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AS IMUNIZAÇÕES PODEM SER PASSIVAS OU ATIVAS

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Pré-requisitos

Para que você possa acompanhar bem esta aula, é importante que tenha claro os conceitos de imunidade humoral, imunidade celular, resposta imune às infecções e alguns conceitos apresentados na disciplina de microbiologia.

objetivos

Metas da aula

Introduzir o conceito de imunização e apresentar os tipos de vacinas existentes e as suas vantagens e desvantagens.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

• defi nir imunização passiva e imunização ativa;

• classifi car os tipos de vacinas e suas vantagens e desvantagens;

• descrever as principais vacinas de uso corrente no Brasil.

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Ao longo da história da humanidade, as doenças infecciosas foram e ainda

continuam a ser uma das principais causas de morte da população mundial.

As duas contribuições mais importantes para a saúde pública nos últimos cem

anos foram o saneamento básico e os programas de vacinações, os quais, em

conjunto, reduziram signifi cativamente as mortes por doenças infecciosas.

Dados históricos, recuperados de registros feitos ao longo dos últimos três mil

anos, mostram a preocupação em entender a natureza dessas doenças. De

maneira empírica, percebeu-se que as doenças infecciosas eram contagiosas e

que pessoas que se recuperavam dessas moléstias poderiam fi car resistentes às

mesmas. O conceito que emergiu dessas observações certamente serviu de base

para as experiências feitas por Edward Jenner, no fi nal do século XVIII, como

você já viu na Aula 1, marcando o início da era da vacinologia. Entretanto, a

repercussão do trabalho de Jenner só aconteceu muito mais tarde, nos séculos

XIX e XX, com novas descobertas nos campos da Microbiologia e Imunologia

realizadas por Koch, von Behring, Ehrlich, Pasteur e outros.

No período de 1930 a 1950, aconteceram várias contribuições indiretas que

foram importantes para o desenvolvimento das vacinas. Dentre elas podemos

citar os métodos de cultivo in vitro de vírus e riquétsias em culturas de tecidos

e ovos embrionados.

Notáveis contribuições no desenvolvimento das vacinas aconteceram durante a

Segunda Guerra Mundial, e marcaram o início da era moderna da vacinologia

nos anos 1940. A partir dessa data, notamos um desenvolvimento contínuo da

tecnologia de produção de vacinas até o presente. Esses avanços tecnológicos se

devem a grandes progressos nas pesquisas básicas e aplicadas, principalmente

nas áreas da Bioquímica, Microbiologia, Biologia molecular e Imunologia.

Vacinação, no sentido de prevenir doenças infecciosas é, inquestionavelmente,

a maior contribuição da medicina à saúde humana. Embora as vacinas

atualmente em uso envolvam, na sua produção, desde tecnologias baseadas

nos princípios descritos por Jenner e Pasteur até os métodos mais avançados

de manipulação genética e intervenção no sistema imune, todas as vacinas

têm um objetivo comum que é a indução de uma resposta imune capaz de

prevenir a infecção ou limitar os efeitos da infecção. Ambas as respostas

imunes, humoral e celular, contribuem para a proteção induzida pela vacina,

o que a diferencia da proteção proporcionada pela imunidade inata que

incluem os fagócitos, o sistema complemento (vias alternativa e lectina),

as barreiras físico-químicas e outros. Um outro elemento crítico induzido

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AULA

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MÓDULO 2

pelas vacinas, a ser considerado, é a memória imunológica, uma vez que a

imunização antecede à exposição ao patógeno, e esta exposição pode levar

anos para acontecer! Assim, uma resposta imunológica de longa duração,

ou seja, uma memória imunológica de longa duração é fundamental para

que uma vacina seja efi ciente.

Nesta aula, vamos ver os tipos de vacinas disponíveis e as suas principais

características, que são responsáveis por salvar milhares de vidas anualmente.

Vamos ver, também, as novas abordagens científi cas para o desenvolvimento

de vacinas contra as doenças que ainda não são prevenidas por vacinas, tais

como AIDS, malária, doença de Chagas etc. Temos certeza de que este é um

tema que instiga a sua curiosidade. Então, vamos aprender um pouco mais

sobre este assunto?

AS IMUNIZAÇÕES PODEM SER PASSIVAS OU ATIVAS

A imunidade contra agentes infecciosos pode ser obtida de forma

passiva ou ativa. A imunização passiva produz uma resistência temporária

por meio de transferência de anticorpos de um indivíduo imune para

outro não imune. Esses anticorpos passivamente transferidos conferem

uma proteção imediata e específi ca contra o agente infeccioso em questão.

Entretanto, como os anticorpos transferidos são gradualmente eliminados

pelo receptor, esta proteção também diminui gradualmente e o receptor

fi ca novamente susceptível ao patógeno.

A imunização ativa envolve a administração do antígeno no

indivíduo de forma que ele reaja elaborando uma resposta imune protetora

contra o agente infeccioso. Veja na Figura 19.1 que a reimunização ou

a exposição do indivíduo ao agente infeccioso resultará numa resposta

O que é vacina?

A vacina é um produto originado de um agente etiológico que, ao ser administrado a um indivíduo sadio, induz a uma imunidade de longa duração, capaz de proteger esse indivíduo contra uma infecção posterior causada por esse agente. A vacina pode ser constituída por organismos mortos ou atenuados; por componentes purifi cados do agente infeccioso; por componentes do agente obtidos por síntese ou como proteína recombinante e por genes ou fragmentos gênicos derivados do patógeno. É importante ressaltar que a vacina não deve induzir efeitos colaterais graves no indivíduo vacinado.

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imune secundária contra o patógeno. A desvantagem da imunização

ativa é que ela não confere uma proteção imediata. No entanto, uma vez

estabelecida, ela possui uma duração longa e pode ser reestimulada.

Figura 19.1: Gráfi co comparativo entre a imunização passiva e a imunização ativa. Observe que os níveis de anticorpos na imunização passiva decaem rapidamente, enquanto na imunização ativa, os níveis de anticorpos aumentam à medida que é reestimulada com o antígeno.

IMUNIZAÇÃO PASSIVA

A imunização passiva consiste na transferência passiva de

anticorpos, que pode ser de forma natural ou pela administração de

soro hiperimune e, mais raramente, pela transferência de células ativadas

entre indivíduos histocompatíveis. Esse tipo de imunização acontece de

forma natural quando anticorpos maternos são transferidos para o feto

via placenta e/ou pelo colostro. Esses anticorpos transferidos da mãe para

o recém-nascido cumprem uma função importante, que é a proteção do

neonato contra as principais doenças presentes no ambiente, com a qual

ele estará diretamente em contato, a partir do nascimento. Dentre essas

doenças, podemos citar algumas em que os anticorpos são transferidos:

contra o vírus da gripe, da poliomielite, do sarampo, contra as toxinas

tetânica e diftérica, contra as bactérias Staphylococcus, Streptococcus etc.

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Antígeno ou anticorpo

Antígeno Antígeno

Semanas Imunização ativa (título de anticorpos) Imunização passiva com

anticorpos homólogos (título de anticorpos) Grau de proteção

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AULA

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MÓDULO 2

Assim, fi ca bem clara a importância da amamentação materna nos

primeiros meses de vida. Em humanos, ocorre a transferência de

anticorpos através da placenta. Porém, em algumas espécies animais,

isto não acontece. Nesses casos, a amamentação é fundamental para a

saúde do recém-nascido.

Uma outra forma de imunização passiva pode ser realizada pela

administração de preparados contendo anticorpos aos pacientes. Esses

preparados, contendo anticorpos específi cos, podem ser obtidos a partir

de soro colhido de animais imunizados, em geral eqüinos, ou de soros de

pessoas imunes contra determinadas doenças. Esses soros são colhidos

de acordo com as normas éticas vigentes, processados em laboratórios

especializados e submetidos a vários processos de controle que incluem

teste de potência, de esterilidade, inocuidade, pirogênicos etc, até serem

liberados para utilização em humanos. Veja no Quadro 19.1 alguns

exemplos de patologias em que podem ser utilizados os anti-soros. Em

geral, eles são utilizados em situações em que há a necessidade de proteção

imediata do indivíduo.

Quadro 19.1: Patologias nas quais a imunização passiva ou soroterapia podem ser utilizadas

Doença Origem dos anticorpos

Picadas de aranha Antiveneno produzido em cavalos

hiperimunizados

Picada de escorpião Antiveneno produzido em cavalos

hiperimunizados

Botulismo Antitoxina polivalente produzida em

eqüinos

Difteria Antitoxina diftérica produzida em

cavalos

Hepatite A e B Imunoglobulina obtida de humanos

Raiva Imunoglobulina obtida de humanos

Picada de serpentes Antiveneno produzido em cavalos

hiperimunizados

Você já deve ter percebido que o fato de vários anti-soros

serem produzidos em animais, geralmente cavalos, pode trazer alguns

problemas na sua utilização em humanos, não é mesmo? E você está

certo. A administração de anticorpos heterólogos (originados de espécies

animais distintas, como por exemplo o cavalo) em humanos pode resultar

na indução de reações de hipersensibilidades, principalmente a do tipo III

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terapia não permite que seja de longa duração e nem permite que possa

ser repetida. Vamos esclarecer isso um pouco mais? Esse fato acontece

porque o anticorpo heterólogo, ao ser administrado ao organismo

humano, funciona como um antígeno, que desencadeia uma resposta

imune contra essa molécula estranha. Assim, em um curto período

após o início da terapia, o anticorpo heterólogo, ao ser administrado, é

rapidamente eliminado devido à resposta imune contra ele. Além disso,

a reação de hipersensibilidade é tão intensa, principalmente devido

à formação de imunocomplexos, que inviabiliza a continuação ou a

repetição da terapia.

No fi nal do século passado e início do século XXI, novos avanços

na área de bioengenharia de anticorpos permitiram que anticorpos

monoclonais murinos fossem “humanizados”. Caso você tenha dúvidas

acerca desse assunto, reveja a Aula 22 de Grandes Temas em Biologia

e a Aula 6 de Biologia Celular I. Veja na Figura 19.2 que é possível

produzir um anticorpo quimérico, ou seja, a parte hipervariável que se

liga ao antígeno (CDR1, CDR2 e CDR3, você viu este assunto na aula

de anticorpos) e pode ser transplantada em uma molécula de anticorpo

humano. Na verdade, esta operação é realizada no nível genético, isto é, o

fragmento gênico que codifi ca a região hipervariável do anticorpo murino

é clonado e transplantado em um gene que codifi ca o anticorpo humano.

Então, esse gene quimérico, que contém a informação genética para

codifi car um anticorpo cuja região constante seja de origem humana e

a região hipervariável de origem murina, é inserido em um plasmídeo

adequado que pode ser utilizado para transformar uma bactéria ou uma

levedura, que produzirá o anticorpo humanizado. Assim, esses anticorpos

humanizados podem, agora, ser utilizados em terapias em seres humanos,

sendo que os efeitos colaterais decorrentes da administração desses

anticorpos são bastante reduzidos ou inexistentes. Atualmente, existem

outras técnicas para produção de anticorpos humanos ou humanizados

para utilização terapêutica. Já existem vários anticorpos humanizados que

reconhecem alvos específi cos e que são utilizados na terapia contra o câncer,

contra a rejeição de transplantes, contra toxinas e outras aplicações. Se

você quiser saber um pouco mais acerca desse assunto leia a referência

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AULA

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MÓDULO 2

Figura 19.2: Figura esquemática de um anticorpo humanizado.

Região constante de origem humana

CDRs de origem murina CDR 3

CDR 2 CDR 1

CDR 3 CDR 2

CDR 1

IMUNIZAÇÃO ATIVA

Os procedimentos de imunização ativa estão entre as medidas

mais efi cazes e econômicas disponíveis para a preservação e proteção

da saúde. Quando a imunização ativa é bem-sucedida, a subseqüente

exposição ao agente patogênico induz uma resposta imune efetiva capaz

de eliminar o patógeno ou prevenir a doença causada pelos seus produtos

(toxinas, por exemplo). A imunização ativa pode acontecer de forma natural

quando o indivíduo é infectado pelo microrganismo, ou de forma

artifi cial quando ele é vacinado. A utilização de vacinas em programas

de imunização em massa é responsável pela redução de milhares de

mortes anuais causadas por doenças infecciosas, principalmente entre as

crianças. Veja no Quadro 19.2 a importância das vacinas na prevenção

de algumas doenças infantis. Ele apresenta uma relação percentual do

ano em que ocorreu o maior número de casos da doença e o número de

casos ocorridos no ano de 1995, nos Estados Unidos, quando já existiam

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Quadro 19.2: Comparação do ano de maior ocorrência de uma doença em relação ao número de casos ocorridos da doença no ano de 1995 nos Estados Unidos

Doença

Número máximo de casos relatados durante a era

pré-vacina

Ano de ocorrência do maior número

da doença

Número de casos relatados em 1995

Percentual da redução da morbidade

Síndrome da

rubéola congênita 20.000 1964-65 7 -99,96

Difteria 206.939 1921 0 -99,99

Haemophilus

infl uenzae invasiva 20.000 1984 1.164 -94,18

Sarampo 894.134 1941 309 -99,97

Caxumba 152.209 1968 840 -99,45

Coqueluche

(Pertussis) 265.269 1934 4.315 -98,37

Poliomielite 21.269 1952 0 -99,99

Rubéola 57.686 1969 146 -99,75

Tétano 601 1948 34 -99,83

1. De acordo com o que você já viu, discuta sucintamente as vantagens e as desvantagens da utilização da imunização passiva e ativa. Esta atividade é relativa ao primeiro objetivo dessa aula. Então vamos lá, capriche! ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________

RESPOSTA COMENTADA Você, provavelmente, respondeu que a vantagem da imunização passiva é que ela produz uma imunidade imediata, porém, você deve ter assinalado que ela tem as desvantagens de não conferir memória imunológica. A imunidade produzida por ela é gradativamente perdida e, no caso de anticorpos heterólogos, não permite terapia de longa duração. A vantagem da imunização ativa é que ela produz uma imunidade duradoura e também induz à formação de células de memória. Em contrapartida, tem a desvantagem de não induzir uma imunidade imediata, que leva de uma a duas semanas para ser formada. Concluindo, a utilização da imunização ativa ou passiva depende da indicação clínica. De uma forma geral, as vacinas são utilizadas na prevenção de doenças infecciosas, enquanto a

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AULA

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MÓDULO 2

CLASSIFICAÇÃO DAS VACINAS

As vacinas, de acordo com a forma dos antígenos imunizantes,

podem ser classifi cadas da seguinte maneira.

Vacinas integrais

As vacinas integrais, também conhecidas como vacinas de primeira

geração, são constituídas por microrganismos inteiros e podem ser ainda

divididas em dois grupos: as vacinas com microrganismos vivos atenuados

ou modifi cados e as vacinas com microrganismos inativados (mortos).

As vacinas vivas atenuadas, como o próprio nome sugere,

compreendem as vacinas nas quais o antígeno é um microrganismo

vivo, porém, sem a capacidade de induzir à patologia, ou seja, ele não

é virulento. Você certamente deve estar se perguntando – como fazer

para um microrganismo ser atenuado? Bem, existem algumas formas de

induzir a atenuação de microrganismos. Uma delas, é a adaptação do

micróbio a um outro sistema hospedeiro. Este foi o método pelo qual

Louis Pasteur descreveu em 1882 a vacina contra a raiva. Ele adaptou

o vírus da raiva isolado de cães de rua para se replicarem em cérebro

de coelhos. Este vírus, depois de inúmeras passagens em cérebro de

coelho, foi, então, utilizado para vacinar humanos. Um outro exemplo

é a vacina BCG (Bacille Calmette-Guérin) contra a tuberculose. Albert

Calmette e Jean-Marie Camille Guérin foram os dois pesquisadores

que atenuaram o Mycobacterium bovis, o agente causal da tuberculose bovina. Eles cultivaram essa bactéria em meio contendo biles e, após

sucessivas passagens neste meio, os pesquisadores comprovaram que o

bacilo não se modifi cava mais e não era virulento para os animais de

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laboratório. Além disso, conferia proteção contra a tuberculose. Estava,

então, descoberta a vacina contra tuberculose que é utilizada até os

dias de hoje. Para saber um pouco mais sobre esse assunto e outras

contribuições à Ciência que esses dois pesquisadores fi zeram, visite o

site http://www.historiadelamedicina.org/calmette.html. O site está em espanhol e a história é bem interessante. Veja no Quadro 19.3 as vacinas

vivas atenuadas disponíveis para a utilização em humanos.

Quadro 19.3: Classifi cação das vacinas disponíveis para uso humano

Tipos de vacinas

Doenças

Virais Bacteriana

Vacina com organismos atenuados

Pólio (Sabin), sarampo, caxumba,

rubéola, varicela, febre amarela. Tuberculose, febre tifóide (oral).

Vacina com organismo morto

Pólio (Salk), infl uenza (gripe), raiva, encefalite japonesa B,

hepatite A.

Coqueluche (pertussis), febre tifóide (subcutânea), cólera.

Vacinas macromoleculares (toxóides, antígenos recombinantes e polissacarídeos

da cápsula bacteriana)

• Antígenos recombinantes: Hepatite B e herpes tipo 2.

• Toxóides: difteria, tétano, shiguelose e coqueluche

(pertussis).

• Antígenos polissacarídeos: Hemophilus infl uenzae tipo B

Algumas vacinas são classifi cadas em mais de um tipo, o que signifi ca que elas têm mais de uma forma de apresentação.

As vacinas atenuadas apresentam vantagens e desvantagens. Uma

das principais vantagens das vacinas atenuadas é a indução de uma

imunidade alta e de uma efi ciente produção de células de memória.

Isso se dá, principalmente, porque o microrganismo se multiplica no

organismo vacinado e reproduz o ciclo do agente etiológico, ativando

o sistema imune de forma similar ao organismo patogênico, sem, no

entanto, causar a doença. Além disso, este tipo de vacina dispensa o uso

de adjuvantes e, geralmente, não necessita de várias doses. Uma exceção é

a vacina contra a poliomielite (Sabin), aquela da campanha de vacinação

que você vê com certa freqüência na mídia – o Zé gotinha. Como você

viu no Quadro 19.3, a vacina antipólio é com vírus vivo atenuado e, no

entanto, é necessário administrar várias doses da vacina. Isto acontece

porque a vacina Sabin é constituída de três cepas de poliovírus, e estas

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AULA

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MÓDULO 2

• Na primeira imunização, uma das cepas predomina em relação

às outras duas. Essa cepa, então, se replica em grande quantidade e induz

a uma resposta imune efi caz contra ela.

• Na segunda dose, a cepa que predominou anteriormente é inibida

pela IgA específi ca presente na mucosa. Então ocorre a proliferação de

uma das duas cepas que não proliferaram antes. A cepa que prolifera

induz a uma resposta imune específi ca contra ela.

• Da mesma forma, na terceira imunização, as duas cepas que

induziram à resposta imune são inibidas e a terceira cepa prolifera e induz

a uma resposta imune contra ela, assim, ao fi nal de três imunizações o

indivíduo estará imune contra as três cepas vacinais de poliovírus.

Vamos falar das desvantagens da vacina atenuada por meio de

uma atividade?

2. Com base no que você já aprendeu, o que você acha que pode se constituir como desvantagem na utilização de vacinas atenuadas? Vamos lá, não se acomode, esta é uma boa oportunidade para exercitar o seu raciocínio! Ao concluir esta atividade, você terá atingido o segundo objetivo desta aula.

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RESPOSTA COMENTADA Agora que você já fez o seu exercício mental, vamos ver se você acertou? Bem, uma das principais desvantagens da vacina modifi cada é a possibilidade da reversão à forma selvagem do microrganismo, ou seja, ele voltar a ser novamente patogênico. No caso da vacina Sabin da pólio, a probabilidade da reversão à forma patogênica do vírus e causar a doença paralítica no indivíduo vacinado é de um caso em 2,4 milhões. Perceba que é uma probabilidade muito baixa, mas ela existe. Entretanto, ela não justifi ca a não-adesão às campanhas de vacinação, porque se você considerar no nível populacional, um índice de imunização baixo aumenta enormemente a probabilidade de ocorrer um surto da doença e, neste caso, o número de vítimas será muito maior! Logo, não deixe de esclarecer e recomendar fortemente os seus familiares, amigos e principalmente os seus alunos da importância

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dos benefícios das vacinas. Se você ainda não estiver convencido disso, analise o Quadro 19.2. Os dados são irrefutáveis. Além disso, a poliomielite está em vias de ser mundialmente erradicada, graças às campanhas de vacinação em massa e à vacina antipólio. Veja no anexo, ao fi nal desta aula, o programa de imunização de crianças, adultos e idosos recomendado pelo Ministério da Saúde.

Uma outra desvantagem deste tipo de vacina é que ela não deve ser utilizada em indivíduos imunossuprimidos. É importante ressaltar que não existe uma vacina 100% segura e efi caz. Todas as vacinas aprovadas pelo Ministério da Saúde apresentam um índice, ainda que muito reduzido, de problemas em decorrência da administração da vacina. Se você pensou em algo similar ao que comentamos, parabéns! Você acertou! Mas se você errou, não se preocupe, esperamos que esse comentário tenha sido esclarecedor para você. Caso não tenha sido, procure a tutoria da disciplina.

As vacinas inativadas ou mortas, como você pode facilmente

deduzir, são vacinas nas quais os agentes imunizantes são microrganismos

mortos. Em geral é o próprio organismo patogênico que é inativado. Estes

organismos são inativados por agentes químicos tais como formaldeído ou

agentes alquilantes, como por exemplo a ß-propiolactona que é utilizada

para inativar o vírus da raiva na produção dessa vacina. A inativação

por radiação também pode ser empregada. Uma condição essencial

no processo de inativação é que não ocorram, durante o processo,

mudanças estruturais dos antígenos na superfície dos microganismos,

principalmente, dos antígenos que induzem à produção de anticorpos

neutralizantes ou bloqueadores. Veja, no Quadro 19.3, as vacinas

humanas produzidas com micróbios inativados. O Quadro 19.4 compara

as vacinas atenuadas e as inativadas. Perceba que ambas possuem

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AULA

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MÓDULO 2

Quadro 19.4: Comparação das vacinas atenuadas e inativadas

Características Vacinas atenuadas Vacinas inativadas

Produção Seleção de organismos

avirulentos: cultivo do patógeno em meios adversos ou adaptação

em sistema hospedeiro heterólogo.

Organismos virulentos podem ser inativados quimicamente ou por

radiação.

Imunização Em geral, requerem somente

uma dose e não necessitam de adjuvantes.

Requerem várias imunizações e necessitam de adjuvantes.

Estabilidade relativa São menos estáveis. Podem

reverter a forma patogênica.

São mais estáveis.

Tipo de imunidade induzida Imunidade humoral e celular. Induzem principalmente à

imunidade humoral.

Pacientes Não podem ser administradas em

indivíduos imunodeprimidos.

Podem ser administradas em indivíduos imunossuprimidos.

Vacinas baseadas em macromoléculas

As vacinas constituídas de macromoléculas são produzidas a

partir de macromoléculas derivadas dos microrganismos causadores das

respectivas doenças, o que permite que este tipo de vacina não apresente

riscos associados às vacinas atenuadas ou inativadas. Veja, no Quadro 19.3,

que existem três formas principais de apresentação dessas vacinas:

1. toxinas inativadas – toxóides;

2. polissacarídeos da cápsula bacteriana;

3. proteínas recombinantes dos patógenos.

Algumas bactérias patogênicas exercem a sua patogenicidade,

principalmente, pelas toxinas produzidas e secretadas por elas (exotoxinas).

Dentre estas doenças, podemos exemplifi car o tétano, a difteria e a coqueluche,

causadas pelas bactérias Clostridium tetani, Corynebacterium diphtheriae

e Bordetella pertussis, respectivamente. As toxinas produzidas por essas

bactérias são purifi cadas e inativadas pelo formaldeído, resultando nos

toxóides. Cada toxóide é capaz de induzir anticorpos específi cos nos

indivíduos vacinados sem produzir a doença. Estes anticorpos induzidos pelo

toxóide são capazes de neutralizar a respectiva toxina na sua forma ativa.

As vacinas compostas por polissacarídeos derivados da cápsula

bacteriana incluem a vacina contra o Haemophilus infl uenzae tipo

b, Streptococcus pneumoniae e outros. Esses microrganismos são

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respectivamente. Embora os polissacarídeos sejam antígenos timo

independentes, como você já viu na aula de ativação de linfócitos B

(Aulas 13 e 14), e são inefi cientes na indução de células de memória,

eles são capazes de induzir a uma resposta protetora de longa duração.

Essa resposta, em geral, é constituída de anticorpos IgM. Esse fenômeno

pode ser justifi cado, possivelmente, pelo fato de que os polissacarídeos

não são antígenos facilmente degradados. Assim, eles podem persistir

nos órgãos linfóides, estimulando especifi camente os linfócitos B por

longos períodos de tempo.

A partir da tecnologia do DNA recombinante, teoricamente,

qualquer gene pode ser clonado e a proteína codifi cada por ele pode

ser expressa por sistemas de expressão bacteriana, viral, de leveduras

ou em células de mamíferos ou insetos, como você já viu na Aula 4

desta disciplina. A vacina contra o vírus da hepatite B foi a primeira

vacina produzida e aprovada que utilizou essa tecnologia. Essa vacina é

constituída do antígeno da superfície do vírus da Hepatite B denominado

HBsAg. O gene que codifi ca esse antígeno foi clonado e expresso em

levedura. O HBsAg recombinante é, então, purifi cado e associado a um

adjuvante e utilizado como vacina, sendo capaz de induzir à produção

de anticorpos neutralizantes contra o vírus da Hepatite B.

ADJUVANTES

Adjuvantes (do latim adjuvare signifi ca ajudar) são substâncias que, ao serem homogeneizadas com antígenos vacinais e administradas

aos indivíduos, aumentam significativamente a resposta imune

específi ca contra o antígeno. Veja, no Quadro 19.5, alguns exemplos

de adjuvantes e alguns possíveis mecanismos de ação. A utilização de

adjuvantes é fundamental nas vacinas inativadas e nas vacinas compostas

por macromoléculas, cuja função é induzir uma resposta imune forte

e com produção de células de memória de longa duração. A forma

como funcionam os adjuvantes ainda não foi totalmente esclarecida.

Entretanto, eles podem exercer as suas ações por alguns mecanismos

que incluem a formação de depósitos de antígeno com liberação

gradual, imunoestimulação de macrófagos, linfócitos, aumentando o

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AULA

19

MÓDULO 2

Quadro 19.5: Tipos de adjuvantes e a sua forma de ação

Tipo Adjuvante Modo de ação

Persistência prolongada do antígeno

Sais de alumínio Depósito de antígeno com

liberação lenta

Óleo mineral Depósito de antígeno com

liberação lenta

Imunoestimuladores

Bordetella pertussis Estimulam linfócitos

Lipopolissacarídeo (LPS) Estimula macrófagos

Saponina Estimula o processamento e

apresentação de antígenos

Sulfato de dextrana Estimula macrófagos

Glucanas Estimulam macrófagos

Adjuvantes particulados

Lipossomas Atuam no processamento e

apresentação de antígenos

ISCOMs Atuam no processamento e

apresentação de antígenos

Micropartículas Atuam no processamento e

apresentação de antígenos

Alguns adjuvantes funcionam simplesmente retardando a liberação

do antígeno, ou seja, formam um depósito de antígeno associado ao

adjuvante que libera o antígeno gradualmente. Um exemplo desse tipo

de adjuvante são os sais de alumínio, tais como o hidróxido de alumínio,

fosfato de alumínio e o sulfato de potássio e alumínio (também conhecido

como alúmen), que são largamente utilizados em vacinas humanas e

animais. Quando um antígeno é misturado com um desses sais e

inoculado em um indivíduo, forma-se no tecido um granuloma rico em

macrófagos. O antígeno dentro do granuloma é gradualmente liberado e

resulta em estimulação antigênica prolongada. Nessa situação, antígenos

que normalmente persistem por alguns dias, persistem por várias semanas.

Entretanto, esse tipo de adjuvante infl uencia principalmente a resposta

primária e muito pouco a resposta secundária. Além disso, uma outra

desvantagem dos sais de alumínios é que eles induzem principalmente à

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Uma outra forma de liberação gradual de antígenos é com a

utilização de adjuvantes oleosos que são constituídos de óleos minerais.

Os antígenos são homogeneizados com esses adjuvantes formando

emulsões aquosas. Essas emulsões antigênicas, quando injetadas em

indivíduos, resultam na formação de granulomas ou abscessos em torno

do sítio da inoculação, o que constitui uma desvantagem. Além disso,

uma outra desvantagem desses tipos de adjuvantes é a de causarem a

irritação ou a destruição tecidual local.

A maioria dos adjuvantes estimula a imunidade inata com o

aumento da expressão de co-estimuladores e citocinas, como por

exemplo a IL-12, que estimula a proliferação e diferenciação de

linfócitos T. Bactérias mortas pelo calor também podem ser utilizadas

como adjuvantes, como por exemplo as micobactérias. Entretanto, as

micobactérias induzem a uma reação tão intensa no local da inoculação

que não permite que elas sejam utilizadas em humanos. Atualmente,

existem várias pesquisas que buscam o desenvolvimento de adjuvantes

mais efetivos e seguros para o uso humano. Uma alternativa é a utilização

de moléculas de origem biológica que estimulam a resposta celular,

quando administradas em conjunto com o antígeno, como por exemplo

as citocinas. Dentre elas, a utilização da IL-12 junto com antígenos

vacinais induz a uma resposta celular muito proeminente. Além disso,

já foi demonstrado que o DNA plasmidial também tem atividade de

adjuvante. Assim, genes que codifi cam moléculas co-estimulatórias,

citocinas etc. têm sido utilizadas em conjunto com genes que codifi cam

antígenos, nas pesquisas de vacinas por DNA.

VACINAS DE USO CORRENTE NO BRASIL

As vacinas correntemente utilizadas no Brasil, juntamente com os

esquemas de vacinações empregados pelo Ministério da Saúde,

encontram-se listados nos anexos I, II e III no fi nal desta aula. Vamos, então, conhecer

Imagem

Figura 19.1: Gráfi co comparativo entre a imunização passiva e a imunização ativa.
Figura 19.2: Figura esquemática de um anticorpo humanizado.

Referências

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