REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologiawww.sba.com.br
ARTIGO
CIENTÍFICO
O
efeito
de
sugamadex
sobre
a
func
¸ão
cognitiva
e
recuperac
¸ão
no
pós-operatório
Özcan
Pis
¸kin
a,∗,
Gamze
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¸ükosman
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Utku
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Özkoc
¸ak
Turan
daDepartamentodeAnestesiologiaeReanimac¸ão,SchoolofMedicine,BulentEcevitUniversity,Zonguldak,Turquia
bProvincialHealthDirectorateofSanliurfa,Sanliurfa,Turquia
cDepartamentodeNeurologia,SchoolofMedicine,BulentEcevitUniversity,Zonguldak,Turquia
dDepartamentodeAnestesiologiaeReanimac¸ão,AnkaraNumunePracticeandResearchHospital,Ankara,Turquia
Recebidoem29demaiode2014;aceitoem28deoutubrode2014 DisponívelnaInternetem4demaiode2016
PALAVRAS-CHAVE
Sugamadex; Neostigmina; Disfunc¸ãocognitiva nopós-operatório; MMSE;
MoCA
Resumo
Justificativaeobjetivo:Sugamadexéoprimeiro agentedeligac¸ãorelaxanteseletivo.Após
aadministrac¸ãodesugamadex, ostemposdedespertarederecuperac¸ãodospacientessão
menores,em comparac¸ãocomneostigmina. Nesteestudo,ahipótese foiqueum despertar
maisrápidoeclarodospacientessubmetidosàanestesiageraltemefeitospositivossobreas
func¸õescognitivasnopós-operatórioimediato.
Métodos: Apósaaprovac¸ãodoComitêdeÉticalocal,128pacientesforamincluídosnesteestudo
prospectivo,randômico,controladoeduplo-cego.Ospacientesforamdesignadosparaogrupo
sugamadex(GrupoS)ougrupo neostigmina(Grupo N).Odesfechoprimário doestudofoia
recuperac¸ãocognitivanopós-operatórioimediato,deacordocomamensurac¸ãodaAvaliac¸ão
deMontrealdaFunc¸ãoCognitiva(MoCA)ecomoMiniExamedoEstadoMental(MMSE),apósa
avaliac¸ãoinicial12-24hantesdaoperac¸ão.Apósaoperac¸ão,quandooescorederecuperac¸ão
deAldretemodificadoera≥9,otesteMMSEe,umahoradepois,otesteMoCAforamrepetidos.
Resultados: Emboratenhahavidoumareduc¸ãonosescoresdeMoCAeMMSEtantonoGrupoS
quantonoGrupoN,entreosescorespré-epós-operatórionãohouvediferenc¸aestatisticamente
significativanasreduc¸ões(p>0,05).OtempoparaatingirTOF0,9foide2,19minnoGrupoSe
de6,47minnoGrupoN(p<0,0001).Otempoderecuperac¸ãofoide8,26minnoGrupoSede
16,93minnoGrupoN(p<0,0001)
Conclusão:Mostramosqueoprocedimentocirúrgicoe/ouprocedimentoanestésicode
acom-panhamentopode causaruma regressãotemporária oupermanente dafunc¸ãocognitivano
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:drozcanp@gmail.com(Ö.Pis¸kin). http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2016.04.003
pós-operatórioimediato.Noentanto,umdesempenhocognitivomelhornãopodeserprovado
nogruposugamadexemcomparac¸ãocomogruponeostigmina.
©2015SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eum
artigo OpenAccess sobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
KEYWORDS
Sugammadex; Neostigmine; Postoperative cognitive dysfunction; MMSE; MoCA
Theeffectofsugammadexonpostoperativecognitivefunctionandrecovery
Abstract
Backgroundandobjective: Sugammadex is the first selective relaxant binding agent. When
comparedwithneostigmine,followingsugammadexadministrationpatientswakeearlierand
haveshorterrecoverytimes.In thisstudy,wehypothesizedthatfastandclearawakeningin
patientsundergoinggeneralanesthesiahaspositiveeffectsoncognitivefunctionsintheearly
periodafteroperation.
Methods:Approvedbythelocalethicalcommittee,128patientswereenrolledinthis
randomi-zed,prospective,controlled,double-blindstudy.PatientswereallocatedtoeitherSugammadex
group(GroupS)ortheNeostigminegroup(GroupN).Theprimaryoutcomeofthestudywasearly
postoperativecognitiverecoveryasmeasuredbytheMontrealCognitiveAssessment(MoCA)and
MiniMentalStateExamination(MMSE).Afterbaselineassessment12---24hbeforetheoperation.
Aftertheoperation,whentheModifiedAldreteRecoveryScorewas≥9theMMSEand1hlater
theMoCAtestswererepeated.
Results:AlthoughtherewasareductioninMoCAandMMSEscoresinbothGroupSandGroupN
betweenpreoperativeandpostoperativescores,therewasnostatisticallysignificantdifference
intheslopes(p>0.05).ThetimetoreachTOF0.9was2.19mininGroupSand6.47mininGroup
N(p<0.0001).Recoverytimewas8.26mininGroupSand16.93mininGroupN(p<0.0001).
Conclusion: Weshowedthatthesurgicalprocedureand/oraccompanyinganestheticprocedure
maycauseatemporaryorpermanentregressionincognitivefunctionintheearly
postopera-tiveperiod.However,bettercognitiveperformancecouldnotbeprovedintheSugammadex
comparedtotheNeostigmine.
©2015SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.Publishedby ElsevierEditoraLtda.Thisisan
openaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc
¸ão
Os pacientes submetidos à cirurgia de grande porte sob anestesia geral podem apresentar comprometimento da memória e regressão das func¸ões cognitivas, como concentrac¸ão,planejamentoeorganizac¸ãoapósacirurgia.1 Essecomprometimentointelectualecognitivoéconhecido como disfunc¸ão cognitiva pós-operatória (DCPO). A DCPO muitasvezescriacomprometimentocognitivotemporário; porém,especialmenteem pacientesmaisvelhos,elapode assumiraformadedeclíniopermanente.1Atéomomento, estudoscontrolados emodelosanimaisnãoestabeleceram critériosdiagnósticospara aDCPOe a suaetiologiaainda nãoétotalmentecompreendida.2---4Noentanto,estudosem animaisforneceramfortesevidênciasdequeaexposic¸ãoa agentesanestésicos podecausarocomprometimento per-manentedaaprendizagemedamemória.5---8
Sugamadex (Bridion®, Merck Sharp & Dohme (MSD),
Oss,Holanda) é umagente aminoesteroide rápido e sele-tivamente eficaz recentemente lanc¸ado. Por meio do encapsulamento de rocurônio e vecurônio, ele provoca umarápidarecuperac¸ão independentementedotempode administrac¸ão.9---13 Em comparac¸ão com os pacientes que receberam neostigmina para a recuperac¸ão, observou-se
queospacientesquereceberamsugamadexserecuperaram comumnívelmaisclarodeconsciência.
Neste estudo, a hipótese foi que um despertar mais rápido e claro dos pacientes submetidos à anestesia geral tem efeitos positivos sobre as func¸ões cognitivas nopós-operatório imediato. Para testaressa hipótese, as func¸õescognitivasdospacientesforamavaliadasnoperíodo pós-operatório,comacomparac¸ãodospacientesque rece-beram neostigmina ou sugamadex para recuperac¸ão após anestesia geral com bloqueio neuromuscular baseado em rocurônio.
Método
comestado físico ASA Iou II, deacordo com aSociedade
AmericanadeAnestesiologistas(ASA).
Oscritériosdeexclusãoforaminsuficiênciacardíaca con-gestiva,insuficiênciarenalehepática,insuficiênciaadrenal, distúrbiohormonal,diabetesmelittus(DM),doenc¸a neurop-siquiátrica,dependênciacrônicadeálcooloudroga,escore <15naEscaladeComadeGlasgow(ECG),históriadeparada cardiorrespiratória ou acidente vascular cerebral nos 12 mesesanteriores,históriadecirurgiaanteriorsobanestesia geral,cirurgiadeemergênciaeescorespós-operatórios<23 noMiniExamedoEstadoMental(MMSE)14e<21naAvaliac¸ão CognitivadeMontreal15(MoCA).
Depoisdeobteroconsentimentoinformadodos pacien-tes,osgrupos sugamadex (GrupoS) e neostigmina(Grupo N)foram designados pelo método de envelopes lacrados. Paraavaliarasfunc¸õescognitivas,testescomMMSEeMoCA foramfeitospelomesmoespecialistaemneurologia,cegado para a designac¸ão dos grupos. Todos os pacientes foram consultados12-24h antesdaoperac¸ão. Onível escolar, a comorbidadeeosdadosdemográficosdospacientesforam registrados. Antes da operac¸ão, a memória, as func¸ões cognitivas e as habilidades motoras dos pacientes foram avaliadascom o MMSEe MoCA paracontrole (T0).Após a
operac¸ão, na sala de recuperac¸ão pós-anestésica (SRPA), quandooescorederecuperac¸ãodaescaladeAldrete modi-ficada (EAM)16 estava ≥9, ostestes com MMSE e 1h mais tardecomMoCAforamrepetidos(T1).Nenhumpacientedos
doisgrupos recebeu pré-medicac¸ão. Durantea cirurgia,a pressão arterialmédia (PAM), a frequênciacardíaca (FC), asaturac¸ãoperiféricadeoxigênio(SpO2),oíndice
bispec-tral(BIS),o músculoadutorea temperaturanasofaríngea foram monitorados e registrados. Para o monitoramento datransmissãoneuromuscular,usamosumdispositivo TOF--Watch® SX(OrganonTeknika BV,Holanda).Atemperatura
dasaladeoperac¸ãofoiajustadapara21-25◦
C.Ospacientes foramcobertoseatemperaturadapeledaregiãotenarfoi monitoradaparaassegurarquenãoficasseabaixode32◦
C. Todosospacientesreceberamfentanil(1g.kg−1)e
propo-fol (2mg.kg−1) por via intravenosa (IV) durante a induc¸ão
daanestesia.QuandoosvaloresdoBISestavamem40-60, acalibrac¸ãododispositivoTOFfoiconcluídaetrêsvalores consecutivosdeestímulosisoladosforamregistrados.Então, rocurônioIV(0,5mg.kg−1)foiadministradoeointervaloaté
que osvalores TOF atingissem zero (TOF0)foi registrado.
Quando TOF0 foi atingido, os pacientes foram intubados.
Paramanteraanestesia,todosospacientesreceberamuma misturadeO2/N2O(50/50)esevofluranoa2%tituladopara
manterosvaloresdoBISentre40e60.Duranteaoperac¸ão, quandoosvaloresTOFestavamem25%(TOF25),umadosede
umquartodadoseinicialderocurôniofoiadministrada.No fimdacirurgia,quandoTOF25 foiatingido,oGrupoS
rece-beu2mg.kg−1desugamadexIVeoGrupoN0,03mg.kg−1de
neostigmina+0,01mg.kg−1deatropina.Ospacientesforam
extubadosquandoosvaloresTOFatingiram90%(TOF90).O
intervalo entreTOF25 e TOF90 foi registrado em segundos
(TOF25-90). Durante a operac¸ão, as quantidades adicionais
demedicamentoeo totalderocurônioforamregistrados. Após a sutura da pele, os gases anestésicos foram inter-rompidos em ambos os grupos. Esse tempofoi registrado comoofimdaanestesia.Otempodesdeainterrupc¸ãodos gasesanestésicosatéEAM≥9foiregistradocomooperíodo de recuperac¸ão. Após a operac¸ão, os pacientes foram
transferidos para a SRPA. Após o termino da incisão da pele, todos os pacientes receberam 1mg.kg−1 de
trama-dolIV para analgesianopós-operatório. Aos20, 40, 60,e
120minutosapósacirurgia,osescoresdaescalavisual ana-lógica(EVA)17foramregistrados.QuandoEVA>4,umagente analgésicoanti-inflamatórionãoesteroidefoiadministrado eregistrado.
O desfechoprimário doestudo foi a recuperac¸ão cog-nitiva nopós-operatório imediato, medida com o MMSEe MoCA. O desfecho secundário foi o tempo desde o início da administrac¸ão de reversão até a recuperac¸ão a uma proporc¸ão de 0,9 nos pacientes que receberam rocurônio comobloqueadorneuromuscularduranteaanestesiageral paraoprocedimentocirúrgico.
Análisedopoder
Para testar a significância das diferenc¸as entre as medi-dasrepetidasemgruposdependentes,otamanhodoefeito convencionalnecessárioparaotestetfoipresumidocomo médio(d=0,50);demodoque,paraoestudoterumpoder de80%,calculou-sequeambososgruposprecisariamdeuma amostracomtamanhomínimode128(n=64).18
Análiseestatística
As análises estatísticas para este estudo foram concluí-das com o programa para Windows SPSS 15.0. Estatística descritiva (média, mediana, desvio padrão, valor mínimo e máximo) foi usada para avaliar os dados. Os valores mensurados são expressos em média e desvio padrão. As variáveiscategóricas(valoresnuméricos)sãoexpressasem númeroeporcentagem.Otestedoqui-quadradofoiusado paracompararasvariáveiscategóricas.OtestedeLevene foi usado para avaliar a homogeneidade intragrupos para as condic¸ões paramétricas. Se os resultados dos testes de homogeneidademostrassemcondic¸õesparamétricas, o modelomistodeAnovaerausadoparacomparac¸õesentre os grupos; se mostrassem condic¸ões não paramétricas, o teste pareado de Wilcoxon era usado para comparar os valores mensurados antes e depois e o teste U de Mann--Whitney usadoparacomparar grupos independentes. Um valor-p<0,05foiaceitocomosignificativo.
Resultados
Esteestudofoiconduzidodesetembrode2012ajulhode 2013,com128pacientes;38foramexcluídosdevidoaos bai-xosescoresnoMMSEeMoCAetrêsforamexcluídosporque nãopuderamserextubadosnofimdacirurgia.Dos87 incluí-dosnoestudo,48,2%(n=42)foramdesignadosparaoGrupo Se51,8%(n=45)paraoGrupoN.
Tabela1 Distribuic¸ãodosfatoressociodemográficosedetalhescirúrgicosdosgrupos
GrupoS(±DP)(n=42) GrupoN(±DP)(n=45) pa
Médiadeidade,anos 32,07±11,50 37,38±11,95 <0,05
Sexo(F/M) 12/30 22/23 >0,05
Anosdeescolaridade(<9anos/9-12/>12anos) 12/18/12 17/18/10 >0,05 Peso,kg 74,83±14,93 75,33±13,92 >0,05 IMC,kg.cm−2 25,25±4,08 26,70±4,63 >0,05
ASA(I/II) 17/25 18/27 >0,05
Durac¸ãodaoperac¸ão,min 118,86±42,94 115,49±46,51 >0,05 Durac¸ãodaanestesia,min 125,21±38,91 124,18±48,39 >0,05 Rocurônio,mg 67,02±15,85 62,44±11,65 >0,05 Tramadol,mg 74,83±14,93 75,33±13,92 >0,05
F,Feminino;M,Masculino;IMC,índicedemassacorporal;ASA,SociedadeAmericanadeAnestesiologistas.
a Testedoqui-quadrado(2×n)etestetdeamostrasindependentes.
Tabela2 Tempoatéarecuperac¸ãodarelac¸ãoTOF0,9(min)etempoatéarecuperac¸ãodeAldrete≥9(min)
GroupS(±DP) GroupN(±DP) pa
TempoTOF0,9 2,19±1,47 6,47±1,92 <0,0001 TempoAldrete≥9 8,26±5,02 16,93±8,00 <0,0001
TOF,sequênciadequartoestímulos.
a Testetindependenteparaosgrupos.
OtempoatéatingirTOF0,9foide2,19minnoGrupoSe 6,47minnoGrupoN(p<0,0001).Otempoderecuperac¸ão foi de 8,26min no Grupo S e 16,93min no Grupo N (p<0,0001)(tabela2).
Os escoresdeMMSE em T0 e T1 foram26,98±1,957 e
26,90±1,936 no Grupo S e 27,00±2,286 e 25,82±2,724 no Grupo N, respectivamente. Os escores de MoCA em T0 e T1 foram 23,26±1,988 e 23,17±2,294 no Grupo S
e 23,56±2,482 e 23,04±2,868 no Grupo N, respectiva-mente. Em ambos os testes, a média em T1 foi inferior
à média em T0. Os grupos dependentes foram
compara-dos com o teste t e os valores de mensurac¸ão repetidos foram comparados. Para determinar a diferenc¸a entre os escores de MMSE e MoCA em T0 e T1, o modelo linear
generalizado foi usadopara análise dos dados com medi-dasrepetidas.Osresultadosdaanáliseestãoilustradosna
figura1, mostramque, embora osvalores deMMSEemT0
e T1 tenham sido reduzidos no Grupo S, a inclinac¸ão da
reduc¸ão nãomostroudiferenc¸aestatisticamente significa-tiva(p>0,05).NoGrupoN,emboratenhahavidoumaqueda estatisticamentesignificativadosvaloresdoMMSEdeT0 a
T1(p<0,05),nãohouvediferenc¸aestatisticamente
signifi-cativaentreosvaloresdainclinac¸ão.Afigura2indicaque emboratenhahavidoumareduc¸ãonosvaloresdeMoCAem ambos osgrupos deT0 a T1, nãohouvediferenc¸a
estatis-ticamentesignificativanasinclinac¸ões(p>0,05)(tabela3;
fig.3).
Discussão
Nesteestudo,osefeitosdesugamadexsobrearecuperac¸ão e asfunc¸õescognitivas foramcomparados com osefeitos deneostigmina.Emboraogruposugamadextenhaatingido
TOF0,9maiscedodoqueogruponeostigminaeapresentado temposmaiscurtosderecuperac¸ão,umamelhoria significa-tivadarecuperac¸ãocognitivanãofoiidentificada.
Osprocedimentoscirúrgicosedeacompanhamento anes-tésicopodemcausarregressãotemporáriaoupermanente das func¸ões cognitivas no pós-operatório; essa situac¸ão é conhecida como disfunc¸ão cognitiva pós-operatória
27
26,8
26,6
26,4
26,2
26
25,8
Grupos
Médias marginais estimadas
Grupo S Grupo N
T0 T1
Figura 1 Inclinac¸ões dos escores de MMSE dos grupos de
23 23,1 23,2 23,3 23,4 23,5 23,6
Grupos
Médias marginais estimadas
Grupo S Grupo N
T0 T1
Figura 2 Inclinac¸ões dos escores de MoCA dos grupos de
T0aT1.
Tabela 3 Escores MMSE e MoCA nos períodos
pré--operatórioepós-operatório
T0(±DP) T1(±DP) pa
GrupoS
MMSE 26,98±1,957 26,90±1,936 >0,05 MoCA 23,26±1,988 23,17±2,294 >0,05
GrupoN
MMSE 27,00±2,286 25,82±2,724 <0,05 MoCA 23,56±2,482 23,04±2,868 >0,05
T0,pré-operatório;T1,pós-operatório. aTestetdeamostraspareadas.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
100 Grupo S
BIS
Basal TOF0 60 min após
indução
BIS TOF25 MAS 9
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
100 Grupo N
BIS
Figura3 ValoresBISdosgruposNeS.BIS,BispectralIndex.
(DCPO).4 Contudo, não está totalmente esclarecido se o procedimento cirúrgico ou a administrac¸ão de anestesia provoca DCPO.2,3,19,20 Muitos estudosrandomizados e con-troladosmostraramqueaincidênciadeDCPOaumentaem pacientes mais velhos ou submetidos à circulac¸ão extra-corpórea e cirurgias ortopédicas demembros inferiores.20 Paradeterminaroefeitodesugamadexeneostigminasobre a func¸ão cognitiva,este estudo excluiu ospacientes com maisde60anos eaquelessubmetidosàcirurgiacardíaca, craniana e de membros inferiores. Os fatores de risco independentesparaodesenvolvimentodeDCPOforam eli-minados. Alémdisso,houveumadiferenc¸asignificativana médiadeidadeentreosdoisgrupos(GrupoS:32,07±11,50 eGrupoN:37,38±11,95).Johnsonetal.21descobriramque aincidênciadeDCPOfoimuitobaixaemindivíduosde meia--idadeedeterminaramquenãohouvediferenc¸asignificativa emDCPOentreospacientesquehaviamsidosubmetidosa uma cirurgia nos últimos três meses e voluntários saudá-veis.Portanto,acreditamosqueadiferenc¸adeidadeentre osdoisgruposnãoafetounegativamenteosresultadosdos testescognitivos.
Não há consenso internacional sobre de que modo a func¸ão cognitiva deveser avaliada após uma intervenc¸ão cirúrgica.22 Com essepropósito, cerca de30testes foram descritos, mas suas vantagens não foram demonstradas. OMMSEéusadocomfrequênciaparaavaliarafunc¸ão cog-nitivaapósa anestesiaporquelevamenostempoparaser aplicadoefoiconsideradomaisútilpelospacientese médi-cos.OtesteMoCAsetornoupopularrecentementeeéusado comfrequênciaporquenãodependedevariáveis demográfi-cascomoidadeeeducac¸ão.23AmbosostestesMMSEeMoCA têmaltavalidadeeconfiabilidade,estudosturcos de vali-dade e confiabilidade estão em conclusão.23,24 Com base nesses fatores,ostestesMMSE eMoCA foramusadospara avaliarafunc¸ãocognitivanesteestudo.
Háalgumasreservassobrequandoe comque frequên-ciaostestesdeavaliac¸ãocognitivadevemserfeitos após operac¸ões.2,3,20Osfatoresquepodemafetarnegativamente osresultadosdaavaliac¸ãocognitivasãodorapósaoperac¸ão, sonointerrompidoe aprendizagem/memorizac¸ão dos tes-tesdevidoasuafrequenterepetic¸ão.1 Nesteestudo,para evitar osefeitos desses fatores, todosos pacientes apre-sentaramescoreEVA<4e EAM≥9 antesdaavaliac¸ãono pós-operatório. Além disso, para evitar a memorizac¸ão e o aprendizadodostestes deavaliac¸ão, ostestessóforam feitosumavezapósaoperac¸ão.
Sugammadex foi introduzido na prática anestésica nos últimos anos e é usado para reverter de forma rápida e confiávelobloqueioneuromuscularinduzidoporrocurônio evecurônio.Apósaadministrac¸ãodesugamadex,os paci-entesacordam maiscedoe apresentamumtempomenor derecuperac¸ãoem comparac¸ãocomneostigmina.11---13 Em estudoscomparativos comneostigmina,o tempo necessá-rio paraatingir TOF0,9 foi consideravelmente menor nos pacientesquereceberamsugamadex.11,13,25,26Emumestudo randômicoecontroladoconduzidoporKoc¸etal.,25 quando a relac¸ão TOF dos pacientescom bloqueio neuromuscular induzidopor rocurônioatingiu 2, 2mg.kg−1 desugamadex
ou50g.kg−1deneostigmina+20g.kg−1deatropinaforam
administrados para descurarizac¸ão. O tempo para atingir TOF 0,9 foi de 2,31min no grupo sugamadex e 9,48min no grupo neostigmina. O mesmo estudo descobriu que o tempodeextubac¸ãofoide6,64minnogruposugamadexe 12,99minnogruponeostigmina.Damesmaforma,Pongrácz etal.26compararamotempoparaatingirTOF1,0em paci-entesquereceberamquantidadesdiferentesdesugamadex (0,5;1ou2mg.kg−1)ou0,005mg.kg−1 deneostigmina.Os
pacientesquereceberam2mg.kg−1desugamadexatingiram
TOF1,0em1,8min,enquantoospacientesquereceberam 0,05mg.kg−1deneostigminaatingiramTOF1,0em8,5min.
Emnossoestudo,nospacientesquereceberamsugamadex, o tempopara atingir TOF 0,9 foi de 2,19min e o tempo de recuperac¸ão de 8,26min; enquanto que nos pacientes quereceberamneostigminaessestemposforamde6,47e 16,93min.Ospacientesquereceberamsugamadex acorda-ram eserecuperaram maiscedodoque ospacientesque receberamneostigmina.
Muitos estudos dos efeitos de um rápido despertar e recuperac¸ão da anestesia sobre a func¸ão cognitiva no pós-operatório foram feitos. Bronco et al.27 compararam os efeitos de um agente inalatório de rápido início e recuperac¸ão, xenônio, com outro agenteinalatório, sevo-flurano,emtermosderecuperac¸ãopós-operatóriaefunc¸ão cognitiva.Ospacientesdogrupo xênondespertaram mais cedoeapresentarammelhorrecuperac¸ãocognitiva.Coburn etal.28compararamosefeitosdexenônioedesfluranosobre afunc¸ãocognitivanopós-operatórioempacientesidosos;os temposdeextubac¸ãoedeaberturadosolhosforam meno-resnogrupoxenônio;contudo,osautoresafirmam queos efeitossobreafunc¸ãocognitivaforamsemelhantesaosde desflurano.Deformasemelhante,Rasmussenetal.29 deter-minaramqueosefeitosdosagentesdeac¸ãorápidaxenônio inalatórioe propofolintravenoso sobreafunc¸ãocognitiva foramsemelhantesem pacientesidosos.Emnossoestudo, paraavaliarafunc¸ãocognitivaemambososgrupos,os tes-tesdeMMSEeMoCAforamadministradasemT0eT1.Embora
tenhahavidoumareduc¸ãonuméricadosescoresdeMMSEe MoCAemT1em comparac¸ãocomT
0,nãohouvediferenc¸a
estatisticamente significativa nas inclinac¸ões da reduc¸ão. Estudosmostraramqueoprocedimentocirúrgicoe/ou pro-cedimentoanestésicodeacompanhamentopodecausaruma regressãotemporáriaoupermanentedafunc¸ãocognitivano pós-operatórioimediato.Noentanto,umdesempenho cog-nitivo melhor não podeser comprovado nos pacientes do gruposugamadexemcomparac¸ãocomospacientesdogrupo neostigmina. Estudos prévios que comparassem o desem-penhocognitivodepacientesquereceberamsugamadexe neostigminanãoforamencontrados.
Ocálculodotamanhodaamostraparaumpoder esta-tísticode80%exigiu64pacientesemcadagrupo,umtotal de128; porém,devidoaoscritériosdeexclusão,oestudo foi concluídocom 87 pacientes.Limitac¸ões em relac¸ão à durac¸ãodoprojetonãopermitiramainclusãodecontroles. Essafoialimitac¸ãomaisimportantedoestudo.Alémdisso, aavaliac¸ão cognitivanopós-operatóriofoiconcluída ape-nasduranteoperíodoimediato.Comoresultado,osefeitos de sugamadex sobre a func¸ão cognitiva foram compara-dosapenasnopós-operatórioimediato.Outralimitac¸ãodo estudofoiousodedosesbaixasdesugamadex(2mg.kg−1).
Como resultado, o efeito de uma dose alta de suga-madex (16mg.kg−1) sobre o desenvolvimento de DCPO é
desconhecido.
Em conclusão, avaliar a func¸ão cognitiva após uma operac¸ão é complicado; os muitos fatores de risco independenteseavariedadedetestesdeavaliac¸ão aumen-tamadificuldade.
Sugamadexéumagentemuitonovo.Outrosestudosque incluam uma análise estatística mais detalhada, diferen-tesdosesdesugamadexeamostrasmaioressãonecessários paraacompreensãoplenadosefeitosdesseagentesobrea func¸ãocognitivanopós-operatóriotardio.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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