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Desempenho Empresarial de Microempreendedores Individuais de Jaboatão dos Guararapes/Pe

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Academic year: 2017

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FACULDADE BOA VIAGEM

CENTRO DE PESQUISA E PÓS–GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - CPPA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL - MPGE

DESEMPENHO EMPRESARIAL DE MICROEMPREENDEDORES INDIVIDUAIS DE JABOATÃO DOS GUARARAPES/PE

MANOEL BRANDÃO FARIAS

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MANOEL BRANDÃO FARIAS

DESEMPENHO EMPRESARIAL DE MICROEMPREENDEDORES INDIVIDUAIS DE JABOATÃO DOS GUARARAPES/PE

Dissertação apresentada ao Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem para qualificação do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial.

Orientador: Prof. Dr. Olímpio de Arroxelas Galvão

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AGRADECIMENTOS

Ao Grande Arquiteto do Universo pela inspiração, conforto e intensa participação em todos os momentos da minha passagem aqui na Terra.

Ao Professor Dr. Olimpio de Arroxelas Galvão, que ultrapassou o ofício próprio de Orientador, sendo sobremodo um amigo.

Aos meus queridos filhos, Sandra, Daniela, Thiago e Felipe, pelo incentivo dado durante toda a trajetória do curso.

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa teve como escopo investigar e conhecer como os microempreendedores localizados no Bairro de Prazeres, Município de Jaboatão dos Guararapes, estão desempenhando suas atividades empresariais, a partir da formalização quando saíram da atividade informal e tornaram-se Microempreendedores Individuais. Esse caminho foi percorrido ao amparo de três objetivos específicos: i) planejamento antecedente à criação da empresa; ii) nível de gestão de seus empreendimentos; e iii) comportamento empreendedor, como iniciativas e atitudes fomentadoras de um cotidiano empresarial eficiente e eficaz. Em busca deste desiderato, foi constituída amostra composta por 308 Microempreendedores Individuais, que responderam a um questionário com 19 afirmações, além de 9 questões de natureza demográfica. É desejo que os resultados que ocupam estas páginas sirvam de análise e reflexão quanto à qualidade do Programa Governamental Microempreendedor Individual, como ferramenta que efetivamente propicie o desenvolvimento empresarial e pessoal de seus participantes.

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ABSTRACT

The scope of this research is to investigate and understand how micro- entrepreneurs located in the Prazeres district, Jaboatão dos Guararapes, are performing their business activities after converting from an informal way of conducting business to a formal way of conducting business as individual micro-entrepreneurs. Taken in considerations were three specific objectives: i) planning prior to the establishment of the company; ii) level of management of their enterprises; and iii) entrepreneurial behavior such as initiatives and attitudes of fomenting an efficient and effective day-to-day business. In pursuit of this goal, a sample of 308 single Micro-entrepreneurs was set up, who answered a questionnaire composed of 19 statements, and 9 questions of demographic nature. It expected that the results displayed on the following pages serve as an analysis and reflection on the quality of the Government Program Individual Micro-entrepreneur, as a tool that effectively fosters business and personal development of the participants.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Microempreendedores Individuais, segundo a idade

Tabela 2– Microempreendedores Individuais, segundo a escolaridade

Tabela 3– Aspectos antecedentes e consequentes ao planejamento

Tabela 4– Aspectos detectores da gestão empresarial

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LISTA DE GRÁFICOS

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 10

1.2 Objetivos ... 15

1.2.1 Objetivo geral ... 15

1.2.2 Objetivos específicos ... 16

2.3 Justificativas da pesquisa ... 16

2. REFERENCIAL TEÓRICO ... 17

2.1 Empreendedorismo no Brasil ... 22

2.2 Setor informal no Brasil ... 27

2.2 Elaboração do planejamento ... 35

2.3 Capacidade de gestão empresarial ... 39

2.4 Existência de comportamento empreendedor ... 42

3. METODOLOGIA ... 46

3.1 Delineamento da pesquisa ... 47

3.2 Locus da pesquisa ... 50

3.3 Sujeitos da pesquisa ... 50

3.4 Plano amostral ... 50

3.5 Coleta de dados ... 51

3.6 Instrumento e processo ... 51

3.7 Métodos de análise ... 52

4. RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS...53

4.1 Análise da amostra...54

4.2 Planejamento...57

4.3 Gestão empresarial...59

4.4 Comportamento empreendedor...61

5. CONCLUSÕES...64

REFERÊNCIAS ... 66

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1. INTRODUÇÃO

Perambular por ruas dos centros de grandes cidades brasileiras significa conhecer um enorme e diversificado contingente de empreendedores formais e informais, desenvolvendo as mais diversas atividades econômicas, ali estando na busca da fatia de um mercado que existe ou imagina existir. Não houve pesquisa, plano de negócios, simulações, projeções ou estudos de mercado. São pessoas empreendedoras que atuam premidas por necessidade ou pela presunção da existência de uma oportunidade.

No que toca aos empreendedores informais aflora outra questão, essa mais íntima ao objetivo central desta pesquisa, que é o empreendedorismo baseado em atividades econômicas mantidas à margem do que estabelece a legislação brasileira, o chamado setor informal da economia. São atividades legais desenvolvidas por microempreendedores de forma ilegal, tema que preocupa pelos desdobramentos de toda ordem: econômicos, sociais, culturais e, principalmente, humanos.

Em 1969 a Organização Internacional do Trabalho (OIT) institui o Programa Mundial de Emprego que abarcava, dentre outros objetivos, o exame e a avaliação dos impactos sobre o emprego e a distribuição da renda, a partir das estratégias de rápido crescimento econômico utilizadas por países com baixo dinamismo no processo de industrialização.

O resultado colhido a partir dos estudos realizados mostrava que a política de crescimento via substituição de importações com características de uso intensivo de capital, mostrava-se pouco estimulador na geração de empregos, quando essa oferta era comparada com a população economicamente ativa. Intrigava verificar que o excedente de mão de obra resultante desse processo, não se evidenciava nas estatísticas de desemprego, mas surgia como um contingente de trabalhadores que passava a executar os mais diversos trabalhos organizados em pequena escala (CACCIAMALI, 2000).

Diversos trabalhos realizados ao amparo do mencionado programa originaram a expressão

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negócios de propriedade familiar; (b) os recursos aportados são próprios; (c) existência de pequena escala de produção; (d) facilidade de ingresso; (e) uso intensivo do fator trabalho; (f) quando existente, a aquisição das qualificações profissionais ocorre à parte do sistema escolar de ensino; e (g) participação em mercados competitivos regulamentados ou não pelo Estado (CACCIAMALI, 2000).

No final dos anos 1960, a Organização Mundial do Trabalho (OIT) cria o Programa Regional do Emprego para América Latina e Caribe (PREALC) que, tendo caráter internacional, nasce para atuar no contexto do Programa Mundial do Emprego, também da OIT.

O PREALC empreendeu um conjunto de estudos acerca do desenvolvimento econômico na América Latina, presididos pelo objetivo de sugerir estratégias em que a prioridade fosse assentada na geração de empregos e na elevação dos salários (CACCIAMALI, 1982, p. 14), e como fruto de suas conclusões, incorpora outra característica às demais acima mencionadas, representada por atividades não organizadas em suas relações envolvendo capital-trabalho.

O ponto de partida para delimitar o setor informal, portanto, são as unidades econômicas, orientadas para o mercado, com as distinções acima mencionadas, entre as quais sobressai o fato de o detentor do negócio exercer simultaneamente as funções de patrão e empregado e de não existir separação entre as atividades de gestão e de produção (CACCIAMALI, 1982, p. 28). Assim, o Relatório da OIT (1972), que trata de emprego e renda no Quênia, referencia a base teórica, como definição, natureza e relações com outros compartimentos da economia.

A designação “setor informal” é então rapidamente disseminada, sendo utilizada não só em

documentos técnicos no âmbito da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mas igualmente por outros organismos internacionais, governos e logo em seguida também acolhida pela literatura acadêmica.

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capacidade econômica para, também na visão de Cacciamali (1982), “universalizar as relações de assalariamento e estruturar um mercado de trabalho homogêneo” em condições de ofertar oportunidades de trabalho com remunerações capazes de melhorar a precariedade social dos extratos da população que viviam em situação de profunda miséria e marginalidade.

A conceituação do termo aplicada ao presente trabalho de pesquisa fundamenta-se no pensamento de Cacciamali (1982), para quem a produção informal enfeixa um conjunto de formas organizacionais para levar a cabo a produção, não se baseando, necessariamente, no trabalho assalariado, mas sem alijá-lo do processo.

O setor tende ocupar espaços econômicos1 de forma intersticial2, podendo deter potencialidades ou condições efetivas, experimentando deslocamentos pela ação das empresas eminentemente capitalistas.

A autora amplia o perfil definidor do produtor direto e suas estruturas produtivas (Cacciamali, 1982, p. 26-27), que apresentam as seguintes as características:

a) o empreendedor é o proprietário dos instrumentos de trabalho e/ou dos estoques de bens utilizados para a consecução do seu ofício;

b) ele assume simultaneamente o papel de patrão e empregado, mas pode utilizar trabalho familiar e/ou de ajudantes como extensão do seu próprio trabalho;

c) é condicionante sua participação direta no processo de produção, conjugando essa atividade com a de gestão;

d) vende seus bens e/ou serviços e em troca recebe um dado valor em dinheiro que é destinado ao consumo individual e familiar, além da manutenção da sua estrutura econômica;

e) apresenta dificuldade de acumulação, ainda que sobre algum valor das suas vendas, face a forma como a produção é organizada;

f) a lógica da atividade é guiada pelo fluxo da renda resultante, inexistindo uma taxa de retorno competitiva, sendo que desta renda é retirado o valor destinado a cobertura dos salários dos ajudantes ou empregados eventualmente existentes;

1A autora define esses espaços econômicos “como a totalidade dos ramos e das formas de organizar a produção

(CACCIAMALI, 1982, p. 26-27).

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g) é clara a vinculação pessoal neste modelo de produção, não surgindo as características típicas de mercado na relação entre o produtor direto e ajudantes ou empregados, entre os quais, no mais das vezes, estão membros da célula familiar;

h) o trabalho até pode ser segregado em tarefas, mas o trabalhador geralmente aprende todo o processo, do qual resulta o produto ou serviço;

i) o processo muitas vezes é descontínuo ou intermitente, a depender das características da própria atividade, face comportamento do mercado ou por deliberação do produtor.

Contudo, a conceituação utilizada antes dos estudos da OIT, envolvendo a dicotomia setores tradicional e moderno, tornava definitiva a crença de que tudo relativo ao setor tradicional representava as características de estruturas atrasadas de produção com o concurso de contingentes de trabalhadores excedentes do setor moderno, cujos bens e serviços desprovidos de maior rigor tecnológico, pouco agregavam ao produto nacional.

O padrão de desenvolvimento econômico, embora assimétrico entre países, ou dentro destes entre regiões, aflora níveis diferentes de dependência em relação a países ou regiões cujo desenvolvimento mais dinâmico provoca impactos socioeconômicos, afora outros aspectos. Embora perversos, tais transtornos socioeconômicos terminam por criar um cardápio de novas

atividades econômicas, várias delas decorrentes das diversas “ondas” da moderna economia.

É essa capacidade adaptativa, conferindo certo dinamismo ao setor informal, que justifica a abolição da dicotomia entre setor tradicional e setor moderno, visto que o setor informal é encarado como protagonista de um fenômeno moderno e, dentre outros aspectos, é resultante do acelerado processo de urbanização.

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Os principais problemas desse núcleo irredutível3 se devem à falta de capital fixo e capital humano, baixa ou nenhuma especialização da mão de obra e na falta de capacidade de influência política e econômica junto ao mercado. Em seu espectro ocupacional figura apenas o dono e eventualmente possui um único trabalhador que, geralmente, não é assalariado.

No início dos anos 1990, ocorre uma histórica e profunda transformação na ordem mundial, verificada pelo colapso das economias socialistas e sua consequente transição rumo ao modelo de mercado, criando uma realidade que aponta para novo dilema a ser enfrentado pelas economias com prevalência do trabalho informal (Krein; Proni, 2010).

Os mesmos autores definem que a questão central agora enfrentada pelos países é a existência de um mundo com características novas, desenvolvimento intenso, realidade gerando preocupação face o aumento do desemprego e agudamento de formas precárias de trabalho.

O momento exige decisões cuja estratégia significa trilhar pela gradual redução do conjunto heterogêneo das atividades informais, bem como a implementação de políticas com o objetivo de aproveitar o seu potencial de geração de ocupações e da renda para boa parcela da população menos favorecida, conforme aduzem os citados autores.

Fica explícita, como realçam os mesmos estudiosos, a existência de dilema entre as formulações teóricas que conduzem à integração do setor informal ao processo de modernização econômica, e, de outra parte, encaminhamentos que defendem a extensão das políticas de bem-estar e proteção social para a população ocupada no setor informal.

Resta pacífico, enfim, que a informalidade se expressa pelo exercício de atividades econômicas legais, mas passando ao largo do cumprimento de obrigações e regulações, implicando a redução de custos inerentes.

A opção dos empreendedores pela informalidade é amparada por razões apontadas em diversos

3 O termo é utilizado para designar negócios que não têm capacidade de assimilação de temas modernos como:

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estudos: a burocracia, a legislação trabalhista ultrapassada, a elevada carga tributária, dentre outros pontos. Como consequência, o empreendimento informal tem restringido incentivos e acesso ao investimento em capital físico e/ou humano, e, principalmente, na salutar busca de ganhos de produtividade.

Ademais, a ilegalidade empresarial redunda em sérias restrições ao crédito em instituições financeiras, bem como dificuldade de acesso a instrumentos legais junto ao poder judiciário para assegurar seus direitos decorrentes de contratos, proteção patrimonial ou resolução de disputas.

É essencial que ao Microempreendedor Individual venha sendo disponibilizado mecanismos que fundem e/ou aprimorem comportamentos empresariais compatíveis com a atual realidade empresarial, criando algo novo para o futuro desse empreendedor, quer em relação ao seu negócio, quer em relação ao seu progresso pessoal.

Assim serão tratados aspectos como estímulos governamentais ou paraestatais e dificuldades sentidas por esses empreendedores, quer na superação dos obstáculos próprios do mundo empresarial, quer na eventual incapacidade ou inviabilidade de aderência desses pequenos negócios às regras existentes legais, pontos que constituem o cerne da presente dissertação.

1.1Pergunta de pesquisa

Qual tem sido o desempenho empresarial dos Microempreendedores Individuais, a partir da sua formalização, localizados no Bairro de Prazeres, Município de Jaboatão dos Guararapes/PE?

1.2Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

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1.2.2 Objetivos específicos

Este estudo buscará identificar, quantificar e qualificar os impactos do ponto de vista empresarial, ocorridos a partir da formalização jurídica do Microempreendedor Individual (MEI) objeto da pesquisa, considerando a existência ou não de capacidades estratégicas ou táticas, e consequente aplicação no planejamento, gestão e influência no comportamento do MEI, na forma dos seguintes objetivos específicos:

1. Identificar a elaboração prévia do planejamento, como elemento central à constatação à

priori dos aspectos que podem ou não indicar a viabilidade do negócio, dentro do modelo de

negócio imaginado pelo MEI;

2. Inferir a existência de capacidade de gestão empresarial, materizada pelo suporte técnico e intelectual à consecução dos objetivos e metas traçados no contexto do planejamento; e 3. Verificar qual o nível do comportamento empreendedor, que traduz um conjunto de

iniciativas fundamentais à sustentabilidade do negócio, frente às partes interessadas.

2.3 Justificativas da pesquisa

Os estudos tratando do Microempreendedor Individual são raros e pouco expõem sobre suas mazelas no que tange aos aspectos considerados decisivos para a elevada taxa de mortalidade dos pequenos negócios em seus primeiros anos de vida.

Em alguns momentos a mensagem governamental dá a entender que a formalização em si subjuga e corrige, tal qual um antibiótico, todos os pontos fracos que um microempreendedor informal possui. Aspectos como estes deverão ser revelados pela pesquisa, e se constatados, deverão servir de reflexão aos órgãos e instituições que formalmente carregam a atribuição de cuidar desse tema. Mencionado ofício deveria focar a qualidade dessas novas empresas formais, sua capacidade de superar os obstáculos e de estabelecer novos rumos para o futuro.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

É apropriado aos objetivos deste trabalho, à guisa de contextualização teórica, um breve exame conceitual acerca de dois pontos fundamentais ao encadeamento de ideias essenciais à consecução dos objetivos desta dissertação, via apreciação do tecido conceitual que ao longo do tempo tem servido à melhor compreensão do fenômeno do empreendedorismo.

Em verdade, tão antigos quanto à atividade empreendedora são os estudos que estruturaram e continuam elaborando o melhor entendimento quanto ao seu funcionamento e organicidade dentro do cenário econômico das sociedades.

Com efeito, em sua essência o entrepreneur4 emergiu a partir da própria existência do Homem,

na medida em que dominando e domesticando recursos disponíveis, reduziu a hostilidade do ambiente, dando-lhe capacidade de sobrevivência e progresso humano desde então até o momento atual, para os padrões da época, como é o exemplo dos caçadores e coletores.

Uma fotografia muito nítida da aplicação do termo pode ser obtida através da análise do papel desempenhado por Marco Polo que arquitetou a construção de rotas comerciais do Extremo Oriente, na condição de empreendedor intermediário que

“[...] assinava um contrato com uma pessoa de recursos (o precursor do atual capitalista

de risco) para vender suas mercadorias. [...] Enquanto o capitalista corria risco passivamente, o comerciante aventureiro assumia o papel ativo no negócio, suportando todos os riscos físicos e emocionais. Quando o comerciante aventureiro era bem sucedido na venda das mercadorias e completava a viagem, os lucros eram divididos, cabendo ao capitalista a maior parte (até 75%), enquanto o comerciante aventureiro

ficava com os 25% restantes” (HISRCH; PETERS; SHEPHERD, 2009, p. 27).

É curioso observar que o exemplo de Marco Polo, tão distante no tempo e na história, é frequente nos tempos contemporâneos. Exemplo singular vem do Banco do Nordeste do Brasil S/A, que em 1996 ao lançar seu programa de micro finanças5, possibilitou o conhecimento de casos economicamente curiosos. É o caso de diversos vendedores de praia que se submetiam ao jugo de um pequeno capitalista que concedia-lhes um crédito desde que ele tivesse a

4 “A palavra entrepreuner é francesa e, literalmente traduzida, significa ‘aquele que está entre’ ou ‘intermediário’”

Hisrich; Peters; Shepherd (2009, p. 27).

5 O programa criado pelo BNB em 1996, chamado de Crediamigo, é a maior experiência do gênero na América do

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exclusividade na venda de bebidas e outros itens. A operacionalização seguia o padrão Marco Polo. O grande mérito desse programa foi o de quebrar, em muitos casos, essa dominação perversa.

Encontram-se registros da utilização do termo entrepreneur desde épocas remotas. Contudo,

Cantillon, um dos precursores da economia política, no seu trabalho Ensaio sobre a Natureza do

Comércio em Geral6 (CANTILLON, 1755 apud PAULA et al., 2000) oferece provavelmente os

mais claros contornos da função empreendedora.

Nesse estudo, estratificando os habitantes de um estado, Cantillon classifica-os em independentes, assim entendidos os proprietários de terras e o príncipe; e os dependentes, incluindo no grupo todas as demais pessoas. Dos dependentes, Cantillon destaca dois subgrupos: empresários e assalariados, categorizando os empresários como pessoas “que vivem

de modo incerto” na medida em que carregam o “risco de comprar a um preço conhecido e

vender a um preço incerto” (CANTILLON, 1755 apud PAULA et al., 2000, p. 12).

Jean-Baptiste Say7, autor contemporâneo de Cantillon, é apontado como o segundo mais antigo estudioso da atividade empreendedora. Declarado admirador da Revolução Industrial, construiu um tecido teórico que desse sustentação a uma possível “revolução industrial” na França (SAY, 1803 apud FILION, 1999, p. 7).

É na esteira desse desiderato que ele busca compreender os meandros desse importante marco histórico e econômico, fundamentando seus estudos, a partir do que conceituou o empresário industrial. Say entende haver uma falha conceitual dos ingleses8, aspecto que recebeu diversas

6 Nascido irlandês, Cantillon escreveu o Ensaio sobre a Natureza do Comércio em Geral em francês, possivelmente

em 1720, mas só publicado em 1755 por Mirabeau, que creditava à essa obra os fundamentos de suas próprias ideias. Cantillon é considerado como um dos precursores da economia política. Em toda sua produção não existem matizes diferentes do reconhecimento da natureza humana, e os problemas e consequentes soluções têm o caráter humano.

7 O francês Jean-Baptiste Say economista da escola austríaca, publicou sua mais importante obra em 1803 Tratado

de Economia Política. Como discípulo de Adam Smith dedicou particular esforço na disseminação dos trabalhos do autor escocês na Europa continental.

8Say esclarece que “Os ingleses não têm uma palavra equivalente a empresário industrial. É isso talvez, que os

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reparações, dado que o conceito de empresário surge na obra de Adam Smith, que o classifica sob três prismas diferentes9, aspecto não percebido por Say, inobstante sua admiração pelo autor escocês.

Em sua obra seminal, Tratado de Economia Política (1803), Say distingue três atores

fundamentais na sua visão: (a) o cientista, que estuda “o curso e as leis da Natureza”; (b) o empresário, como sendo “aquele que empreende a criação por conta própria, em seu benefício e a seus riscos, de um produto qualquer”; e (c) o operário, executor das orientações dadas pelo

cientista e pelo empresário (SAY, [1803], 1983, p. 85). É amplamente reconhecido que a apreciação dada por Say à questão assumiu relevante importância, na medida em que ele distingue o lucro advindo da atividade empreendedora, daquele fruto da alocação do capital.

Retomando o pensamento de Cantillon (1755), o autor fundamenta e estabelece a separação entre o agente econômico que assume os riscos, daquele que é o alocador do capital. Assim, emerge de seu trabalho a definição do empreendedor enquanto agente com capacidade de identificar e aproveitar oportunidades, tendo como objetivo a obtenção do lucro, mas acolhendo os riscos decorrentes da empreitada.

Schumpeter amplia essa linha de entendimento acerca de quem assume o risco da atividade

empreendedora, na medida em que assevera que o risco “[...] recai sempre sobre o proprietário dos meios de produção ou do capital - dinheiro que foi pago por eles, portanto nunca sobre o empresário enquanto tal” (SCHUMPETER, [1964], 1997, p.78).

Modernamente a conceituação do risco não isenta nenhuma das partes envolvidas na atividade empreendedora do risco inerente ao papel que cabe a cada uma nesse processo. Ao financiador cabe o risco financeiro representado pela possibilidade de não recuperar o capital investido ou emprestado ao proprietário dos bens de produção. E este, por seu turno, assume o risco de não alcançar os resultados financeiros almejados para seu negócio.

9 Adam Smith conceituou o empresário como: (i) Adventurer, entendido como aventureiro ou especulador; (ii)

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Em meio aos estudos de natureza econômica, outra abordagem, de natureza comportamental, centra seus estudos na busca da percepção quanto à motivação dos que empreendem e suas características comportamentais, sem que isso dessirva à construção da abordagem econômica. A tipicidade e a complexidade comportamental dos empreendedores fortalecem a necessidade da identificação na atividade, de traços comportamentais além da fronteira da racionalidade (FILION, 1999, p. 8).

Há uma convergência apontando para o importante papel desempenhado pelos estudos de Max Weber10, em que via o atrelamento do empreendedor a um conjunto de valores éticos guiando suas atividades via inovação e independência, com realce para o comportamento ético:

“É mito mais fácil não reconhecer que somente um caráter extraordinariamente forte

poderia salvar um empreendedor desse novo tipo de perda do seu autocontrole temperado e do naufrágio moral e econômico. De mais a mais, além da clareza de visão e da habilidade para agir, foi só pela virtude de qualidades éticas bem definidas e altamente desenvolvidas que lhe foi possível merecer a confiança, absolutamente indispensável, de seus clientes e trabalhadores. Nada além disso poderia ter lhe dado o vigor para superar os inúmeros obstáculos, e acima de tudo o trabalho muito mais

intenso exigido do moderno empreendedor” (WEBER, [1905], 2001, p. 29).

Apontado como um dos principais formuladores dos estudos acerca dos aspectos comportamentais do empreendedor, McClelland (1972, p. 61), ancora sua fundamentação na

“motivação psicológica” do ato de empreender, em cuja atividade são identificados traços comportamentais que o autor estatui como requisitos identificáveis total ou parcialmente no desempenho de empreendedores bem sucedidos:

I. Realização:

Buscam oportunidades; Têm persistência;

Correm riscos calculados;

São exigentes quanto à qualidade e eficiência; São comprometidos;

II. Planejamento:

Buscam informações;

10 Max Weber nasceu na Prússia, hoje Alemanha, reconhecido como um destacado economista e filósofo

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Estabelecem metas;

Planejam e monitoram sistematicamente; III. Poder:

São autoconfiantes e independentes;

São persuasivos e utilizam rede de contatos.

Parece ser transparente o pensamento de McClelland, que converge com a formulação teórica de Weber, na adjetivação do que compõe, segundo seus estudos, o perfil característico do empreendedor, guardadas as diferenças temporais e de natureza religiosa da obra de Weber.

Dentre outras importantes contribuições, como já evidenciado nos estudos de Schumpeter, McClelland identifica uma conexão entre a ação empreendedora e o crescimento econômico, ao

afirmar que “[...] a motivação de realização é responsável, em parte, pelo crescimento econômico” (MCCLELLAND, 1972, p. 61).

Por outro lado, fruto de estudos realizados por Hisrch et al. (2009, p. 55, 59), a utilização da adaptabilidade cognitiva ilustra o funcionamento do modelo mental dos empreendedores a partir de quatro características: dinamismo, flexibilidade, auto regulação e engajamento. Mencionadas características fortalecem a capacidade decisória, diante questões que surgem no cotidiano dos empreendedores.

Além do mais, elas facilitam a descoberta, a compreensão e o aproveitamento das experiências adquiridas, diante de novos cenários ou desafios que possam surgir. Desta forma, a fértil capacidade criativa tolera o acalentar de ideias novas e/ou inovadoras aplicáveis aos seus negócios, elemento que subvenciona um espírito motivador extremamente contagiante. Os autores pontificam que, através da adaptabilidade cognitiva é criada uma fronteira capaz de medir o dinamismo, flexibilidade, auto regulação e engajamento dos empreendedores, focados na liderança do processo de mudanças em seu ambiente, de tal modo que ocorra a adaptação eficiente aos seus objetivos empresariais.

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transformar o sonho em realidade” (DOLABELA, 2008, p. 33). O autor cita Timmons e Hornaday para deles perfilar características dos empreendedores, como iniciativa, autonomia, autoconfiança, otimismo, necessidade de realização, seguir uma pessoa que serve de modelo, dentre outros atributos (Dolabela, 2008, p. 31).

Ficam muito claras e revestem-se de fundamental importância, as contribuições dessas duas abordagens na construção de um tecido harmônico, de um lado comportando o entendimento do protagonismo econômico da atividade empreendedora, e de outro, o conhecimento quanto à natureza do comportamento humano dos empreendedores, por conseguinte enfocando as causas e a forma de condução dessa atividade.

2.1Empreendedorismo no Brasil

O estudo do empreendedorismo no Brasil aponta os anos 1990 como singulares, a partir de duas iniciativas transformadas em realidade: a) nascido como Centro Brasileiro de Assistência Gerencial de Assistência à Pequena e Média Empresa (CEBRAE) em 1972, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresa (SEBRAE) foi criado em 1990; b) já a Sociedade Brasileira para Exportação de Software (SOFTEX) foi criada em 1996. Mencionadas iniciativas representam um divisor de águas, pois pouco ou nada se falava acerca de empreendedorismo, e a criação de pequenas empresas ocorria por deliberação de seus fundadores, sem a necessária orientação.

Quando se olha para o caminho percorrido por essas duas instituições, impossível não confundir a história do empreendedorismo no Brasil com as próprias histórias do SEBRAE e da SOFTEX.

A SOFTEX construiu proveitosas parcerias no Brasil, associando-se a incubadoras de empresas e a universidades, despertando na sociedade o interesse por temas antes desconhecidos, como por exemplo, planos de negócios, além de descortinar um então desconhecido mercado externo.

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EMPRETEC é outro programa do SEBRAE campeão de demanda e com excelente avaliação pelos empreendedores que têm participado. Trata-se de metodologia desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU), dirigida ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de características comportamentais dos empreendedores, além de auxiliá-los na identificação de novas oportunidades de negócios. Esse programa já capacitou no Brasil cerca de 190 mil pessoas e todo ano 10 mil empreendedores são capacitados.

Instituído mais recentemente, o programa Jovem Empreendedor conta com o apoio do Governo Federal no contexto de outro programa governamental Primeiro Emprego, é dirigido a jovens 16 a 24 anos, com baixa renda familiar que estejam cursando ou tenham concluído o ensino médio ou fundamental e têm interesse em montar seu próprio negócio.

Dornelas (2012) acredita que o Brasil “entra na segunda década deste novo milênio com todo potencial para desenvolver um dos maiores programas de ensino do mundo, comparável apenas

aos Estados Unidos, onde mais de duas mil escolas ensinam empreendedorismo” (DORNELAS,

2012, p. 15).

Todas as pesquisas realizadas no País acerca da atividade empreendedora convergem para um ponto em comum: os brasileiros são um povo com forte vocação para o empreendedorismo.

Os números são pungentes, segundo têm divulgado com frequência diversos organismos nacionais e internacionais. De acordo com dados do SEBRAE (2012), em 2011, 99% das empresas brasileiras são micro ou pequenos negócios, responsáveis por 51,6% dos empregos com carteira assinada e por 39,5% da massa remuneratória.

É positivo constatar que dados da pesquisa Empreendedores Brasileiros – Perfis e Percepções 201311, realizada pela Endeavor Brasil12, confirmam que ter um negócio próprio é aspiracional

11 A pesquisa tem por objetivo principal identificar perfis empreendedores na sociedade brasileira.

12 Endeavor é uma organização internacional sem fins lucrativos que busca impulsionar o empreendedorismo de alto

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para 76% dos brasileiros, que preferem essa opção enquanto atividade econômica, a serem empregados ou funcionários de terceiros. Trata-se da segunda maior taxa do mundo, superada apenas pela Turquia, com realce para o fato de que, para o brasileiro, empreender produz prazer, autonomia e realização.

Ainda segundo a mesma publicação, o Brasil e demais países dos BRICS estão classificados como economias focadas na eficiência, mas apenas Brasil e Rússia são considerados como em fase de transição para serem enquadrados como economias com foco na inovação.

A pesquisa Empresários, empresários potenciais e produtores rurais (SEBRAE, março/2014), realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), a partir de dados contidos na PNAD/IBGE, revela que em 2012 existiam no Brasil 23,1 milhões de pessoas donas de negócios, ante os 20,2 milhões verificados em 2002, representando uma evolução de 15,3%.

O SEBRAE divide esse contingente em três categorias13:

a) Potenciais Empresários: representam 57% da população pesquisada, ou seja, são 13,2 milhões de pessoas que atuam por conta própria ou que são proprietárias de negócios informais;

b) Empresários: representam 25% da população pesquisada, ou seja, são 5,7 milhões de pessoas que são titulares de negócios formalizados; e

c) Produtores rurais: representam 18% da população pesquisa, ou seja, 4,2 milhões de pessoas, detentoras de negócios formais ou informais.

Em consequência do interesse específico deste trabalho dissertativo, os comentários que seguem

recaem sobre os empreendedores denominados “potenciais empresários” e aqueles chamados “empresários”, que de acordo com a pesquisa do SEBRAE constituem uma população de 18,9

milhões de negócios entre formais e informais, circunscritos ao locus da pesquisa.

pelo menos dez pessoas ocupadas assalariadas no ano inicial de observação. Alguns dos aspectos da pesquisa consultam os interesses deste trabalho dissertativo.

13 A categorização do SEBRAE tem a ver com o seu público alvo que são as micro e pequenas empresas brasileiras,

(25)

Nesse sentido, esse extrato da população passa a ter uma nova configuração, onde os “potenciais

empresários” apresentam uma participação de 69,8%, enquanto que os “empresários” têm uma participação de 30,2%. A Região Nordeste abriga 15% dos “empresários” e 30% dos “potenciais

empresários”, que respectivamente representam o 3º e o 2º maiores grupos regionais no País.

Dentre outras constatações captadas pela pesquisa realizada pelo SEBRAE (2012), importa ressaltar os seguintes pontos:

1) Gênero:

Tanto os “empresários potenciais” como os “empresários”, apresentam um perfil semelhante,

na medida em que 35% são mulheres e 65% são homens. 2) Propriedade:

Existe uma predominância dos chefes de domicílio na condução dos negócios. Entretanto, no

caso dos “potenciais empresários”, 57% são chefes do domicílio, sendo que 25% são cônjuges, 18% são filhos(as) ou integram outras relações familiares. No grupo dos

“empresários” as participações são superiores, comparativamente com a categoria anterior: 61% são chefes do domicílio, 26% são cônjuges, 13% são filhos(as) ou outras relações

familiares. Na categoria familiar de “outros” podem ser incluídos: parentes e agregados. 3) Escolaridade:

Os “empresários” apresentam maior grau de escolaridade, nível sustentado por 11 anos de

estudo, contra 7,5 anos dos “potenciais empresários”. Na categoria dos “potenciais empresários”, 7% possuem ensino superior completo ou mais, enquanto que os “empresários” ostentam 27% para o mesmo indicador. A mesma discrepância aparece quanto a resposta para o item curso superior incompleto, no qual 2% dos “potenciais empresários”

estão nessa condição, contra 7% dos “empresários”. Já a relação existente entre os “potenciais empresários” e os “empresários” no tocante a ter o ensino médio completo ou

não é de 31% e 39% respectivamente. 4) Faixa etária:

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5) Rendimento médio mensal:

Entre os “potenciais empresários”, 81% ganham até 2 salários mínimos e apenas 3% percebem mais de 5 salários mínimos. Entre os “empresários”, 42% têm renda de até 2

salários mínimos e 20% deles apresentam renda superior a 5 salários mínimos. Nesta última

faixa de rendimento, os “empresários” possuem uma participação bem maior que os “potenciais empresários”.

6) Idade em que começou a trabalhar:

É uma característica apurada pela pesquisa o início laboral muito cedo. Tanto os “potenciais empresários”, como os “empresários” compartilham dessa característica, pois até os 17 anos

79% e 73%, respectivamente, começam a trabalhar antes de completarem 18 anos. Em ambas categorias, apenas 2% tem esse início a partir dos 25 anos de idade.

7) Tempo na atividade:

É positiva a constatação de que nas duas categorias, a maioria já atua há mais de 5 anos. Portanto, ultrapassaram uma fase na qual as dificuldades são maiores e ocorre o maior índice de fechamento de pequenos negócios. Com efeito, considerando a classe dos que estão há

mais de cinco anos na atividade atual, 55% dos “potenciais empresários” e 62% dos “empresários” enquadram-se nesse aspecto.

8) Acesso à informação

A pesquisa evidencia que o telefone celular é principal instrumento de comunicação dos

proprietários de pequenos negócios no Brasil. No grupo dos “empresários”, 98% possuem telefone celular e 69% possuem telefone fixo no domicílio. Já os “potenciais empresários”,

93% possuem telefone celular e 39% têm telefone fixo no domicílio.

Igualmente ficou comprovado que, tal como ocorre com os recursos de telefonia, a categoria

dos “empresários” tem mais acesso aos recursos de informática, na medida em que 81% deles possuem microcomputadores e 76% têm acesso à internet no domicílio. Entre os

“potenciais empresários” a participação é expressivamente menor, pois apenas 48% têm microcomputadores e 41% dispõem de acesso à internet no domicílio.

9) Contribuição para a Previdência Social

A participação neste item das duas categorias examinadas é discrepante. No grupo dos

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para a previdência privada. Entre os “potenciais empresários”, apenas 19 % têm alguma proteção previdenciária, posto que 17% contribuem para a previdência pública no tocante ao trabalho principal e apenas 2% investem em algum plano de previdência privada. A pesquisa constata ainda que o acesso à rede de proteção previdenciária por parte desses empreendedores tem maior expressão nas atividades urbanas, nas empresas formalizadas e de maior complexidade com empregados, além dos casos de empreendedores com maior nível escolar e de maior renda.

2.2 Setor informal no Brasil

O Brasil apresenta um grande contingente de empresas informais, excluídas dos benefícios instituídos através das políticas públicas. Constituem uma classe colocada ao desabrigo e desamparo, distante dos benefícios do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), Seguro Desemprego, Previdência Social, dentre outros instrumentos que compõem a rede de proteção social existente no Brasil.

A literatura técnica que estuda o empreendedorismo no Brasil assinala várias iniciativas governamentais ensejando alternativas de apoio ao setor informal, tendo como pano de fundo a geração de emprego e renda.

Uma importante iniciativa ocorrida na América Latina tem lugar no Recife que, liderada pela Acción Internacional14, em 1973 implanta o Programa UNO União Nordestina de Assistência a Pequenas Organizações, apoiado pela iniciativa privada local. O declínio desse apoio leva ao gradual encerramento das atividades do programa.

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, patrocinados pelo governo federal, surgem diversos trabalhos acerca do mercado informal brasileiro, com destaque para estudo elaborado por Roberto Cavalcante que cuida das potencialidades do setor informal em algumas das principais cidades da Região Nordeste. Tomando por base esses trabalhos, a Superintendência

14 Acción foi fundada em 1961 por um estudante de Direito da UC Berkeley chamado José Blatchford, com sede em

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de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) produziu dois documentos que marcam o início de ações efetivas de apoio ao setor informal pela área governamental: o “Programa de Apoio a Trabalhadores Autônomos de Baixa Renda” (1979)e o “Programa de Apoio ao Setor Informal” (1980).

O primeiro documento elaborado pela SUDENE lega o seu nome ao Programa de Apoio a Trabalhadores Autônomos de Baixa Renda (PATRA), caracterizando-se como uma linha de ação dirigida a trabalhadores por conta própria de baixa renda, e buscava o aumento da renda através da intermediação entre a oferta e a demanda de serviços, e também por ações complementares de treinamento.

Na década de 1980, além da iniciativa da SUDENE, começam a surgir várias ações nos três níveis de poder, que passam a atuar apoiando de uma forma mais direta as atividades informais. Assim, no âmbito do governo federal é destaque o Sistema Nacional de Emprego (SINE), ligado ao Ministério do Trabalho. O SINE, embora criado nos anos 1970, apenas na década seguinte assume um papel protagonista, promovendo ações ligadas ao setor informal da economia.

Essa nova abordagem despertou o interesse de alguns governos estaduais e até mesmo de municípios. Marca essa época a criação de áreas responsáveis por ações de apoiamento ao setor informal, principalmente através da estruturação de setores específicos para promoção de emprego e renda ligados às secretarias estaduais de trabalho ou órgãos similares.

A ação tripartite – União, Estados e Municípios, estimulou rápido crescimento dessa intervenção junto ao setor informal. É possível destacar, nessa fase, importantes programas implantados na primeira metade dos anos 1980, através da montagem de estruturas técnico-administrativas e da mobilização e aporte de recursos financeiros, de origem doméstica e externa. Cabem destaque três blocos de programas que traduzem as ações comentadas:

a) Programa de Cidades de Porte Médio (CPM) e o Programa de Regiões Metropolitanas do Nordeste (RM-NE), utilizando recursos do Governo Federal e do Banco Mundial;

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c) Programa de Prioridades Sociais (PPS) criado na “Nova República” que, em seu escopo ligado ao emprego e renda, aportava recursos financeiros do Governo Federal aos estados, com o objetivo de criar ou fortalecer projetos de apoio ao setor informal.

Diversos outros programas surgiram em anos mais recentes, sempre no viés da concessão de financiamentos e pouca ou nenhuma preocupação dirigida à capacitação, treinamento e modernização das estruturas produtivas existentes. Dentre eles, podem ser mencionados: a) Micro e Pequenas Empresas; b) Setor Informal; c) Cooperativas e Associações de Produção; d) Setor Informal e Apoio ao Recém Formado; e) Programa de Geração de Emprego e Renda (PROGER); f) Programa de Geração de Emprego e Renda (PROGER-Rural); g) Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).

Esse foco quase que exclusivo à concessão de financiamentos, tem como contraponto a crescente e excepcional atuação do SEBRAE junto aos micro e pequenos negócios formalizados no Brasil que, ao levar dos anos, tem implementado diversos e consagrados programas de capacitação, treinamento e consultoria.

Entretanto, na gênese desses programas, ações de consultoria técnica permanente e capacitação com foco na gestão e no sistema produtivo, têm um comportamento assimétrico. Trata-se de uma fragilidade que afeta a continuidade dos negócios, situação que pode ser referenciada através das pesquisas que o SEBRAE vem desenvolvendo sistematicamente.

Independentemente do tamanho, as empresas vivenciam problemas e obstáculos muito semelhantes. As diferenças residem na complexidade, tamanho e caminhos para as soluções. Enquanto as médias e grandes empresas dispõem de acesso à informação e possuem competências instaladas, as micro e pequenas empresas têm maiores dificuldades de acesso à informação e nenhuma ou pouca competência disponível para equação de suas dificuldades.

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Global Report15, que 83,2% dos empreendedores nordestinos não buscaram apoio consultivo em órgãos de apoio e que apenas 10,6% acessaram o SEBRAE. Considerando a predominância dos pequenos negócios no cenário brasileiro, os números são preocupantes.

O trabalho elaborado em 2013 pelo SEBRAE –“Sobrevivência das Empresas no Brasil” aponta para uma taxa de mortalidade no País de 24,4%, enquanto que no Nordeste esse indicador sobe para 28,7% de empresas que encerram prematuramente suas atividades (SEBRAE, 2012). As principais razões para tais números constam de outra pesquisa elaborada pelo SEBRAE/SP – “Causa mortis: o sucesso e o fracasso das empresas nos primeiros 5 anos de vida”

(SEBRAE/SP, 2014), em que o órgão debita a mortalidade nos primeiros cinco anos de vida das empresas a várias falhas ou omissões cometidas pelos micro e pequenos empresários, que têm a ver com três grandes eixos:

a) Planejamento prévio:

 55% não elaboraram plano de negócios;

 50% não determinaram o valor do lucro pretendido;

 46% não identificaram o número de clientes que teriam e seus hábitos de consumo;  42% não calcularam o nível de vendas para cobrir custos e gerar o lucro pretendido;  39% não sabiam o capital de giro necessário para o funcionamento da empresa;  38% não identificaram as necessidades atendidas pelo mercado;

 38% não sabiam o número de concorrentes que teriam;  37% não sabiam a melhor localização;

 33% não tinham informações sobre fornecedores;  32% não conheciam os aspectos legais do negócio;

 31% não sabiam o investimento necessário para o negócio. b) Gestão empresarial:

 75% não investiam em propaganda e divulgação;

 63% não acompanhavam as estratégias dos concorrentes;  57% não reviam e atualizavam o plano de negócios;

15 Pesquisa GEM Brasil 2013 é parte do projeto Global Entrepreneurship Monitor, realizado por meio de uma

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 54% não acompanhavam rigorosamente receitas e despesas;  45% não inovavam continuamente em processos e procedimentos;

 42% não calculavam detalhadamente os custos de cada produto ou serviço;  39% não aperfeiçoavam produtos e/ou serviços;

 38% não se atualizavam com respeito às tecnologias do setor;  33% não procuravam fornecedores com qualidade e preço. c) Comportamento empreendedor:

 94% não faziam ações em conjunto com outras empresas;  94% não vendiam para o governo;

 90% não se reuniam com clientes e parceiros;  67% não obtiveram empréstimos bancários;  66% não participaram de cursos;

 56% não se antecipavam aos fatos;

 53% enfrentavam riscos acima do moderado;  53% não buscavam intensamente por informações;  45% não planejavam ou monitoravam cada etapa;  40% não estabeleciam objetivos e metas;

 40% não definiam plano de ações para atingir objetivos e metas;  22% não “sacrificavam-se” para atender os objetivos;

 21% não seguiam os objetivos com persistência;  16% não buscavam qualidade e eficiência;  11% não acreditavam na própria capacidade.

Considerando os resultados identificados pelo estudo realizado pelo SEBRAE/SP (2014) objeto dos comentários anteriores, a pesquisa dissertativa deverá levantar um conjunto de evidências capazes de emoldurar um cenário atual, claro e que revele o caminho percorrido e a percorrer pelos Microempreendedores Individuais sob o ponto de vista dos três construtos que compõem os objetivos específicos deste trabalho.

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SEBRAE/SP, com ajustes e concisões entendidos como necessários para melhor situar os Microempreendedores Individuais entrevistados às suas realidades, sejam anteriores ou posteriores às suas formalizações.

No ambiente já caracterizado nas seções anteriores, em que atuam os pequenos negócios informais, é saudada a instituição da figura jurídica do Microempreendedor Individual (MEI), nascida através da Lei Complementar nº 128, de 19/12/2008, que alterou a Lei Complementar nº 123, de 14/12/2006 e incorporando a regulamentação jurídica do MEI aos termos da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa.

O tratamento jurídico dado ao MEI caracteriza-se por uma abordagem tributária específica e diferenciada, que embora circunscrito ao Programa do Simples Nacional, parece ter reduzido significativamente os trâmites burocráticos, valores tributários imputáveis a esse segmento empresarial, bem como a forma de recolhimento.

Com efeito, os procedimentos anunciados para a formalização ou baixa desse tipo de empresa ocorrem no ambiente web, sendo que na criação da pessoa jurídica o CNPJ e o número de inscrição na Junta Comercial são fornecidos imediatamente. Até 180 dias, a prefeitura de jurisdição do microempreendimento irá confirmar a adequação do local escolhido pelo MEI para exercício de suas atividades, com resposta formal após a análise do pedido de registro. Vencido o prazo de 180 dias a confirmação é considerada tácita, face a não manifestação da autoridade municipal dentro do mencionado prazo.

A criação do Sistema de Recolhimento de Valores Fixos Mensais dos Tributos Abrangidos pelo Simples Nacional (SIMEI) deixa transparecer o interesse da ação governamental em simplificar a forma de recolhimento dos tributos devidos pelos Microempreendedores Individuais.

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É enquadrável como Microempreendedor Individual aquele que atua profissionalmente no exercício de atividade econômica organizada, destinada à produção ou à circulação de bens ou de serviços e que atenda cumulativamente às seguintes condições:

a) tenha auferido receita bruta acumulada no ano-calendário anterior de até R$ 60.000,00; b) seja optante pelo Simples Nacional;

c) possua um único estabelecimento;

d) não participe de outra empresa como titular, sócio ou administrador; e) não contrate mais de um empregado.

As atividades econômicas enquadráveis no Microempreendedor Individual estão listadas no site www.portaldoempreendedor.gov.br, e são aderentes à CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas, que representa a padronização brasileira dos códigos de atividade econômica e dos critérios de enquadramento utilizados pelos diversos órgãos da Administração Tributária do país.

As normas estabelecidas fronteirizam as atividades no limite da receita bruta anual ou o valor correspondente à proporcionalidade mensal, fixando até onde suas atividades podem atingir, fazendo jus ao enquadramento e mantendo o acesso a direitos e benefícios previstos pelo programa.

Tributariamente, o MEI obtém registro no programa Simples Nacional, ficando isento do pagamento dos seguintes tributos federais: i) Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ); ii) Programa de Integração Social (PIS); iii) Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS); iv) Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); e v) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Por outro lado, o microempreendedor paga valor fixo mensal máximo, a depender da atividade exercida, sendo: a) atividade comercial ou industrial, R$ 42,20; b) atividade de serviços, R$ 41,20; e c) atividade simultânea de comércio e serviços, R$ 42,20.

(34)

Natureza (ISS), assim distribuídos:

a) Previdência Social (INSS): 5% do salário mínimo vigente: R$ 36,20; b) Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS): R$ 5,00;

c) Imposto de Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS): R$ 1,00.

Mencionadas contribuições são recolhidas no dia 20 de cada mês, através de um único documento de arrecadação, o que constitui uma excelente simplificação para o MEI.

O Microempreendedor Individual (MEI) passa a ter acesso a benefícios sociais como aposentadoria, auxílio maternidade, auxílio doença, aposentadoria, além dos seguintes direitos e outros benefícios:

a) negociação, em condições de igualdade, com outras empresas e com o governo; b) conquista de novos clientes;

c) redução do custo para contratação de um funcionário.

d) acesso a empréstimos e financiamentos exclusivos para empresas desse porte; e) segurança jurídica, evitando assim embaraços com a fiscalização.

Entretanto, a simples formalização não representa um apanágio para a solução de todos os problemas enfrentados por esse segmento econômico. Vários estudos apontam para dificuldades que esse novo tipo de empresário tem enfrentado. São obstáculos de toda ordem, desde a clara compreensão da organicidade do programa governamental em si, até o alcance dos objetivos esperados pelos órgãos governamentais, passando pelo adequado desempenho dos papeis que o tecido estatal assumiu perante os Microempreendedores Individuais.

Das particularidades estruturais que marcam os pequenos negócios em geral, e em especial as microempresas, chama a atenção em especial, a fragilidade interna dessas últimas, sendo destaque: a informalidade das relações, a inexistência de estrutura organizacional, a gestão e produção exercidas pelo próprio empreendedor, bem como as precárias técnicas gerenciais.

(35)

privilegie sobremodo os aspectos mais táticos ligados à gestão desses pequenos negócios, embora abordando, ainda que superficialmente, aqueles de natureza estratégica como é o caso do planejamento.

Desta forma, o marco teórico, que será discorrido a seguir, contemplará cada um dos objetivos específicos, ficando atento a adequada fundamentação do que a academia teoriza sobre os conteúdos indispensáveis: planejamento, execução, verificação e ação.

Cabe reconhecer, nesse contexto, as restrições que muitos outros autores já tiveram a oportunidade de identificar e ajustar a arquitetura da pesquisa à inexorável realidade que permeia os microempreendedores individuais. Essa realidade leva os empreendedores a dedicar seu tempo às questões do cotidiano, de natureza tática e operacional, dado o papel multifuncional desempenhado por seus proprietários, permeando os fundamentos estratégicos essenciais. Essa falta de ligação entre a estratégia e os aspectos táticos e operacionais, constitui falha que o SEBRAE tem observado em seus estudos,

Sendo tais aspectos estratégicos e táticos responsáveis, em grande medida, pela ainda elevada taxa de insucesso dos pequenos negócios, nada mais pertinente e relevante, do que verificar se a figura jurídica recente dos Microempreendedores Individuais, a serem estudados nesta pesquisa, estão incorrendo ou não nos mesmos erros que têm levado ao fracasso expressiva porção de várias categorias de micro e pequenos e empreendedores.

2.2 Elaboração do planejamento

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demandas. Contudo, as decisões precisam ser corretas e conectadas com os objetivos estratégicos definidos pela empresa.

Tais decisões irão influenciar o futuro, seja este de curto, médio ou de longo prazo. Neste sentido, Mintzberg ensina que o planejamento estratégico é uma [...] “forma de pensar no futuro, integrada no processo decisório, com base em um procedimento formalizado e articulador de

resultados” (MINTZBERG, 2004).

Nada garante que o futuro será como foi planejado. Entretanto, com o planejamento estratégico é possível ajustar a empresa rumo a um futuro que se move de forma independente. Ou seja, se o futuro é inexorável, resta a pergunta: em que posição a empresa estará nesse futuro?

Assim, o planejamento empresarial é uma poderosa ferramenta para a gestão, tendo como função oferecer um rumo à empresa, de forma dinâmica e capaz de interagir com o ambiente, levando em consideração as estratégias estabelecidas. E o âmago da estratégia está no diálogo da empresa com o seu ambiente, tendo como objetivo o equilíbrio entre ambos (PORTER, 2002).

Dada sua importância, carece ser melhor caracterizada a questão ambiental, posto que envolve o ambiente chamado de externo e o ambiente denominado interno. Do ambiente externo são originadas oportunidades e ameaças, cujas variáveis são controláveis pela empresa. Já o ambiente interno é pontuado por pontos fortes e pontos fracos, composto por variáveis controláveis pela empresa. Cabe ao empreendedor aproveitar as oportunidades e mitigar as ameaças que surgem a cada momento. De outro lado, é necessária a potencialização dos seus pontos fortes e extirpar ou reduzir seus pontos fracos. O dinamismo empresarial impõe a busca e o alcance do equilíbrio entre as variáveis ambientais.

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inexistência dessa ferramenta, poderiam ser melhor geridos se estivessem no radar do planejamento.

De acordo com a pesquisa Empreendedorismo no Brasil – Relatório Executivo 2013, 71,3% dos negócios que surgiram naquele ano decorreram da existência ou vislumbre de uma oportunidade. Toda e qualquer oportunidade deve ser detalhadamente estudada com o objetivo de tirar da ideia primária se a oportunidade realmente existe, se é viável e em que condições pode ser viabilizada.

Entretanto, o planejamento estratégico não deve ser visto como um certificado de garantia no encaminhamento de soluções para todas as dificuldades e obstáculos que a empresa enfrenta ao longo do tempo. Mas, certamente, mencionadas dificuldades e obstáculos poderão ser superados ou mitigados com menor dificuldade, quando os negócios foram devidamente estudados.

Diversos fatores devem ser particularmente analisados, sendo vistos como fundamentais no julgamento da viabilidade de uma possível boa oportunidade de negócio: mercadológicos, financeiros, econômicos, gerenciais, organizacionais, tecnológicos e infraestruturais. Ademais, o negócio deve gerar lucros suficientes à remuneração do investimento realizado e à perpetuidade da empresa.

Contudo, de algum modo e por mais simplista e tosco que seja, as microempresas fazem algum tipo de planejamento. Entretanto, as prescrições técnicas e intelectuais exigidas no planejamento estratégico passam ao largo da realidade e da percepção das micro e pequenas empresas, embora, como já asseverado, essa lacuna contribui para a elevada taxa de mortalidade de empresas desses portes. Com efeito, para tais empresas o planejamento estratégico envolve uma elevada dose de incertezas sobre as quais o empreendedor não possui conhecimento (GOLDE , 1986).

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Diante dos benefícios propiciados pela ferramenta e pela dificuldade na sua utilização nas micro e pequenas empresas, faz-se necessário avaliar suas realidades, peculiaridades e restrições, para ser formulado, em etapa futura, um modelo mais adequado de gestão.

Um caminho possível para estabelecer o processo de planejamento estratégico dirigido para as pequenas empresas, é adotá-lo a partir das seguintes etapas: a) verificar as características dessas micro e pequenas empresas; b) analisar e identificar os pontos que podem restringir a implantação do processo de planejamento; c) estudar formas que eliminem ou reduzam os pontos restritivos; e d) estruturar modelo que permita a elaboração, implementação, avaliação e controle do planejamento estratégico (GOLDE, 1986).

Mencionado autor compreende que nesse caso é recomendável a elaboração de um plano de ação que conecte recursos e compromissos da empresa, com o objetivo de elevar seu desempenho. A escolha das estratégias deve considerar a situação atual da empresa, que devem fazer sentido a partir de objetivos e metas desejadas, constituindo elemento deflagrador na busca do desempenho superior.

Deve ser ressaltado que existem estratégias desejadas e estratégias possíveis. O que separa uma situação da outra são respostas a questionamentos muito próprios desse momento: a) aderência das estratégias com a razão de ser da empresa; b) disponibilidade de recursos ou capacidade de mobilização; c) acesso a tecnologias necessárias; d) existência de competências e possibilidade de capacitação; e e) estrutura compatível com as estratégias.

Resta pacífico que os planos formais são essenciais ao processo de planejamento estratégico das micro e pequenas empresas, sempre utilizados como instrumentos que esclareçam os objetivos e que sejam capazes de contribuir para o alcance efetivo a que foram constituídos. Entretanto, devem ser simples e ensejar análises menos complexas.

(39)

Entretanto, não consta da literatura científica propostas ou formulações de modelos de planejamento estratégico dotados da simplicidade necessária às características do Microempreendedor Individual, mas sem descurar dos pontos indispensáveis e que constituem o cerne dessa importante ferramenta.

No que tange ao primeiro objetivo específico deste trabalho, foram desmembradas questões levantadas na pesquisa realizada pelo SEBRAE/SP, antes mencionada, de modo a verificar qual a realidade dos Microempreendedores Individuais diante de questões que representam fatores que são caros ao planejamento estratégico e que constituíram causa para o encerramento precoce das empresas pesquisadas por aquele órgão de apoio:

a) existência de um plano de negócios que orientou a criação da empresa;

b) hábito de projetar anualmente lucro desejado para o exercício seguinte;

c) conhecimento do número necessário de clientes;

d) conhecimento dos hábitos de consumo de seus clientes;

e) hábito de projetar o nível de vendas necessário para cobrir os custos/despesas e gerar lucro;

f) conhecimento quanto ao valor do capital de giro para o bom funcionamento da empresa; e

g) conhecimento do valor do investimento necessário quando começou o negócio.

2.3 Capacidade de gestão empresarial

São crescentes a preocupação e a discussão acerca da necessidade de utilização de novas práticas aplicáveis à organização e gerenciamento dos processos na gestão das empresas. À medida que a competição cresce, as empresas disputam o mercado com margens mínimas aumentando a necessidade de refinamento de seus processos de gestão.

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Por outro lado, existe consenso apoiado em estudos subscritos por reconhecidos pesquisadores, que defendem ser necessário dar um enfoque específico à gestão das micro e pequenas empresas, considerando as peculiaridades que as distinguem das empresas de médio e grande portes (CÊRA; ESCRIVÃO FILHO, 2003).

As empresas de todos os portes carecem de um processo gerencial com capacidade de apoiar a coordenação das suas atividades operacionais, administrativas e financeiras. Ressalvadas as diferenças quanto ao grau de complexidade existente entre as empresas de grande e médio portes e as de pequeno e micro portes, é certo que todas elas demandam necessidades gerenciais muito semelhantes, mas a realidade impõe um modelo de gestão com arquitetura específica às necessidades dos pequenos e micro negócios.

Em verdade, a despeito da existência de teorias acerca do conhecimento sobre gestão de negócios em empresas de qualquer tamanho e natureza, na prática existe ainda um grande vácuo pela inexistência de um modelo que ampare a aplicação dos conceitos existentes à gestão de micro e pequenos empreendimentos (PETTY, 2004).

Nesse sentido, Nakamura (2000) vê a gestão das pequenas empresas fortemente caracterizada pela pessoalidade, informalidade e administração não profissional. É adequado projetar que tais características são potencializadas no caso dos microempreendedores individuais, cuja estrutura empresarial é muito mais frágil, quando comparada à existente nas pequenas empresas.

Tais características têm a ver com um perfil em que podem ser destacados o individualismo e o conservadorismo, improvisação do planejamento e baixa qualidade da atuação na área financeira.

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Nakamura (2000) entende que nesse grupo de empreendimentos a administração é exercida de forma intuitiva, pontuada por baixo conhecimento tecnológico, econômico e social. Como já mencionado, inexistem nesse segmento de empresas, competência relativa às técnicas de gestão, o que ocasiona a total concentração de funções, decisões e poderes. No caso dos microempreendedores individuais essa concentração está assentada no titular do negócio, envolvendo as atividades básicas de qualquer empreendimento: operação, administração e finanças, o que compromete uma gestão eficiente e eficaz nas três mencionadas áreas.

Em alguns aspectos da citada concentração emergem pontos positivos, como por exemplo: o processo de tomada de decisão que ocorre mais célere, a proximidade com os clientes e fornecedores, a capacidade para rápida modificação de produtos, serviços e processos, traços característicos de estruturas empresariais flexíveis.

Vários estudos citam como problemas decorrentes: a centralização das decisões, que tomadas de forma intuitiva, por vezes produzem perdas em sua qualidade; a inexistência de estrutura organizacional; a capacidade administrativa restrita a questões mais simples do cotidiano; o planejamento é improvisado e, portanto não é formal; a inexistência de controles. Realmente, na pesquisa realizada pelo SEBRAE (2012), no que tange aos aspectos relacionados à gestão, as causas apontadas pelo estudo para a mortalidade precoce de micro e pequenas empresas brasileiras, estão em sua maioria ligadas à deficiência ou inexistência de tais aspectos.

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