M E N I N G I O M A S I N T R A O S S E O S
R E L A T O D E 2 C A S O S
G I L B E R T O M A C H A D O D E A L M E I D A *
J O Ã O R O B E R T O D . A Z E V E D O * *
A F O N S O V I T U L E F I L H O * * *
J O S É P I N D A R O P . P L E S E *: : :
Os meningiomas extracranianos e extraespinais primários são raros, tendo sido descritos, até 1973, cerca de 50 casos : i
. Algumas das localizações mais comuns são a órbita, o nervo óptico, a pele, a cavidade nasal, o ouvido médio e o pescoço s
. 5
. O meningioma intraósseo primário da calota cra-niana distingue-se do meningioma intraósseo secundário por não ser extensão de tumor intracraniano e pela ausência de comprometimento da dura-mater. Azar-Kia & col. 1
(1974) encontraram, na literatura, apenas 8 casos de meningioma intraósseo craniano e apresentaram outros 4.
O B S E R V A Ç Õ E S
CASO 1 — C . T . S . , 34 anos de idade, sexo feminino, cor parda, admitida em 13-12-73. A o s 15 anos de idade notou t u m o r a ç ã o fronto-temporal direita, indolor, que a u m e n t o u lentamente. A o e x a m e clínico, nada foi observado de a n o r m a l , a l é m da saliência fronto-temporal de forma o v a l a d a , com 7 cm em seu maior diâmetro,
de consistência dura e indolor à palpação. Cranograma — G r a n d e n e o - f o r m a c ã o de natureza óssea, fazendo proeminência na região fronto-temporal direita ( p t e r i o n ) . A neoplasia tem aspecto irregular, notando-se m e n o r densidade na parte central.
Angiografia carotíclea bilateral — Grupo silviano do lado direito deslocado p a r a
cientro, pela t u m o r a ç ã o óssea. N ã o existem sinais de processo expansivo intracra-niano. A l g u n s ramos da artéria carótida e x t e r n a dirigem-se para a área de hipe-rostose (Fig. 1 ) . Intervenção cirúrgica — A p a r e n t e m e n t e foi retirado todo o tecido anormal, que era m u i t o sangrante, apresentando em seu interior vários pequenos
cistos. N ã o h a v i a c o m p r o m e t i m e n t o da d u r a m a t e r . Exame histopatológico — M e -ningioma p s a m o m a t o s o infiltrando tecido ósseo. Evolução — O caso evoluiu hem. Um ano após a cirurgia foi feita plástica da falha óssea com acrílico.
C A S O 2 — A . P . S . , 5 0 anos de idade, sexo feminino, cor branca, admitida em
11-09-74. A paciente sofreu t r a u m a t i s m o parietal direito u m ano antes. L o g o
após, notou pequena t u m o r a ç ã o no m e s m o local, com crescimento progressivo. E m
a l g u m a s ocasiões sentiu dor na região a b a u l a d a . Exame clínico — T u m o r a ç ã o
parietal direita, o v a l a d a , de consistência dura, medindo 7 cm no maior diâmetro.
Craniograma (Fig. 2 — Grande i m a g e m arredondada, de densidade calcica, de
tornos regulares e b e m definidos, projetando-se n a região fronto-parietal direita,
ao nivel da sutura coronaria. N a incidência oblíqua observa-se que o t u m o r com-promete as duas t á b u a s ósseas, Jazendo proeminência e x t e r n a m e n t e . Angiografia
carotídea bilateral — N o r m a l , não sendo visibilizada circulação própria do tumor. Intervenção cirúrgica — A p a r e n t e m e n t e foi retirado todo o tecido a n o r m a l , bastante
sangrenta, de consistência m e n o r do que o osso n o r m a l . N ã o h a v i a comprometi-m e n t o da d u r a - comprometi-m a t e r . Exacomprometi-me liistopatológico — M e n i n g i o comprometi-m a intraósseo. Evolução — A paciente evoluiu bem.
C O M E N T Á R I O S
Os meningiomas são tumores formados por tecido conjuntivo pleiomór-fico, derivado, provavelmente, dos meningocitos, que são células das vilosi-dades aracnóides7
estabelecida. A teoria mais aceita, para explicar o aparecimento de me-ningiomas à distância, baseia-se na existência de restos embrionários ectó-picos de células da aracnóide6
- Restos embrionários deste tipo foram de-monstrados nas bainhas de nervos cranianos e ao nível dos orifícios por onde eles saem do crânio. Para explicar os meningiomas intraósseos, apela-se para a existência de tecido ectópico infiltrado através das suturas, durante a vida fetal. Um argumento a favor desta hipótese é a grande freqüência destes tumores na proximidade de suturas cranianas. Nos nossos doentes, o tumor situava-se ao nível do pterion (caso 1) ou da sutura coronaria (caso 2 ) . Outra teoria, baseada na histología dos componentes celulares do meningioma, admite origem mesenquimal para o tumor, classificando os meningoctios como fibroblastos especializados, podendo surgir em qualquer lugar em que haja tecido mesenquimal7
. Também é discutido o papel de-sempenhado pelos traumatismos na formação de meningiomas1
. No nosso segundo caso, o processo expansivo foi notado alguns dias após traumatismo local. Segundo alguns autores :
\ as radiações ionizantes parecem ter alguma importância.
Os meningiomas intraósseos primários são mais comuns em mulheres, na proporção de 3 : 11
. As nossas duas pacientes são do sexo feminino. A ida-de dos doentes (34 e 50 anos) está entre os limites ida-de 23 e 69 anos verifi-cados por Azar-Kia & col. \ A localização, ao nível do pterion ou da sutura coronaria é relativamente comum. A preferência pelo lado direito 1
também foi confirmada na nossa limitada experiência.
Os achados radiológicos foram bem esquematizados nos trabalhos de Azar-Kia & col. '. No início, há esclerose e espessamento da diploe e tábua externa, cem aspecto semelhante ao encontrado no osteoma. O craniograma do nosso caso 2 mostra estas características. Mais tarde as radiografias revelam uma mistura de osteosclerose e osteólise, com algumas espículas radiais. Nestas condições, os diagnósticos de doença de Paget, osteomielite, displasia fibrosa e sífilis não podem ser esquecidos. O nosso segundo caso inclui-se neste grupo, pois as radiografias mostram sinais de osteólise na parte central. Segundo Azar-Kia & col. \ com a progressão das lesões, as espículas radiais e a osteólise tornam-se mais pronunciadas do que a escle-rose. Nestas circunstâncias, as possibilidades de hemangioma, sarcoma e anemia hemolítica devem ser lembradas.
O asi>ecto angiográfico é variável ^ Nos casos mais avançados, podem ser evidenciadas as artérias que se dirigem ao processo expansivo (caso 1) ou a circulação própria do tumor.
O quadro microscópico dos meningiomas ectópicos é o mesmo encontrado em tumores intracranianos e os tipos histológicos respeitam, mais ou menos, a mesma freqüência e distribuição. Segundo Farr & c o l .1
R E S U M O
Meningiomas primários da calota craniana são raros. Na literatura de língua inglesa apenas 12 casos foram relatados. São apresentados 2 casos e discutidos aspectos etiológicos, clínicos e radiológicos.
S U M M A R Y
Intraosseous meningioma: report of two cases
Primary intraosseous meningiomas of the skull are rarely found. A re-view of the English literature reveals that only 12 cases have been reported previously. T w o new cases are added: both occurred in femmales with grew up on the right side, adjacent to cranial sutures. In one case the meningioma developped few weeks after a parieto-frontal traumatism. The etiology of these tumors, the plain film findigs and the angiographic appea¬ rence are discussed.
R E F E R Ê N C I A S
1. A Z A R - K I A , B . ; S A R W A R , M . ; M A R C , J. A . & S C H E C H T E R , M . M . — I n t r a o s s e o u s m e n i n g i o m a . N e u r o r a d i o l o g y 6 : 2 4 6 , 1 9 7 4 .
2 . C U S H I N G , H . & E I S E N H A R D T , L . — M e n i n g i o m a s , P a r t . 1. H a f n e r , N e w Y o r k , 1 9 6 2 .
3 . F A R R , H . W . ; G R A Y , G . F.; V R A N A , M . & P A N I O , M . — E x t r a c r a n i a l m e n i n -g i o m a . J. s u r -g . O n c o l . 5 : 4 1 1 , 1 9 7 3 .
4 . R O S E N C R A N T Z , M . & S T A T T I N , S. — E x t r a d u r a l m e n i n g i o m a s : r e p o r t o f t w o c a s e s : A c t a r a d i o l . 1 2 : 4 1 9 , 1 9 7 2 .
5 . S I E G E L , G. J. & A N D E R S O N , P . J. — E x t r a c a l v a r i a l m e n i n g i o m a : c a s e r e p o r t . N e u r o s u r g . 2 5 : 8 3 , 1 9 6 6 .
6 . W A G A , S.; N I S H I K A W A , M . ; O H T S U B O , K . ; K A M I J Y O , Y . & H A N D A , H. — E x t r a c a l v a r i a l m e n i n g i o m a s : r e p o r t o f t w o c a s e s . N e u r o l o g y ( M i n n e a p o l i s ) 2 0 : 368, 1 9 7 0 .
7 . W H I C K E R , J. H . ; D E V I N E , K . D . & M A c C A R T Y , C. S. — D i a g n o s t i c a n d t h e -r a p e u t i c p -r o b l e m s in e x t -r a c -r a n i a l m e n i n g i o m a s . A m . J. S u -r g . 1 2 6 : 4 5 2 , 1973.