• Nenhum resultado encontrado

Práticas de enfermeiros em unidades básicas de saúde em município do sul do Brasil.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Práticas de enfermeiros em unidades básicas de saúde em município do sul do Brasil."

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

PRÁTI CAS DE ENFERMEI ROS EM UNI DADES BÁSI CAS DE SAÚDE EM

MUNI CÍ PI O DO SUL DO BRASI L

Taís Mar ia Nauder er1 Maria Alice Dias da Silva Lim a2

Na Saúde Colet iva, os enfer m eir os podem influir efet ivam ent e no at endim ent o das necessidades de saúde das populações. O obj et iv o dest e est udo é car act er izar e com pr eender as pr át icas dos enfer m eir os em unidades básicas de saú de. Tr at a- se de pesqu isa qu alit at iv a, n a qu al f or am r ealizadas en t r ev ist as sem i- est r u t u r adas com 15 enfer m eir os at uant es em Por t o Alegr e, RS, Br asil. Os dados for am t r at ados com base na análise de cont eúdo do t ipo t em át ica. Os result ados indicam que as ações execut adas pelos enferm eiros são influenciadas pelo sist em a de saúde e suas lim it ações, especialm ent e a falt a de t rabalhadores. Os enferm eiros são procurados par a r esolv er pr oblem as que nem sem pr e apr esent am r elação com seu t r abalho, dem onst r ando a div er sidade de suas pr át icas. Con clu i- se qu e a pr esença do enfer m eir o no cot idiano e seu papel ar t icu lador con t r ibuem par a m odificar as r ealidades de saúde.

DESCRI TORES: enfer m agem em saúde com unit ár ia; enfer m agem em saúde pública; papel do pr ofissional de en fer m agem ; cen t r os de saú de

NURSES’ PRACTI CES AT HEALTH BASI C UNI TS I N A CI TY I N

THE SOUTH OF BRAZI L

On Public Healt h, nur ses can influence t he car e of t he healt h needs of t he populat ion. The obj ect iv e of t his paper is t o feat ur e and under st and t he pr act ices of nur ses w or k ing at Healt h Basic Unit s. I t is a qualit at iv e r esear ch w her eby sem i- st r uct ur ed int er v iew s w er e m ade w it h 15 nur ses w ho w or k at Por t o Alegr e- Br asil. The t r eat m en t of t h e dat a w as based on an aly sis of con t en t of t h e t h em at ic t y pe. Ou t com es in dicat e t h at t h e act iv it ies per for m ed by nur ses ar e influenced by t he Healt h Sy st em and it s lim it at ions, especially t he lack of nursing workers. Nurses are sought t o solve problem s t hat are not always relat ed wit h t heir work, dem onst rat ing t h e d iv er sit y of t h eir p r act ices. Th e con clu sion is t h at t h e p r esen ce of n u r ses in t h e d aily car e an d t h eir ar t iculat ing r ole cont r ibut es t o change t he r ealit ies of healt h.

DESCRI PTORS: com m unit y healt h nur sing; public healt h nur sing; nur se’s r ole; healt h cent er s

LAS PRÁCTI CAS DE ENFERMEROS EN UNI DADES BÁSI CAS DE SALUD EN

UN MUNI CI PI O DEL SUR DE BRASI L

En la Salu d Colect iv a los en fer m er os pu eden in flu ir efect iv am en t e en la at en ción de las n ecesidades de la salud de las poblaciones. El obj et ivo de est e est udio es caract erizar y com prender las práct icas de los enferm eros en Unidades Básicas de Salud. Se t rat a de una invest igación cualit at iva, en la cual fueron realizadas ent revist as sem i- est r uct ur adas con 15 enfer m er os act uant es en Puer t o Alegr e, Br asil. Los dat os fuer on t r at ados con base en el an álisis d e con t en id o d el t ip o t em át ico. Los r esu lt ad os in d ican q u e las accion es ej ecu t ad as p or los en f er m er os son in f lu en ciad as p or el sist em a d e la salu d y p or su s lim it acion es, esp ecialm en t e la f alt a d e t r abaj ador es. Los enfer m er os son solicit ados par a r esolv er pr oblem as que no siem pr e pr esent an una r elación con su t r abaj o, dem ost r ando la diver sidad de sus pr áct icas. Se concluye que la pr esencia del enfer m er o en lo cot idiano y su papel ar t iculador cont r ibuy en par a m odificar las r ealidades de la salud.

DESCRI PTORES: enfer m er ía en salud com unit ar ia; enfer m er ía en salud pública; r ol de la enfer m er a; cent r os

de salud

(2)

I NTRODUÇÃO

A

Saúde Colet iv a é consider ada um a ár ea

pr iv ilegiada par a a Enfer m agem e par a o t r abalho em equipe, no qual cada profissional m ant ém o seu espaço e núcleo de com petência e responsabilidade( 1).

Nesta área, os enferm eiros têm encontrado um am plo espaço de desenvolvim ento para sua atuação diária( 2),

propondo suas ações, est abelecendo a m aneira com o será constituído seu trabalho e m antendo considerável autonom ia nas suas práticas, pois o m odelo de atenção lhes perm ite m aior liberdade no uso dos espaços para t r ansfor m ação das r ealidades locais.

Os se r v i ço s d e sa ú d e e su a s e st r u t u r a s influenciam o t rabalho dos enferm eiros, que podem , entretanto, encontrar linhas de escape nesse contexto e buscar alt er nat iv as que não as t r adicionalm ent e previst as para as sit uações. Por m eio dessas linhas d e e sca p e , o s t r a b a l h a d o r e s p o d e m m o d i f i ca r d et er m i n a d a s r ea l i d a d es, u t i l i za n d o o s p r ó p r i o s r ecu r sos pr ev ist os n os ser v iços, em pr egan do u m a v isão social – e n ão apen as biológica - do cor po, assim dem onstrando o entendim ento da determ inação social do processo saúde- doença, propost a na Saúde Colet iv a( 1).

A par t ir dest a per spect iv a, ent ende- se que as lin h as d e escap e p od em d em on st r ar, t am b ém , com o os enferm eiros t êm agido para t ransform ar a realidade do seu t rabalho. Por ser a Saúde Colet iva um a ár ea na qual os pr ofissionais est abelecem as p r ior id ad es d e ação, q u est ion a- se: q u ais são as p r át i cas d o s en f er m ei r o s q u e at u am n a at en ção básica? Que aspectos influenciam a construção dessas pr át icas?

A perspect iva dest e est udo t om a as prát icas dos enferm eiros com o prát icas sociais, que vão além da dim en são t écn ica e pr of ission al, e con sider am dinâm icas que incluem a produção do conhecim ent o, a reprodução socioeconôm ica e polít ica e a inserção dos suj eit os nesse cont ex t o. Assim , o t r abalho dos enferm eiros é ent endido com o t endo um a finalidade social, m as que pr ev ê um a per spect iv a biológica e q u e i n cl u i , t a m b é m , a sp e ct o s p si co sso ci a i s e cult urais( 3).

O núcleo de com pet ência e responsabilidade dos enferm eiros na equipe de saúde é o cuidado. Na área da Saúde Coletiva, as profissionais desenvolvem div er sas at iv idades v isando à at enção aos usuár ios

dos serviços( 1). Essas at ividades são a base de seu

t r abalho e os m eios dos quais eles se ut ilizam na busca de m udanças na realidade.

Est e a r t i g o , e l a b o r a d o a p a r t i r d e u m a d i sser t a çã o d e m est r a d o( 4 ), t em co m o o b j et i v o :

ca r a ct e r i za r e co m p r e e n d e r a s p r á t i ca s d o s enferm eiros em Unidades Básicas de Saúde.

MÉTODO

Trata- se de um estudo desenvolvido com um a perspect iva qualit at iva( 5).

Os par t icipan t es dest a pesqu isa f or am 1 5 enferm eiros at uant es em Unidades Básicas de Saúde ( UBS) d o m u n i cíp i o d e Po r t o Al e g r e . Fo r a m i n t e n ci o n a l m e n t e se l e ci o n a d a s d u a s g e r ê n ci a s d i st r i t a i s d o Mu n i cíp i o , q u e co n co r d a r a m e d em on st r ar am d isp on ib ilid ad e p ar a p ar t icip ar d o est u d o. Am b as as g er ên ci as ab r an g em ár eas d e população com precárias condições socioeconôm icas, com m oradores em sit uação de risco.

Com o t écnica de colet a de dados, ut ilizou- se ent revist a sem i- est rut urada individual( 5), baseada em um rot eiro, cont endo quest ões que foram elaboradas a part ir dos achados da lit erat ura e dos obj et ivos do est udo. As ent r ev ist as for am r ealizadas nos m eses de j ulho e agosto de 2006.

Obt ev e- se au t or ização do coor den ador da Rede de At enção Básica da Secr et ar ia Municipal de Saúde e aprovação do proj et o pelo Com it ê de Ét ica em Pesquisa da Secr et ar ia de Municipal de Saúde, co n f o r m e p r o ce sso n . 0 0 1 . 0 3 4 3 8 3 . 0 3 . 9 . Ca d a e n f e r m e i r o e n t r e v i st a d o r e ce b e u u m t e r m o d e co n se n t i m e n t o i n f o r m a d o , a sse g u r a n d o a s pr er r ogat iv as baseadas nos pr eceit os da Resolução n. 196/ 96, do Conselho Nacional de Saúde.

Par a t r at am en t o d os d ad os, u t ilizou - se a t écn i ca d e an ál i se d e co n t eú d o , d o t i p o an ál i se t em át ica( 6).

RESULTADOS E DI SCUSSÃO

(3)

At ividades dos enferm eiros no cot idiano de t rabalho

As at iv id ad es d os en f er m eir os p od em ser classificadas com o: at ividades gerenciais na Unidade de Saúde; at iv idades de coor denação, or ganização, t r einam ent o, cont r ole do t r abalho de enfer m agem ; a t i v i d a d e s d e a t e n çã o d e ca r á t e r i n d i v i d u a l e at ividades de at enção de carát er colet ivo( 7).

D i v e r sa s a t i v i d a d e s f o r a m ci t a d a s p e l o s enferm eiros com o const it uint es do seu cot idiano de trabalho. A descrição aqui apresentada não contem pla t odas as at ividades por eles realizadas nas UBSs de Port o Alegre, m as consist e apenas na apresent ação das que foram indicadas pelos profissionais na colet a dos dados.

As atividades gerenciais na Unidade de Saúde for am ex em plificadas por m eio das not ificações de d oen ças, p ed id os d e m at er ial, ag en d am en t os d e consultas na própria unidade de saúde, agendam entos de consultas com especialistas na central de m arcação de consultas, elaboração de relatórios diversos. Todos os enferm eiros ent revist ados indicaram , com o part e de sua prática cotidiana, a coordenação da equipe de enfer m agem da Unidade de Saúde e que as ações dessa equipe est avam sob sua responsabilidade.

Co m o a t i v i d a d e s d e co o r d e n a çã o , or ganização, t r einam ent o, cont r ole do t r abalho de enferm agem foram citados: registros em folha- ponto, regist ros de falt as, organização de escalas de folgas e de escalas de fér ias, super v isão das equipes nas a t i v i d a d e s e x e cu t a d a s n a u n i d a d e d e sa ú d e ( curat ivos, acolhim ent o, vacinas) .

As atividades de atenção de caráter individual incluíram : acolhim ent o, visit as dom iciliares, consult as de enferm agem nos program as ( prá- nenê, hiperdia, saúde da m ulher e pr é- nat al, pr á- v ida, t abagism o, or ien t ação p r a cr ian ças com asm a) , ap licação d e vacinas, realização de t est es do pezinho, colet as de cit opat ológico, realização de exam es para prevenção de câncer de m am as, inst alação de sondas vesicais, r eal i zação d e cu r at i v os ci r ú r g i cos, i n st al ação d e nebulização, verificação de tensão arterial, verificação de glicem ia capilar, solicit ação de exam es, avaliação de ex am es labor at or iais solicit ados pelos m édicos ( raios- X, ecografia, elet rocardiogram a) , ent revist a de a v a l i a çã o co m ca sa i s p a r a p r o ce d i m e n t o d e v asect om ia, at endim ent os no guichê, at endim ent os na port aria, dist ribuição de m edicam ent os.

Par a ex em plificar as at iv idades de at enção de carát er colet ivo, os ent revist ados cit aram : grupos

ed u ca t i v o s d e p l a n ej a m en t o f a m i l i a r, g r u p o s d e t a b a g i sm o , g r u p o s d e d i a b é t i co s, g r u p o s d e asm át icos, grupos pediát ricos.

Po d e - se e n t e n d e r q u e a a ssi st ê n ci a d e en f er m ag em est á d ir ecion ad a, t am b ém n a saú d e co l e t i v a , a o a t e n d i m e n t o i n d i v i d u a l e su a sistem atização, voltada à atenção a grupos prioritários caract erizados por risco biológico, com o hipert ensos, diabét icos, cr ianças em cr eches, ent r e out r os. Est a idéia se confirm a no estudo sobre a pesquisa nacional d a Cl a ssi f i ca çã o I n t e r n a ci o n a l d a s Pr á t i ca s d e Enfer m agem em Saúde Colet iv a( 8) que afir m a que, m e sm o e m se t r a t a n d o d e o b j e t o s g r u p a i s o u coletivos, as atividades dos enferm eiros se encontram subm et idas a r ecor t es cr onológicos, por pat ologias ou lugares nos quais se dão a assistência, a exem plo de creches, escolas, ent re out ros.

Não h o u v e p r eo cu p ação em i n v est i g ar a d i st r i b u i ção d o t em p o d o s en f er m ei r o s em cad a atividade cotidiana, m as foi identificada um a variedade m aior de at iv idades de car át er indiv idual, que não necessar iam ent e cor r espondem à div isão de t em po dedicado a cada tipo de atividade. Um estudo( 9) indica

que as at ividades realizadas no cot idiano de t rabalho dos enferm eiros podem ser quantificadas da seguinte for m a: 28% das ações cor r espondem à at enção de car át er individual, 23,9% à colet iva, 33% às ações g e r e n ci a i s e 1 3 , 8 % r e f e r e m - se à co o r d e n a çã o , or ganização, t r einam ent o, cont r ole e super v isão do t r abalho de Enfer m agem .

Os en t r ev ist ad os cit ar am a ex ecu ção d as at iv idades que são ex clusiv as do enfer m eir o, com o as con su lt as d e en f er m ag em e a su p er v isão d os auxiliares e t écnicos. Porém , as ações m encionadas incluem diversas at ividades norm alm ent e execut adas p elos p r of ission ais d e n ív el au x iliar e t écn ico d e enfer m agem . Essas at iv idades podem ser t am bém cum pr idas pelos enfer m eir os, por ém est a sit uação se t orna um problem a, quando deixam de execut ar su a s a t i v i d a d e s p r i v a t i v a s, co m o a co n su l t a d e enfer m agem , par a aj udar a equipe de enfer m agem nos procedim ent os t écnicos, em virt ude da falt a de t r abalhador es.

(4)

p r o f i ssi o n a l p a r a co b r i r o t r a b a l h o b á si co d e enferm agem das Unidades de Saúde, que dá suport e a t o d o s o s o u t r o s t r ab al h o s d a eq u i p e. A v i si t a dom iciliar, considerada um a at ividade est rat égica na at enção básica, é um a das ações lim it adas pela falt a de profissionais de enferm agem . Conform e relat o de um ent revist ado, ao sair da Unidade para est a ação, o e n f e r m e i r o d e i x a o s p o u co s a u x i l i a r e s d e en fer m agem sozin h os, sem poder aj u dar em caso de necessidade e, na ev ent ual ausência dos out r os profissionais, eles ficam com o profissionais de saúde r esponsáv eis pela UBS.

Est udo r ealizado em um a capit al da r egião sul do Brasil( 10) , ident ificou aspect os sem elhant es aos

e n co n t r a d o s e m Po r t o Al e g r e , e scl a r e ce n d o a s d i f i cu l d a d e s e n co n t r a d a s p e l o s e n f e r m e i r o s e m e x e cu t a r su a s a t i v i d a d e s e m v i r t u d e d e o u t r a s dem andas. Os autores relatam im portante dificuldade d e se est ab el ecer h o r ár i o s p ar a a r eal i zação d e consult as de enfer m agem e sua não r ealização em decor r ência da gr ande da dem anda do enfer m eir o em out ras at ividades.

As prát icas dos enferm eiros não podem ser ca r a ct e r i za d a s a p e n a s p e l a d e scr i çã o d e su a s at ividades. A análise dessas prát icas exige o exam e d o q u e é con sid er ad o em seu p lan ej am en t o, d as caract eríst icas e especificidades de seu t rabalho.

Po r m e i o d a p r o p o si çã o d e a çõ e s, o s e n f e r m e i r o s p r o cu r a m a t e n d e r a n e ce ssi d a d e s iden t ificadas por eles ou pela equ ipe de saú de. A pr opost a de ações à equipe v em acom panhada de cont ra- propost as, por part e dos out ros profissionais, r el aci o n ad as co m o r eco n h eci m en t o d o t r ab al h o realizado. Ou sej a, à m edida que as ações propost as pelos enferm eiros se est abelecem e geram result ado posit iv o par a a equipe ou par a a população, m ais idéias e propost as são apresent adas aos enferm eiros por seus colegas de equipe. Esta situação caracteriza um processo de contínua avaliação e m odificação das pr át icas dos pr of ission ais, qu e são def in idas pela div isão t écnica, ent r e os m em br os da equipe, das á r e a s e a t i v i d a d e s p e r t i n e n t e s a ca d a u m e , principalm ente, baseadas nas dem andas da população local. Estudo realizado na realidade das UBSs de outra capit al( 1 0 ) in dica o f at o de qu e n a or gan ização do

t r abalho da Unidade de Saúde, alguns enfer m eir os se direcionam para atividades que não são assistência d i r e t a o u se e s p e c i a l i z a m e m a l g u n s t i p o s d e

at endim ent o: por afinidade, pela dem anda ou pela própria divisão do t rabalho.

Dent re as com pet ências dos enferm eiros na at enção básica, descrit as na lit erat ura( 11), est ão em

dest aque o fat o dos enferm eiros responsabilizarem -se p el a a t en çã o à sa ú d e e co n t r i b u ír em p a r a a organização dest a at enção, bem com o prom overem com prom et im ent o e com prom isso com a saúde com o direit o individual e colet ivo.

A presença dos enferm eiros nas UBSs é um el em en t o a ser d est a ca d o n o seu co t i d i a n o . As características da j ornada de trabalho da m aioria dos enferm eiros, que se diferenciam dos profissionais de out ras cat egorias por perm anecerem m ais t em po na UBS, p or at u ar em n as d i v er sas ár eas d en t r o d a u n i d a d e e p o r e x e cu t a r e m m a i s a t i v i d a d e s e x t r a m u r o s, p e r m i t e m o r e co n h e ci m e n t o d o e n f e r m e i r o co m o u m p r o f i ssi o n a l a ce ssív e l à popu lação.

Qu al i d ad es co m o b o n d o so s, g en er o so s e h u m an os j á f or am at r ib u íd as aos en f er m eir os d e Saúde Pública( 12). Em virt ude dessas caract eríst icas,

r e f o r ça d a s p e l o i d e á r i o so ci a l q u e r e p r e se n t a enfer m eir os com o anj os, eles são pr ocur ados pelos usuár ios par a o at endim ent o de necessidades que m u i t a s v e ze s v ã o a l é m d a su a ca p a ci d a d e d e r esolu ção.

As ( in) especificidades do t rabalho dos enferm eiros

Diversos ent revist ados cit aram que “ t udo” é co n si d e r a d o p e l o s u su á r i o s co m o m o t i v o p a r a procurarem os enferm eiros. Esta característica reforça o papel ar t iculador do t r abalho desses pr ofissionais no cot idiano das UBS. Os enfer m eir os ar t iculam as dem andas dos usuários com a estrutura do serviço e com os dem ais profissionais, além de at uarem com o r ef er ên cia par a os ou t r os m em br os da equ ipe n o encam inham ento de problem as e solicitações. O papel de ar t iculação do enfer m eir o foi classificado com o posit ivo nas ent revist as, pois reforça sua im port ância na equipe e dem onstra a polivalência de seu trabalho, m esm o significando sobrecarga. O caráter polivalente, incorporado à prát ica profissional com o est rat égia de ocupação de espaços, pode ser car act er izado com o um a especificidade do t rabalho dos enferm eiros( 13).

Den t r e as com pet ên cias do en f er m eir o n a a t e n çã o b á si ca , e st u d o r e a l i za d o( 1 1 ) d e st a ca a

(5)

sen sib ilid ad e. O u so d essas h ab ilid ad es con st it u i elem en t os q u e t am b ém or ien t am e or g an izam as prát icas na at enção básica.

A poliv alência do t r abalho dos enfer m eir os refere- se tanto às ações j unto aos usuários, com o às relacionadas à equipe de t rabalho, pois m esm o não o cu p a n d o ca r g o d e co o r d e n a çã o n a UBS, o s en f er m eir os se en v olv em com os p r ob lem as d os o u t r o s m e m b r o s d a e q u i p e , f o r a d o â m b i t o d a Enferm agem . Um exem plo disso é o de um enferm eiro que foi cham ado par a r esolv er um conflit o ent r e a auxiliar de higienização e o por t eir o da unidade de saú de.

Outras profissões, com o psicólogo, assistente social, m édico e at é adv ogado, for am cit adas n as ent revist as para exem plificar os m ot ivos de procura p e l o s u su á r i o s, o s q u a i s co n si d e r a m q u e o s e n f e r m e i r o s p o d e m r e so l v e r o u d a r o encam inham ent o adequado a t odo t ipo de problem a. Assim , não é à figura dos outros profissionais que os en f er m eir os se apr ox im am n essa an alogia, m as à função desses pr ofissionais.

O d e sco n t e n t a m e n t o co m a s si t u a çõ e s apresent adas ficou evident e, cont udo os enferm eiros dem onstraram aceitação dessa situação, pois aceitam os diver sos pr oblem as que lhes são encam inhados, m e sm o a f i r m a n d o q u e n ã o f a ze m p a r t e d e se u t r abalho. Ao aceit ar em a função de r esolv er essas sit uações, os enferm eiros assum em um t rabalho que não t em m ensur ação, não est á definido nem pode ser classificado. Assim , é um t rabalho invisível, que não é considerado leve ou m enos im port ant e devido a est a car act er íst ica, m as apr ox im a- se do t r abalho f em in in o e dom ést ico qu e acom pan h a a pr of issão desde suas origens.

A associação de seu trabalho ao do bom beiro, realizada por um entrevistado, indica a am plitude das a çõ e s d o s e n f e r m e i r o s d i a n t e d a d e m a n d a apr esent ada, não apenas de necessidade de saúde da população, m as de todo tipo de problem a. Alguns e n f e r m e i r o s a p r e se n t a m a t i v i d a d e s f i x a s, p r é -d e t e r m i n a -d a s, co m o a a g e n -d a -d e co n su l t a s -d e enferm agem e os grupos. Mas t odos alegaram que, além de ex ecut ar em essas ações, assum em t odo o r est o , i n d i can d o q u e h á u m t em p o co n si d er áv el dedicado a esse t rabalho não definido.

Os enfer m eir os t êm se apr opr iado de seus espaços de for m a confusa, sobr ecar r egando- se de a t i v i d a d e s, e m se u co t i d i a n o , m a s se m a cor r espon den t e ocu pação polít ica desses espaços.

Essa caracterização reflete entendim ento de que todos o s a ssu n t o s sã o p e r t i n e n t e s a o e n f e r m e i r o e , port ant o, devem ser por ele resolvidos( 12).

Ao absor v er t udo com o seu, o t r abalhador dessa ár ea pode se t or nar inv isív el à inst it uição, à equipe de saúde e à sociedade. Assim , os profissionais se t ornam invisíveis em virt ude do t rabalho invisível que executam . Ao indicar a um usuário os locais onde se pode obter a carteira de trabalho, ao envolverem -se n os pr oblem as qu e u m pacien t e en con t r ou por r eceb er u m at est ad o m éd i co i n co m p l et o em u m am bulat ór io par t icular, ao aconselhar um a usuár ia quant o a problem as conj ugais ( exem plos cit ados nas ent r ev ist as) , os enfer m eir os est ão ex ecut ando um a a çã o i m p o r t a n t e p a r a e sse s u su á r i o s, q u e corresponde à necessidade que eles apresent am no m om ent o, m as que não pode ser considerada com o um at endim ent o dent ro das at ividades previst as no sist em a.

Ou t r o e l e m e n t o co n si d e r a d o n e ssa pr oblem át ica pode ser r elacionado com a for m a de organização de alguns serviços de saúde, que ainda obrigam os usuários a adapt arem suas necessidades à ofert a de at endim ent o. Os relat os dos enferm eiros p e r m i t e m i n f e r i r q u e o s e n t r e v i st a d o s e st ã o con segu in do ou v ir os u su ár ios e, de cer t a f or m a, in d icar u m a v ia d e r esolu ção p ar a su as v ar iad as n e ce ssi d a d e s. Ma s co m i sso , o p r o b l e m a d a adequação à ofert a do at endim ent o passa a ser dos enferm eiros, que despendem considerável t em po em ações qu e n ão t êm possibilidade de r egist r o e de qu an t ificação, qu e n ão são v alor izadas por ou t r os profissionais e pelo Sistem a e que contribuem para a invisibilidade pr ofissional.

(6)

As pr át icas e os espaços dos en f er m eir os for am hist or icam ent e const it uídos com obj et ivos de g ar an t i r o f u n ci o n am en t o d as i n st i t u i çõ es e d ar seguim ent o às or dens m édicas, bem com o at ender às necessidades dos pacient es, desenv olv endo com isso as habilidades e a tradição para a visão do todo, m u i t o ci t a d a p a r a ca r a ct e r i za r o t r a b a l h o d o s enferm eiros. Dest a form a, j ust am ent e as ações que colabor am par a a inv isibilidade desse t r abalho são as que garant iriam o funcionam ent o das inst it uições de saúde.

A v i si b i l i d a d e d o t r a b a l h o m é d i co e a i n v i si b i l i d a d e d o t r a b a l h o d e e n f e r m a g e m n a at ualidade é com parada em um est udo( 15) que indica

q u e o p r im eir o é com p ost o p or at os con cr et os e q u an t if icáv eis, leg it im an d o u m m aior salár io e o pagam ent o por at o r ealizado, enquant o o segundo se incor por a aos fins do pr im eir o, m esm o com sua exist ência concret a, cont ínua e indispensável.

Ao discu t ir os pon t os r elacion ados a est a p r o b l e m á t i ca , h á u m e st u d o q u e q u e st i o n a a necessidade dos enferm eiros definirem um papel ao exercerem o cuidado, pois, ao desenvolverem várias m aneiras de cuidar, carregam consigo um arsenal de saberes específicos e prát icas, que eles ut ilizam ao e st a b e l e ce r r e l a çã o co m u m p o r t a d o r d e u m a necessidade de saúde, assum indo um papel a cada r e l a çã o e st a b e l e ci d a( 1 6 ). O q u e a s f a l a s d o s

ent revist ados denot am é que um sent ido im port ant e em seu t r abalho env olv e at ender às m ais div er sas dem andas dos usuários e que problem as que est ão absolutam ente fora do alcance de seu trabalho geram frust ração e esgot am ent o.

O en t en dim en t o do papel dos en fer m eir os requer a com preensão da Enferm agem com o prát ica social h ist or icam en t e in f lu en ciada. A En f er m agem possui contradições internas em seu saber/ fazer, com o a assist ência em enfer m agem que não é pr est ada ex clu siv am en t e por en f er m eir os, a dif icu ldade em m ensurar m ercadologicam ent e sua força de t rabalho e as in ú m er as at iv id ad es d esen v olv id as q u e n em sem pre possuem relação com a enferm agem ou com

o client e, sit uações que se apr esent am com o base para um cot idiano conflit ant e e, às vezes, frust rant e para os profissionais( 12).

Os n u m e r o so s r e l a t o s so b r e o p a p e l art iculador dos enferm eiros na resolução de diversos pr oblem as per m it em consider ar a hipót ese de que aos en f er m eir os cab e j u st am en t e esse t r ab alh o, obv iam ent e sem desconsider ar out r as at iv idades j á descr it as. Ar r um ar ou cor r igir o que se t or nou um pr oblem a, at endendo a solicit ações e dem andas de diversas ordens, consist e em um t rabalho sofist icado de art iculação. Assim , essa caract eríst ica poderia ser int erpret ada não com o um a dificuldade na definição dos papéis do enferm eiro, m as j ustam ente com o um a especificidade de seu trabalho, de m uito valor para o d e se n v o l v i m e n t o d o t r a b a l h o e m e q u i p e e , especialm ent e, para a at enção às necessidades dos usuár ios.

CONSI DERAÇÕES FI NAI S

As prát icas dos enferm eiros apresent am , ao m e sm o t e m p o , ca r a ct e r íst i ca s d a s Un i d a d e s d e Sa ú d e , co m su a s e sp e ci f i ci d a d e s l o ca i s, e caract eríst icas relacionadas à profissão de enferm eiro e seu t rabalho. O cont ext o hist órico e polít ico at ual i n f l u e n ci a m d e ci si v a m e n t e a s r e l a çõ e s q u e se est abelecem dent ro do serviço, ent re os profissionais e com a com unidade.

O co n h e ci m e n t o e a co m p r e e n sã o d a s p r át icas d os en f er m eir os p r ecisam con t em p lar a a r t i cu l a çã o d essa s p r á t i ca s co m a s d e t o d o s o s t rabalhadores em saúde, envolvidos no processo de t rabalho. Assim , não considerar as perspect ivas dos o u t r o s p r o f i ssi o n ai s é u m a d as l i m i t açõ es d est e est udo, que se det ém a um lado do t em a: as falas dos enfer m eir os. A par t ir da v isão dos enfer m eir os sobr e su as pr át icas, pr iv ilegiou - se a dim en são do suj eit o com o m odificador da realidade, que const rói as possibilidades de m udança e inovação dent ro da organização est rut ural j á est abelecida das at ividades.

REFERÊNCI AS

1. Mat um ot o S, Mishim a SM, Pint o I C. Saúde Colet iva: um d esa f i o p a r a a en f er m a g em . Ca d Sa ú d e Pú b l i ca 2 0 0 1 ; 1 7 ( 1 ) : 2 3 3 - 4 1 .

2 . Go m es AMT, Ol i v ei r a D C. A r ep r esen t ação so ci al d a aut onom ia profissional do enferm eiro na Saúde Pública. Rev Br as Enfer m 2005 j ul/ ago; 58( 4) : 393- 8.

3 . Alm eida MCP, Mish im a SM, Pedu zzi M. A pesqu isa em enferm agem fundam entada no processo de trabalho: em busca da com pr eensão e qualificação da pr át ica de enfer m agem . An ais d o 5 1 Con g r esso Br asileir o d e En f er m ag em e 1 0 Congreso Panam ericano de Enferm ería; 1999; Florianópolis; 2 0 0 0 . p. 2 5 9 - 7 7 .

(7)

Porto Alegre (RS): Escola de Enferm agem / UFRGS; 2007. 5 . Mi n a y o MCS. Pe sq u i sa so ci a l : t e o r i a , m é t o d o e criat ividade. 7ª ed. Pet rópolis ( RJ) : Vozes; 1994.

6. Bardin L. Análise de cont eúdo. Lisboa ( PT) : Edições; 1977. 7. Chianca TCM, Ant unes MJM organizadores. A Classificação I n t e r n a ci o n a l d a s Pr á t i ca s d e En f e r m a g e m e m Sa ú d e Colet iv a: CI PESC. Br asília ( DF) : ABEn; 1999.

8. Cubas MR, Egry EY. Classificação int ernacional de prát icas de enferm agem em saúde colet iva: CI PESC. Rev Esc Enferm USP 2 0 0 8 ; 4 2 ( 1 ) : 1 8 1 - 6 .

9. Silva EM, Nozawa MR, Silva, JC, Carm ona SAMLD. Prát icas de enfer m eir as e polít icas de saúde pública em Cam pinas, São Pau lo, Br asil. Cad Saú de Pú blica 2 0 0 1 j u lh o/ agost o; 1 7 ( 4 ) : 9 8 9 - 9 8 .

10. Cubas MR, Albuquerque LM, Mart ins SK, Nóbrega MML. Av aliação da im plant ação do CI PESC em Cur it iba. Rev Esc Enfer m USP 2006; 40( 2) : 269- 73.

11. Witt RR. Com pet ências da enferm eira na at enção básica: cont ribuições às funções essenciais de saúde pública. [ Tese

de Dout orado] . Ribeirão Pret o ( SP) : Escola de Enferm agem / USP; 2 0 0 5 .

1 2 . Go m e s AMT, Ol i v e i r a D C. A a u t o e h e t e r o i m a g e m profissional do enferm eiro em saúde pública: um est udo de r epr esen t ações sociais. Rev Lat in o- am En fer m agem 2 0 0 5 nov em br o/ dezem br o; 13( 6) : 1011- 8.

13. Leite JCA, Maia CCA, Sena RR. Acolhim ento: reconstrução da prática de enferm agem em Unidade Básica de Saúde. Rev Min Enferm 1999 j aneiro/ dezem bro; 3( 1) : 2- 6.

1 4 . San t os SR, Pau la AFA, Lim a JP. O en f er m eir o e su a percepção sobre o sistem a m anual de registro no prontuário. Rev Latino-am Enferm agem 2003 janeiro/ feveiro; 11(1): 80-7. 1 5 . Lop es MJM, Leal SMC. A f em in ização p er sist en t e n a qualificação profissional da enferm agem brasileira. Cad Pagu 2005 j aneir o/ j unho; 24( 1) : 105- 25.

16. Friedrich DBC, Sena RR. Um novo olhar sobre o cuidado no trabalho da enferm eira em Unidades básicas de saúde em Juiz de Fora, MG. Rev Lat ino- am Enferm agem 2002 novem bro/ dezem br o; 10( 6) : 772- 9.

Referências

Documentos relacionados

O tema proposto neste estudo “O exercício da advocacia e o crime de lavagem de dinheiro: responsabilização dos advogados pelo recebimento de honorários advocatícios maculados

São considerados custos e despesas ambientais, o valor dos insumos, mão- de-obra, amortização de equipamentos e instalações necessários ao processo de preservação, proteção

O Documento Orientador da CGEB de 2014 ressalta a importância do Professor Coordenador e sua atuação como forma- dor dos professores e que, para isso, o tempo e

Colhi e elaborei autonomamente a história clínica de uma das doentes internadas no serviço, o que constituiu uma atividade de importância ímpar na minha formação, uma vez

Os principais objectivos definidos foram a observação e realização dos procedimentos nas diferentes vertentes de atividade do cirurgião, aplicação correta da terminologia cirúrgica,

psicológicos, sociais e ambientais. Assim podemos observar que é de extrema importância a QV e a PS andarem juntas, pois não adianta ter uma meta de promoção de saúde se

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

13 Assim, a primeira fase no momento da dispensa de um MSRM é a validação da receita, por isso, independentemente do modo de disponibilização da prescrição, a receita