• Nenhum resultado encontrado

O cotidiano de pessoas com insuficiência renal crônica em tratamento hemodialítico.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "O cotidiano de pessoas com insuficiência renal crônica em tratamento hemodialítico."

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

O COTI DI ANO DE PESSOAS COM I NSUFI CI ÊNCI A RENAL CRÔNI CA EM

TRATAMENTO HEMODI ALÍ TI CO

Kar in a Viv ian i Bezer r a1 Jair Lício Fer r eir a Sant os2

Est e est udo analít ico- descr it iv o obj et iv ou av aliar a per cepção das pessoas com insuficiência r enal cr ônica em r elação às at iv idades cot idian as e ocu pacion ais. A an álise f oi com post a por 3 5 h om en s e 3 5 m u lh er es em t rat am ent o hem odialít ico com idade ent re 17 e 60 anos. O quest ionário ut ilizado foi o SAOF ( Self Assesm ent of Occupat ional Funct ioning) . Os dados for am subm et idos à análise est at íst ica e as ár eas com m aior escolha da alt er nat iv a “ necessidade de m elhor a” for am de hábit os ( 20% ) e v alor es ( 20,5% ) . Nessas ár eas, a pr opor ção r elacion ada às dif icu ldades f oi m ais ev iden t e n o qu e se r ef er e à or gan ização do cot idian o, a m u dan ças de rot inas e às expect at ivas quant o ao fut uro. Port ant o, a t erapia ocupacional, por apresent ar recursos inst rum ent ais par a a r eest r u t u r ação do cot idian o desses pacien t es, pode con t r ibu ir par a a assist ên cia deles assim com o in f or m ações par a a en f er m agem .

DESCRI TORES: insuficiência r enal cr ônica; diálise r enal; at iv idades cot idianas

DAI LY LI FE OF PATI ENTS W I TH CHRONI C RENAL FAI LURE RECEI VI NG

HEMODI ALYSI S TREATMENT

Th is an aly t ical descr ipt iv e st u dy aim ed at assessin g t h e per cept ion of people w it h ch r on ic r en al f ailu r e in relat ion t o t heir daily and occupat ional act ivit ies. The sam ple was form ed by 35 m en and 35 wom en receiving hem odialysis t reat m ent wit h ages bet ween 17 and 60 years. The inst rum ent used was t he SAOF ( Self Assessm ent of Occupat ional Funct ioning) . The dat a were subm it t ed t o st at ist ical analysis and t he areas wit h great er choice of t he alt er nat iv e “ need t o im pr ov e” w er e habit s ( 20% ) and v alues ( 20. 5% ) . I n t hese ar eas, t he pr opor t ion r elat ed w it h difficult ies w as m or e evident r egar ding or ganizat ion of t he daily life, t he changes of r out ines and t he ex pect at ions about t he fut ur e. Ther efor e, occupat ional t her apy , as it pr esent s inst r um ent al r esour ces t o r eor ganize daily life of t hese pat ient s, can cont r ibut e for t heir car e as w ell as w it h infor m at ion for nur sing.

DESCRI PTORS: r enal insufficiency , chr onic; r enal dialy sis; act iv it ies of daily liv ing

EL DÍ A A DÍ A DE PERSONAS CON I NSUFI CI ENCI A RENAL CRÓNI CA EN

TRATAMI ENTO DE HEMODI ÁLI SI S

Est e est udio analít ico- descr ipt iv o t iene com o obj et iv o ev aluar la per cepción de las per sonas con insuficiencia r en al cr ón ica en r elación con las act iv idades cot idian as y ocu pacion ales. El an álisis f u e com pu est o por 3 5 hom br es y 35 m uj er es en t r at am ient o de hem odiálisis con edad ent r e 17 y 60 años. El cuest ionar io ut ilizado fue el SAOF ( Self Asesm ent of Occupat ional Funct ioning) . Los dat os fuer on som et idos a análisis est adíst ico y las opciones que fueron las m ás escogidas en la alt ernat iva “ necesidad de m ej orar” fueron la de hábit os ( 20% ) y v alor es ( 20,5% ) . En esas ár eas la pr opor ción r elacionada a las dificult ades fue m ás ev ident e en lo que se refiere a la organización de lo cot idiano, a cam bios de rut inas y las expect at ivas sobre el fut uro. Por lo t ant o, la t er apia ocupacional, por pr esent ar r ecur sos inst r um ent ales par a la r eest r uct ur ación de lo cot idiano de esos pacient es, puede cont r ibuir par a asist ir los, así com o ent r egar infor m aciones im por t ant es par a la enfer m er ía.

DESCRI PTORES: insuficiencia r enal cr ónica; diálisis r enal; act iv idades cot idianas

(2)

I NTRODUÇÃO

P

ar a m elh or com pr een são da im por t ân cia

dos rins, algum as de suas funções são: excreção de produt os finais do m et abolism o, produção e excreção de horm ônios e enzim as e m etabolism o de horm ônios ( in su lin as) . A I n su f iciên cia Ren al Cr ôn ica ( I RC) é conceit uada com o síndr om e com plex a conseqüent e à p e r d a , g e r a l m e n t e l e n t a e p r o g r e ssi v a , d a capacidade excret ória renal. Esse conceit o pode ser t r a d u zi d o p el a r ed u çã o p r o g r essi v a d a f i l t r a çã o g l om er u l ar, p r i n ci p al m ecan i sm o d e ex cr eção d e solut os t óxicos gerados pelo organism o( 1).

Os principais sinais decorrent es da perda da função renal são a hipert ensão art erial e anem ia. Há t a m b é m si n a i s n e u r o l ó g i co s ( i r r i t a b i l i d a d e e t r e m o r e s) , ca r d i o v a scu l a r e s ( d e r r a m e p l e u r a l ) , endocr inológicos ( hiper glicem ia e per da de peso) e m e t a b ó l i co s ( f r a q u e za )( 1 ). Ou t r a s i n f o r m a çõ e s

im port ant es fornecidas pela Sociedade Brasileira de Nefrologia( 2) são as m anifest ações de doenças renais

que a pessoa pode apr esent ar com o dor ao ur inar, dor lom bar, fraqueza e náuseas.

A su scet ib ilid ad e d as p essoas com I RC a infecções por t r ansfusões sangüíneas é bem m aior n a p r esen ça d e d o en ças co m o h ep at i t e B e C e AI DS( 1). As doenças m ais com uns que podem causar

a I RC sã o : d i a b e t e s, h i p e r t e n sã o a r t e r i a l e glom er ulonefr it e. Por isso, o cont r ole da pr essão é de ext rem a im port ância para prevenir a hipert ensão ar t er ial, assim com o o cont r ole do diabet es que é um a das causas m ais im portantes de falência renal( 2).

Quant o ao t rat am ent o da I RC, norm alm ent e é iniciado nas fases m ais avançadas da doença, em per íodo em que j á há per da quase t ot al da função renal, havendo necessidade do t rat am ent o dialít ico e de transplante renal( 1). Os tratam entos disponíveis nas

d oen ças r en ai s t er m i n ai s são: Di ál i se Per i t on eal Am b u lat or ial Con t ín u a ( DPAC) , Diálise Per it on eal Aut om at izada ( DPA) , Diálise Perit oneal I nt erm it ent e ( DPI ) , Hem od iálise ( HD) e o t r an sp lan t e r en al. É im port ant e lem brar que t odos são t rat am ent os para a l i v i a r o s si n t o m a s d o p a ci e n t e , se m ca r á t e r curat ivo( 3).

Quant o ao t rat am ent o dialít ico, ent ende- se a hem odiálise com o procedim ent o que depende de um dialisador ( filt ro capilar) para filt rar o sangue. Trat a-se de pr ocedim en t o on de o san gu e do pacien t e é r e t i r a d o d e u m a v e i a , p o r m e i o d e u m a f íst u l a

arteriovenosa ou por um cateter e levado lentam ente por t ubos at é um filt ro ligado a um a m áquina. Esse f i l t r o é cap az d e ex t r ai r d o san g u e, i m p u r ezas, excesso de água e sais. Após a filt ragem , o sangue lim po ret orna ao pacient e( 4).

Em relação aos dados est at íst icos, o Censo de 2005 da Sociedade Brasileira de Nefrologia, com a co l a b o r a çã o d e 8 3 % d a s u n i d a d e s d e d i á l i se exist ent es, relat a que exist em 54 311 pacient es em terapia renal substitutiva, sendo 48 362 pacientes em HD, 3 638 em DPAC, 2 073 em DPA e 238 em DPI . A incidência anual em pacient es em HD é em t orno de 100 casos por m ilhão de habit ant es, porém , em se t r at ando de cust o anual, o t r ansplant e t em m enor cust o com parado com a diálise e hem odiálise( 5).

A I RC é d o e n ça co m a l t a m o r b i d a d e e m or t alidade. Há aum ent o pr ogr essiv o da incidência e prevalência de pacientes com I RC term inal no Brasil, dessa form a, a doença renal é um grande problem a de saúde pública. As t ax as de pr ev alência de I RC term inal, tratada no Brasil, são cerca de quatro vezes m enores que nos Estados Unidos da Am érica ( EUA) e Ja p ã o e m e t a d e d a s t a x a s d a I t á l i a , Fr a n ça e Alem anha( 6).

Em r elação aos f at or es d e r isco, os m ais i m p o r t a n t e s a co n si d e r a r sã o d i a b e t e s e i d a d e av ançada. Segundo dados est at íst icos de 1999, no Br asil, 52% dos pacient es de diálise er am do sex o m asculino e quant o à faixa et ária, 26% t inham m ais de 60 anos de idade, com est im at iv a de aum ent ar essa idade nos últim os anos, 2,2% tinham m enos de 18 anos e som ente 297 desses pacientes tinham idade igual ou m enor que 10 anos( 6). Nos últ im os anos, o Mi n i st ér i o d a Saú d e n o Br asi l t em i n v est i d o em m á q u i n a s d e h e m o d i á l i se , n o f o r n e ci m e n t o d e m edicam ent os e na realização de t ransplant es( 7).

(3)

renal crônico é atravessado por um a gam a de outras questões que colocam em evidência sua problem ática pessoal, bem com o a dinâm ica fam iliar( 8).

A p ar t ir d aí, p en sa- se n a n ecessid ad e d e avaliar o cot idiano das pessoas com I RC, pois num a linguagem m ais sim ples, entende- se que vida cotidiana é o dia- a- dia, a vida dos m esm os gestos, dos ritm os de t odos os dias, com o levant ar nos horários cert os, ir ao trabalho, à escola, preparar o café da m anhã, o alm oço, prat icar esport e. Enfim , at ividades realizadas de m aneira m ecânica e aut om at izada( 9). Ent re várias

d i scu ssõ e s e cr ít i ca s so b r e o co t i d i a n o , a v i d a co t i d i a n a f o i co n si d e r a d a co m o o l o ca l d e desenvolvim ent o hum ano, exem plificado at r avés de aspect os com o t r abalho, linguagem , pensam ent o e sent im ent o, ações e reflexões do hom em( 10).

São inúm eras as dificuldades enfrentadas por essas pessoas, as quais influenciam o seu dia- a- dia e o m odo de se relacionar, sej a pela dependência da m áquina ou pelas idas ao m édico, dificultando, dessa f o r m a , o d e se m p e n h o d a s su a s a t i v i d a d e s ocupacionais, o quê, conseqüent em ent e, desest rut ura sua vida diária( 11).

Com base no que foi relatado sobre cotidiano, ent ende- se que a pessoa com I RC pode apresent ar dificuldades na sua rotina de afazeres. Por outro lado, a t e r a p i a o cu p a ci o n a l t e m co m o u m d o s se u s pr incipais obj et iv os r eest r ut ur ar o cot idiano dessas p e sso a s, a l é m d e f a v o r e ce r o d e se m p e n h o ocupacional e pr om ov er est r at égias que fav or eçam su a v i n cu l a çã o co m o m e i o so ci a l . Pa r a o desenvolvim ent o desse t rabalho, é im port ant e relat ar sobre as áreas de desem penho ocupacional. A terapia ocupacional é a ar t e e ciência de aj udar pessoas a r ealizar em at iv idades diár ias, que são im por t ant es para elas, apesar das incapacidades, ou deficiências, “ ocu p ação” em t er ap ia ocu p acion al n ão se r ef er e si m p l e sm e n t e a p r o f i ssõ e s o u a t r e i n a m e n t o s pr of ission ais, r ef er e- se a t odas as at iv idades qu e ocupam o t em po das pessoas e dão sent ido às suas vidas( 12).

Na t e r a p i a o cu p a ci o n a l e ssa s á r e a s sã o denom inadas desem penho ocupacional, podendo ser divididas em at ividades diárias, at ividades laborat ivas e pr odut ivas e at ividades de lazer e diver são. Par a m elhor ent endim ent o, descr ev e- se abaix o as ár eas de Desem penho Ocupacional definidas na term inologia Uniform e da AOTA( 13).

- At iv idades da Vida Diár ia ( AVD) : r ef er e- se a se arrum ar, higiene oral, t om ar banho, higiene sanit ária,

c u i d a d o p r ó p r i o , v e s t i r - s e , a l i m e n t a r - s e, r o t i n a m é d i c a , m a n u t e n ç ã o d a s a ú d e , s o c i a l i z a ç ã o ,

m obilidade funcional e m obilidade com unit ár ia.

- At ividades Profissionais e Produt ivas: adm inist r ação da casa ( cuidado com a r oupa, lim peza, pr epar ação

da com ida, fazer com pras, adm inist ração do dinheiro,

m a n u t e n ç ã o d o d o m i c íl i o , p r o c e d i m e n t o s d e

segur ança) , cuidar dos out r os, at iv idades educat iv as

e a t i v i d a d e s v o ca ci o n a i s ( e x p l o r a çã o v o ca ci o n a l , a q u i s i ç ã o d e u m t r a b a l h o , p l a n e j a m e n t o d a

aposen t ador ia, par t icipação v olu n t ár ia) .

- Atividades de Diversão e Lazer: exploração do lazer e div er são e ex ecução de j ogos, lazer e div er são.

OBJETI VOS

O o b j e t i v o d e st e e st u d o f o i a v a l i a r a per cepção das pessoas com I RC sobr e o cot idiano, em r elação ao seu funcionam ent o ocupacional, em dois ser v iços públicos de saúde: UTR ( Unidade de Hem odiálise e Tr an splan t e Ren al) do Hospit al das Cl ín i ca s d e Ri b e i r ã o Pr e t o - HCRP e n o SENERP ( Serviço de Nefrologia de Ribeirão Pret o) .

MATERI AI S E MÉTODOS

O p r o j et o f o i ap r eci ad o e ap r o v ad o p el o Com itê de Ética em Pesquisa do HCRP e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Pret o- USP, port ant o, seguiu as n or m as ét icas em pesqu isa com h u m an os. Foi solicitado o consentim ento escrito dos suj eitos, sendo esclarecido que a part icipação seria volunt ária e com possibilidade de desist ência.

Trat a- se de est udo quant it at ivo t ransv er sal do t ipo analít ico- descrit ivo.

(4)

Quant o aos crit érios de inclusão, em am bos os serviços, part iciparam da pesquisa pacient es com I RC em t rat am ent o de hem odiálise, com idade ent re 1 5 e 6 0 an os, e com con d ições d e r esp on d er os questionários. Para os critérios de exclusão, pacientes f o r a d a i d a d e d e l i m i t a d a , se m co n d i çõ e s d e co m p r e e n d e r o s q u e st i o n á r i o s e a q u e l e s co m presença de out ra doença m ais com prom et edora que a I RC foram excluídos.

Fo i r e a l i za d o e st u d o p r e l i m i n a r co m 1 0 suj eitos de am bos os sexos, com idade entre 15 e 70 an os, sen d o 5 d e cad a ser v iço, aos q u ais f or am aplicados t r ês quest ionár ios, um sociodem ogr áfico, u m p a r a a Av a l i a çã o d e Qu a l i d a d e d e Vi d a d a Organização Mundial da Saúde ( WHOQOL- bref ) e um d e Au t o- av aliação d o Fu n cion am en t o Ocu p acion al ( SAOF - Self Assesm ent of Occupat ional Funct ioning) . A aplicação dos quest ionár ios foi indiv idual e aut o-ap licáv el. Nesse est u d o, p er ceb eu - se q u e h ou v e dificuldades de com pr eensão de algum as per gunt as pelos part icipant es, por isso, esses quest ionam ent os foram excluídos da am ost ra definit iva e decidiu- se, a partir daí, que a sua aplicação seria feita pela própria pesquisadora e o lim ite de idade que estava indefinido foi delim it ado a 60 anos.

For am colet adas, inicialm ent e, infor m ações d e t o d o s o s p a ci e n t e s d a UTR- h e m o d i á l i se q u e est avam dent ro dos crit érios de inclusão, sendo 16 p a ci e n t e s q u e , so m a d o s a o s 5 4 d o SENERP, t ot alizar am 70 pacient es, com idade ent r e 17 e 60 anos. As entrevistas do SENERP foram realizadas por sor t ei o, con si d er an d o os p aci en t es q u e est av am ag en d ad os n aq u ele d ia e h or ár io e q u e t am b ém fizessem part e dos crit érios de inclusão. A pesquisa f oi r ealizad a n o p er íod o d e 1 4 d e j u n h o a 2 7 d e set em bro de 2005.

O SAOF é inst rum ent o cuj a base t eórica é o m odelo da ocupação hum ana e foi desenvolvido, em 1990, no Depar t am ent o de Terapia Ocupacional da Univ er sidade de I llinois( 14), Chicago, com v alidação

r ecent e, em 2000, no Br asil. Esse m odelo for nece u m a m an eir a d e p en sar sob r e o com p or t am en t o o cu p a ci o n a l d e u m a p e sso a e a su a d i sf u n çã o ocupacional. Seus conceit os env olv em a m ot iv ação p a r a a o cu p a çã o , co m p a d r õ e s d e r o t i n a d o co m p o r t am en t o o cu p aci o n al , co m a n at u r eza d o desem penho t rabalhado e com a influência do m eio am bient e na ocupação( 15).

Esse i n st r u m e n t o p o d e se r a p l i ca d o e m pessoas entre 14 e 85 anos e apresenta com o principal obj et ivo ident ificar a percepção do próprio pacient e e m r e l a çã o a o se u f u n ci o n a m e n t o o cu p a ci o n a l , incluindo a com pr eensão de suas for ças, ár eas de adequação e lim itações. O SAOF apresenta form ulário de aplicação que abrange 23 questões, cobrindo sete ár eas d e con t eú d o: cau salid ad e p essoal, v alor es, i n t e r e sse s, p a p é i s, h á b i t o s, h a b i l i d a d e s e m e i o am bien t e. Par a isso u t iliza- se u m a escala de t r ês p on t os d e classif icação: p on t o f or t e, ad eq u ad a e necessidade de m elhora, que quant ifica a percepção d o p a ci e n t e so b r e a s á r e a s d e f u n ci o n a m e n t o ocupacional. O desem penho do pacient e é av aliado com o: m uito bom ( forte) , bom ( adequado) e presença de dificuldades ( necessidade de m elhora)( 16).

ANÁLI SE DOS DADOS

Para cada valor da escala foi anotada a auto-a v auto-a l i auto-a çã o d o e n t r e v i st auto-a d o , e e m cauto-a d auto-a á r e auto-a auto-a por cent agem de suas r espost as classificadas com o pont o for t e, adequada ou com dificuldades. Par a o conj unt o de pacient es, for am calculadas as m édias das por cent agens e os r espect iv os desv ios, com o obj et ivo de evidenciar diferenças e hom ogeniedades.

RESULTADOS E DI SCUSSÃO

A Ta b e l a 1 a p r e se n t a o s r e su l t a d o s percent uais das m édias e desvios padrão obt idos na ap licação d os in st r u m en t os. Ob ser v ou - se q u e em todas as áreas o “ ponto forte” foi a opção com m aior e sco l h a . A á r e a d e n o m i n a d a m e i o a m b i e n t e apresentou a m édia de 74,3% , sendo a m aior. A m enor m édia, 46,2% , foi aquela referente à área 5 ( hábitos) , ainda considerando a alternativa ponto forte. As áreas que apresentaram dificuldade foram a 2 ( 20,5% ) e a 5 ( 2 0 % ) . Em r e l a çã o à á r e a 5 ( h á b i t o s) , h á se m e l h a n ça co m o s e st u d o s d e se n v o l v i d o s e m 2 0 0 0( 1 6 ), p o i s f o i u m a d a s á r e a s co m m a i o r

(5)

Par a m el h or en t en d i m en t o, f oi an al i sad o isoladam ente cada tópico do instrum ento: 1- área de causalidade pessoal - a alternativa ponto forte foi um a das m ais escolhidas ( 60,5% ) , portanto, a m aioria dos e n t r e v i st a d o s a cr e d i t a n a s su a s h a b i l i d a d e s e cap aci d ad es; 2 - ár ea d e v al o r es - a al t er n at i v a n ecessi d ad e d e m el h or a r ep r esen t ou 2 0 , 5 % d as escolh as e, ap esar d a p eq u en a p or cen t ag em , f oi aquela que os pacient es apr esent ar am dificuldades em relação a ter obj etivos e expectativas para o seu futuro; 3- área de interesses - não houve dificuldades, com 60% na opção ponto forte. Dessa form a, m esm o co m a s l i m i t a çõ es, essa s p esso a s p r o cu r a m t er i n t er esses em f azer al g o; 4 - p ap éi s - a m ai or i a co n se g u e d e se m p e n h a r se u s p a p é i s, se j a d e t rabalhador, de est udant e ou fam iliar, quaisquer que sej am as dificuldades; 5- área de hábitos - observou-se que há dificuldades para essas pessoas em relação à organização de seu t em po, horários e à aceit ação das m udanças de sua r ot ina. Nessa ár ea, a opção n e ce ssi d a d e d e m e l h o r a r e p r e se n t o u 2 0 % d a s escolhas; 6- área de habilidades - a m aioria procura ter um a vida social, expressar- se, tentar resolver seus problem as e realizar suas tarefas do dia- a- dia, dentro de suas possibilidades; 7- área m eio am bient e - foi aquela que obteve m aior porcentagem na opção ponto forte ( 74,3% ) , m ostrando que a m aioria procura estar em locais que lhes façam bem .

A dificuldade apont ada na ár ea de v alor es per m it iu que essas pessoas ent r assem em cont at o co m q u e st õ e s m a i s su b j e t i v a s e co m su a a t u a l r ealidade com o, por ex em plo, t er obj et iv os par a o futuro e fazer atividades que tenham significados. I sso pode ser r elacion ado às per das qu e ocor r em com essas pessoas, pois há perdas nas relações sociais,

p e r d a s f i n a n ce i r a s, d a ca p a ci d a d e f ísi ca e n a s at iv id ad es d e lazer, p od en d o ocor r er r em issões e exacerbações. Nesse caso, é necessário aj udá- lo para que o pacient e possa cont rolar a sit uação( 4).

De form a resum ida, observa- se, ent ão, que h ábit os e v alor es são as du as ár eas com m aior es p or cen t ag en s n a cat eg or ia “ n ecessit a m elh or ar ”. Ev idenciou- se aqui a opor t unidade e a necessidade d a co n t r i b u i çã o d a t e r a p i a o cu p a ci o n a l p a r a a reest rut uração do cot idiano dos pacient es: apoiar a nova organização do t em po, as m udanças de rot ina, as r elações pessoais e assim , r ef or çar o con t r ole sobr e as per das t ant o sociais com o de capacidade física.

Na t u r a l m e n t e , é e sp e r a d o q u e e n t r e a s at iv id ad es cot id ian as m ais com p r om et id as sej am aquelas com com ponent es corporais e recreat ivos( 3). É nesse cont ex t o que os r esult ados dest e t r abalho apont am para a at uação dos profissionais de saúde em ações individualizadas para o auxílio à adapt ação e o convívio com incapacidades.

O q u e p o d e se r r e l a t a d o e m r e l a çã o à aplicação do quest ionár io SAOF é a dificuldade dos par t icipant es em com pr eender algum as per gunt as. De form a geral, houve ent endim ent o da m aioria dos part icipant es. Para alguns, porém , foi necessário que a p esq u i sad o r a ex p l i casse e ad ap t asse al g u m as qu est ões com o, por ex em plo, n a ár ea 4 , qu est ão núm ero 10, que investiga se a pessoa está envolvida em seus papéis ( sej a de estudante ou de trabalhador) , f oi n ecessár io ex plicar o qu e er a “ papéis”. Hou v e dif icu ldade t am bém n a pr esen ça de m ais de u m a variável no m esm o item com o, por exem plo, no item 2 1 ( cu idar da h igien e pessoal, cozin h ar e lav ar a roupa) , que fez com que as pessoas pensassem em Tabela 1 – Médias e desv ios padr ão das r espost as indiv iduais obt idas na aplicação do quest ionár io SAOF, segundo cada área de referência

s a e r Á s a i d é

M Desviopadrão

e t r o f o t n o

P Adequada Nmeeclehsosraitra Pontoforte Adequada Nmeeclehsosraitra

l a o s s e p e d a d il a s u a C .

1 60,5 24,3 15,2 35,6 30,5 25,8

s e r o l a V .

2 56,7 22,8 20,5 34,2 26,9 27,4

s e s s e r e t n I .

3 60 32,4 7,7 38,3 36,3 20,6

s i é p a P .

4 62,8 29,00 8,1 31,4 31,0 17,4

s o ti b á H .

5 46,2 33,8 20 36,0 35,2 26,8

s e d a d il i b a H .

6 57,7 27,1 15,1 28,7 25,3 18,0

e t n e i b m a o i e M .

(6)

t odas essas v ar iáv eis e não ent endessem que elas eram apenas exem plos. Tal fat o t am bém foi relat ado em 2000( 16).

Em 2004( 17), foi sugerido que seria m ais fácil

se afirm at ivas fossem apresent adas com o pergunt as e as opções de r espost as fossem subst it uídas por : bast ant e, m ais ou m enos e dificuldade. Relacionando e sse co m e n t á r i o co m o q u e f o i a p l i ca d o n e st a pesquisa, tam bém seria im portante essa substituição, pois, m uitas vezes, a pesquisadora precisou fazer essa t r oca par a m elhor com pr eensão.

CONCLUSÕES

A ut ilização do quest ionár io SAOF m ost r ou que nas áreas valores e hábit os, aspect os quant o à or gan ização do t em po, flex ibilidade, m u dan ças da rot ina, obj et ivos e expect at ivas para o fut uro foram d e se st r u t u r a d o s q u a n t o a o f u n ci o n a m e n t o ocupacional dessas pessoas. No entanto, é im portante lem br ar que a por cent agem não foi m uit o alt a em

r elação às dificuldades e que o r esult ado de for m a geral foi sat isfat ório. Port ant o, ent ende- se que, pelo m enos no pr esent e est udo, as pessoas que fazem hem odiálise não ficam t ot alm ent e im possibilit adas de realizar as t arefas do seu cot idiano.

A partir disso, percebe- se que, m esm o diante das dificuldades, com o cotidiano alterado por horários de hem odiálise, rest rições alim ent ares e em m uit os casos a perda do trabalho e/ ou do estudo, indivíduos com I RC podem sim , se necessário e com aj uda de profissionais, desenvolver rotina de afazeres, construir proj et os e fazer algo que t enha significado para si, ou sej a, reconst ruir seu cot idiano.

AGRADECI MENTOS

Agradecem os a colaboração de toda a equipe dos dois ser v iços públicos de saúde: UTR ( Unidade de Hem odiálise e Transplant e Renal) do Hospit al das Clín icas d e Rib eir ão Pr et o e SENERP ( Ser v iço d e Nefrologia de Ribeirão Pret o) .

REFERÊNCI AS

1 . Dr aib e SA. I n su f iciên cia Ren al Cr ôn ica. I n : Sch or N, or ganizador. Guia de Nefr ologia. São Paulo ( SP) : Manole; 2 0 0 2 .

2. Sociedade Br asileir a de Nefr ologia ( SBN) [ hom epage na I nt ernet ] . Censo 2005, Cent ro de Diálise no Brasil; [ Acesso em 1 3 de m ar ço de 2 0 0 6 ] . Dispon ív el em : URL: h t t p: / / www.sbn.org.br/ censo.

3. Mart ins MRI , Cesarino CB. Qualidade de vida de pessoas com doença renal crônica em t rat am ent o hem odialít ico. Rev Lat ino- am Enfer m agem 2005; 13( 5) : 670- 6.

4. Borges SLS. Dificuldades do adoecim ent o e do t rat am ent o: sent idos produzidos com pessoas port adoras de I nsuficiência Renal Crônica em um grupo de apoio. [ dissert ação] . Ribeirão Pret o: Faculdade de Filosofia, Ciências e Let ras/ USP; 2003. 5. Carreira L, Marcon SS. Cot idiano e Trabalho: Concepções de indiv íduos por t ador es de I nsuficiência Renal Cr ônica e se u s f a m i l i a r e s. Re v La t i n o - a m En f e r m a g e m 2 0 0 3 ; 1 1 ( 6 ) : 8 2 3 - 3 1 .

6. Sesso R. Epidem iologia da I nsuficiência Renal Crônica no Brasil. I n: Schor N, organizador. Guia de Nefrologia. São Paulo ( SP) : Manole; 2002.

7. Minist ér io da Saúde. [ hom epage na I nt er net ] . Doenças Renais; [ Acesso em 18 de out ubro de 2002] . Disponível em : URL: ht t p: / / www.port alweb05saude.gov. br/ port al/ saúde. 8. Lim a AMC. I nsuficiência renal crônica: a t raj et ória de um a prát ica. I n: Bellkiss WR, organizador. A Prát ica da Psicologia

nos Hospit ais. São Paulo ( SP) : Pioneira; 1994. p. 77- 92. 9. Net t o JP, Carvalho MC. Cot idiano: Conhecim ent o e Crít ica. 4ª ed. São Paulo ( SP) : Cort ez; 1996.

1 0 . Lu ck ács. On t olog ia d o ser social I e I I . São Pau lo: Ciências hum anas; 1 9 7 9 .

11. Bezerra K, Piant ino D, Morais L. Relat o de experiência: grupo de t erapia ocupacional durant e hem odiálise. Rev Cent ro de Est udos de Terapia Ocupacional – CETO 2005; 9( 9) : 29-3 5 .

12. Neist adt C. I nt rodução a Terapia Ocupacional. I n Willard HS, Spackm an CS organizadores.Terapia Ocupacional Rio de Janeiro ( R.J) : Guanabara Koogan; 2002 p. 3- 9.

1 3 . AOTA Am er i ca n Occu p a t i o n a l Th er a p y Asso ci a t i o n . Ocupat ional t herapy associat ion pract ice fram ework: dom ain and pr ocess. Am J Ocupat ional Ther apy 2002; 48: 1047- 54. 14. Baron KB, Curt in C. The Self Assesm ent of Occupat ional Funct ioning ( SAOF) . Chicago: Univ er sit y of I llinois; 1990. 15. Kielhofner G, Barret L. O Modelo da Ocupação Hum ana. I n: Willard HS, Spackm an CS. Terapia Ocupacional. Rio de Janeiro ( R.J) : Guanabara Koogan; 2002. p. 490- 2.

16. Tedesco SA. Est udo da validade e confiabilidade de um in st r u m en t o d e Ter ap ia Ocu p acion al: Au t o- Av aliação d o Funcionam ent o Ocupacional ( SAOF) . [ dissert ação] . São Paulo ( SP) : Escola Paulist a de Medicina/ UNI FESP; 2 0 0 0 . 17. Morais LV. A vida cot idiana de m ulheres com obesidade: a p er cep ção d a saú d e e d o f u n cion am en t o ocu p acion al. [ d isser t ação] . Rib eir ão Pr et o: Facu ld ad e d e Med icin a d e Ribeir ão Pr et o/ USP; 2 0 0 4 .

Referências

Documentos relacionados

archw ire com binat ions. Angle Ort hod. Forces released by nonconvent ional bracket or ligat ure syst em s during alignm ent of buccally displaced t eet h. Frict ional resist

Alt hough t echnical and funct ional alt erat ions proj ect s alw ays present t he sam e concept space- school, dilut ing t he language expresses t hem t hrough a

The purpose of t his st udy was t o explore drug consum pt ion and occupat ional violence in a sam ple of 669 adult wom en, working and living in 13 basic geost at ist ical areas

Paper ext ract ed from t he Mast er’s Thesis; 2 RN, M.Sc., Specialist in Occupat ional Healt h Nursing, Specialist in Hospit al Adm inist rat ion, Mem ber of t he Research and

The philosophical r efer ent ial fr om Mar t in Heidegger w as used for t he com pr ehensiv e analy sis of t he st at em ent in quest ion... (

E l t érm ino vulner abilidad es recurrent em ent e ut ilizado en la lit er at ur a cient ífica sobr e la salud con.. difer ent

The inst r um ent used t o collect dat a w as a m odular, structured and self-applied questionnaire with closed m ult iple choice quest ions div ided int o t hr ee part s: st

O propósit o desse inst rum ent o é ident ificar necessidades at endidas e não at endidas im port ant es para os fam iliares... Table 4 – Needs not included in t he Quest ionário