REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologiawww.sba.com.br
ARTIGO
CIENTÍFICO
O
anestesiologista:
a
visão
do
doente
Carolina
Sobrinho
Ribeiro
a,∗e
Joana
Irene
de
Barros
Mourão
b,caFaculdadedeMedicinadaUniversidadedoPorto,Porto,Portugal bCentroHospitalarSãoJoão,Porto,Portugal
cDepartamentodeCirurgiaeMedicinadoPerioperatório,FaculdadedeMedicina,UniversidadedoPorto,Porto,Portugal
Recebidoem19demarçode2014;aceitoem6demaiode2014
DisponívelnaInternetem4demarçode2015
PALAVRAS-CHAVE
Anestesiologia; Relac¸ão médico-doente; Satisfac¸ãododoente
Resumo
Justificativa/objetivos: A anestesia ainda é uma preocupac¸ãoimportante para os doentes, emboraascomplicac¸õesanestésicastenhamdiminuídosignificativamente.Adicionalmente,o papelatribuídoaoanestesiologistapermaneceimpreciso.Avaliaraspreocupac¸õescoma anes-tesiaeverificaroconhecimentodosdoentesacercadasfunc¸õesdoanestesiologistaforamos objetivosdesteestudo.
Métodos: Estudoprospetivodecorridodurante3mesesemdoentescomconsultade aneste-siapré-operatórianumHospitalUniversitário.Foiquestionadainformac¸ãodemográfica,nível de educac¸ãoe anestesia prévia.Foi avaliado o conhecimento dosdoentes relativamente à educac¸ãodoanestesiologista.Aspreocupac¸õesdosdoentes,responsabilidadesdos anestesio-logistasecirurgiõesforamclassificadasusandoumaescalade5pontos.Aanálisefoirealizada comSPSS21,p<0,05foiconsideradoestatisticamentesignificativo.
Resultados: Foramincluídos204doentes.135(66,2%)reconheceramoanestesiologistacomo médicoespecialista.Nãoacordarapósacirurgiaeinfec¸ãopós-operatóriaforamasprincipais preocupac¸ões,comparativamenteatodasasoutras(p<0,05).Asmulheresmanifestarammaior preocupac¸ãodoqueoshomenscom(p<0,05):nãoacordarapósacirurgia,náuseasevómitos pós-operatórios, problemasmédicos eacordarduranteacirurgia.Assegurarqueos doentes não acordemduranteacirurgiafoiatarefamaisreconhecidanoanestesiologista, compara-tivamente atodasasoutras(p<0,05).Ocirurgião foimais reconhecido(p<0,05) doque o anestesiologistanagestãodadorpós-operatória,administrac¸ãodeantibióticosetransfusões sanguíneas.
Conclusões: Osdoentesnecessitamdeserinformadosacercadaatualseguranc¸adaanestesia e sobreasfunc¸ões doanestesiologista. Envolverodoenteirá desmistificaralgunsreceiose reasseguraraconfianc¸anosistemadesaúde.
©2014SociedadeBrasileira deAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados.
∗Autorparacorrespondência.
E-mails:carolinamdl@hotmail.com,mimed08056@med.up.pt(C.S.Ribeiro).
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2014.05.014
KEYWORDS
Anesthesiology; Doctor-patient relationship; Patientsatisfaction
Anesthesiologist:thepatient’sperception
Abstract
Backgroundandobjectives: Anesthesia is still a major concern for patients, although the anesthetic complications have decreased significantly. Additionally, the role assigned totheanesthesiologistremainsinaccurate.Theaimofthisstudywastoevaluatetheconcerns withanesthesiaandassessthepatient’sknowledgeabouttheanesthesiologist’sduties.
Methods:Prospective study conductedover threemonthswith patients inthepreoperative anestheticvisitinauniversityhospital.Demographicinformationaboutthelevelofeducation andprioranesthesiawasobtained.Theknowledgeofpatientsregardingtheanesthesiologists’ educationwasevaluated.Patients’concernsandanesthesiologistandsurgeonresponsibilities wereclassifiedwitha5-pointscale.TheanalysiswasperformedwithSPSS21,andp<0.05was consideredstatisticallysignificant.
Results:Weincluded204patients,and135(66.2%)recognizedtheanesthesiologistasa specia-listphysician.Notwakingupaftersurgeryandpostoperativeinfectionwerethemainconcerns comparedtoallothers(p<0.05).Womenexpressedmoreconcernthanmenaboutnotwakingup aftersurgery,nauseaandpostoperativevomiting,medicalproblems,andwakingupduring sur-gery(p<0.05).Ensurethatpatientsdonotwakeupduringsurgerywastheanesthesiologisttask mostrecognized,comparedtoallother(p<0.05).Thesurgeonwasmorerecognized(p<0.05) thantheanesthesiologistinpost-operative,antibioticsadministration,andbloodtransfusions painmanagement.
Conclusions:Patients need to be informedabout thecurrent safety of anesthesiaand the anesthesiologist’sfunctions.Thepatientinvolvementwilldemystifysomefearsandreassure theconfidenceinthehealthsystem.
©2014SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublishedbyElsevier EditoraLtda.Allrights reserved.
Introduc
¸ão
Acompreensãodopapel doanestesiologistaeo seu reco-nhecimentoaosolhosdomundoatualtemsidoumassunto subvalorizado,sendoconsideradacomo umaespecialidade «pordetrásdoecrã»,emqueoatorprincipaléocirurgião eoAnestesiologistaapenastemumafunc¸ãosecundária.1---3
Apesar dos vários estudossobre a percec¸ão dos doen-tes relativamente à anestesiologia, não tem havido uma significativaevoluc¸ão nos resultados ounos esforc¸ospara expor esta área de interesse ao público geral.1---7 A falta
de conhecimento dos doentes não se limita ao papel do anestesiologistanoblocooperatório, mastambémàssuas func¸õesemUnidadesdeCuidadosIntensivos(UCI),no con-troloda dor e noensino a estudantes de medicina.1---6 As
preocupac¸õesdodoenterelativamenteàanestesiatambém foramalvodeváriosestudosnosúltimosanose,emborao desenvolvimentodastécnicasdeanestesiatenhadiminuído significativamenteaincidênciadecomplicac¸ões,aindasão umacausaimportantedereceio.1,6,8,9Alémdisso,amaioria
dosestudosquecomparaoconhecimentodedoentescom esemexperiência anestésicanãomostradiferenc¸as signi-ficativasnosresultados,oquepodetraduzirlimitac¸õesno contactodoente-anestesiologista.3,10
Com a explosão de informac¸ão recente através dos
media e Internet, seria de esperar o reconhecimento da
anestesiologia.Esta foi umaárea degrande evoluc¸ão nos últimos anos,que permitiuimpulsionar inúmeras técnicas cirúrgicaseultrapassarobstáculosfisiológicos.2,5,7Contudo,
pressupomos que a divulgac¸ão e valorizac¸ão desta espe-cialidade médica ainda não está sucedida e, como tal, parapoder elaborarumplanode acc¸ão torna-se necessá-rio avaliar previamentequais asnecessidades a colmatar. Assim,revela-seimportanteconheceravisãodo anestesio-logistapelodoente,demodoapodermospromovermedidas quefortalec¸amarelac¸ãodeconfianc¸amédico-doente,que desmistifiquemosprocessos perioperatórioscausadoresde ansiedadeequeesclarec¸amadinâmicadoanestesiologista comoumaimportanteáreadeinvestimentoderecursos.
Neste contexto, o nosso estudo pretendeu analisar o conhecimento do papel do anestesiologista pelo doente, aspreocupac¸õesrelativamente à anestesia e quefunc¸ões sãoatribuídasaoanestesiologistaeaocirurgiãonoperíodo perioperatório,numhospitalcentraluniversitário.Paraisso utilizamosumquestionárioidênticoaorealizadonoestudo deGottschalketal.
Métodos
Após aprovac¸ão da Comissão de Ética do Centro Hospita-lar SãoJoãoEPE,iniciámosumestudoprospetivo durante 3mesesadoentesdaconsultadeanestesiologiadoCentro Hospitalar São João. Todosos participantes tinham idade
≥ 18anos eassinaramo consentimentoinformadoapós a
Tabela1 Dadosdemográficosdospacientesquestionados: género, idade, número de anestesias prévias e nível de escolaridade
Género(M/F;%) 82/122;40,2/59,8 Idade(mediana;M/F) 59/49
Anestesiasprévias(%)
-Nenhuma 19(9,3) -Uma 41(20,1) -Maisqueuma 143(70,1)
-NR 1(0,5)
Níveldeescolaridade(%)
-Nãoterminouosecundário 81(39,7) -Secundário 81(39,7) -Licenciatura 32(15,7) -Pós-graduac¸ão 9(4,4)
-NR 1(0,5)
ocontactocomoanestesiologista.Nãofoiutilizadaaajuda denenhumaequipaespecializadanadistribuic¸ão.
Acadadoentefoidistribuídoumquestionário estandar-dizado de 11 questões (apêndice 1). 6 Deste questionário
faziamparteasseguintesquestões:dadosdemográficosdos doentes, nível máximo de educac¸ão obtido e o número de procedimentos anestésicos prévios a que foram sub-metidos. Foi avaliado o conhecimento sobre a formac¸ão etreino doAnestesiologista.Aspreocupac¸õesdosdoentes relativamenteaoperíodoperioperatórioforamclassificadas numaescalade5pontos,desde1=nenhumapreocupac¸ãoa 5=muitopreocupado.Asquestõessobreas responsabilida-desdos anestesiologistas, responsabilidadesdos cirurgiões noblocooperatório e o papel doanestesiologista no hos-pital,foramclassificadas numaescalade5 pontos, desde 1=nenhuma responsabilidade/nada envolvido a 5=muita responsabilidade/muitoenvolvido.
Aanálise estatísticafoirealizada utilizandoosoftware SPSS 21 (Chicago, IL, USA). A informac¸ão das questões classificadas de1 a 5 foi avaliada utilizandoa Análise de Friedmanecomparac¸õesemparelhadas.Nacomparac¸ãodas responsabilidadesatribuídasaoanestesiologistaecirurgião foi utilizado o testede Wilcoxon. Naanálise comparativa dosgrupos come semexperiênciaanestésicafoiutilizado o testedeKruskall-Wallis ena comparac¸ão entregéneros foiutilizadootestedeMann-WhitneyU.Osresultadossão apresentadoscomomedianas(percentil25,percentil75)ou percentagens.Umvalor-p<0,05 foiconsiderado um resul-tadoestatisticamentesignificativo.
Resultados
204 doentes participaram no estudo, sendo 122 (59,8%) mulheres e 82 (40,2%) homens. Foramexcluídos 15 ques-tionários por não terem preenchido o consentimento informado. A análise demográfica está apresentada na
tabela 1. A mediana da idade foi de 52 anos. Os níveis de escolaridade máxima mais prevalentes entreos doen-tes avaliados foram o secundário ou inferior (39,7% cada um).Relativamenteàexperiênciapréviadeanestesia,9,3% dosdoentesnuncatinhamsidosubmetidosaumaanestesia, 20,1%tiveramumaanestesiaprévia,70,1%tiverammaisdo
Tabela2 Compreensãodopapeldoanestesiologistae esti-mativadotemponecessáriodetreinopelospacientes
Umanestesiologistaé(%):
-Umenfermeiroespecializado 5(2,5) -Ummédicoespecialista 135(66,2) -Umtécnicoespecializado 28(13,7) -Umcirurgiãoespecialista 8(3,9) -Nãosabe 28(13,7)
Tempodeestudonecessárioparaseranestesiologistaapós osecundário(%):
-5anos 44(21,6) -9anos 37(18,1) -12anos 13(6,4) -15anos 2(1) -Nãosabe 108(52,9)
que duas anestesias prévias e umdoente não respondeu. Osgrupos com e sem experiência anestésica préviaeram comparáveisrelativamenteaogénero,idadeeescolaridade. Oanestesiologistafoireconhecidocomoummédico espe-cialistapor135(66,2%)doentes,emboramuitosotivessem consideradoumtécnico especializado(13,7%)ounão sou-bessemresponderaessaquestão(13,7%).Oanestesiologista apenasfoiconsiderado umcirurgião especialista por3,9% dosdoenteseumenfermeiroespecializadoapenaspor2,5% dosdoentes(tabela2).
O tempo necessário de educac¸ão e treino para se ser umanestesiologistafoisubestimadonogeral,sendoque44 (21,6%)doentes consideraram ser de 5 anos e 37 (18,1%) doentesde9anos.Contudo,amaioriadosdoentes(52,9%) respondeunãosaberotempodeformac¸ãonecessário. Ape-nas 6,4% atribuíram o número de anos correto e só 1% sobrestimou o tempo de treino (tabela 2). Comparativa-mente à educac¸ão e treino de Medicina Gerale Familiar eCirurgia,amaioriadosdoentes(53,4%)nãosabe diferen-ciaradurac¸ãodaeducac¸ãodecadaespecialidade,embora 17,2%reconhec¸amqueotreino doanestesiologistaé mais longoqueodeMedicinaGeraleFamiliarmasmaiscurtoque odecirurgia.
De um modo geral, os doentes demonstraram preocupac¸ão com as várias situac¸õesrelativas ao período perioperatório(fig.1).Nãoacordarapósacirurgiaeinfec¸ão apósacirurgiaforamasprincipaispreocupac¸õesdos doen-tes[3 (4-5), p<0,05 comparativamente a todasas outras preocupac¸ões]. Problemas médicos durante a cirurgia [3 (2-4)],a dor imediatamenteapós a cirurgia [3 (2-4)] e a diminuic¸ão dacapacidade mentalapós acirurgia[3(2-4)] foram preocupac¸ões classificadas de modo semelhante, tendo todasuma classificac¸ão significativamente superior (p<0,05) comparativamente à colocac¸ão de um cateter
IV.A preocupac¸ão com náuseas e vómitospós-operatórios
(NVPO)[3(2-4)]eacordarduranteacirurgia[3(1,25-4)]foi menordoque asanteriores,enquanto acolocac¸ãode um cateterIVfoiamenorpreocupac¸ãoperioperatória[3(1-3),
5
4
3
2
1
Colocar um cateter intravenoso
Acordar durante a
cirugia
A dor imediatamente
após a cirugia
Não acordar após a cirurgia
Problemas com a tensão
arterial e outras questões médicas durante a cirurgia
Náuseas e vómitos após
a cirurgia
Diminuição da capacídade mental após a
cirurgia
Infecção após a cirurgia
Figura1 Preocupac¸õesdosdoentesnoperíodoperioperatório.1=nenhumapreocupac¸ãoa5=muitopreocupado.
NVPO.Nãoforamencontradasdiferenc¸asestatisticamente significativasentre osgrupos com e sem anestesia prévia relativamenteàspreocupac¸õesanalisadas.
Assegurar que os doentes não acordem durante a cirurgia foi a tarefa mais reconhecida como sendo da responsabilidade do anestesiologista [5 (4-5), p<0,05 comparativamenteatodasasoutrasresponsabilidades des-critas], seguida por acordar o doente após a cirurgia [4 (3,5-5),p<0,05 comparativamenteatodasasoutras res-ponsabilidades,excetoo tratamento dequestõesmédicas durante a cirurgia em que p>0,05] (fig. 2). Outras tare-fas também foram reconhecidas como responsabilidade doAnestesiologistamasnumamenor dimensão:lidarcom problemasmédicosduranteacirurgia[4(3-4),p<0,05 com-parativamenteaefetuartransfusõessanguíneas],cuidardo doentenorecobro[4(3-5)],geriradorimediatamenteapós acirurgia[4 (3-4)]e prevenirNVPO [4(3-4)].Administrar antibióticos [3 (1-4)] e efetuar transfusões sanguíneas [3 (1-4)]duranteacirurgiaforamastarefasreconhecidasem menorextensão.Ogénerofemininoatribuiumaior respon-sabilidadeaoanestesiologistadoqueosexomasculinonas tarefasdegestãodadorpós-operatóriaeacordarodoente após acirurgia (p<0,05). Aexperiência anestésica prévia nãoafetousignificativamenteasclassificac¸õesdas respon-sabilidadesperioperatóriasdoanestesiologista.
Avaliando o envolvimento do cirurgião nas tarefas descritas no questionário, os doentes consideraram a transfusãosanguíneaduranteacirurgiacomoatarefacom maiorenvolvimentodocirurgião(fig.3).Aclassificac¸ãodo género feminino foi significativamente (p<0,05) superior na responsabilidade de acordar o doente após a cirurgia e,adicionalmente,na administrac¸ãodeantibióticos, com-parativamenteao géneromasculino.Demodo semelhante àquestãoanterior,aexperiênciaanestésicanãoalteroua
classificac¸ão dos doentes relativamente ao envolvimento docirurgiãonastarefasdescritas.
Acomparac¸ãodasfunc¸õesatribuídasaoanestesiologista eaocirurgiãonoperíodoperioperatóriorevelaqueo anes-tesiologistafoiclassificadocommaiorresponsabilidadeno acordardodoenteapósacirurgia(p<0,05),na prevenc¸ão deNVPOenocuidadododoentenorecobro.Poroutrolado, ocirurgiãofoiconsideradomaisenvolvidonagestãodador nopós-operatório imediato(p<0,05),naadministrac¸ãode antibióticos(p<0,05)enarealizac¸ãodetransfusões sanguí-neas(p<0,05)duranteacirurgia.
Cuidar do paciente no recobro
Efetuar transfusão sanguínea se necessária durante a cirurgia
Administrar antibióticos para prevenir infecções
Tratar a tensão arterial elevada e a elevação do açúcar no sangue durante a cirurgia
Prevenir náuseas e vómitos após a cirurgia
Acordar o paciente após a cirurgia
Gerir a dor imediatamente após a cirurgia
Assegurar que os pacientes não acordem durante a cirurgia
1 2 3 4 5
Figura 2 Conhecimento dos doentes relativamente às responsabilidades do anestesiologista no período perioperatório.
1=nenhumaresponsabilidadea5=muitoresponsável.
Discussão
O conhecimentodos doentes acerca dopapel e treino do anestesiologistaésuperficialepoucoesclarecido,ignorando
muitas das suas func¸ões. Neste estudo, a maioria dos doentesreconheceramoAnestesiologistacomoummédico especialista,embora27,4%dos doentesoconsiderasseum técnico especializado ou não soubesse responder. Estes
Cuidar do paciente no recobro
Efetuar transfusão sanguínea se necessária durante a cirurgia
Administrar antibióticos para prevenir infecções
Tratar a tensão arterial elevada e a elevação do açúcar no sangue durante a cirurgia
Prevenir náuseas e vómitos após a cirurgia
Acordar o paciente após a cirurgia
Gerir a dor imediatamente após a cirurgia
1 2 3 4 5
Figura3 Conhecimentodosdoentesrelativamenteaoenvolvimentodocirurgiãonoperíodoperioperatório.1=nadaenvolvidoa
5
4
3
2
1
Tratamento da dor crónica
Ressuscitação cardiorrespiratória
Cuidar dos pacientes nas unidades de cuidados intensivos
Ensinar estudantes de medicina
Comissões hospitalares e comissões das faculdades de
medicina
Figura4 Conhecimentodosdoentesrelativamenteàsfunc¸õesdoanestesiologistaforadoblocooperatório.1=nadaenvolvidoa
5=muitoenvolvido.
dadosestão deacordo coma literaturaprévia, em que o reconhecimentodoanestesiologistacomo médico especia-listavarioude50%a99%.1,3,6,7,10
Mais de metade dos doentes desconhece o tempo de educac¸ãoetreinodoanestesiologista,sendoasuadurac¸ão subvalorizadapelamaioriadosqueresponderam.Domesmo modo,amaioriadosdoentesnãosoubedistinguiradurac¸ão dotempodetreinodeCirurgia,MedicinaGeraleFamiliar eAnestesiologia.Surpreendentemente,emboraotreinodo anestesiologistasejasubvalorizado,apenas5,4%dos doen-tesconsideraram-noomaiscurtodetodos.
Similarmenteao estudodeGottschalketal.,as princi-paispreocupac¸ões dos doentes foram nãoacordar após a cirurgiae infec¸ãoapósacirurgia,aprincipalpreocupac¸ão nesseestudo.6Estudospréviosforamconsistentesna
princi-palpreocupac¸ãodosdoentessernãoacordarapósacirurgia, emboraadorpós-operatóriatenhasidodestacadacomoa segundaprincipalpreocupac¸ãonesses estudos,tendo ocu-pado a quarta posic¸ão no nosso estudo.1 Matthey et al.
encontraram maior preocupac¸ão com acordar durante a cirurgia, dano cerebral ou perda de memória, sendo que amaioria dosdoentesnãoreveloupreocupac¸ãocomador pós-operatória. É contrastante o facto de nesse estudo a maioriadosdoentesnãoterqualquerpreocupac¸ãorelativa àscomplicac¸ões da anestesia também descritas no nosso estudo. No entanto, o grupo questionado consistia numa populac¸ão aleatória em ambiente extra-hospitalar, o que revela a variabilidade de resultados conforme o tipo de populac¸ãoestudadaeomeiodeinvestigac¸ãoutilizado.8
Dentro dos receios perioperatórios apresentados, as mulheres expressaram maior preocupac¸ão. Estes achados sãoconsistentescomestudospréviosquedemonstrammaior ansiedadepelogénerofeminino.Tal,reforc¸aanecessidade
perentóriadeumarelac¸ãomédico-doenteindividualizadae personalizadaemfunc¸ãodascaracterísticaspessoais, soci-ais eculturais decada doente.8,11 Nãoforamencontradas
diferenc¸assignificativasnadimensãodaspreocupac¸ões peri-operatóriasentreaspessoassemecomexperiência anesté-sica prévia. Estesresultados poderão refletir ausência de progressãonoconhecimentoefamiliarizac¸ãocomos proce-dimentosperioperatóriosapósexperiênciaanestésica, dife-rentementedaevoluc¸ãoreportadanoestudodeLeiteetal.7
Relativamente ao conhecimento dos doentes sobre as tarefasintra-operatórias,opapeldoanestesiologista relati-vamenteaodocirurgiãofoimuitosubvalorizado.Prevenc¸ão deNVPO,gestãodeproblemasmédicos duranteacirurgia e o cuidado do doente no recobro foram responsabili-dades classificadas de modo semelhante entre ambas as especialidades médicas. Contudo, o cirurgião foi signifi-cativamente valorizado na gestão da dor pós-operatória, na administrac¸ão de antibióticos e transfusões sanguí-neas,comparativamenteaoanestesiologista.Aúnicatarefa distintamente classificadacomo sendodemaior responsa-bilidade do anestesiologista foi acordar o doente após a cirurgia,emboraocirurgiãotambémtenhasidoconsiderado envolvido. Estes resultados diferenciam-se do estudo de Gottschalketal.pelomenorreconhecimentodasfunc¸õesdo anestesiologistaepelaclarasobrevalorizac¸ãodocirurgião.6
doentes questionados acerca do funcionamento intraope-ratório. Esta informac¸ão tem sido umachado semelhante entreosváriosestudosrealizadosnestaárea,oquerealc¸a a fragilidade existente na comunicac¸ão e transmissão de informac¸ão entre o anestesiologista e o doente.5,10 Por
isso,nonossoestudo,aexperiência anestésicaprévianão demonstrouterinfluêncianainformac¸ãododoente.
No ambiente intra-hospitalar, fora do bloco operató-rio,oenvolvimentodoanestesiologistafoimoderadamente reconhecidopela maioriados doentes em todasas activi-dadesdescritas,sendoespecialmentereconhecidooensino aos estudantes de Medicina e a participac¸ão em Comis-sões Hospitalares e Faculdades de Medicina. Contudo, o facto desteestudo terdecorridonumHospital Universitá-rio,queincorporaaFaculdadedeMedicinadaUniversidade doPorto,podetersidosugestivonavalorizac¸ãodestas acti-vidades.Noentanto,entre13,7%e17,2%dosdoentesnão responderamàsalíneasdestaquestão,podendo correspon-deraodesconhecimentosobreoassunto.Pontualmente,na classificac¸ãodoenvolvimento doanestesiologistanasUCI, o grupo com experiência anestésica atribuiu significativa-mente menor responsabilidade. Este achado poderefletir umamaiorinseguranc¸apelosdoentessemexperiência anes-tésica e daí uma maior necessidadeem responsabilizar o médicoeatribuir-lhemaisfunc¸ões.Porém,estadiferenc¸a foiisolada,nãosendoporissototalmentecompreendida.
As interpretac¸ões do nosso estudo podem ter várias limitac¸ões,nomeadamente:aselecc¸ãodeindivíduosna con-sultadeanestesiologiapré-operatóriapodeterseleccionado um grupo de doentes com maior experiência cirúrgica e anestésicapréviaao invésdodoente comum; autilizac¸ão deumquestionáriocomomeioderecolhadedadospodeter limitadoacompreensãodosdadosperguntadosedas respos-taspossíveis,aoinvésde,porexemplo,umaentrevista.
A educac¸ão correta do doente sobre a anestesiologia compete primariamente ao anestesiologista. Isto implica um maior interesse da especialidade na comunicac¸ão e fomentac¸ãodelac¸oscomodoente,poisasatisfac¸ãodeste estácomprovadamenteimplicadanaqualidadeclínicaeno sucessoterapêutico.7,12,13 Existeaindacontrovérsia acerca
daquantidade de informac¸ão e do modo como esta deve sertransmitidaaodoente,demodoapermitiradiminuic¸ão daansiedaderelativamenteaosprocedimentos,bemcomo evitaroseuagravamento,tendosidorealizadosvários estu-dos na área.12,14,15 É importante transmitir ao doente a
seguranc¸aeconfianc¸anosprocedimentosrealizados,poiso nívelde preocupac¸ão perioperatóriacontinuadesajustado darealincidênciadecomplicac¸õesanestésicas.8,9
Em conclusão,este estudo demonstrou que a visão do anestesiologista pelo doente ainda é subvalorizada, não sendoclaroparaapopulac¸ãoestudadaoqueéa anestesio-logiaequaisasáreasespecíficasemqueoanestesiologista podeintervir.
Envolvermosodoentenesteprocessoéimportante,dado quegrandepartedosucessovaidependerdele.Paratal,é necessárioqueodoenteocompreenda,aoinvésdeseruma simplesmarionetanamãodoartista.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Agradecimentos
Ao Professor Doutor Fernando Abelha, Professor Doutor André Novo e Doutora Joselina Barbosa, pela preciosa colaborac¸ão.
Apêndice.
Material
adicional
Pode consultar o material adicional para este artigo na sua versão eletrónica disponível em doi:10.1016/j.bjan. 2014.05.014.
Referências
1.Hariharan S. Knowledge and Attitudes of Patients Towards Anesthesia and Anesthesiologists. A Review. Anestesia en Mexico.2009;21:174---8.
2.Simini B.Anaesthetist:thewrong namefor theright doctor. Lancet.2000;355:1892.
3.deOliveiraKF,ClivattiJ,MunechikaM,etal.Whatdopatients knowabouttheworkofanesthesiologists?RevBrasAnestesiol. 2011;61:720---7.
4.HariharanS,Merritt-CharlesL,ChenD.Patientperceptionof theroleofanesthesiologists:aperspectivefromtheCaribbean. JClinAnesth.2006;18:504---9.
5.CalmanLM,MihalacheA,EvronS,etal.Currentunderstanding ofthepatient’sattitudetowardtheanesthetist’sroleand prac-ticeinIsrael:effectofthepatient’sexperience.JClinAnesth. 2003;15:451---4.
6.GottschalkA,SeelenS,TiveyS,etal.Whatdopatientsknow aboutanesthesiologists?Resultsofacomparativesurveyinan U.S.,Australian,andGermanuniversityhospital.JClinAnesth. 2013;25:85---91.
7.Leite F,da SilvaLM,BiancolinSE,etal. Patientperceptions aboutanesthesiaandanesthesiologistsbeforeandaftersurgical procedures.SaoPauloMedJ.2011;129:224---9.
8.Matthey P, Finucane BT, Finegan BA. The attitude of the general public towards preoperative assessment and risks associatedwithgeneral anesthesia.CanJ Anaesth.2001;48: 333---9.
9.Royston D.CoxF - Anaesthesia:thepatient’s pointofview. Lancet.2003;362:1648---58.
10.MavridouP,DimitriouV,PapadopoulouM,etal.Effectof previ-ousanesthesiaexperienceonpatients’knowledgeand desire for information about anesthesia and the anesthesiologist: a 500patients’survey from Greece.ActaAnaesthesiol Belg. 2012;63:63---8.
11.MasoodZ,HaiderJ,JawaidM,etal.Preoperativeanxietyin femalepatients:Theissueneedstobeaddressed.KUSTMedJ. 2009;1:38---41.
12.Snyder-RamosSA,SeintschH,BottigerBW,etal.Patient satis-faction and information gain after the preanesthetic visit: acomparisonofface-to-faceinterview,brochure, andvideo. AnesthAnalg.2005;100:1753---8.
13.RozenblumR,DonzéJ,HockeyPM,etal.Theimpactof medi-calinformaticsonpatientsatisfaction:aUSA-basedliterature review.IntJMedInform.2013;82:141---58.
14.KakinumaA,NagataniH,OtakeH,etal.Theeffectsofshort interactiveanimationvideoinformationonpreanesthetic anxi-ety,knowledge,andinterviewtime:arandomizedcontrolled trial.AnesthAnalg.2011;112:1314---8.