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A creche e o nascimento da nova maternidade

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Academic year: 2017

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(1)

FUNDAÇÃO GETOLIO VARGAS

INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS E PESQUISAS PSICOSSOCIAIS CENTRO DE POS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

A CRECHE E O NASCIMENTO DA

NOVA MATERNIDADE

Maria Vittoria Pardal Civiletti

FGV / ISOP / CPGP

Praia de Botafogo, 190 - sala 1108

(2)

CENTRO DE POS-GRADUAÇÁO EM PSICOLOGIA

A CRECHE E O NASCIMENTO

DA

NOVA MATERNIDADE

por

Maria Vittoria Pardal Civiletti

Dissertação submetida como requisito parcial para

obtenção do g rau de

MESTRE EM PSICOLOGIA

(3)

companheiro incansável,

pelo apoio que tornou

(4)

Ao Professor FRANCO LO PRESTI SE MINeRIO, Diretor do I50P,

pelo

estimulo dado ao longo de todo o

mestra:io .

As Professoras f!K)NIQUE ROSE AIMeE

AUGRAS e MARlON MERLONE UOS

SAN-TOS PmNA , orie ntadoras desta dis

sertação , pelo acompanhamento re

alizado .

Ao Professor ANTONIO GOMES PENHA,

pelas oportunidades ãe reflexão

sobre a psicologia histórica .

A PAULO

e LULLY , meus pais ,

(5)

R E S U M O

A presente dissertação realiza um estudo histórico do desenvolvimento da ヲオョ￧ ̄セ@ materna no Brasil . Por terse mO$tra -do um sintoma de ruptura no exercício da maternidade , a insti -tuição creche e que utilizada como referencial através do qual se analisa esta função .

Pelo estudo do surgimento e da evolução da creche em nosso meio, procura-se mostrar as causas do sentimento de culpa • da mãe que utiliza seus serviços , fugindo ao exercício tradicio nal da função materna . Examina - se as razoes do preconceito ウセ@ cial que ainda recai sobre esta institui ç ão, apesar das

sas indi c ar e m níveis d e desenvolvimento adequados nas cr1anças que as freqU e ntam .

As transformações e permanências encontradas no exerci C10 da função materna com o advento da creche sao estudadas de acordo com sua influência nas diferentes classes soc i ais.

Finalmente , realiza-se uma avaliação da situaçao atual do atendimento no Rio de Janeiro propondo-se possíveis atuações do psicólo g o dentro da instituição creche .

(6)

-In this study . the historieal development of the mater nal function in Brasil ゥセ@ analysed. The day care center is

chosen as the frame of reference for tbis analysis because of its r ole in the rupture in the exerci se of maternity .

The causes for guílty feelin g of the mother ",ho u ses this institution in opposition to tradicional forros of mother-iog are discussed . Ao analysi6 is also made of the reasons for social prejudice toward day care centers 10 spite of alI

tive eviden ce from research 10 this area.

POS1-The aspects that changed and the ooes that: stable 10 the mate rnal function historieal process

remained are studied and re lated to their iofluence 00 different social classes.

Finally, the Betual situation of day care center atteE dance in Rio de Janeiro is evaluated aod possible roles of the psycholo g ist 1.n this in stitution are p·roposed .

(7)

-íNDICE

Agradecime nto s

---

iv

Resumo - -'--

--

-,--- - - -- -

---

- -

---

- -- -- ----

v

Sununary

---

vi

pJ\G

I N T R O D U

ç

Ã

o - --- ---- --- --- -- -- ---

Dl

CAPITULO

I - PRESSUPOSTOS TEORICOS ---- --- ---

09

1 - A PERSPECTIVA HISTORICISTA --- ---

09

1.1 - A História das Mentalidades --- --- 09

1 . 2 - A Psicologia Histórica --- 15

2 - A MULHER E SEU CONFLITO

atuセl@

--- - --

21

2.1 - O Ideal da }1ulher-Mãe ---- --- - - 21

2 . 1 . 1 Enganos e Desenganos da Trans -formação de um Sentimento em

Instinto --- 22 2 . 1 . 2 - As Origens do Ideal de Materni

dade da Primeira Metado do

sé-culo XX no Brasil --- -- 31

2 . 2 - O Trabalho Feminino --- --- -- --- - 37

3 - A CRECHE COMO MECANISMO DE CONTROLE SOCIAL -

48

(8)

CAPITULO 11 - O DESEN ROLAR oQS FATOS ---- - --- 60

1 - O PERIODO E9CRAVISTA --- 60

2

-3

-4

-1 . -1 - Mentalid ade a Respeito da Função JI-1ater-

JI1ater-na e da Infância - -- - --- --- ---- - --- 60 1 . 2 - A Precursora da Creche no Brasil - a Ro

da - --- - --- 67

1 . 3 - Contrové r sias sobre a Mamadeira -- - ---- 74

1 . 4 - O Surgimen to do Discurso sobr e a Cr eche

no Brasil --- - - --- 7 8

O MOVIMENTO HIGIENISTA SE ORGANIZA ,

O PERIoDO DE 1889

-

1940

--- --- --- - --- --

90 O ESTADO ENTRA EI-1 CENA,

O PERIoDO 1940

-

1970

--- --- --- ---

100

AS DECADAS DE 70

e

ao

- - --- --- -- -- - --

106

4.1 - Causas do Aumento da Força de Trabalho Feminino e o In í cio da Modificação do

Ideal de Maternidade ---- - --- ---- 106

4.2 - A Atuação da Coordenação de Proteção mセ@

terno - Infantil --- - ---- - - -- --- - ---- 113

4.3 - Situação das Creches e do Trabalho Femi

(9)

PÂG

4.3 . 1 - O Programa de Pesquisa em Psicologia dá Desenvolvimento do Instituto Superior de Estudos e Pesquisas Psicossociais da

Fundação Getúlio Vargas (ISOP/FGV ) --- 117

4.3 . 2 - Creches Comunitárias, Domiciliares e iセ@

terna tos

- --- - --- - -

125

4.3 . 3 - Situação do Trabalho f・セセョゥョッ@ no Municí

pio 129

CAPITULO III - POSS!VEIS ATUAÇOES DO PSICÓLOGO NA

INSTI-TUIÇÃO CRECHE --- - 133

C O N C L

usO

E S 139

B I B L I O G R A F I A --- 144

N O TAS --- --- - --- 156

(10)

Assis timo s atualmente a uma mudança n o papel desempe -nhad a pela mulher ョセ@ socLedade . A cada ano aume nt a seu con ti n ge nt e do mercado de trabalho . Dados do Pla n o Nac ion al por Amos era de Domicilios de 1985 (PNAD/85) indicam que em cada 100 rou -lher es de 20 a 39 anos , ma i s de 49 fazem parte da população eco nomi camente ativa (PEA) do pais .

Este ingresso da mulher n o auge de sua idade r ep r odu t i va no me r cado de tr aba lh o tera , como se pode supo r, efe it os 50 -bre o exercício da função mate rn a . Não pode nd o ma i s se dedicar integ r almente aos filhos , ela passa a procurar formas de co n ci -liar o trabalho extradomici-liar com os cuid .' dos a prole.

o

atendimento alternativo

ã

primeira infância lliais

coo sistent e e or g anizado セオ・@ encontramos atualmente e a creche . Es ta pal avra e proveniente da l ín gua francesa , onde também desig

--

.

na pr eseplO . A creche nasce e se expande junto com o trabalho feminino e oferece a mae uma possibilidade de vivencia r a ma -ternid ade de forma diversa

ã

tradicional . Quebra - se , com ela , a exclu sividade da díade mãe -f ilho , ao mesmo tempo que se abre ーセ@ ra a mulher a opção de participar mais ativamente na vida 50 -cial . Seria possivel dizer que a creche

é

o presépio de onde poderá nascer um novo ideal de mat e rnidade.

(11)

2 .

A i de ntifi caç ão da colocação de bebês em creche com o abandono, ainda

ê

predominante em n ossa sociedade .

O

papel e o es paço ocupados pela mu lh er , e ntr etan to, mudaram .

E

dessa mud an ça adv eio um profundo mal.- estar, uma incômoda co nsciência da di fic ul dade de conciliação dos papeis de mae e trabalhadora. A

creche, uma poss í vel ajuda ,

é

vista pela classe média com des -confian ça , enquan t o a população pobre grita sua reivindicação a um estado surdo .

Qual e , entretanto , a real situaçao da criança que fre qUenta a creche? (No ta 1).

As perguntas que os pesquisadores se fazem atualmente sao : pod e um bebê desenvolve r uma ligação com a mae se passar n ov e ou dez horas por dia com responsáveis substitutos num am -bient e grupal? As fases do desenvolvimento do apego seguem a mesma seqUência 7 Como se dá o desenvolvimento intelectual da criança?

alguma modificação no seu comportamento social? Quais as melhores condições de atendimento da creche para favo -recer seu desenvolvimen t o?

Rutter, numa revisão bibliográfica publicada no America n Journal of Orthopsychiatry , intitulado

em 1981 "Social -emot i onal consequences of day care (or pres c hoo1 chi1dreo " e Heleo Bee, em seu livro Psicologia do desenvolvimento: ques-toes sociais (1979), respondem a algumas dessas questões .

(12)

ligaçã o secundária . Quan t o ao desenvolvimento intelectual, des -de qu e as c riança s est.e jam parti c i pando -de uma pro g ramação es ti

i

mulante. este oa o se enco ntra prejudi ca do ou fica mesmo acentua do (Robinson e RobiAson , ,1971; Caclwe l l , 1971; Lal1y, 19 73) . No que diz respeito ao processo de socialização , não

referên-eias sign ifi ca tiva s em r elação a um aumento ou diminuição de de sorden s p sicossociais .

Os r esultados dessas pesquisas sao entretanto muitas v ezes co nf usos e meSmo contraditórios, devido a dois fato res bá sicos que influenciam o com porta me nto da 」イ セ。ョ￧。@ e precisam ser levado s em co nsi deração : a qualidade do a t endimen to oferecido e a maneira como os pais encaram o tr abalho materno e a ida da cr i ança para a creche .

No Brasil , temos o estudo de Rublano

&

Ferre ira (1984) com creches que servem

à

população de baixo poder aquisitivo em Rib e ir ão Pre t o (SP) . Apesa r do atendimento bastante precário, o efeito sob r e o desenvolvime nto infantil apresentou-se apenas co mo mant enedor de uma si t uação de pauperização das c rianças e de suas familias, nã o acarretando num déficit de desenvolvimento ex tra .

o

Instituto Super i o r de Estudos e Pesquisas Psicosso

-C 181 S da Fundação Getulio Vargas (ISOP/FGV-RJ), realizou. em

(13)

4 .

o

co nt a t o real iz ado com u m g r a n de nu me r o de c r ec h es, por ocasião da pesquisa, apontou, em ー イ セュ・セイ。@ ap r ox i maçao , uma

I

n ova possibilidade para o exerc í cio dà função materna . A mae en con t rava , na maioria 、。セ@ creches , uma forma de atendimen t o es tá vel , supervisionado por profissionais da educação e saúde,com uma flexibilidade de ho r ár i o que lhe permi ti a e x ec u ta r com tra n q Ui l i dade suas atividades (Nota 2) . A criança ganhava um espa -ço p róprio , rico em situações estimulan t es , supervisionadas por ad u lt os .

o

ュ。セッイ@ desenvolvimento de sua socialização e ゥョ、・ー・ セ@

dênc i a era n otado pelas diretoras. A entrada da cr i ança na c r e che r ealizava - se através de um período de adapcaçâo gradual. Qua!:. co menor sua idade mais essa adap tação destinava - se a benefi -」 セ 。イ@ a mae, a fim de dissipar suaS ansiedades . Configurava - se, desta forma, um atendimento

ã

infância alternativo

ã

díade mae -fi l ho , que dava a mulher a possibilidade de conciliar outros p! pêis com o de mãe , sem prejuízo para a criança .

Es s a

nova opçao ajudaria a viabilizar uma mudança de

me nt alidade a respeito do papel social' da mulher e de seu espa -ço n o mercado de trabalho . Parecia que afinal a represe nt açao da mulher exclusivamente como mãe cedia lugar

ã

imagem de um in d iví duo com uma maior gama de opçoes, não estando, dentre elas , exc luí da a mate rnidade. Encarada sob esse ângulo, a creche te

-イセ。L@ em nossa sociedade, uma importância capital. Atuaria como

(14)

Esses dados p o re m poss uí am uma limi t ação bá s i ca , pOl. S atin giam uma população muito restrita : os usua rl.O S das.

-

.

cre -c h es parti-culares . No levantame n to das -cre-ches ins-c r itas ' nas se c r e t arias estaduais'e mu n icipais de Saúde encontrou-se um t otal d e 123 instituições , sendo 109 particulares (Nota 3) ; 9 assis -t e n ciais (No-ta 4) e 5 de empresa (Nota 5). Das 123, participa -r am do estudo 87, se n do 77 pa -r ticula-res , 7 assiste n cia i s e 3 d e empresa .

A maio r par t e das creches particulares aprese n tou con -d i ções -de aten-dimento que beneficiavam o -desenvolvimen t o emocio n al e cognitivo das crianças . O opos t o pôde ser observado em r! lação as c rech es assistenciais. A análise detalhada desses da -dos sera efetuada no ultimo capítulo . De um total de 2 . 069 cri anças atendidas na faixa de zero a 24 meses . 1539 freqUentavam cre ches particulares, havendo uma média de 21 c rianças por creche '. Nas assiste n ciais, foram encontradas 477 crianças, o que faz com qu e estas insti t u i ções atendam em média a 68 bebês . o que to r na v a o atendimento muito mal.S impessoal . ' Mesmo nestas creches, as cr i a n ças nao apresentaram. em sua maioria . déficits em seu de -se n volvimento emocional e cognitivo , provavelmente devido

ã

V1n c ul ação primária estabelecida co m a mae . uma ve z que o con t ato diá rio com esta nao foi rompido . Constatouse uma relativa io vul nerabilidade daquelas crianças às situaçoes diárias de sepa -r açao das suas maes, apesa-r das cond ições de atendimento de bai x a qu alidade das c reches .

(15)

6.

de vagas deixa sem atendimento a malo r parte da população . O horário de funcioname nto

e

geralmente イQァゥ、ッセ@ sendo os atrasos na entrada ou sa í da fonte セ・@ medidas punitivas por par te da c r e o h e . Esta , portadora de um saber sobre a crlança super ior ao da fàm il ia , dita normas e regras. A mãe , muitas vezes o

-

UD1CO

.

r esponsável pelo fil h o, abaixa os olhos e escuta , ag ra decida em s e r u ma feliz usuá ri a das p o ucas vagas oferecidas .

Ficam portanto sem resposta algumas questoes : que エイ。ョセ@

forma ções e/ou perma nen c la s encontramos n o exe r c í c i o da função materna com o advento da c re che? Como elas se ma ni fes ta m nas diferentes classes sociais? Quando e por que nasce a in stitui ção creche no Brasil? Não sendo ela efetivamente no c iva

ã

c r i -ança, por que ーッウウオセ@ uma representação social negativa? Que mu-dança de mentalidade ocorreu nas últimas duas décadas ocasionan do uma explosão do número de creches particulares no Rio de Ja -neir o?

Esta dissertação tem como ッ「ェセエゥカッ@ responder a essas pergunt as. Uma vez q ue a creche e uma insti tui çao que se e n co n tra intimamente ligada ao p ro cesso de transformação da função matern a . através de seu estudo serão demarcadas as rupturas e os continuismos das caracteristicas desta função no Brasil .

Para tal , utilizar-se - ã o método da psicologia ィゥウエ￵イセ@

ca e recorrer-se-a a livros , censos , jornais e documentos, pro-cu r ando detectar o nd e e com que finalidade surgiu a instituição crech e como forma alternativa

ã

mae, para cu idar da primei ra ゥセ@

(16)

Com essa fi n a li dade , levan t ou - se t oda a bibl iog raf ia

セ ョ 」ッョ エ イ。、。@ na Bib li ot e ca

1

Nac i onal , sob os tí t ul os: creança (s i e) , t r eche, ens i no p ri mário , mulhe r , educação da cria n ça , educaçao da mulher, ・、オ」。￧ ̄ッᄋーイ← M セウ」ッャ。イL@ maternidade, infâ n cia , jardins de infância e amamentaçao . Jornais antigos também foram pesqui -sados . De 90 livros levantados, 19 se mostraram de maior in t e r esse para o tema, alim de dois jornais . A maior concentraçao de dados e relativa ao Rio de Janeiro, embora sejam ・カ・ョエオ。ャュ・セ@

te fei t as referências a outros estados . No Instituto Brasilei -TO de Geografia e Es t at l st i ca (IBGE) foram coletados dados dos

ce n sos a parti r de 1872 .

Esses dados mostraram que apesar da creche possulr uma capacidade virtual revolucionária, capa z de modificar o 'status' da mulher e da criança, ela vem sendo usada apenas como um ins -tTumento de co ntrole social e de liberaçio da mi o - de-obra ヲ・ュゥセ@

n ina . A nova mentalidade sobre a função materna, que a creche aj u daria a formar . sucumbe sob a intersecçao de dois ・セクッウ Z@ a c u lpa que e incu t ida na mie por deixai o filho e romper des t a f orma com seu papel tradicional, e o uso social que as classes

セ@ セゥョ。ョエ・ウ@ fazem da creche destinada

i

população de baixa renda .

Se a mulher das classes média e alta enfrenta a repro -v açao por nao cuidar pessoalmente do filho, a das classes bai -xas tera , alem desta, uma outra muito ma i s ampla. Nio lhe bas-t a ri a dedicar-se i nbas-teg ra lmen bas-te ao filho. Ela precisa aprender co mo fazê - lo . Para セウウッ N@ o movimento higienista lhe ・ョウセョ。イ。

.

-

N@ n a c r eche e fora dela , como deve exercer sua maternidade .

Esse trabalho tenta analisar o porque da culpa e do

(17)

fugin-8 .

do aos moldes t radic ionai s . Tratará ta mb ém d o papel de contro le social que a creche .assumiu ao longo de sua hist5ria. e pr o -curara a in da determinar: o luga r da psicologia e

i

do psicólogo dentro desta instituição . ,

(18)

CAPITULO I

i

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

1 - A PERSPECTIVA HISTORICISTA

Este trabalho utiliza como referencial metodológico. a psicologia histórica. Levando-se em consideração tratase de um campo relativamente novo e pouco difundido, pro cu -rar-se - a delimitar seu território traçando - lhe os limites em relação

ã

história das mentalidades , área limítrofe com a qual

ê

freqUentemente confundida .

1.1 - A História das Menta1idades

A utilização de uma dimensão psicológica nao e , para a história, um fato recente.

na antiga Grécia , a psico -lagia era usada como princípio explicativo . Para comp reen-der as instituiçoes , as obras , o encadeamento dos atos huma nos , o historiador utilizava uma psicologia que considerava o homem como um dado constante e universal .

(19)

セMM セMM -

-10 .

de dos agentes huma n os .

o

estudioso de um per í odo determinado se interroga

cor

mo e r am os homens dessa época específica . Realiza uma pesquisa sincrõnica procurando - nas atitudes, nos compo rtamentos, nos sistemas de valores próprios aos diversos domínios da vida ・ウーセ@

ritual e social -- as semelhanças e convergências, de forma a permitir a definição de uma psicologia comum àquele período .

A utilização, por esses teóricos, de conceitos ーウゥ」ッャセ@

gicos de forma pouco precisa tem sido criticada por psicólogos .

"Pode-é€. ob.6Vtva./t. que. a ut,i.U .. zação de.

rloç.õu

oJt.iul'lda..6

da

ーNVNサNセッャッァNサN。N@

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オャGiNサNセッャエNュ・@

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ーNVNサN・。Nョ。Nャセエゥ」。N@

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h.oje

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ci

↑ョ」ゥ。セ@ humanaó -- .6tm apoiaJt-.6e. contudo no.6 conce.itoh

e.bpe.cZrlicOb,

nem

no método de. inte.Jtplle.tação pllopJtio da pbicana..ti.6e.. Ob e.bClu.to.6 do.6 novOb hJ..btO/f.J..adoJte.6

de.

benvolve.m ,

6/f.e.ql1e.n.te.me.nte ,

tema.b tão pOU.CO opeJtac.J..o-· nai.6 (além de. antiqu.ado.6) como' alma co.e.e..t.i.va ' (Le. G066, 1974 J , 'm e.n.ta.e..idade. cole.tiva' (.id . ibJ..d .

J,

'hib-tOJLia

inCOl'1bcie.nte.'

(Bllaude..e. , 1969).1/ [Auglla.b, 19 85 , p.

100 1

De qualquer forma, a introdução do conceito de mentali da de

ê

responsãvel por uma extraordinãria dilatação do territó-rLo do historiador , dirã Ariês . Enquanto a história tradicio-nal se interessa quase que exclusivamente pelas camadas supe-rLores da sociedade e por suas instituiçõe s , a história das men talid ades se ocupa também da massa da sociedade colocada

ã

mar-gem do poder, dos que se submetem .

(20)

primei-ra, supostamente co nhe c ida , serve de testemunho, de pa ra met ro a outra, en i gmá ti ca , terra desconhecida que nos propomos desven -dar. Se a compree nsã o ・ ョセイ ・@ homens de duas culturas 」ッョエ・ューッ イ セ@

o e a s e rara e 、ゥヲゥ」ゥセ N@ el a i ainda pior para cul tura s distancia das n o tempo.

Essa compreensao pode nascer do reconhecimento da eX 1 S t ê nci a de elementos semelha nt es n a mentalidade a ser desvendada e na atual -- as permanências . Pode t ambém sur g ir da ca n stata -ção de diferenças irr edut í veis , particularidades cuja inteligi-bilidade separa aquela cultura da nossa e lh e assegura sua 0 [1-ginalidade . portanto partindo da mentalidade co nt emporâ nea que uma cultura se apresenta como diferente.

Dentro desta perspectiva , Aries , na França, dedicou - se a estudar em que medida a c ri ança e a fam ília diferiam, durante o Antigo Regime, das formas atualmente enco ntradas . Com esse in tuit o , utiliza -- para elaborar sua História Social d a Criança e da Fami1 i a (1978) recursos va ria dos tais como documentos ,

análise de t estame nto s , pinturas representando cr iança s e famí -lia s , plantas arquitetônicas , etc.

(21)

12.

fi gura da c rian ça distinguia - se da do adulto apenas pelo ta ma -nbo , ュ。セエ・ョ、ッ M ウ・@ inalteradas a ves t imenta assim como as propor

-i

çoes das partes do corpo .

As crianças permaneciam pouco tempo com suas fam í lias , sendo precocemente transferidas para outras , onde g eralmente i niciavam o aprendizado de um oficio . Isso ocorria atraves da

participação direta no trabalho dos adultos , na qualidade de aprendiz. Apenas no fim do século XVII a escola substitui essa forma de aprendizagem , retirando a criança do meio social mais amplo . Começa entao um longo período de enclausuramento : a es -colar izaçã o .

As relações entre as crianças e os adultos possuíam poucas manifestações de afeto. A alta taxa de mortalidade re-sultava em pouco apego aos filhos pequenos. Muitas vezes , pare-cia mesmo que a morte dos bebês era facilitada . Por uma ou ou-tra razao , normalmente, numa família de dez cria nças , oito esta vam destinadas a morrer .

A intimidade ou privacidade familiar passa também por ;nriiscutível evolução. A arquitetura das residências modifica -L セャゥュゥョ。ョ、ッ@ as passa g ens de um quarto atraves do outro, ーッーセ@

1 セコ。ョ、ッ@ o corredor , que dã acesso a diferentes cômodos . A

fa-mília se fecha sobre si mesma , restando aos estranhos a sala de estar. Não só uma nova forma de sociabilidáde se impõe. como t ambém surgem relações entre pais e filhos inexistentes nas ge-raçoes passadas.

(22)

-c ífi -c a da humanidade . Seus inú meros trabalhos sus t en ta m es ta postur a historicista . Em セゥ」イッヲゥウゥ」。@ do poder (1979) estuda a

j

mudança da medic ina pa ra atividades pr event iva s , em det ri mento de uma atuação curativa.

o

grande creSC l me nt o demográfico das c i dades , especial me n te a parti r do sécu l o XIX, determina o surgimento de n ovos mecanismos de poder, visando nao so o controle de um grande nu-mero de pessoas como também seu aproveitame nt o na fo r ça de tra-balho. Esses mecan i smos , en tr etan t o, atuarão em nível bio-poli

ti co, evitando um a clivagem en t re política e psicologia .

t

o n-de intervém a história das mentalidan-des , que procura mostrar a existên c ia de um regime de tran sformação própria do sen ti men to , dos c ostumes, da organização do cotidiano, fruto da prolifera -çao de tecnolo g ias pol íti cas que irao investir sobre o corpo , a saúde , as formas de se alimentar e de morar , enfim, sobre o es - ' pa ço co mpleto da existênc ia, a partir do sécu l o XVIII, nos ー。セ@

-ses europeus .

Neste processo , a fam ília se transforma numa instância privilegiada de med i calização do indivíduo . No interior do nu -cle o familiar , a c riança torna-se o foco principal de atenção e cuidados. Essa mudança na função da família envolve uma イ・ッイァセ@

ni zação de seu interior, um remanejamento das relações entre os conjuges e entre pais e filhos. Os papéis da mae e do ー。セ@ sao r edefinidos em função de s ua n o va missão educadora.

(23)

1 4 .

do ー。セ@ seus prlOClpal.S

. . .

protagonis tas. Ana li sa também a açao

-de medicos e higienis t as na mudança do valor atribuido

ã

c

rian-i

ça n o seio das classes abastadas . Veremos, 。、ゥ。ョエ・セ@ uma 。セセャゥウ・@ mais detalhada desta' obra p

Pode-se ainda situar o trabalho de Donzelot A polícia das famili a s (1980) dentro desta abordagem . Suas idéias servi -rão de referencial para a anãlise da função de contro le social exercida pela creche .

Os estudos de história das mentalidades tem em com um a finalidade de desvendar o não-consciente coletivo .

UColle.c.ti6: c.ommun

ã.

.tou...te.

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ar!. C.e.lLta..i1'l

mome.nt.

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lieux cammun6 , codeh de

con-venance. et de

moltale., c.on6oJtmióme.6 ou intelLdiu ,

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admi6

e.6 , impo.oêe..ó

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exc.iue.ó de.ó N￳・Nョᅵュ・NョセN￳@

et

de..ó 6an.ta..6me..ó .

Le6

h.i..6.tolL.ie.n.ó pa!tl..ent

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poulL.lLa.i..t que.

le.ó·

homme.ó d'aujoulLci'hui

e.-pILOUVe.l1.t

le

be.hoin de. 6ailLe.

ême.lLge.1L

ã

la .óuJt6ac.e. de. la

c.oI16c.ie.nc.e

ie.6 6el1.t..i..me.nu autlLe.6oih

e.n6ou..t.6 dan6

une.

memo.i..lLe. c.oilec.t..i..ve.

pJto6onde.

Rec.helLc.he

houte.lLlLaine.

de6 .6age..ó.óe.ó ・Nューゥャlゥセオ・N￳@

qui lLe.gient ie..ó lLappolLt.ó 6am.i..l..i..elL.6

de.6

c.ollec.tiv.i..te.ó

huma.i..ne.6

avec.

c.haque ind.i..v.i..du,

ia

natulLe, ia

vie,

la mOlLt, V.ieu.

e..t

i'au-de..tã.."

(AJt..i..ê...6 ,

(24)

1.2 - A Psicologia Histórica

A psicologia sofreu .uma ゥョヲャオセョ」ゥ。@ decisiva da história das mentalidades . A- introdução, no estudo do homem , da

dimen-SBa temporal, marca uma r uptura fundame n tal. Os psicólogos sem-pre descartaram a possib i lidade de uma história das funções ps! colõgicas. Behaviorismo, gestaltismo e psicanálise possuem em comum a concepção tradicional de uma natureza humana imutável .

Sobretudo no laboratório , a atividade do psicólogo

ê

du -pIamente artificial . Em primeiro lugar , as questoes colocadas não possuem um sentido real para o sujeito . Ela ê tambem ar t i -ficial ao procurar tirar de um sujeito específico, o homem do século

xx ,

ャセゥウ@ universais do comportamen to humano .

A psicologia histórica

e

uma disciplina nova que, na França , se desenvolveu depois do fim da segunda guer ra. Suas ba

ses エ・セイゥ」。ウ@ foram c oloca das por Meyerso n na obra Les fonetions

p s ychologiques et les oeuvres (1948). Questionando o dogma do carâter imutável das funções psicológicas, Meyerson defende a tese que

"a.6 c..i.v..i.f...i.zaçôe<6 , a<6 Úl<6t..i.tu..i.çôeh, a<6 Ob4a<6 tem um

lu-ァセT@ e uma data. A anãl..i.<6e dOh cOmpo4tamentoó at4a-veó doó 6atoó h..i.ótõ4..c.CO& mad..i.6..i.ea a peJt.hpect..c.va do pó..i. cólogo. Ele nada tem a óaze4 com o homem abót'Lato, ma:6

com O homem

de

um Pa2h ló.icl

e

de uma e.poca, engajado

no óeu c.ontexto hoc..i.al

e

mate4..i.al, v..c.óto at4ave.ó

de ou

.t40ó homenó .igualmente de

um

pa2ó e

de

uma e.poca . Umã pa4te doó eó.tudo& pó..i.c.otõg.icoó ganha, aóó.im , um ca'Lã-te4 h..i.&:tõ'L..i.c o : di6..i.c.uldade. no va, ",aó , tambe.m, l1;ova

60nte de cOJ1hec...i.mento&

r: . .

7

A.tê ag04a t'lO& contentamoó

em declLetalL ou. em adm..i..tDI., -impl.ic..i.tame nte.. que todaó

aó カ。セ。￧￵・￳@ óão va4.iaçôe.ó de. c.onteúdo <6ome.nte

e.

t'lão da 6unção póicolõgica que c4.iou aó oblLaó." lapud, Pe.nna,

(25)

1 ó .

A psi cologia hi s tóri ca oc upar se a justamente em estu dar o desenvolvimento dos diversos es ta dos das funções p s i coló -gicas através do t empo . Não se prenderá a noçoes demasiado ァャセ@

bais como a história' das me ntali dades, e se dedicará a funções específicas tais como a imaginaçao, a von ta de, a memória , os seu timentos e a própria noção de indivíduo, tão cara

ã

psicologia .

Estudos de Meyerson e Verna nt mostram que o I indivi-du o ' e um co nstru cto ideológico próprio da idade moderna . Ver -セ。ョエ L@ o pr i n ci p a l represe nt ante da psicologia histórica atual , ded i ca se ao estudo da Gréc ia antiga . No tocante a n oç a o de io -divíduo , analisa as condições de emergência dent r o daquela so-ciedade , da questão do sujei t o . Sua pesquisa se centra na ela-boração do ' eu ', em seu sentido moderno . Em que momento o in di viduo começa a se ex p ressar na primeira pessoa , vendo -se como um ser singular? Através de que práti cas ele se toma a si mes -mo co-mo objeto de reflexão e de estudo, fabricando desta forma

uma 」ッセウ」ゥゥョ」ゥ。@ intima?

Ao s ituar a genes e da noçao de indivíduo num determina do lugar e momento , a psicologia histó rica relativiza a valid a de de modelos teóri cos intra -in dividuais que pretendem explicar o social , como a psicanálise . Em Hythe et p e nsee e Les Origi-n es de la peOrigi-nsee grecques, VerOrigi-naOrigi-nt estuda , além da questão do

individu o , o tempo, o espaç o , a vontade , a imaginaçao e o traba lho, dentro do co nt exto histórico grego .

"Ce.t.t.e.

at..:t.it.ude.

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póyc..hologue. , non plu.6

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(26)

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palt.ticu...t.ie.1t. de

ce.:t.:t.e. 6onc.tion " (Ve.lt.nan:t., 1979,

p. 70.731

Es te trecho de Vernant sintetiza de forma clara o pro -pósito desta dissertação . Será realizado um estudo diacrônico ' da função materna , pedra angular da identidade feminina, tendo como pónto de partida a organização desta função atualmente . Nesta anã lise, uma ins t ituição se mostrou particularmente in te -ressante,

que denuncia a modificação da estrutura molecular da relação mãe-filho : a creche. Ao introduzir uma socializa-ção primária extra-fam iliar, esta instituisocializa-ção amplia o universo da criança ao mesmo tempo que libera a mãe para o exercício de outras funções além da materna . Ela e, portanto, um sintoma fun damental de uma ruptura na função materna. Por esse motivo, optou se por estuda r o desenvolvimento, transformação e reorga -niza ção desta função através da instituição creche . Onde, como e por que ela su rg e? Que pro gressos técnicos a viabi li zam? Co -mo a maternidade

e

vista e falada em seu in t erior? Quais as ca

(27)

18.

Vernant salienta a importancia dos mediadores na

fun-çao ウゥュ「セャゥ」。@ hu mana . (Vernant. 1966) . L1ngua. técnicas. reli

gião . artes . etc. fazem a intermidiação do homem com o meio fi i sico . Para este trabalho •. um mediador se apresentou como um fa tor causal para a muda n ça do exercício da maternidade e como fator possibilitador do surgimento da creche : a evolução da tec nica da amamentação . Através de sua análise veremos como . para o homem. um simples ato fisiológico transforma-se numa ação cul tural. Da meSma forma que o trabalho femin ino foi em grande pa.,E. te facilitado pelas técnicas de contracepção, a exis teDcia de

creches so se tornou possível graças ao surgimento da amamenta -ção artifi c ial .

Embora fisiologicamente possibilitada de afastar-se do bebê sem prejuízo deste. a mãe ainda não se sente emocionalmen-te dispon1vel para tal. A função materna atualmente possui uma caracterlstica que pode ser definida como a resultante de duas forças ópostas . Se um lado, o ideal da maternidade como a dedi caça0 irrestrita e exclusiva da mãe ao セゥャィッ N@ De out ro. as con-dições objetivas de vida das mulheres, onde o trabalho extra-domiciliar aumenta a cada ano . Dessa batalha cotidiana, trava-da por catrava-da mulher. nasce a culpa . Essa dificuldade de con c i -liação de pap éis, torna esse sentimento freqUente para a mãe do século XX. A creche. cuja finalidade seria permitir uma solu -ção de forma satisfatór i a pa ra mae e ヲセャィッN@ também é vivencia-da com profunvivencia-da ambivalência.

(28)

Badin-ter, U. amor conq uistado : o a ito do amor materno (1985) e um belo exemplo de u m es tud o histórico sobre a função ma t erna, ao

i

analisar seu desenvolvimento na França entre os ウゥ」オャッセ@ XVI e XI . Junto com o ji セゥエ。、。@ livro de Costa, se r viri de base para a discussão do ideal da mulher-mãe . Para a análise da evolução do t rabalho feminino serão utilizados os censos de 1872 a 1985, além de relatos de viaja nte s e textos de história.

o

estudo do desenvolvimento da função materna realiza -do atraves da instituição c re che denunciou uma distinção funda-men tal.

o

discurso social e oficial sobre o se r mae nao era o mesmo para todas as classes sociais . Se o trabalho feminino foi considerado um gra nde mal para a saúde f í sica e men tal das c r1-anças, aceitava-se-o contudo para as mulheres de baixa renda. A precária situação financeira da mãe pobre justificava o exercí -cio de um traba lho e xtradomiciliar, mas nem por isso ela deve - o ria sentir -s e menos culpada . Medicos e higienistas lhe mos tra-vam sua falta de preparo ' natural ' para ser mae . Neste processo a creche co lo cou se como instituição a' serviço do mOvimento fi

-lantrópi co e de sua função controladora .

(29)

2 0 .

da qu al

A e sco l ha da in s t i t ui ç ã o cr ec he c omo uma l e nt e através s e a comp a nh a ri a os r eve z es da fun ç ã o ma terna é , o bvia -me nte, ar b itrar ia . E l a se deve , e m part e , a um inte r esse partl cula r da aut ora , q ue v e m ,se d ed i ca nd o n os セ ャ エゥ ュッウ@ de z an os ao trabalho e a p esq u is a , n es t a in st it u i ção . Se r i a profundamente enriquecedor que a es t e trabalho se juntassem outros , que ahor -d a ssem o tema partin-do -de outros r efere n cia i s . A análise da li t e r a t ura se r ia, nesse sentido, de particular i n teresse .

Vern ant c h ama a te nçao pa r a o fa t o de q u e o p s i cólogo , ao el a bo r ar um trabalho de p s i colog i a hist ó ri c a , part e de d a dos j a c at alog a dos e classific a dos pelos his t or i ado r es . Caber l he -ia a tarefa de extrair , desses dados , as informações relevantes ao desenvolvimento da função psico l ógica a que se dedica . O

fa-to de não ex i stir uma história da cre c he no Brasil fa-tornou ne -cessaria realizá-la . Desde já justifico-me ante os que julga - O rem esta dissertação demasiado factual . A opçao p or uma análi -se purame n te psicológica t eria eliminado dados relevan t es de uma h i stór i a da c r eche que , ati ago r a ; inexistia .

A finalidade principal desse trabalho é, en t retanto, torna r consciente as razoes da culpa e da ambiva l ê n cia sentidas pela mu l he r ao procurar exe r cer, de forma simultânea , um

ati v o na sociedade e sua função reprodutiva . Tais razoes buscadas no desenvolvimento histórico da função materna, at r avés da instituição creche .

(30)

2 - A MULHER E SEU CONFLITO ATUAL

Como já foi dito .• a culpa vivenciada pela roae que tra -balha e não pode cuiQar de seu filho parece advir de duas ex i gências sociais conflitivas e de igual intensidade: a au to-representaçao que a mulher tem de Si mesma

prirnordial-mente c omo mae, e o crescimento da participação feminina n o me rcad o de tra balho . Kurt Lewi n defin e conflito como uma situação caracterizada pela oposição de f o rças que conduzem a um estado de tensã o , cuja intensidade

é

a resultante

sa s forças .

des

-A ・ウ」セウウセコ@ de formas adequadas de gua rda para a prime!

ra infân(la 、セ@ otua este estado de tensac , que se ::a n ifes -tara no ウ・ョエゥュセョエッ@ de culpa vivenciado pela mãe .

Ser ã o abordados a seguir os dois c omponentes básico s da cu pa mater na: a ori gem da mentalidade que ve na mae a

função e f i nalidade ultima de t oda mulher, e a evolução e situaçao atual do trabalho feminino .

2 . 1 - O Ideal da イセオャィ・イMイA ̄・@

(31)

22 .

2 . 1.1 - Enganos e Desenganos da Transformação de um Sentime nto em Instinto

Tomando como 「。ウセ@ o período compreendido entre o secu -los XVI e XX na França, Elizabeth Badinter em

o.

amo r

cooqUl.S-t.a do: o a ico do amo r ga teroo (1985) empreende uma anál i se his-tórica sobre esse tema. Assumindo uma postura relativista , ne -ga a existencia de uma natureza feminina. vê na mulher um ser histórico , um vivente dotado da faculdade de simbolizar , o que a liberta do determinismo do mundo natural. Ao pri o rizar o meio cultural e os processos simbólicos , Badinter exclui qualquer com paração da mulh e r c om outras fêmeas do reino animal.

o

a mo r materno , longe de ser um instinto, apresenta-se em sua análise c om o um sentimento humano. E c omo tal. e iocer-to , frigil, imperfei t o . Manifesta-se em algumas epocas e em ou-tras nao . Tampouco existe em todas as mulheres. Essas conces-soes corroboram sua tese : como poderia um instin to se maoifes -De que forma poderia tar ou nao segundo o momeoto histórico?

oao atingir a totalidade das mulheres? Deve-se considera r

' a

-normais' todas a s que o desconhecem? E que pensar de um 」ッューッセ@

lamento patológi c o que atinge um considerável numero de res e se manIfesta em quase todas as épocas?

A

fabricação da culpa

mulhe

-Até ョ・ 。 uセ「@ do século XVIII , a autoridade paterna e

(32)

Se o valo r da criança era reduzido em todo este perio -do, foi n o ウ セ 」オャッ@

XVI I

que se gene raliz ou ・ ョエイセ@ a burguesia o

!

hábit o de enviá-la para a cas a da ama - de -l e ite.' No século

XVIII,

este háb it o se estende ーセイ@ t odas as camadas da sociedade urba -na. Enquanto algumas mães se separavam de se u s filhos por ne-cessidade, já que trabalhavam ao lado do marido pa ra gara ntir o sustento da família , outras o faziam sem n enhum motivo 。ー。 イ ・セ@

te.

E

o caso das damas da nobreza e das burguesas , que as t e n-tavam imitar. Nesse periodo entretanto ,

" e..6.6a..6 mul.he.ILe..6 .tê.m

a

COll.6c.iênc...i.a be.m

.tJLanql1.i.ta,

já.

que.

o me.io em

que vivem adm.i.te

a.

nece.6.6.idade

da.

vida.

mundana quando

.6e

tem celL.ta

pO.6.ição ,

e

que

0.6

ーャl ̄ーセッNV@

rned.ico.6

セ・」ッョィ・」・ュ@

que

エセNV@ ッ「セNゥァ。セ￵・NNV@

.óão

de..ócuipa4

vâ.l-ida.ó palLa não

。ュ。ュ・ョエ。a N BヲX。ョ、NゥョNエ・セN@ 1985,

p. 99)

Não se pode portanto identi ficar , neste período , a existência de um sentimento de culpa por nao presrar cuidados ao filho .

A-pesar das altissimas taxas de mor talidade das crianças enviadas as amas , o hábito co nstituí a norma .

Um fato porem mudou o rumo dos acontecimentos : a eman -c1paçao que as mu lheres vinham adquirindo. Ao procurar definir -se como -ser auton o mo , a mulher começou a experimenta r uma vonta de de emancipação e de ーッ、エ セ N@ Os homens, a sociedade, não ーオ、セ@

(33)

24 .

-ral e espontanea.

Rousseau teve uma importância decisiva nes t e p r ocesso .

Em t,mi l e (1962), o filósofo

ê

bem claro:

"Vo c.u.idado da..ó mu.f.helte.ó depel'lde

a.

plLimUlLa educ.a.ç.ão

do.6

homel'l.6; da..6 mu.the.lLe.ó dependem aÚlda Oh o6eU.6

C.o.ó.tu-me.6

r: . .

7

Ã66im,

e.ducalL 0.6 homen6 qua.ndo

hão

joven6 ,

cu-ida.?!.

SセNエ・V@

quando glLand e6,

aco.u,,! .

.thã-Io6,

c0I16o.tã-.t06

J •. ,

I

ei6 06

de

ve'Leh

da.to

mulhe.lLe.ó em tod06 06 .tem

poo.,r lapud Bad.i.nteJL, 1985, p. 181 )

A maternidade, tal como concebida no século XIX . a partir de Rousseau ,

ê

entendida como um sacerdócio, uma experiência feliz que implica também necessariamente sacrif ícios e sofrimentos.

-

A diferença e que enquanto a vocaçao religiosa e livre e volun -tária , a ma tern a

é

obrigatória .

A grande valorização por que passou a função materna teve dois tipos de conseqfiências . Permi tiu a muitas mulheres vi ver a maternidade com ale g ria e orgulho, desfrutando de uma 」ッセ@ sideração e prestlgio desconhecidos anteriormente. Por outro la do, a obrigatoriedade exigida criou em outras mulhe res mal-es-tar e culpa . A pressão ideológica era tal, que mui t as se sen -tiam obrigadas a ser mãe sem desejá-lo realmente. Vive ram sua maternidade sob o signo da culpa e da frustração . Talvez tenham feit o o máximo es forço para imitar a boa mãe , mas nao encontran do nisso a própria satisfação , estragaram sua Vi C3 e a de seus filhos. Sem existincia ーイ セー イゥ。 L@ restava-lhes realizar-se por

pro c uração atra vés do filho , cujos fracassos ou vitórias seriam tomados como seus .

(34)

p o dia c o n ce b e r mã e s que foss e m b o as ou ma s p e la me tade. Imp o ssi v el , deleg ar deveres , s er mãe uma pa r t e do d i a , e o utra n io . (.u e m ass l. m age ,

" i

indigna d q doce n ome de mãe . " ( Brocha r d . 1 87 2. apud Badi nt e r . 1 98> , p . ,25 5 ) .

-Em meados d o séc ul o XIX, ainda nao exis ti a um comport! mento materno unificado . A necessidade econômica e as ambições das mulheres condicionavam amplame n te seu comportamento . Um empecilho ao pleno exe r c í cio da ma t e rn idade e r a o trabal h o fe minino , que foi duramen t e a t acado p elos moralistas .

o

dou t o r Be rtil lon afirmava em 1866 , q ue I ta esposa não dev e ser p r l.me1

-ro operária, comerciante, camponesa ou mulhe r de sociedade ; ela deve antes de tudo ser mie" (apud Badinter, 1985 , p . 279) .

Mais culpada do que a operãria, que possuía justifica -tiva econômica, era a intelectual, que se recusava vol u ntaria -mente a restringir seu universo aos limites do lar .

no 1n1 -.

-c i o do se-culo XX , o trabalho feminino -co n tinuava a ser apontado como o maior 1n1m1go da maternidade .

"PaJLa combate.1t

e.6.6a de.cadênc.t.a ,

é

plte.c.t..60

e.du.calL a.6

me.

n.t.t1a.6

na idi..<.a

de. qu.e

toda

mulheJt de.ve.

de6e.jaJt.

6e..Jt

mªe

e que 65

a inc.leminc.<.a da .60Itte. a condena a

6elt

ope./ta-/tia.,

c.ontado/ta ,

pitO

6e.6.6oJta,

médica ou

advogada ."

(1

da.

R.

sê ••

1911 . apud Bad-<n.tell , 1985. p . UI)

Não

ê

de estranhar que a creche, ao surgir na França do seculo XIX , deixasse bem claro que se destinava ap e nas aos pequenos infelizes cujas mães precisassem trabalhar para sobreviver .

Paralelamente a maior importância dada

-

a mae no

-

ャ。 イN 。セ@ sistimos ao declínio da função paterna, que sera ーイッァイ・ウウ Q カ。ュ・ セ@

(35)

2 6 .

as s istente social, o educador e mais tarde o psiquiatra deterão , cada um , parte 、ッセ@ an t igos atributos pa t e rnos . Ca b e rá a o pai,d! li em diante , apehas a função mantenedora , r esponsável pela so -brevivência e confor <t.o da, família.

Ainda que a propaganda intensiva de Rousseau e de seus seguidores nao tenha co nvencido toda s as mulheres a serem maes extremosas , seus discursos tiveram sobre elas um forte efeito . As mulheres se se ntiam cada vez mais responsáveis pelos filhos . Quando não podiam , ou nao queriam assumir esse papel , considera vam - se culpadas.

to sign i ficat i vo.

Nesse sen tid o , Rousseau obteve um sucesso mUl A cul pa dominou o coração das mulheres .

A aedi calização do devotamento

A descoberta pela psicanálise do inconsciente e de sua cons ti tuiçao durante a prlmelra in fância em muito contribuiu

p!

Ta to rn a r a mãe o personagem central da fam í lia. a ela que se interrogará face a menor perturbação psíquica da criança . Na realidade, a psicanálise nao 50 aumentou a importancia atribuí

a mae , como medicalizou o problema da 'mãe má ' . que sera a -tada Coma a ーイゥー セ ゥー。ャ@ responsável pelo desequil íbrio

psíqui-..

infantil.

(36)

ção do desejo do pêni s pelo desejo de t er u m filho . Para a mu -lher , o pênis e seus 」ッ ョエ ・セ、ッウ@ ウゥュ「Uャゥセッウ@ de poder , 。オエッ イ ゥ、セ@

i

de e autonomia - deve ウセ イ@ substitu1do :pelo exe r c í cio da ma -ternidade.

Para justificar a adequação do psiquismo fem inin o

ã

es sa troca, H. Deutsch define a ' mulher normal' com tres caracte -r 1 s ti cas bási ca s: passividade, na r cisismo e masoquismo .

"Ehha teoJt.i.a. do

ma.hoqu .. Ümo 6em.i.n-<.no óeJtve. de

jUhti..6.i.ca

tiva

a.

ー P Vセ・ セ セdTゥ@

paJta a

。」・NゥNセ。セ ̄ッ@

de

tOda.6

46

、ッjエ・セ@

e.

tOd06 Oh

64c/t.i.6Ze.i.oó. Se a mulheJt

ê

natu/talme.nte

6eita pa/ta

606Jte.Jt e ,

adema.i.6 , g06ta

de66e

606Jt.i.mento,

não há mai6 /tazão paJta con6t/tangimento a

e66e

Jte6pei-to."

ib。、セBエ・B L@ 1985, p .

307)

Pode-se afirmar, com tranqUilidade, que 'ser mãe e padecer no paraíso ' .

o

velho tema do aleitamento volta a cena e os conselhos de Winnicott, Mé lanie Klein e Hélene Deutsch são difundidas pe

-las antenas da B8C. A amamentaçao ' na' tural', dada quando a cri ança o deseja, deve durar cerca de nove meses , quando se efetua ra um desmame ーイッァイ・ウウセカッN@ Essa recomendação certamerte gerava um sentimento amb i guo nas mulheres, numerosas apos a guerra , que voltavam ao trabalho poucos meses depois do parto .

Winnicott não se limita a pedir o devotamento materno absoluto,

Ele

precisa ainda ser realizado com prazer. sem o que a saúde mental da criança pode ficar prejudicada,

"Al.egJt em -óe

de de.i.xaJt a

out/toó o

cuida.do de c.onduzi/t

o

mundo, enquanto

p5em

no mundo

Um

novo memb/to

da

6ocie-dade

... AlegJte.m-6e c.om

ah pJteoc.upaçõe.ó que .e..he.6 tAaz

(37)

18 .

le.ite que.

、・Nセ・Nェ。ュ@

di.!Jpe.n.!Ja/i.

C.om ge.rreli.ohidade. . "

!Winn.t-co.t.t, apud Bad.in.telt, 1985 , p . 3121

H . Deuts ch observa que o aleitamento artificial , em mo da depois da guerra , oferecia uma possibilidade de concili ar os interesses pessoais da mulher com os da mãe. Nota porem que es se meio termo acentuou o conflito . De um lado ofereciam-se as mulheres oportunidades cada vez maiores de desenvolver seu ego fora da função reprodutiva . De outro, se exal tava cada vez mais a ideologia da ma t ernidade ativa.

o

pai pOSSUL , dentro da teoria psicanalitica , um papel de grande imp orta ncia. Sua atuação porém. apesar de ゥョ、ゥウー・ョウセ@

vel, se restringe ao nível simbólic o , podendo mesmo prescindir de uma exislencia factual e concreta. E ele quem deve separar a díade original r - e-filho e substituí-la por uma relaçã o triao guIar , que e a única propriamente humana. Por sua presença, fre qUentemente mais simbólica do que efetiva, a criança ゥョエイッェ・エセ@

ra a interdição e a lei , o que lhe permitirá tornar-se um autonomo, capaz de eofrentar o mundo exterior .

s・ セ オョ、ッ@ a psicanálise, é possível a existência de um

セセl@ bom' que se ausente durante todo o dia, que puna e ame de longe , sem prejuízo para a c rLança . A mãe simbólica,porém , nao ba&ta, e o filho não pode prescindi-la em carne e osso durante os primeiros anos de sua vida .

(38)

pa ssaram como imagens do eterno feminino.

Os dados desafiam a men t ali dade

Na década de 70 , a セューイ・ョウ。@ francesa se incumbiu de di vulga r as máximas psi can alíticas para o grande público .

"TeolLÍc.amente , uma

mul.hvl. pode

óaz€Jt

tudo.

Ma.6

.6 e. eta.

queJt c.JtiaJt

uma

6o.mllio., de.ve

e.6.taJt

pJtonta a .6acJti6icaJt

dez

。セャoNV@

de.

.6 u a.

vida,

e

i.6.to

en.tJte

0.6

vinte e

0.6

ui..n-.ta o.no.6. Não vejo outJto muo

de .6e teJt

ê.xito

tta educa

-ç.ão do.6 6i..l.ho.6

r: .

. -/

Ela

deve4ã. , um

di..a. ,

.6

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6ica.Jt

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c.a.JtJte.tJta. (ou-

i..n-teILlLompê-l.al ,

ou cOJtJteJt O

Jti...6c.o

de

tl'Lan.66o-'lmall

.6eu.6

6i..l.hob

em vlti..mM." (P«e.nu

e.

V.i.ng.t

a.o , apud Bad"-IIte'l ,

1985, p . 328)

Não obstante , muitas mulheres resistiram a todas essas

-pressoes, inclusive po r falta de escolha. Estas foram provavel mente as que mais sofreram , por não disporem de meios cultu rais

-em razao de

para enfrentar a pressão ideológica. Outras, suas convicções feministas ou por necessidades pessoais de se de ,.l i-car a uma profissão, também se r ecusaram a ter sua carreiras fragmentadas por sucess i vas interrupções .

(39)

30 .

nos tendem a associar exclusivamente ao casamen t o e a maternida de o. ixito e a felicidade pessoal .

i

Sendo na França a instrução feminina irrevers í vel, po -deríamos supor , como Aries , que

-" .tudo

セ・@ ー。セセT@

cama 6e

n0664

60ciedade

、・ゥク。Vセ・@

de

V・セ@

c.lúld -oJÚe.It.ted,

como o 60Jta

apell46 de6de o

セ↑N」オMエッ@

XVI11 .

Ih6 0 6ign.i6.ica que

a

cll..ial1ç.a

e.6.tá

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monop6--tio tall.dio

e .talvez

exoJtb.i.tante , Que ela

JtetoJtl1a

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-tug41l.

ュ・ョッセ@ ーjエセカNゥMエ・ァゥ。、 ッ L@

melhoJt ou pioA. 06

セ↑」オャッV@

XVIII-XIX .tvul1inam 60b

ョッNVセoNV@

olho.6 . "

HajエNHN・ZセL@

apud

Ba.-d-<n.tell., lH5, p . 360 1

Para Badin ter, entre tant o , na o sao apenas os perfis da

-

-mae e da criança que estariam mudando. Surge também um novo pai, que participa da gestação , nascimento e cr iação do filho .

o

pai do fim do século

xx

cuida do bebê como outro ra so as maes faziam . Assume parte do antigo ' instinto ' materno e briga pela posse e guarda do filho nas varas de familia.

o

q ue se observa , portanto , e maLS uma mudança na dinâ mica das イ・ャ。￧セ・ウ@ familiares . Na nova família , pai e mãe mate r-nam a criança, que p or sua vez nao e mais a detentor a do dest i-no e do futuro da mulher . Pa ra esta família, a creche certamen te sera uma grande colaboradora e a li ada .

(40)

2.1 . 2 -

As

Origens do Ideal de Maternidade

da

Primeira

do século XX no BriClSil

Metade

o

Ja 」 ゥ エ。、ッN エ イ。 「セャィ ッ@ de Jurandir Frei r e Cos t a Ordem mé dica e n o r ma f am iliar -- ana l isa a muda n ça de menta li dade q u e deu origem ao ideal de ma t ernidade da prime ir a me t ade do sécu lo XX no Brail . Realisar - se - ã um r esumo desta obra , d iv id i do em quatro momentos : a fam í lia colonial ; a chegada da co r te ; a mu -dança de papel do fi l ho e a evolução do con t rato co n jugal .

A f amí lia colonial

A família colonial girava em torno da auto - preservaçao. O pal, chefe supremo, concentrava funções empresariais e afeti -vas. Seu desejo era o do grupo . Esse modo de organização ヲセュゥM

liar não era exclusiv ao patriciado rural . Dominava também o meio urbano e se es t end i a a outras camadas sociais.

o

cotidiano do homem colonial' diferenciava se radical -Ele utilizava a maior parte de seu tempo mente do da mulher.

ocioso fora de casa . Tinha pois, maior contato com o mundo . Já a mulher permanecia no in t er i or da habitação , desempenhando im -portante função econômica . Supervisionava o trabalho escravo e supria o escasso mercado de serviços das cidades, substituin do as funções do enfermeiro, médico (parteira, rezadeira), sa-cerdote (benzedeira) e professor .

Po r outro lado , a mulher quase o ao t inha necess i dade de ausentar-se da casa para obter o que precisava , po i s

ali nao era produzido, oferecia - se nas po r tas .

(41)

,

32 .

Para Cosca, go rda , case ira e descolorida era a mulher do patriarca colo ni al . A co r e a textura de sua , pele exprLrnLam

i

os signos e liti s tas que os se nh ores buscavam ex ibir. O confina -mento domestico feminin o ,era distintivo do seu nível social, ta!!!. bem na medida em que a rua colonial era um lugar reservado a ho mens, vagabundos, c i ganos, ladrões , negros , prostitutas, etc . A mulher de elite evitava - a . Quando eventualmente a f r eqUentava , cobria - se com man tilhas, que protegiam- na da indiscrição públi-CB e exibiam seu pudor senhorial . Essas raras ocasiões estavam rigidamente pre vistas : passeios com a família por ocaSL80 de

festas púb li cas e obrigações religiosas.

Quanto

ã

gestaçao e a amamentaçao , oao eram trataóas como de muita importância ,

que ウセオ@ resultado imediato , a cri ança pequena, também nao o era .

A chegada da Corte

A cheg ada do principe regente· inc rementa a expansao de uma nova burguesia e aristocracia . Come r cian tes, políticos, di plomatas estra ngeiros, li t eratos e artistas trazem para a colô -nia uma nova forma de sociabilidade, que co nsi s te em receber P! riodicamente , para festas e reuni oe s domésticas, personalidades do mundo economico , social e político . A recepçao torn a - se uma estratégia da aristocracia empobrecida ou de enobrecimento da burguesia enriqu eci da.

(42)

responsabi-lidade da mulher. Em tro c a, ela começa a reivindicar um c uida -do e uma atençã o que nun c a havia ti-do antes .

A sociedade de e nta o requer 18 a mulher de sa l ão e a mulher da rua. respectivamente para os grandes negócios e o pe -queno COmerC1Q . Para tal , devia abandonar seus antigos hãbitos e europeizar o cor po, vestidos e modos . As mulheres começaram a desprezar as mantilhas, a descobrir os rostos e a vest ir-se com artigos franceses e ingleses .

A mudança do papel do filh o

No sistema colonial , o filho , como os demais membros da famIlia, ocupava um papel secundârio e era valorizado apenas enquanto elemento posto a serviço do poder paterno .

liA

c.1t.tanç.a. , a.tê.

O .6ec. . X1 X , peJLmanec.e.u p.lti.6.(.oI1e'<'lta

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pape..f.

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do 6.i..tho . Sua. .6.ituaç.ão .6ent.imen.ta.!

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1

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Em v.iILtude d..i.ó.to , PJL.Í.vou-a. do .t.ipo

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quota.

de. a4e..i.ção que, mode.Jtnamente. ,

Jtecol'lhe.ce.mo.6

c.omo .in

d..i..ó-pen.óave.Ló

a. .6e.u

de..6e.l'lvolv..i.me.nto 62ó.i.co

e emoc.iol'lal .Nem

óemplLe. o

neném

60..i.

I

maje.ótade ' na 6a.m2l.ia . VUlLal1te.

mu.i

.to te.mpo .óe.u tlLOI'lO 60.i ocupa.do pelo pa.i .

"

(Coó.ta. , 1979,p .

1 55)

o

filho so começ a a possuir um valor próprio no momen -to em qU E: se passa a ver na criança a matriz físico-emocional do adulto . Segundo Costa, na cidade, um filho saudável e educado valia mais do que dois escravos , sendo por conseqüência ma1S rentáve l o inve stimen to em educação e saude da prole .

Imagem

GRÁFICO  I

Referências

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