• Nenhum resultado encontrado

Incômodo causado pelo ruído urbano à população de Curitiba, PR.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Incômodo causado pelo ruído urbano à população de Curitiba, PR."

Copied!
4
0
0

Texto

(1)

5 2 1 5 2 1 5 2 1 5 2 1 5 2 1 Rev Saúde Pública 2002;36(4):521-4

www.fsp.usp.br/rsp

Notas e Informações

Notes and Information

Incômodo causado pelo ruído urbano à

população de Curitiba, PR

Annoyance caused by urban noise to the

citizens of Curitiba, Brazil

Paulo Henrique Trombetta Zannin, Alfredo Calixto, Fabiano Belisário Diniz, José Augusto Ferreira e Rafael Bregenski Schuhli

Laboratório de Acústica Ambiental. Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, Paraná, Brasil

Correspondência para/Correspondence to:

Paulo Henrique Trombetta Zannin Universidade Federal do Paraná

Centro Politécnico, Bairro Jardim das Américas 81531-990 Curitiba, Paraná, Brasil

E-mail: zannin@demec.ufpr.br Descritores

Ruído. Poluição sonora. Zonas urbanas. Questionários. Incômodo através do ruído. Reação subjetiva ao ruído.

Realizado com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq – Processo nº 420040) e do DAAD – Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico.

Recebido em 25/6/2001. Reapresentado em 5/2/2002. Aprovado em 25/3/2002.

Keywords

Noise. Noise contamination. Urban zones. Questionnaires. Noise annoyance. Subjective annoyance.

Resumo

Descreve-se a reação da população de Curitiba, PR – cidade com aproximadamente 1,6 milhões de habitantes –, ao ruído ambiental . Os dados foram coletados por meio de questionários distribuídos aleatoriamente a moradores da cidade. Dos 1.000 questionários distribuídos, 860 (86%) foram avaliados. As principais fontes de ruído causadoras de incômodo identificadas foram o tráfego de veículos (73%) e os vizinhos (38%), sendo que estes foram classificados como a principal fonte de desconforto. Todos os respondentes apontaram pelo menos um dos seguintes itens como geradores de ruído: vizinhos, animais, sirenes, construção civil, templos religiosos, casas noturnas, brinquedos e aparelhos domésticos. As principais reações ao ruído foram: irritabilidade (58%), baixa concentração (42%), insônia (20%) e dores de cabeça (20%).

Abstract

The study describes people’s reaction to environmental noise in Curitiba, a city of approximately 1.6 million inhabitants in Brazil. Data was collected using questionnaires randomly delivered to the city’s residents. Out of 1,000 questionnaires, 860 (86%) were returned and assessed. The main noise sources found as disturbing were motor vehicle traffic (73%) and neighbors (38%), which were rated as producing the most disturbing noise. All respondents pointed out at least one of the following as noise sources: neighbors, animals, sirens, civil construction, religious worship temples, nightclubs, toys, and domestic electric appliances. The main reactions to noise exposure were: irritability (58%), difficulty to concentrate (42%), sleeping disorders (20%), and headaches (20%).

INTRODUÇÃO

O número crescente da população e do número de veículos ocasionou o aparecimento de um novo com-ponente na vida urbana: o ruído. A poluição sonora e sua conseqüente influência sobre o meio ambiente e sobre a qualidade de vida dos seres humanos têm sido alvo de várias pesquisas em diversas partes do mundo (Arana et al,1 1988; Kurra et al,8 2000).

Esses trabalhos têm em comum o fato de terem ana-lisado o ruído somente do ponto de vista objetivo. Ou seja, foram realizadas medições numa grande quan-tidade de pontos, e as áreas urbanas foram classifica-das segundo os níveis sonoros medidos, como acus-ticamente poluídas ou não.

(2)

5 2 2 5 2 25 2 2 5 2 2

5 2 2 Rev Saúde Pública 2002;36(4):521-4

www.fsp.usp.br/rsp

Ruído urbano em Curitiba

Zannin PHT et al.

(1992) e Diniz5 (2000) realizaram pesquisas para medir os níveis sonoros dessa cidade e concluíram que houve redução nos níveis de emissão acústica. No entanto, nenhum desses trabalhos objetivou ob-ter informações quanto à reação da população ao ruído urbano.

Assim, realizou-se o presente estudo com o obje-tivo de mostrar as reações de incômodo sofridas pela população frente ao ruído urbano, assim como quais são as principais fontes sonoras causadoras desse desconforto.

MÉTODOS

A pesquisa foi realizada na cidade de Curitiba, no estado do Paraná, região sul do Brasil, com 1.690.000 habitantes.7

Para identificar as principais fontes de ruído do ambiente urbano e a reação da população a essas fon-tes, foi elaborado um questionário com questões so-bre dados demográficos do ambiente residencial ur-bano e o desconforto causado pelo ruído.

Os participantes da pesquisa foram escolhidos de modo aleatório, de forma a representar os moradores dos bairros residenciais da cidade de Curitiba, con-forme dispõe a Lei de Zoneamento e Ocupação do Solo (Prefeitura Municipal de Curitiba, 2000*).

Os participantes da pesquisa foram contatados por telefone. Posteriormente, receberam o questionário pelo correio. Após duas semanas, 50 colaboradores tiveram a incumbência de buscar os questionários na residência de cada participante. Houve retorno de 86% dos mil questionários enviados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Entre os respondentes, 63% eram do sexo masculi-no, e 37%, do sexo feminino. A faixa etária predomi-nante estava entre 18 e 24 anos. Grosso modo, a dis-tribuição dos respondentes entre 18 e 59 anos segue a mesma tendência da distribuição da população de Curitiba por faixa de idades (Fundação IBGE,6 1996).

Indagados se eles se incomodavam com o ruído de sua rua, a maior parte dos respondentes (44%) res-pondeu que às vezes se incomodava. Cerca de 32% dos participantes responderam que se incomodavam regularmente. O ruído da rua foi classificado pela amostra como “pouco intenso” (53%), “intenso” (39%) e como “muito intenso” (6%). Não responde-ram à pergunta 2% dos respondentes. Mais da

meta-de dos responmeta-dentes afirmou que residia havia mais de cinco anos no mesmo lugar.

Foi perguntado aos respondentes se o ruído na rua em que moravam havia aumentado ou não no período mais recente; 60% afirmaram que havia aumentado.

Isto contradiz os resultados encontrados no estudo sobre os níveis de ruído de trânsito medidos na mes-ma cidade (Zannin et al,10 2001), no qual se observou uma redução dos níveis sonoros em relação a outro estudo realizado por Barbosa3 (1992). Nesse estudo, 93,4% dos pontos medidos na cidade estavam acima de 65 dB(A). No estudo de Zannin, esse número caiu para 80,6% dos 350 pontos medidos. O nível sonoro equivalente (Leq) de 65 dB(A) é considerado, pela medicina preventiva, como o nível máximo ao qual um indivíduo pode se expor sem ter danos na saúde (Belojevic & Jakovlevic,4 1997; Maschke,9 1999).

Os pontos medidos e os horários em que se realiza-ram as medições (Zannin et al,10 2001) foram exata-mente os mesmos que os utilizados por Barbosa3 (1992).

Indagados sobre quais as fontes de ruído que mais os incomodavam, a maioria dos respondentes apon-tou o trânsito, seguido dos vizinhos. O trânsito é, sem dúvida, uma fonte de ruídos contínuos, assim como, em muitos casos, os vizinhos. No entanto, várias das possibilidades de resposta para essa questão referi-am-se a fontes não contínuas, como sirenes, fogos de artifício, templos, casas noturnas e construção civil.

A maioria das pessoas respondeu que, às vezes, sen-tia-se incomodada pelo ruído de sua rua e apontou pelo menos uma dessas fontes não contínuas como causas do incômodo.

A coexistência de fontes de ruídos contínuos e des-contínuos é uma explicação possível para que, mes-mo considerando o ruído em geral comes-mo “pouco in-tenso”, a maioria dos respondentes se considerasse, às vezes, incomodada por ele.

Com esse enfoque é então possível retratar um novo ponto de vista nessa análise. Por exemplo, agrupando-se as pessoas que sempre se incomoda-vam com o ruído de sua rua (32%) com as que às vezes se incomodavam (44%), obtém-se um sub-grupo denominado “incomodados pelo ruído ur-bano”, no qual se encontram 76% dos responden-tes. Nesse subgrupo, enquadram-se todos aqueles que, pelo menos de alguma forma, sentiam-se in-comodados com o ruído urbano.

(3)

5 2 3 5 2 3 5 2 3 5 2 3 5 2 3 Rev Saúde Pública 2002;36(4):521-4

www.fsp.usp.br/rsp

Ruído urbano em Curitiba

Zannin PHT et al

Entre os respondentes do primeiro grupo, ou seja, dos que sempre se incomodam, 14% achavam que o ruído a que estão expostos é muito intenso, 58% achavam que é intenso, e 25% consideravam-no pouco intenso.

Combinando-se as informações anteriormente ex-postas, pode ser observado que, para uma pessoa sen-tir-se incomodada pelo ruído urbano, não é absoluta-mente necessário que ele seja intenso ou muito in-tenso, já que 25% das pessoas que sempre se incomo-daram com o ruído a que estão expostos considera-ram-no pouco intenso.

Agrupando-se os que classificaram o ruído de sua rua como pouco intenso com os que o consideraram intenso, encontram-se 93% dos incomodados pelo ruído urbano. Entretanto, 5% das pessoas que classi-ficaram o ruído de sua rua como muito intenso não se declaram incomodadas com ele.

Considerando os 24% que não se incomodavam com o ruído de sua rua, observa-se que 83% classifi-caram-no como pouco intenso.

Foram obtidos também resultados interessantes quanto à natureza das fontes de ruído urbano e ao grau de incômodo. Se as fontes forem analisadas iso-ladamente, percebe-se que, entre os respondentes que se declararam incomodados com o ruído de sua rua, 73% apontaram o trânsito como fonte de incômodo, enquanto 38% responsabilizaram os vizinhos, con-forme pode ser observado na Figura.

Além disso, constatou-se que, de 52% dos respon-dentes que moravam havia mais de cinco anos no mesmo endereço, 73% perceberam um aumento do ruído de sua rua nesse período, 54% apontaram o ruído do trânsito como fonte de incômodo, e 28% apontaram os vizinhos. Como as fontes de ruído não são excludentes, existem ainda 18% que apontaram outras fontes de incômodo.

Embora o trânsito contribua muito para a sensa-ção de aumento da poluisensa-ção sonora de Curitiba, ele

Figura - Respostas à pergunta: “Quais são os ruídos que incomodam?” 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

Trânsito Vizinhos Sirenes Anim ais

Consr tuções

Eletrodom ésticos Tem

plos Casas Notur nas Outros Brinquedos NR Fogos

% dos respondentes

NR =não respondeu

não é o único fator importante. Outros fatores, como os ruídos gerados na vizinhança, podem ser também muito significativos na percepção subjetiva do ruí-do urbano. Ainda entre os moraruí-dores residentes ha-via mais de cinco anos no mesmo endereço, 27% dos que se incomodavam com o ruído de sua rua apontaram também a construção civil como fator gerador de ruído. Isto pode ser reflexo do acentuado crescimento da cidade de Curitiba, fator significati-vo do crescimento da poluição sonora urbana.

Outra maneira de analisar os resultados seria agru-par as fontes sonoras apresentadas no questionário em dois subgrupos:

• ruído gerado pelo trânsito: automóveis, ônibus, motocicletas, trens;

• ruído gerado na vizinhança: vizinhos, animais,

sirene, templos religiosos, casas noturnas, cons-trução civil, brinquedos e eletrodomésticos.

Considerando esse novo agrupamento das fontes de ruído, constatou-se que no subgrupo “incomo-dados pelo ruído urbano” (76% dos respondentes), todas as pessoas apontaram pelo menos uma das fon-tes do grupo “ruídos gerados na vizinhança” como causa de incômodo. Além disso, 76% eram pertur-bados também pelo ruído gerado pelo trânsito.

A partir desses resultados é, então, possível al-cançar a compreensão da aparente contradição en-tre a conclusão obtida no estudo do ruído urbano de Curitiba (Zannin et al,10 2001) e as respostas à pergunta: “Na sua opinião, o ruído de sua rua au-mentou?”. Na metodologia adotada por esse estu-do, a fonte predominante na grande maioria dos pontos medidos era o ruído gerado pelo trânsito. Porém, observa-se na presente análise que as fon-tes de ruído agrupadas como “ruídos gerados na vizinhança” são mais significativas para a comu-nidade do que o ruído gerado pelo trânsito, ainda que este seja o mais importante quando são consi-deradas fontes não-agrupadas. Sendo assim, é com-preensível que a percepção das pessoas aponte para o aumento do ruído urbano, pois a população au-mentou e, conseqüentemente, os ruídos de vizi-nhança também aumentaram.

(4)

5 2 4 5 2 45 2 4 5 2 4

5 2 4 Rev Saúde Pública 2002;36(4):521-4

www.fsp.usp.br/rsp

Ruído urbano em Curitiba

Zannin PHT et al.

REFERÊNCIAS

1. Arana M, Garcia A. A social survey on the effects on environmental noise on the residents of Pamplona, Spain. Appl Acoust 1998;53:245-53.

2. Babisch W, Ising H, Gallacher JEJ, Sweetnan PM, Elwood PC. Traffic noise and cardiovascular risk: the caerphilly and speedwell studies, third phase – 10 – year to follow up. Arch Environ Health 1999;54:210-6.

3. Barbosa WA. Aspectos do ruído urbano em Curitiba. Curitiba: Biblioteca da Universidade Federal do Paraná; 1992.

4. Belojevic´ G, Jakovlevic´ B. Subjective reactions for traffic noise with regard to some personality traits.

Environ Int 1997;23:221-6.

5. Diniz FB. Poluição sonora urbana: trabalho de conclusão de curso de engenharia mecância. Curitiba: Universidade Federal do Paraná; 2000.

6. Fundação IBGE. Relatório de 1996. Rio de Janeiro; 1996.

7. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano.

Relatório técnico. Curiba; 2000.

8. Kurra S, Morinoto M, Maehoura ZI. Transportation noise annoyance – a simulated environmental study for road, railway and aircraft noises. Part 1: Overall annoyance. J Sound Vib 2000;220:251-78.

9. Maschke C. Preventive medical limits for chronic traffic noise exposure. Acustica 1999;85:448.

Referências

Documentos relacionados

A Lei nº 2/2007 de 15 de janeiro, na alínea c) do Artigo 10º e Artigo 15º consagram que constitui receita do Município o produto da cobrança das taxas

A cor “verde” reflecte a luz ultravioleta, porém como as minhocas castanhas são mais parecidas com as minhocas verdadeiras, não se confundem com a vegetação, sendo

Para outras obras intimadas pela Câmara Municipal (adicional de 100%, correspondente taxa de.. licença inicial

Disto pode-se observar que a autogestão se fragiliza ainda mais na dimensão do departamento e da oferta das atividades fins da universidade, uma vez que estas encontram-se

Espera-se que numerosas espécies do gênero sejam encontradas na Reserva de Pedra Talhada, mas, até agora, a diversidade e a função ecológica desses macrofungos decompo- sitores

As diferenças entre IINIB (inibição bacteriana/ bacteriostasia) e IINAB (inativação bacteriana/ bactericidia), tanto para Salmonella após 24 horas, como para Escherichia coli

Nos termos do Regulamento de Relações Comerciais (RRC), a ERSE aprova o preço da leitura extraordinária, da quantia mínima a pagar em caso de mora e dos preços dos serviços

► Use the supplied skimmer - or another heat- resistant plastic or wooden utensil to remove food from the inner bowl. Otherwise the coating of the inner bowl may be damaged and