândia conta principalmente com o setor de serviços como um componente relativamente alto do PIB municipal, muito embora a cidade também se ancore, ainda que em menor grau, na atividade agropecuária como pilar de desenvolvimento.

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redemocratização. A partir da década de 1970, houve um crescimento importante do número de associações e sindicatos municipais, e na década de 1990, as administrações que se sucederam incentivaram políticas de descentralização, em especial pela presença de partidos de tendências de esquerda no poder. Em Uberlândia observa-se uma alternância de poder entre partidos de tendência esquerdista e de direita, especialmente na década de 90. Governos do PT, por exemplo, enfrentaram significativas dificuldades para implantação da política de Orçamento Participativo no município, especialmente em função de oposições advindas da própria estrutura administrativa local.

O par São Leopoldo/ Novo Hamburgo

Os municípios de São Leopoldo e Novo Hamburgo comungam de um tipo específico de atividade econômica, que é a indústria de calçados. Seus respectivos parques industriais se igualam em nível de produtividade, bem como têm históricos semelhantes de crescimento e desenvolvimento, ocorridos principalmente nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Uma diferença importante, no entanto, é observada a partir dos anos 1990, quando Novo Hamburgo tende a diversificar sua atividade econômica, em especial com investimentos específicos nos setores de serviço e educação.

Politicamente, pelo menos desde a década de 1990, ambas as cidades têm sido governadas por partidos de centro-direita. Novo Hamburgo, em especial, tem contado com revezamentos entre partidos como PSDB, PMDB e PDT. Já em São Leopoldo, pelo menos nos últimos anos têm sido observadas determinadas mudanças neste padrão. A última gestão, composta por partidos como o PT, o PC do B e o PV, causou uma ruptura na presença contínua de gestões ocupadas pelo PMDB e PTB que se prolongavam desde pelo menos a década de 1980. Além disso, desde a década de 1970 já se observava maior efervescência de movimentos sociais e associações na busca por participação nos processos decisórios, sendo criado, já na época, o chamado “Conselho de Desenvolvimento Comunitário”.

O par Poços de Caldas/ Montes Claros

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ser governada por uma coalizão entre PT e PSB a partir de 2005. Desde a gestão de 2001, Poços de Caldas já contava com experiências de OP, ao passo que em Montes Claros o programa só teve a sua primeira rodada efetiva em 2008.

Operacionalizando a categoria “participação política”

Além de indicadores socioeconômicos e contextos políticos, a metodologia em pauta indica a necessidade de controle das variáveis de interesse para comparação. Neste trabalho, essa variável consiste na categoria “participação política”, composta de mais de uma variável, como será visto. Neste caso, existe uma inversão de lógica para comparação. Se nas variáveis anteriores procuramos demonstrar semelhanças entre os municípios de cada par, neste caso é preciso demonstrar discrepâncias entre cada um.

A própria análise dos contextos políticos de cada município já forneceu pistas importantes para uma visão geral do grau de associativismo nestes locais. Com base nestes históricos, podemos observar que, por exemplo, Vitória da Conquista tem maior propensão à adoção e ao desenvolvimento de políticas participativas do que Ilhéus. Neste mesmo sentido, os históricos levam a especular que Juiz de Fora, São Leopoldo e Poços de Caldas são cidades com maior tendência participativa do que seus respectivos pares. Não obstante, é preciso uma medida de mensuração da categoria “participação política” que perpasse estas observações e indique, objetivamente, o quanto a participação ocorre nestes lugares.

Monitoramento e variáveis

Para os fins deste artigo, a participação política será operacionalizada através da construção e correlação de três indicadores simples, apresentados e discutidos em outro trabalho, ainda que sob focos e objetivos específicos (PIRES e VAZ, 2010). O primeiro indicador refere-se à “densidade da participação política” -

IPDENS. Ele mensura a quantidade de instituições participavas existentes no município e é dado por:

IPDENS = (CONSMED *1) + (OP * CONSMED) + (OUTRA * (CONSMED/3)) (1)

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menor peso relativo, já que, no geral, essas instituições tendem a contribuir menos para o grau de participação do que as anteriores (AVRITZER e NAVARRO, 2003; KECK, 1992). A média de Conselhos (CONSMED) é utilizada como proxy geral o incremento marginal do OP tende a ser maior do que o de Conselhos, em termos de variabilidade do grau de participação.

O segundo indicador, IPDIVER, busca captar a diversidade de instituições participativas presentes no município, bem como a variedade de áreas de políticas públicas sob “cobertura”de políticas de cunho participativo. Ele é dado por:

IPDIVER = OP + OUTRA + CONSVARD [escala: 0 a 3] (2)

A diversidade de instituições e áreas de políticas públicas sob enfoque participativo é captado pelo somatório da existência (ou não) de OP (OP = 0 ou 1), a existência (ou ausência) de outras instituições participativas (OUTRA = 0 ou 1) e, por fim, uma medida (CONSVARD) que correlaciona municípios que contam com o mínimo de Conselhos Gestores, notadamente aqueles requeridos por lei para o repasse de recursos, aos municípios que, além destes últimos, já tenham implantado, por “vontade própria”, Conselhos Gestores em outras áreas temáticas. Se o município não contempla sequer os obrigatórios, ele não pontua. Se, na média, contempla apenas os Conselhos obrigatórios, ou um volume de pelo menos 3 Conselhos, ele pontua em 1. Se o município possui, na média, além dos obrigatórios, até mais 10 Conselhos, ele consegue 2 pontos. Se ele possui, na média, mais de 13 Conselhos, a pontuação é de 3 pontos (o somatório de 13 Conselhos é um número médio observado em outros estudos, PIRES e VAZ, 2010).

O terceiro indicador, IPDUR, busca mensurar a longevidade, ou a durabilidade, das instituições participativas em determinado município. Alguns estudos já demonstraram uma correlação positiva entre o tempo de duração de entidades participativas e o grau de “pressão” exercida sobre os governos (WAMPLER e AVRITZER, 2008; GRAZIA e RIBEIRO, 2003). Ela é dada por:

IPDUR = OPDUR + OUTRADUR +((CONSDIFINT/%CONSDIFINT)* y=3) (3)

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percentual dessa diferença (com fins de amenizar o efeito do crescimento do número de Conselhos). Esse resultado é multiplicado por uma constante y de valor 3 (medida que expressa o número de Conselhos obrigatórios, exigidos por lei). O cálculo dessa variável é ligeiramente diferente do que em outras oportunidades (PIRES e VAZ, 2010).

Após o cálculo desses indicadores, é feito um procedimento simples de normalização numa escala de 0 a 1, com fins de facilitar a análise e a compreensão dos valores encontrados. Em seguida, estabelece-se uma soma simples entre cada um conforme visto abaixo:

(IPDENS + IPDIVER + IPDUR)/3 = grau associativismo município (4)

O valor encontrado é uma variante de escala 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo de 1, pode-se presumir maior o grau de associativismo e de propensão a políticas participativas do município. A seu turno, quão mais próximo de 0, menores tendem a ser tal propensão.

A análise dos dados

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Tabela 3

Número de Conselhos por gestão e presença de Orçamento Participativo e outras instituições participativas nos municípios – indicador IPDENS

Número de Conselhos por gestão IPDENS

UF Município 1997-2000

2001-2004

2005-2008

Média Conselhos

OP OUTRA

Absoluto Normalizado

BA Vitória da

Conquista 20 21 21 20,7 1 1 48,2 0,735

BA Ilhéus 16 17 19 17,3 0 0 17,3 0,264

MG Juiz de Fora 20 22 25 22,3 1 1 52,1 0,691

MG Uberlândia 3 15 17 11,7 1 0 23,3 0,309

RS São Leopoldo 7 10 15 10,7 1 1 24,9 0,609

RS Novo Hamburgo 14 15 19 16,0 0 0 16,0 0,391

MG Poços de Caldas 5 13 23 13,7 1 1 31,9 0,648

MG Montes Claros 7 12 20 13,0 0 1 17,3 0,352

Fonte: Pesquisa Democracia, Desigualdade e Políticas Públicas no Brasil, 2009 – PRODEP/UFMG

O que pode ser afirmado pela análise desses dados é que, através da medição do IPDENS, existem diferenciações importantes dentre os pares de municípios. Como ilustração, os casos de Vitória da Conquista e Ilhéus, podem ser considerados emblemáticos. Enquanto a primeira alcançou um valor de 0,735, a outra pontuou por volta de 0,264. Consistentemente, pode-se observar que os demais pares se diferenciam de maneira significativa, exatamente neste sentido, sendo que Juiz de Fora, São Leopoldo e Poços de Caldas encontram-se em situação relativamente melhor.

Tabela 4

Variabilidade da quantidade e tipo de instituições participativas – indicador IPDIVER

CONSVARD IPDIVER

UF Município Média Conselhos

Contempla

obrigatórios Pontuação

OP OUTRA

Absoluto Normalizado

BA Vitória da Conquista 20,7 Sim 3 1 1 5 0,625

BA Ilhéus 17,3 Sim 3 0 0 3 0,375

MG Juiz de Fora 22,3 Sim 3 1 1 5 0,625

MG Uberlândia 11,7 Sim 2 1 0 3 0,375

RS São Leopoldo 10,7 Sim 2 1 1 4 0,571

RS Novo Hamburgo 16,0 Sim 3 0 0 3 0,429

MG Poços de Caldas 13,7 Sim 3 1 1 5 0,625

MG Montes Claros 13,0 Sim 2 0 1 3 0,375

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Assim como a tendência encontrada no indicador anterior, existe discrepância entre os pares no que tange à diversidade de instituições presentes nos seus respectivos municípios. Isso é verdadeiro exatamente para as cidades elencadas anteriormente como estando em melhor situação em termos de densidade associativa: Vitória da Conquista, Juiz de Fora, São Leopoldo e Poços de Caldas (Tabela 4).

Em último lugar, o indicador ligado à durabilidade das instituições, IPDUR, pode ser visto na Tabela 5:

Tabela 5

Duração, em número de gestões, das instituições participativas dos municípios da amostra – indicador IPDUR

CONSDIFINT IPDUR

UF Município Dif #

Conselhos % Valor

OPDUR OUTRADUR

Absoluto Normalizado

BA Vitória da

Conquista 1 5,0 0,60 2 1 3,60 0,882

BA Ilhéus 3 18,8 0,48 0 0 0,48 0,118

MG Juiz de Fora 5 25,0 0,60 1 1 2,60 0,705

MG Uberlândia 14 466,7 0,09 1 0 1,09 0,295

RS São Leopoldo 8 114,3 0,21 1 3 4,21 0,909

RS Novo Hamburgo 5 35,7 0,42 0 0 0,42 0,091

MG Poços de Caldas 18 360,0 0,15 1 1 2,15 0,640

MG Montes Claros 13 185,7 0,21 0 1 1,21 0,360

Fonte: Pesquisa Democracia, Desigualdade e Políticas Públicas no Brasil, 2009 – PRODEP/UFMG

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Tabela 6

Média comparada dos indicadores de instituições participativas dos municípios da amostra

UF Município IPDENS IPDIVER IPDUR Média

pares

Média geral

BA Vitória da

Conquista 0,735 0,625 0,882 0,747 0,199

BA Ilhéus 0,264 0,375 0,118 0,252 0,067

MG Juiz de Fora 0,691 0,625 0,705 0,674 0,184

MG Uberlândia 0,309 0,375 0,295 0,326 0,089

RS São Leopoldo 0,609 0,571 0,909 0,697 0,168

RS Novo

Hamburgo 0,391 0,429 0,091 0,303 0,064

MG Poços de

Caldas 0,648 0,625 0,640 0,638 0,145

MG Montes Claros 0,352 0,375 0,360 0,362 0,083

Fonte: Pesquisa Democracia, Desigualdade e Políticas Públicas no Brasil, 2009 – PRODEP/UFMG

Os dados da Tabela 6 são factualmente relevantes do ponto de vista do referencial teórico-metodológico aqui aportado. Em primeiro lugar, ao observamos a variável média pares, analisamos a pontuação relativa alcançada por cada município seguindo a fórmula (4), sob uma perspectiva relativa entre os casos de cada par. Assim, vale observar que, muito embora sejam semelhantes sob diversos aspectos, tal como pontuado linhas acima, existe uma tendência sistemática de diferenciação dos municípios pareados no que tange à adoção de políticas participativas, dado que suas respectivas pontuações sistematicamente se aproximaram mais do valor 1, do que os seus respectivos pares.

Em segundo lugar, a variável média geral estabelece uma comparação entre todos os casos da amostra. Assim, podemos afirmar que, relativamente, para o conjunto de dados, Vitória da Conquista alcança a maior pontuação em termos participativos (0,199), seguida de Juiz de Fora (0,184), São Leopoldo (0,168) e Poços de Caldas (0,145). A menor pontuação deu-se no município de Novo Hamburgo (0,064), que ficou, inclusive, ligeiramente menor que a de Ilhéus (0,067), o que pode ser explicado, ainda que em parte, pelo fato de Ilhéus ter aportado uma média de Conselhos (CONSMED) pouco maior que a de Novo Hamburgo nas últimas três gestões, respectivamente, 17,3 e 16 Conselhos por gestão.

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dimensões política, econômica e social. Dados e indicadores como Gini, IDH-M, população, PIB, dentre os demais vistos, apresentaram uma relativa semelhança que permitiu embasar tal afirmação.

Entretanto, ao analisarmos os contextos político e econômico de cada caso, notou-se algumas discrepâncias importantes. Em especial, para os casos de Vitória da Conquista, Juiz de Fora, São Leopoldo e Poços de Caldas, observou-se uma participação relativamente maior no comando político de partidos de tendência centro-esquerda, ao passo que, para os demais casos, essa tendência foi mais forte em relação a partidos de centro-direita. Além disso, diferenças econômicas importantes se apresentaram, sendo que esses municípios apresentaram maior tendência à adoção de políticas de diversificação econômica do que os seus respectivos pares.

É interessante observar que, ao operacionalizarmos a categoria participação política, essas tendências puderam ser quantificadas. A metodologia levou em consideração elementos como a presença de tipos e volumes específicos de instituições participativas nos municípios, e sua duração ao longo do tempo. Ao cabo, observa-se que os municípios que foram governados em maior medida por partidos de centro-esquerda e que buscaram políticas de diversificação de suas respectivas atividades econômicas, constituem exatamente aqueles que, para esta amostra, apresentaram melhores resultados quanto ao incentivo à adoção de políticas de cunho participativo.

Esses resultados sugerem que vale a pena cotejar mais dados que possam sustentar essa relação. Em especial, dados sobre resultados de políticas públicas em áreas específicas podem ser trabalhados. A intenção, vale relembrar, não consiste no estabelecimento efetivo de correlação e de relações explícitas de causalidade entre tais dimensões, mas, antes, verificar factualmente a situação da oferta de bens e serviços dessa natureza em municípios com graus diferenciados de participação política, considerando a semelhança e, portanto, a tendência à diminuição de efeitos de variáveis intervenientes específicas, quais sejam, aquelas de caráter socioeconômico e demográfico elencadas linhas acima.

A situação de oferta de bens e serviços públicos

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Sanitarista. Grosso modo, este movimento teve fundamental importância para a discussão das disposições constitucionais que fundaram as bases do SUS (Sistema Único de Saúde), por exemplo.

A segunda dimensão concerne à área de assistência social. Essa temática tem ganhado importância e status efetivo de política pública principalmente na última década no país e já se tem demonstrado que, factualmente, é um campo que conta com relevante grau de envolvimento e participação social. Por fim, pretendemos cotejar dados relacionados à legislação e instrumentos de planejamento público dos municípios, dado que podem expressar o compromisso dos governantes em legislar, por exemplo, normas relacionadas ao estabelecimento de planos plurianuais e de planos de investimentos locais de longo prazo.

Saneamento básico

Para a análise de dados sobre saneamento básico, foram escolhidas algumas variáveis importantes de expressar a situação em determinado município, levando em consideração uma perspectiva temporal. Isso quer dizer que se pretende, não somente, a análise dos indicadores, mas, principalmente a observação de sua transformação ao longo do tempo. Para todos os casos, nessa dimensão, considera-se a família como unidade básica de análise. Além disso, com fins de análise, serão esquematizadas duas operações básicas para a comparação dos municípios. Primeiramente, utiliza-se uma operação de comparação das médias das diferenças observadas entre valores aferidos dos indicadores dentre cada par. Essa diferença consiste apenas no somatório das diferenças observadas entre cada par de municípios para cada ano. Em segundo lugar, ainda considerando os municípios dentre cada par, mensura-se a variabilidade da média observada ao longo do período considerado.

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Tabela 7

Percentual de famílias que vivem em domicílio com escoadouro a céu aberto

UF Município 1998 2001 2005 2008

BA Vitória da

Conquista 18,58 15,75 13,70 12,04

BA Ilhéus 36,09 30,19 29,04 22,11

MG Juiz de Fora 2,17 1,73 2,21 2,61

MG Uberlândia - 4,70 3,24 2,97

RS São Leopoldo 20,92 25,49 18,42 14,35

RS Novo

Hamburgo 35,06 34,75 31,76 27,06

MG Poços de

Caldas - 9,74 5,59 4,72

MG Montes Claros 8,38 5,49 4,23 3,97

Fonte: DataSUS. Disponível em: <www.datasus.gov.br>. Acesso em: 25 maio 2011.

Os dados indicam que, no período 1998 a 2008, existem diferenças importantes dentre os pares que valem ressaltar. Desde logo, destaca-se que para que a comparação para todos os pares seja possível, os dados serão computados para o período acima de 2001, pois para pelo menos dois casos não há informações disponíveis. Ponderado isso, primeiramente, vale analisar a diferença média de percentual.

Ao considerarmos o primeiro par, Vitória da Conquista/Ilhéus, identificamos que essa diferença, para o período em voga, é de aproximadamente 13,28%, sendo uma média de 13,83% para Vitória da Conquista e de 27,11% para Ilhéus. Essa diferença observada informa que, em média, essa última cidade tem 13,28% a mais de famílias que não têm acesso ao tipo de serviço considerado do que a primeira. No caso do segundo par, Juiz de Fora e Uberlândia, a diferença média é 1,45%, sendo que média da primeira, Juiz de Fora, é de 2,19% e a média da última, Uberlândia, é de 3,64%. No caso do terceiro par, São Leopoldo e Novo Hamburgo, a diferença média é 15,1%, sendo o percentual da primeira cidade de 19,42% e o da segunda, 31,19%. Para o último par, a diferença média observada é de 2,12%, sendo os percentuais de 6,68% para Poços de Caldas e de 4,56% para Montes Claros.

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quais se constatou grau significativo de participação política, também constatou-se melhores informações para o indicador considerado. A única exceção reside no último, caso no qual a cidade menos “participativa”, Montes Claros, apresentou melhores dados do que a mais “participativa”, Poços de Caldas. Não obstante, é importante observar que a diferença média para este caso específico pode ser relativizada se considerarmos que, em 2001, Poços de Caldas tinha um percentual de 9,74% de famílias na situação considerada e Montes Claros 5,49%. Todavia, em 2008 o percentual de Poços de Caldas caiu para 4,72%, indicando uma diminuição média de 2,51%. Para Montes Claros, muito embora também se tenha observado queda dos percentuais, passando para 3,97%, o ritmo da queda foi significativamente menor, de 0,76%.

Outro indicador que vale a pena ser utilizado para a dimensão saneamento e saúde concerne à qualidade da água consumida e disponível às famílias. Neste caso, a fonte da água pode servir de proxy para aferição dessa qualidade e o indicador concerne ao percentual de famílias cujo acesso à água se dá por poços ou nascentes. A Tabela 8 fornece informações neste sentido:

Tabela 8

Percentual de famílias cuja fonte de água consiste em poço ou nascente

UF Município 1998 2001 2005 2008

BA Vitória da

Conquista 12,56 14,93 13,54 12,80

BA Ilhéus 8,66 14,50 16,31 13,99

MG Juiz de Fora 2,35 4,12 3,49 3,08

MG Uberlândia - 2,34 2,55 2,58

RS São Leopoldo 0,39 1,02 1,22 1,18

RS Novo

Hamburgo 8,07 8,78 6,07 5,74

MG Poços de

Caldas - 1,35 1,12 3,40

MG Montes Claros 2,44 2,19 7,39 9,27

Fonte: DataSUS. Disponível em: <www.datasus.gov.br>. Acesso em: 25 maio 2011.

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observada ser relativamente pequena, vale mencionar que, enquanto a primeira cidade mostra um padrão de involução do indicador, expressando melhoria do percentual de famílias com acesso a água potável, a segunda cidade mostra uma evolução, isto é, uma piora do percentual de famílias sem acesso a água de qualidade.

Ao observamos o segundo par, constatamos que essa tendência parece ser consistente para os demais municípios em comparação. Ao passo que, em Juiz de Fora, o percentual médio de famílias cuja fonte de água consiste em poços e nascentes é de 3,56%, em Uberlândia, esse valor é de 2,49%; mas, na primeira cidade, observa-se uma tendência de queda cuja média é de aproximadamente 0,52%, ao passo que na outra existe uma tendência de aumento médio de 0,12%. Para o terceiro par, observamos uma diferença percentual média de 6,05%, sendo 0,81% em relação ao município de São Leopoldo e de 6,86% para Novo Hamburgo. O último par congrega tendência semelhante para a diferença média, que é de 4,32%, sendo uma média de 1,96% para Poços de Caldas e de 6,28% para Montes Claros.

Um terceiro indicador sobre saúde e saneamento básico importante a se considerar nas comparações aqui empreendidas concerne ao percentual de famílias que vivem em áreas com lixo a céu aberto, isto é, em áreas que não contam com uma estrutura adequada de recolhimento e tratamento do lixo produzido. Os dados seguem na Tabela 9:

Tabela 9

Percentual de famílias que vivem em áreas com lixo a céu aberto

UF Município 1998 2001 2005 2008

BA Vitória da

Conquista 17,12 12,58 9,89 6,59

BA Ilhéus 34,65 29,83 26,64 15,44

MG Juiz de Fora 0,05 0,39 0,17 0,08

MG Uberlândia - 1,38 0,38 0,23

RS São Leopoldo 2,72 5,31 3,24 0,56

RS Novo

Hamburgo 3,60 3,77 0,02 0,22

MG Poços de

Caldas - 1,20 0,43 0,18

MG Montes Claros 6,10 3,15 2,51 1,88

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Considerando a situação dos municípios do primeiro par, observamos uma diferença média de 14,28% no percentual de famílias que vivem em áreas sem tratamento de lixo, sendo o percentual de 9,69% para Vitória da Conquista e de 23,97% para Ilhéus. Para o segundo par, observamos uma diferença média de 0,44%, sendo 0,22% para Juiz de Fora e de 0,66% para Uberlândia. No terceiro par, a diferença média é de 0,3 %, sendo de 3,04% para São Leopoldo e de 3,34% para Novo Hamburgo. Por fim, no último par, encontramos uma diferença média de 1,19%, sendo de 0,6% para Poços de Caldas e de 2,51% para Montes Claros.

Esse conjunto de resultados permite suscitar uma relação entre o nível de participação política nos municípios e os resultados em políticas públicas em áreas específicas, sendo, neste caso, para a área de saneamento e saúde. Vale ressaltar que essa relação não é estabelecida de maneira causal, mas que os dados indicam uma situação sistematicamente melhor em saneamento básico para os municípios com maior grau de participação política, muito embora todos os pares comunguem características relevantes para a sua caracterização. Os resultados incitam a análise de outras dimensões relevantes em políticas públicas, tal como as políticas de assistência social.

Assistência Social

A análise da assistência social é importante pela própria relevância da temática e em função do ativismo político que lhe confere base. Em especial, muito mais do que a oferta efetiva de serviços, é importante analisar a capacidade gerencial dos municípios em relação a esse campo. Em geral, a despeito de sua relevância, a área de assistência social tende a ser tratada com menor importância do que outras áreas mais consolidadas, como saúde e educação. Assim, pode-se supor que os gestores que investem na área demonstram maior preocupação com questões como as vulnerabilidades sociais, fome e miséria, do que aqueles que relegam a área à condição de menor importância relativa.

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Tabela 10

Caracterização do órgão gestor da assistência social nos municípios da amostra

UF  Município  2005  2009 

BA Vitória da

Conquista Secretaria municipal exclusiva Secretaria municipal exclusiva

BA Ilhéus Secretaria em conjunto com outra política Secretaria municipal em conjunto com outra política

MG Juiz de Fora Secretaria municipal exclusiva Secretaria municipal exclusiva

MG Uberlândia Secretaria em conjunto com outra política Secretaria municipal em conjunto com outra política

RS São Leopoldo Secretaria municipal exclusiva Secretaria municipal exclusiva

RS Novo Hamburgo Setor subordinado a outra Secretaria Secretaria em conjunto com outra política

MG Poços de Caldas Secretaria exclusiva Secretaria municipal exclusiva

MG Montes Claros Secretaria exclusiva Secretaria municipal exclusiva

Fonte: Munic 05 e 09 – IBGE

Os dados da Tabela 10 mostram os dados do órgão gestor para os pares. No caso do primeiro par, observamos que, enquanto em Vitória da Conquista existe uma estrutura administrativa exclusiva para lidar com as políticas da área, em Ilhéus essa estrutura, embora existente, é compartilhada com outra área. O compartilhamento, vale dizer, pode ser prejudicial à gestão e implicar menor eficiência, já que recursos como computadores, telefones, carros, dentre outros, imprescindíveis para a administração, em geral não ficam totalmente disponíveis aos técnicos e gestores das pastas.

O segundo par conta com um padrão semelhante, sendo que, em Juiz de Fora, a Secretaria é exclusiva e, em Uberlândia, ela é compartilhada, uma situação observada em 2005 e em 2009. No terceiro par, observamos que já em 2005, São Leopoldo possuía uma Secretaria exclusiva para a política, enquanto que, em Novo Hamburgo, existia um setor subordinado a uma Secretaria se outra área. Em 2009, parece ter havido breve transformação nessa última cidade, com a criação de uma Secretaria para a área que, ainda assim, compartilha estrutura com outra Secretaria, situação relativamente pior do que em São Leopoldo. Em último lugar, não se encontrou diferença significativa para as cidades, sendo que, desde 2005, novo Hamburgo também conta com uma Secretaria exclusiva para a Assistência Social.

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relevância na perspectiva de gestão e administração, diz respeito à frequência de revisão, monitoramento e avaliação do plano municipal de assistência social. Este plano, vale dizer, está presente em todos os municípios aqui analisados, mas sua revisão e avaliação ocorre em periodicidades diferenciadas, sendo que períodos mais longos podem ser mais prejudiciais à eficiência na prestação de serviços e gestão da área. A Tabela 11 elucida as informações nessa linha:

Tabela 11

Periodicidade do monitoramento e avaliação do plano municipal de assistência social

UF Município 2005 2009

BA Vitória da

Conquista Mensal Mensal

BA Ilhéus Anual Anual

MG Juiz de Fora Semestral Mensal

MG Uberlândia Semestral Bimestral

RS São Leopoldo Mensal Mensal

RS Novo Hamburgo Não é monitorado e

avaliado Anual

MG Poços de Caldas Mensal Semestral

MG Montes Claros Anual Semestral

Fonte: Munic 05 e 09 – IBGE

Para essa variável, também há variações importantes nos resultados apresentados em cada município. Em relação ao primeiro par, ao passo que Vitória da Conquista realiza mensalmente o monitoramento e avaliação de seu plano municipal de assistência social, a cidade de Ilhéus realiza uma vez ao ano, uma situação mantida desde 2005. No caso do segundo par, Juiz de Fora realiza semestralmente a revisão do plano em 2005, e, em 2009, a periodicidade é mensal. A seu turno, Uberlândia também realiza esta ação semestralmente em 2005 e, em 2009, realiza uma vez ao bimestre.

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O conjunto dos dados mostra, uma vez mais, uma tendência a que os municípios nos quais ocorre um grau relativamente maior de participação social, são aqueles nos quais ocorre, também, situação relativamente melhor nos resultados em políticas públicas, sendo, nesses casos, relacionados à capacidade de gestão das políticas de assistência social. Esses resultados sugerem, igualmente, que outros dados podem ter comportamento semelhante para o campo em tela.

Outra variável relevante para análise no tocante à capacidade de gestão da assistência social consiste na existência ou não de definição legal de um percentual do orçamento do município para a área. Esse elemento pode indicar que, ao longo do tempo, pas políticas do campo não serão abruptamente interrompidas por falta de recursos financeiros. Na assistência social, vale dizer, essa perspectiva de continuidade é de suma importância, dado que lida com o acompanhamento de famílias e indivíduos ao longo do tempo por profissionais, como os psicólogos, profissionais de saúde etc. A Tabela 12 contém informações neste sentido:

Tabela 12

Existência de definição legal de percentual do orçamento do município para a assistência social

UF Município 2005 2009

BA Vitória da

Conquista Não Sim

BA Ilhéus Não Sim

MG Juiz de Fora Sim Sim

MG Uberlândia Não Não

RS São Leopoldo Não Sim

RS Novo Hamburgo Sim Não

MG Poços de Caldas Não Sim

MG Montes Claros Não Não

Fonte: Munic 05 e 09 – IBGE

(31)

legal em 2005, em 2009 não contava mais. Por fim, no último par, Poços de Caldas passou a ter definição legal em 2009, enquanto Montes Claros não teve em momento algum.

O conjunto de dados para a área de assistência social leva a suposições similares àquelas produzidas na análise sobre saneamento e saúde. Parece que, para todos os casos analisados, no geral, municípios nos quais se aferiu maior grau de incidência da categoria participação política são também aqueles nos quais se percebe melhor capacidade, investimento e, principalmente, comprometimento, para a gestão das políticas de assistência social. Essa situação incide sobre municípios que se assemelham em diversas outras categorias, especialmente aquelas associadas aos indicadores socioeconômicos e políticos. Vale ressaltar que essas observações não permitem afirmar a presença de alguma relação entre as variáveis, embora os dados forneçam pistas para a formulação de suposições nessa linha.

Legislação municipal e planejamento público

Além da área específica de assistência social, o gestor municipal deve ser capaz de administrar políticas importantes para a sociedade. Recursos das áreas de saúde, educação, construção, dentre diversas outras, devem ser eficientemente equacionados, com fins de garantir bom percurso de gastos dos recursos públicos. Essa eficiência está ligada, em grande medida, à capacidade gerencial geral do município, especialmente ao seu comprometimento com o planejamento público. O planejamento público é peça fundamental para estruturação de uma administração eficiente e capaz de apresentar resultados plausíveis para a oferta de bens e serviços públicos nas diversas temáticas existentes.

Dessa forma, cabe verificar em que medida os municípios analisados apresentam determinados quesitos capazes de atuar como proxy para a capacidade de gestão municipal. A primeira dimensão a ser analisada nesse caso concerne ao setor de habitação e ao tipo de atenção que o gestor municipal confere à questão. A existência de políticas de habitação é considerada porque tende a exigir do gestor um significativo compromisso e organização fiscal e tributária para ser efetivada. Ao mesmo tempo, exige uma significativa capacidade de planejamento e a elaboração de planos de médio e longo prazos para o desenvolvimento do município.

(32)

Tabela 13

Existência de cadastro informatizado para estruturação de política habitacional no município

UF Município 2005 2009

BA Vitória da

Conquista Sim Sim

BA Ilhéus Não Não

MG Juiz de Fora Sim Sim

MG Uberlândia Sim Sim

RS São Leopoldo Sim Sim

RS Novo Hamburgo Não Não

MG Poços de Caldas Sim Sim

MG Montes Claros Não Sim

Fonte: Munic 05 e 09 – IBGE

A Tabela 13 mostra uma discrepância entre os municípios e seus pares. No caso do primeiro par, ao passo que Vitória da Conquista possui pelo menos desde 2005 sistema informatizado para a gestão de sua política habitacional, o mesmo não ocorre com Ilhéus, que, ao menos até o ano de 2009, não possuía esse instrumento de gestão. No segundo par, a situação é diferente e, nesse caso, os dois municípios contavam, desde 2005, com o tipo de instrumental considerado.

No caso do terceiro par, São Leopoldo difere de Novo Hamburgo por apresentar, desde 2005, o tipo de sistema mencionado, ao passo que São Leopoldo nunca possuiu essa ferramenta. Por último, é interessante observar que, embora Montes Claros não possuísse um sistema informatizado desde 2005, tal como seu respectivo par, Poços de Caldas, parece que a cidade realizou significativo esforço para a sua implementação, contando com ele em 2009.

Os dados parecem indicar, mais uma vez, que a situação dos municípios nos quais se constatou maior grau de participação política tende a ser relativamente melhor do que naqueles nos quais se observou menor propensão à presença de políticas participativas.

(33)

Tabela 14

Existência de legislação específica que dispõe sobre regularização fundiária no município

UF Município 2005 2009

BA Vitória da

Conquista Sim Não

BA Ilhéus Não Não

MG Juiz de Fora Sim Sim

MG Uberlândia Sim Não

RS São Leopoldo Sim Sim

RS Novo Hamburgo Não Não

MG Poços de Caldas Não Não

MG Montes Claros Sim Sim

Fonte: Munic 05 e 09 – IBGE

Os dados da Tabela 14 permitem algumas observações sobre os pares de municípios. No caso do primeiro par, a situação se destaca. Ilhéus nunca teve legislação específica nos moldes citados, ao passo que Vitória da Conquista possuía tal normativa em 2005, mas deixou de possuí-la em 2009. Esse aspecto pode indicar, dentre outras coisas, tipos de relações de força presentes localmente. No caso do segundo par, a situação é semelhante para a cidade de Uberlândia, já que a cidade possuía lei de regularização fundiária em 2005 e deixou de tê-la em 2009. O seu município par, Juiz de Fora, por sua vez, apresenta, pelo menos desde 2005, esse ferramental normativo como disciplinador da ocupação de terras.

Para o terceiro par, vemos que, enquanto São Leopoldo já contava, desde 2005, com a normativa considerada, o mesmo não ocorre com Novo Hamburgo, que parece nunca ter possuído tal instrumental. Por último, o par Poços de Caldas/ Montes Claros mostra uma inversão da lógica até então configurada. Neste caso, a cidade na qual se observou menor propensão participativa sempre contou com lei de regularização fundiária, ao passo que Poços de Caldas não esse instrumento.

(34)

Tabela 15

Receita tributária per capita dos municípios da amostra

UF Município 2000 2004 2006

BA Vitória da

Conquista 78,4 89,2 98,4

BA Ilhéus 59,4 68,3 78,1

MG Juiz de Fora 112 165,4 201,1

MG Uberlândia 101 172,1 210,4

RS São Leopoldo 89,1 140,5 162,4

RS Novo Hamburgo 69,3 89,5 142,3

MG Poços de Caldas 107,5 204,8 217,0

MG Montes Claros 47,7 72,4 92,7

Fonte: IpeaDATA. Disponível em: <www.ipeadata.gov.br>. Acesso em: 25 maio 2011.

A receita tributária encontra divisão relevante no conjunto dos casos. Em primeiro lugar, o primeiro par de municípios mostra que, para ambos os casos, existe uma tendência de aumento da receia tributária per capita ao longo dos anos, embora seja notável que os valores observados para Vitória da Conquista são maiores do aqueles observados para Ilhéus. No caso do segundo par, a peculiaridade está em que, embora a receita tributária per capita de ambos os municípios seja semelhante, em Uberlândia há um crescimento maior do que em Juiz de Fora no período considerado.

O terceiro par mostra indicativos muito parecidos com os do primeiro par: para ambos os municípios ocorre um crescimento dos valores e os valores observados para o município com maior grau de participação política são sistematicamente maiores do que os do outro município. No caso do quarto par, essa tendência é ainda maior, já que a diferença entre os valores do município com maior tendência à adoção de políticas participativas, Poços de Caldas, são sistematicamente maiores do que o par, Montes Claros.

Referências

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